EVALUATION OF PHYSIOTHERAPY INTERVENTIONS IN ONCOLOGY PATIENTS: A SYSTEMATIC BIBLIOGRAPHICAL REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12588427
Eduarda Fernanda Veloso Silva1;
Helen de Sousa Santos2;
Prof. Me. José Mário Fernandes Mattos3
RESUMO: O câncer é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, representando um desafio significativo para os sistemas de saúde pública e para a qualidade de vida dos pacientes afetados. O objetivo do presente estudo, é investigar a eficácia das principais intervenções fisioterapêuticas na melhoria da qualidade de vida e no bem-estar físico e emocional de pacientes submetidos a tratamentos oncológico. Conduzimos uma revisão sistemática da literatura sobre as intervenções de fisioterapia em pacientes oncológicos, analisando criticamente artigos científicos. Para isso, realizamos uma busca sistemática nas bases de dados eletrônicas: PubMed, Scielo, BVS, Medline, e PEDRO, utilizando termos de busca relacionados à fisioterapia em pacientes oncológicos, resultando em 11 artigos para compor este estudo. As intervenções variaram desde exercícios físicos, tanto presenciais quanto baseados na web, até programas educativos e o desenvolvimento de guias clínicos. Em geral, os resultados são promissores, indicando melhorias significativas na QV, redução de complicações e aumento da funcionalidade e da importância da fisioterapia como parte integrante do tratamento oncológico.
Palavras-Chave: Fisioterapia. Oncologia. Tratamento. Cuidados Paliativos.
ABSTRACT: Cancer is one of the main causes of morbidity and mortality worldwide, representing a significant challenge for public health systems and the quality of life of affected patients. The objective of the present study is to investigate the effectiveness of the main physiotherapeutic interventions in improving the quality of life and physical and emotional well-being of patients undergoing oncological treatments. We conducted a systematic review of the literature on physiotherapy disciplines in cancer patients, critically analyzing scientific articles. To this end, we carried out a systematic search in the electronic databases: PubMed, Scielo, VHL, Medline, and PEDRO, using search terms related to physiotherapy in cancer patients, resulting in 11 articles to compose this study. Disciplines ranged from physical exercise, both in-person and web-based, to educational programs and the development of clinical guides. In general, the results are promising, bringing significant improvements in QoL, reducing complications and increasing functionality and the importance of physiotherapy as an integral part of oncological treatment.
Keywords: Physiotherapy. Oncology. Treatment. Palliative care.
INTRODUÇÃO
O câncer é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, representando um desafio significativo para os sistemas de saúde pública e para a qualidade de vida dos pacientes afetados. “Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento, onde estima-se que nas próximas décadas acometerá 80% dos indivíduos com mais de 20 milhões de novos casos para 2025.” (INCA – Instituto Nacional de Câncer, 2020 apud Pedroso et. al. 2021).
A complexidade da doença e a diversidade de tratamentos disponíveis exigem uma abordagem multidisciplinar para o cuidado do paciente, onde a fisioterapia desempenha um papel crucial. A intervenção fisioterapêutica em pacientes oncológicos tem se mostrado uma estratégia eficaz não só para mitigar os efeitos adversos decorrentes do tratamento do câncer, como também para promover a reabilitação física e emocional. Este artigo tem como objetivo analisar quais intervenções fisioterapêuticas são utilizadas para promover a qualidade de vida e o bem-estar físico e emocional de pacientes em tratamento contra o câncer.
Diante deste cenário, emerge a fisioterapia como um pilar essencial no suporte aos pacientes oncológicos, oferecendo um espectro de intervenções cujo objetivo é mitigar os sintomas, promover a saúde e otimizar a qualidade de vida. Entre as estratégias fisioterapêuticas adotadas, destacam-se exercícios personalizados, técnicas de terapia manual e métodos voltados para o alívio da dor e aperfeiçoamento das funções respiratória e cardíaca. (Rodríguez, Galvé e Hernandéz, 2020)
Este artigo propõe-se a realizar um exame detalhado sobre como as práticas fisioterapêuticas contribuem para a melhoria da qualidade de vida e do bem-estar dos pacientes oncológicos, enfatizando os avanços científicos e as evidências que corroboram a eficácia dessas intervenções. Será dada especial atenção às intervenções e seus efeitos em pacientes oncológicos, tais como a diminuição da sensação de fadiga, o incremento na capacidade funcional, a redução de sintomas associados a complicações musculoesqueléticas e a influência positiva no equilíbrio emocional e no suporte psicossocial.
Avaliar o papel da fisioterapia no contexto oncológico é crucial para aprimorar o cuidado multidisciplinar oferecido a esses pacientes, visando um tratamento mais abrangente que não se limite ao combate à doença, mas que também fomente um estado de bem-estar integral. Com base em uma análise meticulosa da literatura e dos dados científicos atuais, este documento busca enriquecer o conhecimento clínico e orientar a formulação de práticas terapêuticas inovadoras e efetivas no acompanhamento de indivíduos diagnosticados com câncer.
1. JUSTIFICATIVA
A justificativa para a realização deste estudo reside na observação de que, apesar da importância reconhecida das intervenções fisioterapêuticas no manejo do câncer, ainda existe uma lacuna significativa na literatura quanto à consolidação das evidências sobre seus efeitos específicos. Esta análise científica busca, portanto, sintetizar os dados disponíveis, fornecendo uma avaliação crítica que possa orientar a prática clínica e informar os profissionais de saúde sobre os benefícios e as metodologias mais eficazes dentro do espectro da fisioterapia oncológica.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Investigar a eficácia das principais intervenções fisioterapêuticas na melhoria da qualidade de vida e no bem-estar físico e emocional de pacientes submetidos a tratamentos oncológicos, com o intuito de consolidar um corpo de evidências que oriente práticas clínicas baseadas em resultados concretos e benefícios mensuráveis.
2.2.Objetivos Específicos
- Elucidar a condição de vida de pacientes oncológicos, reconhecendo suas limitações funcionais e reconhecer como a fisioterapia pode contribuir para melhoria desta;
- Destacar as principais intervenções fisioterapêuticas, utilizadas para promover melhora da dor e do bem-estar em pacientes oncológicos;
- Avaliar a efetividade de intervenções específicas na gestão da dor e na melhoria do conforto musculoesquelético, através de instrumentos de avaliação da dor e relatos de pacientes;
- Investigar as intervenções fisioterapêuticas que trouxeram um melhor prognóstico a pacientes oncológicos, em comparação com outras terapias empregadas atualmente;
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 SAÚDE E DEFICIÊNCIAS EM PACIENTES ONCOLÓGICOS
A qualidade de vida de um indivíduo é afetada no momento do diagnóstico da doença, o qual representa um evento negativo em sua vida, pois o indivíduo poderá ser incapaz de trabalhar e realizar as atividades diárias necessárias ao cumprimento de seu papel em casa, no trabalho, na escola e em outras áreas sociais. Embora os tratamentos prolongem a sobrevida, podem também danificar os órgãos a longo prazo, resultando em incapacidade funcional. A perda da funcionalidade em pacientes oncológicos deve-se a dor, fadiga, náusea e depressão. (Pedroso et. al. 2021) Pedroso et. al. (2021) afirma ainda que:
A perda de funcionalidade em pacientes oncológicos deve-se a manifestações clínicas como dor, fadiga, náusea e depressão. Além disso, barreiras geográficas, econômicas e sociais também podem impactar negativamente na funcionalidade, pois os pacientes precisam de acesso aos serviços de saúde, apoio dos profissionais de saúde, de familiares e das demais redes de apoio.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2018) apud Ranzi et. al. (2019) traz então uma importante perspectiva que visa mitigar as perdas funcionais causadas por esta patologia. Na oncologia, a fisioterapia surge com intuito de preservar, manter e restaurar a integridade cinética funcional dos órgãos e sistemas do paciente oncológico, bem como prevenir os distúrbios causados pelo tratamento da doença. A fisioterapia em oncologia atua em forma integral e interdisciplinar resgatando a funcionalidade do indivíduo, contribuindo com técnicas específicas como a cinesioterapia.
3.2. CONTRIBUIÇÕES DA FISIOTERAPIA NAS CONDIÇÕES DE VIDA DE PACIENTES ONCOLÓGICOS
Os estudos propostos por Ranzi et. al. (2019) que buscam a melhora da dor oncológica em pacientes, mostram que a fisioterapia, especialmente com foco na cinesioterapia, desempenhou um papel significativo na redução da dor oncológica em pacientes hospitalizados. A atuação da fisioterapia em pacientes em cuidados paliativos pode abranger diversas técnicas, incluindo métodos manuais de distração, massagem e relaxamento.
Essas abordagens complementares podem ser essenciais para melhorar o conforto e a qualidade de vida dos pacientes em estágios avançados da doença. Ao proporcionar alívio da dor e promover bem-estar físico e emocional, a fisioterapia desempenha um papel fundamental no suporte integral aos pacientes oncológicos, contribuindo para um cuidado mais abrangente e humanizado durante o tratamento e nos cuidados paliativos.
Bergmann (2023) faz importantes considerações a respeito da importância da fisioterapia oncológica. O paradigma ideal para a assistência fisioterapêutica em Oncologia começa na fase de pré-habilitação, definida como o intervalo entre o diagnóstico de câncer e o início do tratamento. Essa etapa visa implementar ações focadas na melhoria da condição de saúde do paciente, com o objetivo de diminuir tanto a incidência quanto a severidade das deficiências já existentes, além de possíveis complicações associadas ao diagnóstico e ao tratamento oncológico.
Durante o tratamento do câncer, seja antes ou depois de cirurgias, ou durante a quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia, acontece a fase de habilitação fisioterapêutica. Nesta fase, o foco das intervenções fisioterapêuticas é a prevenção, a identificação precoce e o manejo adequado dos efeitos colaterais agudos e crônicos resultantes dos tratamentos anticancerígenos.
A reabilitação fisioterapêutica se faz necessária em qualquer momento após o diagnóstico de câncer, especialmente após o surgimento de sequelas crônicas. Seu objetivo é aprimorar o estado de saúde do paciente, aliviar os sintomas e melhorar a funcionalidade. Portanto, a reabilitação não deve ser vista como o foco principal da fisioterapia, já que indica que as etapas preventivas e de tratamento precoce não alcançaram sucesso pleno. Os cuidados paliativos em Oncologia são essenciais para prevenir e mitigar o sofrimento de pacientes e familiares, atuando na identificação e tratamento precoce de sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais, e assim promovendo uma melhor qualidade de vida para esses indivíduos. (Bergmann, 2023).
3.3. PRINCIPAIS INTERVENÇÕES UTILIZADAS NO CONTEXTO FISIOTERAPÊUTICO ONCOLÓGICO
Schleder, Verner, Fernandes e Mazzo (2023) trazem uma importante alternativa na mitigação das perdas funcionais em pacientes oncológicos. Para isso, o estudo mencionado compara os efeitos de duas terapias de eletroanalgesia, a Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) e a Corrente Interferencial (CI), no alívio da dor em pacientes com câncer. Ambas as modalidades de tratamento demonstraram redução significativa da dor imediatamente após e até 6 horas após o tratamento. No entanto, a CI mostrou ser superior na duração do efeito analgésico, especialmente após a quarta hora.
Este resultado sugere que, embora ambas as terapias sejam eficazes na gestão da dor oncológica, a CI pode oferecer vantagens adicionais em termos de duração da analgesia. Ranzi et. al. (2019) trazem então a abordagem da cinesioterapia, seus estudos trazem uma perspectiva voltada para a diminuição da dor, através da cinesioterapia. Os resultados obtidos nesta pesquisa apontam para a eficácia da fisioterapia, com foco na cinesioterapia, na redução da dor oncológica em pacientes hospitalizados. A utilização da Escala Visual Analógica (EVA) e do Questionário de McGill como ferramentas de avaliação demonstrou uma diminuição significativa da dor nos pacientes que se submeteram a pelo menos seis sessões de fisioterapia.
Essa diminuição na percepção da dor sugere não apenas uma melhora na qualidade de vida dos pacientes, mas também destaca a cinesioterapia como uma intervenção relevante no manejo da dor oncológica. A forte associação encontrada entre os dois instrumentos de avaliação reforça a confiabilidade dos resultados obtidos, evidenciando o potencial da fisioterapia como parte integrante dos cuidados paliativos em oncologia.
4. METODOLOGIA
Neste trabalho, conduzimos uma revisão sistemática da literatura sobre as intervenções de fisioterapia em pacientes oncológicos, analisando criticamente artigos científicos. O objetivo foi sintetizar os achados atuais, avaliar a eficácia das diversas abordagens terapêuticas e identificar lacunas na pesquisa existente, proporcionando uma base sólida para futuras investigações sobre as melhores práticas de fisioterapia no tratamento oncológico.
Para isso, realizamos uma busca sistemática nas bases de dados eletrônicas: PubMed, Scielo, BVS, Medline, e PEDRO, utilizando termos de busca relacionados à fisioterapia em pacientes oncológicos. Os critérios de inclusão foram: estudos clínicos controlados, ensaios clínicos randomizados, estudos de coorte e estudos de caso, publicados nos últimos 5 anos, em inglês, português ou espanhol. Enquanto os critérios de exclusão foram aqueles que não apresentassem pertinência ao objeto de estudo, artigos pagos e incompletos e revisões de literatura.
Os estudos identificados foram avaliados quanto à sua relevância com base nos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. Dois revisores independentes realizaram a triagem inicial com base nos títulos e resumos, e os estudos potencialmente relevantes serão selecionados para uma avaliação mais detalhada. Os dados relevantes dos estudos selecionados foram extraídos de forma independente por dois revisores e registrados em tabela. As informações extraídas incluíram autor e data de publicação, tipo de estudo, objetivos, características do estudo, intervenções de fisioterapia utilizadas, desfechos avaliados e resultados principais. Os resultados foram interpretados à luz dos objetivos específicos do estudo, destacando as principais descobertas, lacunas de conhecimento e implicações clínicas.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao realizar a busca na literatura, utilizamos descritores associados ao operador booleano AND. Foram analisados títulos e resumos para posterior conferência da integralidade dos textos. No total, encontramos aproximadamente 296 artigos, dos quais 53 foram obtidos utilizando o descritor Fisioterapia associado a AND oncologia na base de dados Scielo. Destes 53 artigos, 26 foram excluídos por irrelevância para o estudo, 15 por ultrapassarem 10 anos de publicação e 10 por serem revisões de literatura. Ao utilizarmos o descritor Fisioterapia associado a AND oncologia na base de dados PEDRO, encontramos 83 artigos, dos quais 34 foram excluídos por ultrapassarem 10 anos de publicação, 15 por irrelevância ao tema e 31 por serem revisões de literatura. Utilizando o descritor Fisioterapia associado a AND oncologia nas bases de dados MedLina e PubMed, encontramos cerca de 165 artigos, dos quais 118 foram excluídos por irrelevância ao tema, 39 por ultrapassarem 10 anos de publicação e 9 por serem revisões de literatura. Ao final, a busca resultou em 11 artigos para comporem o presente trabalho.
Tabela 1: Artigos incluídos
A priori, Pinheiro e Mendes (2024) buscaram traçar o perfil de pacientes submetidos a tratamento oncológicos. Os autores conseguiram visualizar que 67,11% dos pacientes incluídos no estudo eram do sexo feminino, enquanto 47,37% estavam na faixa etária de 60 a 80 anos. A maioria dos pacientes possuía ensino fundamental (47,37%) e pertencia à categoria de raça/cor negra (60,52%). O câncer de mama foi o tipo mais observado (28,95%), seguido do câncer de pulmão (14,47%) e do câncer de próstata (10,53%). Uma proporção significativa de pacientes apresentou progressão da doença (96,05%). Dentre estes, todos estavam sendo submetidos a intervenções fisioterapêuticas, cujo o principal motivo da intervenção fisioterapêutica esteve relacionado a questões de funcionalidade e mobilidade (93,43%) entre os pacientes.
É válido pontuar que a qualificação adequada é fundamental para um manejo adequando de pacientes oncológicos. Diante disso, Lucena et. al. (2023) busca visualizar as condutas de fisioterapeutas que atuavam no manejo oncológico, seus estudos visualizaram50% dos participantes do estudo eram fisioterapeutas profissionais contratados pelo hospital, enquanto 29,5% eram residentes do segundo ano e 20,5% estavam no primeiro ano. Diferentes setores do hospital tiveram níveis de participação variados, com maior representatividade em Unidades de Terapia Intensiva Adulto, Distúrbios Respiratórios Clínicos e Cirúrgicos e programas de Transplante de Órgãos.
As recomendações variaram para restrição de movimento após cirurgias de câncer de mama, com a maioria dos profissionais aconselhando uma restrição de 15 dias para pacientes sem reconstrução imediata. Em relação aos exercícios para membro superior pós-operatório, 36,4% recomendaram exercícios resistidos com carga progressiva, enquanto 25,0% sugeriram restringir todos os tipos de cargas até liberação médica. Os estudos demonstraram que a conduta adotada pela maioria dos profissionais residentes e assistenciais analisados baseia-se em recomendações desatualizadas sobre movimentação de membros, exercícios resistidos e prevenção de linfedema após cirurgia de câncer de mama. (Lucena, et. al. 2023).
Quando analisado o perfil de pacientes oncológicos do sexo masculino, alguns achados foram de interesse para essa pesquisa. Silva, Ribeiro e Borges (2022) evidenciam o linfoma foi o tipo de câncer mais prevalente diagnosticado em 54% dos pacientes, com tratamento envolvendo principalmente quimioterapia. Os pacientes iniciaram o tratamento no último ano, tiveram uma internação hospitalar mediana de 15 dias, receberam fisioterapia entre cinco a 23 vezes e a maioria recebeu alta para casa (82%). Na admissão e na alta, houve associações significativas entre os escores de força muscular e mobilidade, mas não com dinamometria e medidas de mobilidade.
O estudo de Pereira et al. (2020) investigou o efeito da fisioterapia nas complicações ginecológicas e na QV de mulheres após o tratamento do câncer de colo uterino (CCU). A intervenção consistiu em massagem perineal e treinamento dos músculos do assoalho pélvico por seis semanas. Os resultados mostraram uma melhora estatisticamente significativa nas queixas ginecológicas e na função muscular, além de ganhos em alguns domínios do questionário de função sexual e de QV. Esses achados são consistentes com a literatura que ressalta os benefícios da fisioterapia para a reabilitação pélvica em pacientes oncológicos (Bø & Hilde, 2013).
Pimpão et al. (2021) avaliaram o efeito da cinesioterapia pré-operatória e do treino muscular inspiratório nas complicações pulmonares pós-operatórias em pacientes oncológicos. A intervenção resultou em uma redução significativa das complicações pulmonares nos grupos de intervenção em comparação ao grupo controle. Além disso, houve um impacto clínico positivo nas pressões inspiratória máxima (PImáx) e expiratória máxima (PEmáx). Esses resultados corroboram estudos prévios que destacam a importância da preparação física pré-operatória para reduzir complicações póscirúrgicas (Carli et al., 2020).
Evans et al. (2021) investigaram a eficácia de uma intervenção de exercícios personalizada baseada na web para indivíduos com câncer de próstata metastático. O estudo apontou que a intervenção foi aceitável, segura e eficaz para melhorar os níveis de atividade física, reduzir a fadiga e aumentar a motivação. Esses achados são alinhados com a crescente evidência sobre a eficácia das intervenções digitais em saúde, especialmente em populações que enfrentam barreiras para o acesso a cuidados presenciais (Murray et al., 2020).
Rett et al. (2022) e Pajares et al. (2022) exploraram intervenções fisioterapêuticas em pacientes com câncer de mama. Rett et al. encontraram melhorias significativas na amplitude de movimento (ADM), redução da dor no membro superior (MS) homolateral e ganhos adicionais ao longo do tempo. Pajares et al. destacaram a segurança e viabilidade do “Programa de Exercícios Terapêuticos em MBC” (TEPMBC), embora com baixa adesão. Ambos os estudos reforçam a importância da reabilitação física no manejo das sequelas do câncer de mama, conforme observado em outros estudos (McNeely et al., 2010).
Chelles et al. (2024) desenvolveram um guia para avaliação e manejo fisioterapêutico da dor advinda de neoplasias. A versão do guia foi avaliada positivamente, sugerindo que uma abordagem estruturada e baseada em evidências pode melhorar a prática clínica. Este desenvolvimento é fundamental para padronizar o cuidado e garantir a qualidade do atendimento fisioterapêutico (Hodgson et al., 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos artigos destaca a eficácia das intervenções fisioterapêuticas em diferentes contextos oncológicos. As intervenções variaram desde exercícios físicos, tanto presenciais quanto baseados na web, até programas educativos e o desenvolvimento de guias clínicos. Em geral, os resultados são promissores, indicando melhorias significativas na QV, redução de complicações e aumento da funcionalidade da importância da fisioterapia como parte integrante do tratamento oncológico.
No entanto, alguns desafios permanecem. A adesão às intervenções, como observado no estudo de Pajares et al. (2022), pode ser baixa, o que sugere a necessidade de estratégias para aumentar o engajamento dos pacientes. Além disso, a variabilidade nas respostas às intervenções, mencionada por Evans et al. (2021), destaca a importância de abordagens personalizadas que considerem as condições individuais dos pacientes.
A implementação de intervenções baseadas na web e tecnologias digitais, como discutido por Evans et al. (2021), representa uma área promissora, especialmente para aqueles que enfrentam dificuldades de acesso aos serviços de saúde. A digitalização pode proporcionar suporte contínuo e personalizado, alinhado com as tendências atuais de telemedicina e saúde digital.
A educação contínua dos profissionais de saúde, conforme indicado por Sánchez et al. (2022), é crucial para garantir a atualização das práticas clínicas e a adoção de abordagens baseadas em evidências. O desenvolvimento de guias clínicos, como o de Chelles et al. (2024), pode padronizar o cuidado e assegurar a qualidade do atendimento fisioterapêutico. A integração de intervenções fisioterapêuticas no manejo do câncer deve ser incentivada, com atenção especial às estratégias de adesão, personalização das intervenções e educação contínua dos profissionais de saúde. Futuras pesquisas devem focar na otimização das intervenções e na exploração de novas tecnologias para expandir o alcance e a eficácia dos programas de reabilitação oncológica.
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1Bacharelanda em Fisioterapia pela Faculdade R. Sá.
DISCENTE BOLSISTA PIBIC
E-mail: eduardaveloso.0416@gmail.com.
2Bacharelanda em Fisioterapia pela Faculdade R. Sá.
DISCENTE BOLSISTA PIBIC
E-mail: souzahelen454@gmail.com.
3Professor Orientador, Mestre em Ciência da Saúde e Biológicas pela UNIVASF. E-mail: zemabio@gmail.com.