AVALIAÇÃO DA TRIAGEM EM UM HOSPITAL PÚBLICO, DE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO

ASSESSMENT OF TRIAGE IN A PUBLIC HOSPITAL FOR WOMEN VICTIMS OF INTIMATE PARTNER VIOLENCE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202501310515


Maria Eduarda Nakade Silva1
Karen Rodrigues de Souza1
Millene Ferreira Paula1
Carolina André Castro Godoi1
Amanda Silva Resende1
Raphaela Alves Vilela Garcia2


Resumo

A violência por parceiro íntimo representa um grave problema de saúde pública, associado a impactos físicos, emocionais e sociais significativos. Este estudo analisou a eficácia da triagem realizada em um hospital público em Itumbiara-GO, com foco na identificação, encaminhamento e preparo dos profissionais de saúde para o atendimento às vítimas. A pesquisa utilizou abordagem quantitativa, aplicando questionários adaptados para avaliar o conhecimento e as práticas dos profissionais. Participaram do estudo 91 profissionais de saúde atuantes em diferentes setores do hospital, como emergência, triagem e assistência social. Os resultados demonstraram que, embora a maioria dos profissionais conheça protocolos de atendimento, sua aplicação é limitada, especialmente entre enfermeiros e técnicos de enfermagem. Além disso, a ausência de treinamentos regulares foi destacada por 100% dos psicólogos e assistentes sociais, evidenciando lacunas no preparo profissional. A análise reforça a necessidade de capacitação continuada, maior adesão aos protocolos existentes e planejamento institucional para fortalecer o atendimento às vítimas. Conclui-se que estratégias educacionais e a implementação de práticas integradas e interdisciplinares são fundamentais para melhorar a resposta dos serviços de saúde a situações de violência por parceiro íntimo e para mitigar seus impactos a longo prazo.

Palavras-chave: Triagem; vítima; violência; parceiro íntimo; atendimento.

1 INTRODUÇÃO

O patriarcado é uma construção social enraizada em muitas culturas ao redor do mundo que se estabelece definindo e restringindo os papéis de gênero. O nome “patriarcado” é composto do grego (patriarkhes), significando “pai de uma raça” ou “chefe de uma raça”, patriarca   e a definição literal da palavra é “regra do pai”. Em uma sociedade patriarcal, o homem ocupa a política, a moral e a autoridade religiosa do sexo feminino e dos filhos que ele os mantém confinados atrás deste poltrona (BRASIL PARALELO, 2022).

Este sistema originou-se nos antigos reinos da Mesopotâmia que, como os escritos antigos, conservaram a autoridade do patriarcado. Desde a antiguidade, os homens tinham obrigação de suar da forma que exigia mais força física, enquanto os homens tinham guerras, as mulheres ficavam em casa, se preocupavam com a famílias (BRASIL PARALELO, 2022).

No mesmo sentido, a mulher é muitas vezes encarada como uma figura fraca e vulnerável que necessita de defesa, mantendo-se um ideal de masculinidade violenta, agressiva e dominante. Portanto, violência de gênero pode ser entendida como tal reafirmação da mesma realização do modelo patriarcal, pela qual há uma relação óbvia de causa e efeito, podendo-se afirmar que “patri-arcadismo” significa violência contra a mulher (FERREIRA, 2021).

Segundo Garcia e Silva (2018), a violência por parceiro íntimo pode ser física, sexual, emocional e comporta altas variedades de comportamentos controladores. Para esses autores, trata-se de um problema de saúde pública devido às numerosas complicações à vítima e à comunidade, dolências mentais, prejuízos à produtividade, além do educacional e econômico e comportamento de risco.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda estratégias de prevenção primária em todas as fases da vida. O profissional de saúde, muitas vezes primeiro ponto de contato após um episódio de violência, desempenha um papel crucial na identificação e no acolhimento das vítimas, assegurando o encaminhamento aos serviços especializados necessários (GARCIA E SILVA, 2018).

Diante disso, forma-se a questão central do presente trabalho: a eficácia de triagem de mulheres que foram ou são vítimas de violência por parceiros íntimos em um hospital público. Este problema reflete uma lacuna significativa no entendimento e na prática clínica, onde a identificação precoce e o encaminhamento adequado são cruciais para a mitigação de longo prazo dos efeitos da violência doméstica.

O objetivo geral deste estudo é avaliar a eficácia da triagem realizada em um hospital público da cidade de Itumbiara-GO, na qualidade dos fatores que interferem na identificação, encaminhamento e preparação dos profissionais envolvidos.  O presente estudo se justifica pela falta de estudo acerca das práticas de índole geral, e de uma resposta institucional melhor às situações de violência do sexo, através da melhoria dos determinados cuidados às vitimas. 

2 METODOLOGIA 

Esta pesquisa descritiva de abordagem quantitativa foi realizada no Hospital Municipal Modesto de Carvalho (HMMC) em Itumbiara – GO, o único da rede municipal de saúde da cidade, evidenciando sua relevância no atendimento à população local. Os participantes foram profissionais de saúde do HMMC, abrangendo médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais e psicólogos. Estes profissionais atuam em áreas cruciais como triagem, pronto-socorro, observação, pré-parto, ginecologia, internação, clínica médica, maternidade, Unidade de Terapia Intensiva (UTI), assistência social e psicologia, escolhidos devido ao fluxo de atendimento que mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo podem percorrer na unidade.

Através de documentos institucionais, foram identificados 330 profissionais elegíveis para participar da pesquisa. Dos entrevistados, 91 aceitaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido; 56 recusaram-se a participar e 183 não foram localizados nos meses de abril e maio de 2024. Os critérios de inclusão foram escolhidos para os profissionais em exercício no Hospital e que voluntariamente aceitaram. Critérios de exclusão compreenderam recusa discriminadora, pessoa não localizada após três tentativas de localizações ou eventos jornalísticos in loco na hora da coleta de dados.                                                                                                                             

O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário adaptado de Baptista et al. (2015), do conhecimento e da prática profissional em relação às vítimas de violência com quem o profissional se deparava; após a autorização dos profissionais para a participação de pesquisa, eles foram encaminhados para uma sala acolhedora onde receberam orientações relativamente ao TCLE e cursaram o questionário. Os pesquisadores os recebiam no final para recolher os questionários.

A análise dos dados foi feita com o auxílio do software Excel®, as informações foram tabuladas, analisadas através das tabelas, gráficos e cálculos de porcentagem para oferecer uma interpretação igualmente clara dos resultados obtidos. Este estudo passou por submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa sob o número 6754035 respeitando todas as normas e considerações éticas do CEP, conforme a Resolução 466/2012, que traz regras sobre a pesquisa envolvendo seres humanos, inclusive dados secundários e estudos sociológicos, antropológicos e epidemiológicos. A metodologia avançada oferece o devido suporte à pesquisa e sua possível replicação, o que garantirá a aplicabilidade social e obtenção de novos conhecimentos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Com base nos dados encontrados, a eficácia da triagem de mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo sofre influência de diversos fatores no HMMC, como falta de treinamento da equipe, incentivo dos gestores públicos, abordagem à vítima e outros, de modo que afetam diretamente a maneira que essas mulheres serão acolhidas após o episódio de violência. 

Dentre os médicos, 63.63% afirmaram já terem atendido alguma vítima de violência e entre os enfermeiros 59.01%.

Diante disso, percebe-se que a vasta maioria dos profissionais já prestou serviços a mulheres vítimas de violência, o que revela a grande demanda desse tipo de atendimento. Segundo um estudo realizado por Anderson J.C. et al. (2015), as mulheres em situação de violência por parceiro íntimo realizaram visitas frequentes aos hospitais, principalmente à procura do departamento de emergência no ano que antecedeu ao feminicídio, o que ressalta a importância de um atendimento de qualidade pelos profissionais. 

Considerando os achados do presente estudo, ao questionar os participantes sobre a realização do encaminhamento das vítimas por parceiro íntimo, 83,33% dos assistentes sociais afirmam esse procedimento, enquanto 49,18% dos enfermeiros negaram fazê-lo.

Já no que se refere ao artigo de Baptista, et al. (2015) apresenta realidade divergente onde 62,9% dos profissionais de saúde realizaram encaminhamento à vítima e 37,1% não o fizeram, o que pode representar a realidade local.

Na Tabela 1, estão descritos os índices das respostas dos profissionais, demonstrando a distribuição dos atendimentos realizados, utilização de protocolos e encaminhamentos feitos, em relação à violência sexual e doméstica contra mulheres. 

Tabela 1: Distribuição dos atendimentos realizados, utilização de protocolos e dos encaminhamentos feitos em relação à violência sexual e doméstica contra mulheres (adaptado de Baptista et al, 2015).

Questiona seus pacientes em relação à violência doméstica/sexual?SIM (%)NÃO (%)NÃO SEI (%)TOTAL (n)
MÉDICO63.63%27.27%9.09%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO37.70%40.98%4.91%61
ASSISTENTE SOCIAL83.3316.66%0%6
PSICÓLOGA50%50%0%4
TRIAGEM66.60%22.22%11.11%9
2) Atendeu casos suspeitos e/ou confirmados de violência sexual? SIM (%)NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO63.63%36.36%0%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO59.01%37.70%3.27%61
ASSISTENTE SOCIAL66.66%33.330%6
PSICÓLOGA75%25%0%4
TRIAGEM83.88%11.11%0%9
3) Utilizou algum protocolo durante o atendimento? SIM (%)NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO36.36%54.54%9.09%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO37.70%54.09%8.19%61
ASSISTENTE SOCIAL66.66%33.33%0%6
PSICÓLOGA75%25%0%4
TRIAGEM77.77%22.22%0%9
4) Fez algum encaminhamento da vítima? SIM (%)NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO54.54%45.45%0%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO47.54%49.18%1.63%61
ASSISTENTE SOCIAL83.33%16.66%0%6
PSICÓLOGA75%25%0%4

Fonte: De autoria própria.

Acerca do conhecimento de algum protocolo de atendimento de violência doméstica/sexual, 100% dos assistentes sociais e profissionais da triagem, e a maioria dos psicólogos (75%), afirmaram saber da existência, já 40.98% dos enfermeiros desconhecem.

Entretanto, quando é questionado sobre a utilização do protocolo durante o atendimento, percebe-se que esse número cai entre os assistentes sociais (66.66%), profissionais da triagem (77.77%) e 37.70% dos enfermeiros.

Ao correlacionar com o artigo de Baptista, et al. (2015) cerca de 88,8% dos profissionais também não realizaram a aplicação do protocolo, apresentando similaridade com a atual análise.

Isto posto, os números sobre o conhecimento do protocolo podem ser explicados pela divisão das responsabilidades dentro do estabelecimento de saúde, já que os profissionais do serviço social e da psicologia são os encarregados da identificação desses casos, por isso apresentam porcentagens maiores. Já a divergência dos dados quando se analisa a utilização desse protocolo, demonstra uma descontinuidade e fragmentação do processo de trabalho (ALMEIDA; BISPO; DINIZ, 2007)

Já quando questionados em relação ao conhecimento dos profissionais sobre a existência de um núcleo ou centro de referência de prevenção a violência, 45.45% dos médicos não souberam responder, já 75% dos psicólogos afirmam ter este conhecimento (Tabela 2).

De acordo com Carneiro, et al. (2021), vale destacar a importância de os profissionais de saúde conhecerem os centros de apoio ou referência para atendimento à mulher em situação de violência, sendo esses espaços cenários estratégicos responsáveis em promover o acolhimento psicológico, social e jurídico. 

Quando os trabalhadores são questionados acerca de treinamentos e capacitação, os números demonstram um valor significativo, onde 100% dos assistentes sociais e psicólogos afirmaram que não receberam treinamento nos últimos 6 meses, assim como 81.81% médicos e 91.8% dos enfermeiros.

Tendo em vista essa realidade, é possível identificar mais uma das lacunas no atendimento de violência por parceiro íntimo, já que a qualificação continuada dos trabalhadores contribui para uma maior efetividade do serviço em saúde. Fato esse que é evidenciado por estudos que demonstram que na maioria dos casos, os médicos possuem mais segurança que a enfermagem em atendimentos de violência contra à mulher, contudo, isso se modifica quando ocorre o treinamento da equipe de enfermagem, pois a segurança se iguala. (GUTMANIS, 2007; CHO, 2015; MUSSE, 2020).

Diante de todo o exposto, quando é perguntado acerca da aptidão dos profissionais para o atendimento de mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo 66.66% e 100% dos assistentes sociais e psicólogos, respectivamente, afirmaram serem capazes de realizar o atendimento à vítima.

A Tabela 2 indica as respostas obtidas sobre o preparo do Hospital Municipal Modesto de Carvalho no que concerne o atendimento de mulheres vítimas de violência doméstica/sexual. 

Tabela 2: Avaliação quanto ao preparo do Hospital Municipal Modesto de Carvalho de Itumbiara Goiás, quanto ao atendimento de vítimas de violência doméstica/sexual feminina (adaptado de Baptista et al, 2015)

1) Você conhece/sabe da existência de algum protocolo de atendimento de violência doméstica/sexual? SIM (%) NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO54.54%18.18%27.27%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO47.54%40.98%11.47%61
ASSISTENTE SOCIAL 100%0%0%6
PSICÓLOGA 75%25%0%4
TRIAGEM 100%0%0%9
2) Você conhece/sabe da existência de alguma ficha de notificação compulsória para casos de violência contra a mulher? SIM (%) NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 

Tabela 2: Continuação

MÉDICO63.63%36.36%0%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO57.37%36.06%8.19%61
ASSISTENTE SOCIAL 100%0%0%6
PSICÓLOGA 75%25%0%4
TRIAGEM 88.88%11.11%0%9
3) Você considera que está apto para atender casos de violência doméstica/sexual SIM (%) NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO63.63%27.27%9.09%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO52.45%39.34%8.19% 
ASSISTENTE SOCIAL 66.66%16.66%16.66%6
PSICÓLOGA 100%0%0%4
TRIAGEM 55.55%22.22%22.22%9
4) Acesso à norma técnica: “prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes”? SIM (%) NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO54.54%27.27%18.18%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO39.34%45.90%11.47%61
ASSISTENTE SOCIAL 83.33%16.66%0%6
PSICÓLOGA 75%25%0%4
TRIAGEM 44.44%44.44%11.11%9
5) Nos últimos 6 meses receberam algum treinamento/capacitação sobre violência doméstica/sexual contra a mulher? SIM (%) NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO9.09%81.819.09%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO6.55%91.80%1.63%61
ASSISTENTE SOCIAL 0%100%0%6
PSICÓLOGA 0%100%0%4
TRIAGEM 33.33%66.66%0%9
6) No município existe algum núcleo ou centro de referência de prevenção à violência? SIM (%) NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO36.36%18.18%45.45%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO59.01%8.19%32.78%61
ASSISTENTE SOCIAL 66.66%16.66%16.66%6
PSICÓLOGA 75%25%0%4
TRIAGEM 55.55%0%44.44%9

Tabela 2: Continuação

7) Sente-se preparado profissionalmente para atender casos de violência doméstica/sexual? SIM (%) NÃO (%)NÃO SEI (%) TOTAL (n) 
MÉDICO72.72%18.18%9.09%11
ENFERMEIRO/TÉCNICO52.45%39.34%8.19%61
ASSISTENTE SOCIAL 66.66%16.66%16.66%6
PSICÓLOGA 100%0%0%4
TRIAGEM 66.66%33.33%0%9

Fonte: De autoria própria.

Ao serem questionados acerca das principais dificuldades diante do atendimento dos casos de violência, as principais respostas dos médicos incluíram a abordagem a vítima (25%), enquanto os aspectos éticos e legais, diagnóstico de violência e encaminhamento para outros serviços apresentaram a mesma proporção (16.66%).

Por essa perspectiva, observa-se que a principal dificuldade dos profissionais é a abordagem a vítima, o que conflui com achados em outros estudos como o de Carneiro, et al. (2021), o qual afirma que a restrição do tempo da consulta afeta a formação de vínculo com as pacientes vítimas de violência sexual, o que interfere na confiança das mesmas para com os profissionais, dificultando ainda mais essa abordagem. 

Em relação ao estudo, nota-se que quando questionados sobre “o que falta para que os profissionais estejam aptos nos casos de violência”, enfermeiros e psicólogos afirmaram principalmente treinamento em serviço, com 33.11% e 66.66%, respectivamente. Além disso, as respostas dos assistentes sociais referem falta de planejamento do hospital (28.57%).

Em um artigo de autoria de Carneiro, et al. (2021), notou-se também a dificuldade do interesse da gestão em capacitações dos profissionais, não garantindo o aprimoramento esperado no atendimento às vítimas. Além disso, o estudo afirma que a busca pelo conhecimento acerca do tema vigente favorece o empoderamento dos profissionais de saúde, estimulando um cuidado de maior qualidade.

Com relação às ações mais eficazes para informação e capacitação dos profissionais, as respostas incluíram cartilha informativa e palestras e cartazes com resposta de 34.78% dos médicos, enquanto oficinas de trabalho (26.98%) e palestras e cartazes (34.92%) foram as principais respostas da enfermagem/ técnicos. 

Segundo dados encontrados no estudo internacional de Cho, Cha e Yoo (2015), são reveladas ações que já são exercidas nesse contexto, como campanhas promovidas pelo governo, que contam com a oferta de palestras e seminários sobre violência contra a mulher, buscando a educação de funcionários. Já em trabalhos brasileiros, é reforçada a necessidade dessas ações, haja visto que segundo Garcia e Silva (2018), as políticas voltadas ao enfrentamento das violências devem ser melhoradas, a fim de que os profissionais sejam mais efetivos em seus atendimentos dessa esfera. 

Abaixo, apresenta-se a Tabela 3, que expressa os aspectos encontrados quanto às dificuldades e sugestões dos profissionais no tocante do atendimento de mulheres vítimas de violência doméstica/sexual. 

Tabela 3: Distribuição das dificuldades e sugestões encontradas pelos profissionais em relação ao atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica/sexual (adaptado de Baptista, 2015).

1) Principais dificuldades diante dos casos de violência doméstica/sexual? Médico (a) n(%)Enfermagem/Técnico n(%)Assistência social n(%)Psicologia n(%)Triagem n(%)
Aspectos éticos e legais4 (16.66%)25 (21.93%)2 (18.18%)2 (33.33%)1 (9.09%)
abordagem à vítima 6 (25%)33 (28.94%)2 (18.18%) 0%6(54.54%)
Diagnóstico de violência4 (16.66%)14 (12.28%)2 (18.18%)0%0%
Encaminhamento para outros serviços 4 (16.66%)18 (15.78%)2 (18.18%) 0%2 (18.18%)
Indicação do tratamento 3 (12,5%)15 (13.15%)1 (9.09%) 0%1 (9.09%)
Outros2 (8.33%)5 (4.38%)2 (18.18%) 1 (16.66%)0%
Não sei responder1 (4.16%)4 (3.50%)0%1 (16.66%)1 (9.09%)
2) O que falta para que os profissionais estejam aptos para o atendimento de casos de violência doméstica/sexual? Médico (a) n(%)Enfermagem/Técnico n(%)Assistência social n(%)Psicologia n(%)Triagem n(%)
Treinamento em serviço 4 (11.40%)51 (33.11%)5 (35.71%)4 (66.66%)7 (36,84%)
Formação na graduação 9 (25.71%)16 (10.39%)0%2 (33.33%)2 (10.52%)
Material didático/informativo 5 (14.28%)24 (15.58%)2 (14.28%)0%4 (21.05%)
Incentivo dos gestores públicos 7 (20%)27 (17.53%)3 (21.42%)1 (16.66%)4 (21.05%)
Planejamento no hospital 9 (25.71%)34 (22.07%)4 (28.57%)1 (16.66%)2 (10.52%)
Não sei responder1 (2.85%)2 (1.29%)0%0%0%

Tabela 3: Continuação

3) Quais as ações mais eficazes para informação e capacitação dos profissionais acerca da violência doméstica/sexual? Médico (a) n(%)Enfermagem/Técnico n(%)Assistência social n(%)Psicologia n(%)Triagem n(%)
Oficinas de trabalho5 (21.73%)34 (26.98%)4 (33.33%)1 (16,66%)3 (33.33%)
Cartilha informativa8 (34.78%)30 (23.81%)1 (8.33%)1 (16.66%)6 (66.66%)
Palestras e cartazes8 (34.78%)44 (34.92%)6 (50%)4 (66,66%)6 (66.66%)
Outros 1 (4.34%)15 (11.90%)1 (8.33%) 0%3 (33.33%)
Não sei responder1 (4.34%)3 (2.38%)0%0%0%

Fonte: De autoria própria.

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo alcançou seu objetivo geral de avaliar a eficácia da triagem realizada em um hospital público em Itumbiara-GO, especialmente no que tange aos fatores que afetam a identificação, o encaminhamento e a preparação dos profissionais de saúde para lidar com vítimas de violência por parceiro íntimo. As descobertas confirmam a necessidade de melhorar a capacitação dos profissionais, enfatizando a importância de um atendimento interdisciplinar mais integrado e sensível à violência sexual.

Foi evidenciado que, para melhorar a resposta institucional a tais situações, é crucial a implementação de estratégias educacionais e a revisão dos protocolos de atendimento. As limitações deste estudo, realizadas em uma única unidade hospitalar, apontam para a necessidade de pesquisas futuras em múltiplos centros para validar os resultados encontrados e refinar as intervenções propostas.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade ZARNS Campus Itumbiara e-mail: maria.nakade@aluno.faculdadezarns.com.br
2Docente do Curso Superior de Medicina da Faculdade ZARNS Campus Itumbiara. Mestre em Atenção à saúde pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Brasil (2022), e-mail: raphaela.avg@gmail.com