AVALIAÇÃO DA SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES DO ÚLTIMO ANO DO CURSO DE FISIOTERAPIA EM URUGUAIANA-RS

ASSESSMENT OF THE MENTAL HEALTH OF STUDENTS IN THE FINAL YEAR OF THE PHYSIOTHERAPY COURSE IN URUGUAIANA-RS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410111147


Aléxia Cardoso de Castro1
Matheus da Silva Frizzo2
Simone Lara3
Antônio Adolfo Mattos de Castro4
Paulo Autran Leite Lima5
Nelson Francisco Serrão Júnior6


Resumo

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”. A partir deste conceito cabe salientar que a saúde mental vem recebendo grande destaque quando se refere a rotina dos universitários, assim como, o quanto esse fator reflete na qualidade de vida. Este estudo tem como objetivo avaliar fatores associados à qualidade de vida e doenças relacionadas à saúde mental, tais como ansiedade, depressão e estresse de estudantes do último semestre do curso de fisioterapia. Trata-se de um estudo descritivo, observacional e comparativo. Os dados da pesquisa foram obtidos através de um formulário eletrônico, que foi aplicado em dois momentos, antes e após o período de estágio, devidamente preenchido pelos estudantes do curso de fisioterapia de uma universidade pública localizada na cidade Uruguaiana (RS), onde foram coletadas as informações necessárias para realização da análise comparativa. No geral conclui-se que não houve diferenças significativas, em estudantes com diagnóstico de transtorno mental já existentes, e os que não tinham tal diagnóstico, não o desenvolveram durante este período. Já em comparação com a referência dos dados normativos da população brasileira no questionário SF-36, os alunos desta amostra se encontram com a saúde mental abaixo da média esperada com relação a sua idade. Assim, observa-se a necessidade e a importância de desenvolvimento de política institucional de atenção à saúde mental no âmbito universitário, com objetivo de implantar ações que promovam a prevenção aos universitários assintomáticos, e tratamento para aqueles com sintomas  moderados e severos, com características patológicas.

Palavraschave: Saúde mental. Estudantes. Fisioterapia. Estágio clínico. Ansiedade

1.INTRODUÇÃO

 De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”. A partir deste conceito cabe salientar que a saúde mental vem recebendo grande destaque quando se refere a rotina dos universitários, assim como, o quanto esse fator reflete na qualidade de vida. A qualidade de vida é um conceito que surge, na contemporaneidade, como um importante indicador das condições de saúde e dos efeitos de tratamentos e intervenções, a partir da percepção do indivíduo sobre os diversos aspectos de sua vida. (FUMINCELLI et al., 2019).

 Estes conceitos são importantes para expandir a noção de saúde, pois inclui aspectos físicos, mentais e sociais (HUNTER et al., 2013; FRENK & GÓMEZ-DANTÉS, 2014). A saúde mental e a qualidade de vida dos universitários têm sido objeto de muitas pesquisas nos últimos tempos, visto que, muitos parecem estar sujeitos a desenvolver algum distúrbio nesse período (RAMOS-TOESCHER et al, 2020; MENEGALDI et al., 2022; MOUTINHO et al. 2019).

 Em um estudo realizado por  Menegaldi-Silva, et al (2022) observou-se que há evidências de problemas de saúde mental presentes entre os universitários, visto que os participantes apresentaram escores sugestivos para a presença de sintomas depressivos e escores médios de senso de coerência, o que sinaliza sua vulnerabilidade psicológica.

 A saúde mental dos estudantes da área da saúde tem sido estudada em muitos países (GRANER & CERQUEIRA, 2019), porém ainda existem poucas pesquisas referentes aos universitários no período de estágio supervisionado. (SANCHES, SILVA & SILVA, 2018).

 É importante e se faz necessário desenvolver políticas que atuem na atenção à saúde mental dos universitários, que tenham como objetivo implantar ações de prevenção para estudantes assintomáticos, suporte e tratamento para os que apresentam sintomas patológicos. (LAGUARDIA et al., 2013)

 Assim, este estudo teve como objetivo avaliar fatores associados à qualidade de vida e doenças relacionadas à saúde mental, tais como ansiedade, depressão e estresse de estudantes do último ano do curso de fisioterapia.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Em um estudo realizado por Sanches, Silva & Silva (2018) com estudantes de Terapia Ocupacional, 84% dos alunos tinham sintomas de estresse, e 34,6% encontravam-se com um nível de exaustão, onde os autores chegaram à conclusão que os níveis elevados de estresse são causados devido a grande demanda de atividades, relação da teoria com a prática, trabalho de conclusão de curso, a entrega de relatórios durante o período de estágio, o que acaba gerando uma queda na qualidade de vida. Saravanan & Wilks (2014) também falam sobre o déficit de concentração e a dificuldade na tomada de decisões, que se fazem necessárias na vida pessoal e profissional.

 Carvalho et al (2015) relata sobre os possíveis causadores de ansiedade e depressão no período de estágio, destacam-se a preocupação em suprir as expectativas dos familiares e retribuir o seu investimento, além da aflição em se inserir no mercado de trabalho, sobrecarga gerada pelas atividades de vida diária, o processo de avaliação do estágio clínico, restando pouco tempo para atividades de lazer.

 Na opinião de Jovanović et al. (2019) a pouca prática clínica é capaz de gerar uma falta de confiança neste período, além de ressaltar a importância de uma boa supervisão para acabar com a insegurança.

 Quando Rotta et al. (2016) investigou os níveis de depressão e ansiedade em multiprofissionais residentes da área da saúde, 28% de sua amostra apresentou depressão e 50% ansiedade. De acordo com as pesquisas de Saravanan & Wilks (2014), foi possível observar que 44% dos estudantes da Malásia do curso de medicina, apresentavam sintomas de ansiedade e 39% destes mesmos, apresentaram sintomas de depressão. Estes autores sugerem que o preditor dos sentimentos de ansiedade e depressão possa ser o estresse, devido o estudante enfrentar diversas situações de mudanças e frustrações em seu dia-a-dia.

 A fisioterapia é de grande importância no tratamento de pessoas com distúrbios mentais, pois consegue minimizar os impactos causados por doenças e/ou medicamentos que costumam interferir na realização das atividades da vida diária (AVDs). O fisioterapeuta auxilia através de aprimoramento da funcionalidade motora, exercícios que visam melhorar o padrão anormal de respiração, a postura, tensão e rigidez muscular, entre outros, com isso ocorre a reestruturação dos aspectos físicos e psíquicos, promovendo sua reabilitação (Silva et al, 2012), com isso faz-se importante a atuação do fisioterapeuta na equipe multidisciplinar como apoio aos universitários que demonstram necessidade.

O último ano do curso de fisioterapia é um dos momentos que mais exige do estudante, onde ele tem o contato direto com os pacientes, sendo avaliado a todo o momento, período onde será cobrado todo o conhecimento adquirido ao decorrer do curso, sendo que esta demanda de energia pode levar o estudante a exaustão psicológica (Schulke et al, 2011).

O presente estudo gerou dados importantes referentes à situação atual dos estudantes, possibilitando e sugerindo um aumento na atenção à saúde mental dos estudantes nesse momento do curso.

O objetivo do presente estudo foi avaliar a qualidade de vida dos alunos da último ano do curso de fisioterapia de uma universidade pública da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, no início e ao final do nono semestre do curso

3. METODOLOGIA

 Participaram desta pesquisa 14 estudantes do 9º semestre do curso de fisioterapia, no ano de 2023, os mesmos responderam um formulário eletrônico composto por um questionário de auto aplicação, associado ao SF-36 (Questionário de Qualidade de Vida – CPAQV). Os cálculos de amostra foram resumidos como média±DP e/ou frequência absoluta (relativa).

Para participação e exclusão da pesquisa foram definidos os critérios abaixo:

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO:

– Estudante do último ano do curso de fisioterapia na cidade de Uruguaiana-RS.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO:

– Estudantes que por algum motivo se encontravam impossibilitados de responder o questionário.

– Estudantes que se recusaram a responder o questionário

– Estudantes que responderam o questionário em apenas um dos dois momentos necessários para conclusão dos resultados.

Procedimento de coleta de dados

 A pesquisa foi realizada em dois momentos, inicialmente os estudantes foram convidados a fazer parte desta pesquisa. Após a leitura do termo de consentimento livre e esclarecido, os voluntários declararam sua compreensão referente aos objetivos do estudo, riscos e benefícios, e estavam cientes de que eram livres para interromper a sua participação a qualquer momento e que seus dados não serão divulgados se não for de sua vontade. A segunda parte do estudo foi composta com as mesmas questões, porém após o período de estágio.

 Os dados foram resumidos como média±DP e/ou frequência absoluta (relativa). A normalização dos dados foi averiguada com o teste de Kolmogorov Smirnov. Para a comparação da proporção de respostas do questionário social e clínico foi utilizado o teste do Qui quadrado ou exato de Fisher quando apropriado. Para a comparação dos valores obtidos nos domínios do questionário SF-36 antes e após a realização do protocolo, foi utilizado o teste T de Student pareado. Para a comparação dos valores obtidos entre os domínios do questionário SF-36 antes e após a realização do protocolo, foi utilizado o teste ANOVAR RM de uma entrada. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

 De 18 estudantes que receberam o convite para participar do estudo, 4 não responderam ao questionário, sendo assim 14 alunos fizeram parte do estudo, onde todos os participantes se encontravam no último ano do curso de fisioterapia do campus Uruguaiana-RS. As características basais da amostra deste estudo, consistiu em 4 indivíduos do sexo masculino e 10 do sexo feminino, com média idade de 24,28±2,84 anos na primeira vez que o questionário foi aplicado e 25±2,74 anos no segundo momento. Inicialmente residiam nos seguintes bairros de Uruguaiana-RS, 4 no centro, 1 na união das vilas, 1 em cabo Luiz Quevedo, 4 no São Miguel, 1 no Francisca Tarragô, 1 no Ipiranga, 1 no Tabajara Brites e 1 no São João. Na segunda etapa residiam, 4 no Centro, 1 no Cabo Luiz Quevedo, 3 no São Miguel, 1 no Francisca Tarragô, 1 no Ipiranga, 1 no Tabajara Brites, 1 no São João, 1 na Cohab I ou II e 1 na Promorar I ou II.

 Na Tabela 1 são descritas as questões respondidas pelos participantes, na ordem que foram realizados os questionamentos,  assim como o percentual de respostas. Quando questionados, se o trabalho foi prejudicado pela faculdade, no 1º momento 7,14%  responderam que sim, porém continuo trabalhando, já no 2º momento esta mesma resposta teve o valor de 14,29%.

 Na figura 1 podemos observar  uma análise de proporção de participantes com ou sem diagnóstico médico de transtorno mental durante o protocolo de pesquisa, onde foi possível perceber um discreto aumento de 35,71 % para 42,86% nos diagnósticos médicos referentes à saúde mental.

Figura 1. Análise de proporção de participantes com e sem transtorno mental durante o protocolo de pesquisa. *p=1,0

 Quando questionados se faziam algum tipo de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico antes, inicialmente 64,29% responderam não e 35,71% sim, no segundo momento houve um discreto aumento onde 57,14% responderam não e 42,86% responderam sim. Quando questionados se haviam sido diagnosticados com algum tipo de transtorno mental durante a faculdade, especificamente no Transtorno de ansiedade houve um discreto aumento de 7,14% para 14,29%.

Tabela 1. Dados obtidos a partir da resposta do auto aplicado.

Dados apresentados como frequência absoluta e relativa [n(%)]

 Na Tabela 2 está descrita a continuação das questões respondidas pelos participantes, na ordem que foram realizados os questionamentos, assim como o percentual de respostas. Quando questionados se houve piora ou melhora dos seus sintomas durante a faculdade, na primeira etapa 57,14% responderam que sentiram que piorou, na segunda etapa houve um discreto aumento para 64,29%  nas respostas que sentiram que piorou.

 A Figura 2 ilustra uma análise de proporção de participantes com e sem melhora dos seus sintomas mentais durante o período letivo,  na questão a seguir os mesmo concordam com o fato da faculdade ter influenciado na piora dos sintomas.

Figura 2. Análise de proporção de participantes com e sem melhora dos seus sintomas mentais durante o período letivo. *p=0,69

 Quando questionados se durante a faculdade apresentaram algum tipo de dependência (medicamentos para dor, medicamentos para dormir, maconha, cigarro, álcool, cocaína, ecstasy, Dietilamida do ácido lisérgico (LSD), metilenodioxianfetamina (MD), esteróides anabolizantes), após iniciar o ensino superior,  no primeiro momento do estudo 85,71% responderam que “não” e 14,29% responderam que “sim”; já no segundo momento da avaliação, houve um discreto aumento, onde 78,57% responderam que “não” e 21,43% responderam que “sim”. Quando questionados em relação a sentimentos que tinham durante o dia, foi observado que houve um discreto aumento, especificamente em estresse, de 21,43% para 28,57%, assim como uma discreta diminuição da insegurança, de 14,29% para 7,14%, quando comparado os dois momentos avaliados. Quando questionados sobre a prática de algum tipo de atividade física, hobby ou lazer, no primeiro momento da avaliação, 85,71% disseram que “sim”, que praticavam algum tipo de atividade e 14,29% disseram que “não” praticam; no segundo momento do estudo, 64,29% disseram que “sim”, que praticavam algum tipo de atividade e 35,71% disseram que “não”, que não praticavam atividade, evidenciando discreto aumento na ausência de prática dessa atividade neste segundo momento.

Tabela 2. Dados obtidos a partir da resposta do questionário auto aplicado.

Dados apresentados como frequência absoluta e relativa [n(%)]

 Conforme podemos observar na Tabela 3 referente aos dados obtidos através do questionário SF 36, no domínio “capacidade funcional” houve uma piora de 4,29%, no domínio “aspectos físicos” houve uma melhora de 5,35%, no domínio “dor” houve uma melhora de 2,14%, no domínio “Estado geral de saúde” houve uma melhora de 0,93%, no domínio “Vitalidade” houve uma piora de 7,14%, no domínio “Aspectos sociais” houve uma piora de 9,45%, no domínio “Aspectos emocionais” houve uma melhora de 4,76%, no domínio “Saúde mental” houve uma piora de 6%.

 Quando analisamos especificamente cada aluno no domínio de saúde mental, foi possível observar que, aluno 1 teve uma piora de 8%, aluno 2 teve uma piora de 36%, aluno 3 teve uma melhora de 12%, aluno 4 teve uma piora de 4%, aluno 5 teve uma melhora de 8%,  aluno 6 teve uma piora de 4%, aluno 7 uma piora de 20%, aluno 8 uma melhora de 8%, aluno 9 não houve diferença, aluno 10 uma piora de 4%, aluno 11 uma melhora de 16%, aluno 12 piora de 48%, aluno 13 uma piora de 12% e aluno 14 uma melhora de 8%.

Tabela 3. Dados obtidos do questionário SF36.

Figura 3. Análise das diferenças dos domínios do questionário SF-36 nos períodos antes e depois do protocolo de pesquisa. *p=0,13

 Tabela 3. Comparação entre Dados normativos da população brasileira no questionário SF-36 referente a idade média dos estudantes e os dados coletados no presente estudo.

Discussão

 A ansiedade é um sentimento natural, porém quando não administrada corretamente, pode acabar causando sintomas físicos e psicológicos, acarretando em problemas na qualidade de vida, que podem gerar um menor desempenho aos universitários (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).

 Estudos comprovam que, alunos próximos a concluir o curso na área da saúde apresentam níveis de ansiedade mais elevados em comparação com outras áreas (Saravanan & Wilks, 2014; Carvalho et al., 2015; Fernandes et al, 2018). Este relato corrobora aos achados encontrados em nosso estudo, através de um discreto aumento nos relatos de transtorno de ansiedade após o período de estágio. Os estudos de (CESTARI et al., 2017), também relatam que, a jornada dupla dos universitários ao tentar conciliar atividades acadêmicas com as pessoais, gera um aumento no nível de estresse, que pode até mesmo influenciar nos níveis hormonais de adrenalina e cortisol, causando sentimento de exaustão emocional.

 Foi possível observar um discreto aumento na dependência química durante o período de estágio dos participantes do presente estudo, corroborando aos estudos que apontam que o estresse é um fator de risco para desenvolver a utilização de substâncias como uma estratégia de se divertir e aliviar a tensão (Moreira, Vasconcellos & Heath, 2015).  Na intenção de melhorar o convívio, os universitários muitas vezes utilizam o álcool como estratégia de facilitação para interações sociais (BARROSO, OLIVEIRA & ANDRADE, 2019).

 Outra questão apontada no presente estudo foi a automedicação neste período de estágio, corroborando aos estudos (Damasceno et al., 2007; Penna et al., 2004) que comprovam que esta prática é muito comum e que quando realizados com estudantes, estes valores foram superiores a 70%. A Automedicação é considerada parte do autocuidado (World Health Organization, 1998), mas é importante que seja feita de forma responsável e racional (Organización Mundial de la Salud, 2002). Existem estudos de Galato, Madalena & Pereira, 2012 que comprovam que a área da saúde relata mais a prática da automedicação quando comparada com outros cursos. Os motivos mais citados para a prática da automedicação são facilidade de compra e falta de acesso ao serviço de saúde . A grande variedade de medicamentos utilizados na automedicação dos estudantes de cursos da área da saúde, pode ser justificada pelos conhecimentos adquiridos durante a graduação, que possivelmente geram uma maior confiança para automedicação (LIMA et al., 2021).

 No presente estudo foi possível verificar que houve uma discreta diminuição de 21,42% na prática de exercícios físicos, atividades de hobby e lazer. (Galato, Madalena & Pereira, 2012.) apontam que existe uma associação entre não praticar estas atividades e ter a presença de sintomas de transtorno de ansiedade e depressão. Uma pesquisa nacional (SILVA & NETO, 2014) descreve a qualidade de vida dos universitários, onde a mesma constatou que os estudantes que não praticam atividade física, apresentam mais sintomas de transtornos mentais quando comparados aos que praticam exercícios físicos, o que acaba corroborando com este estudo, pois, alguns participantes deixaram de praticar atividades físicas durante o período do estágio, o que pode contribuir para uma piora na qualidade de vida.

 Em estudantes durante o período de estágio, podem ser desencadeados sintomas de ansiedade e outros derivados, devido a preocupações em retribuir o investimento e suprir expectativas dos pais e familiares, além de uma sobrecarga de muitas atividades, o fato de estar sendo avaliado nas intervenções e sobrar pouco tempo para atividades de lazer (Saravanan & Wilks, 2014). Também podem contribuir para a piora desses sintomas a questão dos estudantes terem pouca experiência clínica, que pode gerar insegurança associada a uma supervisão reduzida (JOVANOVIĆ et al., 2019).

 Em relação a questão acadêmica especificamente, existem estudos (Saravanan & Wilks, 2014; Jovanovic et al, 2019; Moellera & Seehuusa, 2019) que reforçam que alguns fatores podem influenciar positivamente na questão de prevenção destes sintomas, como por exemplo, um melhor equilíbrio na distribuição da carga horária, um supervisor com boa comunicação e acolhimento, demonstrando disponibilidade para discussões teórico-práticas sobre as demandas dos estudantes.

 Na Tabela 3 de nosso estudo, quando comparados os dados normativos da população brasileira ao Questionário de Qualidade de Vida (SF-36) com os dados coletados neste estudo, pode se notar que a capacidade funcional analisada está acima da média, pois o valor de referência é 89,7 e os participantes deste estudo apresentaram o valor de 90,7. Em relação aos aspectos físicos, o valor de referência é 88,4 e os participantes deste estudo apresentaram o valor de 71,4 ficando abaixo da média; no domínio referente a dor a média é 86,1 e os participantes deste estudo apresentaram valor de 73,7 ficando abaixo da média; no domínio referente ao estado geral de saúde a referência apresenta um valor de 80,1 e a amostra deste estudo apresentou um valor de 63,5 ficando abaixo da média.

 No domínio referente a vitalidade a referência é 76,9 e em nosso estudo foi verificado o valor de 51,7 ficando abaixo da média; no domínio aspectos sociais a referência é 90,6 e neste estudo apresentou-se abaixo da média com 68,8. No domínio aspectos emocionais o valor de referência é 89,4 e neste estudo o valor encontrado foi de 66,6, ficando abaixo da média. No domínio saúde mental o valor de referência é de 76,9 para a idade, porém a média coletada nos estagiários de nosso estudo foi de 60,2 ficando abaixo da média. Mesmo tendo discretas alterações no quadro geral, ao comparar os dados coletados com os dados normativos da população brasileira no questionário SF-36, é notável que os mesmos se encontram abaixo da média com relação a idade em todos os domínios. Indo de acordo com o estudo de Laguardia et al. (2013) que aponta vulnerabilidade da saúde mental em alunos da área da saúde durante estágio clínico. Por fim, observa-se a necessidade e a importância de desenvolvimento de política institucional de atenção à saúde mental no âmbito universitário, com objetivo de implantar ações que promovam a prevenção aos universitários assintomáticos e/ou com sintomas leves, assim como tratamento para aqueles com sintomas moderados e severos, com características patológicas.

 A escassez de literatura específica para universitários concluintes, que se encontram no período de prática clínica, também dificultou a discussão. Devido ao curto tempo de pesquisa, o pequeno número da amostra selecionada e ao tempo e espaço limitados, é provável que tenham deficiências na visão geral desta amostra. Ainda são necessários novos estudos durante um tempo mais prolongado, um número maior de participantes e em outros períodos do estágio, para se conseguir uma coleta de dados mais fidedigna, evitando as barreiras causadas pelo curto espaço de tempo e baixo número amostral, tendo assim uma melhor compreensão sobre a temática de qualidade de vida e saúde mental.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

 No geral conclui-se que, não houveram diferenças significativas, mesmo em indivíduos com diagnóstico já existente, e os que não tinham, não desenvolveram. Porém observa-se a necessidade e a importância de desenvolvimento de política institucional de atenção à saúde mental no âmbito universitário, com objetivo de implantar ações que promovam a prevenção  aos universitários assintomáticos, e tratamento para  aqueles com sintomas  moderados e severos, com características patológicas. Já que em comparação com a referência dos dados normativos da população brasileira no questionário SF-36, os alunos desta amostra encontram-se abaixo da média com relação a sua idade, em todos os domínios, exceto na capacidade funcional. A relativa escassez de literatura específica para universitários concluintes, que se encontram no período de prática clínica, também  dificultou a discussão. Devido ao curto tempo de pesquisa, o pequeno número de amostras selecionadas e ao tempo e espaço limitados, é provável que tenham deficiências na visão geral desta amostra. Ainda são necessários novos estudos durante um tempo mais prolongado, um número de amostra maior e em outros períodos do estágio, para se conseguir uma coleta de dados mais fidedigna, evitando as barreiras causadas pelo curto espaço de tempo e baixo número amostral, tendo assim uma melhor compreensão sobre o assunto.

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1 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa Campus Uruguaiana. E-mail: alexiacastro.aluno@unipampa.edu.br

2 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa Campus Uruguaiana. E-mail: matheusfrizzo.aluno@unipampa.edu.br

3Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana. Doutora em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: simonelara@unipampa.edu.br

4Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana. Doutor em Medicina (Pneumologia) pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). E-mail: antoniocastro@unipampa.edu.br

5Fisioterapeuta na Diretoria de Vigilância Epidemiológica, Programa de Hanseníase – Secretaria de Estado da Saúde – Sergipe. Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: paulo.autran@saude.gov.com.br

6Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana. Doutor em Fisiopatologia em Clínica Médica pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB). E-mail: nelsonserrao@unipampa.edu.br