AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E ANSIEDADE DE MULHERES PARTICIPANTES E NÃO PARTICIPANTES DE UM GRUPO DE PRÁTICAS CORPORAIS

EVALUATION OF THE QUALITY OF LIFE AND ANXIETY OF WOMEN PARTICIPANTS AND NON PARTICIPANTS IN A GROUP BODY PRACTICES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10620779


Thayna Larissa Soares de Oliveira1, Sarah Beatriz Rocha Lima2, Zulmira Barreira Soares Neta3, Michelle Vicente Torres4, Mara Jordana Magalhães Costa5, Maria Luci Esteves Santiago6, Renata Batista dos Santos Pinheiro7


RESUMO

A manutenção e preservação da qualidade de vida são imprescindíveis no decorrer do percurso evolutivo dos anos. Pois, situações como preocupações, trabalho, falta de tempo para cuidar de si, doenças físicas e psíquicas repercutem negativamente na qualidade de vida. Assim, este trabalho tem como objetivo investigar o nível de qualidade de vida e ansiedade de participantes e não participantes de um grupo de práticas corporais. Trata-se de uma pesquisa transversal, analítica, com abordagem quantitativa, a qual utilizou uma amostra com 40 mulheres, de 40 a 65 anos, sendo 20 mulheres para o GE (Grupo de Exercício) participantes de um grupo de práticas corporais e, 20 mulheres sedentárias para o GC (Grupo Controle). As práticas de exercício aconteceram durante oito meses, realizando exercícios de alongamentos, flexionamentos e relaxamento; e para coleta de dados foram utilizados os questionários: WOQOOL-BREF (versão resumida) para avaliar a qualidade de vida; escala HAD para avaliar a ansiedade, e questionário sociodemográfico. Sobre os resultados, em relação à presença de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, no GC 35% apresentavam alguma DCNT, enquanto no GE 70%. Já na análise da qualidade de vida, o GE apresentou uma melhor qualidade de vida comparada ao GC em todos os domínios de análise do Whoqol-Bref, mas, não apresentou uma diferença estatística (p= 0,171). Em contrapartida, a ansiedade no GC, 85% das mulheres participantes apresentou resultado improvável para a presença de ansiedade, e do GE 50%; e considerando a probabilidade para a presença da  ansiedade, o GE teve 25%, enquanto no GC essa chance cai para 15%.  Portanto, observou-se uma melhor qualidade de vida nas participantes pertencentes ao GE, apesar de os resultados não apresentarem diferença sob uma ótica estatística. E em relação ao nível de ansiedade, essas participantes do grupo de exercício foram as que tiveram uma probabilidade para ansiedade.

Palavras-chave: Qualidade de vida. Ansiedade. Práticas corporais.

ABSTRACT

Maintaining and preserving quality of life is essential over the years. Situations such as worries, work, lack of time to take care of yourself, physical and mental illnesses have a negative impact on quality of life. Therefore, this work aims to investigate the level of quality of life and anxiety of participants and non-participants in a body practice group. This is a cross-sectional, analytical research, with a quantitative approach, which used a sample of 40 women, aged 40 to 65, with 20 women for the EG (Exercise Group) participating in a body practice group and 20 sedentary women for the CG (Control Group). The exercise practices took place for eight months, performing stretching, flexing and relaxation exercises; and for data collection, the following questionnaires were used: WOQOOL-BREF (short version) to assess quality of life; HAD scale to assess anxiety, and sociodemographic questionnaire. Regarding the results, in relation to the presence of Chronic Non-communicable Diseases, in the CG 35% had some NCD, while in the EG 70%. In the analysis of quality of life, the GE presented a better quality of life compared to the CG in all Whoqol-Bref analysis domains, but did not present a statistical difference (p= 0.171). On the other hand, anxiety in the CG, 85% of the women participants presented an unlikely result for the presence of anxiety, and in the EG 50%; and considering the probability of the presence of anxiety, the EG had 25%, while in the CG this chance drops to 15%. Therefore, a better quality of life was observed in participants belonging to the EG, despite the results showing no difference from a statistical perspective. And in relation to the level of anxiety, these participants in the exercise group were the ones who had a probability of anxiety.

Keywords: Quality of life. Anxiety. Body practices.

1 INTRODUÇÃO

A Qualidade de Vida não se relaciona somente à saúde física, mas também ao estado mental, independência física e emocional, relações sociais, crenças pessoais e outras características relacionadas ao meio ambiente, incluindo sistemas de valores, envolvendo metas, expectativas, padrões e preocupações (WHO, 1997). Conceitos mais atuais coadunam com os mais antigos, e apontam que a Qualidade de Vida é caracterizada de forma subjetiva, uma percepção sobre os aspectos funcionais, emocionais, relações familiares, saúde física e mental, nível socioeconômico, capacidade intelectual, satisfação com meio ambiente e social (Dawabi; Goulart; Prearo, 2014).

Assim, as rotinas estressantes, a vida acelerada, o pouco tempo para cuidar de si, o grande número de doenças, lesões, dores, transtornos que acometem a mente, como a ansiedade, tem sido uma realidade comum na vida da maioria da população, principalmente das mulheres. Pois, a ansiedade e depressão são patologias mentais com mais prevalência em mulheres e tendo maior gravidade em, pelo menos, um terço de casos sintomáticos de nível moderado a grave.  O que pode ter impactos negativos em toda sociedade, na questão da saúde, da funcionalidade e sociabilidade do indivíduo, podendo levar até a mortalidade prematura (Direção Geral da Saúde, 2017).

Com o passar dos anos e dos estudos que ampliaram o tema em questão, esse conceito de Qualidade de Vida foi se desenvolvendo para uma perspectiva ainda mais ampla em que todos esses aspectos envolvem e interferem para uma percepção subjetiva, de forma positiva ou negativa, em relação à Qualidade de vida, podendo ser um estado de satisfação geral em relação aos aspectos objetivos e subjetivos baseados em quatro domínios principais: bem-estar físico, bem-estar material, bem-estar social e emocional. As respostas a esses domínios são subjetivas e dependem de vários fatores, como percepção social, material, cultural e individual, entre outros, a partir da percepção de cada indivíduo (Thin, 2018; Lara; Abrahante; Morales, 2020; Boggatz, 2016).

E por isso, nos últimos anos, devido à crise da pandemia do COVID-19 essa necessidade pela qualidade de vida, relaxamento, cuidado com a saúde e seus condicionantes, se tornou ainda mais forte. As pessoas estão passando por crises psíquicas, problemas físicos e financeiros, como consequência dessa pandemia, a qual ainda repercute na vida das pessoas. A ameaça da pandemia do COVID-19 interrompeu planos de viagem gerou uma sobrecarga da mídia sobre o assunto, pânico na compra de itens domésticos essenciais, como alimentos, itens de higiene e limpeza, e, o mais importante, o isolamento social, acabou causando, dentre vários problemas, a ansiedade, a depressão e muito estresse na grande parcela da população (Santana et al., 2020).

Nesse sentido, a ansiedade, de acordo com Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (Direção Geral da Saúde, 2014), pode ser considerada uma reação de cunho natural, que se torna utilizada para se proteger ou se adaptar às novidades, mas, quando atinge um nível extremo e geral, seguido de sintomas como o medo, a tensão, assim o foco do perigo pode ser interno ou externo.

Por isso, é preciso buscar uma vida com qualidade e situações que minimizem a ansiedade. Para isso, é preciso compreender a qualidade de vida e conhecer diversos aspectos que a envolve, os quais podem ser tanto psíquicos, quanto físicos, subjetivos ou objetivos. Tais como: amor, realização pessoal e social, liberdade, ou alimentação, educação, moradia, saúde, lazer, respectivamente (Campos; Ferreira; Vargas, 2015). A prática diária de exercício físico regular colabora para a redução desses efeitos, leva a uma vida mais saudável, mais funcional, mais ativa e com redução de doenças, repercutindo positivamente na qualidade de vida. Sendo, também, um fator crucial para prevenção das quedas, doenças crônico-degenerativas e melhorando o equilíbrio, força, flexibilidade, além de poder prevenir ou melhorar a depressão, ajudar a elevar a autoestima e socialização (Oliveira; Vinhas; Rabello, 2020).

Com isso, considerando a atuação profissional da pesquisadora na Atenção Básica, foi possível perceber sinais e relatos relacionados à ansiedade, ao estresse e à tensão na população acompanhada, influenciando assim, na sua qualidade de vida, suscitando a necessidade de intervenção, com realização de práticas corporais, para colaborar na melhoria da qualidade de vida de mulheres atendidas na Atenção Básica. Por isso, o objetivo desta pesquisa foi investigar o nível de qualidade de vida e de ansiedade de mulheres participantes e não participantes de um grupo de práticas corporais.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa é do tipo transversal, analítica, com abordagem quantitativa, realizada em um equipamento social e numa Unidade Básica de Saúde da Zona Sul da cidade de Teresina-PI, sendo esses, os cenários de prática do território de atuação das pesquisadoras, por meio do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da Universidade Estadual do Piauí (PRMSFC-UESPI).

Para o estudo, foi utilizada uma amostra total de 40 mulheres, na faixa etária entre 40 e 65 anos, sendo 20 mulheres, compondo o Grupo de exercício (GE), participantes de um grupo de práticas corporais, intitulado RelaxaMente, conduzido pela residente, em equipamento social da comunidade e 20 mulheres sedentárias, compondo o Grupo Controle (GC), usuárias da Unidade Básica de Saúde do território de atuação do Programa de Residência. Foram excluídas, no GE, mulheres que, por algum motivo, não puderem participar da coleta de dados nos dias definidos e no GC, mulheres que realizassem alguma prática regular de exercício.

As participantes do GE, realizaram práticas corporais, em um Centro Social da igreja, todas às quintas-feiras, de 8h às 9h, no período de oito meses sendo estas práticas constituídas de: 1) Alongamento e flexibilidade, realizando exercício para os membros superiores, inferiores, coluna vertebral e quadril, 2) Mobilidade articular: desenvolvendo exercícios para aprimorar a qualidade dos movimentos realizados, e consequentemente a consciência corporal, funcionalidade das articulações e minimização de lesões músculo-articulares; 3) Relaxamento, sendo conduzido por meio de atividades de respiração, meditação guiada, automassagem e  aromaterapia. As mulheres do GC são mulheres sedentárias, ou seja, não realizam nenhuma prática de exercício físico regular.

A partir disso, a pesquisa utilizou como variável de coleta para análise do estudo: a qualidade de vida e o nível de ansiedade. A coleta de dados ocorreu após o período de oito meses de intervenção do GE, e para a realização de tal, foi realizada a aplicação de questionário validado WHOQOL-BREF, versão resumida e em português, instrumento da Organização Mundial da Saúde que avalia a qualidade de vida, o qual possui 26 perguntas e é composto por quatro domínios: físico, psicológico, relação social e meio ambiente. Sendo as respostas avaliadas pela escala Likert: intensidade, frequência e avaliação relacionadas aos domínios, contando que os escores maiores caracterizam uma melhor qualidade de vida (Flecket al., 2000); da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD), com 14 afirmações do tipo múltipla escolha que avalia presença de sintomas ansiosos e depressivos, tendo sete deles relacionados aos sintomas de ansiedade e sete relacionados aos sintomas depressivos, nesta pesquisa foram utilizadas apenas as sete questões ímpares, as quais se relacionam à ansiedade. Quando o escore é superior a sete na escala, indica a presença de sintomas de depressão e de ansiedade (Botega et al., 1995). E ainda, um questionário sociodemográfico para a avalição do perfil da população amostral.

E na aplicação desses instrumentos foram utilizados, aproximadamente, 30 minutos para cada participante da pesquisa, de forma individualizada. Para o GE, foram coletados, em sala reservada, no local onde aconteciam os encontros do grupo de práticas corporais. Para o GC, a coleta de dados aconteceu em consultório reservado da UBS onde funcionam as atividades do PRMSFC-UESPI, sendo essas mulheres abordadas durante a espera pelo atendimento de saúde no local, e em ambos, a coleta foi realizada somente com prévia aceitação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).  E após a aplicação, a profissional fazia um momento de orientação sobre a importância da prática regular de exercício.

Após a coleta dos dados, eles foram tabulados em planilha do Microsoft Excel e a análise estatística foi realizada por meio do programa estatístico SigmaPlot, versão 11.0. Foi estabelecido um nível de significância de 5% (p<0,05). As informações referentes às variáveis contínuas foram expressas em termos de média acompanhada pelo desvio-padrão (±dp), enquanto as variáveis categóricas foram representadas por meio de frequências e percentagens.

A normalidade dos dados foi avaliada através do teste de Shapiro–Wilk. A caracterização do perfil sociodemográfico dos grupos de estudo e controle foi conduzida por meio de tabelas de contingência, nas quais o teste qui-quadrado foi aplicado para verificar associações e diferenças estatisticamente significativas. Para a análise das comparações entre os diversos domínios da qualidade de vida avaliados pelo questionário Whoqol-Bref, foi utilizado o teste t-Student.

Contando que, toda a coleta só foi iniciada após a aprovação pela comissão de ética da Fundação Municipal de Saúde (FMS) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (CEP) da Universidade Estadual do Piauí, sob o número CAAE 67847523.9.0000.5209 e número do parecer 6.024.481, obedecendo aos preceitos norteadores da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com uma análise inicial sobre as características das participantes, a tabela 1 mostra os dados referentes às variáveis sociodemográficas. A pesquisa foi realizada com mulheres na faixa etária de 40 a 65 anos, sendo maior predomínio no GC a faixa de 40 a 50 anos (45%) e no GC de 61 a 65 (70%), com maior número de pardos nos dois grupos (GC com 55% e 50% no GE). Quanto à situação conjugal, houve maior predominância de casadas (60%) no GC e solteiras (45%) no GE.

Em relação à escolaridade, a maioria possui ensino médio completo em ambos os grupos, sendo 50% no GC e 35% no GE. E para questões de número de filhos, no GC 50% possuem um ou dois filhos, e no GE 40% possuem três ou mais.    Sobre a questão de renda, 50% possuem até um salário mínimo no GC, já 50% do GE possuem de dois a três salários mínimos. Quanto às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), O GC apresentou números menores que o GE, sendo 35% e 70%, respectivamente.

Foi observado neste estudo que o GE apresentou 35% mais pessoas com DCNT que o GC, tal fato pode está relacionado ao fato de que as pessoas, muitas vezes, só buscam a prática de exercício quando já possuem alguma demanda de saúde, após recomendações médicas. Outros estudos também evidenciam maior predominância de pessoas com doenças crônicas, como hipertensão, em programas de exercícios físicos (Anacleto; Aquino; Rebustini, 2017); especialmente as mulheres, pela sua maior frequência na procura aos serviços de saúde, e consequentemente, diagnóstico mais precoce (Steimbach; Bortoloti, 2022). Por isso, o importante é deixar o sedentarismo e se manter ativo, seja qual for o exercício a ser praticado (buscando o melhor para cada caso), e assim prevenir ou reduzir as doenças crônicas presentes (Costa Júnior, 2023).

A baixa adesão terapêutica é considerada muito comum em indivíduos com doenças crônicas, e é resultado de uma combinação multifatorial, influenciada por fatores relacionados às limitações socioeconômicas, geográficas e de cunho educativo (Da Costa et al., 2023). Desta forma, é importante elaborar estratégias voltadas a adesão para as práticas corporais e atividade física, agregada a um acompanhamento médico para que os agravos acompanhados, minimizados com intervenções clínicas ou não, como por exemplo através da atividade física (Costa Júnior, 2023). Tais estratégias de adesão devem ser pensadas especialmente para o público masculino, por sua menor adesão a programas de exercícios físicos pela preocupação inferior dos homens com a prevenção, por questões culturais e laborais (Silva, 2020).

 Já considerando a percepção da qualidade de vida, apresentada na tabela 2, o GE apresentou melhor qualidade de vida comparada ao GC em todos os domínios de análise do Whoqol-Bref (Físico, psicológico, relações sociais e o ambiental), entretanto, não conseguiu obter uma diferença estatística (p= 0,171). E tendo o domínio ambiental com os menores escores médios entre as mulheres de ambos os grupos.

Outro estudo, de Costa et al. (2018), avaliou a qualidade de vida de participantes e não participantes de um grupo de pilates, e também mostrou uma percepção de qualidade de vida maior para o grupo intervenção, que utilizou  práticas de alongamento, flexionamento e mobilidade articular, similares a intervenção desenvolvida no GE proposta  neste trabalho.

Anacleto, Aquino e Rebustini (2017), após uma intervenção com práticas de alongamento para avaliar a qualidade de vida de idosos, com média de 65 anos, pré e pós o programa, utilizando o WHOQOL-Bref e WHOQOL-Old, não tiveram diferenças significativas entre os grupos, apesar de realizar as práticas com frequência de duas vezes por semanas, mas, por período menor, de três meses.

A ausência de diferença estatisticamente significativa pode estar associada a um número amostral limitado, frequência de apenas uma sessão semanal, sendo, talvez, insuficiente para alcançar resultados significativos, durante o período analisado, no público selecionado, predominantemente idoso, os quais sofrem grandes perdas nas capacidades físicas e mentais em decorrência do processo de envelhecimento.

Outro fator de influência neste achado, pode estar relacionado a presença de maior percentual de DCNT no GE, do que no GC. Agravos como a hipertensão arterial e diabetes mellitus, podem ocasionar disfunções fisiológicas, e gerar grandes impactos na qualidade de vida das pessoas, seja no aspecto físico, mental ou relações com o meio social e de independência (Souto, 2020). Ademais, situações de estresse, ansiedade e depressão (evidenciadas nos achados da tabela 3) podem ser consideradas fatores de riscos para o aparecimento e agravamento de doenças crônicas, e consequentemente, interferir na qualidade de vida. Pesquisas recentes debatem sobre o assunto, e apontam associação entre aspectos psicológicos, emocionais e comportamentais e interferência na resposta fisiológica, o que leva para o desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão arterial (Oliveira et al., 2023) e diabetes mellitus (Neri, 2023).

Em relação à análise da ansiedade trazida na tabela 3, no GC, 85% das apresentou resultado improvável para a presença de ansiedade, e do GE 50%; e considerando a probabilidade para a presença da ansiedade, o GE teve 25%, enquanto no GC essa chance cai para 15%. Sendo observado após a aplicação do teste de independência Qui-quadrado uma associação (relações estatísticas) entre as participantes do grupo controle e a variável ansiedade (p = 0,026), ou seja, O GC apresentou menores escores para ansiedade.

O fato do GE ter apresentado mais probabilidade (25%) de ansiedade em relação ao GC (15%) pode estar atrelado ao fato de que, segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o primeiro em prevalência de transtornos de ansiedade; e o segundo país com maior número de depressivos nas Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (Reis, 2021). As consequências da COVID-19 na saúde mental, com ênfase na ansiedade devido à crise econômica e sanitária gerada pela pandemia, ainda repercutem na população, sendo necessárias intervenções para promover o bem-estar mental em diferentes contextos (Medrado; Oliveira; Santos, 2023). Dessa forma, tais resultados podem refletir na maior adesão de mulheres no grupo de práticas corporais serem as com maiores propensões ou queixas de saúde mental, como estratégia para colaborar com a melhoria desse quadro e ajudar no relaxamento, pois muitas delas relataram, durante as práticas, que o grupo era o único espaço que poderiam usufruir de um momento de relaxamento. Outro fator que pode ter levado a esse resultado, é o fato de que muitas das participantes do grupo de práticas corporais eram encaminhadas pelo Psicólogo Residente com demandas emocionais e sinais de ansiedade, e o grupo se tornou parte do tratamento para tais.

Segundo Cavalcanti e Possebon (2019), há relevantes benefícios da prática de alongamento e meditação, para o bem estar tanto do corpo como da mente, promovendo relaxamento e desenvolvimento de capacidades físicas de resistência muscular e cardiovascular, sendo uma prática sem risco, capaz de aprimorar o controle da mente e das emoções, enfatizando a concentração e respiração.

Apesar das evidências de um maior percentual de ansiedade para as participantes do grupo de práticas corporais, a diferença entre os dois grupos não foi significativa. E, apesar disso, os relatos das participantes, durante os momentos do grupo de exercício, diferem desses resultados, pois sempre afirmavam melhorias nos aspectos de saúde mental/emocional. Ademais, os pesquisadores conjecturam que o questionário utilizado não tenha sido o mais adequado ao público estudado, predominantemente idosos, como no GE, considerando a clareza das alternativas das respostas, repercutindo assim no entendimento dos participantes da pesquisa, que, apesar de ter sido lido pelos pesquisadores, talvez não tinha sido totalmente compreendido, refletindo assim na acurácia do instrumento.

Testes como o questionário DASS-21, poderia ser uma alternativa para futuras pesquisas envolvendo idosos, pois possuem alternativas de respostas numéricas, sendo mais claro, minimizando erros de compreensão. A DASS-21 é uma escala de autorrelato que contém como ítens das respostas um conjunto de subescalas tipo Likert de quatro pontos (0, 1,2 e 3), e em relação a cada uma delas se pede ao sujeito que está sendo avaliado para manifestar o grau de concordância desde “Discordo totalmente”, cuja pontuação é zero, até ao “Concordo totalmente”, e a pontuação é três (Vignola, 2013).

4 CONCLUSÃO

Percebeu-se uma melhor qualidade de vida das participantes pertencentes ao GE, resultados esses bastante notados durante a prática profissional semanal. Já em relação ao nível de ansiedade, essas participantes do grupo de exercício foram as que tiveram um maior percentual de desenvolver quadros de ansiedade, já que muitas delas foram encaminhadas pelo Psicólogo, então, tal situação pode está ligada ao fato de elas terem buscado participar do grupo, uma vez que a proposta do grupo RelaxaMente foi justamente aliar bem estar físico e psicológico, com os exercícios e as práticas de relaxamento.

Outro fator também que pode ter culminado para esse resultado, está relacionado com a frequência semanal ser mínima, fato que pode ter sido um fator limitante, os quais podem ter interferido nesse processo da pesquisa. Sugere-se e encoraja-se a realização de trabalhos posteriores sobre o tema, seguindo uma proposta de intervenção com exercícios de alongamento, flexionamento e uso de PICS, porém, com uma frequência de intervenção semanal maior e com a utilização de outros instrumentos de coleta de dados para variáveis psíquicas, para tentativa de uma melhor análise.

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World Health Organization. Division of mental health and prevention of substance abuse. Measuring quality of life. Geneva: WHO; 1997.


1,2Profissional de Educação Física Residente pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da UESPI. E-mail: sarahlima765@gmail.com ; thaynaoliveira431@gmail.com.

3Profissional de Educação Física na Atenção Básica. Mestre em Saúde da Família pela UFPI/FIOCRUZ. E-mail: zulmiraneta@hotmail.com.

4Docente da Universidade Estadual do Piauí. Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. E-mail: michellevicente@ccs.uespi.br

5Docente da Universidade Federal do Piauí. Doutora em Saúde Pública pela USP. E-mail: marajordanamcosta@gmail.com.

6Docente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da UESPI. Mestre em Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Piauí. E-mail: mles_@hotmail.com

7Docente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da UESPI. Doutora em Engenharia Biomédica pela Universidade Brasil. E-mail: renatabatista@ccs.uespi.br.