AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS DE UMA UNIVERSIDADE DO SUL DO PAÍS: UM ESTUDO TRANSVERSAL UTILIZANDO O INSTRUMENTO WHOQOL-BREF, NO ANO DE 2024.

ASSESSMENT OF THE LIFE QUALITY AMONG FEDERAL CIVIL SERVANTS AT A UNIVERSITY IN THE SOUTH OF THE COUNTRY: A CROSS-SECTIONAL STUDY USING THE WHOQOL-BREF INSTRUMENT IN 2024.

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.13127034


Luan Estrela Pietro1
Dra.ª Letícia Oliveira de Menezes2


Resumo

Em um mundo dinâmico, encontrar um caminho para uma boa qualidade de vida é essencial para um completo bem-estar. Este estudo analisou a qualidade de vida dos servidores públicos federais da Universidade Federal do Rio Grande, utilizando a versão em português do instrumento “WHOQOL-bref”, conforme seus domínios, em 2024. Além disso, identificou o perfil epidemiológico, interpretou as respostas relacionadas ao escore geral e aos domínios específicos do referido questionário e comparou os resultados dos escores entre Docentes e Técnicos Administrativos em Educação. A pesquisa foi realizada de forma observacional, transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Pelotas. A amostra da população foi selecionada de forma sistemática. Dentre os resultados, a análise sociodemográfica revelou que a maioria dos docentes e dos TAE são compostas por mulheres, com faixa etária entre 41 e 50 anos, cisgêneros, sem companheiro, com carga horária semanal de 40 horas, regime de trabalho em home-office, não ocupantes de cargos de gestão e nível de escolaridade variando entre doutorado e pós-graduação, respectivamente. Quanto aos escores do WHOQOL-bref, os docentes apresentaram médias superiores nos domínios Psicológico (3,30 [±0,56]) e Meio Ambiente (3,23 [±0,62]), porém inferior no domínios Físico (3,16 [±0,73]) e Relações Sociais (3,15 [±0,94]). Os resultados revelaram a necessidade de desenvolver estratégias para melhorar aspectos específicos da qualidade de vida de ambos os grupos na instituição.

Palavras-chave: Qualidade de Vida; WHOQOL-bref; Servidores públicos federais; Satisfação; Perfil sociodemográfico.

Abstract

In a dynamic world, finding a path to a good quality of life is essential for complete well-being. This study analyzed the quality of life of federal civil servants at the Federal University of Rio Grande, using the Portuguese version of the “WHOQOL-bref” instrument, according to its domains, in 2024. It also identified the epidemiological profile, interpreted the answers related to the general score and the specific domains of the questionnaire and compared the results of the scores between Teachers and Administrative Technicians in Education. The study was an observational, cross-sectional study, approved by the Research Ethics Committee of the Catholic University of Pelotas. The population sample was selected systematically. Among the results, the sociodemographic analysis revealed that the majority of teachers and TAEs were women, aged between 41 and 50, cisgender, without a partner, working 40 hours a week, working from home, not in management positions and with a level of education varying between a doctorate and a postgraduate degree, respectively. As for the WHOQOL-bref scores, the teachers had higher means in the Psychological (3.30 [±0.56]) and Environmental (3.23 [±0.62]) domains, but lower means in the Physical (3.16 [±0.73]) and Social Relations (3.15 [±0.94]) domains. The results revealed the need to develop strategies to improve specific aspects of the quality of life of both groups in the institution.

Keywords: Quality of Life; WHOQOL-bref; Federal civil servants; Satisfaction; Sociodemographic profile.

1       Introdução

A qualidade de vida é um conceito que abrange diversos aspectos da existência humana, podendo variar de acordo com as características individuais e coletivas, necessidades, expectativas, valores e crenças.

Apesar de não existir uma definição única ou uma medida universal para avaliá-la ou promovê-la, é possível identificar fatores que interfiram na qualidade de vida principalmente em grupos específicos, como técnicos administrativos em educação e docentes do ensino superior.

Para muitos trabalhadores, a qualidade de vida é uma questão significativa, independentemente do ramo de atividade, sendo especialmente relevante para servidores públicos que enfrentam pressão constante devido ao papel importante que desempenham na sociedade.

Vários estudos indicam que uma baixa qualidade de vida pode ter um vasto conjunto de implicações negativas para os indivíduos, inclusive aos que desempenham serviços públicos [1–4]. Estes, geralmente associados a aumento dos níveis de stress e ansiedade, redução da produtividade e da eficiência, aumento do absentismo e da rotatividade, bem como o aumento dos riscos para a saúde.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1996, criou o instrumento WHOQOL100 [5] para avaliar objetivamente a qualidade de vida. Posteriormente, este instrumento foi adaptado e traduzido para uma versão mais abreviada, o WHOQOL-bref, por Fleck et al. (2000) [6]. O WHOQOL-bref é um questionário validado e autoadministrado, utilizado para avaliar a qualidade de vida em diversas áreas. Ele permite identificar áreas com baixos escores que podem ser melhoradas e avaliar a eficácia de intervenções a médio e longo prazo.

Empregar técnicas de avaliação da qualidade de vida para identificar fraquezas e aprimorá-las pode elevar significativamente os índices de bem-estar e produtividade nas instituições. Isso contribui para a criação de um ambiente de trabalho mais relaxante e motivador, incentivando o crescimento profissional e reduzindo o estresse no ambiente laboral.

2       Metodologia

Trata-se de um estudo observacional, transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Pelotas (CEP-UCPEL) sob número 75657223.1. 0000.5339.

A população-alvo deste estudo foi composta por servidores públicos federais daFURG, divididos de acordo com as carreiras em técnicos administrativos em educação(TAE) e docentes, que estavam ativos no ano de 2024 da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

A seleção da amostra ocorreu em setembro de 2023, após a autorização da Pró-Reitora de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas da instituição, que forneceu uma planilha eletrônica com a lista completa de servidores ativos até o momento da coleta de dados, divididos em categorias em TAE’s e docentes.

A seleção dos TAE’s e dos docentes foi realizada de forma sistemática, composta por uma classificação alfabética, identificada por números e sorteada aleatoriamente até atingir a quantidade estimada de cada categoria que seja representativa da amostra total. O cálculo amostral foi realizado através do programa OpenEpi (http;//www.openepi.com), utilizando o módulo para estudos transversais, e os seguintes parâmetros foram considerados: (i) população total (número de servidores ativos); (ii) frequência hipotética do fator do resultado na população (p): 50%, devido à heterogeneidade dos eventos avaliados; (iii) margem de erro aceitável 10%; (iv) intervalo de confiança de 95%; (v) efeito do desenho igual a 1.

Desta forma, para Técnicos Administrativos em Educação (TAE), a amostra foi estimada em 89 indivíduos, de uma população total de 1081 servidores e para docentes, a amostra foi estimada em 88 indivíduos, de uma população total de 942 servidores, dos quais após acrescidos 20% para possíveis perdas ou recusas, será igual a 232 servidores. Destes, 116 serão técnicos administrativos em educação e 116, docentes.

Após estabelecidos a quantidade amostral, bem como a lista dos servidores, foram enviados e-mails aos selecionados convidando-os a participar de forma voluntária dos estudos através do sistema de gerenciamento de e-mail oficial da universidade, conhecido como “sistemas FURG”. Inicialmente, esses servidores responderam ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, em seguida, tiveram acesso aos questionários. Em caso de recusas em relação ao TCLE, o questionário seria encerrado.

Os dados coletados foram exportados pelo Google Forms e convertidos pelo programa Google Planilha em uma tabela. Posteriormente, encaminhados via arquivo digital para serem analisados pelo software Statistical Package for the Social Sciences – SPSS (versão 29.0) mediante análises descritivas de frequência absoluta e relativa, bem como os testes de hipóteses adequados para os objetivos analíticos.

As respostas foram agrupadas por meio da escala Likert, que varia de 1 a 5 pontos, e foram categorizadas de acordo com: a intensidade (“nada” a “extremamente”), a habilidade (“nada” a ”completamente”), a frequência (nunca” a “sempre”) e a avaliação (“muito insatisfeito” a “muito satisfeito” e “muito ruim” a “muito bom”).

Além disso, foram calculados os escores gerais e por domínios através da média das respostas, assim como seus respectivos desvios padrão. Foram definidas as categorias “necessita melhorar”, quando a média das notas for de 1 a 2,9; “regular”, de 3 a 3,9; “boa”, de 4 a 5.

As análises estatísticas descritivas foram realizadas para resumir e descrever os dados, utilizando média, desvio padrão, valor máximo, valor mínimo, coeficiente de variação e amplitude (WHOQOL-bref). Além disso, foram calculados o número absoluto e a frequência relativa para variáveis sociodemográficas, assumindo um nível de significância de 5% e poder de 80%.

A descrição abaixo seguiu as orientações para análise do WHOQOL-bref, segundo Fleck, 2000 [6]:

O WHOQOL-BREF é composto por 26 perguntas, sendo as perguntas número 1 e 2 relativas à qualidade de vida geral. Todas as respostas obedecem a uma escala de Likert (de 1 a 5) que indica que quanto maior a pontuação, melhor a qualidade de vida.

Além dessas duas questões iniciais, o instrumento abrange 24 tópicos que contemplam quatro áreas distintas: domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente.

É necessário recodificar os valores das questões 3, 4 e 26 de forma a inverter os valores finais, ou seja, (1=5), (2=4), (3=3), (4=2) e (5=1).

O resultado do domínio físico é obtido através da soma dos valores das facetas dividido por 7, ou seja (Q3 + Q4 + Q10 + Q15 + Q16 + Q17 + Q18)/7.

O domínio psicológico é obtido através da soma dos valores das facetas dividido por 6, isto é, (Q5 + Q6 + Q7 + Q11 + Q19 + Q26)/6.

Já o domínio das relações sociais é obtido através da soma dos valores das facetas dividido por 3, isto é, (Q20 + Q21 + Q22)/3.

E, por fim, o domínio Meio ambiente é obtido através da soma dos valores das facetas dividido por 8, isto é, (Q8 + Q9 + Q12 + Q13 + Q14 + Q23 + Q24 + Q25)/8.

Com os resultados, codifica-se os valores em ruim quando 0 a 1,9, necessita melhorar quando 1 até 2,9, regular de 3 até 3,9, bom de 4 até 4,9 e muito bom quando atinge média 5.

Por fim, os resultados foram interpretados de acordo com as hipóteses e os objetivos da pesquisa, bem como o contexto teórico e empírico destes. Os principais achados, suas implicações e, posteriormente, as limitações do estudo também foram descritos e identificados.

3       Resultados

Tabela 1 – Distribuição de frequência absoluta (n) e relativa (%) entre Docente e Técnicos Administrativos em Educação da FURG, considerando (n) de 232 servidores, quanto ao perfil sociodemográfico, em 2024.

Notavelmente, a faixa etária predominante para ambos os grupos encontra-se entre 41 e 50 anos, representando 60.3% dos docentes e 42,2% dos Técnicos Administrativos em Educação. Além disso, é possível notar uma distribuição desigual nas outras faixas etárias, com uma representação significativamente menor abaixo de 40 anos para Docentes (11,21%) em relação aos Técnicos Administrativos em Educação (39,66%) e maior acima de 51 anos para Docentes (28,45%) quando comparado aos TAE’s (18,10%).

Quanto a variável sexo, observa-se que o sexo feminino é majoritário tanto entre os docentes quanto entre os TAE, representando 70,69% e 65,52%, respectivamente. Por outro lado, embora o sexo masculino seja uma parcela menor, representa 29,31% dos docentes e 34,58% dos TAE.

A análise revela uma prevalência significativa de identidades cisgênero tanto entre os docentes (88,79%) quanto entre os TAE (90,52%). Entretanto, a presença de identidades agênero, não binária e transgênero em docentes (4,31%) e TAE (5,17%) evidencia uma diversidade relevante na comunidade acadêmica. A decisão de não responder à questão sobre gênero é evidenciada por um pequeno grupo, compreendendo 6,90% dos docentes e 4,31% dos TAE.

A distribuição do estado civil revela uma diversidade de situações entre os participantes desta pesquisa. Por um lado, a categoria mais representativa para docentes é a de pessoas que têm companheiros, com 53,45%, em comparação com 31,90% para TAE. Por outro lado, solteiros(as), com união estável, viúvos(as) e divorciados(as), aqui representados pela categoria “sem companheiro”, é mais expressiva para TAE, com 68,10% em comparação com 46,55%% para docentes.

Por fim, os dados mostram uma alta qualificação acadêmica entre os docentes, com a maioria (87,07%) tendo o título de doutor, seguido de 12,07% de pós-graduação e 0,86% de mestrado. Em contrapartida, a grande maioria dos TAE possuem maior prevalência em pós-graduação ou especialização, totalizando 58,62%, seguido por 28,45% mestrado, 6,90% doutorado, 6,03% graduação e ensino médio.

Tabela 2 – Distribuição de frequência absoluta (n) e relativa (%) dos grupos Docente e Técnicos Administrativos em Educação da FURG, considerando (n) de 232 servidores, quanto às condições de trabalho, em 2024.

A carga horária predominante entre os docentes é de 40 horas semanais, abrangendo 100% desses profissionais. Entre os Técnicos Administrativos em Educação (TAE), a distribuição é mais diversificada, sendo que 71,6% trabalham 40 horas semanais, 21,6% trabalham 30 horas semanais e 6,9% têm uma carga horária de 20 horas semanais.

Em se tratando da prevalência do trabalho na modalidade home-office é notável que a maioria ocorre em ambos os grupos, representando 67,2% dos docentes e 61,2% dos TAE. Contudo, uma parte significativa dos participantes relatou não realizar suas atividades remotamente, sendo 32,8% dos docentes e 38,8% dos TAE.

A análise do tempo de trabalho institucional revela uma presença significativa de profissionais com até 10 anos na instituição, abrangendo 41,9% dos docentes e 64,7% dos TAE. Seguem-se os profissionais com 11 a 20 anos de serviço, representando 40,5% dos docentes e 31,9% dos TAE. Aqueles com mais de 21 anos na instituição representam 17,6% dos docentes e apenas 3,4% dos TAE.Por fim, a ocupação de cargos de gestão na universidade é menor quando comparada àqueles que não ocupam essas posições.

Entre os docentes, 31% ocupam cargos de gestão, enquanto que entre os TAE, apenas 6,9%. Em contrapartida, 69% dos docentes e 93,1% dos TAE relatam não ocuparem cargos de gestão.

Tabela 3 – Proporção da média geral da qualidade de vida, segundo WHOQOL-Bref, entre Docentes e Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande, em 2024, considerando intervalo de confiança em 95%.

A análise geral do questionário WHOQOL-bref revelou uma avaliação intermediária, destacando-se a codificação “Regular”, que predominou tanto entre os docentes (35,3%) quanto entre os TAEs (36,6%). Em seguida, aparecem as respostas codificadas como “Boa”, com 9,5% das respostas dos docentes e 8,2% dos TAEs. Por fim, “Necessita Melhorar” com 5,2% das respostas para ambas categorias.

Tabela 4 – Distribuição das médias e desvio padrão quanto às questões individuais do WHOQOL-Bref, entre Docentes e Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande, em 2024, considerando intervalo de confiança em 95%.

A satisfação com a vida cotidiana, expressa nas perguntas iniciais (Pergunta 1 e 2), indicou avaliação neutra entre Docentes e TAE’s. Já sobre situações que desencadeiam dor e desconforto (Pergunta 3), indicou avaliação positiva, predominando média de resposta da categoria Boa para ambos os grupos.

Em se tratando de necessidade de tratamento médico e capacidade de aproveitar a vida (Pergunta 4 e 5), bem como capacidade de concentração (Pergunta 7) apresentou uma tendência regular em ambos os grupos. Todavia, ao serem questionados em que medida a vida de cada um faz sentido (Pergunta 6), houve maior tendência para respostas consideradas “Boa” para docentes, do que para TAE’s.

Em se tratando de segurança (Pergunta 8), saúde do ambiente físico quanto a ruídos, poluição, clima (Pergunta 9), energia para atividades do dia a dia (Pergunta 10) e imagem corporal (Pergunta 11) também indicaram níveis regulares. Entretanto, quando avaliados quanto a existência de recursos financeiros para satisfazer as necessidades pessoais (Pergunta 12) evidenciou-se estado regular para docentes e necessita melhorar para Técnicos.

Tanto docentes quanto TAE’s apresentam níveis regulares de disponibilidade para receber informações no dia a dia (Pergunta 13), entretanto, a oportunidade para realização de atividades físicas (Pergunta 14) foi considerada insatisfatória para ambos, isto é, precisa melhorar.

Questões vinculadas ao quão capaz os entrevistados são capazes de se locomover (Pergunta 15), indicou boa avaliação quando comparados a questões vinculadas à satisfação com sono (Pergunta 16), a capacidade de desempenhar atividades (Pergunta 17), a capacidade de trabalhar (Pergunta 18), a satisfação pessoal (Pergunta 19), a satisfação com relacionamentos interpessoais entre amigos, parentes e conhecidos (Pergunta 20), a satisfação com atividade sexual (Pergunta 21) e o apoio que recebe de amigos (Pergunta 22). Nestas questões houve um predomínio de avaliações regulares.

Já a questão que questiona o qual satisfeito a pessoa está com o local em que mora (Pergunta 23) indicam melhores avaliações para docentes, do que para técnicos.

Ao explorar o quão satisfeitos os grupos estão com o acesso aos serviços de saúde (Pergunta 24), ambos consideram condições regulares de avaliação. Diferente do que se observa quando questionados sobre a satisfação com seu meio de transporte (Pergunta 25) onde docentes estão mais satisfeitos que os técnicos.

Por fim, ambos os grupos relatam que frequentemente possuem sentimentos negativos como mau-humor, desespero, ansiedade e depressão, indicando necessidade de melhorar.

Tabela 5 – Valores de média e desvio padrão de Docentes e Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande quanto aos domínios do WHOQOL-Bref, em 2024, considerando intervalo de confiança em 95%.

Embora os dados referentes ao Domínio Físico demonstram escores REGULARES para ambos os grupos, há uma menor média para docentes quando comparados aos TAE’s, isto é, 3,16 (±0,73) e 3,23 (±0,62), respectivamente.

Para o Domínio Psicológico, os escores médios são de 3,30 (±0,56) para docentes e 4,09 (±0,61) para TAEs resulta numa avaliação BOA para os docentes e uma avaliação REGULAR para os TAEs.

No domínio de Relações Sociais, ambos escores médios, isto é, 3,15 (±0,94) para docentes e 3,19 (±0,75) para TAEs, indicam uma avaliação REGULAR.

Por fim, para o domínio do Meio Ambiente, os escores médios resultaram numa classificação REGULAR para os docentes 3,23 (±0,62) e a NECESSITA MELHORAR para os TAEs, 2,85 (±0,63).

Figura 1 – Diferença nas proporções dos escores das respostas entre Docentes e Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande, de acordo com o WHOQOL-bref, em 2024.

Após descrever os achados do questionário, realizou-se o teste T para amostras independentes com os grupos de Docentes e TAE para comparar os resultados entre as duas populações. Com esse teste, pode-se verificar se há diferença entre as médias dos escores apresentadas para os domínios do WHOQOL-bref em relação a esses grupos. Também foram necessários testes de distribuição de normalidade, os quais demonstraram que as variáveis Média da Qualidade de Vida, Auto Avaliação, Domínio Físico, Domínio

Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente apresentavam distribuição normal (ShapiroWilk p < 0,01), além disso, o Teste de Levene demonstrou que os grupos não apresentam homogeneidade de variância ( p < 0,05), isto é, que havia diferença entre docentes e TAE’s quanto aos domínios analisados.

Tabela 6 – Teste T para amostras independentes entre Docentes e Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande, quanto aos domínios WHOQOL-bref avaliados de acordo com a Diferença média das respostas, erro padrão, IC 95% e p-valor, em 2024.

Com os resultados apresentados observa-se que há diferença nas médias dos valores de escores nos DOMÍNIOS PSICOLÓGICO e MEIO AMBIENTE, onde p-valor encontra-se menor que 0,05.

Outro teste realizado foi a ANOVA para verificar a significância entre as médias dos escores apresentadas para os domínios do WHOQOL-bref em relação a esses dois grupos. Semelhante ao informado anteriormente, os testes de distribuição de normalidade demonstraram que as variáveis Domínio Físico, Domínio Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente apresentavam distribuição normal (Shapiro-Wilk p < 0,01).

Tabela 7 – Teste ANOVA para comparar Docentes e Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande, quanto aos domínios WHOQOL-bref, em 2024.

Os resultados da ANOVA também demonstraram que havia diferenças entre os grupos Docente e TAE conforme apresentado na tabela anterior. Teste Post-Hoc de Games Howell, interpretado por meio de procedimentos de bootstrapping, demonstrou que foram encontradas diferenças significativamente estatísticas entre os grupos Docente e TAE, sendo que as diferenças encontradas foram predominantes nos domínios Psicológico e Meio Ambiente com diferenças médias em 0,138 (p=0,037) e 0,276 (p<0,001), respectivamente.

Tabela 8 – Teste Post-Hoc de Games-Howell, para avaliar diferenças Docentes e Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal do Rio Grande, quanto aos domínios WHOQOLbref, em 2024.

4       Discussão

Ao comparar os resultados entre docentes e TAEs é evidente a necessidade de abordagens diferenciadas em políticas institucionais, desenvolvimento profissional e gestão de equipes.

Em confluência com Morais e Neves (2007) [7], a diversidade etária pode influenciar a dinâmica de trabalho, as expectativas individuais e as necessidades de suporte, destacando a importância de estratégias de recursos humanos adaptadas a essa diversidade. Uma vez que há uma concentração predominante entre 41 e 50 anos para os docentes e 30 a 40 anos para os TAEs. Além disso, a presença desigual na faixa de 61 a 70 anos sugere padrões de aposentadoria para uns em detrimento da permanência de outros, impactando a transferência de conhecimento.

Em face ao cenário onde há o predomínio expressivo das mulheres no ambiente acadêmico e administrativo da instituição, Lopes et al. (2009) [8] sugere a importância de abordagens inclusivas e igualitárias nas políticas institucionais, garantindo oportunidades e reconhecimento equitativos independentemente do sexo.

Embora a identidade cisgênero seja predominante, a presença das categorias “agênero, transgênero, não binário e não respondeu” destaca a complexidade e a sensibilidade associadas a esse tema. Em consonância com estes resultados, Pantoja e Enns (2014) [9,10] reafirmam a necessidade contínua de criar ambientes que promovam o respeito à diversidade de identidades de gênero e incentivem a participação inclusiva na vida acadêmica e administrativa da universidade.

Por um lado, Ávila (2016) [11] e Souza (2015) [12] consideram que a presença significativa de doutores na comunidade acadêmica destaca o compromisso e o respeito com a excelência na pesquisa e no ensino. Por outro lado, a distribuição elevada de TAEs com pós-graduação ou especialização, dentre outros com outras qualificações superiores, também sugere uma valorização da formação continuada e do desenvolvimento profissional mesmo fora do âmbito acadêmico. Além disso, é notável a ausência de participantes com ensino médio ou graduação entre os docentes e uma representação modesta nesses níveis entre os TAE. Essa observação pode refletir os requisitos específicos de formação exigidos para ocupar cargos na instituição.

O resultado da carga horária elevada dos docentes, isto é, 40 horas semanais, reflete a natureza intensiva e multifacetada das suas responsabilidades na universidade, que frequentemente incluem ensino, pesquisa e extensão. Quando avaliado o perfil dos TAE, tal qual descrevem Moraes (2005) [4] e Vasconcelos (2013) [13] essa mesma carga horária sugere uma variedade de funções e responsabilidades administrativas, com uma parte significativa dos profissionais dedicando-se integralmente à instituição. Ainda assim, é interessante notar a presença de TAE com carga horária de 20 e 30 horas semanais, indicando uma flexibilidade nas configurações de trabalho desses profissionais. Isso reflete diferentes demandas de funções administrativas, permitindo uma adaptação mais personalizada às necessidades da instituição.

Embora seja notável a presença de trabalho em home-office em ambos os grupos, refletindo a adaptação às tendências contemporâneas de flexibilidade no ambiente de trabalho da instituição, a ideia de trabalho em home-office para docentes vem de encontro com a possibilidade da distribuição da carga horária para além da sala de aula, isto é, atividades de pesquisa e extensão. Quanto aos TAE, as atividades estão vinculadas ao programa de gestão ofertado pela própria instituição. Ainda assim, uma parte destes relatam não realizarem suas atividades remotamente. Gomes e Kedouk (2017) [14,15] destacam que essa característica pode estar associada à natureza das atividades desempenhadas, à preferência individual ou a limitações estruturais para a realização de tarefas fora do ambiente de trabalho convencional.

Quando comparados junto a variável tempo de trabalho institucional, o grupo que representa uma parcela substancial da força de trabalho possui até 10 anos de serviço público, trazendo consigo uma mistura de energia renovada e experiência inicial na universidade. Entretanto, a faixa intermediária, entre 11 e 20 anos, reflete uma etapa também importante na carreira do servidor, onde os profissionais tendem a contribuir mais significativamente com base em sua experiência acumulada. Por fim, o grupo com mais de 21 anos de trabalho destaca-se por possuir uma experiência prolongada e um compromisso duradouro com a universidade. Consoante Campos (2016) [4] esses profissionais merecem destaque por desempenhar papéis-chave na transmissão de conhecimento institucional e na orientação de servidores mais novos.

Quando se avalia os domínios do questionário, propriamente dito, percebe-se que embora haja aspectos regulares na percepção física, há espaço para melhorias. Diferente do que dizem Araujo e Cattani (2013) [16], docentes apresentaram escores singelamente menores que TAEs.

Quanto ao domínio psicológico, os resultados sugerem que, enquanto os docentes relatam uma percepção global maior de seu bem-estar psicológico, os TAEs podem enfrentar desafios psicológicos que impactam essa dimensão da qualidade de vida, isto é, menores escores. Tal interpretação vai de encontro com os achados de Souza et al. (2015) [12].

Já no domínio Relações Pessoais, a análise dos resultados divergem das interpretações de Aquino e Silva (2012) [17, 18], sugerindo que há espaço para melhorias nas relações sociais percebidas por ambos os grupos. Ainda que ambos apresentem médias satisfatórias, nesta pesquisa os docentes apresentaram escores menores que TAEs.

Por fim, no domínio Meio Ambiente, a discrepância dos achados entre este estudo, Garcia (2007) [2] e Campos (2016) [4] pode indicar que os TAEs percebem seu ambiente de trabalho e vida de maneira menos favorável em comparação com os docentes. Isto é, docentes apresentam escores maiores que TAEs.

5       Conclusão

A análise dos dados de acordo com o perfil sociodemográfico revelou que a maioria dos docentes é composta por mulheres, com idades que variam entre 41 e 50 anos, cisgênero, com companheiro, nível de escolaridade com doutorado, carga horária semanal de 40 horas, com predomínio de regime de trabalho remoto e até 10 anos de serviço público, não ocupantes de cargo de gestão.

A maioria dos TAE é composta por mulheres, com idades que variam entre 41 e 50 anos, cisgênero, sem companheiro, com nível de escolaridade de pós-graduação, carga horária semanal de 40 horas, em regime predominante de trabalho em home-office, com até 10 anos de serviço público e não ocupantes de cargos de gestão. Ao analisar a média da qualidade de vida em relação aos escores do questionário WHOQOL-bref, é possível notar que os docentes apresentam uma média superior nos domínios Psicológico (3,30 [±0,56]) e Meio Ambiente (3,23 [±0,62]), porém inferior no domínios Físico (3,16 [±0,73]) e Relações Sociais (3,15 [±0,94]).

Sendo assim, os resultados da pesquisa demonstram que a qualidade de vida dos servidores da FURG varia de acordo com o cargo ocupado e o domínio avaliado. No geral, os docentes apresentaram uma percepção mais positiva da qualidade de vida em comparação com os TAEs. Tais achados fornecem insights valiosos para pesquisas futuras e para a implementação de medidas que visem melhorar a qualidade de vida de todos os servidores da Universidade.

6       Considerações Finais

Os resultados apresentados destacam a necessidade de estratégias direcionadas para melhorar aspectos específicos da qualidade de vida percebida por ambos os grupos na Universidade Federal do Rio Grande. Compreendê-los é crucial para orientar intervenções que visem promover um ambiente de trabalho e vida mais saudável e satisfatório tanto para docentes, quanto para Técnicos Administrativos em Educação.

Ademais, é importante ressaltar que o estudo em questão apresentou limitações, como a sua extensão, o que impede a verificação mais aprofundada de possíveis correlações entre as variáveis, além do número de participantes relativamente pequeno, apesar de ser estatisticamente significativo. Isso dificulta a generalização e limita os resultados para populações que não fazem parte do universo da instituição.

A fim de mitigar tais impactos, recomenda-se que estudos subsequentes sejam realizados de forma longitudinal, com acompanhamento dos participantes ao longo do tempo, para permitir a análise de mudanças na qualidade de vida e identificar possíveis fatores causais, além de investigar a influência de outros fatores na qualidade de vida, como condições de trabalho, suporte social, estilo de vida e saúde física e mental.

Ainda assim, estima-se que, após as análises da instituição, as reflexões permitam a adoção de políticas institucionais diferenciadas para docentes e TAEs, por meio da implementação de estratégias que levem em consideração a diversidade de perfis e necessidades. Estratégias estas, que promovam um ambiente inclusivo e de respeito para todos os membros da comunidade universitária, com o objetivo de melhorar a infraestrutura e o suporte para o trabalho remoto, implementação de ações para melhorar a qualidade de vida no trabalho, com foco no bem-estar psicológico e nas relações sociais.

Referências

1                SILVA, A. B. B. Mentes em pauta: Burnout. 2018.

2                GARCIA, E. O. P. et al. Qualidade de vida no trabalho. 2007. Dissertação (Mestrado ) — Universidade Metodista de São Paulo.

3                GUEDES, F. B. O. Qualidade de vida dos técnico-administrativos em educação como fator de formulação de políticas públicas em gestão de pessoas da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas) 2021, Recife, 2021.

4                CAMPOS, N. M. et al. Qualidade de vida no trabalho dos servidores técnico administrativos do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense – IFSUL. 2016. Dissertação (Mestrado ) — Universidade Católica de Pelotas.

5                FLECK, M. P. et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da oms (WHOQOL-100). Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 21, n. 1, Janeiro-Março 1999.

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1 https://orcid.org/0009-0008-7161-2254– lepietro27@gmail.com
2 https://orcid.org/0000-0001-5393-8770– leticia.menezes@ucpel.edu.br