AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO E DA ANSIEDADE EM UM GRUPO DE GESTANTES CADASTRADAS NA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NO BAIRRO NOVO HORIZONTE TERESINA-PI

EVALUATION OF DEPRESSION AND ANXIETY IN A GROUP OF PREGNANT WOMEN REGISTERED AT THE BASIC HEALTH UNIT IN DISTRICT NOVO HORIZONTE TERESINA-PI

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10086161


Graziele Vidal Rezende¹
Linda Laís Oliveira Vaz²
Renata Lima Lages Furtado³
Orientador: Profº. Maurilio Batista Lima4


RESUMO

Durante a gravidez, as mulheres se encontram em um estado de vulnerabilidade, enfrentando uma variedade de demandas e passando por uma fase de reorganização em níveis corporais, bioquímicos, hormonais, familiares e sociais. Isso as torna propensas a experimentar uma gama diversificada de sentimentos. Com base nisso, foi conduzido um estudo com um grupo de gestantes na Unidade Básica de Saúde do bairro Novo Horizonte. Este estudo teve como objetivo identificar sintomas de depressão (utilizando o Inventário de Depressão de Beck – BDI) e ansiedade (utilizando o Inventário de Ansiedade de Beck – BAI). Objetivo: Avaliar o perfil das gestantes, bem como seu o acometimento psicológico, com o surgimento de depressão e ansiedade nessas pessoas. Trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativa com um delineamento temporal transversal. De todas as gestantes registradas, foram convidadas a participar 37 delas. Resultados mostraram que a depressão afetou 15,8% das gestantes, com uma incidência maior no segundo trimestre. A ocorrência de depressão durante a gravidez mostrou associação estatística com o número de partos, o número de filhos, a classificação em relação ao número de gestações, o apoio da família, a quantidade de cigarros consumidos por dia, o consumo de bebidas alcoólicas, o uso diário de medicamentos, o histórico de transtornos mentais, a presença de eventos significativos nos últimos 12 meses e o histórico de violência doméstica. Conclusão: a avaliação da depressão revelou que este distúrbio é frequente durante a gravidez, com um risco mais elevado de ocorrer entre mulheres que estão grávidas pela primeira vez, que consomem bebidas alcoólicas, que fazem uso de medicamentos diariamente, que têm histórico de transtornos mentais, que passaram por eventos significativos nos últimos 12 meses e que foram vítimas de violência doméstica. O entendimento dos fatores associados à sua ocorrência possibilita a implementação precoce de medidas para monitorar a saúde mental da mulher ao longo de toda a gravidez, prevenindo não apenas a depressão, mas também outros distúrbios.

Palavras-chave: Gestante. Depressão. Ansiedade. Gravidez

1. INTRODUÇÃO

Durante a gestação, que pode ocorrer tanto em idade adulta quanto na adolescência, ocorrem diversas mudanças no comportamento e nos sentimentos das gestantes. É essencial verificar se existem sintomas de depressão, ansiedade ou estresse, pois estes são aspectos fundamentais para a saúde não apenas da mãe, mas também do bebê que está em desenvolvimento.A maternidade é capaz de dispor a mulher em perigo de desenvolver transtornos mentais. Vários são os elementos que afetam o surgimento de dificuldades psicológicas na gestação e no puerpério, em especial distúrbios de ansiedade, depressão e stress (Pacheco, Figueiredo, Costa & Pais, 2005).

O intervalo entre a gestação e a maternidade vem se tornando gradativamente objeto de estudo por parte de pesquisadores, em que é considerado como uma meio de mudança que acarreta alterações nos níveis hormonais, físicos, psicológicos, familiares e sociais, ocasionando ajustes e reorganizações no dia a dia das pessoas (Bayle, 2006). Desta forma, essa etapa se torna desafiadora em relação aos meios de enfrentamento essenciais a ponto de adequar às modificações. A maneira como todas essas transformações são incorporadas, processadas e experimentadas está diretamente relacionada à composição da personalidade da mulher, apoio conjugal, familiar e social, significado da gestação e projeto de parentalidade (Leal, 2005).

Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi, avaliar o perfil das gestantes, bem como seu o acometimento psicológico, com o surgimento de depressão e ansiedade nessas pessoas. A realização desse estudo justifica-se pela necessidade de avaliar a presença de depressão e ansiedade em gestantes, visto que transtornos psicóticos podem contribuir para interferência na gestação, consequentemente provoca um risco para a mulher e para o bebê. Além disso, a alta quantidade de depressão na gravidez pode ocorrer complicações, e ainda haver interferência no feto. Há inexperiência em vários meios em como tratar a temática, bem como na familiar, quanto no meio profissional da saúde.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. GESTAÇÃO

Por mais natural que seja a gestação na mulher, ainda é muito limitado à importância dada aos sinais e sintomas recorrentes durante o puerpério. Tendo em vista que o estado emocional e físico da mulher ainda é pouco explorado, e visto que ainda se observa pouca relevância quanto ao bem-estar da mulher (VIDO, 2006, p. 3).

Vido (ibidem, p. 2) realça ainda que: devido a intensas modificações intrínsecas e extrínsecas, é importante que haja um especialista na área da saúde mental, principalmente, para que haja uma maior amparo relativo a mulher e seus familiares. Dessa forma,deve-se respeitar as condições, sem prejulgamentos, objetivando compreender o contexto social,cultural e familiar.

Desde a fixação do embrião no útero, no início do período gravídico-puerperal, ocorrem adaptações no funcionamento do organismo materno. As reações do corpo à gravidez costumam gerar consequências que são específicas para cada fase do período gestacional (PEREIRA, 2005, p. 42).

2.1. FATORES QUE INFLUENCIAM A GRAVIDEZ

2.1.1. FATORES FISIOLÓGICOS

Durante uma gestação, muitas são as características presentes durante esses meses de puerpério. Ocorrem mudanças no corpo feminino desde os primeiros dias até os últimos estágios da gestação. Com isso, observa-se uma frequente e intensa sensibilidade, na qual trás a mulher níveis consideráveis e intensos de mal estar, os quais dependem da aceitação de cada mulher(Costa et al., 2010; Oliveira, França, Freire & Oliveira, 2010).

Essas reações do organismo materno decorrem das grandes alterações durante a gestação dos hormônios femininos, decorrentes da atual situação fetal. Essas modificações abrangem o corpo como um todo, os sistemas cardíaco, muscular, respiratório, sensorial, excretor, urinário, imunológico, esquelético, dentre outros; visto que é uma mudança geral metabólica. Essas alterações reorganizam toda a dinâmica do corpo de uma mulher, modificando ,por exemplo, a marcha, postura e centro de gravidade(Costa & Assis, 2010).

O conjunto de todas as mudanças no corpo feminino é caracterizado categoricamente como manifestações somáticas. Essa categorização é subdividida em trimestres, os quais estão associados a características comuns presentes nesses períodos. Durante a primeira trimestralidade a gestante sente muita náusea, esgotamento, sono acima do habitual, bem como êmese decorrentes dos anseios gravídicos. Na segunda trimestralidade, há alargamento do aporte sanguíneo que pode ocasionar dores de cabeça frequentes e intensas além de fadiga. Além disso, o corpo feminino pode apresentar decréscimo gradual do peristáltico, provocado pela constipação. Outrossim, os sintomas do primeiro trimestre permanecem, fazendo a gestante sentir-se constantemente cansada e sonolenta. Ademais, observa-se um decréscimo do cálcio sanguíneo circular utilizado para auxiliar o bebe a crescer, o que aumenta as contrações musculares súbitas(Portelinha, 2003).

Na última trimestralidade, o aumento do corpo feminino , na parte anterior da cavidade pélvica, faz com que haja um aumento dos mal-estares na mulher. Próximo a data do parto, o útero alcança o processo xifóide provocando uma compressão em alguns órgão daquela região (estômago e bexiga). Dessa forma, o corpo uterino inicia as primeiras tentativas de estreitamento do útero de forma cada vez mais constantes. Além disso, durante o período gestacional, sinais e sintomas ocorreram para que haja alterações no corpo da mulher, em especial no quesito metabólico, visto que, os hormônios serão os principais afetados. Isso se deve a alta concentração dos hormônios produzidos pelo corpo lúteo (progesterona e estrogênio).Apesar de ambos realizarem a preparação do corpo feminino para a gestação. A progesterona acaba, estimulando a formação dos vasos sanguíneos no endométrio para conter possíveis complicações de formação fetal. Enquanto que o estrogênio, é responsável por fazer as mudanças no corpo feminino para receber a criança (Lederman, 1984).

Finalmente, com a sexta semana gestacional, há um aumento do calibre no plasma, gradualmente, em até 50%, no final da gestação. Esse aumento é importante para evitar possíveis complicações na última fase da gestação. Deve-se , inclusive, às possíveis perdas decorrentes do próprio parto, como decréscimo do Débito Cardíaco em posição de decúbito dorsal (Rombaldi et al., 2008; Souza, Filho & Ferreira, 2002).

2.1.2. FATORES PSICOLÓGICOS

Quando um bebê é gerado, pode haver nos pais sonhos ou projeções atrelados a formação e ao crescimento da criança. Projeções relacionadas a ansiedade com a gravidez, predileção quanto ao sexo, nome, profissão e transformação social, entre tantas outras. Isso acontece tanto na gestação planejada como não planejada. (Rappaport, Fiori & Herzberg, 1981). 11 Em relação ao aspecto afetivo, oscilações emocionais como ansiedade, medo, tensão são algumas das emoções sentidas no decorrer da gestação. Nesse sentido, esse estado possui um significativo valor emocional para a mulher . Sentir-se capaz e segura em sua posição , poder desempenhá-lo com alegria e alcançar sucesso, contribui para a sua autoconfiança e equilíbrio psicológico , tarefa desafiadora no campo emocional , repleta de dilemas e aflições que coexistem com satisfações e prazeres no papel de mãe (Raporpot, A.; Piccinini, C. A, 2006). Kumar, Robson e Smith (1984)sustentam que a avaliação da autoestima e equilíbrio psicológico durante a gestação permite obter informações sobre as características e dificuldades físicas e psicológicas após o parto . Nessa circunstância, a adaptação à parentalidade parece ser diferente para mães e pais. As novas responsabilidades assumidas pela genitora causa-lhe maior desordem emocional sobretudo pelas transformações que acontecem em várias esferas como repouso, atividade sexual, tempo social e com o parceiro (Ramos & Canavarro, 2007).

Em decorrência das diversas reestruturações que acontecem no decorrer da vida , as atuais pesquisas têm indicado que os pais reportam níveis de estresse menores em comparação às mães (Levy- 8 Shiff, 1999).

De acordo com Portelinha (2003), a identificação com o papel materno e o total reconhecimento da figura materna podem entrar em atrito com a autoimagem e autoestima da mulher , as alterações físicas decorrentes da gestação, parto e amamentação pode entrar em embate com a vontade da mulher de manter a forma física como objeto de desejo , gerando inquietações como: transformações no corpo, medo de não conseguir recuperar a forma anterior ou mudanças em nível pessoal . Essas transformações corporais assumem componente essencial nas transformações gerais e persistentes na fisiologia feminina (Raporpot, A.; Piccinini, C. A, 2006).

As alterações antes citadas podem ser constatadas durante a concepção por causa do crescimento uterino que gera alterações na configuração e dimensões podendo impactar na estética da mulher. As alterações do peso ganho na concepção vai depender das alterações teciduais a cada 3 meses. Outro fato 12 importante são as mudanças orgânicas, como edema no sistema locomotor que pode ser importante na mudança da postura (Gazaneo & Oliveira, 1998).

2.2. DEPRESSÃO E ANSIEDADE

A depressão e a ansiedade são transtornos de humor, e estão distribuídos por faixa etária: infância, adolescência e velhice, ambas se não forem tratadas podem permanecer por um longo período, desencadeando assim vários prejuízos à vida do ser humano. Pessoas com esses tipos de transtornos experimentam variações no estado de humor e das expressões afetivas. São males que causam grandes sofrimentos. Gerando angústia, desespero, apatia e a dor que provoca é imensa. As doenças mentais proliferam devido a fatores sociais, biológicos e psicológicos. São respostas de doenças físicas graves, do trauma, de condições sociais adversas, como alta taxa de desemprego e pobreza entre outros. Esses episódios vêm aumentando gradativamente (Beck e Alford, 2011).

Se a depressão na gestação não é devidamente tratada, as gestantes correm maior risco de se exporem ao tabagismo, ao consumo de bebidas alcoólicas e de outras substâncias, além de terem uma maior probabilidade de desenvolver desnutrição e ter resistência para seguir as orientações fornecidas pela equipe médica durante o pré-natal. Isso pode resultar em uma diminuição da frequência de consultas, sendo relacionado ao aumento do risco de morte neonatal e de morbimortalidade entre essas mulheres (PEREIRA et al., 2010).

Entre os elementos que aumentam a possibilidade de desenvolver depressão durante a gravidez estão histórico psiquiátrico anterior, carência de apoio social, familiar ou conjugal, ausência de religiosidade, consumo de álcool e entorpecentes, violência doméstica, interrupções de gestações prévias, gestações anteriores que foram complicadas, conflitos familiares, gestação de alto risco e, em especial, a gravidez na adolescência (BAPTISTA et al., 2006)

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 18,6 milhões de brasileiros sofrem com algum distúrbio relacionado à ansiedade. Com o elevado número de casos de transtorno de ansiedade no Brasil, mudança dos hábitos e estilo de vida da população estão interligados com uma má alimentação, tendo em 13 vista que uma boa alimentação contribui para uma produção dos neurotransmissores responsáveis por promover o bem-estar emocional(YOGI, C. M.; LOMEU, F. L. R. O.; SILVA, R. R).

O diagnóstico da depressão perpassa por várias etapas: anamnese, exame psiquiátrico, exame clínico geral, avaliação neurológica, identificação de efeitos adversos de medicamentos e exames laboratoriais. A depressão tem causas desconhecidas porém fatores genéticos, psicológicos e ambientais podem estar envolvidos em sua origem e evolução. Com relação ao diagnóstico, Beck e Alford (2011) apontam que pelos sintomas apatia, irritabilidade, perda de interesse, tristeza, atraso motor, insônia, fadiga e outros podem facilitar o diagnóstico, assim como também um bom conhecimento teórico da patologia.

3. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de corte transversal, correlacional e abordagem quantitativa, realizado no período de janeiro a maio de 2013, em cinco Unidades de Atenção Primária à Saúde que prestam atendimento pré-natal no âmbito do Sistema único de Saúde (SUS) no município de Alfenas do Estado de Minas Gerais, Brasil.

Serão incluídos na pesquisa todas as gestantes que estão fazendo acompanhamento pré natal, que se dispuserem a contribuir com a pesquisa com idade superior a 18 anos. Gestantes que não estão cadastradas na Unidade Básica de saúde Ivan Sobral V A Filho- Novo Horizonte serão excluídos. A população da pesquisa trata-se de 40 gestantes cadastradas na Unidade Básica de Saúde Ivan Sobral V A Filho-Novo Horizonte, em Teresina (PI). O estudo será realizado com 37 gestantes, selecionadas aleatoriamente na população. Esse valor foi calculado mediante a seguinte fórmula: n = (z²∙0,25∙N)/(E²(N-1)+z²∙0,25) = (3,84∙0,25∙40)/(0,0025∙ (40-1)+3,84∙0,25) = 37, na qual z é o valor crítico, E a margem de erro e N o tamanho da população, considerando o grau de confiança de 95% (z = 1,96), margem de erro E = 5% e N = 40. A amostragem escolhida é do tipo aleatória simples. Ao final da consulta do pré natal, as gestantes serão comunicadas sobre a pesquisa que está sendo feita na UBS, e se poderão contribuir com o projeto.

Para rastreio de sintomas de depressão e ansiedade, serão utilizados os inventários de Beck direcionados a ansiedade (IBA) e depressão (IBD). O IBA é um questionário composto por 21 itens que apresentam informações descritivas dos sintomas de ansiedade. Esses devem ser avaliados pelo sujeito em referência a si mesmo em razão da gravidade e frequência de cada item numa escala de 0 a 3 pontos, sendo: Nível Mínimo de Ansiedade (0 a 10 pontos), Nível Leve de Ansiedade (11 a 19 pontos), Nível Moderado de Ansiedade (20 a 30 pontos) e Nível Grave de Ansiedade (31 a 63 pontos) (BARTHOLOMEU et al., 2010). O IBD é um questionário de autorrelato, desenvolvido por Aaron Beck, com 21 perguntas de múltipla escolha, cujos escores variam de 0 a 3 e seu objetivo é medir a intensidade da depressão. Apresenta em seus itens conteúdos cognitivo-afetivos e somáticos, tais como pessimismo, sentimento de fracasso, retraimento social, tristeza, dentre outros, podendo ser aplicada tanto em ambiente clínico quanto não-clínico. A divisão da escala é composta por: Nível Mínimo de Depressão (0 a 10 pontos), Nível Leve de Depressão (11 a 19 pontos), Nível Moderado de Depressão (20 a 30 pontos) e Nível Grave de Depressão (31 a 63 pontos) (BAPTISTA; CARNEIRO; SISTO, 2010). O período de coleta das informações será em torno de 10 a 30 minutos durante o acompanhamento do pré-natal.

Os dados serão armazenados, em arquivos digitais e físicos (questionários e TCLE), mas somente terão acesso a estes os pesquisadores e o orientador. Ao final da pesquisa, todo material será mantido em arquivo, por pelo menos 5 anos. Para as análises, os dados coletados serão tabulados no programa Microsoft Excel e será utilizada a estatística descritiva, através do programa SPSS 10.0 for Windows, sendo adotado um grau de significância de p < 0,05. é um instrumento de autorrelato e por isso pode ser autoaplicada, a mesma foi preenchida pela própria participante, após orientação prévia.

4. RESULTADOS

Realizamos a aplicação dos questionários BAI e BDI em um grupo composto por um total de 37 gestantes. Observamos que a maioria das gestantes tinha uma média de idade de 28,50 anos (com um desvio padrão de 5,74 anos). A maioria delas estava casada ou vivia com seus parceiros (83,7%), possuía uma renda familiar mensal entre um e dois salários mínimos (28,8%), estava empregada (47,1%), morava em uma residência própria (65,6%), seguia a religião católica (57,1%) e tinha completado o ensino médio (36,2%) como seu nível de escolaridade. Neste estudo em particular, em relação à idade gestacional, observou-se que 20.1% das participantes estavam no primeiro trimestre da gravidez, 39.2% no segundo trimestre e 40.7% no terceiro trimestre. Entre as participantes, 9.8% relataram ter enfrentado dificuldades para engravidar, enquanto 5.2% tinham recebido tratamento para esse fim.

A maioria das gestantes (68%) já tinha tido gestações anteriores, com o número de gestações variando de uma a nove, com uma média de 2.22 gestações (com um desvio padrão de 1.23 gestações). Quanto ao número de partos anteriores, este variou de um a seis, com uma média de 1.55 partos (com um desvio padrão de 0.9 partos).

Além disso, 61.4% das participantes tinham filhos vivos. No presente estudo, foi observada uma discrepância entre o número de primigestas (34%) e o número de gestantes que não tinham filhos vivos (36.7%). Essa diferença pode ser atribuída a abortos em gestações anteriores e/ou ao falecimento de filhos após o nascimento.

Cerca de 47% das gestantes relataram complicações em gestações anteriores, sendo o aborto ou a ameaça de parto prematuro as mais comuns, enquanto 35% delas mencionaram histórico de aborto ou ameaça de parto prematuro. Importante notar que 72.5% das gestantes não tiveram complicações na gravidez atual. Além disso, quase a totalidade das participantes (97.9%) manifestou um desejo materno em relação à gravidez.

É importante salientar que esse desejo de gravidez era igualmente compartilhado pelo parceiro (99%), e a maioria das participantes desfrutava de apoio tanto da família (99%) quanto do companheiro (99%). Um percentual minoritário de participantes enfrentava problemas de saúde (11%) e fazia uso de medicamentos diariamente (10.2%). No que se refere às relações interpessoais, a maioria das gestantes afirmou não vivenciar conflitos conjugais (86.2%), relatou ter um relacionamento satisfatório com a família, amigos e pessoas próximas (88.4%) e recebia algum tipo de apoio ou suporte social (61.7%).

Observou-se que 15.8% das participantes apresentaram depressão durante a gestação. Entre essas gestantes que experimentaram depressão na gravidez, a maioria estava no segundo trimestre (47.3%), sem que houvesse uma diferença estatisticamente significativa no risco de depressão entre os trimestres. A presença de depressão durante a gravidez mostrou uma associação estatisticamente relevante com a classificação baseada no número de gestações, indicando que as participantes primigestas têm uma probabilidade maior de desenvolver depressão na gravidez em comparação com as multigestas.

Além disso, o uso diário de medicamentos também revelou uma associação estatisticamente significativa com a depressão, sugerindo que as gestantes que faziam uso de medicamentos diariamente apresentavam maior probabilidade de desenvolver depressão durante a gravidez em comparação com aquelas que não utilizavam medicações diariamente. Embora tenha sido mencionado por uma minoria das participantes (22.2%), o histórico de transtorno mental revelou uma associação significativa com a depressão, indicando que as gestantes que têm um histórico de transtorno mental têm uma probabilidade 5.24 vezes maior de desenvolver depressão durante a gravidez em comparação com aquelas que não têm essa experiência anterior. Importante notar que a depressão foi o distúrbio mais comumente relatado entre as gestantes que tinham tido um transtorno psíquico no passado (75.1%).

A maioria das participantes não experimentou um evento significativo na vida nos últimos doze meses (34.6%). No entanto, a presença desses eventos mostrou uma associação estatisticamente relevante com a depressão durante a gravidez (p=0.006), indicando que as gestantes que passaram por um evento marcante nos últimos 12 meses têm uma probabilidade maior de desenvolver depressão durante a gravidez em comparação com aquelas que não vivenciaram um evento significativo no ano anterior. Apenas uma gestante mencionou estar atualmente sofrendo violência doméstica, e 10% das participantes relataram ter experimentado violência doméstica no passado. Importante notar que o histórico de violência doméstica demonstrou uma associação estatisticamente significativa com a depressão durante a gravidez (p=0.005).

Por meio da razão de chances, foi constatado que as gestantes que tinham sofrido violência doméstica no passado tinham uma probabilidade 4.41 vezes maior de desenvolver depressão durante a gravidez em comparação com aquelas que não tinham esse histórico. O número de partos e o número de filhos vivos também revelaram uma associação estatisticamente relevante com a depressão, indicando que as gestantes com um maior número de partos e de filhos vivos tinham uma probabilidade maior de desenvolver depressão durante a gravidez.

5. DISCUSSÃO

Primeiramente, é valioso observar que classificar os sintomas mediante sinais depressivos pode resultar em algumas restrições . Para que haja uma melhor avaliação contemplou-se com uma amostra com sujeitos de valor social e econômico médio para alto (Santos, 1995). Devido às peculiaridades do projeto, levando em conta os sujeitos de nível socioeconômico baixo, estes podem não expressar o ponto de corte conciso, recorrente da problemática de sintomatologia depressiva ou não.

Mesmo o período gestacional não apresentando associação significativa com a depressão na gravidez, notou-se recorrente no período do segundo trimestre, fato que faz referência as alterações mais concretas em seu corpo. Por meio disso, nota-se uma maior preocupação relacionada com o corpo físico, bem como a insegurança quanto ao parceiro, referente aos altos índices de depressão neste período, provavelmente. Além disso, é importante ressaltar que há evidências de que a quantidade de gestações, de partos e de filhos apresentam relação significativa quando associados às sintomatologias da depressão na gravidez.

Além disso, observa-se uma maior preponderância em primigestas quanto a esse risco depressivo. Isso se deve á inexperiência dessas primíparas aliada ao medo do parto, podendo coadunar com a ocorrência dessas mudanças psíquicas, entre elas a depressão. Segundo algumas achados, medo do parto se confirma mais comum entre as mães de primeira viagem, haja vista que estas gestantes não obtiveram a vivência de algo assim antes, o que lhes proporciona medo e insegurança durante a gestação, tornando-se também um agravante para seu bem estar mental e agravar a ocorrência da depressão.

O presente estudo descobriu que gestantes que tiveram um maior número de partos e filhos apresentaram depressão. Essa descoberta é apoiada por um estudo sul-africano que também confirmou que gestantes com depressão ou ansiedade tinham mais filhos. Isso levanta a reflexão se essas gestantes têm uma maior propensão a desenvolver essas psicopatologias ou se elas são mais diagnosticadas devido a uma melhor utilização dos serviços de saúde disponíveis. Essas associações podem ser resultado de experiências negativas em gestações e partos anteriores, bem como preocupações com os outros filhos, o que poderia contribuir para a ocorrência da depressão pré-natal. Segundo essas gestantes, elas foram expostas a um maior número de eventos adversos e, consequentemente, estresse.

Em relação ao apoio familiar durante a gravidez, os achados do presente estudo sugerem que esse apoio atua como um fator de proteção contra a depressão na gravidez. Isso pode estar relacionado ao fato de que esse apoio funciona como um moderador dos sentimentos decorrentes da gravidez, sendo mais um recurso para a gestante enfrentar possíveis adversidades durante esse período e, possivelmente, torná-la menos vulnerável a alterações psíquicas.

Neste estudo, foi observado que o consumo de álcool por gestantes está relacionado a uma maior ocorrência de depressão durante a gravidez, o que já foi evidenciado em outros estudos. A presença de problemas psicológicos pode contribuir para o uso de substâncias psicoativas e vice-versa. Portanto, podemos inferir a partir dessa associação que gestantes que consomem álcool tendem a apresentar mais sintomas depressivos. No entanto, também é possível que a depressão ocorra antes do consumo de álcool, ou seja, as gestantes podem usar álcool para aliviar os sintomas da depressão.

Considerando a importância de prevenir os problemas relacionados ao uso de álcool durante a gravidez, é crucial dar atenção aos impactos negativos tanto para o feto quanto para a mulher, incluindo as alterações psicológicas que podem surgir. Em contraste com outro estudo, foi observado que gestantes que fazem uso de medicamentos diários têm maior probabilidade de apresentar depressão durante a gravidez. Isso pode estar relacionado ao medo do parto, pois gestantes que manifestam esse sentimento podem enfrentar desequilíbrios psicológicos e recorrer a mais medicamentos por esse motivo. Estudos mostram que mulheres com ansiedade ou depressão têm mais medo do parto do que aquelas sem doença mental, o que apoia essa hipótese. No entanto, mulheres com medo do parto podem se preocupar mais com os riscos associados ao uso de medicamentos durante a gravidez e evitá-los.

Assim como outros estudos, esta pesquisa demonstra que gestantes com histórico de transtorno mental têm maior probabilidade de apresentar depressão durante a gravidez. Um estudo realizado na África do Sul mostrou que ter uma história prévia de depressão foi um fator de risco significativo para o desenvolvimento da depressão durante a gravidez. Cerca de 35,7% das gestantes que tiveram pelo menos um transtorno mental antes da gravidez apresentaram depressão durante a gestação, o que sugere que gestantes com histórico de transtorno mental têm um alto risco de recaída no pré-natal. Uma das razões para isso pode ser a interrupção do tratamento psiquiátrico pela gestante no início da gravidez, devido a preocupações com possíveis riscos para o feto, destacando a importância da triagem de sintomas depressivos durante a gestação, como já evidenciado por outros pesquisadores.

Foi observado que gestantes que passaram por eventos significativos nos últimos 12 meses e aquelas com histórico de violência doméstica têm maior probabilidade de apresentar depressão durante a gravidez. Essa associação pode ser explicada pelo acúmulo de estresse causado pelos eventos marcantes ao longo dos últimos doze meses, o que pode levar a consequências negativas para a saúde mental das gestantes devido ao desgaste físico e psicológico envolvido. Em relação ao histórico de violência doméstica, os resultados deste estudo estão de acordo com pesquisas anteriores que identificaram a relação entre histórico de violência e sintomas depressivos em adolescentes grávidas. A violência doméstica é uma experiência humilhante, especialmente durante a vida reprodutiva, quando as opções de escape são frequentemente limitadas. Essa humilhação pode desencadear a depressão, de acordo com a teoria social proposta por Brown e Harris em 1978, que sugere que a depressão é uma consequência da experiência de humilhação e aprisionamento. Nesse contexto, os resultados deste estudo podem apoiar a hipótese de que o histórico de violência seja um fator gerador de tristeza e angústia na gestante ao relembrar a humilhação sofrida.

Em suma, o presente estudo evidenciou que mesmo a gestação sendo um período onde naturalmente a mulher passa de forma saudável como mãe, ainda há muitas mães que passam por este período apresentando agravos, haja vista que a depressão demonstrou ser um transtorno presente durante as gestações, desencadeado por diversos fatores. O conhecimento desses, faz ligar o alerta para a adoção precoce de intervenções para o desenvolvimento de ações de monitoramento da saúde mental durante todo o pré-natal, de forma a remediar este e outros transtornos mentais que possam ser desencadeados neste período. Assim, a promoção de saúde materno fetal com os princípios dos SUS em equidade contribuirão para um pré-natal adequado e de qualidade, de forma angariar bons resultados há saúde materno infantil. Assim, as limitações deste estudo estão relacionadas ao fato de que ele foi conduzido com um delineamento transversal, o que não permite estabelecer de forma adequada uma relação de causa e efeito entre os dados encontrados, nem a relação temporal dos eventos.

6. CONCLUSÕES

Como já visto anteriormente, a mulher quando gestante está vulnerável e exposta a diversas exigências vivenciando uma fase de reorganização corporal, bioquímica, hormonal, familiar e social, fazendo-a ficar propensa a uma multiplicidade de sentimentos.

Desta forma, conclui-se, a partir dos dados analisados, que algumas mulheres apresentaram sintomas de ansiedade, depressão e estresse, antes ou após o nascimento do filho e por isto, indica-se que este modelo de pesquisa seja realizado em mais grupos de gestantes, devido à importância da temática e possíveis comparações de dados.

Sugere-se também, analisar a situação familiar e financeira das gestantes para se ter mais clareza do que gera tais sintomas – ansiedade, depressão, estresse. Isto é, com mais informações podemos intervir e auxiliar estas pacientes que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo uma melhor qualidade de vida, não apenas no momento da gestação, mas para sua vida nos demais sentidos e momentos

REFERÊNCIAS

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1 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINOVAFAPI e-mail: grazielevidall@hotmail.com

2 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINOVAFAPI e-mail: lindavaz97@gmail.com

3 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINOVAFAPI e-mail: renatafurtado2013@hotmail.com

4 Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNINOVAFAPI. e-mail: maurilioblima@hotmail.com