REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7341726
Marina Harumi Schmoller Kubo1
Maurícia Cristina de Lima2
Isabel Fernandes3
RESUMO
Introdução: A Doença de Parkinson (DP), neurodegenerativa e idiopática, de caráter crônico e progressivo, causa a degeneração dos neurônios dopaminérgicos que estão associados ao estresse oxidativo acometendo o Sistema Nervo Central (SNC). Alterações respiratórias são uma das principais causas de morte na DP. Entretanto, os sintomas respiratórios raramente são notados nos primeiros estágios da doença. Objetivo. Avaliar a capacidade respiratória dos portadores da doença de Parkinson. Metodologia. Estudo observacional, em série de casos de 10 pacientes, com alterações respiratórias, vinculados à uma associação de portadores de Parkinson do município de Medianeira/PR. Os pacientes foram abordados na reunião rotineira da associação. A idade dos participantes estava na faixa de 54 a 85 anos, apresentavam estágios I a III pela escala modificada de Hoehn e Yahr. A força muscular respiratória foi avaliada com o manovacuômetro e a expansibilidade torácica foi aferida pela cirtometria. Resultados. Observou-se que a gravidade do Parkinson tem relação direta com a expansividade torácica e a força dos músculos respiratórios analisado pela pressão inspiratória máxima (PIMáx) e pressão expiratória máxima (PEMáx). Conclusão. Verificou-se que redução da força muscular respiratória e da complacência torácica nos portadores da DP, quando comparados com valores de indivíduos hígidos.
Palavras-chave: Doenças Neurodegenerativas; Sistema Respiratório; Fisioterapia; Doença de Parkinson.
ABSTRACT
Introduction. Parkinson’s Disease (PD), neurodegenerative and idiopathic, with a chronic and progressive character, causes the degeneration of dopaminergic neurons that are associated with oxidative stress affecting the Central Nervous System (CNS). Respiratory changes are one of the main causes of death in PD. However, respiratory symptoms are rarely noticed in the early stages of the disease. Objective. To evaluate the respiratory capacity of patients with Parkinson’s disease. Methodology. Observational study, in a series of cases of 10 patients, with respiratory disorders, linked to an association of Parkinson’s patients in the city of Medianeira/PR. Patients were approached at the association’s routine meeting. The age of the participants was in the range of 54 to 85 years, they presented stages I to III by the modified scale of Hoehn and Yahr. Respiratory muscle strength was assessed with a manovacuometer and chest expansion was measured by cirtometry. Results. It was observed that the severity of Parkinson’s is directly related to chest expansion and respiratory muscle strength analyzed by maximal inspiratory pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP). Conclusion. It was found that a reduction in respiratory muscle strength and chest compliance in patients with PD, when compared with values of healthy individuals.
Keywords: Neurodegenerative Diseases; Respiratory system; Physiotherapy; Parkinson’s disease
1 INTRODUÇÃO
A doença de Parkinson (DP) foi descrita em 1817 pelo médico britânico James Parkinson (HILARIO,2021), definida como doença neurodegenerativa e idiopática, de caráter crônico e progressivo. Os indivíduos com DP podem apresentar uma série de sinais e disfunções motoras, decorrentes da degeneração dos neurônios dopaminérgicos, que estão associados ao estresse oxidativo, acometendo o sistema nervoso central (SNC).
Os principais sintomas observados na DP são: tremor de repouso, rigidez muscular e bradicinesia, os quais formam a tríade motora característica desta patologia. Esta tríade reduz a mobilidade e capacidade funcional do paciente (MACIEL,2020; PONCE,2021; FERNANDES,2021; SILVA,2021).
Os distúrbios pulmonares provocados pela DP, decorrem da hiperatividade parassimpática do centro respiratório, acarretando constrição dos músculos das vias aéreas. Isso pode provocar a hipoventilação, atelectasias e retenção de secreções pulmonares além da redução da complacência torácica. Este último resulta na ineficiência da mecânica respiratória, predispondo a pneumonia aspirativa, a obstrução das vias aéreas superiores e outras patologias respiratórias (DOSSANTOS,2020; FERNANDES,2021; RIBEIRO,2018; SANTOS,2020; FRAGA,2018; ZHANG,2021).
Com a evolução da DP, pode haver redução da função pulmonar, da força muscular respiratória e consequentemente gerar os distúrbios ventilatórios restritivos, que comprometem a capacidade vital, devido a degeneração osteoarticular, as alterações posturais do gradil costal (cifose) e à rigidez dos músculos intercostais (SANTOS,2019; FERRO,2018; MARRARA,2020).
Além disso, a funcionalidade pulmonar comprometida na DP, pode gerar limitação ou oclusão da ventilação alveolar e déficit nas trocas gasosas, reduzindo a expansibilidade pulmonar e torácica. Com a evolução da DP, as vias aéreas superiores (VAS), e discinesias musculares, favorecendo os quadros de dispnéia, hiperventilação, retenção de secreção pulmonar e predisposição de infecções respiratórias. Além disso, a redução da mobilidade torácica pode gerar fadiga muscular respiratória (PONCE,2021; ZHANG,2021).
Assim, a pesquisa avaliou a capacidade respiratória dos portadores da doença de Parkinson.
2 METODOLOGIA
Estudo observacional, em série de casos de 10 pacientes, com alterações respiratórias, vinculados à uma associação de portadores de Parkinson do município de Medianeira/PR. O recrutamento aconteceu em reuniões realizadas na sede da associação. A coleta ocorreu no período de junho a agosto de 2022.
Os pacientes incluídos na pesquisa foram aqueles diagnosticados com DP idiopática, por meio da escala Hoehn e Yahr modificada (estágio I-V) (MELLO,2010), com sistema cognitivo preservado e, com disponibilidade para a pesquisa.
Foram excluídos pacientes com déficits neurológicos, perda visual, problemas auditivos e problemas cardiorrespiratórios que contraindicavam a inclusão no estudo.
O procedimento do estudo foi explicado aos pacientes como também os benefícios e os riscos da pesquisa. Todos firmaram o consentimento por escrito no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assinando-o.
As variáveis analisadas no estudo foram: a avaliação incapacidade; PImáx e PEmáx; a expansibilidade torácica e a saturação de oxigênio.
A escala de Incapacidade de Hoehn e Yahr (HY – Degree of Disability Scale) foi aplicada para avaliar se o indivíduo com DP é capaz de indicar seu estado geral, podendo assim classificar o nível da sua incapacidade, classificando-a como leve a moderada ou grave (MELLO,2010).
Para avaliar a força dos músculos respiratórios foi utilizado o manovacuômetro analógico, da marca Comercial Médica®, calibrado em 120cmH20, com ponteiro no numeral zero e seu limite entre +120 cmH20 e -120 cmH20 (ARAÚJO, 2019).
Cada pressão respiratória foi medida três vezes com intervalo de repouso de um minuto entre elas, utilizando o valor de maior grau. A diferença entre as três manobras pode ser inferior a 10%. Este teste foi realizado no mínimo 3 vezes em cada fase e no máximo 5 vezes, caso haja alterações de mais de 10% entre os valores atingidos, sendo o maior valor utilizado.
A unidade de força muscular foi expressa em centímetros de água (cmH20). A PImáx foi mensurada a partir da capacidade pulmonar total (CPT). A PEmáx foi medida a partir do volume residual (VR). Os cálculos obedeceram a normativa expressa em Neder et al(1999).
A expansibilidade torácica foi aferida pela cirtometria. O posicionamento do paciente foi mantido em pé, sem apoio costal, ombros relaxados, os pés estavam apoiados no chão e com as articulações dos membros inferiores fletidos em aproximadamente 90°. Foi utilizado uma fita métrica não elástica, com numeração máxima de 150 cm. Esta foi transpassada pela região axial, processo xifóide e na linha umbilical.
Os valores de referência para normalidade do grau de expansibilidade torácica foram entre 4 a 7 centímetros, este que é encontrado através da diferença entre a fase inspiratória e expiratória máxima durante a avaliação da citometria (RAMOS et al, 2014).
A saturação de oxigênio (SatO2) foi analisada com o paciente posicionado em sedestação. O oxímetro de pulso (Nonin Onyx®) foi acoplado no dedo indicador da mão direita. A mão em posição neutra em descanso, sem movimentos durante a leitura. A utilização de esmaltes, independe da marca ou coloração, foi evitada para a realização do teste devido a absorção de luz entre as estruturas, que pode resultar no declínio de 3% a 5% nos valores normais de referência, os quais são entre 96% e 100% (ROSA, 2019; JIMÉNEZ, 2017).
O estudo foi realizado em período pandêmico onde foram seguidas todas as normas sanitárias para assegurar a segurança do paciente e pesquisador.
O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humano (CEP) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), sob o protocolo CAAE 58863422.0.0000.0107 e foi aprovado no parecer consubstanciado de número 5.452.061.
3 RESULTADOS
A faixa etária esteve entre 78 a 85 anos, de ambos os sexos, sendo 70% (n=7) do gênero masculino e 30% (n=3) do feminino. Quanto aos hábitos, nenhum dos casos da série fazer uso etílico ou tabaco. Nas doenças crônicas, em especifico a hipertensão arterial,70 % da amostra de ambos os sexos (n=4 homens e n=3 mulheres) alterações. (tabela 1).
Tabela 1 – Consolidação de dados sociais, demográficos, hábitos e doença associada com frequência absoluta (fi) e seu percentual equivalente (%), segmentados por sexo feminino e masculino, coletados junto aos Idosos de uma associação de portadores de Parkinson, Medianeira, 2022.
Fonte: Autora.
Na cirtometria verificou-se que os indivíduos com DP demonstraram valores de referência abaixo dos valores do previsto, o grupo feminino (n=3) apresentou as seguintes medidas: axilar de 2,7 cm, xifoidiana 3,3 cm, umbilical 3,0 cm. O gênero masculino (n=7) mostrou em região axilar o valor de 3,2 cm, em xifoidiana 2,7 cm, e umbilical 3,0 cm. Valores estes referentes à diferença entre a fase inspiratória e expiratória máxima aferidas nas regiões citadas. Os valores para a cirtometria considerados normais seriam de 6 a 7 centímetros e que as medidas entre 2 e 3 centímetros corresponderiam a uma capacidade pulmonar 30% abaixo do normal. Em relação a saturação de oxigênio (SatO2), o gênero feminino demonstrou índices de 90% (n=3), sendo considerado abaixo do ideal. Na escala de incapacidade, os valores avaliados do grupo feminino obtiveram média de Hoehn e Yahr 1,7 na classificação. Portanto, apresentando os sintomas unilateral e axial. O grupo masculino se mostrou com uma média aritmética de 2,0, indicando doença bilateral sem déficit de equilíbrio (Tabela 2).
Tabela 2 – Consolidação de dados clínicos com média aritmética (md), desvio padrão (dp) e coeficiente de verificação em percentual (cv), segmentos por sexo feminino e masculino, coletados junto aos Idosos de uma associação de portadores de Parkinson, Medianeira, 2022.
Fonte: Autora.
Legenda: Dados apresentados em média e desvio padrão ou percentual. Índice de massa corporal (IMC), milímetros de mercúrio (mmHg), Frequência Cardíaca (FC), batimentos por minutos (bpm), Frequência Respiratória (FR), respirações por minutos (rpm), percentual (%).
Na avaliação da força muscular respiratória observou-se que o P1 e P6 tiveram o resultado de maior gravidade, ou seja, mais fraqueza dos músculos inspiratórios (PIMáx). Os pacientes P5 e P8 mostraram redução da força dos músculos expiratórios (PEMáx) (Tabela 3).
Tabela 3 – Dados médios de capacidade respiratória avaliado com o manuvacuômetro, coletados junto aos Idosos de uma associação de portadores de Parkinson, Medianeira, 2022.
Fonte: Autora.
Legenda: Dados apresentados em média e desvio padrão ou percentual. Pressão inspiratória máxima (PImáx), Pressão expiratória máxima (PEmáx), Centímetro de água (cmH2O).
4 DISCUSSÃO
Nesta pesquisa observou-se que indivíduos do sexo feminino, na faixa etária de entre 39 a 49 Segundo Araújo (2020) os indivíduos do sexo masculino são mais propensos a desenvolver a DP, em conjunto com fatores da idade mais elevada, socioeconomicamente em desvantagem, comportamentos de saúde inadequados, obesidade, sedentarismo e a hereditariedade. No presente estudo consta 70% dos indivíduos com DP eram homens.
Na série de casos recrutada no presente estudo foi observado a faixa etária masculina, em média de 78 a 85 anos sendo sua maioria hipertensos. Schelp et al (2012) consta que conforme a evolução da DP a hipertensão não está relacionada a doença mesmo sendo um dos importantes sinais na fisiopatologia da demência associada à DP e um fator de risco. A pressão arterial do público feminino foi 130×70 (mmHg) que resulta dentro da normalidade devido a faixa etária representada de 62 a 69 anos.
O público masculino apresentou uma pressão arterial baixa do esperado110x150 (mmHg), pois alguns apresentaram hipertensão. O IMC de ambos os grupos se deu moderadamente alta, sendo o feminino 28 e masculino 26,7 apresentando um excesso de peso.
O estudo de Alves(2019), tratou-se de um estudo descritivo e analítico com 16 indivíduos onde a maioria dos participantes estão no estágio 2 da escala de estadiamento de Hoehn e Yahr. Os indivíduos classificados nesse estágio e idade de início dos sintomas, pode variar muito.
Fernandes (2021) relata que Escala de Estadiamento de Hoehn e Yahr (modificada), mostram que os pacientes apresentaram escores de 1 ao 4 na referida escala. Entretanto, a análise descritiva revela que alguns pacientes melhoraram o estágio da doença após o programa de intervenção. Possivelmente estes efeitos estão associados com a melhoria nos indicadores de capacidade funcional ou aptidão física promovido pelo programa de treinamento. Resultados semelhantes foram observados no presente estudo. O público masculino demonstrou uma média de estágio 2 na escala de Hoehn e Yahr, demonstrando que a maioria apresenta a doença bilateral sem déficit de equilíbrio.
A mobilidade torácica avaliada pela cirtometria em três níveis: axilar, xifóide e abdominal, observou, no presente estudo, uma redução significativa no público masculino, nas respectivas regiões: axilar (3,2 cm) e umbilical (3,0 cm).
O gênero feminino a região xifoidiana (3,3 cm) mostrou menor expansão torácica. Guerreiro, 2018, descreve no seu estudo que todos os indivíduos com DP apresentaram redução da mobilidade torácica, mais evidente no nível abdominal. A variação umbilical correlacionou-se com a força muscular inspiratória, volumes e fluxos pulmonares expiratórios, o que sugere uma relação entre comprometimento da mobilidade abdominal e as alterações da função respiratória na DP.
O Estudo realizado com 10 indivíduos analisou as medidas da cirtometria que se apresentaram significativamente menores em parkinsonianos comparado com o grau de normalidade, caracterizando acentuada diminuição da sua mobilidade torácica durante a respiração e repercutindo no aumento do trabalho muscular, com consequente diminuição da expansibilidade pulmonar na inspiração e da depressão torácica na expiração. Um tórax rígido e resistente aos movimentos rápidos acarreta a limitação progressiva da ventilação, a fixação postural em flexão e a rigidez da musculatura intercostal o que compromete a mobilidade da caixa torácica (TASCA,2014).
A fraqueza da musculatura expiratória, pode ocasionar redução da PEmáx, menor fluxo expiratório, bem como aumento do volume residual, e redução da efetividade da tosse e voz, possivelmente correlacionados ao agravamento da doença. Os resultados encontrados no estudo de Moreira (2015), mostraram aumento da força muscular respiratória da PIMáx e da PEMáx, entre a avaliação e a reavaliação dos pacientes com Doença de Parkinson.
A rigidez dos músculos torácicos, bradicinesia e tremores são fatores que podem comprometer gravemente a respiração dos pacientes (FRAZAO,2014; GUEDES,2012). N
No presente estudo, as pressões respiratórias máximas diminuíram com a progressão da DP com diferenças representativas no P1, P5 e P6. Esses achados indicam características próprias da DP podem estar envolvidas nesse processo, superando os prejuízos naturalmente ocasionados pelo envelhecimento. Assim, a DP pode contribuir para a diminuição da força muscular respiratória, com progressiva redução da mobilidade da parede torácica e consequentemente a uma redução no volume corrente.
5 CONCLUSÃO
A partir dos resultados do presente estudo, pôde-se verificar que a força muscular respiratória se apresenta diminuída e, consequentemente, a mobilidade torácica também é menor nos portadores da doença de Parkinson, quando comparados com valores pré-determinados para indivíduos hígidos. Salienta-se que a avaliação da função pulmonar é essencial para o diagnóstico, intervenção e acompanhamento de indivíduos com DP.
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¹Acadêmica concluinte do curso de Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário Uniamérica- Descomplica.
²Fisioterapeuta. Doutora em Ciências da saúde pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Reabilitação e Inclusão pelo Instituto Porto Alegre (IPA). Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória e Respiratória pela Associação Brasileira de Fisioterapia (ASSOBRAFIR). Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Uniamérica-Descomplica.
³Computação. Mestre em Enga. de Software. Doutora em Ciências na Enga. da Produção (COPPE/UFRJ). Coordenadora da Componente Curricular Projeto de Conclusão de Curso do Centro Universitário Uniamérica- Descomplica.FILIAÇÃO