AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E MEDO DOS PACIENTES EM RELAÇÃO AO TRATAMENTO ENDODÔNTICO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10221351


HERBETH EMANOEL CAMPOS NETO1
ORIENTADOR: PROFA. ME. DANIELLE CARDOSO ALBUQUERQUE MAIA FREIRE2


Resumo

O medo e a ansiedade são sentimentos ou reações a uma situação desconhecida. Os medos e as fobias vêm em muitas formas, entretanto, as mais conhecidas são as fobias de consultórios e dentistas. Essas aversões podem fazer com que os pacientes desenvolvam altos níveis de ansiedade em momentos que necessitam passar por um procedimento odontológico. Neste contexto, a endodontia é uma das especialidades que mais gera ansiedade ligada ao fenômeno da dor, e também devido aos materiais e técnicas utilizados, podendo se tornar um problema no êxito do tratamento. O presente trabalho objetiva verificar quais os principais fatores que desencadeiam o medo e ansiedade frente o tratamento endodôntico e desta forma, elencar possibilidades de minimizar ou evitar tais transtornos durante o atendimento odontológico. Para essa pesquisa, foi realizado uma busca na literatura sobre o tema. Utilizou-se de artigos publicados em anais e revistas, que descrevessem esses transtornos mediante o tratamento endodôntico. Esses artigos foram acessados nas plataformas de pesquisa: PubMed, Google Acadêmico, Scielo e Scopus. Os resultados encontrados mostraram diversos fatores que desencadeiam esses sentimentos no âmbito odontológico, sendo possível notar também diversas formas para amenizar esses transtornos frente ao tratamento. Portanto, os recursos tecnológicos e a farmacologia são alguns dos principais métodos adotados.

Palavras-chave: Medo. Ansiedade. Endodontia.

ABSTRACT

Fear and anxiety are feelings or reactions to an unknown situation. Fears and phobias come in many forms, however, the most well-known are office and dentist phobies. These aversions can cause patients to develop high levels of anxiety at times when they need to undergo a dental procedure. In this context, endodontics is one of the specialties that most generates anxiety linked to the pain phenomenon, and also due to the materials and techniques used, and can become a problem in the success of the treatment. The present work aims to verify what the main factors that trigger the fear and anxiety in front of endodontic treatment and thus, to list possibilities to minimize or avoid such disorders during dental care. For this research, a literature search was carried out on the subject. It used articles published in annals and journals that described these disorders through endodontic treatment. These articles were accessed on the search platforms: PubMed, Google Academic, Scielo and Scopus. The results found showed various factors that trigger these feelings in the dental field, and it is also possible to note various ways to alleviate these disorders against treatment. Therefore, technological resources and pharmacology are some of the main methods adopted.

Keywords: Fear. Anxiety. Endodontics.

1. INTRODUÇÃO

É importante observar o estado emocional dos pacientes que necessitam passar por um tratamento odontológico, para poder ter conhecimento de como os pacientes vão se comportar frente a um procedimento, tendo em vista que a ansiedade e o medo então constantemente presentes nos consultórios odontológicos (Bartelega et al., 2017). A ansiedade se manifesta diante a uma sensação de que algo ruim possa acontecer, é uma característica biológica do ser humano e pode ser definida como um nervosismo ou angústia que antecede um momento de perigo real ou até mesmo imaginário (Murrer et al., 2014).

Portanto, também é necessário entender a palavra medo, que é uma emoção global e abrange diversas culturas e classes sociais, manifesta-se como insegurança em relação ao que o indivíduo identifica como perigoso, algo que se apresente como um perigo real capaz de ameaçar não só a integridade física, mas também a psicológica do indivíduo (Murrer et al., 2014). Sendo assim, é importante ressaltar que o medo e a ansiedade não são sinônimos, porém, estão fortemente interligados, e que as particularidades de cada emoção devem ser levadas em conta (Marques et al., 2010; Alshoraim et al., 2018).

Durante bastante tempo, a possibilidade de sentir dor frente ao tratamento odontológico continuou sendo a razão do medo e ansiedade, o que levantou muitas questões de como o medo e ansiedade são capazes de afetar não só a saúde oral dos pacientes, bem como o seu bem-estar geral, servindo de causa para inúmeros problemas de saúde pública (Bottan et al., 2015).

Na odontologia, se aprofundando mais especificamente na endodontia, são inúmeros os fatores que pode estar desencadeando esse sentimento de repúdio, o medo e a ansiedade estão constantemente presentes quando se trata de tratamento de canal. Alguns fatores presentes como, sons, cheiros e instrumentais podem explicar a experiência negativa durante o procedimento. Dentre os materiais utilizados no tratamento de canal, como agulhas, seringa, limas, brocas e a turbina de alta rotação, são exemplos de objetos que podem estar relacionados a situações de desconforto. A fase da anestesia, é também constantemente citada como um dos momentos do procedimento que mais causa ansiedade no paciente. (Pereira et al., 2013).

O medo e a ansiedade estão atrelados ao tratamento endodôntico também por conta da necessidade de um procedimento de urgência, ao se ter a necessidade de uma ação rápida do cirurgião dentista para examinar o paciente, e estabelecer o tratamento rápido e adequado para aliviar a sintomatologia dolorosa. Procedimentos traumáticos que poderiam ser evitados, caso houvesse uma procura antecipada pelo tratamento. Muitas vezes, pacientes relatam demorar pela procura ao cirurgião dentista, justamente pelo medo e ansiedade frente ao tratamento, fazendo com que se agrave ainda mais o caso clínico (Murrer et al., 2014).

Apesar dos avanços tecnológicos do tratamento endodôntico, ele continua infelizmente associado ao medo e a ansiedade, por estar ligado a possibilidade de um episódio de dor e por conta disso, esses sentimentos desfavoráveis ainda são constantemente vivenciados. Tendo como relato, pacientes que se mostram cada vez mais inseguros quando necessitam passar por esse procedimento. Frente a isso, esses quadros têm sido um grande obstáculo quando se trata de ter uma prática odontológica efetiva (Alshoraim et al., 2018).

Diante disso, esse trabalho objetiva demonstrar quais os principais fatores que desencadeiam o medo e ansiedade frente o tratamento endodôntico e desta forma, elencar possibilidades de minimizar ou evitar tais transtornos durante o atendimento odontológico.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho trata-se de uma revisão de literatura de caráter narrativo sobre a ansiedade e o medo dos pacientes com a necessidade de passar por um tratamento endodôntico. Foi realizada uma busca em artigos em bases de dados digitais científicos, como: PubMed, Google Acadêmico, Scopus e Scielo. Os termos mais utilizados foram “medo”, “ansiedade”, “endodontia”.

Como critérios de inclusão foram utilizados artigos originais, pesquisas científicas, revisões sistemáticas e meta-análises publicados entre 2003 a 2023, na língua inglesa e portuguesa, que tratassem sobre a ansiedade e o medo frente ao tratamento endodôntico, e os principais manejos que o cirurgião dentista precisa conhecer para atender os pacientes com esses transtornos.

3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Medo e ansiedade perante o tratamento odontológico

Para ser feito um atendimento odontológico eficaz, é de suma importância que o cirurgião dentista seja capaz de compreender o estado emocional do paciente, conhecer os sentimentos de medo e ansiedade. Para evitar que esses sentimentos venham atrapalhar não só o andamento dos procedimentos odontológicos necessários, como também afetar a relação profissional/paciente. Sendo hoje um diferencial clínico ao ter esse conhecimento (Pereira et al., 2013).

No âmbito odontológico, o medo e ansiedade tem se demonstrado como um empecilho quando se trata da prevenção e saúde bucal, fazendo com que os pacientes apresentem oposição à necessidade odontológica, desistindo ou evitando procurar pelo tratamento adequado. Esse distanciamento da procura por atendimento odontológico não prejudica apenas a saúde bucal do paciente, afeta também negativamente a qualidade de vida (Schuller et al., 2003).

 Medeiros et al. (2013) mostram em seu trabalho o momento da anestesia como o principal causador do medo e ansiedade dos pacientes. O preparo cavitário, utilização das brocas na cavidade oral, experiências frustrantes com cárie, cirurgia oral e tratamento endodôntico também são citados como fatores causais. Os instrumentos rotatórios, pinças e sondas, e sensações como a de ouvir o ruído da broca, também são exemplos de momentos propícios a causarem medo e ansiedade nos pacientes (Carvalho et al., 2012).

Importante salientar a falta de informação. Sendo assim, é de fundamental importância que o cirurgião-dentista firme uma comunicação com seu paciente, a fim de explicar todos os pontos do procedimento e sanar qualquer dúvida que surja, afim de minimizar os efeitos desse estado emocional (Bottan et al., 2008).

Mesmo com todos os avanços tecnológicos na área, a odontologia vem tendo que suportar há anos esses sentimentos desfavoráveis, que ainda são constantemente vivenciados. Os sentimentos de medo e ansiedade permanecem sendo um obstáculo na prática odontológica (Carvalho, 2012).

3.2 Medo e ansiedade perante o tratamento endodôntico

A Endodontia, especialmente em relação a materiais e técnicas utilizados, vem apresentando muitos avanços nos últimos anos, proporcionando mais segurança ao cirurgião dentista e maior conforto ao paciente (Veloso et al., 2006).

É comum, pacientes sujeitos ao procedimento endodôntico apontarem medo de sentir dor durante o procedimento, ou medo de ter uma insatisfação ao finalizar o tratamento, caso o resultado seja diferente do esperado (Souza et al., 2012). O tratamento endodôntico ocupa o segundo lugar entre os principais procedimentos que mais causam medo e ansiedade nas pessoas no âmbito odontológico, ficando atrás apenas de exodontias (Khan et al., 2016).

A ansiedade frente o tratamento endodôntico pode variar de um paciente para outro, ou essa ansiedade varia em certos níveis em um mesmo paciente, dependendo do procedimento que seja realizado. Muitas vezes pode estar ligada não só ao procedimento em si, mas também à prática profissional e habilidade técnica do cirurgião-dentista (Bottan et al., 2008)

Em termos de ansiedade relacionada com o tratamento endodôntico, os pacientes continuam a relatar dificuldades com o acesso ao tratamento, o que por vezes requer encaminhamento para Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) ou outros serviços especializados de saúde oral, fazendo com que o tratamento seja mais demorado (Santos, 2018).

No tratamento endodôntico, é importante o reconhecer pacientes com medo e ansiedade, para que o cirurgião-dentista possa conduzir o tratamento de forma adequada, minimizando sensações indesejadas durante o tratamento, fazendo com que se torne um momento confortável para o paciente (Santos, 2018).

3.3 Fatores que geram medo e ansiedade na endodontia

Entre os procedimentos odontológicos que mais causaram ansiedade, o tratamento endodôntico ficou em segundo lugar, por conta da fobia a injeções e agulhas, como exemplo. É interessante também destacar que o tempo em que o paciente aguarda pela consulta na sala de espera, foi a segunda maior causa de ansiedade para os participantes. O que indica a expectativa negativa do paciente em passar por algum procedimento doloroso no consultório odontológico (Prathima et al., 2014).

Carter et al (2015) e Carter et al (2018) discutiram a origem do medo e ansiedade dos pacientes, com base nas experiências anteriores e examinaram as causas em diferentes grupos étnicos. As diversas rotas que compõem a origem da ansiedade nos diferentes trabalhos, revelam a diversidade de fatores e situações que levam ao comportamento ansioso, sendo improvável que exista uma única via ou fator que contribua para as percepções dos pacientes sobre o medo e ansiedade em relação ao tratamento endodôntico. Entretanto, foi mostrado como a desmitificação em relação à dor no consultório odontológico é de extrema importância para o manejo da ansiedade, tendo em vista, que os principais caminhos que levam a tal comportamento decorrem da desinformação, ameaças ou experiências ruins.

A anestesia local, a dor de origem pulpar, e o teste de vitalidade pulpar, estão diretamente ligados a quadros de ansiedade quando se trata de tratamento de canal. O nível de ansiedade demonstrou afetar não apenas a resposta à dor sentida durante o tratamento, mas também a tendência do paciente de recordar a experiência dolorosa até 18 meses após o procedimento (Raoof et al., 2016; Nagarathna et al., 2016).

Essas emoções podem causar alterações autonômicas significativas e também fisiológicas associadas à atividade do sistema nervoso simpático, manifestadas como palidez, palmas das mãos suadas, tremores, dificuldades de comunicação e taquicardia (Nagarathna et al., 2016).

No estudo de Melgaço-Costa et al. (2016) foi avaliado relatos dos pacientes quanto à qualidade do serviço público no Brasil e a relação com a dor e ansiedade vivenciadas, no qual afirmou que os pacientes ficaram satisfeitos com o atendimento prestado pelo serviço público, o que é um ponto positivo quando se trata do combate à ansiedade e medo no tratamento endodôntico.

Embora muitos pacientes avaliem o serviço positivamente, os tratamentos endodônticos continuam sendo amplamente vistos de forma negativa, confirmando o que os estudos de Carter et al. (2015) relataram, que a fonte de pensamentos ansiosos que distorcem a realidade por estar fortemente ligado a experiências traumáticas ou a más informações.

3.4 Medo e ansiedade associado ao sexo, idade e escolaridade

Foi mostrado no estudo de Huh et al. (2015) e Akhavan et al. (2007) que os maiores níveis de ansiedade, médio e alto sempre ocorrem nas idades mais jovens, entretanto, o resultado do estudo de Saatchi et al. (2015) não mostra diferença significativa nos níveis de ansiedade entre os grupos etários. Já o estudo de Prathima et al. (2014) encontrou que os maiores índices de ansiedade estão nos indivíduos com idade entre 18 a 34 anos.

Com relação ao sexo, os resultados de Saatchi et al. (2015), mostraram que as mulheres demonstram níveis de ansiedade mais elevados do que os homens, o mesmo resultado foi encontrado no estudo de Huh et al. (2015); Akhavan et al. (2007) e Prathima et al. (2014). Esta diferença pode ser explicada pelo fato das mulheres serem mais capazes de expressar os seus medos, além disso, fobia social, pânico, depressão, estresse e medo são mais comuns em mulheres, e a ansiedade em relação ao tratamento odontológico pode estar associada a esses sentimentos.

Quanto à influência do nível educacional em relação à ansiedade, o estudo de Akhavan et al. (2007) mostrou que mais educação leva à menor ansiedade no tratamento odontológico, no entanto, Saatchi et al. (2015) mostrou que diferenças no nível de escolaridade não influenciaram o nível de ansiedade, embora pacientes com níveis educacionais mais altos possam ter uma saúde bucal melhor e visitar o dentista regularmente.

3.5 Métodos para redução do medo e ansiedade
3.5.1 Métodos não farmacológicos
3.5.1.1 Abordagem psicológica no manejo do medo e ansiedade

No estudo feito por Kebriaee et al. (2015) foram utilizados alguns métodos psicológicos eficazes que não exigiram uso de nenhum equipamento além do diálogo entre o profissional e paciente. Esse estudo demonstrou que a prática em explicar claramente aos pacientes sobre o tratamento que será realizado é capaz de reduzir seu estado de ansiedade e provocar melhorias em sua cooperação e parâmetros cardiovasculares.

Foi ressaltado que o tratamento endodôntico é uma experiência com grandes variedades de sensações, como vibrações, sons, cheiros e estímulos térmicos, que podem ser gatilhos para lembranças negativas que já tenha vivido no âmbito odontológico. Essa técnica por meio do diálogo leva o paciente a um estado de melhora, modela seus pensamentos e corrige a ideia de como o paciente acredita que seja o tratamento, diminuindo consideravelmente o estado de ansiedade (Kebriaee et al. 2015).

Também no mesmo estudo, foi utilizado a sedação com óxido nitroso em determinado grupo de pesquisa, mas quando comparado com o grupo que foi utilizada a técnica de cognitivo-comportamental, os resultados obtidos foram semelhantes. Sendo assim, distração e modelagem do comportamento do paciente, o manejo baseado em entrevista motivacional, gera um ambiente agradável onde ele se sente participante ativo no processo de tratamento, podendo falar e ser ouvido.

Os trabalhos de Di Nasso et al. (2016) e Babaji et al. (2017) mostraram outros meios não farmacológicos no manejo do medo e ansiedade dos pacientes, como hipnose por dissociação, músicas, uso de manto colorido e algumas camuflagens na seringa, tendo como intuito o uso da hipnose, não para curar o medo e ansiedade, mas sim para suspender o comportamento sintomático durante o tratamento. Especificamente, segundo os autores, esta técnica tem a capacidade de dividir a experiência global em partes, aumentando a consciência em uma parte e diminuindo-a em outras.

Como foi citado também, a música é outro meio capaz de causar um certo distanciamento da realidade, mas não qualquer música. Seria necessário ritmo lento para que induzissem relaxamento físico e emocional nos pacientes. Indivíduos do grupo estudado relataram relaxamento por serem instigados a se distraírem dos ruídos de instrumentos e vozes da equipe. Sendo a música um método interessante para casos mais leves de ansiedade. Já a hipnose e técnicas cognitivo-comportamentais é apropriada para casos de ansiedade moderada a grave (Di Nasso et al., 2016).

Assim como os métodos já relatados no estudo de acima, coloração de jalecos e camuflagem de seringas parecem ser distrações para o público infantil. Embora os estudos de Babaji et al. (2017) não avaliem redução da ansiedade devido ao uso de jaleco colorido e camuflagem de seringa, suas pesquisas mostram que são métodos promissores para obter um resultado positivo.

3.5.1.2 Uso de tecnologia no manejo do medo e ansiedade

Fakhruddin et al. (2015) e Attar et al. (2015) usaram recursos audiovisuais para promover distração, e assim, reduzir a ansiedade com base no princípio comportamental, onde as partes do cérebro que processam estímulos dolorosos são menos ativos quando a pessoa está distraída. O uso de óculos de vídeo, jogos, e filmes levaram a bons resultados na diminuição da ansiedade frente ao tratamento endodôntico. Esses equipamentos devem ser adequados à idade e atraente para o paciente.

É interessante também notar que no estudo com deficientes auditivos, recomenda-se a distração visual com visibilidade total do ambiente, para o paciente estar sempre mantendo contato visual, pois esse público tem facilidade em sentir choque ou alarme repentino ao ser tocado sem o contato visual (Fakhruddin et al., 2016).

Outro método utilizado para a diminuição dos estímulos que causam a ansiedade frente ao tratamento endodôntico, é a utilização de um controle remoto, onde o paciente através desse controle poderia informar ao cirurgião dentista situações de estresse que está passando. Onde ao apertar um botão, poderia informar se está com dor, com saliva acumulada, dor temporomandibular devido à abertura bucal por um tempo prolongado, e até mesmo para obter informações sobre o tempo restante para o procedimento. Sendo um método bastante interessante quando se trata da redução da ansiedade, pois faz o paciente acreditar que tem algum controle em relação ao que acontece durante o tratamento, experimentando assim, menos estresse no ambiente indesejável (Singh et al., 2012).

3.5.2 Métodos farmacológicos

Huh et al. (2015) relataram em seu trabalho o interesse na sedação devido ao medo perante o tratamento endodôntico. Foi visto um alto índice no interesse do paciente pela sedação, já que é evitado qualquer sensação dolorosa. Segundo os autores, fornecer sedação durante o tratamento endodôntico é ideal para diminuir os estímulos que causam a ansiedade, e apenas duas pessoas qualificadas precisam estar presentes, sem ser necessário também uma sala para recuperação para o paciente.

Os trabalhos de Stanley et al. (2012) e Kebriaae et al. (2015) são os únicos que mostram a eficácia da utilização do óxido nitroso no manejo da ansiedade perante o tratamento endodôntico, fazendo uma sedação moderada eficaz para determinadas situações durante o tratamento. Um importante ponto do óxido nitroso é que ele é capaz de atingir tanto receptores opioides, quanto receptores de glutamato para fornecer analgesia. O estudo de Stanley et al. (2012) mostra a preferência pela utilização do óxido nitroso para a sedação oral, devido ao paciente estar livre do efeito sedativo logo quando cessar a administração.

Entretanto, nos estudos de Mittal et al. (2013) e Shanmugaavel et al. (2016), foi mostrado a utilização de outro grupo de drogas sedativas para alcançar um comportamento menos ansioso no paciente durante o tratamento endodôntico. O midazolam foi o medicamento em comum encontrado nos dois trabalhos, sendo possível observar a eficácia do seu uso, a não ser em combinação com profanol e cetamina, onde pode causar efeitos adversos como a depressão respiratória e a dessaturação de oxigênio.

Condições como disfunção temporomandibular, fibromialgia, diversas fobias, incluindo claustrofobia e medo de agulhas podem prejudicar o progresso do tratamento endodôntico, sendo a sedação leve indicada quando os métodos não farmacológicos são insuficientes para o manejo da ansiedade, não alcançando um comportamento e conforto adequado para o paciente (Mittal et al., 2013).

A sedação associada com fármacos pode ser útil para casos mais graves de ansiedade, porém deve-se prestar atenção aos sinais vitais do paciente, especialmente tratando-se de anormalidades pulmonares, cardíacas, hepáticas e renais, que podem alterar a resposta esperada do paciente aos analgésicos e drogas sedativas (Setty et al., 2014).

O trabalho de Shanmugaavel et al. (2016) mostra a importância da presença de profissionais capacitados para poderem reconhecer quando há comprometimento das vias aéreas do paciente durante a sedação para poder intervir e providenciar apoio ventilatório. Para o público infantil, é recomendado que estejam presentes um profissional para acompanhamento do paciente, e outro com treinamento em manejo e sucção de vias aéreas, ventilação bolsa-máscara, acesso vascular e ressuscitação cardiopulmonar, ambos com treinamento em suporte avançado pediátrico.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na revisão e discussão da literatura, foi possível observar que para ser feito um atendimento odontológico eficaz, é de suma importância que o cirurgião dentista seja capaz de compreender o estado emocional do paciente, observando seus medos e ansiedade.

Foi possível concluir que o tratamento endodôntico é um dos principais causadores de ansiedade antes e durante os procedimentos e pode variar de um paciente para outro. Essa ansiedade está presente no público mais jovem, e em pacientes do sexo feminino.

Dentre os métodos não farmacológicos utilizados no manejo do medo e ansiedade, a música foi vista como um método interessante para casos mais leves. A tecnologia também, por meio da distração visual, se mostrou bastante interessante no manejo desses transtornos dos pacientes. Já a hipnose e as técnicas cognitivo-comportamental seriam mais indicadas para casos moderados ou graves.

Já nos métodos farmacológicos, a sedação com óxido nitroso e a administração de midazolam foram apontados como os mais utilizados no controle da ansiedade.

A endodontia segue em constante evolução, buscando métodos menos traumáticos e desta forma trazendo ao paciente mais conforto e previsibilidade.

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HERBETH EMANOEL CAMPOS NETO -Discente do Curso de Odontologia do Centro de Ensino Superior, Faculdade de Ilhéus, Ilhéus – BA; h.neto9912@gmail.com1
DANIELLE CARDOSO ALBUQUERQUE MAIA FREIRE – ²Docente do Curso de Odontologia do Centro de Ensino Superior, Faculdade de Ilhéus, Ilhéus – BA; danitamaia@gmail.com2