AUTOPERCEPÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10184940


¹Pablo Pelle Delpino
²Marizete Arenhart Zuppa
³Josiano Guilherme Puhle


RESUMO

A qualidade de vida é caracterizada pela percepção do indivíduo sobre sua vida, no contexto cultural, sistemas de valores nos quais vive, expectativas, padrões, preocupações, saúde física e mental. Objetivou-se analisar a percepção de saúde e qualidade de vida dos estudantes do ensino médio. Esta pesquisa caracteriza-se como observacional com análise descritiva e quantitativa, utilizou-se o questionário Pentáculo do Bem-Estar, de formato adaptado. Participaram desta pesquisa 35 estudantes do ensino médio de escolas públicas de São Miguel do Oeste/SC. Os resultados foram analisados em cinco blocos: Nutrição, Atividade Física, Comportamento Preventivo, Relacionamento Social e Controle de Estresse. Percebeu-se que na maioria dos blocos, os fatores de frequência raramente e quase sempre, predominam nas respostas. É possível evidenciar níveis de atividade física elevados, sendo um achado positivo para essa população, porém notam-se hábitos alimentares não adequados na maioria das respostas referente ao bloco de nutrição. Conclui-se que se faz necessário a avaliação e educação nutricional para os adolescentes em idade escolar, bem como a orientação sobre a importância da adoção de hábitos saudáveis e adequados referente à comportamentos preventivos, relacionamento social e manejo do estresse.   

Palavras-chave: Expectativas. Comportamento. Saúde. Qualidade de Vida.

ABSTRACT

Quality of life is characterized by the individual’s perception of their life, in the cultural context, value systems in which they live, expectations, standards, concerns, physical and mental health. The objective was to analyze the perception of health and quality of life of high school students. This research is characterized as observational with descriptive and quantitative analysis, using the Pentáculo do Bem-Estar questionnaire, in an adapted format. 35 high school students from public schools in São Miguel do Oeste/SC participated in this research. The results were analyzed in five blocks: Nutrition, Physical Activity, Preventive Behavior, Social Relationships and Stress Control. It was noticed that in most blocks, frequency factors rarely, and almost always, predominate in the responses. It is possible to demonstrate high levels of physical activity, which is a positive finding for this population, but inappropriate eating habits are noted in most responses regarding the nutrition block. It is concluded that nutritional assessment and education for school-age adolescents is necessary, as well as guidance on the importance of adopting healthy and appropriate habits regarding preventive behaviors, social relationships and stress management.

Keywords: Expectations. Behavior. Health. Quality of Life.

1 INTRODUÇÃO

Conciliar o avanço tecnológico e a modernidade dos dias atuais com a adoção de comportamentos direcionados à promoção da saúde é um dos grandes desafios enfrentados pela sociedade contemporânea (GUEDES; ZUPPA, 2018). Evidências disponibilizadas na literatura mostram que as principais causas de morbidades e mortes prematuras estão diretamente relacionadas aos comportamentos de risco modificáveis, como é o caso de hábitos alimentares inadequados, prática insuficiente de atividade física, uso de tabaco e consumo de bebida alcoólica (FERNANDES, LEMOS, 2022).  

A evolução do ser humano na sociedade moderna está estreitamente relacionada ao cuidado com a saúde. Neste contexto, o estado de saúde é influenciado por características individuais e padrões comportamentais chamados de “estilos de vida”, sendo significativamente determinado pelas circunstâncias sociais, econômicas, ambientais, individuais e da comunidade a que o indivíduo pertence (GUEDES; ZUPPA, 2018).

A adolescência é um período crucial para as estratégias de promoção da saúde, pois nesta etapa ocorrem grandes modificações na vida dos indivíduos. Embora esse período seja considerado um dos mais saudáveis do desenvolvimento humano, as taxas de mortalidade por acidentes ou envolvimento em situações de risco à própria saúde são grandes (FERNANDES, LEMOS, 2022).

É nessa etapa que a aquisição de estilos de vida voltados para a saúde pode afirmar-se de maneira definitiva no decorrer do ciclo vital do indivíduo. Da mesma forma, como a adolescência consiste em um período de aprendizagens e experimentação, no qual são fortes as pressões contextuais para o início de práticas pouco saudáveis, os padrões comportamentais voltados para estas práticas podem tornar-se estilos difíceis de modificar posteriormente (RAISER, STECLAN, 2017).

Muito se tem disseminado sobre a importância de um estilo de vida saudável na idade jovem; no entanto, apesar das evidências científicas acumuladas neste sentido, proporção significativa de adolescentes ainda desconsideram os benefícios da prática regular de atividades física, da alimentação equilibrada e da adoção de outros comportamentos relacionados à saúde e ao bem-estar (GUEDES; ZUPPA, 2018).

Devido à importância da adoção de um estilo de vida saudável e a sua relação com a qualidade de vida, o presente estudo possui como objetivo verificar a autopercepção de saúde e qualidade de vida de estudantes do ensino médio de escolas públicas, do município de São Miguel do Oeste – Santa Catarina.

2 METODOLOGIA

2.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA

Participaram desta pesquisa 35 (trinta e cinco) estudantes do ensino médio com idades entre 15 a 18 anos, matriculados em escolas públicas de São Miguel do Oeste/SC, sem distinção de gênero, sexo, cor, crença ou qualquer outro aspecto cultural-social que pudesse constranger ou interferir na coleta de dados.

2.2 ANÁLISE DA AUTOPERCEPÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA

O método de avaliação escolhido foi o Pentáculo do bem-estar (NAHAS, 2000), o mesmo procura medir a nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamento social e o controle de estresse, sendo os pilares para a construção da percepção da qualidade de vida e saúde.

O questionário possui 15 perguntas, divididas em 5 blocos, sendo 3 questões sobre cada um desses tópicos (nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamento social e o controle de estresse). Cada pergunta possui 4 alternativas referente a frequência de realização dos itens solicitados, a saber: 0: nunca, 1: raramente, 2: quase sempre e 3: sempre.

2.3 COLETA DE DADOS

Após aprovação do projeto, foi realizado um contato direto com os diretores, coordenadores ou orientadores de convivência das escolas, explicando o objetivo de estar presente na instituição de ensino e apresentando o objetivo geral do projeto juntamente com a ferramenta de pesquisa aos mesmos.

 Foi solicitado para os gestores da escola encaminharem o link do questionário Pentáculo do bem-estar, aos estudantes. Os mesmos participaram da pesquisa de maneira voluntária e anônima.

O questionário, juntamente com o Termo de Assentimento (TA) e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foram disponibilizados em formato on-line, por meio de um link, onde os estudantes responderam através do Google Formulários.

2.4 ANÁLISE DE DADOS

A presente pesquisa caracterizou-se como sendo um estudo observacional com análise descritiva e natureza quantitativa. Os dados foram analisados estimando a frequência relativa e absoluta.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para cada pergunta foi elaborado um gráfico, esses gráficos foram agrupados em blocos conforme divisão proposta pelo Pentáculo do Bem-estar (NAHAS, 2000), compondo as figuras.

Os dados referentes aos aspectos nutricionais estão dispostos conforme Figura 1.

Figura 1 – Aspectos Nutricionais

As respostas nas questões A e B são predominantes, com 51,4% dos estudantes raramente incluindo ao menos 5 porções diárias de frutas e verduras e evitando alimentos gordurosos em suas refeições, porém 42,9% dos mesmos, quase sempre realizam de 4 a 5 refeições variadas no seu dia. Desta maneira evidencia-se baixa adesão à hábitos alimentares saudáveis pelos estudantes.

Os dados referente ao bloco de atividade física, encontram-se conforme Figura 2.

Figura 2 – Nível de Atividade Física

Neste bloco observa-se na questão D, que 40% dos estudantes realiza ao menos 30 minutos de atividades físicas, 5 ou mais vezes por semana, 42,9% na questão E, referente a realização de duas ou mais atividades de força ou alongamento na semana, tem-se que sempre realizam este tipo de atividade. Já na F, estão divididos entre 37,1% e 40% nas opções quase sempre e sempre no quesito realizar caminhada, pedalada, trocar meios mais cômodos de locomoção por meios que exigem mais, como utilizar escada. Nota-se um nível de atividade física elevado, demonstrando que os estudantes estão se movimentando de maneira coerente.

Os dados referente ao bloco de comportamento preventivo, encontram-se conforme Figura 3.

Figura 3 – Comportamento Preventivo

Na questão G predomina-se o nunca com 28,6% e o raramente com 24%, referente ao conhecimento de sua pressão arterial e níveis de colesterol, procurando cuidar-se. Resultado que se mostra preocupante, pois esses marcadores são essenciais para a manutenção da saúde.

Porém resultados positivos encontram-se na questão H, onde tem-se maiores respostas em nunca com 45,7%, no que diz respeito a fumar e ingerir álcool com moderação. Concomitantemente na questão I, 65,7% sempre usa cinto de segurança e respeita as normas de trânsito.

Os dados referente ao bloco de relacionamento social, encontram-se conforme Figura 4.

Figura 4 – Relacionamento Social

Referente ao relacionamento social, a questão J que diz respeito a cultivar amigos e estar satisfeito com seu relacionamento com os demais, predomina com 54,3% a opção sempre. Porém nas questões K e L temos uma média aproximada de 31,4% respondendo que raramente ou quase sempre, inclui no seu lazer encontro com amigos, encontros em grupos e procura ser útil no seu ambiente social.

Os dados referente ao bloco de controle de estresse, encontram-se conforme Figura 5.

Figura 5 – Controle do Estresse

Fonte: os autores (2023).

54,3% dos estudantes que responderam sempre para a questão M, referindo-se à reservar um tempo, ao menos 5 minutos para relaxar no seu dia. Porém evidencia-se nas questões N e O, respectivamente, 31,4% e 37,1%, raramente ou quase sempre, não se altera durante uma discussão e procura equilibrar o tempo de trabalho/estudo com seu lazer.

Nesse sentido, Musavian e autores (2014) após analisarem os comportamentos de promoção de saúde em adolescentes em idade escolar, destacam que jovens na faixa dos 16 anos possuem predisposição e maior risco para assumirem um estilo de vida menos saudável e perigoso. Dados que denotam coincidência com os resultados de hábitos alimentares referentes ao bloco de nutrição.

Corroborando, Agathão, Reichenheim e De Moraes (2018) comprovam que adolescentes mais velhos, na faixa de 15 a 17 anos, provenientes de escolas públicas e com menor quantidade de bens, apresentaram números de qualidade de vida mais baixos na maioria dos itens, principalmente no que dizia a respeito da autonomia e relacionamento com os pais.

Uma pesquisa realizada por Chaves e Piovezana (2013) com 60 alunos, do ensino médio regular e seriado, com idade entre 16 e 46 anos, de uma escola de Ji-Paraná com objetivo de analisar a qualidade de vida dos alunos do ensino médio através do Pentáculo do bem-estar, com os resultados, observou-se que os alunos têm respostas positivas em relacionamento social e controle do estresse, já nos aspectos nutrição, atividade física e comportamento preventivo, existe grande defasagens.

Ainda, corroborando com os presentes resultados, Torres e autores (2022), evidenciaram comportamentos de promoção da saúde em uma frequência menor que “algumas vezes”, ao passo que também constaram que a valorização da vida apresentou os menores escores, ao passo que a dimensão exercício físico demonstrou os melhores.

Luz e autores (2018), afirmam que os adolescentes concebem a saúde sob a ótica da promoção e proteção, destacando a alimentação saudável como um valor a ser incorporado, tendo em vista o consumo de alimentos ultraprocessados e prontos. Ainda relatam a atividade física como geradora de prazer e bem-estar, e não relacionada à visão do corpo como padrão ideal de beleza. Referente ao uso e abuso de drogas, os adolescentes possuem a percepção de que é um espaço de vulnerabilidade.

            Agregando aos resultados, Alves, Almeida e Fernandes (2017) afirmam que existe um maior número de adolescentes que adota comportamentos benéficos para a sua saúde quando comparados com os adolescentes que recorrem a comportamentos de risco, onde a adoção de comportamentos de saúde em termos da prática de exercício físico, alimentação e consumo de álcool e tabaco promovem diferentes dimensões do autoconceito.

4 CONCLUSÃO

A partir dos resultados coletados, percebeu-se que a maioria dos estudantes, tiveram suas respostas mediadas em grande parte dos fatores entre raramente e quase sempre, percebendo que muitos praticamente não se autoconhecem ou deixam-se levar pelos modos mais fáceis de sobreviver.

Sabe-se que com uma boa nutrição, realização de atividades físicas diárias e bem ordenadas, adoção dos comportamentos preventivos, bom relacionamento social e manejo adequado do estresse cotidiano, reflete-se de maneira positiva no bem-estar e na qualidade e expectativa de vida desses estudantes.

Nesse sentido, o aprofundamento nos estudos sobre a adolescência e suas peculiaridades é fundamental para a compreensão de aspectos relacionados à saúde e qualidade de vida. Esse conhecimento permitirá proporcionar aos adolescentes o incentivo para o seu bem-estar físico e mental, melhor desempenho de suas atividades diárias e maior preparo para a vida adulta.

REFERÊNCIAS

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CHAVES, E. F.; PIOVEZANA, P. Qualidade de vida de estudantes do ensino médio. ACTA Brasileira do Movimento Humano. v.3, n.2, 2013. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/actabrasileira/article/view/2942/2200

FERNANDES, G. N. A., LEMOS, S. M. A. Quality of life and self-perceived health of adolescents in Middle School. CoDAS v.34, n.6, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/codas/a/NjxWG7bdBRgngs6cYQR6kst/?lang=en#

GUEDES, D. P.; ZUPPA, M. A. Propriedades Psicométricas da Versão Brasileira da Adolescent Health Promotion Scale (AHPS). Revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 25, n.6, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/q79s7N4jVphBYfMNQ5dGf6M/?lang=pt#

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¹Acadêmico do Curso de Educação Física, Universidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc, São Miguel do Oeste/SC
²Doutora em Ciências da Reabilitação, Docente do Curso de Educação Física, Universidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc, São Miguel do Oeste/SC
³Mestre em Ciências Biomédicas, Docente do Curso de Educação Física, Universidade do Oeste de Santa Catarina – Unoesc, São Miguel do Oeste/SC.