REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10621653
Karine Vaccaro Tako1, Aline de Jesus Lima2, Mateus Dias Carregosa2, Sofia Cisneiros Alves de Oliveira2, Cecília Mota Pinheiro 2, João Rodrigues Neto2, João Victor Maximo Figueiredo2, Lorenzo Chagas Bernis2, Lucas Rocha Ralin Souto2, Mariana Silva Santana2, Mateus Medeiros Silva2, Matheus de Oliveira Caldas2, Andresa Oliveira Santos3, Luis Felipe Macedo de Moura4, Sarah Rocha Ralin Souto5, Valdemar Silva Almeida6, Rosiane Dantas Pacheco7, Marcia Amelia Barreto de Cerqueira Pereira8, Ronaide Paula dos Santos,8 Belmiro Firmino dos Santos Neto,2 Luciana Simões de Melo9
RESUMO
Sabe-se que automedicação é um problema de saúde pública, visto que pode agravar doenças, causar intoxicações e resistência aos remédios. Entretanto, durante a gravidez essa prática possui um risco maior, pois as medicações afetam tanto a mulher quanto o bebê. Desse modo, diante da importância social dessa temática, o presente artigo versa sobre a automedicação em gestantes no município de Lagarto/SE e, tem como o objetivo específico, conhecer os principais medicamentos utilizados, abordando os fitoterápicos, plantas medicinais e fármacos convencionais; e os classificar de acordo com a FDA. Ademais, a pesquisa não visa a interrupção do uso de medicamentos durante a gestação, mas sim a intervenção medicamentosa prescrita e administrada do modo correto. Realizou-se uma pesquisa de campo, exploratória, do tipo levantamento, com abordagem quantitativa. O estudo visa contribuir para a produção de conhecimento científico sobre essa prática, com o intuito de fornecer subsídios para possíveis ações futuras, especialmente no âmbito da Promoção e da Educação em Saúde.
Palavras-chave: Automedicação. Gravidez. Fármacos. Medicamentos sem prescrição.
1 INTRODUÇÃO
A prática recorrente do uso indiscriminado de medicamentos sem a prescrição ou orientação de um profissional habilitado, diagnóstico prévio ou acompanhamento do seu tratamento terapêutico é a definição fundamental, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), da automedicação. Nesse sentido, pode-se apontar como uma das causas a facilidade de acesso a medicamentos devido ao número elevado de farmácias e drogarias, além de práticas comerciais éticas e legalmente questionáveis cometidas por diversos estabelecimentos (PEREIRA et al. 2008). Além disso, a dificuldade da população em acessar os serviços de saúde, a crença nos benefícios proporcionados pelo medicamento e a necessidade do alívio dos sintomas, contribuem para a realização da prática de automedicação (DOMINGUES et al. 2015).
A utilização de medicamentos de forma errada tanto em dosagem, tempo de utilização ou, até mesmo, da classe do fármaco para aquela patologia e especificidade do paciente, pode acarretar prejuízos à saúde das pessoas e, de modo especial, das que estão em período gestacional.
Várias são as consequências da automedicação, algumas delas são, segundo o Ministério da Saúde (2012), o agravamento de doenças, uma vez que medicamentos podem esconder determinados sintomas, a anulação ou potencialização do efeito de outro fármaco, reações alérgicas, dependência e até a morte. O uso abusivo de antibióticos pode facilitar o aumento da resistência de microrganismos, o que compromete a eficácia dos tratamentos. Entre os riscos mais frequentes para a saúde daqueles que estão habituados a se automedicar estão o perigo de intoxicação e resistência aos remédios.
As gestantes também estão sujeitas aos perigos da automedicação, os quais podem ser maiores, já que vários parâmetros fisiológicos estão sendo alterados no momento. Na gestação, a terapia medicamentosa exige cautela, já que mulheres durante a gravidez não podem ser submetidas aos testes de sensibilidade dos fármacos. Portanto, a utilização de medicamentos por gestantes deve ser considerada um problema de saúde pública, pois existem inúmeras lacunas sobre suas consequências ao feto e à gestante (CARMO; NITRINI, 2004).
A maioria dos fármacos atravessa a placenta e entra em contato com o embrião em desenvolvimento ou o feto. Na gravidez, os medicamentos só devem ser utilizados quando houver um benefício evidente para a mãe ou o feto, o medicamento estiver sendo comercializado há um longo período de tempo e for considerado seguro em relação ao surgimento de efeitos adversos na população exposta. Recomenda-se que, caso não haja dados concretos sobre a utilização de algum medicamento em grávidas, ele não deve ser receitado de nenhuma forma, para proteger o feto (GONTIJO et al. 2015).
Medicamentos associados, prescritos ou não prescritos, a idade gestacional, os efeitos das intercorrências obstétricas que determinaram a prescrição e a necessidade de substituição do fármaco por similares são alguns aspectos que requerem atenção na seleção do medicamento. As peculiaridades biológicas também determinam necessidades de medicamentos, como a suplementação de nutrientes, como o ferro, para assegurar o desenvolvimento fetal (BRUM et al. 2008).
O que se propõe neste trabalho não é a suspensão total dos fármacos por gestantes, muito pelo contrário, propõe-se aqui a intervenção medicamentosa quando for necessário à saúde da pessoa gestante e do feto, visando sempre a proteção contra os riscos maiores ou desnecessários oferecidos por medicamentos não prescritos e/ou administrados de modo incorreto. Para isso, é preciso haver o envolvimento das gestantes em um bom pré-natal, de modo que a intervenção pelo uso de fármacos seja feita de forma racional e aconselhada pelos profissionais da saúde (MELO et al. 2009).
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Automedicação
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (1998), a automedicação é a seleção e uso de medicamentos para tratar doenças ou sintomas sem a prescrição de profissional habilitado, sendo, portanto, uma prática de autocuidado. Nesse sentido, ainda que alguns medicamentos não necessitem de prescrição, o seu uso inadequado pode trazer complicações sérias para o organismo, sobretudo para gestantes, lactantes, pacientes com comorbidades, idosos e crianças (BERHANE et al. 2019).
A prática da automedicação tem origem em diversos fatores, como a dificuldade da população em acessar os serviços de saúde, a crença nos benefícios proporcionados pelo medicamento e a necessidade do alívio dos sintomas (DOMINGUES et al. 2015). Embora possam apresentar riscos à saúde, os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) são mais acessíveis e podem trazer contribuições para a saúde pública desde que sejam usados de maneira adequada. Por isso, os consumidores devem seguir as recomendações da bula, procurar farmacêuticos ou médicos em casos de dúvidas sobre o modo de uso ou possíveis riscos, sobretudo os grupos populacionais mais suscetíveis a efeitos prejudiciais (BRASIL, 2020).
2.2. Automedicação na gravidez
A prática da automedicação na gravidez torna-se ainda mais perigosa, pois, mesmo que o medicamento cause poucos efeitos adversos na mãe, os efeitos no feto podem ser graves, podendo levar ao aborto espontâneo, sobretudo nos dois primeiros meses, visto que os fármacos podem atravessar a placenta, retardar o crescimento e prejudicar a maturação funcional dos órgãos do feto (GOLAN et al. 2014)
De fato, os indivíduos nos extremos do espectro etário são mais vulneráveis aos efeitos tóxicos dos fármacos. Assim, os organismos mais jovens, como o feto, são mais suscetíveis por não terem o desenvolvimento incompleto de alguns órgãos ou pela falta de expressão de algumas proteínas metabolizadoras que irão reagir com as substâncias químicas dos medicamentos. Além disso, há uma relativa escassez de conhecimento acerca dos efeitos teratogênicos dos medicamentos sendo, portanto, necessário diminuir, sempre que possível, o uso de fármacos pelas gestantes, bem como usar preferencialmente aqueles que possuem melhores evidências de segurança para a grávida e o feto (BRUNTON et al. 2012).
Alguns fatores socioeconômicos e psicológicos parecem influenciar nessa problemática. Assim, as mulheres com melhores condições financeiras tendem a ter maior nível de escolaridade e conhecimento sobre os possíveis riscos dos medicamentos sobre o feto, o que diminui a automedicação entre essas gestantes. Por outro lado, mulheres multíparas tendem a se automedicar com maior frequência, por serem mais experientes e terem menos preocupações com os possíveis riscos da automedicação (MIRANDA et al. 2015).
2.2.1. O pré-natal
O contexto de cada gestação é determinante para o seu desenvolvimento bem como para a relação que a mulher e a família estabelecerão com a criança desde as primeiras horas após o nascimento. Assim, a história que cada mulher grávida traz deve ser acolhida integralmente, a partir do relato da gestante e de seus acompanhantes. São também parte desta história os fatos, emoções ou sentimentos percebidos pelos membros da equipe envolvida no pré-natal (SCHIRMER et al. 2000).
Dessa maneira, o objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas. A assistência pré-natal adequada, com a detecção e a intervenção precoce das situações de risco é um dos grandes determinantes dos indicadores de saúde relacionados à mãe e ao bebê que têm o potencial de diminuir as principais causas de mortalidade materna e neonatal (BRASIL, 2013).
2.3. O FDA (FOOD AND DRUG ADMINISTRATIVO)
A FDA é a agência reguladora do U.S. Department of Health and Human Services. Esta é responsável por proteger a saúde pública assegurando a segurança, eficácia e garantia dos fármacos humanos e veterinários, produtos biológicos, aparelhos médicos, suprimento de alimentos da nação, cosméticos e produtos que emitem radiação. Além disso, ele também é responsável pelo progresso da saúde pública ajudando a acelerar as inovações que tornam os medicamentos e alimentos mais eficazes, seguros e acessíveis; ajudar o público a obter informações precisas, necessárias para usar os medicamentos e alimentos na melhoria de sua saúde, baseadas na ciência (BRUNTON, 2012).
O FDA classifica os fármacos em cinco “categorias de gravidez”, com base em dados de estudos realizados em animais de laboratório, observações de estudos epidemiológicos bem controlados (ou a falta deles) e/ou relatos de casos. Essas categorias são apresentadas nas bulas para melhor informação da população e profissionais.
Dessa maneira, os fármacos podem ser classificados nas seguintes categorias:
- Categoria A: nesta está incluso medicamentos que possuem estudos adequados, bem controlados e que não conseguiram demonstrar qualquer risco para o feto no primeiro trimestre de gravidez, além daqueles que não há evidências de risco nos outros dois trimestres.
- Categoria B: é composta por remédios que possuem estudos de reprodução em animais e não conseguiram demonstrar qualquer risco para o feto, porém ainda não foi conduzido nenhum estudo adequado e bem controlado em gestantes.
- Categoria C: essa, por sua vez, tem como integrante os fármacos com estudos de reprodução em animais que demonstraram efeito adverso sobre o feto, e não existem estudos adequados e bem controlados nos seres humanos; entretanto, os benefícios potenciais podem justificar o uso do fármaco em gestantes, apesar dos riscos potenciais.
- Categoria D: esta inclui medicamentos com evidências positivas de risco para o feto humano com base em dados de reações adversas provenientes de estudos de investigação e de pesquisa pós- comercialização, ou de experiência em humanos, porém os benefícios potenciais podem justificar o uso do fármaco em gestantes, apesar dos riscos.
- Categoria X: por fim, esta é composta por substâncias com estudos realizados em animais ou seres humanos que demonstraram a ocorrência de anormalidades fetais e/ou há evidências positivas de risco para o feto humano, com base em dados de reações adversas de experiências de pesquisa ou pós-comercialização. Assim, os riscos envolvidos no uso do fármaco em gestantes claramente superam os benefícios potenciais. Ademais, nessa categoria inclui não apenas os teratógenos, mas também os medicamentos cujo uso não é apropriado em gestantes.
3 METODOLOGIA
Realizou-se uma pesquisa de campo, exploratória, do tipo levantamento, com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Lagarto-SE: a UBS Josefa Barbosa dos Reis Romão e a Clínica de Saúde da Família José Maroto.
A população estudada foi composta por mulheres, em período gestacional, cadastradas na Secretaria Municipal de Saúde de Lagarto, usuárias das Unidades de Saúde mencionadas. Durante a pesquisa, haviam 810 mulheres gestantes cadastradas, segundo informações da área técnica da Saúde da Mulher, da Secretaria de Saúde do município de Lagarto-SE (mês de março/2021). Como amostra de estudo, entrevistou-se 81 gestantes, o que corresponde a 10% da população deste estudo. Como critérios de inclusão, apenas gestantes acima de 18 anos, com 0 a 40 semanas de gestação e que aceitaram participar da pesquisa por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram entrevistadas.
Os dados foram coletados por meio de um questionário estruturado, elaborado originalmente pelos próprios pesquisadores, com perguntas abertas e fechadas com dados sobre: o perfil sociodemográfico e epidemiológico de cada gestante, o uso de quaisquer medicamento antes e após a gestação, a frequência em que esses medicamentos eram usados, a prática da automedicação, acerca do pré-natal e sobre o conhecimento que as gestantes tinham sobre os possíveis efeitos do uso de tais medicamentos na gestação.
Todos os dados coletados nas entrevistas foram inseridos em um banco de dados elaborado no Programa Excel da Microsoft Windows versão online e, em seguida, importados para o software Jamovi (versão 2.3.13) em que os dados foram analisados estatisticamente. E, por fim, os medicamentos foram categorizados na classificação de risco para uso na gestação, segundo critérios da agência norte-americana, Food and Drug Administration (FDA). Para isso foi utilizado como referência a Resolução – RDC no 60, de 17 de dezembro de 2010 da Anvisa.
O processo de levantamento dos dados com a aplicação do questionário deu-se nos horários de atendimento às gestantes nessas unidades básicas, momento em que elas estavam realizando suas consultas de pré-natal. Esses momentos aconteceram especialmente às terças de manhã, terças de tarde, quartas de manhã e quartas de tarde. Percebeu-se bastante simpatia e disposição das gestantes na realização da entrevista e muitas demonstraram curiosidade ao final em saber quais medicamentos afetam e não afetam seus bebês. Foi aconselhado que elas buscassem informações com os profissionais da unidade.
Os medicamentos foram categorizados na classificação de risco para uso na gestação, segundo critérios da agência norte-americana, Food and Drug Administration (FDA). Para isso usou-se como referência a Resolução – RDC no 60 (ANVISA, 2010).
A respeito do levantamento do referencial teórico, foi realizada uma pesquisa nas bases de dados Periódicos Capes, PubMed, Scielo, Lilacs e Google Acadêmico, utilizando os descritores retirados do MeSH: Self Medication AND Pregnant Women AND Prenatal Education. Os artigos científicos foram submetidos aos critérios de inclusão: artigos em inglês, espanhol e português, publicados nos últimos 15 anos, priorizando estudos originais e sistemáticos. Os critérios de exclusão foram: artigos duplicados, em resumo, e que não atendiam a proposta após a leitura de títulos e resumo.
Assim, foram encontrados 50 estudos científicos publicados nos períodos de 2011 a 2021, condizentes com o tema proposto, estudos do tipo revisão sistemática, ensaios clínicos, estudo de coorte e estudos longitudinais e disponibilizados na íntegra. Destes, 30 foram selecionados para a realização da leitura e extração das informações necessárias para o tema. Foram submetidos à leitura para a coleta de dados. Os resultados foram apresentados de modo descritivo, divididos em categorias abordando os objetivos propostos.
Inicialmente, a pesquisa foi desenvolvida para conhecer o fenômeno da automedicação entre as gestantes no município de Lagarto, sobretudo, no que diz respeito a magnitude dessa prática e quais fatores influenciam no agravamento do problema. Contudo, além dessa expectativa, a pesquisa também atingiu o objetivo de contribuir com a produção de conhecimento científico sobre o problema e auxiliar em possíveis ações futuras sobre o tema, como Ações de Promoção e Educação em Saúde, abordando os temas pesquisados.
A pesquisa desenvolve-se segundo a Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, sendo preenchido para coleta de dados, a assinatura, em duas vias, do TCLE.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Brasil, de setembro de 2013 a fevereiro de 2014, a prevalência estimada de automedicação foi de 16,1% e está mais associada ao sexo feminino e à região Nordeste. Além disso, 65,5% dos medicamentos usados por automedicação foram classificados como isentos de prescrição (ARRAIS et al. 2016). Por outro lado, o que torna essa realidade ainda mais preocupante é que a escolha de tais medicamentos é baseada principalmente na recomendação por pessoas leigas e prescrições anteriores (CARVALHO, 1997).
Outrossim, a automedicação é realizada, principalmente, para amenizar os sintomas e não para tratar a causa do problema. Dessa forma, consequências mais graves podem ocorrer, pois com o mascaramento dos sintomas, o indivíduo não percebe que a doença está evoluindo e, consequentemente, agrava mais a saúde.
A prática da automedicação tem origem em diversos fatores, como a dificuldade da população em acessar os serviços de saúde, a crença nos benefícios proporcionados pelo medicamento e a necessidade do alívio dos sintomas (DOMINGUES et al. 2015). Embora possam apresentar riscos à saúde, os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) são mais acessíveis e podem trazer contribuições para a saúde pública desde que sejam usados de maneira adequada. Por isso, os consumidores devem seguir as recomendações da bula, procurar farmacêuticos ou médicos em casos de dúvidas sobre o modo de uso ou possíveis riscos, sobretudo os grupos populacionais mais suscetíveis a efeitos prejudiciais (BRASIL, 2020).
O período gestacional promove diversas alterações, fisiológicas ou não, no organismo, as quais favorecem o uso de medicamentos pelas gestantes (MARQUES; SILVA. 2019). No entanto, a prática da automedicação na gravidez torna-se ainda mais perigosa, pois, mesmo que o medicamento cause poucos efeitos adversos na mãe, os efeitos no feto podem ser graves, podendo levar ao aborto espontâneo, sobretudo nos dois primeiros meses, visto que os fármacos podem atravessar a placenta, retardar o crescimento e prejudicar a maturação funcional dos órgãos do feto (GOLAN et al. 2014).
De fato, os indivíduos nos extremos do espectro etário são mais vulneráveis aos efeitos tóxicos dos fármacos. Assim, os organismos mais jovens, como o feto, são mais suscetíveis por não terem o desenvolvimento incompleto de alguns órgãos ou pela falta de expressão de algumas proteínas metabolizadoras que irão reagir com as substâncias químicas dos medicamentos. Além disso, há uma relativa escassez de conhecimento acerca dos efeitos teratogênicos dos medicamentos sendo, portanto, necessário diminuir, sempre que possível, o uso de fármacos pelas gestantes, bem como usar preferencialmente aqueles que possuem melhores evidências de segurança para a grávida e o feto (BRUNTON et al. 2012).
Na Europa, entre 1957 e 1958, a talidomida foi introduzida como um medicamento útil durante a gravidez. Entretanto, relatos e estudos epidemiológicos forneceram fortes evidências de que esse remédio estava associado a um raro defeito de nascença, a focomelia, anomalia que afetava a formação dos membros, o que levou a retirada desse fármaco em todo o mundo. Apesar de seus efeitos tóxicos na gravidez, a talidomida é relativamente segura para os humanos, exceto para o feto (TREVOR et al. 2017).
No Brasil, a automedicação mostra-se presente em 1,1% a 64,9% das mulheres em gestação (BRAGA et al. 2021). Ademais, muitas gestantes consomem medicamentos por contra própria para tratar sintomas comuns da gravidez, além de tal prática ser mais frequente antes do início do pré-natal (MARQUES; SILVA. 2019). Como consequência, cerca de 3% das anomalias congênitas derivam da automedicação no período gravídico (MOHSENI et al. 2018).
Alguns fatores socioeconômicos e psicológicos parecem influenciar nessa problemática. Assim, as mulheres com melhores condições financeiras tendem a ter maior nível de escolaridade e conhecimento sobre os possíveis riscos dos medicamentos sobre o feto, o que diminui a automedicação entre essas gestantes. Por outro lado, mulheres multíparas tendem a se automedicar com maior frequência, por serem mais experientes e terem menos preocupações com os possíveis riscos da automedicação (MIRANDA et al. 2015).
Aqui será abordado o resultado das 81 gestantes entrevistadas, mesmo que nesse plano a responsabilidade era de metade da amostra, visto que os dados foram reunidos e avaliados aleatoriamente, independente do pesquisador envolvido na coleta. Assim, esta pesquisa contou com a contribuição de 81 gestantes ao todo, nas quais houve uma predominância de mulheres de 23 a 26 anos (25,9%), pardas (61,7%), solteiras (34,6%), com ensino médio completo (34,6%), renda mensal familiar menor que meio salário mínimo (41,9%), idade gestacional no 3º trimestre (58%), sem gestações anteriores (30,9%), sem partos anteriores (37%), sem abortos (72,8%), sem filhos (37%) e apresenta algum tipo de doença (70%) (Tabela 1).
Tabela 1 – Características sociodemográficas
Variáveis | N (%) |
Idade | |
18 – 22 | 17 (20,9) |
23 – 26 | 21 (25,9) |
27 – 30 | 16 (19,7) |
31 – 34 | 15 (18,5) |
≥ 35 | 12 (14,8) |
Etnia | |
Parda | 50 (61,7) |
Preta | 15 (18,5) |
Branca | 12 (14,8) |
Indígena | 3 (3,7) |
Amarela | 1 (1,2) |
Estado civil | |
Solteira | 28 (34,6) |
Casada | 26 (32,1) |
União estável | 25 (30,9) |
Viúva | 1 (1,2) |
Não informou | 1 (1,2) |
Escolaridade | |
Analfabeta | 4 (4,9) |
Ensino Fundamental incompleto | 21 (25,9) |
Ensino Fundamental completo | 11 (13,6) |
Ensino médio incompleto | 8 (9,9) |
Ensino médio completo | 28 (34,6) |
Ensino superior incompleto | 4 (4,9) |
Ensino superior completo | 5 (6,2) |
Renda familiar mensal* | |
≤0,5 | 34 (41,9) |
>0,5 e ≤ 1 | 31 (38,3) |
>1 e ≤ 2 | 9 (11,1) |
> 2 e ≤ 3 | 4 (4,9) |
> 3 e ≤ 5 | 2 (2,5) |
> 5 | 1 (1,2) |
Idade gestacional | |
1 ° trimestre | 13 (16) |
2° trimestre | 21 (26) |
3° trimestre | 47 (58) |
Gestações anteriores | |
0 | 25 (30,9) |
1 | 24 (29,6) |
2 | 16 (19,8) |
≥3 | 16 (19,8) |
Número de partos | |
0 | 30 (37) |
1 | 27 (33,3) |
2 | 14 (17,3) |
3 | 10 (12,3) |
≥3 | |
Número de abortos | |
0 | 59 (72,8) |
1 | 15 (18,5) |
2 | 7 (8,6) |
Número de filhos | |
0 | 30 (37) |
1 | 25 (30,9) |
2 | 15 (18,5) |
≥3 | 10 (12,3) |
Filhos mortos | 1 (1,2) |
Doenças | |
Sim | 57 (70) |
Não | 24 (30) |
*em salário mínimos
Dentre todas as entrevistadas, 32 (39,5%) gestantes se automedicaram (sem prescrição) e 38 (46,9%) gestantes fizeram o uso de medicamentos com prescrição. Ademais, 11 (13,6%) gestantes não utilizaram medicamentos, sendo que 8 dessas afirmaram que usariam algum medicamento ou planta caso sentissem necessidade futuramente (3 fariam esse uso com aconselhamento médico e 5 fariam automedicação), 2 afirmaram que não usariam de forma alguma e 1 relatou que talvez usaria dependendo do medicamento/planta medicinal. Entre as que realizavam a automedicação, 22 (68,7%) das gestantes usavam esses medicamentos pelo menos 1 vez na semana, sendo que 8 (25%) delas usavam diariamente. Além disso, 24 (75%) das gestantes que se automedicaram nunca leram a bula antes de usar, 2 (6,3%) delas disseram sempre ler a bula e 6 (18,7%) afirmaram que às vezes leem a bula. Com relação ao período pré-gestacional, foi analisado que 65 (80,2%) usavam medicamentos durante a gestação e 30 destas afirmaram não ter procurado um profissional para saber se o medicamento em uso era seguro para a gravidez e 33 relataram ter procurado um profissional para saber se o medicamento era seguro na gravidez, as outras 2 não responderam essa pergunta. Das 30 que não procuraram o profissional, 16 continuaram com o medicamento (paracetamol, cloridrato de fexofenadina, dipirona, alprazolam, furosemida, losartana, insulina, sinvastatina, venlafaxina, levonorgestrel + etinilestradiol, maleato de dexclorfeniramina, e cloridrato de prometazina) e 14 pararam de usar o medicamento após engravidarem.
Tabela (2) de medicamentos sem prescrição utilizados no período gestacional
Medicamento | N (%) | 1º trimestre | 2º trimestre | 3º trimestre | Classificação FDA |
Dipirona | 8 (19,5) | 7 | 3 | 3 | C |
Paracetamol | 8 (19,5) | 7 | 6 | 5 | B/D* |
Domperidona | 2 (4,8) | 2 | 1 | – | C |
Dimenidrinato | 3 (7,3) | 3 | 3 | 2 | B |
Azitromicina | 1 (2,4) | – | – | – | B |
Ivermectina | 2 (4,8) | 1 | – | – | – |
Ibuprofeno | 2 (4,8) | 2 | 1 | 1 | B/D** |
Bisacodil | 1 (2,4) | 1 | 1 | 1 | – |
Hidróxido de alumínio | 1 (2,4) | – | – | – | C |
Simeticona | 1 (2,4) | 1 | 1 | 1 | C |
Maleato de dexclorfeniramina | 1 (2,4) | 1 | 1 | 1 | – |
Ondansetrona | 1 (2,4) | – | – | – | C |
Omeprazol | 1 (2,4) | 1 | – | – | C |
Ácido acetilsalicílico | 2 (4,8) | 2 | – | – | D |
Cefalexina | 1 (2,4) | 1 | 1 | 1 | B |
Amoxicilina | 1 (2,4) | 1 | 1 | 1 | B |
Prednisolona | 3 (7,3) | 2 | – | – | C/D*** |
Não soube informar | 2 (4,8) | 2 | 1 | 1 | – |
D*: se usado em altas doses
D**: se usado no terceiro trimestre
D***: se usado no primeiro trimestre
Durante a gestação, os princípios ativos mais utilizados pelas entrevistadas por meio da automedicação foram a dipirona e o paracetamol (19,5% cada um), seguidos por dimenidrinato (7,3%), prednisolona (7,3%), domperidona (4,8%), ivermectina (4,8%), ibuprofeno, ácido acetilsalicílico (4,8%), cefalexina (2,4%), azitromicina (2,4%), bisacodil (2,4%), hidróxido de alumínio (2,4%), simeticona (2,4%), maleato de dexclorfeniramina (2,4%), ondansetrona (2,4%), omeprazol (2,4%), cefalexina (2,4%), amoxicilina (2,4%), enquanto isso, 4,8% das gestantes não soube informar o medicamento utilizado (Tabela 2).
De modo mais geral, a classificação dos fármacos para gravidez pela FDA, como qualquer outro esquema, não é perfeita e pode não identificar problemas em algumas situações relacionadas especificamente com o fármaco e a paciente. Por esse motivo, o médico também deve recorrer a seu próprio julgamento (GOLAN, 2014). Distribuindo os fármacos quanto à classificação de risco da FDA (Food And Drug Administration), tem-se que a maioria dos medicamentos (38,8%) estão na classificação de risco B. Além disso, 36,3% dos fármacos usados então na classificação de risco C. Enquanto isso, 9,6% das gestantes utilizaram medicamentos da classe D.
Com relação ao uso de plantas medicinais durante o período gestacional, 50 (61,7%) das gestantes afirmaram não terem utilizado plantas durante a gestação. Enquanto que 31(38,3%) relataram o uso de alguma planta medicinal na gestação. Dessas, 3 (3,7% do total) afirmaram o uso da planta com prescrição médica, enquanto que 28 (34,5% do total) afirmaram ter usado sem prescrição. Ademais, 20 (71,4%) entrevistadas relataram fazer o uso da planta pelo menos uma vez na semana, enquanto que 7 (25%) usaram pelo menos uma vez no mês e apenas 1 (3,6%) usou uma vez no trimestre.
Uma observação importante é que das 49 gestantes que não fizeram automedicação por medicamentos convencionais (ou não utilizaram ou utilizaram com prescrição), 17 fizeram automedicação com plantas medicinais. Mas quando se considera apenas os convencionais foram 32 gestantes, como citado acima.
Em relação ao fundamento pelo qual realizaram a automedicação, 18 (42,9%) gestantes afirmaram que realizaram a automedicação por ter conhecimento próprio sobre o uso do medicamento ou planta. Enquanto que 9 afirmaram utilizar por opinião de outras pessoas leigas, outras 9 por conhecimentos populares, 5 usaram com base em receitas anteriores e apenas 1 por influência da mídia.
Tabela 3 – No que as entrevistadas se baseavam para realizar a automedicação
Fundamento da automedicação | N (%) |
Por conhecimento próprio | 18 (42,9) |
Opinião de pessoas leigas (amigos, familiares, entre outros) | 9 (21,4) |
Conhecimentos populares | 9 (21,4) |
Receitas anteriores | 5 (11,9) |
Influência da mídia | 1 (2,4) |
Durante o período gestacional, há a presença de diversas mudanças físicas e emocionais, o contexto de cada gestação é determinante para o seu desenvolvimento bem como para a relação que a mulher e a família estabelecerão com a criança desde as primeiras horas após o nascimento. Assim, a história que cada mulher grávida traz deve ser acolhida integralmente, a partir do relato da gestante e de seus acompanhantes. São também parte desta história os fatos, emoções ou sentimentos percebidos pelos membros da equipe envolvida no pré-natal (SCHIRMER et al. 2000).
Dessa maneira, o objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas. A assistência pré-natal adequada, com a detecção e a intervenção precoce das situações de risco é um dos grandes determinantes dos indicadores de saúde relacionados à mãe e ao bebê que têm o potencial de diminuir as principais causas de mortalidade materna e neonatal (BRASIL, 2013).
No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio da instituição do Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN), estabelece diretrizes para o acompanhamento do pré-natal, garantindo a qualidade da assistência prestada às gestantes atendidas na rede pública de atenção. Dessa forma, o PHPN recomenda a realização de no mínimo seis consultas de pré-natal para uma gestação a termo, com início do acompanhamento ainda no primeiro trimestre da gestação, além de recomendar a realização de exames laboratoriais e clínico-obstétricos somados às orientações sobre aleitamento materno (POLGLIANE et al. 2014).
A Unidade Básica de Saúde (UBS) deve ser a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde. É o ponto de atenção estratégico para melhor acolher suas necessidades, inclusive proporcionando um acompanhamento longitudinal e continuado, principalmente durante a gravidez. Dessa maneira, a assistência pré-natal deve ser organizada para atender às reais necessidades da população de gestantes, mediante a utilização dos conhecimentos técnico-científicos existentes e dos meios e recursos disponíveis mais adequados para cada caso (BRASIL, 2013).
Em se tratando da assiduidade do pré-natal dessas gestantes, 72 (88,9%) das entrevistadas possuíam consultas regulares, 8 (9,9%) irregulares e 1 (1,2) estavam iniciando o pré-natal no dia da entrevista (ainda estava no 1° trimestre). Ao serem questionadas se receberam aconselhamento dos profissionais com relação aos riscos dos medicamentos na gestação: 28 (34,6%) negaram terem recebido e 53 (65,4%) afirmaram terem recebido.
Sobre a prescrição de medicamentos convencionais ou plantas medicinais para o bom desenvolvimento do feto pelos profissionais das unidades, apenas 4 (4,9%) afirmaram não terem recebido alguma prescrição e 77 (95,1%) disseram que receberam prescrição.
Em relação às crenças dessas mães em relação aos potenciais riscos dos medicamentos convencionais na gestação, foi visto que a maioria (35 das entrevistadas, o que corresponde à 43,2%) acredita que os medicamentos trazem risco para a mãe e para o bebê. Já 19 (23,5%), das entrevistadas acreditam que os medicamentos unicamente fazem mal ao bebê e 4 (4,9%), afirmam que só fazem mal à mãe. Preocupantemente, 23 (28,4%), acreditam que os medicamentos não fazem mal nem à mãe, nem ao bebê.
Tabela 4 – Crenças das entrevistadas sobre os potenciais malefícios dos medicamentos convencionais.
Crença | N (%) |
Sim, para ambos | 35 (43,2) |
Sim, apenas para o bebê | 19 (23,5) |
Sim, apenas para a mãe | 4 (4,9) |
Não, nenhum | 23 (28,4) |
Em se tratando dos potenciais riscos das plantas medicinais, houve um empate, em que 27 (33,3%) das gestantes acreditavam que havia malefícios para mãe e para o bebê e outras 27 (33,3%) acreditavam que não existia malefícios para nenhum dos dois. Ao contrário, outras 23 (28,4%) acreditavam que o malefício era unicamente para o bebê e 4 (4,9%) afirmaram que o malefício era único para a mãe.
Ao comparar os achados deste trabalho com outros estudos na mesma área, percebe-se que Zampirolli et al. (2017), encontrou que a idade entre as gestantes entrevistadas variou de 14 a 43 anos, com uma média de 25,1 anos, semelhante ao atual estudo. No quesito escolaridade, a grande maioria mostrou ser alfabetizada, totalizando 99,1%; apenas 0,8% afirmou ser analfabeta. Dentre as alfabetizadas, 37,4% das gestantes possuíam ensino médio completo, resultado semelhante ao encontrado nesta pesquisa. Vale destacar que apenas 10,4% destas apresentavam mais de 11 anos de estudos.
Sobre seus respectivos salários, 48,7% recebiam até um salário mínimo mensal e 48,6% recebiam entre um a sete salários, sendo que dessas 41,7% recebiam de um a três salários mínimos, valores superiores aos encontrados nesta pesquisa. 19,1% das gestantes encontravam-se no primeiro trimestre de gravidez, 35,7% estavam no segundo trimestre e 44,3% apresentavam-se no terceiro trimestre (ZAMPIROLLI et al.2017).
Já Brum et al. (2011) encontrou que das 100 gestantes que participaram do estudo, 56% tinham até 25 anos de idade, 88% eram casadas ou tinham união estável, 68% tinham renda familiar mensal média de R$ 600,00. Com relação ao histórico obstétrico, 46% estavam grávidas do primeiro filho. Quanto à idade gestacional, 51% das gestantes encontravam-se no terceiro trimestre. Do total de gestantes entrevistadas, dez eram portadoras de doença crônica antes da gestação.
Santos et al. (2020) percebeu que 53,9% das gestantes entrevistadas relataram automedicação, e quanto à classificação FDA de risco, houve maior prevalência da Categoria C com 53,3% dos medicamentos. Os AINES foram os medicamentos mais citados, os quais podem afetar a fertilidade e aumentar o risco de perda precoce da gravidez. No terceiro trimestre, são geralmente evitados por causa de riscos fetais significativos, como lesão renal, oligoâmnios, constrição do ducto arterioso (com potencial para hipertensão pulmonar persistente no recém-nascido), enterocolite necrosante e hemorragia intracraniana.
Já Baraldo e Hayakawa (2016) encontraram que todas as participantes da investigação (28), afirmaram ter feito uso da automedicação no decorrer da gravidez, sendo os anti-inflamatórios (67.8%), os analgésicos/antitérmicos (19%) e os xaropes (19%) os grupos farmacológicos mais utilizados. Quando a atitude para aquisição e uso de medicamentos, a maioria das gestantes afirmou ter sido aconselhada por familiares e/ou amigos. Também afirmaram embasar-se em prescrições médicas antigas (receitas médicas da própria gestante ou de amigos/familiares).
Dez gestantes (35,7% das participantes da pesquisa) afirmaram fazer uso do medicamento “por saber que é bom” e/ou “por saber que funciona”. Quanto ao tempo de uso das medicações, 21.4% das gestantes participantes do estudo afirmaram ter feito uso por apenas um dia, outras 21.4% por dois dias, 35.7% de três a cinco dias e 21.4% por mais de cinco dias. Quando perguntado se seguiram as instruções existentes na bula para fazer o uso do medicamento, 16 gestantes (57,1%) disseram que não (BARALDO; HAYAKAWA. 2016).
Em outro trabalho, Santos et al. (2017) percebeu que segundo 6,1% das gestantes a indicação partiu da mãe para o uso do medicamento e as demais tomaram por decisão pessoal (94,9%). A utilização de plantas medicinais foi afirmada por 56 (70,0%) gestantes, dentre elas, 14 (25,0%) utilizaram “erva-cidreira” (Lippia alba), 10 (17,5%) “erva-doce” (Pimpinella anisum), 9 (16%) “capim-santo” (Cymbopogon citratus), 8 (14,5%) “boldo” (Peumus boldus) seguidos por 8 (14,5%) “camomila” (Matricaria recutita/Chamomilla recutita), e 7 (12%) “hortelã- da-folha-miúda” (Mentha spp).
Lutz et al. (2020) levantou uma alta prevalência de uso de medicamentos (92,5%). A prevalência de automedicação foi de 27,7%. As mulheres que tiveram três ou mais problemas de saúde demonstraram maior uso de medicamentos. A automedicação foi maior em grupos de baixa renda, entre fumantes e mulheres multíparas. Paracetamol, escopolamina e dimenidrinato foram os medicamentos mais usados.
Guerra et al. (2008) associou que um dos aspectos associado à frequência de utilização de medicamentos de forma geral, incluindo os medicamentos prescritos e não prescritos, foi a assistência pré-natal, uma vez que o uso foi maior entre aquelas que iniciaram o pré-natal mais cedo (no primeiro trimestre) e que tiveram maior número de consultas. A correlação de maior significância estatística foi observada em relação ao trimestre de início do pré-natal, uma vez que o uso de medicamentos durante a gravidez foi referido por 88,9% das mulheres que o fizeram no primeiro trimestre, por 85,6% das mulheres que iniciaram no segundo e por 68% daquelas que iniciaram no terceiro.
Araújo et al. (2013) entendeu que 11,5% das pacientes desconheciam o risco do uso da automedicação na gestação. Esse resultado pode ser comparado ao de Melo et al (2009), com 205 gestantes de um serviço de pré-natal do Sistema Único de Saúde (SUS), que observou que 19,5% das mulheres nunca receberam informações sobre os riscos de alguns medicamentos usados durante a gravidez.
Uma limitação percebida nesta pesquisa foi a falta de especificidade das doenças apresentadas pela gestante, em que a amostra apresentou dados relevantes da quantidade de doentes (mais de 50%), mas eram doenças genéricas como “Dores de cabeça constantes” ou “Ansiedade”, sem ao certo ter o diagnóstico firmado por profissionais da saúde em sua totalidade.
5 CONCLUSÃO
Durante a pesquisa, foi encontrada uma prevalência de automedicação nas gestantes do município de Lagarto e os fatores a que ela está relacionada. Dessa forma, entender essa prática de automedicação é de extrema importância para traçar estratégias de saúde pública para as gestantes, entendendo as nuances que levam esse público a realizar uma prática tão perigosa. Dentre os fatores de risco, pode-se elencar o baixo conhecimento sobre os possíveis riscos e o perfil sócio-demográfico dessas gestantes que podem influenciar no agravamento dessa problemática. Nesse viés, percebeu-se uma situação socioeconômica desfavorável nas gestantes que realizavam a prática da automedicação, o que as torna vulneráveis, com predominância de uma renda muito baixa (menor que meio salário mínimo) e baixos níveis de instrução. Com predominância, também, de mulheres jovens (23- 26 anos), pardas, solteiras e que se encontravam na primeira gestação.
Em geral, encontrou-se um percentual alto do uso da automedicação tanto antes da gestação e durante a gestação, com domínio do uso da dipirona e do paracetamol por essas gestantes. Medicamentos que, junto a outros, estão na classificação de risco da FDA nas classes B, C e, em minoria, D. Ademais, um ponto a ser levado em consideração é a prevalência da prática da automedicação no primeiro trimestre da gestação o que aumenta os riscos para o feto. Esses dados são importantes para nortear gestores e possíveis políticas públicas.
Outro ponto interessante, é que a maioria das gestantes afirmou ter feito o uso da automedicação por ter “conhecimento próprio” sobre o medicamento, mas, ao mesmo tempo um altíssimo número de gestantes acredita que esses momentos medicamentos não fariam mal nem a elas, nem aos seus bebês, sendo necessário aumentar as orientação pelos serviços de saúde, apesar de sua maioria ter sim consultas do pré-natal regulares e terem recebido orientação dos profissionais quanto aos riscos dos medicamentos. Logo, considera-se que o problema trazido por esta pesquisa é sim relevante e que pode impactar significativamente na vida de muitas mulheres e seus filhos e percebe-se que são necessárias intervenções para prevenir e impedir o agravamento dessa situação no município de Lagarto.
Infere-se, portanto, que sem a devida orientação dos profissionais de saúde, as gestantes fazem a automedicação pelos sintomas que sentem, sem levar em consideração a causa desses sintomas, ou seja, muitas vezes, não estão tratando a doença e, consequentemente, estão colocando em risco a própria vida e a do feto.
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1Docente Associada, Departamento de Educação em Saúde da Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto. E-mail: karinetako@hotmail.com.
2Discente, Departamento de Medicina, Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto.
3Discente, Departamento de Odontologia, Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto.
4Discente, Departamento de Farmácia, Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto.
5Discente, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto.
6Discente, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto.
7Docente Adjunta, Departamento de Educação em Saúde da Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto.
8Nutricionista, Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto.
9Docente, Departamento de Medicina, Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto