AUTOCONHECIMENTO: A COMPREENSÃO E O OLHAR PROFUNDO E CONSCIENTE SOBRE SI MESMO ATRAVÉS DO PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11002750


Louise Priscila de Campos Costa de Ávila
Orientadora: Sílvia Cristina de Vargas Ollé


RESUMO: Esta pesquisa é resultado de observações, anseios, vivências, questionamentos e reflexões sobre o autoconhecimento e o processo psicoterapêutico, no qual, este, foi proporcionado  aos pacientes e vivenciado no Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, da cidade de Bagé. A intenção da pesquisa fez-se realizar a reflexão, sobre o que vem sendo experenciado em termos do conhecimento e compreensão sobre si mesmo através da psicoterapia. O autoconhecimento é se redescobrir a cada sessão de psicoterapia, interpretando as próprias emoções (Martino, 2020), ressignificando conteúdos conscientes e inconscientes ao olhar para a sua própria história e compreender que é resultante ou resultado desta. O que nos torna humanos, além das emoções inatas, é a nossa capacidade de tomar decisões. É através das escolhas, que não somente usamos a razão, mas sim, concomitante as vontades, emoções e afeto, para então, decidirmos entre as possibilidades existentes. É relevante destacar, que uma dessas decisões, é a escolha de obter o conhecimento e compreensão de si mesmo que se dá  pelo processo psicoterapêutico, o que foi possível demostrar através desta pesquisa.

Palavras-chaves: Autoconhecimento, psicoterapia, psicologia.

ABSTRACT: This research is the result of observations, anxieties, experiences, questions and reflections about self-knowledge, which was provided by the psychotherapeutic process and experienced at the patients at the School of Applied Psychology Service – SEPA, of the University Center of the Campanha Region, in the city of Bagé. The intention of the research was to reflect on what has been experienced in terms of knowledge and understanding of oneself through psychotherapy. Self-knowledge is to rediscover yourself at each psychotherapy session, interpreting your own emotions (Martino, 2020), resignifying conscious and unconscious content when looking at your own history and understanding what is the result or result of it. What makes us human, besides innate emotions, is our ability to make decisions. It is through choices, that we not only use reason, but, concomitantly with wills, emotions and affection, to  decide between the existing possibilities. It is important to highlight that one of these decisions is the choice to obtain knowledge and understanding of oneself through the psychotherapeutic process, which was possible to demonstrate through this research.

Keywords: Self-knowledge, psychotherapy, psychology.

INTRODUÇÃO

Percebe-se, o autoconhecimento desenvolvido através do processo psicoterapêutico como compreensão e entendimento de si, resultado do reencontro diante do outro, através do acolhimento e possibilidade de construção para um pensamento de vida sem exigências, reconhecendo sua existência diante da condição humana.

Sem distanciar-se dessa realidade, os pacientes do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha em Bagé, acompanham essas transformações ao longo do processo e por isso, são proporcionados, ao longo do tempo, através da psicoterapia com o conhecimento e aprofundamento em si e assim os possibilitando, dessa forma, mudanças interpessoais e intrapessoais e a melhora na qualidade de vida de cada paciente.

Mas, sabemos que essas transformações nem sempre ocorrem apenas no setting terapêutico, já que é um processo, e há necessidade de uma completa transformação para lidarem com as novas formas de gerir suas próprias vidas, sendo somente possível a partir da vontade e motivação, que devem partir do próprio indivíduo em querer comprometer-se com novas propostas e o conhecimento sobre si mesmo.

O autoconhecimento é o caminho na construção para uma existência significativa e (re)conhecimento como um ser único e na busca de encontrar de fato quem se é, tornando-se o personagem principal da sua própria história, encarando os acontecimentos no decorrer de sua existência como um aprendizado ao me reencontrar diante do outro, sendo efeito e resultado, através do intermédio que o processo psicoterapêutico pode proporcionar ao estabelecer uma conexão consigo mesmo (BENJAMIN, 2011).

Dessa maneira ao longo do curso de Bacharelado em Psicologia, especificamente, no período do estágio de Clínica I e II, percebi que há muitas variáveis que refletem no autoconhecimento através do processo psicoterapêutico. Portanto, ao escolher investigar sobre essa temática, busquei ligar a minha experiência no autoconhecimento, resultado do processo psicoterapêutico vivenciado ao longo da minha existência, reconhecendo, o quanto é importante o conhecer a si mesmo, através da criação do vínculo terapêutico consciente em aceitar esse processo de transformação e as trocas de experiências significativas para o paciente e psicoterapeuta e, por isso, é de fundamental importância o autoconhecimento.

Diante disso a interrogação central é se através do processo psicoterapêutico é possível se obter compreensão e aprofundamento em si (no eu), resultando em autoconhecimento?

Este trabalho visa analisar o autoconhecimento como compreensão e aprofundamento em si, através do processo psicoterapêutico e as mudanças e experiências interpessoais e intrapessoais ocorridas durante a psicoterapia e também problematizar a possibilidade do autoconhecimento através do processo psicoterapêutico proporcionado pelos atendimentos dos pacientes atendidos por acadêmicos estagiários de Clínica II, segundo semestre de estágio, do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, na cidade de Bagé.

Estes objetivos nos remetem às seguintes questões à pesquisa: identificar, junto a indivíduos que estejam em atendimento psicoterapêutico, se irão observar ao longo do processo, mudanças intrapessoais e interpessoais através das experiências dos entrevistados, que seja considerado resultado do autoconhecimento; distinguir o que é e como se dá o processo de autoconhecimento e o aprofundamento em si (no eu) no indivíduo; descrever o que é e como se dá o processo psicoterapêutico para o indivíduo; discutir a compreensão e aprofundamento em si, entendida também como autoconhecimento durante o processo psicoterapêutico do indivíduo.

A pesquisa referendou-se de teóricos como Calligaris, Martino, Benjamin, Nietzsche, Platão, Sartre, Heiddegger, Payá, Del Prette entre outros sobre o autoconhecimento e o processo psicoterapêutico, construindo-se um referencial teórico que será apresentado no próximo capítulo, refletindo sobre o viver que capacita-nos perceber a nossa própria existência e assim, é possível compreender as percepções do nosso eu, sendo possuidores de discernimento, esta, uma característica essencial para nossa existência. (WEIL, TOMPAKOW, 2015).

1. METODOLOGIA

O estudo é resultado de uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratória e descritiva, sendo adotados para a sua realização os procedimentos de campo, ocorrendo através das entrevistas com os participantes desta pesquisa. A amostra deste estudo foi composta por um grupo de cinco (5) entrevistadas, pacientes atendidas por acadêmicos estagiários de Clínica II, segundo semestre de estágio, do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, na cidade de Bagé – RS.

O  grupo de cinco (5) entrevistadas,    consentiram    sua      participação  através do Termo  de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como com a gravação de voz da entrevista através do termo de autorização de gravação de voz. A presente pesquisa foi devidamente submetida ao comitê de ética em pesquisa com seres humanos, e mesmo apresentando riscos mínimos aos seus participantes, tiveram a sua disposição, caso necessário, acompanhamento psicológico disponibilizado pelo Serviço Escola de Psicologia Aplicada (SEPA) do Centro Universitário da Região da Campanha URCAMP, na cidade de Bagé – RS. Para participar do estudo, o grupo de cinco (5) participantes  preencheram todos os critérios de inclusão, sendo eles, pacientes atendidos por acadêmicos estagiários de Clínica II, segundo semestre de estágio, do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário, há mais de seis meses, regulares e assíduos nos atendimentos e para melhor compreensão e interpretação, não apresentar comprometimentos cognitivos que dificultassem a realização desta pesquisa.

A coleta dos dados desta pesquisa pela pesquisadora, ocorreu nas dependências do Núcleo de Práticas em Saúde, mais especificamente nas salas do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, no período de um (01) de outubro a trinta (30) de outubro de dois mil e vinte e um (2021), sendo observada e realizada de acordo com a orientação e recomendação de todos os protocolos de segurança para a COVID-19. Foi uma entrevista semiestruturada e utilizado para a sua concretização os seguintes itens: papel, caneta e o gravador de voz do smartphone, composta por um questionário de (4) questões  abertas, orientado, com perguntas direcionadas ao tema proposto, sendo gravadas, transcritas e analisadas conforme a metodologia de Bardin, resultando em três tópicos da discussão (significância do autoconhecimento, correlação entre o autoconhecimento e a psicoterapia e o autoconhecimento constituído pelas experiências vividas por intermédio de psicoterapia.)

É uma pesquisa com abordagem qualitativa, do tipo exploratória e descritiva, na qual foram entrevistados, um grupo de cinco (5) pessoas, do sexo feminino, pacientes de acadêmicos estagiários de Clínica II, segundo semestre de estágio, do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, na cidade de Bagé/RS, com idade entre vinte e cinco (25) e quarenta e oito (48) anos – adultos, jovens, que estão vivenciando o processo psicoterapêutico, pessoal e individual, há, pelo menos, seis (06) meses, ou mais com a regularidade e assiduidade nos atendimentos. A pesquisa foi realizada pela pesquisadora nas dependências do Núcleo de Práticas em Saúde, mais especificamente nas salas do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, na cidade de Bagé/RS, no período de um (01) de outubro a trinta (30) de outubro de dois mil e vinte e um (2021), sendo observada e realizada de acordo com a orientação e recomendação de todos os protocolos de segurança para a COVID-19. Foi uma entrevista semiestruturada, aplicando-se um questionário de (4) questões abertas, orientado, com perguntas direcionadas ao tema proposto, sendo gravadas, transcritas e analisadas de acordo com a metodologia de Bardin, além de papel e caneta, foi utilizado o gravador de voz do smartphone.

A interpretação dos dados visou atingir uma compreensão mais aprofundada, com base num referencial teórico construído para embasamento científico e os dados analisados de acordo com a metodologia escolhida, para que cada categoria fosse analisada e decomposta em todas as suas nuances.

2. DESENVOLVIMENTO

CONTEXTUALIZANDO O AUTOCONHECIMENTO

O autoconhecimento é uma das questões chaves principalmente abordadas pela psicologia, desde os pré-socráticos até a contemporaneidade. Quando no templo o Oráculo de Delphos disse a Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, indicou que a sabedoria estava alicerçada no autoconhecimento e assim, Sócrates, o Pai da Filosofia inicia seus diálogos apontando que não só o conhecimento está dentro de nós, mas como também nos conhecer é o caminho para a felicidade da alma. (AUGRAS, 1997).

Logo, Platão seguiu com as indagações de quem somos nós e Aristóteles se aprofundou, afirmando que só podemos ser felizes se soubermos quem somos e alcançamos nossas virtudes. O tema continua nas escolas helenísticas, estoicista e epicurista. Na Idade Média ganhou notoriedade com Santo Agostinho, que propôs reflexão sobre nossas ações, se estávamos sendo o que deveríamos ser e, de acordo com um parâmetro Divino, praticando o bem (EKKEHARD, 2013).

Na Longa noite de mil anos seguiu a discussão com muitos filósofos, até o Iluminismo colocar o homem no centro e a modernidade deu esse segmento com as correntes, que apesar de diferentes, buscavam entender quem somos nós, de onde vem a razão como perguntou Kant, ou o que fizemos com nossas dores como perguntou Nietzsche e Sartre. Enfim, no momento em que se pergunta quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? São intrinsicamente perguntas sobre autoconhecimento. E elas atravessam a linha do tempo de mais de dois mil anos (MORIN, 2002).

 Autoconhecimento são as informações que um indivíduo utiliza ao encontrar uma resposta para uma pergunta complexa: “Quem sou eu?”. Conhecer a si mesmo é uma das habilidades mais importantes para o desenvolvimento e crescimento do indivíduo em todas as áreas de sua vida, é tornar consciente o que de fato se é (HEIDEGGER, 1988).

Para Sócrates, o autoconhecimento é a verdadeira descoberta de si, e o ponto de partida para uma existência verdadeira, equilibrada e favorável é conhecer a si mesmo, pois uma vida não analisada não vale a pena ser vivida, ou seja, só irá descobrir isso se analisar suas vivências (ARENDT, 2002).

Segundo Platão (2010, p. 275) “[…] conhecendo-nos ficaremos em condições de saber como cuidar de nós mesmos, o que não poderemos saber se nos desconhecermos”.

O livro A Gaia Ciência de Nietzsche(2019) nos traz a alusão sobre o autoconhecimento com a seguinte frase: “O que diz a sua consciência? – “Torne-se aquilo que você é” e assim propõe que a capacidade de ser está exatamente na transformação: tornar-se quem se é através de conhecer a si mesmo” (p. 186).

Conforme Deurzen-Smith (1996) a essência do encontrar-se, envolve a singularidade entre o indivíduo e o meio tornando-se assim uma existência única.

O autoconhecimento encaminha também para a autoconsciência que é explicada através das seguintes palavras:

Muitos não conseguem obter uma imagem precisa e completa do eu, pois vivem enganando a si mesmos. Os que conseguem ter consciência da discrepância entre o idealizado e a realidade sabem seus verdadeiros limites, embora não deixem de se esforçar para atingir seus ideais (ERTHAL, 2004, p. 71).

De acordo Abramson (2021) como citado em APA, o autocuidado tem a ver com autocompaixão e na prática, significaria reconhecer seus próprios limites, é importante, pois não se trata apenas de estar bem, mas de prosperar, o que requer desestressar dos problemas cotidianos antes que se tornem sérios e esse contexto está diretamente relacionado ao autoconhecimento.

A liberdade é ponto fundamental em todo processo de construção da existência autêntica. A liberdade em si é algo intrínseco ao homem, mesmo que ele não tenha consciência de ser ela o primeiro caminho rumo à autenticidade. Contudo, quando desconexa da consciência, esta liberdade não se torna agente de alforria para o homem, antes mantém-no preso na vivência do que é cotidiano (NAVES, 2009, p.71).

O ser humano como indivíduo social tem como finalidade humana o querer sem mais:

Em geral, o que o homem quer não é o prazer; quer o que quer, sem mais. Os objetos do querer humano são entre si diversos, ao passo que o prazer sempre será o mesmo, tanto no caso de um comportamento valoroso como no caso de um comportamento contrário aos valores. Daí que… O reconhecimento do princípio do prazer conduza inevitavelmente ao nivelamento de todas as possíveis finalidades humanas. Com efeito, sob esse aspecto, seria completamente indiferente que o homem fizesse uma coisa ou outra… Se realmente víssemos no prazer todo o sentido da vida, em última análise, a vida pareceria sem sentido. Se o prazer fosse o sentido da vida, a vida propriamente não teria sentido algum (FRANKL, 2003, p. 68).

O autoconhecimento está também diretamente ligado a autorrealização, ou seja, ter um propósito ou sentido que fará o indivíduo realizar a si mesmo como é explicado através das palavras de Frankl quando diz que:

A autorrealização não constitui a busca última do ser humano. Não é sequer sua intenção primária. A autorrealização, se transformada num fim em si mesmo, contradiz o caráter auto transcendente da existência humana. Assim como a felicidade, a autorrealização aparece como efeito, isto é, o efeito da realização de um sentido. Apenas na medida em que o homem preenche um sentido lá fora, no mundo, é que ele realizará a si mesmo. Se ele decide realizar a si mesmo, ao invés de preencher um sentido, a autorrealização perde imediatamente sua razão de ser (FRANKL, 1988, p. 38).

Grün (2013) propõe que o conhecer a si mesmo trata sobre os tipos de satisfação e o bem-estar perante a vida. Aquela satisfação de quem se concentra em si mesmo virá de diferentes atitudes e condições diante da sua existência. “[…] O ser humano é o ser que decide o que vai se tornar” (SILVEIRA, 2007, p. 104).  Compreender a própria história além de levar ao autoconhecimento poderá ajudar o indivíduo a reconhecer e assim não repetir certos padrões de comportamento considerados como limitantes.

Definir-se ao longo do tempo nem sempre é fácil, porque envolve passo a passo, a aprendizagem de diferentes formas de vida, a adaptação a novos relacionamentos, a capacidade de deixar para trás algo que temos desenvolvido para desenvolver o que somos e quem somos (BIANCO, 2003, p. 21).

O conhecer a si mesmo ou a identidade é como uma colcha composta pelas experiências vividas pelos indivíduos e considera que haja autonomia quanto às construções identitárias, sendo assim não dependeria dos atores sociais, mas do próprio sujeito conforme Carrieri et al. (2008).

Para Heiddegger (1988), a busca do saber sobre si mesmo, da própria marca existencial, independe da idade cronológica ou da maturidade psíquica. A experiência e existência humana envolve um processo de sentimentos no presente imediato que o conduz a significados sobre o próprio eu. As pessoas são a essência em suas diferentes narrativas e executam seu papel em função de uma diversidade de motivos no qual um deles é a importante tomada de decisão para uma fase desafiadora que é o autoconhecimento e segundo Tanguay (2018) diz a respeito das próprias preferências e personalidade.

Nem sempre é fácil se expor ao autoconhecimento, mas correr riscos é importante, pois quando estamos vulneráveis podemos nos assustar e assim ficarmos expostos à dor e a vergonha, mas também sendo possível através desta vulnerabilidade conseguir a conexão com o seu próprio eu e a aceitação através de perguntas que podemos ter medo de escutar as respostas, porém necessárias para um crescimento pessoal e profissional, sendo possível adquirir com elas o autoconhecimento.

Através das ideias de Martino (2020) é possível perceber que ao obter um olhar para realmente se ver, pode até não parecer difícil, mas o processo é árduo, porque irá se defrontar com questões que não aceitará, mas é assim que se adquire o verdadeiro conhecimento de si.

Um adicional importante para o autoconhecimento é reconhecer e ver a própria vulnerabilidade, não apenas como uma condição, mas sim como uma forma de explorar e distinguir características únicas, apreendendo a não criticar, desvalorizar, depreciar o sofrimento e a relevância das próprias situações tal como das situações dos outros e assim provindo do conhecimento e compreensão do verdadeiro sentido da vulnerabilidade e o próprio (re)conhecimento em si, em suma, é preciso lidar consigo  mesmo e com os outros e assim constituir um centro de informações sobre o seu próprio eu.

Para Weil (2020) viver é perceber, é capacitar-nos a tomar consciência da nossa própria existênciaa. Estar vivo é compreender a própria existência do eu, é um conjunto de conhecimentos e informações essencial para a sobrevivência e proficiência das percepções do nosso eu possuidor de discernimento, esta, uma característica essencial para o existir.

O ser humano é curioso em relação à sua origem, procurando conhecer a sua essência, imaginado o futuro, elaborando objetivos e assim obtendo como resultado o conhecimento sobre si mesmo, sendo considerado um fenômeno humano e que faz parte da realidade social não podendo ser mensurado (MINAYO, 2001).

Para obter o conhecimento profundo e consciente sobre si mesmo o período mais propicio será no início da vida adulta a partir dos 25 anos ao período intermediário da vida adulta até os 40 anos, pois, as mudanças que ocorrem na adolescência já se estabilizaram, sendo um momento de grandes relações sociais, culturais e econômicas (PAPALIA, 2013).

O viver capacita-nos perceber a nossa própria existência e assim, é possível compreender as percepções do nosso eu, sendo possuidores de discernimento, esta, uma característica essencial para nossa existência (WEIL, TOMPAKOW, 2015).

O ser humano é dotado geneticamente com habilidades para a criação e estruturação social no que refere-se à sua interação e assim é relevante destacar as habilidades sociais que foram identificadas por Del Prette (2017) no decorrer da literatura como: comunicação, civilidade, fazer e manter amizade, empatia, assertivas, expressar solidariedade, manejar conflitos e resolver problemas interpessoais, expressar afeto e intimidade, coordenar grupo e falar em público, consideradas importantes para as etapas do desenvolvimento, pois é, quando surgem as diferentes demandas interpessoais e intrapessoais, além dos papéis sociais que são assumidos ao longo delas e assim sendo importantes para obter melhor compreensão e conhecimento de si mesmo, podendo utilizar-se de fatores externos à sua existência para tentar fugir à responsabilidade de se construir e de conhecer a si mesmo, pois os seres humanos são perfectíveis, não perfeitos.

CONTEXTUALIZANDO O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO

Segundo Payá (2011) o processo psicoterapêutico transcende a sessão no setting terapêutico. Ele inicia quando a pessoa compreende ou identifica que tem algo que aparentemente não está bem e que é necessária uma intervenção como uma maneira para ajudar.

Ao abordar a respeito do processo psicoterapêutico, estamos dizendo sobre a forma como se desenvolve a inter-relação entre psicoterapeuta e paciente. O processo pode ser complexo e árduo porque vão ser trabalhados assuntos que podem levar o indivíduo a expor o acúmulo de emoções e sensações que geralmente não é exposto e que ao enfrentar o levará a ser conhecedor de si mesmo.

Para Benjamin (2011), o processo psicoterapêutico é um ato de ajudar, um acolhimento que provém de um diálogo entre duas ou mais pessoas que é sério e tem um propósito. O profissional que atende deve ser e agir como uma pessoa autêntica, não abdicando de sua autoridade, mas a empregando de modo que o paciente venha a ser a autoridade de sua própria vida e com isso capacitando o paciente a se reconhecer, sentir, saber, decidir e escolher se deve mudar.

De acordo com Calligaris (2019), o processo psicoterapêutico é um efeito de como uma experiência pode ou não integrar uma história que faça sentido para o sujeito, reconstruindo um sentido que ligue o presente ao passado sendo incessante essa busca e assim oferecer um conforto necessário que dá a sensação de que os atos e fatos se inserem na história e no conjunto que somos nós.

Para Cialdini (2017), reinterpretar o passado é descobrir ou inventar novos sentidos para o que aconteceu e uma maneira de modificar o nosso presente e o resultado de uma narração diferente é ser mesmo diferente. Há um pressuposto de que no que é falado se opera uma lógica interna que não é percebida e quanto menor a intervenção na escolha e na organização do que é falado, essa lógica interna poderá levar a dizer coisas inesperadas e descobrir algo que estava nos pensamentos sem que se soubesse e assim é proporcionado viver novas experiências.

O processo psicoterapêutico apresenta diferente definições, tais como:

O significado que atribui o Dicionário Técnico de Psicologia (CABRAL; NICK, 1979) se dá pela utilização de métodos especializados para o tratamento de perturbações psicológicas ou das adversidades de ajustes do cotidiano. Conforme Warren (1991) é a ferramenta utilizada para a intervenção dos transtornos por recursos psicológicos. No Glossário da obra de Davidoff (2000), a definição se dá através de variados procedimentos de práticas psicológicas destinados a ajudar as pessoas com ou sem distúrbios a resolver seus problemas pessoais.

Para Cordioli et al. é:

Um método de tratamento que utiliza meios psicológicos, em especial a comunicação verbal com a finalidade de aliviar um desconforto ou sofrimento psíquico, eliminar sintomas de um transtorno definido, resolver problemas pessoais de natureza emocional ou psicológica ou estimular o desenvolvimento pessoal e assim podendo ser definida como uma intervenção e um importante recurso para modificar problemas de natureza emocional, cognitiva e comportamental (2019, p. 26-27).

Rodrigues (1991) considerava o processo psicoterapêutico sendo um crescimento e que só pode se realizar, na condição do paciente aceitar sua culpa, aceitar as adversidades e as consequências de seus atos errôneos.

O Conselho Regional de Psicologia do Estado do Rio Grande do Sul refere-se ao processo psicoterapêutico em sua cartilha de orientação (2019, p. 6) segundo a Resolução CFP nº 010, de 20 de dezembro de 2000 que especifica e qualifica a prática de Psicoterapia sendo de uso exclusivo da/o psicóloga e que:

Segundo o Art. 1º da resolução, “A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que se realiza através da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos”.  A psicoterapia se caracteriza por ser uma metodologia científica, praticada por pelo menos duas pessoas, visando à promoção da saúde mental, na qual os envolvidos devem agir de maneira colaborativa e coordenada, por pelo menos uma / um profissional da área, na busca de compreensão e da resolução, quando possível, da problemática psicológica em questão.

No caso de Skinner (1981), a consequência do processo psicoterapêutico é o autoconhecimento, sendo  o processo psicoterapêutico um relevante instrumento que propõe um maior e melhor autoconhecimento para assim desenvolver possibilidades existenciais e de crescimento pessoal e profissional e tem por objetivo ajudar no movimento natural da existência humana. Através dele, o indivíduo tem a oportunidade de compreender seus próprios modos na relação com os outros e principalmente consigo mesmo.

O tipo de psicoterapia deve variar de acordo com os problemas do paciente, seu diagnóstico, sua idade, maturidade e o contexto familiar e social no qual está inserido. As três formas gerais de psicoterapia existentes são: a individual, a grupal e a institucional e sua duração vai depender e variar conforme a complexidade emocional existente e quão será necessária uma intervenção.

As pessoas são a essência de qualquer atividade que busca o bem comum. Em diferentes histórias, os personagens desempenham seu papel em função de uma diversidade de fatores adquirindo segurança na tomada de decisões.

De acordo com Heidegger (1988) é um fenômeno na realidade da própria existência e somente a partir do processo psicoterapêutico é que se pode chegar a uma compreensão do que é o real e verdadeiro eu, sobre o próprio pertencimento no estar ou existir no mundo e assim conseguindo parar para pensar e refletir sobre a reinstalação e ressignificação de si mesmo.

Para Cabral (2021) o processo psicoterapêutico se dá através da escuta que é proporcionada em sua totalidade, sem juízos preestabelecidos e sem rivalidade, enxergando o outro como ser humano e o acolhendo em seu sofrimento.

A escuta clínica de verdade não é apenas esperar pela vez de falar, é por essa razão que o processo psicoterapêutico apresenta êxito, pois o profissional bem treinado possui essa habilidade de olhar nos olhos do paciente e de fato escutar o que a pessoa está querendo e dizendo e não estar ali em uma disputa entre quem possui o sofrimento com maior intensidade.

O processo psicoterapêutico é assertivo, pois de acordo com Cordioli (2019) além de ser naturalmente apontada de cura pela fala, tem o propósito de confortar, atenuar o sofrimento, descartar sintomas e esclarecer problemas emocionais ou psicológicos resultando em incentivar e motivar o desenvolvimento intrapessoal tal como interpessoal do paciente, afinal, é através do olhar do outro que nós compreendemos como humanos.

A psicoterapia é uma ciência que distingue-se da crença, pois somente é possível obter a certeza através da comprovado no qual a ciência dispões os dados que a comprovam. Através do processo psicoterapêutico constrói-se o vínculo terapêutico, e o todo é embasado com referencial teórico, referentes a estrutura da personalidade e comportamento das relações interpessoais, aplicada por pessoas treinadas e capacitadas, sendo possível ser individual ou grupal, através de técnicas utilizadas como o conversar, podendo ser considerada por Karnal (2019) como uma arte, sem julgamentos e sigiloso, para assim tentar obter o melhor nível de desenvolvimento possível como ser humano.

A eficácia vem do latim efficacĭa, e significa a capacidade de alcançar o efeito esperado ou desejado através da realização de uma ação.

Segundo a ATS (Avaliação de Tecnologia em Saúde – 1960) a eficácia é o estudo para indicar as vantagens de uma moderna tecnologia usada em circunstâncias padrão ou temporárias. A concepção normalmente relaciona-se a resultados atingidos a partir de ensaios clínicos controlados e randomizados (ECCR).

Gerar aprendizagem é o que torna o processo psicoterapêutico mais eficaz, principalmente quando o aprendizado é sobre o saber e conhecer a si mesmo e que de acordo com as ideias de Cordioli (2019), o processo psicoterapêutico é fundamental através do apoio da aliança terapêutica, sendo um componente decisório e habitual a todas as formas de psicoterapia, pois, aborda o vínculo produzido entre o psicoterapeuta e o paciente e deste modo é constituído o aprendizado da racionalização sendo um aspecto eficaz para alcançar o autoconhecimento.

3. RESULTADO E DISCUSSÕES

Foram questionados, ao todo, 5 pacientes, de acadêmicos estagiários de Clínica II, segundo semestre de estágio, do Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, na cidade de Bagé/RS. O grupo composto por 5 entrevistados, são do sexo feminino, representadas como (V, J, R, MJ e M) com idades de vinte e cinco (25), vinte e nove (29), quarenta e cinco (45), quarenta e seis (46) e quarenta e oito (48) anos – adultos, jovens, domiciliadas na cidade de Bagé/RS, vivenciando o processo psicoterapêutico, pessoal e individual há mais de seis (06) meses, regulares e assíduas nos atendimentos.

Os resultados podem ser vistos de forma transparente através das informações e características que permite aos elementos considerados importantes serem fornecidos justamente pelas perguntas que fundamentam o conhecimento obtido pelos argumentos das respostas categorizados pela discussão em três partes evidenciados pelas falas das cinco (5) participantes como demonstrado nas categorias (Significância do autoconhecimento, Confluência entre o autoconhecimento e a psicoterapia e Autoconhecimento constituído pelas experiências vividas por intermédio de psicoterapia).

As respostas referente aos motivo que levou as participantes a buscar psicoterapia e o tempo de acompanhamento psicoterapêutico de cada uma das entrevistadas foram:

– As cinco (5) participantes estão em atendimento, apresentando regularidade e assiduidade no Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, na cidade de Bagé/RS, há mais de 6 meses e no que refere-se a procura pela psicoterapia e a partir das respostas analisadas, os relatos indicam: ansiedade, indicação de conhecido, busca pelo conhecimento de si, ajuda e problemas pessoais.

Significância do autoconhecimento.

  Foi possível através das interrogativas, obter o resultado a partir dos relatos, o que cada participante considerava ser o autoconhecimento e assim notabilizou ser relevante nos relatos salientar a compreensão das emoções, conhecer melhor a si mesmo e percepção dos acontecimentos diante do contexto no qual cada participante está inserida. As seguintes descrições narram o que cada entrevistada respondeu considerar ser o autoconhecimento:

 “… ter o autoconhecimento de todas as ações que eu tenho, entendeu? quando é medo quando é raiva né, quando é frustração eu aprendi…”

-V.

“… pelas emoções, tudo, é, isso.”

-J.

“… Eu considero eu me descobrir, eu processar, eu raciocinar…por que tu me entende, tu me consegue ir até o fundo, às vezes eu chego aqui contigo assim ó, eu tô bem, eu tô bem, dá-lhe a pouco o salto com balde de coisas que nem eu sabia onde tava guardado, não é nenhuma e nem duas vezes…”

-R.

“… É me conhecer. (risos) Não é? Não deixa de ser? Entendeu? Mas assim, como é que eu vou te dizer, me auto conheço uma pessoa muito doida (risos) Mas com algumas limitações, entendeu? Eu nem sabia que eu me conhecia tanto por passar por isso aí…”

 -M.J.

“… Então assim ó, o que eu hoje, assim ó, nesse um ano, já mudei em várias coisas, porque assim ó, ele me fez, eu me conhecer, ele fez eu ter uma autoconfiança em mim, muitas vezes sem me falar nada, entendeu…”

-M.

Grün (2013) propõe que o conhecer a si mesmo trata sobre os tipos de satisfação e o bem-estar perante a vida. Aquela satisfação de quem se concentra em si mesmo virá de diferentes atitudes e condições diante da sua existência. “[…] O ser humano é o ser que decide o que vai se tornar” (SILVEIRA, 2007, p. 104).  Compreender a própria história além de levar ao autoconhecimento poderá ajudar o indivíduo a reconhecer e assim não repetir certos padrões de comportamento considerados como limitantes.

Definir-se ao longo do tempo nem sempre é fácil, porque envolve passo a passo, a aprendizagem de diferentes formas de vida, a adaptação a novos relacionamentos, a capacidade de deixar para trás algo que temos desenvolvido para desenvolver o que somos e quem somos (BIANCO, 2003, p. 21).

Correlação entre o autoconhecimento e a psicoterapia.

O questionamento frente a percepção sobre a conexão e analogia de ideias relacionadas entre o autoconhecimento e a psicoterapia torna-se evidenciado através dos relatos, que as entrevistadas foram capazes de identificar e afirmam perceber essa relação através das seguintes respostas:

“…é a chave, foi a chave do autoconhecimento. Tipo tá eu posso querer ficar olhando no espelho e querer ser uma pessoa que eu era antes né, mas, mas aí, eu tenho, existe que nem fala, um texto um texto comum, que se tem uma coisa nas entrelinhas então esse é o fator mas eu olho no espelho mas eu olho diante das entrelinhas e falo assim não ó agora eu tô me auto reconhecendo eu sou uma outra pessoa…”

-V.

“.. Sim, sim, é a chave, foi a chave do autoconhecimento.

-J.

“É muito bom porque desde que eu comecei, me considero melhor, isso é importante, eu não dava valor para isso, sim…”

-R.

“…Eu acho que sim né, porque através da psicoterapia eu me conheci. Eu achava que era uma pessoa sabe, sempre alegre, dando risada, mas por dentro tá destruído. E quanto a conexão, Ah! eu acho que há conexão…”

-M.J.

“Então assim ó, sim. O que eu hoje, nesse um ano, já mudei em várias coisas, eu me conheci, fez eu ter uma autoconfiança em mim, …”

-M.

De acordo com Heidegger (1988) é um fenômeno na realidade da própria existência e somente a partir do processo psicoterapêutico é que se pode chegar a uma compreensão do que é o real e verdadeiro eu, sobre o próprio pertencimento no estar ou existir no mundo e assim conseguindo parar para pensar e refletir sobre a reinstalação e ressignificação de si mesmo.

Para Skinner (1981) a consequência do processo psicoterapêutico é o autoconhecimento.

Autoconhecimento constituído pelas experiências vividas por intermédio de psicoterapia.

As narrativas das participantes afirmaram vivenciar as experiências proporcionadas pelo processo psicoterapêutico desde o seu início, exemplificado detalhadamente tanto as experiências quanto as vivências, por cada uma das cinco (5) participantes através das seguintes explanações:

“… o processo no começo era chamado de uma simples ansiedade tá não que o ansiedade seja simples mas do grau é que eu descobri que eu tenho a ansiedade, é um gato, entendeu? e aí eu descobri o porquê de certas ações minhas, entendeu?  É coisas que eu não entendi, ninguém entendia, minha mãe não entendia, porque eu agia de forma diferente, e cada vez que eu encontrava o foco eu tentava focar naquilo e deixar naquilo, por um exemplo, quando me dava uma crise de reversão eu costumava a destruir as coisas entendeu?, jogava as coisas, quebrava as coisas, quebrei (…) e quando eu voltava né eu me dava um esporro, porque ninguém sabia como tratar e eu também não sabia como, e aí eu parei e me destruí, e comecei a fazer coisa ruim o que é a mutilação e aí toda vez que me dá uma crise de reversão e eu fazia de tudo para ficar no mundo aqui eu fazia machucados em mim, para eu o que, para eu cuidar para eu me desviar da minha mente da onde ela vinha indo, aí parei também com isso (…) Agora eu deixo as crises acontecer, eu tento impedi-las né, tem, que eu recebi um mapa, um texto, que o que me pedir eu faço tudo que tá ali,  mas aí tem uma situação ou outra que é muito chave para mim e que eu não consigo impedir mas é isso aí e foi porque eu comecei a perceber que se eu não aceitar eu não vou melhorar, quanto mais eu ficasse em negação, eu não ia evoluir nunca eu ia ficar em várias terapias, em vários remédios, em  várias coisas e as coisas iam continuar no mesmo lugar, eu considero uma grande melhora (..) mas agora eu tenho autoconhecimento sobre isso. Menos destrutivo né, porque quando eu avançava nas coisas quem tivesse na minha frente levava, e eu me cortava, aí vai que eu corte no lugar errado eu morro?. Daí, vou deixar acontecer, vai doer vai, mas é uma dor que que não sou eu que estou causando é o problema, então, eu sentia as duas dores, a dor do problema e a dor que me causava, agora eu só sinto a dor do problema. (…). Depois o que eu descobri sobre mim, é que bate diretamente com aquilo e, pelos traumas que eu sofri, hum, eu não tinha acreditado que era uma relação e foi indo e foi indo e eu descobri que no meio daquilo, não era pra ter acontecido, mas aconteceu,…”

-V.

“…eu vinha para cá e depois eu ficava toda semana pensando no que a gente conversou sabe? Tentando colocar em prática as vezes isso é importante também né não adianta a gente escutar aqui esperando, eu acho que essa percepção e foi bom. Porque as vezes que eu vinha aí eu ficava pensando eu não vou vir mais, daí depois tu vai gostando né, (…) eu não falto, ele também falou, eu acho importante do seguir né, e essa minha amiga também me incentiva e diz, tu tem que ir tá (…) Estão de parabéns, parabéns mesmo. Quanto é importante isso também né, eu não dava valor para isso, para própria psicóloga, eu acho que o pessoal, eu acho que as pessoas precisam disso, tem até uma coisa no Facebook que diz que: ah se eu soubesse que a terapia era assim eu tinha feito a muito tempo. E, é importante porque eu acho que às vezes a gente precisa e não tem condições né, e o atendimento aqui vocês estão bem dedicados …”

-J.

“…Autoconhecimento, raciocínio, aprendizado, e vivência comigo mesmo, e entendo próximo. Sério, se não fosse o teu trabalho de psicóloga não sei o que seria de mim.”

  -R

“Experiência acho que sim e vivência também. Foi o que eu te disse né eu achava que eu era muito forte tá sempre sorrindo tá sempre alegre e aquela coisa toda assim ó mas eu descobri que eu sou uma pessoa muito frágil que eu choro que eu posso chorar eu posso me permitir chorar, que eu posso ter um não e não é sempre que eu tenho que dizer sim, legal e não é só em casa que eu vou dizer pros meus filhos não não sei o quê o não eu posso até dizer aqui ou não é entendeu eu acho que é mais ou menos isso. Eu tenho que me permitir, eu tenho que ter o direito, entendeu? (…) Através da psicoterapia eu me conheci. (…) Acho que tem vivência e a experiência também. Exemplificando, é como eu disse, eu achava que era sempre alegre, forte, aquela coisa toda, e descobri que eu sou uma pessoa muito frágil, que eu choro, que eu posso chorar, me permitir chorar, que eu posso dizer uma não, não é sempre que vou dizer sim. Eu aprendi isso, se eu tiver vontade de chorar, eu choro. Eu preciso fazer isso.”

-M.J.

Eu acho que sim, porque assim ó, eu consigo assimilar que lá há seis anos atrás, eu precisava dessa ajuda, e essa profissional me ajudou também, que foi o ponto inicial. Então eu acho que, que, essa, então assim ó, esse processo psicoterapêutico, ele, ele, ele é essencial, sabe assim ó, é um trabalho muito bom, porque ele consegue te auxiliar, ele consegue fazer com que tu consiga colocar pra fora aquilo que talvez sozinha tu não fizesse.(…) vem todo aquele trabalho, o que que tá acontecendo? O que que eu tenho? O que que tu tá sentindo? O que que tem de novo? Sabe assim ó, e aí vocês acabam mostrando aquilo que eu não tô vendo, entendeu? Aquilo que eu tô irritada por alguma coisa pessoal minha assim, mas eu não tô com aquele foco, conversando com vocês assim, naquela hora da terapia, ele vai te mostrando, aqui, quem sabe desse jeito. Eu te digo assim ó, o profissional, o psicólogo é essencial na vida de qualquer pessoa hoje em dia (…) eu acho que é importantíssimo o trabalho de vocês, eu dou parabéns pra vocês assim ó, dizem assim ó, que sem professor não existiriam as outras profissões mas eu digo assim ó, que sem o psicólogo não existiriam as pessoas mais calmas, entendeu?…”

-M.

De acordo com Calligaris (2019), o processo psicoterapêutico é um efeito de como uma experiência pode ou não integrar uma história que faça sentido para o sujeito, reconstruindo um sentido que ligue o presente ao passado sendo incessante essa busca e assim oferecer um conforto necessário que dá a sensação de que os atos e fatos se inserem na história e no conjunto que somos nós.

Gerar aprendizagem é o que torna o processo psicoterapêutico mais eficaz, principalmente quando o aprendizado é sobre o saber e conhecer a si mesmo e que de acordo com as ideias de Cordioli (2019), o processo psicoterapêutico é fundamental através do apoio da aliança terapêutica, sendo um componente decisório e habitual a todas as formas de psicoterapia, pois, aborda o vínculo produzido entre o psicoterapeuta e o paciente e deste modo é constituído o aprendizado da racionalização sendo um aspecto eficaz para alcançar o autoconhecimento.

A partir da análise dos dados coletados nesta pesquisa, pode-se constatar que as cinco (5) pacientes entrevistadas conseguem perceber o autoconhecimento proporcionado pelo psicoterapia no decorrer do processo através das experiências e vivências relatadas no questionamento. É visível e possível de ser demonstrado o aprendizado que cada uma das participantes obtiveram com o (re)conhecimento, entendimento e compreensão de si além do resultado no progresso da qualidade de vida intrapessoal e interpessoal, apresentando melhor capacidade de se conhecerem através do processo psicoterapêutico, identificando suas qualidades e limites concomitantemente notou-se melhor relação consigo mesmo e com os outros que as rodeiam, além do desenvolvimento do autoconhecimento através da observação no decorrer da psicoterapia, sendo essencial para que cada uma das entrevistadas conseguissem obter melhor entendimento aprofundamento e compreensão de si mesmas.

4. CONCLUSÃO

O conhecimento que a pesquisa proporcionou não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz constantemente. Assim sendo, o (a) pesquisador (a) estará sempre buscando novas respostas e novas indagações no desenvolvimento de seu trabalho. A realidade pode ser vista sob diferentes perspectivas, não havendo uma única que seja verdadeira. A preocupação foi para que houvesse uma transmissão direta, clara e bem articulada da análise dos dados desta pesquisa e um estilo que se aproximasse melhor da experiência pessoal do leitor. A questão sobre o autoconhecimento através do processo psicoterapêutico foi, empiricamente representativo para a população determinada, já que cada caso foi tratado com valor intrínseco.

Ao delimitar a pesquisa direcionada aos pacientes que são atendidos no Serviço Escola de Psicologia Aplicada – SEPA, do Centro Universitário da Região da Campanha, na cidade de Bagé/RS, deparei-me com muitas dúvidas e anseios e no decorrer do trabalho fez-se cada vez mais necessário embasar às práticas aos conhecimentos teóricos, dos quais muitos deles foram apresentados na trajetória do Curso de Psicologia. Desta forma as questões de pesquisa foram sendo esclarecidas de maneira mais ampla.

Nos tornamos humanos através  das emoções e da  nossa capacidade de tomar decisões, através das diversas possibilidades existentes, e por meio de uma escolha, é possível com o processo psicoterapêutico obter o conhecimento e compreensão de si mesmo o corroborando pro esta pesquisa.

É no cotidiano das nossas ações que refletimos para agir melhor. Torna-se doloroso rever as atitudes e pensamentos ao estabelecer conexão com o seu verdadeiro self (eu). Há mudanças e mudanças, muitas vezes na busca pelo prazer acompanhado do comprometimento, quando exercida de maneira mais livre, o conhecimento profundo de si, com vistas à psicoterapia sedenta de acolhida, conhecimento e afeto. Desta forma passa-se a dar mais visibilidade ao autoconhecimento para atender as demandas de uma sociedade transformadora e exigente, como também contribuindo à efetivação de uma Psicologia mais qualificada e promotora de indivíduos prontos para exercer a profissão e cidadania para assim aprofundarmos o conhecimento sobre o nosso verdadeiro eu através do processo psicoterapêutico.

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