AUTISMO: SELETIVIDADE ALIMENTAR E TRANSTORNO DO PROCESSAMENTO SENSORIAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA

AUTISM: FOOD SELECTIVITY AND DISORDER SENSORY PROCESSING IN EARLY CHILDHOOD

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411061412


Andriele Medeiros Maciel Uchoa¹
Ana Érika Gomes de Oliveira¹
Luciene da Silva Rocha¹
Francisca Marta Nascimento de Oliveira Freitas²
Rosimar Honorato Lobo³


RESUMO

Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento que impacta a interação social e comportamentos, incluindo padrões restritos, persistentes ou estereotipados, juntamente com mudanças no processamento sensorial, que pode ser hipo ou hiper-reativo. Essas disfunções sensoriais podem causar dificuldades na alimentação, sendo a seletividade alimentar um dos desafios mais comuns em crianças com TEA. Essa seletividade se manifesta pela rejeição de certos alimentos, relutância em provar itens novos e limitação na ingestão alimentar. Analisar de que maneira os fatores sensoriais afetam as preferências alimentares em crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista. Foi efetuada uma revisão integrativa que contemplou a pesquisa em bancos de dados eletrônicos, incluindo Lilacs, PubMed e SciELO. Os achados sugerem que crianças com TEA muitas vezes demonstram modificações sensoriais, como hipersensibilidade ao toque, ao paladar e ao odor, fatores que podem influenciar nas rejeições alimentares. No entanto, ainda há poucos estudos abordando esse tema, evidenciando a necessidade de mais pesquisas nessa área. Os dados apresentam a relevância da abordagem interdisciplinar e a urgência de pesquisas adicionais acerca dessas temáticas.

Palavras-chave: TEA ( Transtorno do Espectro Autista), Seletividade Alimentar,  Aspectos Sensoriais.

ABSTRACT

Autism Spectrum Disorder (ASD) is a developmental disorder that impacts social interaction and behaviors, including restricted, persistent, or stereotyped patterns, along with changes in sensory processing, which may be hypo- or hyper-reactive. These sensory dysfunctions can cause difficulties with eating, with food selectivity being one of the most common challenges in children with ASD. This selectivity is characterized by refusal of food, resistance to trying new foods and restriction in food consumption. Identify how sensory aspects influence food selectivity in children with Autism Spectrum Disorder. To this end, an integrative review was carried out that included a search in electronic databases such as Lilacs, PubMed and SciELO. The results indicate that children with ASD often present sensory changes, such as tactile, oral and olfactory sensitivity, which contributes to food refusals. However, there are still few studies addressing this topic, highlighting the need for more research in this area. The data demonstrate the relevance of the interdisciplinary approach and the urgency of additional research on these topics.

Keywords: ASD (Autism Spectrum Disorder), Food Selectivity, Sensory Aspects.

1         INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) se manifesta em diferentes intensidades e categorias, tanto típicas quanto atípicas. Esses níveis refletem dificuldades nas áreas psicológicas e comportamentais, sendo o diagnóstico fundamentado em três aspectos: as habilidades sociais e de comunicação, os comportamentos repetitivos e os padrões estereotipados. Essas características podem variar em sua intensidade, podendo ser classificadas como leves, moderadas ou severas (Gadia; Tuchuman; Rotta, 2004; APA, 2013).

A palavra “autismo” passou por várias mudanças ao longo dos anos e, atualmente, é referida como Transtorno do Espectro Autista (TEA) segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) (APA, 2014).

As características desse espectro englobam obstáculos persistentes na comunicação e na interação social, além de comportamentos que podem demonstrar interesses limitados e hábitos de atividades específicas, as mudanças nas percepções sensoriais em crianças que possuem Transtorno do Espectro Autista podem ocasionar dificuldades nas rotinas diárias, especialmente em relação à alimentação. Dificuldades alimentares são frequentemente relatadas em crianças nessa condição e podem afetar a saúde, o crescimento e o desenvolvimento, além de impactar as famílias e as interações sociais (Mccormick; Cols., 2016).

Vários estudos indicaram uma relação entre as escolhas alimentares e o transtorno de processamento sensorial, especialmente a hipersensibilidade, em crianças que foram diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).. Essas dificuldades foram observadas com mais frequência nesse grupo do que em outras populações de comparação. Poucas pesquisas exploraram o emprego de métodos sensoriais, e apenas uma delas demonstrou resultados favoráveis na abordagem da seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista, incluindo a conscientização dos pais e táticas sensoriais para lidar com as preferências alimentares das crianças. O conceito de espectro refere-se à diversidade de manifestações, que apresentam níveis distintos de gravidade, assim como ocorre com a faixa etária e o grau de amadurecimento (Oliveira et al., 2018).

As características ligadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) formam um conjunto distinto de desafios, que podem variar de níveis leves a graves, afetando as competências de interação social e manifestando comportamentos repetitivos e limitados (Nascimento et al., 2014).

Estudos indicaram que, em 2015, a taxa de ocorrência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi de 14,7 a cada 1000 crianças, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Isso representa 1 a cada 45 crianças com 8 anos, impactando 1 em cada 42 meninos e 1 em cada 189 meninas na América do Norte (Caetano; Gurgel, 2018).

Quanto à etiopatogenia, embora ainda não esteja totalmente esclarecida, há indícios de uma significativa interação multifatorial, envolvendo várias alterações genéticas em combinação com fatores ambientais e biológicos (Monteiro et al., 2020).

Recentemente, tem-se observado um crescimento no número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças, o que tem levado a uma maior compreensão de suas características, que incluem desafios neurológicos, além de questões alimentares e nutricionais. Embora haja um aumento significativo nos casos, ainda se conhece pouco sobre o autismo, incluindo sua conexão com a seletividade alimentar (Gurgel, 2018).

A partir da análise das pesquisas existentes sobre a seleção alimentar e suas ligações com os fatores sensoriais, tornou-se importante investigar como se dá a construção dos hábitos alimentares em crianças que apresentam alterações sensoriais. Isso pode ajudar pais e profissionais a identificar tais fatores com mais clareza. Portanto, surgem as seguintes questões: Quais são as mudanças na percepção sensorial, tanto hipo quanto hiper-reativas, que podem ser notadas em crianças com autismo, e de que maneira essas mudanças afetam a alimentação.

 A pesquisa é válida, uma vez que se nota que indivíduos autistas podem enfrentar dificuldades relacionadas à alimentação, tais como a seletividade e restrições alimentares, que são consequência das particularidades do Transtorno do Espectro Autista.

Esta investigação teve como objetivo analisar os desafios enfrentados durante as refeições, além de observar os comportamentos de rejeição alimentar e a relação entre a ingestão de certos alimentos e mudanças gastrointestinais. O intuito é aprimorar as estratégias de cuidado terapêutico e explorar possíveis intervenções para mitigar essas questões.

2         METODOLOGIA
2.1        Tipo de estudo

Este é um trabalho de natureza exploratória, que adota uma abordagem de revisão da literatura com o intuito de compilar, resumir e elaborar uma análise abrangente dos achados de investigações consistentes sobre o tema em questão. Isso é feito de maneira organizada, promovendo um entendimento mais profundo acerca do assunto em análise (Mendes; Silveira; Galvão, 2008).

2.2 Coleta de dados

As informações foram coletadas nas seguintes fontes: Literatura da América Latina e do Caribe em Saúde (LILACS), Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (PubMED) e Biblioteca Científica Eletrônica Online (Scielo). A investigação foi realizada por meio da análise e combinação dos seguintes termos: autismo; transtorno do processamento sensorial; hipersensibilidade alimentar. Realizou-se uma análise preliminar, e os critérios de inclusão consideraram: artigos originais na íntegra em português e inglês que tratassem do tema; intervalos de publicação entre 2020 e 2024, focando na atuação de outros profissionais de saúde em relação à seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

2.3        Análise de dados

Neste estudo de revisão abrangente, foram analisados 83 artigos no total, sendo  provenientes da base de dados, 44 PubMed, 6 do LILACS, 21 Science Direct e 12 da Scielo.

A seleção é feita com base em critérios de elegibilidade. A pesquisa inicial gerou 86 publicações. Dentre esses, 21 foram eliminados após a revisão dos títulos e resumos. Como resultado, foram identificados 65 estudos que atendiam aos critérios de elegibilidade, dos quais 12 foram descartados após a análise completa dos textos, pois não se alinharam ao objetivo da pesquisa. Assim, o total final de artigos incluídos para esta revisão foi de 53.

Figura 1 Fluxograma de Análise de dados

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Definindo o Transtorno  do Espectro Autista (TEA)

O transtorno do espectro autista é uma condição que afeta o desenvolvimento do sistema nervoso, impactando a comunicação, as relações interpessoais e os interesses individuais. A causa dessa enfermidade ainda não é clara, e para um diagnóstico adequado, é necessário examinar a audição, analisar distúrbios do sono, comportamentos variados e diferentes problemas gastrointestinais (Harrington, 2014).

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é definido pelo DSM-V como um distúrbio do neurodesenvolvimento, caracterizado por déficits duradouros em duas áreas principais: comunicação, tanto verbal quanto não verbal, que afeta a interação social em diferentes contextos; além de apresentar comportamentos, atividades e interesses que são limitados, repetitivos ou estereotipados. (APA, 2013; Miygima; Cols., 2017).

Na infância, a nutrição adequada desempenha um papel essencial para os desfechos futuros, como o alcance do pleno potencial de crescimento e desenvolvimento e a prevenção de doenças infecciosas e crônicas não transmissíveis. Estudos sugerem que a má nutrição em crianças pode gerar baixa estatura, maiores chances de infecções e de desenvolvimento da obesidade e outras doenças crônicas (como hipertensão e diabetes) durante a vida adulta (Sawaya, 2006). 

Além disso, as deficiências nutricionais podem prejudicar o desenvolvimento motor e funcionamento cognitivo, déficits em habilidades sociais e desempenho educacional (Miyajima, 2010).

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é, em termos gerais, identificado por diversas alterações no comportamento. Entre essas mudanças, observa-se a presença de dificuldades nas funções executivas, como a capacidade de prever horários e a manutenção da criança na mesa durante o tempo estipulado para as refeições. Essas dificuldades podem impactar o interesse da criança pela comida, já que ela pode não conseguir perceber a importância do momento da refeição (Czermainsk et al., 2017).

Durante a infância, ocorre também o desenvolvimento dos comportamentos alimentares, sendo influenciados pelos contextos ambientais, culturais e familiares da criança (Rossi et al., 2008). Nesse momento, as crianças podem apresentar dificuldades alimentares que prejudicam o processo de alimentação e nutrição, trazendo prejuízos para a saúde dos indivíduos (Kerzner, 2009). 

Dentre as dificuldades alimentares infantis, destaca-se a neofobia alimentar, o Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE), a anorexia infantil, a seletividade alimentar, entre outros (Kerzner et al., 2015). Esses comportamentos alimentares disfuncionais podem perdurar para além da fase pré-escolar (1 a 6 anos), sendo possível que eles continuem durante outras momentos do ciclo da vida (Nicholls; Bryant-Waugh, 2009).

Quantos aos déficits persistentes na comunicação e interação social, indicam que há restrições nas ocasiões de socialização através da alimentação Dessa forma, as crianças com TEA podem apresentar complicações durante o processo de se alimentar, como a dificuldade em sentar-se à mesa ou em interagir com os pares durante as refeições, retirar comida do prato de outros indivíduos, cuspir alimentos, entre outros comportamentos (Petterson, et al., 2020).

É importante destacar que algumas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem apresentar dificuldades em manter a atenção. Além disso, conforme mencionado anteriormente, o controle restrito de estímulos pode afetar o comportamento em relação à alimentação. Por esse motivo, os responsáveis devem organizar o ambiente durante as refeições, já que a presença de ruídos e outros estímulos pode distrair a criança, levando-a a afastar-se da comida, o que pode resultar em seletividade alimentar e desinteresse pelos alimentos (Chistol, 2017).

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista em crianças é realizado por meio da análise dos sinais relacionados à dificuldade na interação social mútua e na comunicação, tanto verbal quanto não verbal. Isso inclui comportamentos que apresentam padrões repetitivos, estereotipados e interesses limitados (Lazaro; Caron; Pondé, 2018).

As definições de comportamentos alternativos abrangem, entre outros, a ansiedade, respostas obsessivas e compulsivas, hiperatividade, problemas de atenção, distúrbios do sono, dificuldades em estabelecer, manter e entender relacionamentos, mudanças nas percepções sensoriais e questões ligadas à alimentação (Lazaro; Caron; Pondé, 2018).

As crianças com autismo, também, podem ter dificuldades no processamento sensorial, sendo mais hiper-reativas ou hiporreativas (reagem de forma mais intensa ou com menos intensidade aos estímulos sensoriais), que pode gerar um efeito direto na alimentação. Essas crianças podem ter maior rejeição algumas características organolépticas dos alimentos. Por exemplo, em relação a textura dos alimentos, Rocha et al.,2019, apontam que essas crianças muitas vezes se recusam a comer alimentos pastosos, gelatinosos ou tímidos, bem como pratos que póstuma algum alimento escondido ou que não sejam familiarizados com a textura.

As crianças que possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA) estão mais propensas a enfrentar desafios alimentares, como a resistência a certos alimentos e a escolha restrita do que comem, além de apresentarem dificuldades motoras orais e uma série de questões comportamentais (Courtney, 2014).

 O TEA se manifesta principalmente em crianças do sexo masculino e as causas do seu surgimento ainda não foram totalmente descobertas (Correia, 2015).

Os receptores apresentam diferentes níveis de complexidade. Os mais elementares consistem em terminações dendríticas livres encontradas na pele, como os responsáveis pela percepção da dor. Por outro lado, existem aqueles que estão integrados em órgãos sensoriais sofisticados, como os olhos. Independentemente do seu grau de complexidade, todos os receptores possuem dendritos de neurônios sensoriais, que podem estar isolados ou em estreita relação com células especializadas de outros tipos de tecidos.(Tortora, 2000).

 Um receptor transforma um estímulo em um impulso nervoso, e somente quando esse impulso chega a uma região da medula espinhal ou do cérebro é que poderá ser interpretado, levando à identificação da sensação. A natureza e o tipo de sensação gerada variam conforme a parte do sistema nervoso central onde ocorre essa integração (Tortora, 2000).

 Os impulsos sensoriais que alcançam a medula espinhal provocam respostas reflexas espinhas, sem passar pelo cérebro. Já aqueles que terminam na parte inferior do tronco encefálico geram respostas motoras mais elaboradas, enquanto na área inferior dessa região, as reações motoras ocorrem de forma subconsciente. Os sinais que chegam ao tálamo não apresentam uma localização precisa no corpo e estão associados a sensações específicas, como toque, pressão, dor, posição, audição ou paladar (Tortora , 2000).

Quando as informações sensoriais alcançam o córtex cerebral, a localização se torna exata. É nesse córtex que as memórias de informações sensoriais anteriores são armazenadas e a percepção das sensações é moldada pela experiência prévia. Assim, os receptores mais simples estão ligados à sensibilidade geral (como tato, pressão, calor, frio e dor), enquanto os receptores mais complexos se relacionam à sensibilidade especial (como olfato, paladar, visão, audição e equilíbrio) (Tortora , 2000).

Segundo uma pesquisa realizada por Kirbi (2015), estima-se que globalmente uma em cada 160 crianças apresenta transtorno do espectro autista. O crescimento do número de crianças com TEA e o aumento no número de diagnósticos de autismo em todo o mundo pode ser atribuído ao avanço na conscientização sobre a condição, à introdução de novos critérios e métodos de diagnóstico, além da melhoria na disseminação de informações.

A primeira infância é um momento crucial para o desenvolvimento, período em que as crianças têm suas primeiras interações com a alimentação, explorando novos alimentos e sabores. Nesse contexto, é fundamental destacar a relevância dos cuidados e monitoramentos nutricionais, particularmente no caso de crianças que apresentam TEA e preferências alimentares restritas. Assim, é crucial realizar novas pesquisas e análises que explorem e descrevam as principais características da seletividade alimentar em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista. (TEA) (Miranda; Resegue; Figueiras, 2003).

Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam desafios para compartilhar emoções, desejos e interesses. Na vida cotidiana de uma criança autista, é comum observar a seletividade alimentar, resultando em uma dieta restrita. Esse comportamento é definido por uma variedade alimentar bastante reduzida, além de uma forte resistência à introdução de novos alimentos (Magagnin et al., 2019).

Manter uma alimentação balanceada pode trazer benefícios aos comportamentos de crianças autistas, especialmente no que diz respeito à seletividade alimentar e a questões sensoriais. Esse conceito pode ser descrito por um conjunto de características e variáveis, englobando três áreas diferentes, que se baseiam na recusa de certos alimentos, em um repertório alimentar restrito e em uma ingestão elevada e recorrente de determinados alimentos (Baldini, 2010).

3.2 Seletividade Alimentar 

A escolha restrita de alimentos, uma das alterações de comportamento comuns nos Transtornos do Espectro Autista (TEA), está relacionada à hipersensibilidade sensory e à rejeição ao toque, afetando a abertura para experimentar diversos tipos de alimentos e suas texturas (Carvalho, et al., 2012; Bernardes, 2018).

A seletividade é uma característica marcante para a pessoa com TEA, caraterística essa que pode se apresentar também nos fatores alimentares. A Atenção Básica tem como objetivo servir como o primeiro contato com o SUS e desempenha uma função crucial na detecção de indícios iniciais de dificuldades ou suspeitas de Transtorno do Espectro Autista (TEA), permitindo uma intervenção antecipada que resulta em benefícios funcionais e uma melhor qualidade de vida para os pacientes (Magagnin, 2019).

Crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tendem a ser mais exigentes e relutantes em aceitar novos alimentos, desenvolvendo dificuldades em experimentar diferentes tipos de alimentação e apresentando maior predisposição a enfrentar problemas alimentares em comparação com crianças que se desenvolvem normalmente (Carvalho et al., 2012). A dieta influencia cerca de 40% a 80% dessas crianças (Suarez, 2013).

A seletividade alimentar (SA) caracteriza-se por três aspectos principais: a aversão a determinados alimentos, a redução do apetite e a desmotivação para comer. A combinação desses elementos pode resultar em uma restrição nas opções de alimentos ingeridos e em uma resistência significativa a provar novos pratos. Essa limitação na diversidade alimentar nas refeições pode afetar gravemente a nutrição e provocar questões de saúde (Carabotti et al., 2015).

Entre as mudanças de comportamento observadas em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a literatura (Silva, 2011; Westwood et al., 2017) ressalta a questão da seletividade alimentar. Essa seletividade é definida como um padrão de alimentação que se caracteriza principalmente pela rejeição de uma ampla gama de alimentos. Esse comportamento pode ser temporário, refletindo uma fase de adaptação a novos tipos de alimentos, ou pode persistir durante o crescimento do indivíduo (Sampaio et al., 2013).

A seletividade alimentar, conforme mencionado anteriormente, pode estar relacionada a dificuldades no processamento sensorial. Por isso, era de se esperar uma maior atuação de terapeutas ocupacionais, validando o processo de intervenção em crianças que apresentam esse tipo de seletividade. No contexto de modificações no processamento sensorial, a terapia de integração sensorial é considerada a abordagem mais apropriada (Molleri et al., 2010).

No que se refere às dificuldades alimentares observadas em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), comportamentos problemáticos durante as refeições são frequentemente mencionados como uma preocupação para os pais. Esses comportamentos incluem não aceitar certos alimentos, que pode ser acompanhado de reações intensas como atirar a comida, gritar ou até vomitar. Além disso, há uma necessidade de seguir rotinas rigorosas relacionadas à forma como os alimentos são apresentados, aos utensílios, pratos e talheres usados, além de rituais ou obsessões em torno do ato de se alimentar (Marshall; Cols, 2014).

Distúrbios alimentares são relatados como sendo mais frequentes em crianças com Transtorno do Espectro Autista do que em crianças que se desenvolvem de maneira típica. Esses problemas podem afetar a nutrição e a saúde, impactando diretamente o crescimento e o desenvolvimento infantil (Suarez et al., 2012).

Adicionalmente, questões relacionadas ao comportamento durante as refeições geram tensão nas famílias, resultam em uma preparação mais elaborada e minuciosa das rotinas diárias, afetam a participação em eventos sociais e influenciam a qualidade de vida, sendo geralmente mais intensas, surgindo mais cedo e se prolongando por períodos consideráveis (Nadon; Cols, 2010).

A seletividade alimentar, está relacionada como uma das alterações comportamentais existentes nos Transtorno do Espectro Autista, associada á uma desordem sensorial e Defensividade tátil, que pode comprometer diretamente a Aceitação de alimentos e texturas (Carvalho, 2012).

Os menores que apresentam esse distúrbio costumam ser significativamente mais exigentes e relutantes em aceitar novos alimentos, estabelecendo obstáculos às experiências alimentares inéditas e demonstrando uma maior predisposição a enfrentar dificuldades relacionadas à alimentação em comparação às crianças com desenvolvimento considerado normal. A seletividade alimentar afeta aproximadamente 40% a 80% desse grupo infantil (Carvalho, 2012).

Pesquisas indicam que diversos elementos estão associados à seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esses fatores incluem a sensibilidade sensorial, que abrange dificuldades relacionadas às texturas dos alimentos, aparência, gosto, aroma e temperatura; alterações musculares e funcionais na boca, além de problemas para mastigar e engolir; e disfunções fisiológicas como alergias, refluxo gastroesofágico e constipação (Johnson et al., 2018).

Questões emocionais, como a ansiedade e a depressão, podem se manifestar através de comportamentos rígidos ou rituais relacionados à alimentação. Isso inclui o uso de utensílios específicos, preferências em relação à preparação e apresentação dos pratos, e aversão a que os alimentos se misturem no prato. Além disso, as dinâmicas familiares desempenham um papel crucial, abrangendo tanto os hábitos alimentares quanto as atitudes dos pais, que podem variar entre encorajamento, paciência, persistência e permissividade. Também são relevantes os comportamentos que trazem benefícios indiretos para a criança ao se recusar a comer, como a atenção materna, ou a escolha de apenas ingerir seus alimentos preferidos (Tanner, et al., 2015).

A restrição alimentar em crianças diagnosticadas com TEA é um tema comum que requer atenção terapêutica. Portanto, é fundamental que os profissionais que trabalham com esses pequenos entendam os sinais apresentados, assim como as origens e as estratégias que podem ser utilizadas para minimizar essas dificuldades (Ausderau et al, 2014).

No contexto da saúde pública no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece cuidados para crianças, mesmo enfrentando dificuldades na articulação entre os diversos setores de educação e saúde (Magagnin et al., 2019).

Em crianças com TEA, os problemas alimentares foram descritos como seletividade alimentar, recusa de alimentos e comportamentos perturbadores nas refeições (Johnson, 2014).

As crianças autistas costumam mostrar características como: escolha de alimentos com base na textura, variedade restrita de opções, rejeição de certos itens, desinteresse pela alimentação típica da família, hábitos alimentares irregulares, comportamentos alimentares repetitivos, dificuldade em aceitar novos alimentos e horários de refeições inadequados, o que pode impactar suas atividades diárias ou dificultar a inserção social da criança (Johnson et al., 2014).

3.3 A perspectiva sobre a seletividade alimentar em crianças com transtorno do espectro autista (TEA)

Em relação a esse tópico, nota-se que, dos 14 artigos analisados, aproximadamente 60% deles discutem a seletividade alimentar em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Além disso, os artigos exploraram aspectos clínicos e comportamentais observados em pessoas com TEA, bem como a interação entre distúrbios de processamento sensorial e dificuldades alimentares, além da avaliação da seletividade alimentar em crianças diagnosticadas com TEA.

 Sob essa ótica, segundo Mendes et al. (2020), compreende-se que a neofobia, ou a relutância em aceitar novidades, ocorre em crianças em desenvolvimento normal, especialmente entre 18 e 24 meses de idade. Esse fenômeno se intensifica no contexto de comportamentos restritivos associados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). É amplamente reconhecido que crianças autistas apresentam uma seletividade acentuada e resistência a novas experiências, o que dificulta a introdução de alimentos desconhecidos, preferindo continuar consumindo aqueles que já conhecem, baseando-se no sabor, cor e textura.

Diversos artigos enfatizaram a importância de uma abordagem multidisciplinar na intervenção sobre a seletividade alimentar em crianças com diagnóstico de TEA. Muitas dessas crianças enfrentam dificuldades relacionadas ao processamento sensorial, comportamentos desafiadores, problemas digestivos e questões associadas aos alimentos, como textura, gosto, cor, temperatura e consistência (Pastorino, 2015).

É importante notar que apenas três artigos mencionam a atuação do terapeuta ocupacional na abordagem da seletividade alimentar com técnicas de integração sensorial, evidenciando a escassez de informações sobre essa prática específica e sobre como criar métodos e estratégias para reduzir os impactos da seletividade alimentar em crianças com TEA.

 A maioria das publicações não oferece uma análise abrangente e tende a ser composta por revisões de literatura. No entanto, mesmo que em menor número, esses estudos mostraram que a intervenção precoce do terapeuta ocupacional é crucial para ajudar a mitigar as consequências da seletividade alimentar em crianças com TEA.

3.4 Transtorno no Processamento Sensorial 

Conforme Rocha et al., (2018), as modificações sensoriais foram incorporadas aos sintomas desta área recente, servindo como critério para o diagnóstico, levando em conta tanto o aumento quanto a diminuição da reatividade a estímulos sensoriais, além de interesses peculiares em certos elementos sensoriais do ambiente.

Frequentemente, identificam-se dificuldades alimentares quando a criança rejeita uma variedade de alimentos com diferentes texturas e consistências. Situação semelhante ocorre durante as atividades de higiene pessoal, uma vez que a criança pode chorar, se afastar e demonstrar irritação no momento do banho ou na escovação dos dentes, além de ter dificuldades nas práticas de autocuidado, que podem gerar reações de irritabilidade, agressividade e impulsividade em tarefas habituais como cortar unhas e cabelo ou se vestir (Momo; Silvestre 2011).

As crianças podem manifestar reações defensivas que impactam negativamente suas interações sociais, desenvolvimento e a execução de atividades de autocuidado. A terapia de integração sensorial tem sido empregada por terapeutas ocupacionais para aprimorar o desempenho nas atividades diárias de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que enfrentam dificuldades devido a problemas no processamento sensorial (Momo; Silvestre 2011).

O transtorno de processamento sensorial, também conhecido como disfunção da Integração Sensorial, refere-se à dificuldade do sistema nervoso central em regular, distinguir, organizar e integrar as percepções tanto do corpo quanto do ambiente de maneira eficaz, conforme definido por Jean Ayres, uma Terapeuta Ocupacional e Neurocientista que criou a Teoria da Integração Sensorial (Souza; Nunes, 2019).

A percepção ocorre por meio dos sentidos tátil, visual, olfativo, gustativo, auditivo, proprioceptivo e vestibular, com o objetivo de serem analisadas e produzirem reações em conformidade com a situação (Magalhães, 2008).

As diversas áreas do sistema nervoso central trabalham em conjunto para processar as informações sensoriais e enviar impulsos nervosos motores da seguinte maneira:

Sistema tátil: a sensação tátil é uma experiência somática provocada por estímulos que agem sobre a pele, mucosas, pelos, áreas subcutâneas ou em camadas mais internas como músculos e tendões. Esse sistema é composto por órgãos terminais que incluem receptores somatossensoriais, cada um especializado em diferentes sensações, como termorreceptores (que detectam variações de temperatura), nociceptores (que reagem a estímulos dolorosos em tecidos) e mecanorreceptores (ligados ao toque e à propriocepção, que captam vibração, pressão, capacidade de discriminação entre dois pontos, além da extensão e flexão das articulações, assim como o estiramento de tendões) (Nascimento Jr., 2020).

Sistema proprioceptivo: é responsável pela percepção do equilíbrio e pela monitorização das atividades dos músculos, tendões e articulações. Essa percepção é possível graças à sensibilidade proprioceptiva ou cinestésica (kinesis significa movimento), que informa o indivíduo sobre a intensidade da contração muscular, a tensão nos tendões, mudanças na posição das articulações e a orientação da cabeça em relação ao chão e aos movimentos realizados. A propriocepção permite identificar a localização e a velocidade de movimento de uma parte do corpo em comparação com outras, habilitando ações como caminhar, digitar ou vestir-se sem a necessidade da visão. Além disso, possibilita a estimação do peso e a avaliação do esforço muscular necessário para concluir uma tarefa. Os receptores responsáveis pela propriocepção são encontrados nos músculos esqueléticos, tendões, nos locais em volta das articulações sinoviais e no ouvido interno (Tortora, 2000);

Sistema vestibular: os receptores para a conversão dos movimentos e da posição da cabeça em sinais neurais ficam situados nos canais semicirculares e nos órgãos otolíticos do ouvido interno, e os sinais são conduzidos para os núcleos vestibulares pelo nervo vestibular (nervo craniano VIII). As conexões vestibulares influenciam os movimentos corporais, cefálicos e oculares, o funcionamento autonômico e a consciência (Lundy-Ekman, 2000).;

Sistema visual: as informações captadas pela retina percorrem um trajeto até o tronco cerebral, onde se combinam com dados de outros sistemas antes de serem enviadas para os hemisférios do cérebro, onde ocorrem decodificações mais elaboradas no córtex visual. O controle dos olhos e a percepção visual são essenciais para o aprendizado, estando fortemente conectados aos sistemas vestibular, proprioceptivo e auditivo. O controle ocular diz respeito à coordenação dos músculos oculares com os movimentos das mãos, à manutenção da estabilidade do campo visual durante as movimentações e ao acompanhamento de objetos em movimento, sendo crucial para a leitura e a escrita. Por sua vez, a percepção visual refere-se à interpretação das imagens, incluindo elementos como cores, formas, distinção entre figura e fundo, e os contornos das letras (Serrano, 2016).

Sistema auditivo: os receptores localizados no ouvido interno capturam informações sonoras que se conectam com dados vestibulares, visuais e proprioceptivos, permitindo a interpretação de sons, incluindo a fala, o que é essencial para o desenvolvimento linguístico. A capacidade de entender os sons se manifesta à medida que há uma integração com o sistema vestibular, possibilitando habilidades mais avançadas para diferenciar sons variados e distinguir sons primários de ruídos de fundo (Serano, 2016);

Sistema olfatório: este é o único sistema sensorial que estabelece conexões diretas com os hemisférios cerebrais, sem se interligar previamente a outros sistemas, conectando-se diretamente às emoções no sistema límbico e ligando odores a lembranças. Além de desempenhar um papel crucial nas interações sociais, este sistema está estreitamente relacionado ao sistema gustativo no que se refere ao sabor dos alimentos (Serrano, 2016);

Sistema gustativo: uma parte significativa do que o indivíduo percebe como sabor provém, de fato, do olfato, uma vez que os aromas dos alimentos atingem o sistema olfatório. Na verdade, uma certa concentração de uma substância ativa o sistema olfatório milhares de vezes mais do que o sistema gustativo (Tortora, 2000).

 A experiência de comer é multissensorial, pois se relaciona com o sistema olfativo, além de envolver também o tátil (textura e temperatura), o proprioceptivo (consistência), o auditivo (sons específicos dos alimentos na boca) e o visual (cores) (Serrano, 2016).

  • Conforme abordado por Souza e Nunes (2019) em uma análise da literatura a respeito do Transtorno de Processamento Sensorial associado ao autismo, podem ser identificadas três principais categorias:
  • Transtornos Motores de Base Sensorial, que se caracterizam pela dificuldade em usar o corpo de forma eficiente no ambiente, seja por transtorno postural ou por dificuldade de planejamento motor;
  • Transtornos de Modulação Sensorial dizem respeito à dificuldade do sistema nervoso em regular de forma eficiente a intensidade, duração e frequência das respostas a estímulos sensoriais, sendo classificados em hiper-resposta, hiporesposta e necessidade de busca sensorial.

O DSM-V (APA, 2013) não inclui todos os padrões sensoriais contemplados na literatura, concentrando-se unicamente nos Transtornos de Modulação Sensorial. Essa limitação pode ser explicada pela quantidade significativa de estudos voltados para crianças com TEA, que investigam especificamente esses tipos de distúrbios (Sousa e Nunes, 2019).

As modificações sensoriais em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) impactam suas vivências físicas e em seu entorno, o que pode interferir no seu comportamento adaptativo. Isso pode resultar em dificuldades em tarefas cotidianas, afetando negativamente suas rotinas, como sono, alimentação e a participação em atividades sociais (Kirby; White; Baranek, 2015).

Pesquisas e relatos pessoais de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) indicam que os hábitos alimentares muitas vezes envolvem a recusa de certos alimentos devido a suas características sensoriais, como odor, consistência, coloração e temperatura (Marshall; Cols., 2014).

Em virtude de vários fatores presentes, essas pessoas tendem a apresentar alterações no sistema gastrointestinal, como dores na região abdominal, prisão de ventre e episódios de diarreia.De acordo com Valle  e Euclydes (2007), a formação dos hábitos alimentares durante a infância é impactada tanto por fatores fisiológicos quanto ambientais.

Dentre os elementos ambientais, ressaltam-se a influência da mãe, que leva a criança a imitar comportamentos, e a televisão, que desempenha um papel significativo na formação de hábitos alimentares, especialmente no que diz respeito ao consumo de alimentos doces e gordurosos (Cermark; Curtin; Bandini, 2010).

Tabela 1 – Na tabela 1, observa-se a Influência dos aspectos sensoriais na hipersensibilidade alimentar.

ReferênciaAspecto SensorialResultados
Suarez, 2013Reintrodução alimentarEstudos mostram que crianças com autismo tendem a ser bastante exigentes e determinadas em relação ao que é novo, o que torna desafiadora a inclusão de novas vivências, como a introdução de alimentos, levando-as a preferir consumir apenas aqueles que já estão familiarizadas.
Magalhães, (2008).Alteração sensorialO estudo mostra a  percepção se dá através dos sentidos tátil, visual, olfativo, gustativo, auditivo, proprioceptivo e vestibular, visando analisar e gerar respostas que se ajustem à contextos específicos.
Magagnin et al., (2019).Educação AlimentarAs ações educativas e as apresentações de alimentos com mudança de consistência revelaram ser uma abordagem eficaz no manejo da seletividade alimentar, além de servirem como uma excelente maneira de promover a educação alimentar e nutricional para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Johson et al., (2018).Desafio AlimentarEste estudo podemos concluir que muitas crianças com diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA) enfrentam desafios na alimentação e durante as refeições.
Mccormick; Cols., (2016).Impactos sensoriais  As mudanças nos sistemas sensoriais em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) afetam suas vivências corporais e interações com o ambiente, o que pode prejudicar seu comportamento adaptativo. Isso resulta em dificuldades nas atividades cotidianas e influencia negativamente suas rotinas, como sono, alimentação e a participação em atividades sociais

Conforme os resultados de Suarez, 2013 enfatiza  que  a reintrodução alimentar aponta que crianças autistas geralmente demonstram um forte seletivísmo e persistência em relação ao que é desconhecido. Essa característica dificulta a inserção de experiências novas, como a adição de novos alimentos à sua dieta, fazendo com que elas optem por apenas aqueles com os quais já estão acostumadas.

Já Magalhães, 2008 ressalta que a pesquisa revela que a percepção ocorre por meio dos sentidos tátil, visual, olfativo, gustativo, auditivo, proprioceptivo e vestibular, com o objetivo de examinar e produzir reações que se adequem a contextos particulares.

Para Magagnin et al., 2019 as intervenções educativas e as exibições de alimentos com alteração na textura mostraram-se uma estratégia eficaz no controle da seletividade alimentar, além de atuarem como uma ótima forma de incentivar a educação alimentar e nutricional em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Johnson et al., 2018 retrata que a partir desta pesquisa, é possível afirmar que diversas crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista (TEA) lidam com dificuldades relacionadas à alimentação e aos momentos de refeição.

Conforme Mccormick e Cols (2016), as diferenças sensoriais em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) impactam suas vivências físicas e ambientes, o que pode prejudicar seu comportamento adaptativo. Isso resulta em dificuldades nas atividades cotidianas, afetando de maneira adversa suas rotinas, como sono, alimentação e interação em eventos sociais.

4.     CONCLUSÃO

A pesquisa discute as dificuldades enfrentadas por crianças autistas durante as refeições, destacando a recusa alimentar e a relação entre determinados alimentos e problemas gastrointestinais. Aborda que essas crianças apresentam forte seletividade alimentar, tornando desafiadora a introdução de novos alimentos em suas dietas. A pesquisa mostra que percepções sensoriais influenciam suas experiências com comidas. Estratégias como alterações na textura e variação na apresentação dos alimentos podem melhorar a aceitação e promover a educação nutricional nesse grupo. Considerando que os hábitos e preferências alimentares podem ser impactados pela seletividade, é fundamental o acesso a acompanhamento nutricional personalizado. Há uma necessidade de mais pesquisas para entender melhor a seletividade alimentar em indivíduos com TEA, uma vez que as contribuições científicas sobre os aspectos gerais desse tema ainda são escassas.

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¹ Graduanda do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: anaerika-@hotmail.com; andrielewn@gmail.com; luciene23_luiza@hotmail.com;

² Orientadora do TCC, Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: francisca.freitas@fametro.edu.br

3 Co-orientador(a) do TCC, Especialista em psicopedagógico. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: rosimar.lobo@fametro.edu.br