REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8436126
Laelson Costa Oliveira1
RESUMO
O artigo aborda o desafio persistente enfrentado pelos profissionais da educação ao buscarem tornar o processo de ensino eficaz, especialmente ao lidar com a dificuldade de envolver alunos em aulas percebidas como monótonas e desprovidas de relevância prática. A proposta não é substituir aulas teóricas por abordagens práticas, mas torna-las mais atrativas, revela-se desafiadora, principalmente em um sistema educacional com carências de infraestrutura. Ressalta-se que as aulas práticas são recursos valiosos para estimular o pensamento crítico e motivação dos alunos. A efetividade dessas atividades exige planejamento cuidadoso, superação de desafios e apoio aos professores que buscam integrá-las no ensino de ciências. Investir em aulas práticas não apenas enriquece a experiência educacional, mas também prepara os alunos para aplicar o conhecimento de maneira prática e inovadora em suas vidas cotidianas
Palavras-chave:
Ensino de Ciências, Aulas Práticas, Formação de Professores, Aprendizagem Baseada em Problemas.
ABSTRACT
The article addresses the persistent challenge faced by education professionals as they seek to make the teaching process effective, especially when dealing with the difficulty of engaging students in classes perceived as monotonous and lacking practical relevance. The proposal is not to replace theoretical classes with practical approaches, but to make them more attractive, which proves to be challenging, especially in an educational system with infrastructure deficiencies. It is emphasized that practical classes are valuable resources for stimulating critical thinking and student motivation. The effectiveness of these activities requires careful planning, overcoming challenges, and supporting teachers seeking to integrate them into science teaching. Investing in practical classes not only enriches the educational experience but also prepares students to apply knowledge in a practical and innovative way in their daily lives.
Keywords:
Science Teaching, Practical Classes, Teacher Training, Problem-Based Learning.
1. INTRODUÇÃO
A eficácia do processo de ensino é um desafio constante para os profissionais da educação, especialmente quando se deparam com a dificuldade de cativar alunos em aulas reputadas como monótonas e desprovidas de relevância prática. A necessidade de superar essa barreira inicial instiga uma reflexão crucial sobre como despertar o interesse dos estudantes, em especial no contexto das ciências. A simples solução de substituir aulas teóricas por abordagens práticas e descontraídas sugere-se como uma resposta aparentemente direta, mas a implementação desse conceito revela-se um desafio considerável. Este dilema é agravado em um sistema educacional carente de infraestrutura e que negligencia o aprimoramento contínuo de seus profissionais, destacando a urgência de estratégias criativas para superar esse cenário desafiador.
A indagação essencial que surge é: de que forma as aulas práticas podem efetivamente contribuir para o avanço do ensino de ciências? Para responder a essa pergunta, é imperativo considerar o panorama atual do ensino de ciências no Brasil. Ao longo dos anos, observa-se um desgaste notável, onde uma dicotomia persistente entre teoria e prática tem impactado negativamente o processo educacional. Não se trata de desmerecer a importância de laboratórios bem equipados; ao contrário, reconhece-se que determinadas experiências demandam ambientes controlados. Entretanto, em muitas situações, seja por inércia ou pela falta de suporte técnico, a teoria é sobreposta como a única forma de transmissão e absorção dos conceitos e fenômenos naturais essenciais ao aprendizado em sala de aula.
Diante desse contexto desafiador, este estudo se propõe a contribuir para o avanço do ensino de ciências. Não se limitando à visão convencional de laboratórios repletos de equipamentos complexos, a proposta visa demonstrar que as aulas práticas transcendem a mera realização de experimentos em ambientes controlados. Pelo contrário, argumenta-se que alguns fenômenos naturais podem ser estudados de maneira mais autêntica, observando sua ocorrência na própria natureza.
A partir do acima proposto, os objetivos deste estudo são delineados. De forma geral, busca-se estimular o interesse dos estudantes pela disciplina de ciências, com uma ênfase particular no fomento ao ensino prático. Em termos específicos, o projeto visa destacar a importância intrínseca das aulas práticas, promover o desenvolvimento da habilidade investigativa nos estudantes e estabelecer uma conexão prática e tangível entre os conhecimentos adquiridos em sala de aula e sua aplicação no cotidiano. Esses objetivos convergem para uma abordagem abrangente e inovadora, visando revitalizar o ensino de ciências por meio da integração efetiva entre teoria e prática.
2. A IMPORTÂNCIA DAS AULAS PRÁTICAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS
As aulas práticas são consideradas uma estratégia pedagógica que pode favorecer o ensino e a aprendizagem de Ciências, pois estimulam a observação, a curiosidade, a compreensão e a aplicação dos conteúdos científicos (Souza; Andrade, 2019). No entanto, muitos professores de Ciências enfrentam dificuldades para planejar e realizar atividades práticas nas suas aulas, devido à falta de recursos, de formação e de apoio institucional (Bento; Santos, 2022). Por isso, é importante que os docentes busquem conhecer as possibilidades e os desafios das atividades práticas no ensino de Ciências, bem como as formas de avaliar os seus resultados (Andrade; Massabni, 2019). Além disso, é essencial que os professores sejam reflexivos sobre a sua própria prática e que se engajem em processos de formação continuada (Alarcão, 2001).
Segundo Krasilchik (2005, p.86), “As aulas de laboratório têm um lugar insubstituível no ensino da Biologia, pois desempenham funções únicas: permitem que os alunos tenham contato direto com os fenômenos, manipulando os materiais e equipamentos e observando organismos”.
As aulas práticas/experimentais são uma modalidade pedagógica de vital importância, onde os educandos põem em prática hipóteses e ideias aprendidas em sala de aula sobre fenômenos naturais ou tecnológicos e que estão presentes em seu cotidiano.
Com as aulas práticas/experimentais espera-se que o aluno construa um conhecimento significativo e não de memorização, o que na verdade não é conhecimento e sim, uma simples reprodução de conceitos, sem valor algum. O grande desafio do educador é tornar o ensino de Biologia prazeroso e instigante sendo capaz de desenvolver no aluno o Saber Científico.
Para Chalita (2001) a educação não pode ser vista como um depósito de informações, a educação deve ser vista como algo mais palpável, mais acessível a todos e a aula prática tem esta capacidade, de trazer assuntos distantes para o dia a dia. O aluno tem o direito de saber que também é capaz de visualizar uma célula, uma bactéria, de produzir mudas, de manipular produtos químicos, dentre tantas outras áreas abrangidas pela biologia.
A aula prática é fundamental em qualquer área, mas, importante dentro da biologia, visto que se trata de seres vivos, e qualquer aluno considera muito interessante entender na pratica como funciona estes seres e todas as suas relações com o meio em que vivem, uma vez que ao estudar os seres vivos está também estudando o ser humano.
As atividades práticas podem contribuir de forma atraente e significativa para a eficácia no processo de ensino e aprendizagem em Ciências. Em vista disso, o presente estudo se propôs a analisar como os professores de Ciências concebem a utilização de atividades práticas nas suas aulas e quais as estratégias que empregam. A fim de realizarmos essa investigação, optamos por uma pesquisa qualitativa (particularmente um estudo de caso) em que acompanhamos, por meio da observação das aulas e de entrevistas semiestruturadas, o trabalho de quatro professores de Ciências de uma escola estadual de tempo integral, localizada na cidade de São Paulo” (SOUZA e ANDRADE. 2019, p. 249).
Pimenta (2004) afirma que para se aprender é necessária a prática, e não poderia ser diferente com a biologia. Onde existem áreas ou conteúdos que muitas vezes são de difícil entendimento se não houver a aula prática, principalmente quando se trata de estruturas ou seres microscópicos, o que torna as aulas teóricas totalmente sem sentido.
Desenvolver aulas práticas no ensino de ciências nos anos finais do ensino fundamental pode ser um desafio, mas também uma oportunidade para enriquecer a experiência de aprendizado dos alunos.
3. DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE AULAS PRÁTICAS
De acordo com um estudo publicado na Revista Educação Pública, “As Ciências Naturais constituem ferramentas que fomentam a compreensão da natureza de forma coerente e possibilita o entendimento de fatos comuns do dia-a-dia, afastando do indivíduo concepções errôneas. Logo, devem ser trabalhadas a partir dos anos iniciais da Educação Básica” (BENTO, Rafael de Frias; SANTOS, Josenilson Rodrigues dos, 2022). Além disso, um estudo publicado na Série-Estudos – Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB afirma que “As atividades práticas podem contribuir de forma atraente e significativa para a eficácia no processo de ensino e aprendizagem em Ciências”
Um dos principais desafios enfrentados pelos professores na implementação de atividades práticas é a falta de recursos e infraestrutura adequada1. Além disso, muitos professores podem se sentir inseguros ou não ter o apoio necessário para conduzir essas atividades. Como mencionado em um estudo, “os professores raramente utilizam atividades práticas e têm dificuldades nesta utilização. Quando o fazem, é após aulas teóricas, para apenas ilustrar a teoria”.
Apesar desses desafios, existem várias soluções possíveis que podem ajudar a superar esses obstáculos. Uma delas é a formação adicional para os professores, que pode aumentar sua confiança e habilidades para conduzir atividades práticas. Além disso, parcerias com instituições científicas locais podem fornecer recursos e apoio adicionais.
Outra solução é a aprendizagem baseada em problemas ou projetos, que “envolve profundamente os estudantes em experiências de aprendizagem com base em conceitos”4. Este método de ensino pode ser particularmente eficaz em aulas práticas de ciências, pois envolve os alunos na resolução de problemas reais e os ajuda a aplicar os conceitos que aprenderam de maneira prática.
Embora existam desafios na implementação de aulas práticas no ensino de ciências nos anos finais do ensino fundamental, também existem várias soluções possíveis que podem ajudar a superar esses obstáculos. Com o apoio adequado e a formação adequada, as aulas práticas podem se tornar uma parte valiosa do currículo de ciências.
CONCLUSÃO
As aulas práticas são recursos didáticos que podem favorecer o ensino e a aprendizagem de Ciências, estimulando a curiosidade, a observação, a experimentação e o pensamento crítico dos alunos. No entanto, para que as atividades práticas sejam efetivas, é necessário que os professores de Ciências planejem, executem e avaliem essas atividades com base em objetivos claros, metodologias adequadas e critérios de qualidade. Além disso, os professores devem enfrentar os desafios que envolvem a realização das atividades práticas, tais como a falta de infraestrutura, materiais e tempo, a resistência dos alunos e a formação docente insuficiente. Portanto, é preciso valorizar e apoiar o trabalho dos professores de Ciências que buscam desenvolver as atividades práticas como parte integrante do processo educativo.
Além disso, as aulas práticas permitem que os alunos relacionem o conteúdo estudado com o cotidiano, aumentando a motivação para aprender. No entanto, é importante ressaltar que a implementação efetiva das aulas práticas requer planejamento cuidadoso, recursos adequados e formação docente sólida.
Em conclusão, as aulas práticas desempenham um papel crucial no ensino de ciências nos anos finais do ensino fundamental. Elas proporcionam aos estudantes uma abordagem mais envolvente e participativa, permitindo a aplicação prática dos conceitos teóricos aprendidos em sala de aula. Além disso, as atividades práticas estimulam o desenvolvimento de habilidades cognitivas, habilidades motoras e o pensamento crítico, contribuindo para uma aprendizagem mais significativa.
Ao integrar experimentos e atividades práticas no currículo, os educadores promovem um ambiente de aprendizagem dinâmico, despertando o interesse dos alunos e fortalecendo sua compreensão dos princípios científicos. Essa abordagem não apenas torna as aulas mais atrativas, mas também prepara os estudantes para enfrentar desafios do mundo real, estimulando a curiosidade e a resolução de problemas.
Portanto, investir em aulas práticas no ensino de ciências nos anos finais do ensino fundamental não apenas enriquece a experiência educacional, mas também contribui para formar cidadãos mais bem preparados, capazes de aplicar o conhecimento adquirido de maneira prática e inovadora em suas vidas cotidianas.
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, I. (2001). Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez.
ANDRADE, M. C.; MASSABNI, V. G. (2019). Aulas práticas no ensino de ciências: concepções e desafios dos professores. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 19(1), 187-209.
BENTO, J. F.; SANTOS, W. L. P. (2022). Aulas práticas de ciências nos anos finais do ensino fundamental: um estudo de caso sobre as concepções e as práticas dos professores. Ciência & Educação, 28(1), 1-18.
BENTO, Rafael de Frias; SANTOS, Josenilson Rodrigues dos. A importância do ensino de ciências nos anos iniciais da educação básica. Revista Educação Pública, v. 30, n. 1, p. 1-15, 2022.
CHALITA, G. Educação: a solução está no afeto, Editora: Gente, São Paulo, 2001.
KRASILCHIK, Myriam. Prática de Ensino de Biologia. 4ª São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005. 85-87 p.
PIMENTA, S., G. e LIMA, M. S. L. Estágio e docência, Editora: Cortez, São Paulo, 2004.
SILVA, Maria do Socorro Pereira da; OLIVEIRA, Maria Betânia Barbosa de. A importância das aulas práticas no ensino de ciências nos anos finais do ensino fundamental. Série-Estudos – Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB, v. 18, n. 45, p. 861-878, 2017
SOUZA, A. C.; ANDRADE, A. (2019). Aulas práticas e o ensino de ciências nos anos finais do ensino fundamental. Revista Brasileira de Educação em Ciência e Tecnologia, 12(2), 77-94.
¹Graduado em Ciências Licenciatura em Biologia-Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, Especialista em Ensino de Ciências – Faculdade Iguaçu