ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NAS DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS: REVISÃO SISTEMÁTICA.

PHYSIOTHERAPEUTIC PERFORMANCE IN FEMALE SEXUAL DYSFUNCTIONS: SYSTEMATIC REVIEW.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10613359


Marcyelle Araújo do Nascimento1, Leticya Sousa Teixeira1, Lisleia Brito Lima1, Ana Carolina dos Santos Melo1, Antônio Carlos Oliveira De Sousa1, Pedro Henrique do Nascimento Castro1, Ana Kamila Rodrigues Alves1, João Lucas Peres dos Santos1, Sabrina Amorim Correia1, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia2.


RESUMO

INTRODUÇÃO: A disfunção sexual feminina é caracterizada pelo sofrimento pessoal e/ou insatisfação sexual que bloqueia as respostas fisiológicas do ciclo sexual. É imprescindível identificar as reais causas, necessitando de uma avaliação efetiva, que irá direcionar corretamente a intervenção. OBJETIVO: Identificar estudos que abordam as intervenções fisioterapêuticas aplicadas em mulheres com disfunção sexual, visando a eficácia das intervenções e suas repercussões sobre a qualidade de vida dessas mulheres. METODOLOGIA: Após a aplicação das estratégias de busca nas bases de dados, foram identificados 667 artigos, destes foram retirados os duplicados e então lidos títulos e resumos, buscando identificar quais tratavam da temática deste estudo; finalizada esta etapa 29 artigos foram selecionados para leitura na íntegra, mas somente 3 foram incluídos e integrados nesta revisão sistemática, pois foram também aprovados pela avaliação de qualidade metodológica e risco de viés. RESULTADOS: A partir dos artigos selecionados, 143 mulheres com queixas de disfunções sexuais foram estudadas, tendo como média de idade de 30,13 anos. Quanto à atuação da fisioterapia nas pacientes com disfunção sexual, dentre os recursos utilizados estão o Treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP), no qual promoveu aumento na força do assoalho pélvico e melhora total das queixas sexuais, e a eletroestimulação vaginal que, além do aumento na força de do assoalho pélvico, promoveu melhora nos domínios excitação, desejo, orgasmo e satisfação. CONCLUSÃO: As técnicas fisioterapêuticas como TMAP e eletroestimulação vaginal aplicadas nas disfunções sexuais desempenham um papel crucial quanto à maior aderência aos tratamentos, promovendo aumento da força na musculatura, normalizando tônus e dessensibilizando áreas dolorosas e, consequentemente, auxiliando na recuperação do bem-estar sexual feminino e na qualidade de vida.

Palavras-chave: Disfunção sexual feminina. Modalidades fisioterapêuticas. Qualidade de vida.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Female sexual dysfunction is characterized by personal suffering and/or sexual dissatisfaction that blocks the physiological responses of the sexual cycle. It is essential to identify the real causes, requiring an effective assessment, which will correctly direct the intervention. OBJECTIVE: To identify studies that address physiotherapeutic interventions applied to women with sexual dysfunction, aiming at the effectiveness of the interventions and their repercussions on the quality of life of these women. METHODOLOGY: After applying search strategies in the databases, 667 articles were identified, duplicates were removed from these and then titles and abstracts were read, seeking to identify which ones dealt with the theme of this study; Once this stage was completed, 29 articles were selected for full reading, but only 3 were included and integrated into this systematic review, as they were also approved by the assessment of methodological quality and risk of bias. RESULTS: From the selected articles, 143 women with complaints of sexual dysfunction were studied, with an average age of 30.13 years. Regarding the role of physiotherapy in patients with sexual dysfunction, among the resources used are Pelvic floor muscle training (PFMT), which promoted an increase in pelvic floor strength and total improvement in sexual complaints, and vaginal electrical stimulation which, in addition The increase in pelvic floor strength promoted improvements in the areas of excitement, desire, orgasm and satisfaction. CONCLUSION: Physiotherapeutic techniques such as PFMT and vaginal electrical stimulation applied to sexual dysfunctions play a crucial role in terms of greater adherence to treatments, promoting increased muscle strength, normalizing tone and desensitizing painful areas and, consequently, helping to recover sexual well-being feminine and quality of life.

Keywords: Female sexual dysfunction. Physiotherapeutic modalities. Quality of life.

1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história, a sexualidade feminina foi permeada por tabus e preconceitos, impossibilitando a sua ampla discussão e o entendimento das causas e consequências das disfunções sexuais (Barbosa et al, 2021; Gouveia, 2020). Entende-se que a disfunção sexual feminina (DSF) é caracterizada por um sofrimento pessoal e/ou insatisfação sexual que acaba por bloquear as respostas fisiológicas do ciclo sexual que seria desejo, excitação, orgasmo e resolução (Prates et al, 2021; Sousa, Souza, and Figueiredo, 2020). Para essas mulheres com disfunção orgástica é imprescindível identificar as reais causas, se são de origem adquirida ou não, assim como se os orgasmos são completamente ausentes, apenas retardados ou menos intensos (Pavanelo and Dreher, 2021; Krakowsky and Grober, 2018).

As DSF envolvem várias causas, aspectos físicos, psicológicos e sociais, os quais incluem idade, cirurgias na região pélvica, deformidades anatômicas, religião, medicamentos, uso de álcool, cigarro, traumas sexuais, qualidade de vida e fraqueza da musculatura, dentre outros. São diversas as DSF: anorgasmia, diminuição do desejo, transtorno de excitação; dentre elas as principais são dor gênito pélvica à penetração, o qual não há o relaxamento da musculatura do assoalho pélvico, e dispareunia – dor durante o ato sexual, ou após, podendo ser superficial ou profunda (Garcia et al, 2022; Sousa, Souza, and Figueiredo, 2020).

Segundo definição da Organização Mundial de Saúde (2006), a saúde sexual é caracterizada pelo bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade; não estando limitado apenas à ausência de doença. Sendo a saúde sexual um aglomerado de diversos aspectos, qualquer desarranjo em um ou mais desses componentes caracteriza uma disfunção, sendo em geral, multifatoriais, tornando o tratamento mais complexo e majoritariamente multidisciplinar (Santos et al, 2022; Prabhu, Hegde, and Sareen, 2022).

O tratamento para a DSF é complexo, pois necessita de uma avaliação realizada de maneira efetiva, tendo em vista a dificuldade das mulheres em relatar seus sintomas, os quais irão direcionar corretamente a intervenção (Abdalla, Pinheiro and Brum, 2023; Krakowsky and Grober, 2018). O tratamento deve ser multidisciplinar incluindo profissionais ginecologistas, fisioterapeutas e psicólogos, para evitar um tratamento não condizente com a real condição da paciente (Abdo and Fleury, 2006; Garcia et al, 2022).

É notável que há um desconhecimento por parte dos profissionais da área da saúde em abordar sobre a sexualidade e suas disfunções, assim como tratamentos não invasivos que melhorem a qualidade de vida dessas mulheres. Muitas vezes elas convivem com esse sofrimento sem saber que é uma disfunção (Silveira, Bonato, and Schlossmacher, 2021). No estudo de SILVA et al, 2022, 53% das mulheres entrevistadas com média de idade de 40,5 anos apresentavam disfunção sexual, demonstrando uma alta prevalência de DSF.

Diante disso, o presente artigo objetiva identificar estudos que abordam as intervenções fisioterapêuticas aplicadas em mulheres com disfunções sexuais, visando a eficácia das intervenções e suas repercussões sobre a qualidade de vida das mesmas.

2 MÉTODOS

2.1 Desenho de estudo

Esta revisão sistemática se deu a partir do fluxograma PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), a fim de buscar evidências sobre a eficácia das intervenções fisioterapêuticas aplicadas a mulheres com disfunções sexuais e suas repercussões sobre a qualidade de vida. As intervenções dos ensaios clínicos randomizados foram avaliadas de acordo com a eficácia, risco de viés e qualidade metodológica. Esta revisão está cadastrada na plataforma PROSPERO com o número CRD42023492246.

2.2 Critérios de inclusão

Foram realizadas buscas de artigos disponíveis em todos os idiomas, sem restrição de data de publicação. Por meio das bases de dados Embase, PeDro, Pubmed, Scielo, Scopus, Web of Science, Science Direct. Os artigos englobam informações relevantes aos profissionais de saúde sobre as repercussões das disfunções sexuais e os benefícios do seu tratamento fisioterápico. Foram incluídos estudos cujo título e resumo estivessem de acordo com o objetivo da pesquisa.

2.3 Critérios de exclusão

Foram excluídos artigos duplicados, pesquisas com animais ou com investigação somente com sujeitos saudáveis, pesquisas com alto risco de viés e/ou com baixa qualidade metodológica, bem como estudos com resumos incompletos.

2.4 Protocolo do estudo

2.4.1 Estratégia PICO e de busca

A estratégia PICO (P – population; I – intervention; C – comparison; O – outcomes) guiou a elaboração da pergunta norteadora da RS e serviu de base para o desenvolvimento das estratégias de buscautilizando-se os descritores da Medical Subject Headings (MeSH) e com os operadores booleanos AND e OR, conforme apresentado no Quadro 1. Assim, a questão de pesquisa delimitada foi: “Quais técnicas fisioterapêuticas proporcionam melhores resultados na dor e na qualidade de vida em mulheres com disfunções sexuais? ”. A partir disto, a estratégia de busca utilizada está descrita a seguir: (Orgasmic dysfunctions) AND (Physical therapy modalities) AND (Pelvic pain).

Quadro 1. Elementos da estratégia PICO, descritores e palavras-chave, Brasil, 2024.

ComponenteDefiniçãoDescritoresPalavras-chave
P: população de interesseMulheres com disfunção orgástica, disfunção sexual feminina.Orgasmic dysfunction.Orgasmic dysfunction.
I: intervençãoModalidades fisioterapêuticas.Physical therapy modalities.Physical therapy modalities.
O: resultado/ desfechoDor, lubrificação e qualidade de vida.Pain, lubrication and quality of life.Pain, lubrication and quality of life.

2.4.2 Seleção dos artigos

Após a exclusão dos artigos duplicados, foi realizada a análise dos títulos, em seguida a leitura dos resumos para identificar quais seriam avaliados por completo, de forma independente (cegamento) por três avaliadores. Os dados necessários finais foram extraídos por meio de um quadro com os dados de identificação (autores e ano), objetivos, método, população, tipo e parâmetros da intervenção e repercussão gerada pela intervenção fisioterapêutica utilizada.

2.4.3 Avaliação da qualidade metodológica e risco de vieses dos estudos

 Para avaliar a qualidade metodológica dos estudos foi utilizado o instrumento MMAT (Mixed Methods Appraisal Tool – Versão 2018). Essa ferramenta possibilita julgar a qualidade metodológica de cinco categorias de estudos: pesquisa qualitativa, ensaios clínicos randomizados, estudos não randomizados, estudos descritivos quantitativos e estudos de métodos mistos (Hong et al, 2018). O ponto de corte para inclusão dos artigos na pesquisa foi definido em 80% de aprovação neste instrumento, visando obter a maior qualidade metodológica possível.

A ferramenta Cochrane foi utilizada para avaliar o risco de viés nos ensaios randomizados (ferramenta RoB 2), analisar o risco de viés dos artigos é um componente essencial de uma RS, surtindo efeitos sobre os resultados obtidos. A RoB 2 foi estruturada em cinco domínios de viés, estes domínios foram organizados e agrupados para abordar todos os mecanismos pertinentes pelos quais o viés pode ser incorporado nos resultados de um estudo (Sterne et al, 2019). Quanto ao corte para risco de viés, foi estabelecido que os artigos não poderiam ter mais do que 5 itens com a qualificação “grande risco de viés” para integrarem a seleção desta RS.

3 RESULTADOS

A pesquisa foi realizada no mês de janeiro de 2024, nas bases de dados já citadas. Após a aplicação das estratégias de busca nas bases de dados, foram identificados 667 artigos, dos quais 57 foram retirados por serem identificados como duplicados, 581 foram excluídos pela leitura de título e resumo, pois abordavam temáticas discordantes ao proposto neste artigo e após a leitura na íntegra, outros 26 foram eliminados, pois não tinham objetivos claros ou metodologia inespecífica, restando somente três que foram incluídos e integrados nesta RS. O fluxograma referente ao processo de seleção é apresentado na Figura 1.  

A partir da leitura completa, os dados dos estudos incluídos nesta RS foram analisados e apresentados de forma descritiva em um quadro contendo a identificação do estudo (autores e ano), tipo de estudo, população, intervenção e repercussão.

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos.

3.1 Avaliação metodológica e risco de viés

Para a integração dos estudos nesta RS utilizou-se duas ferramentas de qualificação, MMAT e RoB 2, para qualidade metodológica e risco de viés, respectivamente. A partir da resposta dos questionários pertinentes a cada um destes instrumentos, os três artigos previamente selecionados mostraram-se aptos para serem utilizados, visto que obtiveram boas classificações em ambos, como é mostrado nas figuras 2 e 3.

Figura 2. Avaliação da qualidade (MMAT).

Figura 3. Avaliação de risco de viés (ROB 2).

Os três artigos selecionados para avaliação (Aydÿn, Arÿogÿ Aydÿn, Batmaz, and Dansuk, 2014; Citak et al 2010; Piassarolli et al, 2010) foram aprovados pelo MMAT (quadro 2), por estarem alinhados com os objetivos desta revisão. Em seguida, passaram pela avaliação com o ROB 2, sendo aprovados por apresentarem baixo risco de viés.

3.2 Caracterização da amostra

No estudo de Piassarolli et al (2010) 26 mulheres com diagnóstico de alguma disfunção sexual (DS), como transtorno de desejo, excitação, orgasmo e dispareunia, finalizaram o estudo, elas tinham idade entre 18 e 40 anos, com média de idade de 30,5 anos (±5,4 DP). As mulheres deveriam ter parceiros estáveis e ter tido, pelo menos, uma relação sexual no último mês. Observou-se que a média do índice de massa corpórea (IMC) das participantes da pesquisa foi de 25,7 kg/m2 (±4,9).

O artigo de Citak et al (2010) foi descrito a partir do estudo de 75 mulheres primíparas, que foram divididas em grupos treinamento (n = 37) e controle (n = 38). A média de idade foi de 22,6 ±3,15. A força da MAP foi avaliada durante repouso e esforço no 4º mês pós-parto e avaliadas novamente no 7º mês pós-parto. Este estudo não trouxe informações de peso e IMC das pacientes.

O último estudo, realizado por Aydÿn, Arÿogÿ Aydÿn, Batmaz e Dansuk (2014) contou com a participação de 42 mulheres com queixa de alguma DS, elas foram alocadas aleatoriamente em 2 grupos: grupo com estimulação elétrica funcional (n=24) e grupo controle (n=18). A média de idade foi de 37,3 ±8,45 e o IMC foi descrito como 24,3 kg/m2 (±2.3).

3.3 Técnicas utilizadas, parâmetros e repetição

Dois dos artigos utilizaram apenas treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP), o primeiro consistia em realizar os exercícios em grupo, por 10 sessões, 1 ou 2 vezes por semana, durante 50 minutos. Os exercícios foram realizados em diversas posições:  decúbito dorsal, lateral e ventral; na posição de quatro apoios; sentada na cadeira e na bola; e em pé de frente ao espelho. Foram solicitadas, para cada posição, cinco contrações fásicas (rápidas) e cinco contrações tônicas (sustentadas) por dez segundos, com um período de relaxamento de dez segundos entre cada contração, totalizando, ao final de cada sessão, cerca de cem contrações (Piassarolli et al, 2010).

No segundo artigo, apenas as mulheres do grupo de estudo foram instruídas no TMAP, elas foram orientadas a realizar períodos de contração e relaxamento por três segundos, seguidos de períodos de contração e relaxamento mais rápidos de dois segundos dez vezes ao dia, nos primeiros 15 dias. A partir daí a duração da contração e do relaxamento foi alterada para cinco segundos, mas a duração dos períodos seguintes, embora mais rápida, foi a mesma. Todos os pacientes do grupo de estudo continuaram a aumentar a duração para 10 segundos e o número de treinos para 15 sessões/dia até o final do estudo (Citak et al, 2010).

Já no artigo de Aydÿn, Arÿogÿ Aydÿn, Batmaz, and Dansuk (2014) foi utilizada a estimulação elétrica vaginal (EEV), neste protocolo a sonda foi inserida com os seguintes parâmetros: frequência: 50Hz, ciclo de trabalho de 5s ON e 5s OFF, intensidade iniciada em 0mA, e aumentou gradualmente até a contração involuntária da MAP e aumentado de acordo à tolerância da paciente. No grupo controle a intensidade da corrente aumentou gradualmente até a contração da MAP e então nenhuma corrente foi aplicada por 20 min. Cada mulher recebeu uma sessão de 20 min, uma vez por semana, por oito sessões. As sessões foram suspensas durante a menstruação da paciente.

Características gerais e resultados

A partir dos artigos selecionados, 143 mulheres foram estudadas, tendo como média de idade de 30,13 anos e a presença de alguma DS. Quanto a atuação da fisioterapia nas pacientes com disfunção sexual, dentre os recursos utilizados estão o Treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP) e a eletroestimulação vaginal. Quanto à avaliação da eficácia das técnicas, todos os estudos utilizaram o FSFI, mas as mulheres também foram submetidas a um exame físico, para avaliar a função dos MAP, por meio da graduação de força muscular (escala de Oxford Modificada) e da eletromiografia (EMG). No quadro 4 é possível analisar os principais tratamentos direcionados à disfunção sexual feminina e a repercussão da intervenção na população estudada.

Quadro 4. Principais características e resultados dos artigos incluídos.

Autor /AnoPopulaçãoIntervençãoRepercussão
Piassarolli et al, 201026 mulheres com diagnóstico de disfunção sexual (DS) com idade entre 18 e 40 anos e parceiros estáveis. A média de idade foi de 30,5 anos (±5,4).O protocolo de TMAP pélvico consistia em realizar os exercícios em grupo, por 10 sessões, 1 ou 2 vezes por semana, durante 50 minutos. Os exercícios foram realizados em diversas posições (totalizando dez).Em relação à eletromiografia, as amplitudes das contrações fásicas e tônicas aumentaram significativamente ao longo do tratamento. Houve aumento na força do assoalho pélvico, com 69% das mulheres apresentando grau 4 ou 5 na avaliação final e melhora total das queixas sexuais.
Citak et al, 201075 mulheres foram elegíveis sendo divididas em grupos treinamento (n = 37) e controle (n = 38). Média de dade de 22,6 (±3,15).TMAP apenas com as mulheres do grupo de estudo, com períodos de contração e relaxamento dez vezes ao dia nos primeiros 15 dias. A partir disso, a duração da contração e do relaxamento foi aumentada até o final do estudo.Desejo, dor e índice de função sexual feminina (IFSF) total foram significativamente maiores no 7º mês em comparação ao 4º mês em ambos os grupos. Todos os domínios, exceto a satisfação, foram maiores comparando entre grupos. A força da MAP aumentou no 7º mês apenas no grupo de treinamento.
Aydÿn, Arÿogÿ Aydÿn, Batmaz, and Dansuk, 201442 mulheres com queixa de DS, foram randomizadas em 2 grupos: estimulação elétrica funcional (n=24) e controle (n=18). A média de idade foi de 37,3 (±8,45).Foi utilizada uma sonda com parâmetros específicos; já no grupo controle a intensidade da corrente aumentou gradualmente até a contração da MAP e então nenhuma corrente foi aplicada por 20 min.As pontuações totais do IFSF melhoraram em ambos grupos. No grupo EEV, houve melhora nos domínios excitação, desejo, orgasmo e satisfação. Já no grupo de controle melhoraram desejo, excitação e orgasmo. Características da MAP foram avaliadas e melhoraram significativamente no grupo EEV.


DISCUSSÃO

Em estudo de Gouveia et al (2020) sobre o perfil sexual das brasileiras, participaram 414 mulheres, com idade variando de 18 a 58 anos e com média de 25±6,2 anos, valor aproximado ao obtido neste estudo, outro dado relevante é que 27,5% das mulheres entrevistadas relataram sentir dor durante e/ou após a relação sexual, ademais, 19 não tinham orgasmos, 15 não tinham excitação e 23 não tinham prazer durante as relações sexuais; estes dados evidenciam a presença de disfunções sexuais mesmo em populações mais jovens e que mesmo em situações desagradáveis estas permaneciam praticando o ato sexual, visto que 316 mulheres relataram um quantitativo semanal variando entre 1 e 4 relações sexuais.

Um fator não mencionado nos artigos que tratam de DSF é a incidência de obesidade, que é um estado crônico que tem aumentado nos últimos anos. A relação entre a obesidade e a DSF ainda não está clara, particularmente em mulheres após a menopausa. Em um estudo foi possível mostrar em seus resultados que mulheres obesas e com sobrepeso (escore de 25 a 29,9) após a menopausa apresentaram índices mais altos de disfunção no desejo e excitação e menor satisfação sexual do que mulheres com peso normal (Silva et al, 2019). Esses dados podem ser ligados ao estudo dos autores incluídos nesta revisão já que as participantes tinham como média de IMC 25 kg/m2, já se enquadrando na classificação de sobrepeso.

Sabe-se que os principais objetivos da fisioterapia no tratamento de DS são: a propriocepção e relaxamento muscular com o intuito de conscientizar o paciente sobre a sua musculatura, normalizar tônus e dessensibilizar áreas dolorosas (Souza, Pereira, Vasconcelos, and Pereira, 2020). Como citado, entre os principais sintomas associados a DSF está a dor, o qual repercute na funcionalidade pélvica feminina como um todo, dentre os tratamentos não farmacológicos mais usados estão a massagem perineal, liberação miofascial, treinamento muscular, biofeedback, dilatadores vaginais, eletroestimulação e radiofrequência o que corroboram com os estudos incluídos nesta revisão, tendo ciência que esses tratamentos visam proporcionar melhora no desempenho sexual e na qualidade de vida feminina (Araújo, Monteiro, and Siqueira, 2021; Souza, Pereira, Vasconcelos, and Pereira, 2020).

Em um estudo realizado por Pavanelo e Dreher (2021), os artigos selecionados para a RS abordaram diferentes recursos fisioterapêuticos aplicados nas DSF, dentre elas estão: Eletroestimulação, Método Pilates, TMAP, mobilidade pélvica e consciência corporal, evidenciando a multiplicidade de técnicas que podem ser aplicadas dentro da fisioterapia. Além disso, todos os estudos utilizaram ao menos uma ferramenta de avaliação das pacientes em comum, o Female Sexual Function Index (FSFI), assim como os estudos desta RS.

Nos estudos de (Tomen et al, 2016, Antonioli & Simões 2010, Moreira 2013, Jeng et al, 2006, SEO et al, 2005), o tratamento utilizado para pacientes com casos de vaginismo foi a cinesioterapia, eletroterapia como TENS e FES, biofeedback e terapia manual. A melhora da vida sexual foi relatada em todos os tratamentos, sendo que o estudo realizado por Seo et al, foi um estudo durante 12 semanas e após 8 semanas de tratamento, todas as pacientes já haviam relatado conseguir penetração vaginal. Já o estudo feito por Jeng et al, foi o mais demorado, 12 meses de tratamento, porém todas as mulheres conseguiram penetração vaginal, alcançaram o orgasmo e após um ano estavam grávidas.

Em relação a dispareunia, que é caracterizado pela dor durante o ato sexual, um estudo realizado por Dionisi & Senatori (2011), com 45 mulheres que apresentavam dispareunia no pós-parto, foram submetidas a eletroestimulação intravaginal (TENS) uma vez por semana durante 30 minutos e cinesioterapia com treino da musculatura do assoalho pélvico, orientadas a realizar contração e relaxamento perineal diariamente em casa, durante 15 minutos pela manhã e 10 minutos a noite durante 5 semanas. Ao final do tratamento concluiu-se que o treino da musculatura do assoalho pélvico resultou na melhora da força muscular, com melhora na função sexual.

A utilização do TENS para o tratamento da dor, é baseado na teoria das comportas, onde os impulsos do TENS são transmitidos através de fibras de grosso calibre, que são de rápida velocidade, chegando primeiro ao corno posterior da medula, impedindo que os estímulos da dor passem para o tálamo. (MURINA et al, 2008). O TENS também é utilizado para o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico, realizando uma contração passiva da musculatura perineal, Delgado & Ferreira (2014) também mostraram resultados positivos no tratamento das disfunções sexuais femininas. O uso do tens foi em combinação a outras terapias, em concordância com os autores que citaram o uso do TENS como tratamento, Wolpe et al, (2016) afirmaram que a utilização do TENS mostra-se efetivo no tratamento das disfunções sexuais femininas.

Assim como em outros estudos (Lira et al, 2022) esta revisão sistemática mostrou resultados congruentes e que corroboram a premissa de que a fisioterapia aplicada às disfunções sexuais é um meio resolutivo de tratamento. Em um estudo de caso recente, foi possível constatar que intervenções associadas de educação sexual, cinesioterapia e terapia manual foram eficazes para o tratamento de DSF a partir de 4 atendimentos, reforçando que o fisioterapeuta é um profissional capacitado para o manejo desta patologia, especialmente quando se trata de alterações do assoalho pélvico (Marraui, dos Santos, and Rocha, 2023).

Esta pesquisa apresentou limitações em relação ao quantitativo de estudos que relacionem atuação fisioterapêutica e DSF, decorrente desta temática ainda estar em ascensão na comunidade. Além disso, outras estratégias metodológicas podem ser utilizadas futuramente, para incluir novas bases de dados e outras combinações de termos de busca.

CONCLUSÃO

Como observado neste estudo, as técnicas fisioterapêuticas que demonstraram bons resultados quando aplicadas nas DSF foram: TMAP e eletroestimulação, que desempenharam um papel crucial quanto a maior aderência aos tratamentos e consequentemente recuperação do bem-estar sexual feminino, culminando no restabelecimento da qualidade de vida de muitas mulheres. Avanços nas pesquisas e no ensino são primordiais para alavancar os tratamentos, pois um profissional capacitado proporciona maior qualidade e rapidez na sua intervenção. Sugere-se então mais estudos, sobretudo com um maior número de mulheres e comparando mais técnicas, visando aprofundar a discussão quanto à aplicação de técnicas e procedimentos pertinentes a esta temática.

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Traduzido por: Verónica Abreu*, Sónia Gonçalves-Lopes*, José Luís Sousa* e Verónica Oliveira / *ESS Jean Piaget – Vila Nova de Gaia – Portugal

A partir de: Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ 2021;372:n71. doi: 10.1136/bmj.n71

Para mais informações, visite: http://www.prisma-statement.org/


1Graduando (a) em Fisioterapia na Universidade Federal do Delta do Piauí – UFDPar.

2Fisioterapeuta, Doutor em Ciências Médico-Cirúrgicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), docente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPar. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisioterapia Avaliativa e Terapêuticas – GPFAT.

Corresponding author (in portuguese): Guilherme Pertinni de Morais Gouveia – Cel.: +55 86 988016456, gpfatufpi@ufpi.edu.br.

ORCID:
Marcyelle Araújo do Nascimento (0000-0002-5456-8553) – E-mail: marcyelle.araujo@hotmail.com;

Leticya Sousa Teixeira (0000-0001-8037-9126) – E-mail: leticyasousa64@gmail.com;

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Guilherme Pertinni de Morais Gouveia (0000-0001-6470-2341) – E-mail: gpfatufpi@gmail.com;