ATUAÇÃO FARMACÊUTICA NA ABORDAGEM FARMACOLÓGICA PARA O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

PHARMACEUTICAL PERFORMANCE IN THE PHARMACOLOGICAL APPROACH FOR AUTISM SPECTRUM DISORDER

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10466835


Diana Pereira do Nascimento1; Gabriela dos Santos Salbé2; José Carlos Ferreira Eleres3; Maria Eline Ferreira Pereira4; Gabriel Cardoso de Queiroz Santos5; Natasha Costa da Rocha Galucio6; Regianne Maciel dos Santos Correa7; Antônio Taylon Aguiar Gomes8; Valdicley Vieira Vale9; Daniele de Araújo Moysés10


Resumo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) de acordo com a Organização Mundial da Saúde é conceituado como uma série de condições que se configura por demonstrar algum tipo de comprometimento no que tange o comportamento social, a comunicação e a linguagem. Diante disso o presente estudo objetiva compreender na literatura a abordagem farmacológica para o transtorno do espectro autista; evidenciar como estes são utilizados na terapêutica; verificar os seus efeitos durante o tratamento e investigar a inclusão do farmacêutico nas intervenções medicamentosas. Para tanto o método utilizado foi a revisão integrativa na literatura e a busca foi feita pelas publicações científicas indexadas nas bases de dados da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), especialmente nas Bases de Dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysisand Retrieval System Online (MEDLINE). Os resultados apresentaram oito estudos organizados em categorias sendo: os fármacos para o TEA, os seus efeitos durante o tratamento e a atuação do farmacêutico na interação medicamentosa. Na primeira categoria foi evidenciado que os principais medicamentos mais usados são a risperidona, aripiprazol e o ácido valpróico, na segunda categoria, os efeitos marcantes encontrados foram problemas de comportamento, como agressão, automutilação, mudanças repentinas de humor, hiperatividade, dentre outros e a última menciona a pouca interação do farmacêutico. Dessa forma concluímos que a atenção farmacêutica é fundamental na interação medicamentosa e na condução dessa ampla farmacoterapia indicada a crianças, jovens e adultos que apresentam o TEA, incluindo orientações sob novas perspectivas a serem exploradas em estudos futuros.

Palavras-chave: Autismo. Tratamento farmacológico. Farmacêutico.

Abstract

According to the World Health Organization, Autism Spectrum Disorder (ASD) is a set of conditions that cause impairments in social behavior, communication, and language. The purpose of this study is to examine the pharmacological approach to treating autism spectrum disorder in the literature, including how it is used in therapy, its effects during treatment, and the involvement of pharmacists in medication interventions. To achieve this goal, we conducted an integrative literature review by searching scientific publications indexed in the Virtual Health Library (VHL), with a focus on the Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) databases. The article presents eight studies categorized into drugs for ASD, their effects during treatment, and the role of the pharmacist in drug interactions. The main medications used in the first category are risperidone, aripiprazole, and valproic acid. The second category shows striking effects such as aggression, self-mutilation, sudden changes in mood, and hyperactivity. The last category mentions the pharmacist’s limited interaction. Therefore, it can be concluded that the pharmacist’s attention is essential in managing medicinal interactions and conducting pharmacotherapy for individuals with ASD, including children, young people, and adults. This includes providing guidance on new perspectives to be explored in future studies.

Keywords: Autism. Pharmacological treatment. Pharmaceutical.

1 INTRODUÇÃO

O transtorno do espectro autista (TEA) no entendimento de Nascimento et al. (2018) é uma disfunção que atinge o neurodesenvolvimento da criança responsáveis pela comunicação, interação social e o comportamento. Para assegurar o desenvolvimento infantil é preciso cuidados específicos e precoces, redução de riscos da patologia crônica e aumento de propostas terapêuticas. Para Araújo (2019) o TEA é percebido no início da vida pelos pais entre 12 e 18 meses na ausência da fala e entrosamento geral (Santos et al., 2020).

Globalmente uma em cada 160 crianças aproximadamente apresenta o TEA. Essa prevalência representa um valor médio e a estimativa exposta varia consideravelmente entre os estudos. Entretanto em determinados achados, são consideravelmente mais elevados. Em países de baixa e média renda não é conhecido o predomínio do TEA.  Nos últimos 50 anos os dados epidemiológicos destacam que o TEA vem crescendo no mundo inteiro, isso por conta da conscientização sobre este assunto, melhores ferramentas e aumento de critérios para o diagnóstico e o aperfeiçoamento das informações (OPAS, 2023).

 Para Lamb, Moore e Bailey (2000) os conceitos deste transtorno permanecem consolidado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5 (2014). A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2000) e Smalley (1997) expõem que o TEA sinaliza no indivíduo antes dos 3 anos de idade até a fase adulta dependendo do grau, sendo que 1% da população global é diagnosticada com esse distúrbio e 75% deles apresentam deficiência mental (Nascimento; Bitencourt; Fleig, 2021).

Os protocolos de investigação sobre o TEA no entendimento de Schwartzman (2018) devem incluir não apenas o exame direto, mas outras formas de avaliação como a neuropsicológica e a de linguagem constituída por grupo multidisciplinar formada pelas especialidades médicas (neurologistas, psiquiatras, pediatras e geneticistas), psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais dentre outros quando necessário (Barros Neto; Brunoni; Cysneiros, 2019).

A elaboração do tratamento referenciado por Bosa (2006) dispõe que precisa ser em conformidade com o progresso do paciente, pois com a criança seria preferencialmente a terapia da fala, a interação social, a linguagem, a educação especial e a estrutura familiar. Para os adolescentes seriam as equipes de competências sociais, terapia ocupacional e sexualidade e para os adultos, abranger assuntos relacionados a habitação e tutela (Cunha et al., 2021).

Quanto a abordagem medicamentosa Lopes (2019) ressalta que é um instrumento essencial para os psicanalistas, ou seja, um desafio entre o analista juntamente com a família e o indivíduo em tratamento, que quando indicados deve ser condizente entre a psicanálise e o recurso medicamentoso. A terapêutica psicofarmacológica não muda o processo subjacente dos vários sujeitos autistas de forma isolada, pois não há uma medicação específica para este transtorno, entretanto o tratamento psicotrópico possibilita proveitos sobre a cognição, o humor, os comportamentos agressivos, dentre outros. Dessa forma, questiona-se a respeito da abordagem literária sobre os fármacos para o TEA, seus benefícios de uso, visto que podem trazer contribuições para a qualidade de vida dos pacientes que apresentam o transtorno.

Segundo Eissa et al. (2018) e Vohra et al. (2016), são descritos que nas intervenções farmacológicas para o autismo, os medicamentos psicofármacos são de grande valia no uso terapêutico. Todavia em suas particularidades ocorrem lapsos quanto ao tratamento e complexo regime posológico nas distintas doses-resposta, o que pode acarretar em fracasso, reações adversas e risco na convivência, podendo implicar na segurança do tratamento (Barros Neto; Brunoni; Cysneiros, 2019).

Sobre a Atenção Farmacêutica (AF), Bisson (2007) salienta que esta, compactua com sentenças fundamentais na terapêutica individual do paciente e não exclusivamente com medicamento, cujas responsabilidades vão desde orientação, acompanhamento terapêutico, administração, seleção dos medicamentos, dosagem, via de administração, polifarmácia e esclarecimentos imprescindível ao cliente e aos que fazem parte do grupo interdisciplinar de saúde (Borges et al., 2019).

Quanto ao farmacêutico na abordagem do TEA, existe lacunas para este profissional atuar nesta patologia, pois na literatura poucos achados destacam o seu desempenho direcionado ao transtorno, entretanto a sua relevância está direcionado na proximidade com os pacientes e seus familiares, podendo contribuir com informações sobre os fármacos prescritos pelos médico,  apresentar os prejuízos da associação com outros medicamentos e alimentos, utilização após esquecimento do medicamento, efeitos colaterais e eventuais reações adversas.

Dessa forma sabendo que o TEA é um transtorno que atinge o neurodesenvolvimento do indivíduo e que o tratamento pode ser associado entre terapias e fármacos para uma qualidade de vida melhor, reflete a relevância deste objeto de estudo na busca do conhecimento na literatura. Com esse propósito a motivação fluiu do convívio direto com uma criança que apresenta o distúrbio e não faz uso de substâncias psicotrópicas. Para a sociedade a importância dessa temática possibilita compreender a relação multiprofissional com a associação medicamentosa direcionada ao cuidado, enquanto para o farmacêutico representa a busca por intervenção que auxilie na alteração do comportamento. Logo esse estudo objetiva compreender na literatura a abordagem farmacológica para o transtorno do espectro autista.

2 METODOLOGIA

Este estudo trata de uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL) que é um método utilizado para sintetizar resultados obtidos em pesquisas de maneira sistemática, ordenada e abrangente. É integrativa, pois fornece informações amplas sobre um assunto/problema. O revisor/pesquisador pode elaborar uma RIL com diferentes finalidades: definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos incluídos de um tópico particular. Este tipo de revisão permite a inclusão simultânea de pesquisa quase-experimental e experimental, combinando dados teórico-empíricos em conjunção com a multiplicidade de finalidades desse método (Ercole; Melo; Alcoforado, 2014).

Nesta RIL, adaptou-se o referencial de Mendes, Silveira e Galvão (2008), elaborado em seis etapas: (1) estabelecimento do tema e questão de pesquisa; (2) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão dos artigos (busca na literatura); (3) definição de informações a serem extraídas dos artigos selecionados; (4) análise crítica dos estudos incluídos; (5) discussão e apresentação dos resultados; (6) apresentação da revisão integrativa.

Na primeira etapa foi estabelecido o tema e a questão de pesquisa, a qual norteou a condução do estudo: O que a literatura aborda sobre os fármacos para o transtorno do espectro autista?

Na segunda etapa ocorreu os critérios de inclusão e exclusão dos artigos para a construção do estudo sendo realizada a busca por publicações científicas indexadas na base de dados da BVS, especialmente nas bases da LILACS e MEDLINE. Para realizar a busca do material da RIL em meio online, foram utilizados os seguintes descritores: autismo; tratamento farmacológico e farmacêutico. Na possibilidade de cruzamento entre os descritores, foi utilizado entre eles o operador booleano “AND” para garantir uma busca ampla. Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos originais completos disponíveis online, publicados no período de 2017 a 2023, nos idiomas estrangeiros e os que responderam à questão norteadora. E como critérios de exclusão, relatos de experiência, revisões integrativas ou outros estudos de cunho bibliográfico, incompleto, tangencial ao tema e repetido conforme  descrito  por Moysés et al. (2023).

Na terceira etapa foram feitas as definições das informações a serem extraídas dos artigos selecionados, por um instrumento de coleta de dados de Ursi e Gavão (2006), incluindo: título do artigo, ano de publicação, objetivo, método e síntese dos resultados, a fim de esmiuçar o processo de busca e síntese (Galvão; Pansani; Harrad, 2015).

Na quarta etapa foi feita a análise e crítica dos estudos incluídos para a definição das informações coletadas dos textos selecionados, sendo elaborado um quadro como instrumento para reunir e sintetizar as informações chaves para a revisão (Moysés; Santos, 2022), constando autor/ data, título, periódico, base de dado e tipo de estudo relacionados ao paciente com TEA. Na quinta foi feita a discussão e apresentação dos resultados a partir da interpretação e síntese dos dados comparados e evidenciados na análise dos artigos ao referencial teórico.   

Na sexta etapa foi feita a apresentação da RIL de forma clara e completa para permitir ao leitor avaliar criticamente os resultados, cujos estudos foram reunidos em categorias temáticas agrupadas por semelhança de conteúdo e os resultados interpretados com base na literatura correlata ao tema da pesquisa, sem omitir qualquer evidência relacionada.

Os aspectos éticos foram contemplados, mantendo as ideias e conceitos originais dos autores pesquisados, citando-os e referenciando-os dentro das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As bases de dados selecionadas pela Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) foram LILACS e MEDLINE. A partir dos DeCS foram encontrados 27 artigos apenas na MEDLINE para o desenvolvimento da RIL. Após a aplicação do critério de exclusão que foram: relatos de experiência, revisões integrativas ou outros estudos de cunho bibliográfico, incompletos, tangencial ao tema e repetido, foram excluídos 18 artigos. Do total 8 artigos constituíram a amostra da revisão, por serem artigos originais completos, disponíveis online, publicados no período de 2017 a 2023, nos idiomas estrangeiros e os que responderam à questão norteadora, expostos na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma da amostra dos estudos incluídos para a RIL. Fonte: Própria autoria, 2023. 

Notou-se que os artigos selecionados mencionam majoritariamente os fármacos para o TEA. Diante disso, no Quadro 2 consta os artigos, conforme as seguintes variáveis: autor/ano; título; periódico; base de dado e tipo do estudo.

Quadro 2. Artigos selecionados para inclusão e discussão da pesquisa.                        

Autor/ AnoTítuloPeriódicoBase de DadosTipo de Estudo
Wongpakaran, 2017 Impacto do fornecimento de intervenção farmacêutica especializada em psiquiatria na redução de problemas relacionados a drogas entre crianças com transtorno do espectro do autismo relacionado a sintomas comportamentais disruptivos: um estudo prospectivo randomizado aberto.J Clin Pharm TherMEDLINEEnsaio clínico controlado / Estudo diagnóstico / Guia de prática clínica / Estudo observacional / Estudo prognóstico / Fatores de risco
Sharma; Gonda; Tarazi, 2018Transtorno do Espectro do Autismo: Classificação, diagnóstico e terapiaPharmacol TherMEDLINEEstudo diagnóstico / Estudo de etiologia / Estudo de prevalência / Estudo prognóstico / Fatores de risco
Hong; Erickson, 2019 Medicamentos em investigação em ensaios clínicos em estágio inicial para transtorno do espectro do autismoExpert Opin Investig DrugsMEDLINEEstudo prognóstico
Yamasue; Aran; Berry-Kravis, 2019Terapias farmacológicas emergentes na síndrome do X frágil e no autismoCurr Opin NeurolMEDLINEEstudo prognóstico / Fatores de risco
Johansson et al., 2020Medicamentos para transtorno de déficit de atenção/hiperatividade em indivíduos com ou sem transtorno do espectro autista coexistente: análise de dados do registro sueco de medicamentos prescritosJ Neurodev DisordMEDLINEEstudo prognóstico
Pandina et al., 2020Abordagens atuais para o tratamento farmacológico dos principais sintomas ao longo da vida do transtorno do espectro do autismoChild Adolesc Psychiatr Clin N AmMEDLINEEstudo diagnóstico / Estudo prognóstico
Mccracken et al., 2021 Desenvolvimento de medicamentos para transtorno do espectro autista (TEA): progresso, desafios e direções futurasEuropean Neuropsychopharmacology  MEDLINEGuia de prática clínica / Estudo prognóstico
Karabacak et al., 2023Perfil de agentes psicotrópicos usados no transtorno do espectro do autismo de acordo com comorbidades na Turquia: uma avaliação de 4 anosInt Clin PsychopharmacolMEDLINEEstudo Prognóstico

Fonte: Própria autoria, 2023.

De posse do material, os estudos foram avaliados realizando uma leitura exploratória e interpretativa, averiguando criteriosamente cada artigo. A análise dos dados obteve como finalidade realizar a comparação das informações com o objetivo aqui proposto, sendo em seguida segregados nas seguintes categorias:  Fármacos utilizados na terapêutica do TEA e seus efeitos e a interação do farmacêutico na intervenção medicamentosa.

 No Quadro 3 foi observado que os fármacos risperidona, o aripiprazol e o ácido valpróico apresentaram maior destaque para prescrição do TEA. Seus principais benefícios foram tratar o comportamento, a agressão e as mudanças repentinas de humor, enquanto os efeitos colaterais foram ganhos de peso, sonolência e boca seca.

Quadro 3. Fármacos utilizados na terapêutica do TEA e seus efeitos

            ESTUDOMEDICAMENTOEFEITOS ADVERSOS E COLATERAISEFEITOS BENÉFICOS DO USO
Karabacak et al.,2023; Mccracken et al., 2021.RisperidonaGanho de peso, hipotensão, tonturas e sonolênciaTratamento de ansiedade, irritabilidade, agressividade, comportamento repetitivo e depressão.
Karabacak et al.,2023; Mccracken et al., 2021.Aripiprazol Transtornos psiquiátricos: agitação, insônia, ansiedade e inquietação.Tratamento de irritabilidade, hiperatividade e estereotipia.
Karabacak et al.,2023.Ácido valpróicoNáuseas, vômitos, sonolência e ganho de pesoPrevenir episódios de mania (euforia) e de depressão.
Mccracken et al., 2021; Johansson et al., 2020.MetilfenidatoInsônia, redução de apetite, ansiedade e perda de peso.Tratamento Hiperatividade, impulsividade e déficit de atenção
Mccracken et al., 2021.GuanfacinaSonolência, cansaço excessivo, náuseas, dor abdominal, insônia, tonturas e boca seca.Tratamento de inatenção, hiperatividade e insônia.
Mccracken et al., 2021.CitalopramDesinibição, agitação, hiperatividade e hipomania.  Tratamento de comportamentos ritualísticos, estereotipados e repetitivos.
Mccracken et al., 2021.FluoxetinaDesinibição, agitação, hiperatividade e hipomania,Para comportamentos repetitivos e ansiedade
Mccracken et al., 2021; Yamasue; Aran; Berry-Kravis, 2019.OcitocinaDor de cabeça; taquicardia; batimentos cardíacos lentosPara aumentar as sensações de bem-estar e diminuir estresse, amenizar a hiperatividade no autista, ansiedade e melhorar quadros depressivos.
Mccracken et al., 2021.EscitalopramNáusea, fadiga, sensação de nervosismo, boca seca e problemas de sono.Tratamento da depressão, ansiedade e amenizar a hiperatividade no autista
Mccracken et al., 2021.BuspironaSensação de cabeça vazia, astenia, enjoo e sonolênciaTratamento de distúrbios de ansiedade acompanhados ou não de depressão e amenizar a hiperatividade no autista
Johansson et al., 2020.Dexanfetamina, Tonturas, super estimulação, sonolência, fadiga, perda de apetite, edema, retenção de líquidos e dor de estômago.Usado para tratar déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).    
Johansson et al., 2020.ModafinilDores de cabeça, náusea, nervosismo, ansiedade, insônia e vertigem.Tratamento da narcolepsia e apneia do sono.
Johansson et al., 2020.AnfetaminaInsônia, inapetência, arritmiasPara transtorno do déficit de atenção, problema de sono e hiperatividade
Yamasue; Aran; Berry-Kravis, 2019.CanabinóidesBoca seca, diminuição do apetite, alterações de humor, tontura e sonolência.Para reduz a ansiedade e melhorar a qualidade do sono

Fonte: Própria autoria, 2023.

Foi observado no Quadro 4 apenas um artigo abordando a atuação do farmacêutico na intervenção medicamentosa fazendo parte da equipe multidisciplinar da psiquiatria clínica e do setor hospitalar.

Quadro 4. Atuação do farmacêutico na intervenção medicamentosa

ESTUDOSATUAÇÃO FARMACÊUTICA NO TEA
Wongpakaran, 2017.Equipe multidisciplinar – setor hospitalar Equipe multidisciplinar – psiquiatria clínica

Fonte: Própria autoria, 2023.

3.1 Fármacos utilizados na terapêutica do TEA

Se for necessário O uso de fármacos psicotrópicos é comum nas comorbidades observadas no TEA. O conhecimento a respeito disso é limitado quanto ao uso de drogas psicotrópicas prescrita ao paciente com TEA diagnosticado com comorbidade. Ao longo de 4 anos um estudo realizado na Turquia em pacientes com TEA associado a comorbidades entre 0 e 24 anos, foram prescritos com preferência: a risperidona (28,6%), o aripiprazol (13,7%) e o ácido valpróico (11,3%). Os dados foram obtidos da ‘Agência Turca de Medicamentos e Dispositivos Médicos’. Este estudo foi a primeira pesquisa em que os psicotrópicos usados no TEA foram avaliados em um período amplo e nacional. Na presença de TEA e suas comorbidades, a risperidona foi a mais prescrita e com frequência (Karabacak et al., 2023).

No estudo de Mccracken et al. (2021) no (Quadro 3) foi observado que por duas décadas, os EUA fizeram investimentos significativos em pesquisa de mais de US$ 110 milhões em redes e centros de pesquisa de TEA (não incluindo projetos individuais), mais sim, estudos de tratamento clínico e translacional, no qual o financiamento incluiu ensaios clínicos randomizados (RCT) de risperidona (três), metilfenidato, guanfacina, secretina (dois), aripiprazol mais intervenção de linguagem, citalopram, fluoxetina, ocitocina (dois), escitalopram, buspirona e uma ampla gama de intervenções comportamentais. Esses esforços programáticos de pesquisa em grande escala do TEA continuam sob os programas dos Centros e Redes dos Centros de Autismo (CRCA).

Embora o desenvolvimento de medicamentos para distúrbios do neurodesenvolvimento (DsND) tenha se mostrado assustador e determinado por algumas empresas, representam risco inaceitável, uma vez que não existe evidência conclusiva para apoiar a eficácia de qualquer medicamento para o tratamento do TEA, apesar de múltiplas tentativas. A intenção é apoiar o interesse mais amplo nesta área, oferecendo recomendações para o planejamento da fase inicial e tomada de decisão, identificando áreas para avanços metodológicos e destacando as principais descobertas no serviço de “eliminar” os esforços adicionais de desenvolvimento de medicamentos (Mccracken et al., 2021).

Nas pesquisas de Johansson et al. (2020) (Quadro 3) os adultos com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e TEA apresentam probabilidade de iniciar o tratamento com dexanfetamina, modafinil ou anfetamina, enquanto crianças diagnosticadas com esses distúrbios coexistente iniciavam com uso da atomoxetina e com menor frequência o metilfenidato. Já nos adolescentes não foram observadas diferenças significativas. Os resultados do tratamento em adultos após ajustes não mudaram. Na Suécia, os pacientes com TDAH foram obrigados a experimentar metilfenidato e/ou atomoxetina com efeitos colaterais inaceitáveis, ou um marcado efeito insuficiente, antes de ser prescrito dexanfetamina ou anfetamina. Assim, este estudo leva a especular se indivíduos com TEA podem mudar de metilfenidato para alternativas de segunda linha devido a uma resposta pior ou efeitos colaterais da medicação para TDAH.

Para Pandina et al. (2020) no (Quadro 3) os resultados dos ensaios clínicos de tratamentos farmacológicos do TEA não foram promissores, permanecendo altamente variáveis para os sintomas principais. Ainda não há uma demonstração de eficácia que implique uma ou mais vias ou alvos para um tratamento em detrimento de outro. Ao elaborar um plano de desenvolvimento de medicamentos para o tratamento dos principais sintomas do TEA, é fundamental levar em conta o fato de que o transtorno do neurodesenvolvimento que abrange toda a vida humana.

Nos resultados de Yamasue, Aran e Berry-Kravis (2019) (Quadro 3) a ocitocina, a vasopressina e os canabinóides mesmo que sejam testados como novas terapêuticas, continua difícil focar em um alvo molecular específico de desenvolvimento de medicamentos para os sintomas principais do TEA. Como a fisiopatologia da síndrome do X frágil (SXF) foi bem descrita como tendo um gene causal, o retardo mental X frágil-1, o desenvolvimento de agentes terapêuticos para a SXF está focado em alvos moleculares específicos, como o receptor metabotrópico de glutamato e o receptor GABA B.

Nos achados de Sharma, Gonda e Tarazi (2018) as opções atuais de tratamento para TEA incluem intervenções farmacológicas e não farmacológicas. A primeira expõe diferentes fármacos de classes de medicamentos, incluindo psicoestimulantes, antipsicóticos atípicos, antidepressivos, agonistas dos receptores alfa-2 adrenérgicos, inibidores da colinesterase, antagonistas dos receptores N-metil D-Aspartato (NMDA) e estabilizadores de humor antiepilépticos das principais classes de medicamentos e a segunda são as terapias voltadas para o progresso do indivíduo de acordo com o perfil descrito.

3.2 Efeitos dos fármacos no tratamento do indivíduo com TEA

Foi observado no estudo de Karabacak et al. (2023) (Quadro 3) que os fármacos mais usados na terapêutica do TEA foram:  risperidona, aripiprazol e ácido valpróico, sendo os seus efeitos correspondentes ao tratamento dos problemas de comportamento, agressividade, irritabilidade, hiperatividade, transtorno bipolar, mudanças repentinas de humor e melhora do bem-estar, tendo como evento indesejado a sonolência.

Para Mccracken et al. (2021) (Quadro 3) foi observado que os medicamentos utilizados nos pacientes com TEA foram a Risperidona, Aripiprazol, Metilfenidato, Citalopram, Fluoxetina, Ocitocina, Escitalopram e Buspirona. Os resultados mostraram que os seus benefícios e seus efeitos colaterais não foram satisfatórios, havendo necessidade de mais pesquisas no que concerne as intervenções para o autismo. Abaixo segue os principais efeitos:

Tanto a risperidona quanto o aripiprazol são eficazes como antipsicóticos de segunda geração para tratamento da hiperatividade, irritabilidade, agressividade ou comportamento auto lesivo, entretanto podem provocar efeitos colaterais indesejáveis como aumento de peso, síndrome metabólica, hiperprolactinemia, síndrome extrapiramidal, diminuição do limiar convulsivo e raramente, a síndrome neuroléptica maligna.

            O Metilfenidato foi indicado como psicoestimulante para hiperatividade, impulsividade e déficit de atenção, seu efeito colateral provoca insônia, redução de apetite, ansiedade e perda de peso.   

A Guanfacina foi indicada para melhorar a atenção, hiperatividade e insônia. Seu efeito colateral sonolência, cansaço excessivo, náuseas, dor abdominal, insônia, tonturas e boca seca.

O fármaco Citalopram e a Fluoxetina são inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) foram indicados para comportamentos repetitivos e ansiedade, seus efeitos adversos foram desinibição, agitação, hiperatividade e hipomania.

Ocitocina, Escitalopram e Buspirona foram indicados para amenizar o comportamento de hiperatividade dos autistas, necessitando ainda de estudos de curva de dosagem visando minimizar os efeitos colaterais observados, náuseas e problemas relacionados ao sono.

Para Johansson et al., 2020 (Quadro 3) o Metilfenidato e o Dexanfetamina foram indicados para tratar TDAH, sendo o seu efeito colateral tonturas, super estimulação, sonolência, fadiga, perda de apetite, edema, retenção de líquidos e dor de estômago. Outros fármacos de seus relatos foram o Modafinil, para tratamento da narcolepsia e apneia do sono, sendo seus efeitos colaterais: dores de cabeça, náusea, nervosismo, ansiedade, insônia e vertigem e Anfetamina para transtorno do déficit de atenção, problema de sono e hiperatividade, seus efeitos colaterais são: insônia, inapetência e arritmias, mas essa população de pacientes deve estar sujeita a monitoramento cuidadoso e quantidade de dose.

Nos estudos de Yamasue, Aran e Berry-Kravis (2019) (Quadro 3) a ocitocina apresenta os efeitos já citados nos relatos de Mccracken et al. (2021) enquanto os canabinóides são direcionados ao tratamento das comorbidades, principalmente hiperatividade, distúrbios do sono, ansiedade auto e heteroagressividade. Foi observado que o seu uso durante o tratamento não foi satisfatório, havendo agravo sintomático, além dos efeitos colaterais característicos como: sonolência e alteração de apetite. Desse modo o seu uso foi falho na intervenção para tratamento do TEA, logo as evidências científicas ressaltam que até o presente momento a prescrição de canabinoides para o manejo de sintomas de TEA não é indicada.

Nessa perspectiva, percebeu-se que os principais efeitos para diminuir os sintomas manifestados pelo TEA foram as mudanças de comportamento, insônia, irritabilidade, depressão, déficit de atenção e ansiedade. No mais a literatura internacional menciona que ainda não há tratamento medicamentoso direcionado para o TEA, mas para amenizar o comportamento de quem o tem.

3.3 A atuação do farmacêutico na intervenção medicamentosa

Entre os estudo selecionados a atuação do farmacêutico relacionado ao TEA foi pouco mencionada deixando claro a sua contribuição apenas na abordagem medicamentosa, pois nos relatos de Hong e Ericson (2019) (Quadro 2) a utilização do crescente campo de conhecimento sobre os mecanismos patológicos e a neurobiologia alterada de indivíduos com TEA levou ao desenvolvimento de muitas intervenções farmacêuticas inovadoras.  Além disso, avaliar a responsabilidade medicamentosa específica do paciente e integrar a intervenção comportamental em conjunto com o tratamento farmacológico é crucial para o desenvolvimento de uma abordagem bem-sucedida ao tratamento do TEA.

Nas pesquisas de Wongpakaran, (2017) (Quadro 4) foram encontradas duas atuações do farmacêutico, uma na equipe multidisciplinar de psiquiatria clínica e a outra na equipe hospitalar. Na primeira foi evidenciado que a terapia psicofarmacológica até agora tem se concentrado na melhoria de comportamentos perturbadores para aprimorar a função e a qualidade de vida do paciente. Tal acontecimento pode estar associado ao fato da intervenção farmacêutica especializada em psiquiatria (PS) que contribui na identificação e resolução de problemas relacionado a medicamentos (PRMs) entre crianças com TEA associados a comportamentos perturbadores. Neste contexto a atuação farmacêutica tradicional pode ser insuficiente para iniciar o atendimento ideal a esta população vulnerável.

Mediante a isso foi realizado um estudo com duração de oito semanas, com crianças entre 2,5 e 12 anos de idade com TEA apresentando comportamentos disruptivos. Um grupo recebeu intervenções do farmacêutico PS e o de controle do farmacêutico hospitalar. O estudo demonstrou que a intervenção farmacêutica do PS foi eficaz para resolver PRMs em pacientes com TEA, o que resultou na redução dos PRM comuns, incluindo a seleção do agente antipsicótico, o ajuste da dose com base nas pontuações ABC-I e a prestação de aconselhamento individualizado sobre medicamentos, já o segundo foi inadequado. A redução dos problemas relacionados a drogas (DRPs) levou à melhoria de qualquer comportamento perturbador. Além disso, a equipe multidisciplinar deve desenvolver protocolos de terapia medicamentosa para promover o papel dos farmacêuticos neste cenário (Wongpakaran, 2017).

Nesse sentido é essencial a presença do farmacêutico na interação com o paciente portador do TEA, devido as suas práticas na atuação medicamentosa, observando os movimentos, falas, limitação, prestando assistência individualizada, por meio de conhecimento e criatividade, levando em consideração as particularidades e necessidades da pessoa a ser cuidada de forma a melhorar a qualidade de vida do paciente.

4 CONCLUSÃO

Os resultados mostraram que o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que atinge as áreas centrais da comunicação e comportamento. Os pais são os primeiros a identificarem a falta de interação. O cuidado precoce contribui para assegurar o desenvolvimento do indivíduo.

Os tipos de medicamentos mais usados para o TEA são: risperidona, aripiprazol e o ácido valpróico, percebeu-se que ambos são indicados a outros transtornos e não especificamente para autismo, ou seja, são apenas para suavizar algum tipo de manifestação. Quanto aos outros fármacos prescritos na literatura internacional, verificou-se que não foram eficazes para o tratamento durante os experimentos, havendo necessidade de mais pesquisas no ramo farmacêutico, por outro lado, o uso desses fármacos pode representar risco a saúde do portador, uma vez que não existe evidência conclusiva que garantam resultados satisfatórios, contribuindo para a ocorrência de eventos adversos.

Direcionados aos efeitos benéficos dos fármacos, percebeu-se que a maioria contribui para evitar problemas de comportamento, como agressão, automutilação, mudanças repentinas de humor, hiperatividade, dentre outros.

Quanto a atuação do farmacêutico na intervenção medicamentosa foi evidenciada que pouco é abordado a sua participação em meio científico relacionado ao TEA, pois é referido com maior intensidade os fármacos para o tratamento, porém sua participação representou grande relevância quando sua especialidade em psiquiatria foi apresentada, o que contribuiu para o cuidado dos pacientes com TEA.

Este estudo fornece uma base teórica para profissionais da saúde, além do público em geral, incluindo orientações novas perspectivas a serem exploradas em estudos futuros.

As limitações deste estudo foram por conta de poucos estudos disponíveis, baseados nos mesmos tipos de resultados e lacunas a respeito do farmacêutico na relação com o TEA. Assim a atenção do farmacêutico é de fundamental importância, embora não haja uma cura, este profissional é apto à condução dessa ampla farmacoterapia indicada a crianças, jovens e adultos que apresentam o TEA.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. e-mail: dianapdonascimento@gmail.com

2Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. e-mail: salbegabriela@gmail.com

3Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. e-mail: jcarlosmageleres@gmail.com

4Docente e Coordenadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento. e-mail: elinefpereira@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0009-3354-1958

5Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. Mestre em Neurociências e Biologia Celular. e-mail: Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9530-4845

6Farmacêutica. Doutora em Genética e Biologia Molecular. e-mail: natashagalucio@gmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4923-1478

7Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. Doutora em Neurociências e Biologia Celular. e-mail: regianne83@hotmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9837-4304

8Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. Doutor em Inovação Farmacêutica e-mail: t4ylon@gmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2869-553X

9Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. Doutor em Inovação Farmacêutica. e-mail: valdicleyvale2@gmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6570-4875

10Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ), Campus Municipalidade. Doutora em Genética e Biologia Molecular. e-mail: farmadani.aulas@gmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6956-1381