REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7763820
Bruna Dias Rocha Miguel
Karynne Milhomem Sousa Holme Machado
Raiane Antunes Sampaio
José Igor Ferreira Santos Jesus
Thiago Brito Steckelberg
Mylena Seabra Toschi
Joceli Ribeiro dos Santos
Paolla Coelho Araújo
Geoeselita Borges Teixeira
Danyelly Rodrigues Machado Azevedo
RESUMO
Introdução: A Insuficiência Cardíaca (IC) é caracterizada como uma disfunção que ocasiona um suprimento sanguíneo inadequado para atender as necessidades metabólicas tissulares. É caracterizada por sinais e sintomas típicos resultantes da redução do débito cardíaco e/ou elevação das pressões de enchimento em repouso ou durante o exercício. Objetivo: Identificar na literatura a importância do papel dos enfermeiros com portadores de insuficiência cardíaca. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura através da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e contemplou as seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e na plataforma Scientific Electronic Library Online (SciELO). Resultados: Os principais achados foram: Intervenções educativas e de autocuidado e o enfermeiro como educador no manejo da IC para adesão medicamentosa e não-farmacológica. Conclusão: Conclui-se que o profissional enfermeiro tem papel fundamental como educador para promover o aumento no escore de adesão terapêutica.
Palavras-chave: Autocuidado; Cuidados de enfermagem; Insuficiência cardíaca; Papel do profissional de enfermagem.
ABSTRACT
Introduction: Heart Failure (HF) is characterized as a dysfunction that causes an inadequate blood supply to meet tissue metabolic needs. It is characterized by typical signs and symptoms resulting from reduced cardiac output and/or increased filling pressures at rest or during exercise. Objective: To identify in the literature the importance of the role of nurses with patients with heart failure. Methodology: This is an integrative literature review through the Virtual Health Library (VHL) and included the following databases: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), Nursing Database (BDENF) and the Scientific Electronic Library Online (SciELO) platform. Results: The main findings were: Educational and self-care interventions and the nurse as an educator in the management of HF for medication and non-pharmacological adherence. Conclusion: It is concluded that the professional nurse has a fundamental role as an educator to promote an increase in the therapeutic adherence score.
Keywords: Self-care; Nursing care; Cardiac insufficiency; Role of the nursing professional.
1. INTRODUÇÃO
A Insuficiência Cardíaca (IC) é caracterizada como uma disfunção que ocasiona um suprimento sanguíneo inadequado para atender as necessidades metabólicas tissulares. Essa síndrome pode ser causada por alterações cardíacas estruturais ou funcionais e é caracterizada por sinais e sintomas típicos resultantes da redução do débito cardíaco e/ou elevação das pressões de enchimento em repouso ou durante o exercício. Por fim, as mudanças velozes ou graduais da IC nos sinais e sintomas, levam à necessidade de tratamento de emergência1.
Aproximadamente 1 a 2% da população mundial podem ser acometidas pela IC, e que 6 a 10% desses pacientes são maiores de 65 anos. De junho de 2018 a junho de 2019, obteve-se um total de 212.208 casos de internações e 24.035 mil óbitos por IC no Brasil. Desse modo, estes números alegam que a primeira causa de internação hospitalar das doenças do aparelho circulatório é causada por IC e é a segunda maior razão de mortalidade no país2.
A IC é uma condição crônica de caráter sistêmico e progressivo, responsável por altas taxas de morbidades e mortalidades, decorrentes da baixa qualidade de vida, a complexidade da doença influencia aspectos biológicos, sociais, espirituais e psicológicos do paciente com IC. Isso ocorre devido a sintomas como: diminuição de atividades diárias, alteração no bem-estar e perda da qualidade de vida2,3.
Outros sintomas listados por Fernandes (2020) encontrados na IC são: fadiga e dispneia, ingurgitamento jugular, edemas periféricos e estertores crepitantes pulmonares, além de dificuldade para dormir, e na parte emocional inclui: depressão, problemas cognitivos e preocupações. Dessa forma evidencia-se uma série de sinais e sintomas de congestão pulmonar e sistêmica, que caracteriza o estágio final de todas as doenças cardiovasculares4.
O estudo de Albuquerque et al (2015) cita que entre 30-40% dos casos, os portadores de insuficiência cardíaca não conseguem identificar a real causa da descompensação clínica. Observa-se que os sinais e sintomas causados por insuficiência cardíaca, dificultam o cotidiano dos indivíduos que convivem com as restrições e modificações da patologia. Em conclusão, observa-se que o enfermeiro necessita de um preparo importante para a execução de um cuidado, que atenda às necessidades psicossociais e biológicas do paciente. Auxiliando na superação de limitações e a criação de estratégias para minimizar as complicações e readmissões hospitalares frequentes que esta patologia causa, gerando importantes custos para o sistema de saúde4,5.
A teoria específica da situação do autocuidado da IC de Riegel (2016), relatam que a falta de conhecimento específico da patologia aumenta os desafios enfrentados pelos portadores desta doença. Exemplo disso, são as dificuldades de entender as informações de saúde que podem afetar a confiança e auto eficácia na capacidade de aceitar o direcionamento de autocuidados relevantes, isso se deve principalmente ao baixo nível de alfabetização6.
É evidente que os pacientes portadores de IC, desconhecem o autocuidado como comportamentos diários que mantêm uma estabilidade significativa. Identificando ser de suma importância que o profissional enfermeiro e a equipe de enfermagem tenham um aprimoramento do seu olhar e técnicas para uma melhor abordagem ao paciente com IC para o desenvolvimento de um cuidado adequado diante de suas necessidades, pois se os pacientes não estiverem confiantes o autocuidado pode não acontecer7-9.
A falta de compreensão dos pacientes sobre as características da IC e da importância da continuidade dos esquemas de tratamento pelos envolvidos, pode aumentar a morbimortalidade aos portadores de IC8,9. O planejamento adequado da assistência de enfermagem com a elaboração de um plano é indispensável, para que haja os cuidados de forma clara e objetiva, apresentando as ações do enfermeiro e orientações aos pacientes com IC. Logo, atender às principais necessidades de pessoas acometidas por IC, e permitir aos cuidadores/familiares a continuidade do tratamento pré-estabelecido no domicílio10-12.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo identificar na literatura científica estudos que apresentem o papel do enfermeiro nos cuidados com pacientes portadores de insuficiência cardíaca. Aliado a isto, buscamos identificar as repercussões ocasionadas pela IC na vida de seus portadores, expondo as estratégias utilizadas pelos profissionais da enfermagem e sua importância para o enfrentamento da patologia.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, onde inclui uma análise de pesquisas relevantes que subsidiam a tomada de decisões e a melhoria da prática clínica, é capaz de sintetizar o estado do conhecimento sobre um determinado tópico e, adicionalmente, aponta para lacunas de conhecimento que precisam ser preenchidas por novas pesquisas. Esta abordagem de pesquisa permite a síntese de vários estudos publicados e conclusões gerais sobre um determinado campo de estudo13. Esta revisão foi realizada em seis etapas: I – Construção de pergunta norteadora, II – Busca de amostragem na literatura, III – Seleção dos artigos, IV – Análise dos estudos incluídos, V – Discussão dos resultados, VI – Revisão integrativa, discussão e conclusões ou considerações finais.
Este estudo teve como pergunta norteadora: Qual o papel do enfermeiro nos cuidados com pacientes portadores de insuficiência cardíaca? E para melhor compreensão dos achados, foi elaborada a estratégia PICO (Paciente, Intervenção, Comparação e “Outcomes” (desfecho)14, onde temos como P (população) – pessoas com IC, I (interesse) – estudos que utilizaram o papel do enfermeiro nos cuidados de pessoas com insuficiência cardíaca, C (comparador) – não se aplica, O (resultados) – identificação da importância do papel do enfermeiro e o benefício dos cuidados de enfermagem em pessoas acometidas por IC.
Em agosto de 2022 foi realizada a coleta de dados por meio da busca na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e contemplou as seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e na plataforma Scientific Electronic Library Online (SciELO). A estratégia de busca seguiu os critérios da base de dados utilizando os descritores controlados buscados no DeCS: “Cuidados de Enfermagem”; “insuficiência cardíaca”, “papel do enfermeiro” e “autocuidado”. O operador booleano AND foi utilizado como conector.
Para capturar estudos que possibilitem a compreensão do fenômeno em cenário nacional, aplicou-se os critérios de inclusão: artigos científicos completos relacionados ao tema, publicados entre os anos de 2012 a 2022, de língua portuguesa e que respondam à pergunta norteadora. Os critérios de exclusão foram: capítulos de livro, dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos incompletos ou que não respondem à questão norteadora, além dos que foram publicados fora do período estabelecido e idiomas que não fossem o português.
Para identificar os artigos, foram aplicados os DeCS na plataforma BVS, e assim foram localizados 132 artigos englobando as 4 bases de dados de busca selecionadas. E para a organização dos artigos utilizou-se o Preferred Reporting Items for Sistematic Reviews and Meta-analysis (PRISMA) (PARUMS, 2021).
2.1 Figura 1. Fluxograma dos artigos selecionados para revisão. Utilizando o PRISMA (PARUMS, 2021).
Fonte: Desenvolvido pelo pesquisador, Goianésia, 2022.
3. RESULTADOS
O intuito deste trabalho foi abordar estudos sobre a importância do papel do enfermeiro com portadores de insuficiência cardíaca e o benefício que as intervenções de enfermagem trazem a esta população, foi elaborado o quadro abaixo, após a leitura dos artigos, com informações quanto ao título, objetivo, resposta à pergunta norteadora, autores e ano. Segue abaixo a síntese dos estudos analisados que foram desenvolvidos no período de 2012 a 2022, todos realizados no Brasil.
Quadro 1: Verificar o papel do enfermeiro nos cuidados de pacientes com IC – Goiás, Brasil, 2022.
Fonte: Desenvolvido pelo pesquisador, Goianésia, 2022.
4. DISCUSSÃO
Com base nos resultados encontrados, optou-se por destacar as 2 categorias temáticas mais expostas nos estudos, a saber: intervenções educativas e de autocuidado e Educação no manejo da IC para adesão medicamentosa e não-farmacológica.
4.1. Intervenções educativas e de autocuidado
Os estudos E1, E3, E4 e E6 demonstraram que os portadores de IC não compreendem sua patologia e a importância da adesão à terapêutica, gerando descompensações cardíacas frequentes e consequentemente inúmeras reinternações, devendo ser implantado as intervenções educativas dos profissionais aos pacientes com foco na aprendizagem e percepção dos sinais e sintomas de descompensação para uma melhor qualidade de vida.
Fatores intrínsecos e extrínsecos do indivíduo, como motivação, compreensão, atendimento médico adequado, entre outros, afetam diretamente o aspecto de autocuidado. As utilidades das instruções dadas pelos profissionais podem variar de acordo com o nível de escolaridade, e deve ser adaptada a esta condição. Além disso, a ingestão de medicamentos prescritos pode ser reduzida, pois muitos pacientes têm dificuldades em entender o que está prescrito e obter esses medicamentos. Portanto, a baixa escolaridade e baixo nível social predispõe à má adesão ao tratamento e à automedicação, levando à descompensação da doença e ao aumento das reinternações16-18.
O estudo de Tinoco (2021) corrobora com os estudos achados, pois cita que a insuficiência cardíaca, o baixo conhecimento em saúde, comprometimento cognitivo, sintomas depressivos e múltiplas comorbidades podem limitar as opções de autocuidado. O baixo letramento em saúde em pacientes com insuficiência cardíaca se traduz em menor conhecimento relacionado à doença, pior comportamento de autocuidado, má qualidade de vida e menor adesão aos medicamentos prescritos. Em síntese está associada à incidência de mortalidade em pacientes ambulatoriais e hospitalizados e além disso deve ser observado que baixo letramento em saúde pode predizer morbidade e mortalidade.
Se faz necessário que os profissionais de saúde promovam a adoção de estratégias de ensino-aprendizagem que promovam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e aptidões dos pacientes e cuidadores. Para monitorar, reconhecer e manejar apropriadamente os sintomas da insuficiência cardíaca e além disso, os enfermeiros devem ser motivados a utilizar as melhores evidências científicas na prática clínica, incluindo informações sobre insuficiência cardíaca, monitoramento de sinais e sintomas de descompensação, participação no autocuidado e adesão à farmacoterapia. Tornando-se evidente que ensinar o autocuidado para tomar as medicações e controlar os sinais e sintomas da insuficiência cardíaca melhoram a qualidade de vida das pessoas com IC20-22.
4.2. Educador no manejo da IC para adesão medicamentosa e não-farmacológica:
Os estudos E3, E7 e E8 citam a importância do profissional enfermeiro como educador, pois este profissional tem um maior tempo e proximidade com os pacientes, podendo trabalhar na conscientização da adesão medicamentosa e não medicamentosa, como forma de minimizar as descompensações da doença.
O tratamento farmacológico possui um complexo plano terapêutico onde causa confusão aos pacientes no quesito de aderir ao tratamento indicado16-18. A adesão a medicamentos para condições crônicas depende de vários fatores como, presença de mais de uma doença crônica, escolaridade, custos com saúde, idade, e número de medicamentos em uso diário. Em suma, vários autores concordam que novas estratégias devem ser abordadas para reduzir as barreiras à adesão a tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, promovendo assistência de qualidade para portadores de IC em todos os níveis de descompensação da doença23-25.
Manfredini (2021) relata que o primeiro Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca evidencia baixa adesão à medicação e aumento da incidência de infecções. Acreditam que alguns dos problemas decorrentes da má compreensão da terapia medicamentosa podem ser resolvidos por meio de instruções escritas, em linguagem de fácil compreensão, enfatizando os nomes dos medicamentos, a via correta, o horário de administração para manejo, a dose adequada e indicações e possíveis efeitos adversos. No entanto, vale ressaltar que a mera adesão a cuidados médicos não é suficiente para garantir que pacientes com insuficiência cardíaca estejam livres de sintomas e aptos a realizar suas tarefas satisfatoriamente.
As intervenções e o tratamento não farmacológico desempenham um papel importante na prevenção e tratamento da insuficiência cardíaca, pois visam melhorar a resistência e a capacidade de seu organismo e as medidas que devem ser realizadas pelos profissionais enfermeiros para que reduza os quadros de descompensação, incluindo orientações dietéticas de suporte voltadas para restrição de sódio e líquidos, controle e monitoramento do peso, estimulação de um estilo de vida ativo por meio de exercícios físicos, técnicas de melhora do sono e repouso e, principalmente, reconhecimento de sinais e sintomas de descompensação clínica26-28.
Sobre as limitações deste estudo, destaca-se a escassez de artigos nas estratégias de busca do período de 2017 a 2022 (últimos 5 anos). Embora os descritores usados tenham apresentado diversos artigos nas bases de dados, poucos correspondiam ao principal foco do estudo.
5. CONCLUSÃO
Nos estudos que utilizaram os cuidados de enfermagem de forma adequada, observou-se que houve redução de descompensação da doença e diminuição das reinternações hospitalares. Sendo assim, conclui-se que o profissional enfermeiro tem papel fundamental como educador, devendo avaliar e planejar os cuidados necessários de forma individualizada, conforme a necessidade e perspectiva de cada indivíduo, implementando medidas de promoção da saúde, para adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico e orientações educativas de autocuidado, promovendo o aumento no escore de adesão terapêutica.
Se faz necessário realizar estudos mais aprofundados e recentes, abordando questões de tratamento e intervenções de enfermagem, voltados para esta patologia e população acometida. Além de formas para conscientização e aprimoramento de técnicas dos profissionais, afim de implementar práticas de melhoria relacionadas à IC, no cotidiano das unidades de atendimento.
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