ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES IDOSOS EM UM MUNICÍPIO DO OESTE DO PARANÁ

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8082113


Eliana Cristina da Silva de Almeida
Elias Donizeti Dutra
Dra. Dayane Kelly Sabec Pereira
Me. Graziella Melissa de Vignalli Florence Miola


RESUMO

O farmacêutico em sua profissão deixou de ser um dispensador de medicamentos para atuar como o principal orientador, garantindo prioridade ao uso racional e seguro dos medicamentos, minimizando os efeitos colaterais da terapêutica medicamentosa e dos custos do tratamento para o paciente. O objetivo deste estudo foi comparar e descrever o papel do farmacêutico nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) em um município do Oeste do Paraná, no acompanhamento farmacoterapêutico e nos fatores que possam afetar a adesão aos tratamentos farmacológicos voltados para população idosa. Foi realizado um estudo transversal qualitativo, para tanto foram aplicados questionários aos pacientes idosos  que foram retirar algum medicamento de  uso contínuo na farmácia das unidades Básicas de Saúde. O questionário era composto de perguntas sobre o conhecimento dos idosos voltado aos medicamentos, como: a quantidade de doses administradas diariamente, indicação, se conhece alguma precaução e/ou efeito colateral em relação  ao medicamento e se o responsável pela dispensação era um farmacêutico ou outro profissional da saúde. Com as respostas foi gerado gráfico com o conhecimento de cada paciente. Conclui- se que maioria dos pacientes não tiveram atenção farmacêutica no momento da dispensação dos medicamentos e o pouco de conhecimento que alguns possuem foi passado por um profissional da medicina no momento da consulta. Sendo assim, é importante a presença dos farmacêuticos nas unidades básicas de saúde, que eles mostrem sua importância na manutenção e prevenção da saúde.

Palavras-chaves: medicamentos, farmacêutico, farmacoterapia.

ABSTRACT

The pharmacist in his profession is no longer a drug dispenser to act as the main advisor, ensuring priority to the rational and safe use of drugs, minimizing the side effects of drug therapy and treatment costs for the patient. The aim of this study was to compare and describe the role of the pharmacist in Basic Health Units (UBS) in a city in western Paraná, in pharmacotherapeutic follow-up and in factors that may affect adherence to pharmacological treatments aimed at the elderly population. A qualitative cross-sectional study was carried out, for which questionnaires were applied to elderly patients who went to pick up some medication for continuous use at the pharmacy of the Basic Health Units. The questionnaire consisted of questions about the knowledge of the elderly regarding medications, such as: the number of doses administered daily, indication, if they know any precautions and/or side effects in relation to the medication and whether the person responsible for dispensing was a pharmacist or another Health professional. With the answers, a graph was generated with the knowledge of each patient. It is concluded that most patients never received pharmaceutical care at the time of drug dispensing and the little knowledge that some have was passed on by a medical professional at the time of the appointment. Therefore, it is important for pharmacists to be present in basic health units, for them to show their importance in maintaining and preventing health.

Keywords: medicines, pharmacist, pharmacotherapy.

INTRODUÇÃO

O número de pessoas idosas está aumentando muito rapidamente, levantando preocupações sobre a qualidade da saúde e a evolução dessas populações. Os idosos, à medida que envelhecem, apresentam características inerentes a essa fase da vida e que persistem por anos, havendo a necessidade de tratamentos e cuidados mais abrangentes e assertivos, necessitando de farmacoterapia complexa e contínua. 

Com o aumento da população idosa os índices de doenças crônicas também aumentaram e, consequentemente, o consumo de medicamentos tem se mostrado cada vez mais preeminentes, onde a maioria dos idosos faz uso de três ou mais medicações diferentes (ALVES et al., 2021).

À medida que o estado de saúde declina, os idosos são mais propensos a procurar os serviços públicos de saúde, principalmente aqueles vinculados ao SUS. Essa escolha exige um atendimento estruturado e que atenda às necessidades pessoais e sociais desses pacientes, apoiado à realização efetiva focada em contribuir para a qualidade de vida é um processo de envelhecimento mais promissor e digno (FIEDLER, PERES, 2008; MEIRELES et al., 2007).

Os serviços farmacêuticos das Unidades Básicas de Saúde (UBS), do Sistema Único de Saúde (SUS), garante o acesso a medicamentos de qualidade, promovendo o uso racional, tendo os pacientes como os principais beneficiários. Além de identificar o uso inadequado de medicamentos, o atendimento geriátrico precisa considerar as propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos medicamentos fornecendo orientações adequadas, melhorando assim a adesão ao tratamento (REIS et al., 2021; VIANA, 2022).

Desta forma, a participação do farmacêutico nas UBSs é primordial na promoção da saúde e qualidade de vida de quem necessita de atendimento. Além disso, é importante ressaltar que a UBS é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) para grande parte da população, fato que demonstra a necessidade de prestar um serviço ‘mínimo’ para esclarecer essas pessoas/pacientes, reforçando ainda mais a importância do envolvimento do farmacêutico na equipe multidisciplinar da UBS, oferecendo serviços diferenciados (PERUCHI, 2021; TAVARES et al., 2017). 

Devido às múltiplas tarefas da rotina administrativa, os farmacêuticos muitas vezes limitam suas atividades à compra e dispensação de medicamentos, afastando-se do cuidado ao paciente, entretanto com o aumento do número de  automedicação e de intoxicações por medicamentos, evoluíram significativamente nesse aspecto, demonstrando a importância de um cuidado centrado no paciente e de relações mais humanas, trabalhando de forma mais direta e eficaz com os pacientes e demais profissionais da equipe, podendo interagir entre si (TAVARES et al., 2017).

O objetivo desta pesquisa foi elencar a importância do profissional farmacêutico na dispensação de medicamentos nas Unidades básicas de saúde para que pacientes idosos tenham melhor adesão à farmacoterapia o que beneficia a qualidade de vida destes pacientes de um município do Oeste do Paraná, e investigar quais questões afetam o benefício terapêutico e a adesão às terapias clínicas e farmacológicas planejadas.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal qualitativo, no qual foi realizado em oito UBSs em um município do oeste do Paraná, utilizando um questionário para a coleta das informações de 80 participantes, sendo 10 em cada local.

O critério de escolha das UBS levou em consideração UBS com a presença do farmacêutico e UBS com outro profissional da área da saúde na dispensação, a fim de descrever o papel do farmacêutico no âmbito do SUS na promoção da saúde e da qualidade de vida dos pacientes idosos, nas questões que afetam o benefício terapêutico e a adesão às terapias clínicas e farmacológicas planejadas.

Como critério de inclusão, a pesquisa foi realizada com participantes de ambos os gêneros, com idade igual ou acima de 60 anos e que fazem uso de polimedicamentos fornecidos nas redes de UBS e como critério de exclusão pessoas com menos de 60 anos ou que não utilizam medicamentos. 

RESULTADO E DISCUSSÃO

Conforme tabela 1, 65% (52) pessoas são do sexo feminino, indicando que o uso de medicamentos controlados tem pouca procura pelo público masculino, segundo Gomes et. al (2007) a cultura em que o homem não pode ser fraco e menos viril, explica o baixo índice de procura pelo monitoramento da saúde por parte dos Homens.

Todos os entrevistados 100% alegaram tomar os medicamentos prescritos pelo médico e saber como toma-los, na pesquisa de Pereira et al. (2022) 79,04% dos participantes confirmaram que sabem como tomar o medicamento, na dispensação um dos itens reforçados aos pacientes pelo profissional responsável é a quantidade, horário e intervalo de horas conforme receituário médico. Um fato que auxilia este conhecimento por parte dos participantes. 

Tabela 1. Perfil dos entrevistados para a pesquisa

Perfil dos entrevistadosQuantidadePorcentagem %
Sexo
Masculino2835
Feminino5265
Idade
60-706075
Acima de 702025
Escolaridade
Analfabeto0911,25
Ensino fundamental 5062,5
Ensino Médio 1721,25
Ensino Superior045

Os resultados encontrados no presente estudo revelam a falta de conhecimento dos efeitos adversos que os fármacos podem causar, mostraram que dos 80 (100%) entrevistados, 54 (67,5%) não conhecem os efeitos adversos, e 53 (66,3%) não sabem das possíveis interações, esses resultados foram semelhantes aos encontrados por Alves et al (2021), em uma pesquisa realizada na cidade de Maringá- PR, avaliando o nível de conhecimento dos idosos com idade igual /acima de 60 anos e cuidadores sobre uso de medicamentos, onde mostrou que dos 62 (100%), apenas 2,8% sabiam sobre os efeitos colaterais dos medicamentos, já na pesquisa de Pinto et al. (2016) com 227 (100%) idosos  realizada em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS), no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, no ano de 2013 no  período de novembro  a abril de 2014, para avaliar o nível de compreensão da farmacoterapia entre idosos e fatores associados, mostraram que apenas 6,9% dos entrevistados apresentaram conhecimento dos efeitos adversos causados por medicamentos, resultados próximos relatados no estudo Pereira et al. (2022) realizado em Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) na cidade de Fortaleza/CE com 105 idosos, com o objetivo de identificar a dificuldade de compreensão do paciente idoso quanto à prescrição de medicamentos na Atenção Primária onde 51 (53,54%) não conheciam os efeitos colaterais. 

No Brasil, aponta-se como um dos maiores problemas de saúde pública o uso irracional de medicamentos, tido como automedicação, interações medicamentosas e polifarmácia, estando diretamente ligado com o aumento da mortalidade, morbidade e gastos dos serviços de saúde, assim como a não adesão ao tratamento medicamentoso (ALVES et al., 2021).

Outro questionamento realizado nesta pesquisa foi qual profissional de saúde é responsável por dispensar os medicamentos e orientá-los em caso de dúvidas sobre sua prescrição médica, dos 80 (100%) 24 (30%), foram orientados pelo médico, 2 (2,5%) pelos familiares, 1 (1,3%) o filho orienta e nenhum (0%) foi orientado pelo profissional farmacêutico. Esta pesquisa assim como a de Pereira et al. (2022) e Ferreira et al. (2022) observou que são poucos os profissionais farmacêuticos que atuam na dispensação e atenção farmacêutica nas Unidades Básicas de Saúde tendo como função principal atividades burocráticas pertinente a função e liberação de medicamentos psicotrópicos.

Na pesquisa de Teixeira et al. (2017) realizada em 12 municípios vinculados à Microrregião Região de Saúde do Sudoeste da Bahia, ao avaliar como é realizada a dispensação, foi observado que grande parte dos municípios não realiza orientação farmacêutica no momento da dispensação e que o número de farmacêuticos é insuficiente para a quantidade da população, além disso, não possui atendimento farmacêutico individualizado, salientando que nem sempre a dispensação é realizada por farmacêuticos e sim por técnicos ou auxiliares, corroborando com os  resultados encontrados no presente estudo.

A Atenção Básica é uma das ferramentas do SUS disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Por meio de sua equipe de atendimento multidisciplinar, a atenção básica visa promover, proteger e prevenir problemas de saúde atendendo as pessoas de acordo com suas necessidades. Inseridos na equipe estão os profissionais de farmácia que têm reivindicado seu papel como prestadores de cuidados da saúde por meio de um modelo de prática farmacêutica paulatinamente solidificado, cuja prática é definida como assistência farmacêutica (ARAÚJO et al.,2008; BARBERATO et al.,2019; BARROS et al., 2020; BRASIL,2011; OLIVEIRA et al.,2010; PEREIRA & FREITAS, 2008).

O seguinte questionamento aplicado nessa pesquisa foi a respeito da utilização de chás, suplementos ou vitamínicos não prescritos por um médico, mais da metade 56 (70%) dos pacientes entrevistados utilizam algum tipo de chá na rotina do dia a dia, de acordo com os estudos Scheid et al. (2020) e Santos et al. (2017) a utilização de plantas medicinais entre os pacientes idosos é uma prática normal, o conhecimento das plantas utilizadas como chás, geralmente passa de geração para geração. As interações entre os medicamentos e ervas medicinais e contraindicações são desconhecidas pelos pacientes. Faz-se necessário à orientação e atenção no momento da dispensação, reforçando os cuidados com as interações entre medicamento x medicamento, alimentos e medicamentos e plantas medicinais e medicamentos.

CONCLUSÃO

Por meio do estudo conclui- se que a maioria dos pacientes nunca teve atenção farmacêutica no momento da dispensação dos medicamentos e o pouco de conhecimento que alguns possuem foi passado por um profissional da medicina no momento da consulta. Das oito UBSs que participaram da pesquisa somente uma possui a presença do farmacêutico em que o mesmo fica a cargo do controle dos medicamentos psicotrópicos e atividades burocráticas o que pode justificar o porque não houve diferença entre os resultados encontrados nos locais com a falta da presença do profissional farmacêutico, Sendo assim, os resultados dessa pesquisa demonstram a importância de projetos voltados ao público idoso e uma atuação maior dos profissionais farmacêuticos nas Unidades Básicas de Saúde, para que eles mostrem sua importância na  manutenção e prevenção  da saúde.

REFERÊNCIAS:

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