REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411161056
Francisco Xavier Martins Bessa1
RESUMO
A atenção primária à saúde é essencial na organização dos sistemas de saúde, funcionando como a porta de entrada para os serviços de saúde e o principal ponto de contato entre os usuários e o sistema. Dentro desse contexto, o farmacêutico assume um papel primordial e ativo na promoção da saúde e prevenção de doenças, oferecendo orientação sobre o uso correto de medicamentos, prevenção de problemas associados a eles e promoção de hábitos saudáveis. Esse envolvimento ocorre tanto em nível individual, por meio de aconselhamento personalizado aos pacientes, quanto em nível comunitário, através de iniciativas educativas e de conscientização em saúde. Dessa maneira, o farmacêutico demonstra sua versatilidade como agente de saúde, adaptando-se às necessidades específicas de cada população atendida na atenção primária.Averiguar a importância da atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde e seus impactos na promoção da saúde e prevenção de doenças. Revisão bibliográfica exploratória e comparativa embasada a partir de uma pesquisa qualitativa.Recomendou-se investimentos em educação continuada, desenvolvimento de políticas e diretrizes que promovam sua integração na equipe de saúde e fortalecimento da colaboração interprofissional. Concluiu-se que a atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde é indispensável para a promoção da saúde da população e o fortalecimento do sistema de saúde como um todo. Seu papel abrangente e multifacetado demanda reconhecimento, valorização e investimentos contínuos para garantir que possa continuar desempenhando seu papel de forma eficiente, beneficiando uma sociedade mais saudável e resiliente.
Palavras-chave: Farmacêutico. Atenção Primária à Saúde. Promoção da Saúde.
ABSTRACT
Primary health care is essential in the organization of health systems, functioning as the gateway to health services and the main point of contact between users and the system. Within this context, the pharmacist plays a primary and active role in promoting health and preventing diseases, offering guidance on the correct use of medications, preventing problems associated with them and promoting healthy habits. This involvement occurs both at the individual level, through personalized counseling for patients, and at the community level, through educational and health awareness initiatives. In this way, the pharmacist demonstrates his versatility as a health agent, adapting to the specific needs of each population served in primary care. Investigate the importance of the pharmacist’s role in primary health care and its impacts on health promotion and disease prevention. Exploratory and comparative bibliographic review based on qualitative research. Investments in continuing education, development of policies and guidelines that promote their integration into the health team and strengthening interprofessional collaboration were recommended. It was concluded that the role of the pharmacist in primary health care is essential for promoting the health of the population and strengthening the health system as a whole. Its comprehensive and multifaceted role demands recognition, appreciation and continuous investment to ensure that it can continue to play its role efficiently, benefiting a healthier and more resilient society.
Keywords: Pharmaceutical. Primary Health Care. Health Promotion.
1 INTRODUÇÃO
A atenção primária à saúde denota-se como elementar na estruturação dos sistemas de saúde, sendo reconhecida como a porta de entrada para os serviços de saúde, bem como o principal ponto de contato entre os usuários e o sistema de saúde como um todo. Ela abrange uma gama de serviços essenciais, incluindo promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento de condições agudas e crônicas, e reabilitação (Raposo; Santos, 2021).
É nesse contexto que os profissionais de saúde possuem um papel amplo, atuando como agentes facilitadores do acesso aos serviços, promotores da saúde e prestadores de cuidados. Entre esses profissionais, destaca-se o farmacêutico, cuja inserção na atenção primária tem se revelado de extrema importância para o alcance dos objetivos de saúde pública (Destro et al., 2021).
O farmacêutico, por sua parte, se torna um elo primário na promoção da saúde e prevenção de doenças, fornecendo orientação sobre o uso adequado de medicamentos, prevenção de problemas relacionados a eles e incentivando hábitos saudáveis. Essa atuação se dá tanto no nível individual, através do aconselhamento personalizado aos pacientes com doenças crônicas como diabetes ou hipertensão, orientação quanto ao uso e administração de insulinas como também manejos e cuidados nas aferições de glicemia capilar. Principalmente, os pacientes polimedicados, que são aqueles que utilizam mais de cinco medicamentos. Quanto no nível comunitário, por meio de campanhas de conscientização e educação em saúde. Dessa forma, o farmacêutico se torna um agente de saúde versátil, capaz de se adaptar às necessidades específicas de cada população atendida na atenção primária (Barros; Silva; Leite, 2019).
Ademais, a inserção do farmacêutico na atenção primária corrobora para com a integração efetiva entre os diferentes profissionais de saúde que compõem as equipes multiprofissionais. A colaboração entre a equipe multidisciplinar permite uma abordagem mais abrangente no cuidado ao paciente, levando em consideração não apenas a doença em si, mas também os aspectos sociais, emocionais e comportamentais que influenciam na saúde e no bem-estar. Essa integração promove uma melhor coordenação dos cuidados, evitando a fragmentação dos serviços e garantindo uma assistência mais eficiente e centrada no paciente (Soares; Brito; Galato, 2020).
A escolha desta temática justifica-se através de um crescente reconhecimento da importância da atenção primária como eixo imprescindível para a organização dos sistemas de saúde, sobretudo em países onde o acesso universal e equitativo aos serviços de saúde é uma prioridade.
Como a atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde pode ser aperfeiçoada para promover uma abordagem integral e eficaz no cuidado ao paciente e na prevenção de doenças?
Sendo assim o objetivo consiste em averiguar a importância da atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde e seus impactos na promoção da saúde e prevenção de doenças. Em relação aos objetivos específicos, estimou-se caracterizar tanto as funções quanto as responsabilidades do farmacêutico na atenção primária, evidenciar o impacto econômico e social da atuação do farmacêutico na atenção primária, e descrever os desafios e oportunidades relacionados à inserção do farmacêutico na atenção primária, com ênfase no período contemporâneo.
Metodologicamente, incorporou-se uma revisão bibliográfica exploratória e comparativa embasada a partir de uma pesquisa qualitativa. De modo complementar, utilizou-se de bases documentais com foco em obras dos últimos 5 anos.
Como fatores de composição, excluiu-se dados advindos artigos com falta de correlação com o tema ou por serem fechados, excederem a regra temporal estabelecida, serem incoerentes com as definições de idioma (português) ou por se apresentarem como fragmentos ou obras incompletas.
Neste panorama, o método comparativo, em particular, aborda duas séries ou fatos análogos de diferentes meios sociais ou áreas do conhecimento, visando identificar elementos comuns entre eles. Este método encontra aplicação em diversas áreas científicas, especialmente nas ciências sociais, permitindo a pesquisa em grandes grupamentos humanos em universos populacionais distintos e geograficamente distantes (Pádua, 2019).
Da mesma maneira, destaca-se a caracterização das escalas qualitativas, uma vez que esta abordagem permite que a imaginação e a criatividade dos pesquisadores guiem a proposição de trabalhos que explorem novos enfoques. A pesquisa documental, por exemplo, é vista como uma forma inovadora, capaz de trazer contribuições no estudo de determinados temas. Além disso, os documentos são frequentemente considerados fontes importantes de dados para outros tipos de estudos qualitativos, merecendo atenção especial (Cardoso; Oliveira; Ghelli, 2021).
Já a pesquisa documental envolve examinar informações que ainda não foram analisadas ou que podem ser revistas para uma nova interpretação ou para complementar análises anteriores. Essa abordagem pode fornecer uma base sólida para outros estudos qualitativos e permite que os pesquisadores explorem diferentes perspectivas usando sua criatividade (Pádua, 2019).
Utilizou-se dados obras e artigos científicos de autores nacionais com ênfase em datações posteriores a 2019, cujos resultados foram obtidos em bases de dados como Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Google Acadêmico. Similarmente, pontuou-se esta composição através dos termos: “farmacêutico”, “atenção primária à saúde” e “promoção da saúde”.
2 PAPEL DO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
A responsabilidade do farmacêutico na atenção primária à saúde é complexa e abrange uma variedade de aspectos que vão além da simples dispensação de medicamentos. Uma das funções mais importantes desse profissional trata-se da promoção do uso racional de medicamentos, que envolve orientar os pacientes sobre a correta utilização dos medicamentos prescritos, incluindo posologia, horários de administração e possíveis efeitos colaterais. Esse aspecto é crucial para garantir a eficácia do tratamento e evitar problemas relacionados ao uso inadequado de medicamentos, como reações adversas, intoxicações ou falhas terapêuticas (Ferreira et al., 2022).
Semelhantemente, o farmacêutico precisa ser ativo na educação dos pacientes sobre a importância da adesão ao tratamento e da continuidade do uso dos medicamentos conforme orientação médica. Essa orientação pode abranger a explicação dos benefícios do tratamento, esclarecimento de dúvidas e preocupações dos pacientes e identificação de possíveis barreiras à adesão, como dificuldades financeiras ou efeitos colaterais indesejados. Ao promover a adesão ao tratamento, o farmacêutico contribui para a melhoria dos resultados clínicos dos pacientes e para a prevenção de complicações relacionadas a doenças crônicas ou agudas (Soares; Brito; Galato, 2020).
Outra responsabilidade importante do farmacêutico na atenção primária é o monitoramento da farmacoterapia dos pacientes, que envolve a revisão dos medicamentos prescritos, identificação de possíveis interações medicamentosas e acompanhamento da evolução do quadro clínico do paciente ao longo do tempo. Esse acompanhamento é fidedigno para garantir a segurança e eficácia do tratamento, bem como para identificar precocemente possíveis problemas relacionados aos medicamentos, como a necessidade de ajustes de dose ou a substituição por medicamentos mais adequados (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Este profissional é de suma importância na participação de programas de prevenção e controle de doenças. Esta participação parte de uma variedade de atividades, desde a realização de campanhas de vacinação até a implementação de programas de rastreamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Ao trabalhar em estreita colaboração com outros profissionais de saúde, o farmacêutico contribui para a identificação precoce de condições de saúde, possibilitando intervenções oportunas e eficazes para prevenir complicações e melhorar os resultados clínicos dos pacientes (Máximo; Andreazza; Cecílio, 2020).
Por meio de palestras, workshops, material informativo e orientações individualizadas, o farmacêutico capacita os pacientes e suas famílias a tomar decisões informadas sobre sua saúde, promovendo hábitos saudáveis e prevenindo doenças. Essa contribuição para a educação em saúde é especialmente importante em comunidades onde o acesso a informações confiáveis sobre saúde pode ser limitado, permitindo que os indivíduos se tornem agentes ativos em seu próprio cuidado e bem-estar (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Por vezes, o farmacêutico atua como um facilitador entre os pacientes e os serviços de saúde, ajudando a superar barreiras de acesso e garantindo que todos tenham a oportunidade de receber os cuidados de que necessitam. Essa abordagem centrada no paciente e na comunidade fortalece os laços entre os serviços de saúde e a população atendida, promovendo uma relação de confiança e colaboração que é imprescindível para o êxito de qualquer programa de saúde pública (Raposo; Santos, 2021).
A integração do farmacêutico na equipe multiprofissional da atenção primária à saúde é fundamental para garantir uma abordagem efetiva no cuidado ao paciente. A colaboração com outros profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas, permite uma troca de conhecimentos e experiências que enriquece a tomada de decisões clínicas e promove resultados positivos para os pacientes. Esta integração não se limita apenas à coordenação do tratamento médico, mas também abrange aspectos como a promoção da saúde, prevenção de doenças e gestão de casos complexos (Soares; Brito; Galato, 2020).
A notoriedade da colaboração interprofissional reside na compreensão de que cada profissional de saúde possui conhecimentos e habilidades específicas que podem contribuir de maneira única para o cuidado ao paciente. Ao trabalhar em equipe, os profissionais podem compartilhar informações, discutir casos clínicos e desenvolver planos de cuidado individualizados que levem em consideração não apenas a condição médica do paciente, mas também seus aspectos emocionais, sociais e culturais. Isso resulta em uma abordagem mais abrangente e centrada no paciente, que leva em consideração suas necessidades e preferências (Ferreira et al., 2022).
Não obstante, a integração do farmacêutico na equipe multiprofissional permite uma melhor coordenação dos cuidados ao paciente, evitando duplicação de esforços e garantindo uma abordagem mais eficiente. O farmacêutico pode favorecer na revisão dos medicamentos prescritos, identificação de possíveis interações medicamentosas e monitoramento da adesão ao tratamento, garantindo que o paciente receba a terapia mais adequada e segura possível (Ferreira et al., 2022).
Essa colaboração também pode resultar em uma melhor gestão de recursos, uma vez que evita o desperdício de medicamentos e reduz o número de consultas desnecessárias. Ou seja, essa abordagem integrada robustece os serviços de saúde como um todo, proporcionando cuidados de qualidade e abrangentes para a população atendida (Barros; Silva; Leite, 2019).
A partir da reunião profissionais de diferentes áreas, como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e nutricionistas, essa abordagem promove uma troca de conhecimentos e experiências que enriquece a tomada de decisões clínicas e melhora a qualidade do cuidado prestado. Essa colaboração multidisciplinar leva em consideração não apenas a condição médica do paciente, mas também seus aspectos sociais, emocionais, culturais e comportamentais, garantindo uma abordagem mais completa e centrada no paciente (Soares; Brito; Galato, 2020).
Com isso, os profissionais podem compartilhar informações e coordenar os cuidados ao longo do tempo, garantindo uma transição suave entre diferentes etapas do tratamento e evitando lacunas no cuidado. Isso é especialmente importante para pacientes com condições crônicas ou complexas, que requerem cuidados contínuos e coordenação entre diferentes especialidades (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Além disso, a abordagem interdisciplinar permite uma melhor gestão de casos complexos, pois os profissionais podem colaborar na identificação de problemas e no desenvolvimento de planos de cuidado individualizados que abordem as necessidades específicas do paciente. Essa colaboração multidisciplinar tende a resultar em uma redução no número de internações hospitalares evitáveis, uma melhoria na qualidade de vida do paciente e uma redução nos custos para o sistema de saúde como um todo (Soares; Brito; Galato, 2020).
Na prática, existem diversos exemplos de práticas colaborativas na atenção primária que demonstram os benefícios da abordagem interdisciplinar. Em exemplificação, equipes de saúde que incluem médicos, enfermeiros e farmacêuticos podem trabalhar juntos para desenvolver protocolos de prescrição de medicamentos que levem em consideração as necessidades individuais do paciente, evitando prescrições excessivas ou desnecessárias e reduzindo o risco de reações adversas (Molina; Hoffmann; Finkler, 2020).
Da mesma forma, equipes que incluem nutricionistas e educadores físicos podem colaborar no desenvolvimento de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças, incentivando hábitos alimentares saudáveis e a prática regular de atividade física (Ferreira et al., 2022).
A garantia da qualidade no uso de medicamentos na atenção primária à saúde é demandada para assegurar a segurança e eficácia do tratamento dos pacientes. Nesse ínterim, a redução de erros de prescrição e dispensação pontua-se como uma das principais preocupações dos profissionais de saúde (Molina; Hoffmann; Finkler, 2020).
Erros nesses processos ocasionam em sérias consequências para os pacientes, incluindo reações adversas, falhas terapêuticas e até mesmo danos irreversíveis à saúde. Para tanto, é devido implementar medidas que visem minimizar esses riscos e garantir uma prática segura e responsável no uso de medicamentos (Barros; Silva; Leite, 2019).
Uma das estratégias atrativas para reduzir erros de prescrição e dispensação consiste no uso de sistemas informatizados de prescrição eletrônica e de registro de medicamentos. Esses sistemas permitem uma prescrição mais legível e padronizada, reduzindo a possibilidade de interpretações equivocadas por parte dos profissionais de saúde. Aliás, eles podem incluir alertas automáticos sobre interações medicamentosas, doses incompatíveis ou alergias conhecidas do paciente, ajudando a prevenir erros antes mesmo que ocorram (Ferreira et al., 2022).
Quanto a implementação de protocolos e diretrizes clínicas baseadas em evidências, deve-se incluir recomendações sobre a seleção de medicamentos, posologia adequada, monitoramento de efeitos adversos e ajustes de dose conforme necessário. Perante tais diretrizes, os profissionais de saúde alcançam uma redução no risco de erros e garantem uma terapia mais segura para os pacientes (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Do mesmo modo, se faz pertinente investir na educação e capacitação dos profissionais de saúde sobre as melhores práticas no uso de medicamentos, partindo de treinamentos regulares sobre farmacologia clínica, atualizações sobre novos medicamentos e tecnologias, e discussões de casos clínicos para compartilhamento de experiências e aprendizado mútuo (Molina; Hoffmann; Finkler, 2020).
Conforme frisado por Raposo e Santos (2021), os profissionais bem informados e atualizados são mais capazes de identificar e evitar erros no processo de prescrição e dispensação de medicamentos, garantindo uma prática mais segura e eficaz no cuidado ao paciente.
Deste modo, a implementação de sistemas informatizados, o uso de protocolos e diretrizes clínicas e a educação continuada dos profissionais de saúde são estratégias essenciais para minimizar esses riscos e promover uma prática segura e responsável no tratamento dos pacientes. Essas medidas protegem a saúde dos pacientes ao passo que também fortalecem a confiança na equipe de saúde e no sistema de saúde como um todo (Barros; Silva; Leite, 2019).
A adesão dos pacientes ao tratamento prescrito é fundamental para o sucesso terapêutico e para a melhoria dos resultados clínicos. Todavia, muitos pacientes enfrentam barreiras ao seguir as orientações de tratamento, como dificuldades financeiras para adquirir os medicamentos, efeitos colaterais indesejados, falta de compreensão sobre a importância do tratamento ou esquecimento das doses (Peixoto et al., 2022).
Nesta lógica, o papel do farmacêutico consiste em orientar e motivar os pacientes a aderirem ao tratamento, fornecendo informações claras e relevantes sobre a importância da terapia, seus benefícios e possíveis efeitos colaterais (Barros; Silva; Leite, 2019).
Outrossim, o farmacêutico realiza o monitoramento atento das reações adversas e interações medicamentosas, garantindo a segurança e eficácia do tratamento. As reações adversas podem surgir como resultado do uso de medicamentos e podem variar de efeitos leves a graves, podendo até mesmo exigir a suspensão do tratamento. O farmacêutico está capacitado para identificar e avaliar essas reações, fornecendo orientações sobre o manejo adequado e, quando necessário, comunicando-se com outros profissionais de saúde para ajustes na terapia (Ferreira et al., 2022).
O farmacêutico também precisa avaliar as prescrições dos pacientes em busca de possíveis interações medicamentosas que possam comprometer a eficácia do tratamento ou aumentar o risco de efeitos adversos. Ao identificar e comunicar essas interações aos profissionais de saúde e aos pacientes, o farmacêutico contribui para uma terapia mais segura e personalizada (Ferreira et al., 2022).
Já o controle de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, também se apresenta como uma das principais preocupações da atenção primária à saúde, e o farmacêutico desempenha um papel crucial nesse processo. Essas condições representam um desafio substancial de saúde pública devido à sua alta prevalência e ao impacto negativo que podem ter na qualidade de vida dos pacientes. Porém, com o manejo adequado, é possível controlar essas doenças e reduzir o risco de complicações graves, como doenças cardiovasculares, insuficiência renal e cegueira (Molina; Hoffmann; Finkler, 2020).
O farmacêutico tem um papel importante no controle de doenças crônicas, atuando como parte integrante da equipe de saúde multidisciplinar. Ele trabalha em colaboração com médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde para desenvolver e implementar planos de cuidado individualizados que abordem as necessidades específicas de cada paciente. Isso inclui a prescrição e o monitoramento de medicamentos para controlar os níveis de glicose no sangue e a pressão arterial, bem como a promoção de mudanças no estilo de vida, atividade física regular e cessação do tabagismo (Soares; Brito; Galato, 2020).
Ainda, este profissional da saúde fornece informações claras e acessíveis sobre o uso correto dos medicamentos prescritos, os efeitos colaterais esperados e as medidas de autocuidado que os pacientes podem adotar para controlar sua doença. Essa educação ajuda os pacientes a se tornarem mais ativos em seu próprio cuidado e a tomar decisões informadas sobre sua saúde (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Como resultado dessas intervenções, os pacientes com diabetes e hipertensão podem experimentar uma melhoria significativa em seus resultados clínicos. O controle adequado dessas condições pode reduzir o risco de complicações graves, melhorar a qualidade de vida e aumentar a expectativa de vida dos pacientes. Além disso, um melhor controle da doença pode resultar em uma redução da carga de doença para os sistemas de saúde, com menos internações hospitalares e menor uso de recursos de saúde (Peixoto et al., 2022).
Desta forma, sua atuação na equipe de saúde multidisciplinar, sua educação aos pacientes e sua colaboração no desenvolvimento de planos de cuidado individualizados contribuem para o manejo eficaz dessas condições e para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes afetados (Barros; Silva; Leite, 2019).
Em complemento, a melhoria da saúde materno-infantil segue sendo uma prioridade na atenção primária à saúde, e o papel do farmacêutico é fundamental nesse processo. Durante o período pré-natal, o farmacêutico pode desempenhar um papel importante na orientação sobre o uso seguro de medicamentos durante a gestação, identificando e prevenindo possíveis riscos para a mãe e o feto. Aliás, ele pode colaborar na educação sobre hábitos de vida saudáveis, como alimentação balanceada, atividade física adequada e abstinência de substâncias nocivas, contribuindo para uma gestação saudável e segura (Soares; Brito; Galato, 2020).
Após o nascimento, o farmacêutico continua a ser necessário na saúde infantil, fornecendo orientações sobre a administração correta de medicamentos, vacinação e prevenção de doenças comuns na infância. Ele também pode auxiliar na detecção precoce de problemas de saúde, como deficiências nutricionais, infecções respiratórias e alergias, encaminhando os pacientes para avaliação médica quando necessário e orientando sobre medidas preventivas (Peixoto et al., 2022).
Ou seja, o farmacêutico favorece a redução de internações hospitalares evitáveis por meio da promoção da adesão ao tratamento e da prevenção de complicações relacionadas ao uso inadequado de medicamentos. Ao orientar os pacientes sobre o uso correto dos medicamentos prescritos e monitorar possíveis efeitos colaterais ou interações medicamentosas, ele pode ajudar a evitar a necessidade de hospitalização por eventos adversos relacionados a medicamentos (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Por meio de campanhas educativas, o farmacêutico também pode gerar avanços para a conscientização da comunidade sobre a importância da saúde materno-infantil e as medidas preventivas que podem ser adotadas para promovê-la, tais como a promoção do aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida, a vacinação em dia e o acompanhamento regular da saúde da criança. Essas iniciativas visam reduzir a incidência de doenças evitáveis e melhorar os indicadores de saúde materno-infantil na comunidade (Barros; Silva; Leite, 2019).
3 DESAFIOS ENFRENTADOS PELO FARMACÊUTICO: CAPACITAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA
As limitações estruturais e de recursos representam desafios amplos para a eficácia da atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde. Uma das principais limitações enfrentadas é a escassez de profissionais e infraestrutura nas unidades básicas de saúde (Destro et al., 2021).
Em muitas regiões, há uma demanda progressiva e contínua por serviços de saúde, mas uma oferta insuficiente de profissionais qualificados para atender essa demanda. Isso resulta em equipes de saúde subdimensionadas e sobrecarregadas, o que pode comprometer a qualidade e a abrangência dos serviços prestados (Peixoto et al., 2022).
Além disso, a falta de infraestrutura adequada nas unidades básicas de saúde também é uma questão preocupante. Muitas dessas unidades enfrentam problemas como falta de equipamentos básicos, instalações inadequadas e falta de acesso a recursos tecnológicos essenciais. Isso dificulta a prestação de serviços de saúde de qualidade e pode limitar as atividades que o farmacêutico pode realizar, como monitoramento de pacientes, educação em saúde e gerenciamento de medicamentos (Ferreira et al., 2022).
Em muitas comunidades, especialmente em áreas rurais e remotas, há uma falta de disponibilidade de medicamentos essenciais nas unidades de saúde. Isso pode resultar em atrasos no tratamento, interrupções na terapia e até mesmo falta de acesso a medicamentos vitais para condições crônicas. Além disso, a falta de acesso a tecnologias de saúde, como equipamentos de diagnóstico e monitoramento, pode limitar a capacidade do farmacêutico de fornecer cuidados de qualidade e realizar intervenções eficazes (Barros; Silva; Leite, 2019).
Tais limitações estruturais e de recursos representam dificuldades robustas para a atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde. Para superá-las, são necessários investimentos em infraestrutura de saúde, recrutamento e capacitação de profissionais, e acesso adequado a medicamentos e tecnologias de saúde. Ainda mais, é demandado adotar abordagens inovadoras e colaborativas para maximizar o impacto dos recursos disponíveis e garantir que todos tenham acesso a serviços de saúde de qualidade, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica (Ferreira et al., 2022).
O reconhecimento e a aceitação profissional do farmacêutico na atenção primária à saúde são fundamentais para garantir uma colaboração eficaz entre os membros da equipe de saúde e para maximizar o impacto do trabalho do farmacêutico no cuidado ao paciente. Contudo, ainda existem desafios significativos nesse sentido, incluindo a resistência por parte de outros profissionais de saúde em reconhecer o papel e a contribuição do farmacêutico na equipe (Soares; Brito; Galato, 2020).
A resistência por parte de outros profissionais de saúde pode ser atribuída a uma variedade de fatores, incluindo falta de compreensão sobre as competências e responsabilidades do farmacêutico, percepções negativas sobre a profissão e hierarquias tradicionais dentro das equipes de saúde. Essa resistência pode resultar em barreiras à colaboração interprofissional, falta de comunicação eficaz e subutilização do potencial do farmacêutico no cuidado ao paciente (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Para superar essas barreiras, é preciso promover uma maior valorização da atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde. Isso inclui a promoção de uma compreensão mais ampla e precisa das competências e habilidades do farmacêutico, destacando seu papel como parte integrante da equipe de saúde e sua capacidade de contribuir para a melhoria dos resultados clínicos dos pacientes (Ferreira et al., 2022).
Concomitantemente, deve-se estabelecer uma cultura de colaboração e respeito mútuo entre os profissionais de saúde, incentivando a troca de conhecimentos e experiências e reconhecendo a importância de cada membro da equipe no cuidado ao paciente (Destro et al., 2021).
Também é essencial que os sistemas de saúde reconheçam e valorizem o papel do farmacêutico, garantindo que ele tenha as condições necessárias para desempenhar suas funções de maneira eficaz e segura. Isso inclui investimentos em educação e capacitação contínuas, desenvolvimento de políticas e diretrizes que promovam a integração do farmacêutico na equipe de saúde e garantia de acesso a recursos e tecnologias adequadas para o exercício da profissão (Peixoto et al., 2022). Assim, superar a resistência por parte de outros profissionais de saúde e promover uma maior valorização da atuação do farmacêutico requer esforços coordenados em nível individual, organizacional e sistêmico, mas os benefícios resultantes para os pacientes e para o sistema de saúde como um todo valem o investimento (Soares; Brito; Galato, 2020).
A importância da formação profissional para os farmacêuticos que atuam na atenção primária à saúde é crucial para garantir a prestação de serviços de qualidade e a segurança dos pacientes. Uma formação adequada proporciona aos profissionais as competências e habilidades necessárias para lidar com as demandas específicas desse contexto de atuação, que difere significativamente de outras áreas da farmácia, como a farmácia hospitalar ou industrial (Ferreira et al., 2022).
É devido que os farmacêuticos que pretendem atuar na atenção primária recebam uma formação abrangente e multidisciplinar, que os capacite a compreender a complexidade dos cuidados de saúde nesse nível e a integrar-se efetivamente nas equipes multiprofissionais. Isso inclui o desenvolvimento de habilidades de comunicação e trabalho em equipe, bem como o domínio de conhecimentos específicos sobre saúde pública, epidemiologia, promoção da saúde e prevenção de doenças (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
A inclusão de disciplinas específicas na graduação em farmácia é essencial para garantir que os futuros profissionais estejam preparados para atuar na atenção primária à saúde. Essas disciplinas podem abordar temas como farmacoterapia em cuidados primários, gestão de farmácia comunitária, educação em saúde, princípios de atenção farmacêutica e aspectos éticos e legais da profissão (Peixoto et al., 2022). Além disso, é importante oferecer oportunidades de estágio e prática supervisionada em unidades básicas de saúde, permitindo que os estudantes apliquem os conhecimentos teóricos na prática e desenvolvam habilidades específicas para esse contexto (Destro et al., 2021). Ao receber uma formação adequada, os farmacêuticos estarão melhor preparados para a atuação singular na atenção primária à saúde, sendo efetivos na promoção da saúde, prevenção de doenças e melhoria dos resultados clínicos dos pacientes (Barberato; Scherer; Lacourt, 2019).
Inclusive, uma formação sólida também pode aumentar a valorização profissional dos farmacêuticos e fortalecer sua posição dentro das equipes de saúde, contribuindo para uma prática colaborativa e integrada no cuidado ao paciente. Isto posto, uma formação adequada proporciona os conhecimentos, habilidades e experiências necessárias para uma prática eficaz e segura, garantindo a prestação de serviços de qualidade e a promoção da saúde da população atendida (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
A necessidade de atualização permanente é uma realidade incontestável para os farmacêuticos que atuam na atenção primária à saúde, dada a dinamicidade e complexidade do campo da saúde. Para se manterem atualizados e oferecerem um cuidado de qualidade aos pacientes, é essencial que os profissionais participem regularmente de cursos, workshops e eventos relacionados à atenção primária. Estas atividades proporcionam oportunidades de aprendizado contínuo, permitindo que os farmacêuticos se atualizem sobre as últimas evidências, práticas clínicas e diretrizes de cuidado (Ferreira et al., 2022).
Os cursos práticos e eventos correlatos à atenção primária ofertam uma variedade de temas relevantes para a prática profissional, abordando desde questões específicas de farmacoterapia até aspectos mais amplos de gestão de saúde e trabalho em equipe. Eles permitem que os profissionais aprofundem seus conhecimentos em áreas de interesse específicas, desenvolvam novas habilidades e troquem experiências com colegas e especialistas da área (Molina; Hoffmann; Finkler, 2020).
Analogamente, a utilização de ferramentas de educação continuada, como cursos online, webinars, podcasts e artigos científicos, também é uma maneira assertiva de promover o aprimoramento profissional dos farmacêuticos. Tais ferramentas incorporam flexibilidade e conveniência, fazendo com que os profissionais acessem o conteúdo de aprendizado em seu próprio ritmo e de acordo com suas necessidades e interesses específicos (Barros; Silva; Leite, 2019).
Ao investir na atualização permanente, os farmacêuticos demonstram um compromisso com a excelência profissional e com a prestação de cuidados de qualidade aos pacientes. Eles se mantêm atualizados sobre as mais recentes práticas e avanços na área da saúde, garantindo que possam oferecer o melhor cuidado possível com base em evidências científicas atualizadas (Peixoto et al., 2022).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As boas práticas de farmacêuticos na atenção primária oferecem imersões sobre como a atuação desses profissionais pode impactar positivamente a saúde dos pacientes e das comunidades. Relatos de experiências práticas bem-sucedidas destacam não apenas as habilidades clínicas dos farmacêuticos, como também sua capacidade de inovar, colaborar com outros profissionais de saúde e engajar-se de forma proativa no cuidado ao paciente.
Um exemplo é a implementação de programas de gestão de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, em unidades básicas de saúde. Farmacêuticos são profissionais primários nesses programas, incorporando um monitoramento regular dos pacientes, educação sobre o manejo da doença, revisão de medicamentos e apoio à adesão ao tratamento. Essas intervenções têm demonstrado resultados positivos na melhoria do controle da doença, redução de complicações e melhor qualidade de vida para os pacientes (Barberato; Scherer; Lacourt, 2019).
Paulatinamente, os farmacêuticos realizam revisões abrangentes dos medicamentos prescritos aos pacientes, identificando potenciais problemas relacionados à terapia, como interações medicamentosas, doses inadequadas ou duplicações de medicamentos. Ao trabalhar em colaboração com outros profissionais de saúde, eles ajudam a otimizar o regime terapêutico dos pacientes, reduzindo o risco de eventos adversos e melhorando a eficácia do tratamento (Peixoto et al., 2022).
Da mesma forma, os farmacêuticos têm se destacado na promoção da saúde e prevenção de doenças por meio de campanhas educativas e de conscientização na comunidade. Eles oferecem palestras e materiais educativos sobre temas como vacinação, controle de doenças infecciosas, saúde da mulher e prevenção do uso indevido de medicamentos. Essas iniciativas possuem o potencial de alcançar um grande número de pessoas e promover mudanças positivas de comportamento que contribuem para uma comunidade mais saudável e resiliente (Caetano; Silva; Luiza, 2020).
Por fim, partindo de intervenções inovadoras, colaboração com outros membros da equipe de saúde e engajamento ativo no cuidado ao paciente, os farmacêuticos denotam-se como contribuintes para a melhoria dos resultados clínicos, a promoção da saúde e a prevenção de doenças, demonstrando o valor e a importância de sua atuação na atenção primária (Barberato; Scherer; Lacourt, 2019).
A pesquisa de Oliveira et al. (2022) elucida quea intervenção do farmacêutico está associada a uma melhor adesão ao tratamento, controle mais eficiente de doenças crônicas, redução de complicações e internações hospitalares evitáveis, e até mesmo aumento da sobrevida em certos grupos de pacientes. Tais resultados sugerem que o envolvimento do farmacêutico no cuidado ao paciente dispõe de um grande impacto na saúde e no bem-estar dos indivíduos atendidos.
Já o estudo de Lima et al. (2021) mostra que os pacientes tendem a valorizar a presença do farmacêutico na equipe de saúde, percebendo-o como um recurso acessível, confiável e capaz de oferecer informações e apoio relevantes sobre o uso de medicamentos e outras questões relacionadas à saúde. Essa satisfação do paciente tende a favorece uma adesão superior ao tratamento, melhor engajamento no cuidado e maior confiança no sistema de saúde como um todo.
No estudo prático de Dóczy et al. (2023), ponderou-se que acerca das contribuições do curso “Serviços Farmacêuticos na Atenção Primária em Saúde”, oferecido no município do Rio de Janeiro, com foco nas suas fortalezas e fragilidades para as práticas profissionais e na gestão do trabalho. Para alcançar esse objetivo, foram utilizadas duas abordagens metodológicas: reuniões de grupo focal e questionários eletrônicos respondidos pelos egressos do curso. Esses dados foram coletados ao longo de um período de cerca de seis semanas, entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, e foram fundamentais para a análise das percepções dos participantes em relação ao curso.
Entre as principais fortalezas identificadas pelos participantes do estudo estavam a “ampliação do conhecimento” e a “melhoria da atuação e/ou conduta profissional”. Esses resultados sugerem que o curso foi eficaz em proporcionar aos participantes um aprimoramento significativo em seus conhecimentos e habilidades relacionadas à prática farmacêutica na atenção primária à saúde. No entanto, também foram identificadas fragilidades, com destaque para a carga horária do curso. Apesar dessas fragilidades, o estudo concluiu que o curso conseguiu promover o desenvolvimento de competências em seus aspectos de “ser, saber e fazer”. É importante ressaltar que, mesmo diante do desafio representado pela baixa carga horária e pela necessidade de compatibilizar a participação no curso com as atividades laborais, os participantes reconheceram os benefícios proporcionados pelo programa. Isso sugere que, apesar das limitações estruturais, o curso conseguiu atender às expectativas dos participantes e contribuir de maneira significativa para o aprimoramento de suas habilidades e competências profissionais na área da atenção primária à saúde (Doczy et al., 2023).
Loss, Zarpelon e Bueno (2022), por sua parte, objetivaram descrever a compreensão do território por farmacêuticos que atuam na Atenção Básica à Saúde. Para alcançar esse objetivo, foram realizadas entrevistas com farmacêuticos alocados nas farmácias públicas de um município do Sul do Brasil. As entrevistas foram transcritas e analisadas por meio de análise temática de conteúdo, permitindo identificar categorias temáticas relacionadas à compreensão do território pelos profissionais entrevistados. Os resultados do estudo revelaram a existência de três categorias temáticas principais: “território aprisionante”, “território distante” e “território desconhecido”. Essas categorias evidenciaram as diferentes percepções dos farmacêuticos sobre o contexto em que atuam, destacando desafios como a limitação de recursos humanos e materiais, a distância geográfica entre as comunidades atendidas e as farmácias públicas, e a falta de conhecimento sobre o território e suas peculiaridades.
Um dos achados mais significativos do estudo foi a constatação da atuação predominante dos farmacêuticos como responsáveis pela gestão dos serviços farmacêuticos na Atenção Básica à Saúde. Isso sugere que esses profissionais desempenham um papel central na organização e funcionamento das farmácias públicas, coordenando as atividades relacionadas à assistência farmacêutica e garantindo o acesso adequado aos medicamentos pela população atendida. A conclusão do estudo destaca a importância da compreensão do território nos serviços farmacêuticos da Atenção Básica à Saúde como um elemento fundamental para orientar as práticas profissionais e a gestão desses serviços. Ao reconhecer os desafios e peculiaridades do território em que atuam, os farmacêuticos podem desenvolver estratégias mais adequadas para atender às necessidades da população e garantir a efetividade das políticas de assistência farmacêutica (Loss; Zarpelon; Bueno, 2022).
Além disso, o estudo ressalta a importância da priorização de políticas de gestão voltadas à área da assistência farmacêutica, destacando a necessidade de investimentos em recursos humanos e materiais adequados para garantir a qualidade e a efetividade dos serviços prestados. Ao considerar a compreensão do território como um elemento-chave para a atuação dos farmacêuticos na Atenção Básica à Saúde, o estudo contribui para uma reflexão mais ampla sobre os desafios e oportunidades existentes nesse contexto e para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes para melhorar a assistência farmacêutica no país (Loss; Zarpelon; Bueno, 2022).
Em complemento, D’andréa, Wagner e Schveitzer (2022) compuseram um estudo prático que se propôs a analisar a percepção de 10 farmacêuticos da Atenção Básica (AB) de uma região do município de São Paulo que participaram do processo de implantação do Cuidado Farmacêutico (CF). Utilizando uma abordagem qualitativa, por meio de grupos focais e uma metodologia descritiva, os conteúdos das discussões foram analisados utilizando a técnica da Análise de Conteúdo. Os resultados apresentaram três sínteses sobre o processo de implantação do CF, permitindo descrever o papel do farmacêutico na AB após a introdução dos serviços clínicos, com ênfase na identificação de suas percepções, dificuldades e avanços.
No contexto da implantação do Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica, o estudo revelou aspectos positivos e desafios enfrentados pelos farmacêuticos. Entre os aspectos positivos, destacam-se a valorização de uma nova abordagem de cuidado centrada no paciente e a ampliação das competências dos profissionais para além das atividades tradicionais. No entanto, também foram identificadas dificuldades, como a necessidade de uma mudança gradual no perfil e nas competências dos farmacêuticos para se adaptarem ao novo modelo de serviço clínico (D’Andréa; Wagner; Schveitzer, 2022).
Uma das conclusões importantes do estudo é a constatação de que o desenvolvimento de serviços clínicos na Atenção Básica requer uma abordagem multidisciplinar e o trabalho em equipe. Os resultados destacaram a importância do envolvimento de diferentes atores, como usuários, equipe de saúde, gestores e farmacêuticos, na promoção de uma nova forma de cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse reconhecimento dos diferentes papéis e a valorização das novas formas de cuidado contribuem para fortalecer a atuação dos profissionais de saúde na Atenção Básica e para promover uma abordagem mais integral e humanizada no atendimento aos usuários do sistema de saúde (D’Andréa; Wagner; Schveitzer, 2022).
Perante a evidenciação da importância do trabalho em equipe e a necessidade de adaptação dos farmacêuticos ao novo modelo de serviço clínico, o estudo de D’Andréa, Wagner e Schveitzer (2022) contribui para o avanço da prática farmacêutica na Atenção Básica e para o fortalecimento do SUS como um todo.
Já Barberato et al. (2022), frisou que o trabalho do farmacêutico na Atenção Primária à Saúde está em constante evolução, sendo influenciado pela interação entre o que é prescrito nas diretrizes e protocolos e o que é exigido pela realidade do ambiente de trabalho. Para investigar essa dinâmica, o estudo adotou uma abordagem de estudo de caso, com triangulação na coleta e análise dos dados, utilizando entrevistas e observação do trabalho dos farmacêuticos em cinco Regiões de Saúde do Distrito Federal. Essa abordagem permitiu identificar três categorias principais: estrutura das farmácias, organização do trabalho e tempo e tarefas.
Os resultados deste estudo evidenciaram que o trabalho do farmacêutico na Atenção Primária à Saúde está centrado em uma série de atividades, incluindo pausas, trabalho gerencial e logístico, interrupções e atendimento aos usuários. Todavia, as tarefas relacionadas à assistência direta ao usuário são pontuais e esporádicas, com o foco principal da atuação dos profissionais nas atividades gerenciais, especialmente na área logística. Essa constatação sugere uma lacuna entre as expectativas idealizadas para a atuação do farmacêutico na Atenção Primária e a realidade enfrentada no ambiente de trabalho (Barberato et al., 2022).
Apesar dos limites estruturais das farmácias da Atenção Primária, os farmacêuticos identificaram elementos no contexto que podem favorecer a ampliação das atividades técnico-assistenciais. Entre esses elementos estão a garantia do acesso aos medicamentos como princípio ético, as normativas que orientam a prática profissional, a postura de aprendizagem e abertura para enfrentar situações inusitadas, a conexão com as necessidades da equipe da Unidade Básica de Saúde, a ação coletiva dos farmacêuticos e a formação específica sobre cuidado farmacêutico (Barberato et al., 2022).
Em suma, tais autores concluíram que o trabalho do farmacêutico na atenção primária à saúde é complexo e está sujeito a diversos desafios e limitações estruturais. No entanto, identifica-se um potencial para ampliação das atividades técnico- assistenciais, desde que haja um reconhecimento e aproveitamento dos elementos favoráveis presentes no contexto de trabalho. Essa reflexão destaca a importância de políticas e práticas que valorizem e promovam o papel do farmacêutico como parte integrante da equipe de saúde na atenção primária.
Por consequência, ao melhorar os resultados clínicos dos pacientes, aumentar a satisfação do paciente e contribuir para a eficiência do sistema de saúde, o envolvimento do farmacêutico na equipe de saúde representa uma abordagem cada vez mais valiosa para a prestação de cuidados de saúde de qualidade.
5 CONCLUSÃO
Perante as informações levantadas no decorrer desta pesquisa, explorou-se a importância da atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde, evidenciando seu papel fundamental na promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde da população.
Assim, cada um dos objetivos foram alcançados, sobretudo pelo entendimento correlato à contribuição do farmacêutico para a saúde da comunidade. Foi evidenciado que o farmacêutico dispõe de diversas funções na atenção primária, englobando a promoção do uso racional de medicamentos, participação em programas de prevenção e controle de doenças, colaboração com outros profissionais de saúde e promoção da qualidade no uso de medicamentos. Inclusive, discutiu-se a relevância da formação profissional, atualização permanente e reconhecimento profissional para o fortalecimento do papel do farmacêutico neste cenário.
Ainda mais, reforçou-se a necessidade da atuação do farmacêutico na atenção primária à saúde como um agente-chave na promoção da saúde e prevenção de doenças. Seu papel abrangente e, sobretudo, multidisciplinar corrobora para a melhoria dos resultados clínicos dos pacientes, redução de custos para o sistema de saúde e maior satisfação do paciente com os serviços recebidos.
Como sugestões para ampliação e aprimoramento do papel do farmacêutico na atenção primária, recomenda-se investimentos em educação continuada, desenvolvimento de políticas e diretrizes que promovam sua integração na equipe de saúde e fortalecimento da colaboração interprofissional. Analogamente, deve-se promover uma maior conscientização sobre o papel do farmacêutico entre os demais profissionais de saúde e a comunidade em geral, destacando sua capacidade de contribuir de forma robusta para a saúde e o bem-estar da população.
REFERÊNCIAS
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1Formação acadêmica mais alta com a área: Mestrado em Nutrição Instituição de formação: Uniasselvi; E-mail: bessa@expressalimentacao.com.br