ATUAÇÃO DO ESTÍMULO ESTRESSOR NA AÇÃO DO CORTISOL E SUA INFLUÊNCIA NO TRANSTORNO MISTO ANSIOSO E DEPRESSIVO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10072055


Clebson Barbosa Carvalho
Maria Lucia Mattos de Araújo
Naylla de Santa Barbara Fernandes
Sheyla Conceição Veloso
Priscila Ferreira Silva


RESUMO 

O transtorno misto ansioso e depressivo é um diagnóstico clínico que ocorre quando sintomas de ansiedade e depressão coexistem em um mesmo indivíduo. Essa condição é altamente prevalente e representa um desafio significativo para a saúde mental, devido à complexidade e heterogeneidade dos sintomas apresentados. Embora os fatores subjacentes ao transtorno misto ansioso e  depressivo sejam multifatoriais, há evidência crescente de que o sistema de resposta ao estresse, particularmente o hormônio cortisol, desempenha um papel importante em sua etiologia e curso clínico. O cortisol desempenha um papel fundamental em  nossa fisiologia, regulando uma ampla gama de funções corporais. A disfunção do eixo HPA e os níveis elevados de cortisol estão associados à manifestação e  gravidade dos sintomas dessa condição clínica. Embora a etiologia exata desse  transtorno não seja completamente compreendida, evidências sugerem que alterações neuroendócrinas, incluindo disfunções no eixo hipotálamo-hipófise adrenal (HPA) e na regulação do cortisol, podem ter um papel significativo. O cortisol, um hormônio liberado em resposta ao estresse, possui várias ações no corpo e está envolvido na modulação das respostas emocionais, além disso, existem indicações  da interação entre o cortisol e outros sistemas neuroquímicos. Discernir a influência  da ação do cortisol nesse transtorno pode fornecer percepções valiosos para o  desenvolvimento de abordagens diagnósticas e terapêuticas mais eficazes e  personalizadas para o tratamento do transtorno misto ansioso e depressivo. No  entanto, são necessárias mais pesquisas para elucidar completamente a relação  entre a ação do cortisol e essa condição clínica complexa, a fim de melhorar a  compreensão e o tratamento desse transtorno mental comum. Este artigo se propõe  a examinar os mecanismos e os impactos do cortisol em nosso corpo. Inicialmente,  abordaremos sua produção e regulação no organismo, com ênfase na sua relação  com o transtorno misto ansioso e depressivo. Em seguida, exploraremos as diversas  maneiras pelas quais o cortisol influencia nossa saúde, abrangendo aspectos como  metabolismo, sistema imunológico, cognição e bem-estar emocional. Por fim,  enfatizaremos a importância de manter equilibrados os níveis de cortisol e a adoção  de estratégias de gestão do estresse para promover uma vida saudável e  harmoniosa. Este artigo visa fornecer uma compreensão completa do cortisol,  destacando sua complexidade e seu papel fundamental em nossa existência. 

Palavras-chave: Cortisol; ansiedade; estresse; depressão; transtorno misto ansioso depressivo. 

ABSTRACT 

Mixed anxiety and depressive disorder is a clinical diagnosis that occurs when  symptoms of anxiety and depression coexist in the same individual. This condition is  highly prevalent and represents a significant mental health challenge due to the  complexity and heterogeneity of the symptoms presented. Although the factors  underlying mixed anxiety and depressive disorder are multifactorial, there is  increasing evidence that the stress response system, particularly the hormone  cortisol, plays an important role in its etiology and clinical course. Cortisol plays a  fundamental role in our physiology, regulating a wide range of bodily functions. HPA  axis dysfunction and elevated cortisol levels are associated with the manifestation  and severity of symptoms of this clinical condition. Although the exact etiology of this  disorder is not completely understood, evidence suggests that neuroendocrine  changes, including dysfunction in the hypothalamic-pituitary-adrenal (HPA) axis and  cortisol regulation, may play a significant role. Cortisol, a hormone released in  response to stress, has several actions in the body and is involved in modulating  emotional responses. Furthermore, there are indications of the interaction between  cortisol and other neurochemical systems. Discerning the influence of cortisol action  in this disorder may provide valuable insights for the development of more effective  and personalized diagnostic and therapeutic approaches for the treatment of mixed anxiety and depressive disorder. However, more research is needed to fully elucidate  the relationship between cortisol action and this complex clinical condition in order to  improve understanding and treatment of this common mental disorder.This article  sets out to examine the mechanisms and impacts of cortisol on our body. Initially, we  will address its production and regulation in the body, with an emphasis on its  relationship with mixed anxiety and depressive disorder. We will then explore the  many ways in which cortisol influences our health, covering aspects such as  metabolism, immune system, cognition and emotional well- being. Finally, we will  emphasize the importance of keeping cortisol levels balanced and adopting stress  management strategies to promote a healthy and harmonious life. This article aims to  provide a complete understanding of cortisol, highlighting its complexity and its  fundamental role in our existence. 

Keywords: Cortisol; anxiety; stress; depression; mixed anxiety-depressive disorder.

INTRODUÇÃO 

O estresse, definido como um estado de desarmonia ou ameaça à  homeostasia, resultante das interações entre fatores pessoais e ambientais, pode  desencadear respostas imunológicas alteradas no corpo humano, podendo ser  específicas ou generalizadas aos estressores, e, em níveis mais elevados, está  associado a uma variedade de doenças, incluindo, mas não se limitando a  depressão, ansiedade, doenças emocionais, obesidade, problemas gastrointestinais  e cardíacos (Lopes, 2018). 

O sistema de estresse é regulado principalmente pelo eixo hipotálamo hipófiseadrenal (HPA), resultando na liberação de cortisol no corpo, o que envolve a  ativação do sistema nervoso autônomo e consequentemente um aumento na  pressão arterial e na frequência cardíaca (FC), preparando-se para uma situação  ameaçadora. Além disso, o cortisol atravessa a barreira hematoencefálica, atingindo  algumas regiões do cérebro para promover o mecanismo de feedback negativo.  Níveis elevados de cortisol podem causar consequente apoptose de neurônios  impactando na atrofia do hipocampo, também observada em pacientes com TDM.  Esse mecanismo pode ser agravado por algumas outras alterações fisiológicas  relacionadas ao envelhecimento, como a inflamação, que é um fenômeno de  inflamação crônica e de baixo grau observado em idosos, e desgaste da exposição  crônica ao cortisol no corpo (carga alostática). 

Os receptores de glicocorticoides estão localizados em quase todos os tecidos  do organismo, deste modo, o cortisol tem a capacidade de afetar quase todos os  sistemas do corpo, inclusive o sistema nervoso simpático (SNP), que quando ativado é responsável pela resposta de luta ou fuga, que causa uma cascata de respostas  hormonais e fisiológicas, à medida que o corpo continua a perceber os estímulos  como uma ameaça, o cortisol é liberado do córtex adrenal e permite que o corpo  continue em alerta máximo (Thau, Gandhi, Sharma, 2020). 

JUSTIFICATIVA 

Espera-se que este estudo, contribua para uma melhor compreensão dos  estímulos estressores na ação do cortisol e sua influência no transtorno misto ansioso  e depressivo, fornecendo percepções sobre os mecanismos subjacentes a essa  condição complexa. Além disso, a pesquisa pode fornecer informações relevantes  para o diagnóstico e entendimento efetivo para esta doença. 

OBJETIVO 

O objetivo do presente estudo é aferir a influência do cortisol no transtorno  misto ansioso e depressivo, correlacionando-o com o fator estressor e ponderando  suas características e possíveis causas. 

METODOLOGIA 

Para a condução de qualquer pesquisa, o passo inicial é através da revisão  bibliográfica que foi realizada através de um levantamento de publicações científicas  de determinada área, assim sendo, para a execução da presente pesquisa, foi  realizada uma revisão bibliográfica de abordagem exploratória, utilizando artigos  expostos em bases de dados eletrônicas tais como; Biblioteca Virtual de Saúde,  Scientific Electronic Library e Pubmed, ScirELO-Brasile e Google Academico, onde  foram analisados os estudos compreendidos entre os anos de 2019 a 2023, como  critério de exclusão os artigos publicados com data anterior a 2019. 

A pesquisa bibliográfica possui caráter exploratório, pois permite maior  familiaridade com o problema, aprimoramento de ideias. Após a coleta de dados, as  informações foram compiladas e posteriormente descritas com o intuito de  proporcionar uma nova perspectiva sob a temática já exposta na literatura. 

ESTIMULO ESTRESSOR E O CORTISOL 

Atualmente, o termo “estresse” é considerado um conceito polissêmico, pois,  na linguagem cotidiana, é comumente empregado para descrever situações em que se percebe um desconforto ou desgaste físico, ou psicológico (Lu; Wei; Li, 2021;  Mcewen; Akil, 2020).Costa et al., (2019) relata que o número de casos relacionados  à ansiedade e depressão tem aumentado consideravelmente. Este fenômeno é  atribuído ao fato de que, a cada dia, há uma crescente pressão para alcançar  rapidamente metas e objetivos, a fim de não ficar atrás dos demais. Além disso,  existem fatores físicos, como comorbidades, que agravam a situação dessas  pessoas. No entanto, é realmente necessário experimentar esses níveis de  ansiedade? Quase sempre acaba resultando em frustrações devido às altas  expectativas e demandas excessivas, transformando a jornada em direção ao  objetivo final em uma experiência dolorosa e insatisfatória. 

Silva et al., (2018) afirma que, o conceito e o termo “stress” foi introduzido pelo  endocrinologista canadense Hans Selye em 1936, que definiu estresse como uma  resposta geral e inespecífica do organismo a um estímulo ou situação estressante.  Foi observado também que ainda que mesmo em diferentes organismos o padrão de  resposta mediante estressores era igual, agindo especificamente na ativação do eixo  Hipotálamo-Hipófise Adrenal (HPA), promovendo ação reguladora sobre si e sobre  outros sistemas, como o sistema imunológico, que neste caso tem a capacidade de  induzir a apoptose de células T, suprimir a produção de anticorpos de células B e por  fim reduzir a migração de neutrófilos durante o processo inflamatório, portanto o seu  desequilíbrio pode acarretar em diversas doenças. 

Todos os impactos dos agentes estressores no corpo humano implicam na  geração de substâncias químicas orgânicas que podem ser potencialmente utilizadas  como biomarcadores, detectáveis em diversas áreas do organismo. Neste estudo,  iremos abordar especificamente os biomarcadores salivares, que incluem o cortisol, a  lisozima, a alfa amilase, a cromogranina A, a imunoglobulina A, a melatonina e o  fator de crescimento de fibroblastos, além do biomarcador capilar, o cortisol  (Silva,2023). 

Conforme bem enfatiza Faccini et al., (2020, p. 66), “o estresse pode nos  tornar doentes” , portanto, os autores destacam que o estresse é importante fator  para a sobrevivência, desde que o indivíduo se adapte a ele, voltando à homeostase  e ao bom funcionamento do organismo. Caso o desequilíbrio permaneça, torna-se  crônico e organismo propenso ao aparecimento de doenças metabólicas, emocionais  e crônicas, uma vez que afeta a imunidade do corpo, principalmente o linfócito T  auxiliar, responsável pela ação do cortisol, no estresse agudo e crônico é  responsável pela imunossupressão por intermédio das interleucinas.

Ou seja, o estudo realizado por Faccini et al., (2020) evidencia que as  desordens que o estresse causa podem desencadear o desenvolvimento de inúmeras  doenças. Além desses fatores, há a redução da osteogênese óssea, perdas  musculares, hiperglicemia, além, como ressaltam, de diminuir as respostas do  sistema imunológico, o que reduz as respostas do organismo diante de enfermidades.  Eid et al., (2019) corroboram que níveis altos de cortisol causam depressão. Este  hormônio está elevado na depressão produzindo uma variedade de outros  endofenótipos semelhantes aos depressivos, incluindo reduções na plasticidade  hipocampal, distúrbios somáticos, como perda de peso, disfunção cognitiva, anedonia  e alterações nos comportamentos de enfrentamento.(Guimarães, et al., 2020). 

O sistema imunológico tem como função reconhecer os processos normais e  anormais no corpo, assegurando que, em situações de estresse físico que envolvem  disfunções orgânicas, os danos sejam reparados o mais rapidamente possível. Além  disso, desempenha um papel fundamental na manutenção da homeostase em todo o  corpo e em outros componentes dos sistemas fisiológicos que incluem o aspecto  mental das pessoas. Nesse contexto, o estresse faz parte dos processos  adaptativos, sejam eles de natureza física, química ou psicológica, desencadeando  respostas do sistema nervoso central, incluindo reações de luta ou fuga. Para manter  a homeostase em situações estressantes, o corpo libera diversos mensageiros  químicos, como citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias, que exercem influência  não apenas sobre o sistema imunológico, mas também sobre os sistemas  neuroendócrino, renal, digestivo e hematopoiético (Guimarães et al., 2020). 

A partir de um estímulo estressor, ocorre a liberação do hormônio liberador de  corticotrofina (CRH) pelo hipotálamo com a consecutiva síntese e liberação da  corticotrofina (ACTH) pela adenohipófise, o qual atua sobre a glândula  adrenal,estimulando a síntese de glicocorticóides (GC), principalmente o cortisol  (Frizzo, 2021). 

Em sua forma aguda, o estresse desencadeia uma resposta rápida do Sistema  Nervoso Central (SNC). Logo após a exposição, o SNC libera catecolaminas, como a  epinefrina, na corrente sanguínea. Essas substâncias aumentam a frequência  cardíaca, a pressão arterial e a respiração, preparando o corpo para a luta ou a fuga,  instintos naturais inerentes à reação humana a situações estressantes. Além disso, o  hipotálamo libera o CRH, que atua na hipófise anterior, estimulando a produção de  hormônio adrenocorticotrófico. Este último, por sua vez, induz a glândula suprarrenal  a liberar glicocorticoides (Antunes J, 2019).

A exposição frequente e repetida a situações estressantes desencadeia uma  ativação intensificada do sistema simpático e do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal  (HPA). Esses sistemas entram em ação quando eventos estressantes são  percebidos, inicialmente pelos núcleos da amígdala, que sinalizam tanto para o  aumento da atividade simpática (resposta nervosa) quanto para a ativação do eixo HPA (resposta endócrina), (Figura  1). O sistema simpático induz uma rápida liberação de noradrenalina na maioria dos  tecidos, resultando em aumento da frequência cardíaca, mudanças no fluxo  sanguíneo, aumento do metabolismo e aceleração da atividade neural em questão de  minutos após o estresse. Paralelamente, núcleos hipotalâmicos começam a secretar  o hormônio liberador de corticotrofina (CRH) na circulação porta-hipofisária,  estimulando a adeno-hipófise a produzir e liberar a adenocorticotrofina (ACTH),  (Carvalho, 2020). 

Figura 1 – Figura 1. Cascata de Cortisol https://www.researchgate.net/figure/Hypothalamic pituitary-adrenal-HPA-axisExperiencing-anenvironmental-stressor-as_fig1_261951085 

O enfrentamento de situações de estresse recorrente e frequente provoca a  ativação exacerbada do sistema simpático e do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal  (HPA). Estes sistemas respondem normalmente quando eventos estressantes são  percebidos, inicialmente pelos núcleos da amídala, que sinalizam tanto para o  aumento da atividade simpática (resposta nervosa) quanto para a atividade do eixo  HPA (endócrina). O sistema simpático promove a rápida liberação de noradrenalina  na maioria dos tecidos, causando aumento de frequência cardiorrespiratória,  alteração do fluxo sanguíneo, aumento metabólico e aceleração da atividade neural  em poucos minutos após o evento de estresse. Enquanto isso, núcleos hipotalâmicos  passam a secretar hormônio liberador de corticotrofina (CRH) na circulação porta hipofisária e, assim, leva a adeno-hipófise a produzir e secretar adenocorticotrofina  (ACTH).(Carvalho, 2020).

O ACTH circulante atua no córtex adrenal, desencadeando a produção e  liberação de cortisol, que atinge seu pico aproximadamente 30 minutos após o  evento estressante. O cortisol, por sua vez, age em diversos tecidos para auxiliar o  organismo na resposta ao estresse, incluindo o aumento da atividade cardiovascular  e respiratória, mobilização de energia (glicose e ácidos graxos), redução da resposta  inflamatória e modulação da atividade neural. Portanto, a resposta ao estresse  engloba sintomas físicos e modificações químicas no cérebro. Além da resposta  imediata ao estresse após o evento, as pessoas podem aprender a associar sinais  anteriores à iminência de estresse. Nessas circunstâncias, as pessoas começam a  antecipar a resposta ao estresse e podem se preparar melhor para enfrentá-lo. Essa  antecipação desencadeia uma resposta de ansiedade, ou seja, elas preveem o  estado mental e físico que estaria ativo em situações de potencial risco. Nesse  contexto, a ansiedade desempenha um papel construtivo ao preparar as pessoas  para enfrentar essas situações, mobilizando ao máximo os recursos internos para um  desempenho eficaz.(Rocha; Silva; Matos; Correa; Burla, 2018). 

Resumidamente, em situações de estresse, seja ele desencadeado por  estímulos físicos ou emocionais, ocorre a ativação da amígdala, uma região cerebral  associada à regulação das emoções e à interpretação de sinais bioquímicos. Esse  processo estimula o hipotálamo a desencadear uma resposta hormonal, resultando  na liberação do fator liberador de corticotropina (CRH). O CRH, por sua vez, estimula  a hipófise a liberar o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) na corrente sanguínea.  Este último age como um sinal para as glândulas adrenais, especificamente na zona  fasciculada, para liberar hormônios que desencadeiam a resposta corporal ao  estresse. Além disso, o hipotálamo também age diretamente no sistema nervoso  autônomo, induzindo imediatamente a ativação da resposta ao estresse. Dessa  forma, o corpo se prepara para a reação de luta ou fuga por meio de uma via dupla:  uma resposta nervosa de curta duração e uma resposta endócrina (hormonal) de  maior duração (Rocha; Silva; Matos; Correa; Burla, 2018). 

Hoje em dia, temos conhecimento de que o estresse é uma resposta  influenciada por diversos fatores, sendo seus efeitos determinados pela interação  entre a persistência e a intensidade dos estímulos estressores. Quando os  estressores são constantes e previsíveis, caracterizamos o estresse crônico, que, em  certos casos, pode até promover adaptações, permitindo o retorno das funções  fisiológicas e cognitivas ao estado normal (Dang et al., 2019). 

De acordo com Roberts et al., 2021, o corpo humano estabelece interações  sistêmicas e opera de forma a garantir a homeostase, mantendo assim as funções do  organismo em equilíbrio.

TRANSTORNO MISTO ANSIOSO E DEPRESSIVO 

Foi introduzido na 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID 10) para denotar um estado clínico em que há sintomas de ansiedade ou depressão,  mas ambos ficam aquém do número necessário para um diagnóstico formal de  episódio depressivo ou transtorno de ansiedade CID F41.2 (Organização Mundial da  Saúde. A Classificação CID-10 de Transtornos Mentais e Comportamentais.  Genebra, Suíça: OMS). 

A depressão é um transtorno comum em todo o mundo: estima-se que mais de  300 milhões de pessoas sofram com ele. Essa condição difere das flutuações usuais  de humor e das respostas emocionais de curta duração. Quando é um quadro de  longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar  uma grave condição de saúde. Essa patologia pode desencadear na pessoa afetada  um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. Na pior  das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem  por suicídio a cada ano – sendo essa a segunda principal causa de morte entre  pessoas com idade entre 15 e 29 anos (OPAS, 2023). 

Transtorno de ansiedade – é uma reação emocional que pode estar presente  em qualquer momento da vida e ser causada por diferentes situações. A ansiedade  se torna um transtorno quando manifestada de modo exagerado e persistente,  atrapalhando diferentes áreas da vida, tornando-a disfuncional (MARTINS, 2022) 

Segundo o Ministério da Saúde, ansiedade é uma reação emocional que pode  estar presente em qualquer momento da vida e ser causada por diferentes situações.  É um recurso importante e funcional para o organismo humano, pois é responsável  pela adaptação em casos desconhecidos, além de ser encarregada de alertar o  corpo e a mente em momentos de perigo. A ansiedade se torna um transtorno  quando manifestada de modo exagerado e persistente, atrapalhando diferentes  áreas da vida, tornando-a disfuncional (MARTINS, 2022). 

O transtorno misto ancioso e depressivo, deve ser utilizada quando o sujeito  apresenta ao mesmo tempo sintomas ansiosos e depressivos, sem predominância  nítida de uns ou de outros, e sem que a intensidade de uns ou de outros seja  suficiente para justificar um diagnóstico isolado. Quando os sintomas ansiosos e  depressivos estão presentes simultaneamente com uma intensidade suficiente para  justificar diagnósticos isolados, os dois diagnósticos devem ser considerados  (QUINTELLA, 2017).

O transtorno misto ansioso e depressivo é uma condição clínica complexa  caracterizada pela coexistência de sintomas de ansiedade e depressão. Embora a  etiologia dessa condição ainda seja pouco compreendida, estudos recentes sugerem  que os níveis de cortisol, o principal hormônio do estresse, desempenham um papel  significativo na manifestação e gravidade do transtorno ansioso e depressivo. Os  sintomas de ansiedade e depressão estão presentes de forma simultânea. É uma  categoria diagnóstica reconhecida em alguns sistemas de classificação, como a  Classificação Internacional de Doenças (CID-41.2). 

Ao considerar que cresce a cada ano o índice de pessoas que apresentam  alguma doença mental ou desordem comportamental e, dentre essas, destaca- se o  estresse e a ansiedade, que, segundo os dados divulgados pela OMS (Organização  Mundial da Saúde) em 2019, bem como os dados de anos anteriores, é possível  afirmar que o Brasil é considerado o país com “o maior número de pessoas ansiosas  e estressadas do mundo” (Galhardi, 2019). 

Também é crucial enfatizar que a depressão carrega um risco considerável de  suicídio, e, no que diz respeito à ansiedade, o estudo de Stanley et al., (2018) indica  que a inclinação para a ansiedade está relacionada de forma significativa com a  ideação suicida e maior risco de suicídio. Assim, destaca-se a importância de buscar  assistência para transtornos de ansiedade e depressão. 

Quando nos encontramos diante de situações comuns da vida que evocam  sentimentos de temor, inquietação ou pressão psicológica, costumamos subestimar o  quão sério isso pode se tornar quando experimentado repetidamente. Conforme os  dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 10% da  população global, equivalendo a quase 800 milhões de indivíduos, enfrenta  problemas de saúde mental. Notavelmente, o Brasil apresenta um quadro  preocupante, com cerca de 19 milhões de pessoas diagnosticadas com ansiedade e  depressão, liderando a estatística na América Latina (Bezerra, 2023). 

A prevalência desses transtornos de estresse do mundo gira em torno de  7,3%. Sabe-se que vários fatores estão relacionados a esses distúrbios, dentre os  quais podem-se destacar: socioeconômicos, culturais, ambientais e diversas  variáveis, que en- volvem sexo (com maior acometimento das mulheres), renda, anos  de estudo, alcoolismo, tabagismo e doenças crônicas (Costa, et al., 2019). 

Segundo PISAT (2019) “Reações ao estresse grave e transtornos de  adaptação foram os diagnósticos mais comuns, seguidos pelos episódios  depressivos e outros transtornos ansiosos”. A angústia psicológica, manifestada na  forma de depressão e ansiedade, está relacionada a sérios problemas de saúde, tornando a saúde mental um componente crucial do bem-estar individual. Distúrbios  mentais impactam negativamente a produtividade, qualidade de vida e capacidade  funcional (Dalky & Gharaibeh, 2019). 

Em níveis elevados, a ansiedade pode pode influenciar negativamente nas  atividades cotidianas e, dessa forma, implicar um desequilíbrio emocional e social,  atingindo diversosâmbitos da vida de um sujeito acometido, tais como família,  trabalho e relacionamentos interpessoais (Beneton et al., 2021). 

Diversas teorias biológicas e psicológicas têm sido propostas para entender a  origem da depressão. A perspectiva biológica sugere que a depressão pode resultar  de fatores como desequilíbrios na noradrenalina, disfunções endócrinas, alterações  na estrutura cerebral, perturbações do sono ou influência genética. Por outro lado,  abordagens psicológicas têm buscado explicar a depressão através de diferentes  modelos, incluindo a psicanálise, modelos comportamentais, modelos cognitivos,  abordagens socioculturais,teorias de autocontrole, teoria interpessoal e influência de  eventos estressantes na vida (Bernaras, Jaureguizar & Garaigordobil, 2019). 

A depressão e outros transtornos mentais podem ser desencadeados ou  agravados por diversos fatores, como longas horas de trabalho, excesso de  informações, falta de tempo para o lazer e atividades sociais, exposição frequente ao  sofrimento e à morte, má alimentação, sono inadequado e expectativas elevadas em  relação ao futuro e à própria capacidade. (Guedes, et al., 2019). 

Além disso, a existência de condições crônicas adicionais, como obesidade e  diabetes, pode acionar processos biológicos que aumentam a propensão do  indivíduo a desenvolver transtornos depressivos. (Duarte Silva et al., 2021; LI et al.,  2022). 

Ao longo da vida, os seres humanos se deparam com quadros de insônia e  dificuldades nos contextos profissional e familiar. Esses elementos são identificados  como estressores prejudiciais à saúde. (Macedo et al., 2019). 

Ribeiro et al., (2019) diz que os transtornos de ansiedade têm um impacto  substancial na vida dos trabalhadores e nas pessoas com quem eles interagem,  prejudicando suas atividades, relacionamentos sociais e diversas áreas da vida. 

O trabalho desempenha um papel crucial como um determinante social da  saúde, abrangendo a saúde mental em particular. Diversos fatores estressores  ligados à configuração do ambiente de trabalho, incluindo sobrecarga e  desigualdades na distribuição de tarefas e autoridade, podem precipitar situações  como assédio moral e outras formas de violência (PISAT, 2019).

O Fator Liberador de Corticotrofina (CRF) desempenha um papel crucial nos dis túrbios associados ao estresse crônico, à ansiedade e à depressão. No que diz  respeito ao controle da sua liberação e inibição, o CRF é estimulado pela epinefrina e  pelo glutamato durante situações estressantes, enquanto a inibição ocorre por meio  das ações do neurotransmissor GABA. Quando estimulado, o CRF desencadeia a  secreção do Hormônio Adrenocorticotrófico (ACTH), que, por sua vez, estimula a  síntese de corticosterona e cortisol, os principais glicocorticoides humanos (Kageyma  K et al 2021).Em situação de estresse, especialmente quando o indivíduo está nas  fases de resistência e exaustão, há um alargamento das glândulas adrenais, o que  ocorre devido aos glicocorticoides que são liberados, o que pode trazer problemas,  como: atrofia do timo, erosões e úlceras no sistema gastrointestinais, bem como  outras reações prejudiciais ao organismo (Silva;Goulart; Guido, 2018). 

Chagas (2019) destaca que as diferentes reações diante de situações de  estresse se dão devido a alguns acontecimentos, onde cita- se a interação que se dá  entre o sistema nervoso central e o sistema nervoso autônomo e o sistema límbico,  os quais, com suas ações, ativam o eixo hipotálamo-hipófise, o que conduz a  liberação no sangue do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), o qual leva as  glândulas adrenais a produzir hormônios, como aldosterona, cortisol e andrógenos  adrenais, levando o organismo a se colocar em situação de atenção. No entanto, é  importante destacar que, no que se refere a situações estressoras, o cortisol em  excesso é o que se destaca, conduzindo a respostas negativas do organismo. 

O eixo HPA hiperativo é observado em indivíduos ansiosos e aqueles com  transtornos de humor. Além disso, pacientes que sofrem de estresse pós- traumático  exibem um aumento na secreção de CRF, o que aumenta sua vulnerabilidade à  depressão (Kageyma K et al., 2021). 

Existem indícios de interações entre o sistema imunológico, o sistema nervoso  central e o sistema endócrino, que apontam para a influência de fatores psicológicos  nesses sistemas. Essas descobertas científicas são conhecidas como  psiconeuroimunologia. A psiconeuroimunologia é uma disciplina que explora as  interações entre fatores psicológicos, o sistema imunológico e os mecanismos  neuroendócrinos, e busca aplicar esses conhecimentos para entender melhor a  saúde e as doenças (Masafi, 2018). 

Em situações de estresse agudo, o corpo desencadeia uma série de processos  fisiológicos. Isso inclui a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, resultando na  liberação de glicocorticoides, a produção de catecolaminas e a indução de citocinas e  quimiocinas, tudo com o objetivo de restaurar o organismo às suas funções normais.  No entanto, em situações de estresse crônico, essa tentativa contínua de manter a homeostase acaba sobrecarregando o sistema, levando a um desgaste inadequado  na capacidade de adaptação durante períodos prolongados de estresse intenso  (Westfall S, et al., 2021). 

Na ativação do eixo HPA, localizados no PVN do hipotálamo e secretam CRF que, na hipófise anterior, estimula a secreção do ACTH que, por sua vez, estimula a  produção e liberação de glicocorticoides pelo no córtex da adrenal. A inibição do eixo  se dá pela a ação dos glicocorticoides no PVN e pela inibição da secreção de CRH e  ACTH. (Mourtzi; Sertedaki; Charmandari, 2021). 

Os receptores de glicocorticóides estão localizados em quase todos os tecidos  do organismo, deste modo, o cortisol tem a capacidade de afetar quase todos os  sistemas do corpo, inclusive o sistema nervoso simpático (SNP), que quando ativado  é responsável pela resposta de luta ou fuga, que causa uma cascata de respostas  hormonais e fisiológicas,à medida que o corpo continua a perceber os estímulos  como uma ameaça, o cortisol é liberado do córtex adrenal e permite que o corpo  continue em alerta máximo, afirma Thau, Gandhi e Sharma (2020). 

O estresse, a ansiedade e a depressão estão intrinsecamente ligados,  frequentemente manifestando sintomas semelhantes, como excessiva fadiga, dores  de cabeça recorrentes, mudanças no apetite, problemas de sono, dificuldades de  concentração e irregularidades nos batimentos cardíacos. Diagnosticar com precisão  esses distúrbios podem ser desafiadores para os profissionais de saúde, pois muitas  vezes depende de observações clínicas e entrevistas com o paciente, possivelmente  envolvendo a família, para construir um histórico abrangente. No entanto, os  resultados dos exames podem oferecer um suporte adicional na formulação de um  diagnóstico médico, contribuindo para a implementação de um tratamento mais ágil e  adequado ao paciente (Chojnowska, S. et al., 2021). 

A avaliação do estresse através de marcadores imunológicos pode ser  realizada usando biomarcadores salivares, incluindo o cortisol, DHEA e  Imunoglobulina A (IgA). Esses biomarcadores fornecem insights valiosos sobre a  atividade do eixo hipotalâmicohipofisário-adrenal, tanto em circunstâncias normais  quanto em resposta ao estresse, seja ele psicológico ou físico (Tzira et al., 2018). 

Apesar de os sintomas do transtorno misto serem subclínicos, o stress diário e  o prejuízo funcional são igualáveis às de um distúrbio não subclínico, assim como a  diminuição na qualidade de vida destes pacientes. Além disso, o MADD foi  significativamente associado a histórias de dificuldades psiquiátricas, a adversidades  na infância, traumas, eventos significativos recentes, taxas de traços neuróticos elevadas e abuso de substâncias. Tudo isto sublinha a necessidade de  reconhecimento clínico e tratamento específico (juradoGonzález, 2023). 

Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos  mentais representam uma das principais causas de mortalidade e incapacidade.  Portanto, o exercício físico emerge como um parceiro crucial na mitigação de uma  série de sintomas associados a esses transtornos, devendo ser encarado não  apenas como uma atividade recreativa ou de ocupação (Ian Costa Assunção ;  Rodella Assunção, 2020). 

Os resultados da intervenção estão diretamente ligados com os benefícios da  atividade física. De acordo com o Guia de Atividade Física para a População  Brasileira, os benefícios da atividade física são muitos, dentre eles: promover o  desenvolvimento humano e bem-estar; ajudar a conquistar uma vida plena com  melhor qualidade; prevenir e diminuir a mortalidade por diversas doenças crônicas;  decair o estresse e os sintomas de ansiedade e depressão (BRASIL, 2021). 

Os transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade, sendo altamente  prevalentes na população e representam um grande desafio para os sistemas de  saúde. A estratégia Saúde da Família tem como objetivo principal a prevenção e o  cuidado integral da saúde, e a inclusão de atividades físicas nessa abordagem pode  contribuir para a prevenção e o manejo desses problemas, melhorando a qualidade  de vida dos indivíduos e reduzindo a demanda por serviços especializados em saúde  mental. Neste cenário a atividade física não apenas beneficia a saúde mental, mas  também promove a saúde física e o bem-estar geral. Incluir a atividade física como  parte da estratégia Saúde da Família permite uma abordagem mais holística e  integrada, considerando a pessoa como um todo e reconhecendo a interdependência  entre o corpo e a mente. (Sandri, DelevattI, Matias, 2022). 

Não obstante, é importante destacar, até onde sabemos, a avaliação e a  reatividade do cortisol a um estressor físico em indivíduos com TDM. No entanto, há  muito o que investigar. É desejável estudar a população com transtornos  neuropsiquiátricos para melhor compreender como esses indivíduos podem lidar com  o agente estressor e também contribuir para elucidar a fisiopatologia de tais  transtornos no que diz respeito ao estresse, ao mesmo tempo em que é inevitável  observar a heterogeneidade dos sujeitos, visto que é inerente a este tipo de estudo.  Cuidado. (Sandri, DelevattI, Matias, 2022). 

A redução do estresse, melhora no humor, controle inflamatório e do sono  estão relacionados a um ciclo circadiano regulado. Portanto, a correção do ciclo torna-se importante, haja vista, ela resultará em mudanças nos níveis de cortisol ( De  Souza,et al, 2020). 

Evidentemente, os prejuízos do aumento do cortisol no âmbito cognitivo,  incluindo memória e aprendizagem, pode também afetar os sistemas de feedback  negativo. Os níveis baixos de cortisol podem causar problemas cognitivos, de saúde  mental e comportamental, pois estudos revelam que pacientes com hipocortisolismo,  principalmente causado por insuficiência adrenal relatam que possuem uma  qualidade de vida reduzida, quando comparados à população em geral sendo  observada redução nos escores de qualidade de vida tanto para saúde física quanto  mental. ( De Souza,et al, 2020). 

Contudo, é possível promover uma melhoria global na saúde dos indivíduos e  comunidades atendidas. A inclusão de atividades físicas na estratégia Saúde da  Família pode contribuir para a redução dos custos associados ao tratamento de  doenças mentais. 

A atividade física regular tem sido associada a uma diminuição na utilização de  serviços de saúde, como consultas médicas, internações hospitalares e uso de  medicamentos. Ao investir na promoção da atividade física e saúde mental, é  possível reduzir a carga financeira sobre o sistema de saúde, direcionando recursos  para outras áreas de cuidado (Sandri, DelevattI, Matias, 2022). 

Estudos, revelam que a intensidade do exercício amortece a resposta ao  estresse do eixo HPA de maneira dose-dependente, com evidências de que o cortisol  liberado pelo exercício suprime intensamente a resposta subsequente do cortisol a  um estressor psicossocial.Sendo assim, o exercício físico destaca-se  desempenhando um papel fundamental nessa transformação de realidade para  muitos indivíduos que enfrentam a depressão e ansiedade.(Silva, Gardenghi, 2019). 

Os exercícios físicos não apenas melhoram o condicionamento físico do  paciente, mas também oferecem benefícios psicofisiológicos imediatos, destacando  assim a significativa relevância dessa prática tanto na prevenção quanto no  tratamento da depressão (Gonçalves, et. Al., 2018). 

CORTISOL E O PROCESSO INFLAMATÓRIO 

Segundo Silva et al. (2018) o conceito e o termo “stress” foi introduzido pelo  endocrinologista canadense Hans Selye em 1936, que definiu estresse como uma  resposta geral e inespecífica do organismo a um estímulo ou situação estressante.  Foi observado também que ainda que mesmo em diferentes organismos o padrão de resposta mediante estressores era igual, agindo especificamente na ativação do eixo  Hipotálamo-Hipófise Adrenal (HPA), promovendo ação reguladora sobre si e sobre  outros sistemas, como o sistema imunológico, que neste caso tem a capacidade de  induzir a apoptose de células T, suprimir a produção de anticorpos de células B e por  fim reduzir a migração de neutrófilos durante o processo inflamatório, portanto o seu  desequilíbrio pode acarretar em diversas doenças. 

O cortisol afeta a capacidade de proliferação dos linfócitos, atrapalhando a  comunicação entre eles, e interrompe a fabricação de anticorpos, inibe a migração de  granulócitos, diminui a migração de citocinas. Com resposta ao estresse as células T  CD4+, não são ligadas diretamente, e sim as células T citotóxicas CD8+, que atuam  modulando a corticosterona e estimulando a formação de citocinas pró-inflamatórias  (FACCINI et al., 2020). 

Além de causar um aumento de inflamações, pois sua exposição prolongada  ao cortisol com níveis aumentados, torna as células imunológicas insensíveis aos  seus efeitos anti-inflamatórios e por sua ação imunossupressora ocorre inibição das  vias de sinalização pró-inflamatórias, reduzindo a ação das células de defesa. Pode  também estar relacionado com casos de depressão, fadiga e efeitos imunológicos  como inflamação (NÓBREGA et al., 2020). Quando o cortisol está baixo (causado  pela insuficiência adrenal primária e secundária), pode ocasionar um aumento da  resposta das células natural killer (NK), células do sistema imunológico com papel  fundamental no combate células atípicas e carcinogênicas (NÓBREGA et al., 2020). 

Segundo Gomaa et al. (2019), foram associadas ações inflamatórias orais com  nível de cortisol elevado, havendo uma contribuição para o estado pró-inflamatório,  que assim aumentará o risco de inflamação periodontal. Diante disso, há também  uma liberação de fatores de estresse por níveis altos do cortisol no momento da  inflamação. Logo, percebe-se a interferência no sistema imunológico do indivíduo,  haja vista a inflamação constitui um processo referente ao sistema imune inato. 

Para Ng et al. (2019) a diminuição dos níveis de cortisol causam aumento da  resposta de células NK, estas células do sistema imunológico possuem um papel  fundamental no combate à infecções. Portanto, o cortisol, o hormônio do estresse,  tem a capacidade de mediar este fenômeno. 

O sistema hormonal apresenta um papel fundamental na regulação de várias  atividades no organismo, como, crescimento, desenvolvimento, metabolismo,  reprodução, sendo assim possui a capacidade de influenciar em todas as etapas  fundamentais para a função do corpo (GUYTON, HALL, 2021 p 927).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A pesquisa ressalta a complexidade do transtorno misto ansioso e depressivo,  que desafia a saúde mental devido à coexistência de sintomas de ansiedade e  depressão. O cortisol, um hormônio liberado em resposta ao estresse, desempenha  um papel crucial nesse transtorno, com disfunções no eixo HPA e altos níveis de  cortisol associados aos sintomas. O cortisol é versátil e vital para a sobrevivência,  influenciando desde a capacidade de lidar com o estresse até a regulação do  metabolismo e do sistema imunológico, entretanto, seu equilíbrio é essencial. 

Quando o indivíduo é exposto ao estresse de forma longa e prolongada, o  cortisol aumenta, ocorrendo a diminuição de linfócitos impedindo a produção de  anticorpos, levando a ter mais risco de doenças infecciosas por causa da diminuição  da imunidade tornado as células imunológicas insensíveis aos seus efeitos anti-inflamatórios e por sua ação imunossupressora ocorre inibição das vias de  sinalização pró-inflamatórias, reduzindo a ação das células de defesa. Portanto, é  vital entender e gerenciar o cortisol, incorporando estratégias de gerenciamento de  estresse, como meditação, exercícios, sono adequado, relacionamentos sociais  positivos e um estilo de vida equilibrado. 

Além disso, é crucial reconhecer que o cortisol faz parte de um sistema biológico interconectado no corpo humano. Compreender sua ação requer uma visão mais ampla da fisiologia humana. O cortisol é um exemplo de como nossa biologia se adapta para nossa sobrevivência, e para colher seus benefícios e evitar armadilhas, é essencial gerenciar o estresse e adotar um estilo de vida saudável e consciente. Isso contribui para uma vida equilibrada, resiliente e saudável. 

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