REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11860717
Renata de Melo Nogueira Freitas[1]
Luciana Santana Martins [2]
RESUMO: O papilomavírus humano é um vírus sexualmente transmissível. Atualmente, foram identificados mais de 200 tipos de HPV, dos quais cerca de 40 tipos afetam o trato anogenital, sendo uma Infecção Sexualmente Transmissível de maior incidência global, no qual o pico acontece tipicamente após a primeira experiência sexual, o que geralmente ocorre durante a adolescência. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi descrever a atuação do enfermeiro na prevenção do HPV na adolescência. Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com uma abordagem qualitativa, através de estudos publicados nos últimos dez anos (2014-2024), nas bases de dados BDENF, CAPES, LILACS, SCIELO, na língua portuguesa. A abordagem da sexualidade permanece ainda um assunto tabu na sociedade. Diante disso, o enfermeiro é essencial na promoção da saúde, especialmente em relação à prevenção do HPV. Isso envolve a organização e implementação de campanhas de vacinação, a realização de palestras educacionais direcionadas a adolescentes e seus pais, e a utilização de uma linguagem clara e acessível para desmistificar o vírus e eliminar tabus em torno dele.
PALAVRAS-CHAVE: Adolescente; Enfermagem; Papilomavírus Humano; Prevenção.
NURSES’ ROLE IN THE PREVENTION OF HUMAN PAPILLOMAVIRUS IN ADOLESCENTS
ABSTRACT: The human papillomavirus is a sexually transmitted virus. Currently, more than 200 types of HPV have been identified, of which around 40 affect the anogenital tract, and it is a Sexually Transmitted Infection with the highest global incidence, in which the peak typically occurs after the first sexual experience, which generally occurs during adolescence. Therefore, the aim of this study was to describe the role of nurses in preventing HPV in adolescence. This study is an integrative literature review, with a qualitative approach, through studies published in the last ten years (2014-2024), in the databases BDENF, CAPES, LILACS, SCIELO, in the Portuguese language. The approach to sexuality is still a taboo subject in society. In view of this, nurses are essential in promoting health, especially in relation to HPV prevention. This involves organizing and implementing vaccination campaigns, giving educational talks aimed at adolescents and their parents, and using clear and accessible language to demystify the virus and eliminate taboos surrounding it.
KEYWORDS: Adolescents; Nursing; Human papillomavirus; Prevention.
EL PAPEL DE LAS ENFERMERAS EN LA PREVENCIÓN DEL VIRUS DEL PAPILOMA HUMANO EN ADOLESCENTES
RESUMEN: El virus del papiloma humano es un virus de transmisión sexual. Actualmente, se han identificado más de 200 tipos de VPH, de los cuales alrededor de 40 afectan al tracto anogenital, y es una Infección de Transmisión Sexual con la mayor incidencia mundial, en la que el pico suele producirse tras la primera experiencia sexual, que generalmente ocurre durante la adolescencia. Por lo tanto, el objetivo de este estudio fue describir el papel de las enfermeras en la prevención del VPH en la adolescencia. Este estudio es una revisión bibliográfica integradora, con enfoque cualitativo, a través de estudios publicados en los últimos diez años (2014-2024), en las bases de datos BDENF, CAPES, LILACS, SCIELO, en lengua portuguesa. La sexualidad sigue siendo un tema tabú en la sociedad. Por ello, las enfermeras son esenciales en la promoción de la salud, especialmente en relación con la prevención del VPH. Esto implica organizar e implementar campañas de vacunación, dar charlas educativas dirigidas a los adolescentes y a sus padres, y utilizar un lenguaje claro y accesible para desmitificar el virus y eliminar los tabúes que lo rodean.
PALABRAS CLAVE: Adolescente; Enfermería; Virus del papiloma humano; Prevención.
1 INTRODUÇÃO
O papilomavírus humano, abreviado como HPV (do inglês Human Papillomavirus), é um vírus de DNA de cadeia dupla que não possui invólucro e pertence à família Papillomaviridae. Sua capacidade de infectar epitélios escamosos pode resultar em uma ampla gama de lesões cutâneo-mucosas. Atualmente, foram identificados mais de 200 tipos de HPV, dos quais cerca de 40 tipos afetam o trato anogenital (Brasil, 2022).
A infecção pelo HPV é a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) de maior incidência global, com estimativas indicando que cerca de 80% das pessoas sexualmente ativas já estiveram expostas a esse vírus, além disso o pico de incidência do HPV acontece tipicamente após a primeira experiência sexual, o que geralmente ocorre durante a adolescência. Esta fase da vida é caracterizada por uma série de mudanças físicas, emocionais e sociais, tornando os adolescentes particularmente vulneráveis a fatores de risco relacionados à saúde sexual(Matos et al. 2022).
A maioria das infecções por HPV é de caráter temporário, regredindo espontaneamente em alguns meses. Em certos casos, a infecção pode persistir, avançando para lesões precursoras que, se não forem tratadas, podem progredir para o câncer, especialmente no colo do útero, sendo fundamental o rastreio citopatológico. Outras áreas afetadas podem incluir a vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca(Amthauer; Santos, 2020).
Vale destacar que, adolescentes e jovens com idades entre 10 e 24 anos, não são recomendadas para o rastreio citológico anual, de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde. Isso se deve ao elevado índice de remissão espontânea das lesões nessa faixa etária, e as cepas cancerígenas, responsáveis por alterações celulares precursoras de câncer, levam de 10 a 20 anos para se desenvolverem em populações saudáveis. Portanto, a faixa etária recomendada para iniciar a coleta citológica é de 25 a 64 anos, com intervalo anual entre elas. Após dois exames negativos consecutivos, a coleta pode ser repetida a cada intervalo de 3 anos(Reis et al. 2022).
Neste contexto, diante da iniciação sexual precoce, a discussão sobre a incidência do HPV entre os adolescentes é essencial, contextualizando aspectos quantitativos e de perfil para uma compreensão mais abrangente. Considerando o acesso ampliado à informação e educação nessa faixa etária, uma vez que a população adolescente se revela sensível a campanhas educacionais e programas de prevenção(Carvalho; Bezerra, 2023).
Dessa maneira, o enfermeiro, como agente de mudanças, desempenha um papel essencial na promoção da saúde e prevenção do HPV. Sua atuação vai além, incluindo a educação em saúde para conscientização sobre os riscos e práticas preventivas. Durante as consultas de enfermagem, onde se aplica o processo de Sistematização da Assistência da Enfermagem, o profissional tem a oportunidade de oferecer orientações personalizadas, realizar exames e intervenções necessárias (Soares; Cosse; Fernandes, 2023).
A atuação do enfermeiro na prevenção do HPV em adolescentes é de suma importância, considerando a alta incidência dessa infecção nessa faixa etária, suscitam-se questões importantes: Qual o papel do enfermeiro na prevenção do HPV na adolescência e como sua atuação influencia na redução da incidência desta infecção?
Com isso, o presente estudo justifica-se por abordar uma temática altamente relevante na saúde pública, posto que, diante das elevadas taxas de infecção do HPV no Brasil, o enfermeiro tem tido destaque em sua atuação, buscando soluções que possibilitem novas perspectivas, visando contribuir para a eficácia das medidas preventivas, promovendo a saúde e reduzindo os riscos associados a essa infecção. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi descrever a atuação do enfermeiro na prevenção do HPV na adolescência.
2 MATERIAS E MÉTODOS
Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com uma abordagem qualitativa, sendo um dos métodos de pesquisa utilizados na Prática Baseada em Evidências (PBE), além de permitir analisar o conhecimento já existente para obter uma compreensão ampla e abrangente de um determinado tema ou objeto de estudo. Essa abordagem de revisão é aplicável a uma variedade de temas e áreas de estudo (Sousa et al. 2017).
Este estudo foi elaborado seguindo as seguintes etapas: definição do tema e da questão norteadora, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão, determinação das informações a serem extraídas dos estudos, avaliação dos estudos e interpretação dos principais resultados.
O levantamento dos dados foram realizados nos meses de fevereiro e março de 2024, através do levantamento de dados em artigos científicos publicados referente o papel do enfermeiro na prevenção do HPV com ênfase na adolescência. As bases de dados pesquisadas foram: Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Biblioteca Eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando descritores determinados pelas ferramentas dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e o operador booleano AND. Sendo assim, os descritores selecionados foram: “Papilomavírus Humano” AND “Enfermagem” AND “Prevenção” AND “Saúde do adolescente”.
Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos científicos completos, idioma em português, que explorassem a temática publicados entre os anos de 2014 e 2024. Foram excluídos os artigos incoerentes com o tema proposto, os que não estavam disponíveis eletronicamente, fora do recorte temporal estabelecidos e outros idiomas.
Durante o processo de seleção dos estudos, os descritores utilizados deveriam estar presentes no título ou resumo dos textos selecionados. Em seguida, realizou-se a leitura dos textos, relacionando-os com a problemática do estudo. O processo de seleção e escolha seguiu uma sequência, começando com a inserção dos descritores e a seleção dos estudos sem aplicação dos filtros, seguida pela aplicação dos filtros (período de 2015 a 2024) e, posteriormente, pela leitura e aplicação dos critérios de exclusão.
Durante o processo de seleção dos estudos, foram inicialmente identificados 356 artigos, os quais passaram por uma criteriosa análise mediante a aplicação dos filtros e dos critérios de inclusão e exclusão. Essa etapa rigorosa resultou na seleção de 13 estudos, conforme detalhado no Quadro 01, no qual, na primeira coluna se destaca as bases de dados utilizadas. Na segunda coluna, é apresentada a quantidade de estudos encontrados sem a aplicação dos filtros. Na terceira coluna, são registrados os estudos encontrados após a aplicação dos filtros. Por fim, na última coluna são elencados os estudos que foram selecionados após a aplicação dos critérios de exclusão e dos filtros, demonstrando assim o rigor e a precisão do processo de seleção adotado.
Quadro 1 – Estratégia de busca de dados
BASES DE DADOS | ESTUDOS SEM FILTRO | ESTUDOS COM FILTROS (2014-2024) | CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO |
LILACS | 184 | 59 | 04 |
SCIELO | 140 | 36 | 04 |
BDENF | 32 | 27 | 05 |
Fonte: Autoria (2024).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Quadro 02, encontra-se a síntese de todos os estudos incluídos na pesquisa, que serviram como base para a elaboração dos resultados, discussão e conclusões relacionadas à relevância do papel do enfermeiro na prevenção do HPV na adolescência. Nessa análise, foram levados em conta o autor e ano da publicação, o título do estudo, o tipo de pesquisa realizado e os objetivos delineados em cada estudo selecionado.
Quadro 02 – Descrição dos estudos selecionados.
AUTOR/ANO | TÍTULO DO ESTUDO | METODOLOGIA | OBJETIVOS |
Amthauer; Santos, 2020. | Conhecimento dos pais de adolescentes sobre a vacinação contra o papilomavírus humano | Pesquisa qualitativa, do tipo exploratório descritiva | Identificar o conhecimento dos pais de adolescentes sobre a vacinação contra o papilomavírus humano (human papilomavirus (HPV) |
Bueno et al. 2020. | Papilomavírus humano (HPV) entre adolescentes–fatores de promoção à saúde e prevenção. | Revisão sistemática | Investigar, em produções científicas, trabalhos que abordem as formas de transmissão e os aspectos relacionados ao contágio pelo HPV na população adolescente, a existência do conhecimento de seus desfechos por parte dos adolescentes e de seus pais, e se tais conhecimentos facilitam a imunização contra o vírus no Brasil. |
Carvalho et al. 2017. | Fatores de risco de mulheres adolescentes e jovens frente ao Papilomavírus Humano | Estudo quantitativo, descritivo. | Identificar os fatores de risco à infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) associados aos comportamentos e atitudes de adoles centes e jovens de uma unidade escolar de Ensino Médio do Rio de Janeiro. |
Dutra, 2020. | Ação educativa do enfermeiro na prevenção da infecção por HPV em adolescentes | Revisão bibliográfica | Compreender as ações educativas realizadas pelo enfermeiro na prevenção da infecção por HPV em adolescentes e descrever os fatores que dificultam a adesão dos adolescentes à vacinação. |
Ferreira et al. 2022. | Efeito de intervenção educativa para adesão de adolescentes escolares à vacina contra o papilomavírus humano | Estudo experimental do tipo Ensaio Clínico Randomizado. | Avaliar os efeitos da intervenção educativa em saúde “Sai fora, HPV!”, por meio de cartões-mensagem impressos para o aumento do conhecimento, da atitude e da adesão de adolescentes escolares à vacinação contra o HPV. |
Galvão; Araújo; Rocha, 2022. | Conhecimentos, atitudes e práticas de adolescentes sobre o papilomavírus humano | Estudo transversal, analítico. | Analisar conhecimentos, atitudes e práticas de adolescentes estudantes de escolas públicas do município de Teresina-PI sobre o papilomavírus humano (HPV). |
Oliveira et al. 2021. | A importância do profissional enfermeiro na prevenção do HPV na Atenção Básica | Revisão de literatura | Reunir o conhecimento da literatura sobre a importância do profissional enfermeiro na prevenção do HPV na atenção básica. |
Macêdo et al. 2015. | Infecção pelo HPV na adolescente | Revisão bibliográfica | Levantar dados e informações sobre as consequências da infecção por HPV na adolescência, seu diagnóstico e condutas a serem tomadas. |
Matos et al. 2022. | Conhecimento e atitudes de pais de crianças/adolescentes sobre papillomavirus humano: estudo transversal | Estudo transversal com abordagem quantitativa. | Analisar as características associadas aos pais de crianças e adolescentes que ouviram falar sobre o Papillomavirus humano, bem como o conhecimento sobre a infecção e a intenção de vacinar seus filhos. |
Nascimento et al. 2023. | Estratégias educativas para promover a adesão à vacina do Papillomavirus Humano entre adolescentes: revisão integrativa | Revisão integrativa | Identificar as estratégias utilizadas para promover a adesão à vacina do papilomavírus humano entre adolescentes. |
Padilha et al. 2022. | Motivos de pais e responsáveis para a não adesão à vacinação contra o Papilomavírus Humano: Revisão de Escopo | Revisão de Escopo | Sintetizar as evidências científicas sobre os motivos que levam os pais e responsáveis a recusarem vacinar as crianças e os adolescentes contra o HPV. |
Reis et al. 2022. | Adolescentes e adultas jovens infectadas pelo PapilomaVírus Humano (HPV): vulnerabilidades e sentimentos vivenciados | Estudo qualitativo | Conhecer as vulnerabilidades vivenciadas por adolescentes e adultas jovens infectadas pelo Papilomavírus Humano atendidas em um centro de referência em Feira de Santana – Bahia. |
Soares; Cosse; Fernandes, 2023. | Assistência de enfermagem na prevenção do papilomavírus humano em adolescentes | Revisão bibliográfica | Desenvolver práticas educativas dos enfermeiros para conscientizar a prevenção com a vacinação contra o HPV em adolescentes, o uso dos preservativos, e os seus malefícios em adquirir a doença. |
Fonte: Autoria (2024).
Considerando a problemática abordada neste artigo, os estudos selecionados apontam evidências importantes a respeito da transmissão do HPV e sua relação com o comportamento sexual na adolescência. Diante disso, Bueno et al. (2020) destaca a alta contagiosidade do vírus, podendo ocorrer infecção após apenas um único contato viral. Isso significa que qualquer pessoa que tenha relações sexuais, especialmente as genitais, está suscetível à infecção pelo vírus.
O estudo de Carvalho et al. (2017) destaca a importância de considerar diversos fatores de risco para a infecção pelo HPV, como o início precoce da vida sexual e a multiplicidade de parceiros. Além disso, chama atenção para a influência da estabilidade conjugal, que pode levar à redução ou até mesmo à eliminação do uso de preservativos. Essas descobertas destacam a complexidade das interações entre comportamentos sexuais e o risco de infecção pelo HPV, ressaltando a necessidade de estratégias de prevenção abrangentes e adaptadas às diferentes realidades socioeconômicas e culturais.
Macêdo et al. (2015), corrobora afirmando que o HPV é comumente encontrado entre adolescentes, pois as relações sexuais nessa faixa etária frequentemente envolvem múltiplos parceiros e, por vezes, ocorrem sem o uso de preservativos, o que aumenta o risco de infecção. Em muitos casos, a infecção pelo HPV é assintomática e não resulta no desenvolvimento de lesões visíveis, o que dificulta o diagnóstico. A falta de informação e de medidas preventivas pode levar à disseminação do vírus entre os adolescentes, contribuindo para um aumento do número de pessoas infectadas e representando um desafio significativo para a saúde pública.
O autor supracitado, afirma ainda que durante a adolescência, a atividade biológica cervical atinge seu pico, tornando-a mais suscetível à infecção pelo HPV devido à replicação celular intensa e às substâncias presentes no ambiente cervical. No entanto, após essa fase, a incidência de infecção por HPV diminui nas mulheres com o avançar da idade.
Amthauer e Santos (2020), abordam que entre os mais de 150 genótipos identificados de HPV, pelo menos 13 são classificados como oncogênicos de alto risco, apresentando maior propensão para causar infecções persistentes e originar lesões precursoras. Os tipos mais prevalentes, 16 e 18, respondem por aproximadamente 70% dos casos de câncer de colo do útero. Por outro lado, os HPV 6 e 11, presentes em cerca de 90% dos casos de condilomas genitais e papilomas laríngeos, são considerados não oncogênicos.
Macêdo et al., (2015), afirmam ainda que, o colo uterino das adolescentes frequentemente apresenta ectopia e zona de transformação imatura, em contraste com mulheres na menacme, onde apenas cerca de 20% mostram essas características. A exposição da mucosa glandular devido à eversão pode aumentar o risco de processos inflamatórios crônicos na cérvice, tornando-a mais vulnerável a infecções, incluindo o HPV, que pode iniciar o desenvolvimento de lesões cervicais pré-neoplásicas ou neoplásicas através de microfissuras.
Analisando os fatores que predispõem a infecção, Carvalho et al. (2017), descreve que a escola desempenha um papel essencial na compreensão e enfrentamento de problemas de saúde específicos, sendo observado que uma menor escolaridade está associada a uma maior prevalência da infecção. A falta de informações ou conhecimentos inadequados sobre o HPV ainda representam obstáculos significativos no controle das ISTs.
Além disso, Nascimento et al. (2023), enfatiza que é fundamental iniciar a educação sobre o HPV e a vacinação desde a infância, fornecendo informações adequadas aos pais e responsáveis para que eles possam transmiti-las de maneira clara e compreensível aos adolescentes.
No entanto, de acordo com Reis et al. (2022), a abordagem da sexualidade permanece um assunto tabu na sociedade, muitas vezes devido à repressão na educação desde a infância, resultando em consequências negativas que persistem ao longo da vida. A falta de comunicação entre adolescentes e seus pais sobre questões afetivas cria barreiras para diálogos abertos, essenciais para dissipar dúvidas e promover experiências familiares positivas. Além disso, há uma lacuna significativa no conhecimento de adolescentes e jovens adultos sobre o HPV, destacando a necessidade de enfatizar a prevenção primária, o rastreamento de lesões precursoras e a promoção do uso de preservativos, juntamente com a disponibilidade do imunobiológico contra o HPV.
No estudo de Galvão, Araújo e Rocha (2022), os resultados destacam a importância do conhecimento sobre o HPV na forma como os adolescentes lidam com sua sexualidade, proteção e prevenção. No entanto, constatou-se que a maioria dos participantes apresentava conhecimento insuficiente sobre esse agravo. Esses achados estão em linha com outras pesquisas que também apontam para uma lacuna de conhecimento sobre o HPV entre adolescentes e diversos grupos populacionais. No Brasil, um estudo nacional com jovens de 16 a 25 anos revelou que apenas cerca de metade deles tinha respostas corretas sobre o HPV e a vacinação.
A vista disso, Dutra (2020), traz em seu estudo que as ações de educação em saúde são uma preocupação constante na prática da enfermagem, especialmente na prevenção de infecções entre adolescentes, independentemente do contexto social. O enfermeiro desempenha um papel fundamental nesse cenário, sendo responsável por promover a saúde da comunidade e implementar programas educativos sobre prevenção de ISTs. Através de diferentes estratégias de comunicação, como diálogo, propaganda e palestras, o enfermeiro busca conscientizar os adolescentes sobre a importância do uso do preservativo e sobre os riscos associados à infecção pelo HPV.
Concomitantemente, Soares, Cosse e Fernandes (2023), afirmam que o enfermeiro é essencial na promoção da saúde, especialmente em relação à prevenção do HPV. Isso envolve a organização e implementação de campanhas de vacinação, a realização de palestras educacionais direcionadas a adolescentes e seus pais, e a utilização de uma linguagem clara e acessível para desmistificar o vírus e eliminar tabus em torno dele.
Vale destacar que a vacinação representa uma opção segura e eficaz na prevenção da infecção pelo HPV e suas complicações. Evidências robustas demonstram seu benefício tanto a nível individual quanto populacional, comprovando a redução da incidência de lesões benignas e malignas associadas ao vírus. Estudos indicam que a vacina é mais eficaz quando administrada em adolescentes antes do primeiro contato sexual, induzindo a produção de anticorpos em uma quantidade até dez vezes maior do que a observada na infecção naturalmente adquirida ao longo de dois anos (Brasil, 2022).
O Ministério da Saúde incluiu os meninos de 12 a 14 anos na vacinação contra o HPV a partir de 2017, reconhecendo o papel dos homens na transmissão do vírus, o que pode resultar em cânceres em ambos os sexos. Porém a partir de 2022 houve a indicação meninas e meninos de 9 a 14 anos, sendo duas doses, de 0,5ml por via intramuscular, para a imunização ativa contra os tipos de HPV 6, 11, 16 e 18. Sendo os tipos 6 e 11 que causam maior parte dos casos de verrugas genitais e os tipos 16 e 18 que causam a maioria dos casos de câncer do colo uterino e anal, câncer vaginal, vulvar, lesões displásicas (Soares; Cosse; Fernandes, 2023).
Apesar dos esforços do Ministério da Saúde para aumentar as coberturas vacinais, o número de adolescentes vacinados não é satisfatório, muitos pais e responsáveis não estimulam a vacinação, porém neste contexto o enfermeiro possui um fundamental papel, a fim de compreender as razões por trás da não vacinação, podendo ser essencial para orientar os profissionais na formulação de estratégias educativas em saúde. Essas estratégias visam promover um maior entendimento sobre a importância da vacinação contra o HPV entre pais, responsáveis e adolescentes, incentivando assim a busca pela imunização e a conscientização sobre a doença (Padilha et al. 2022).
Nascimento et al. (2023), discorre que ambiente escolar é uma ferramenta essencial na promoção da saúde e na transmissão de conhecimentos, atitudes e práticas relacionadas à prevenção do HPV, tendo como apoio o uso de tecnologias físicas e virtuais nas escolas no qual podem facilitar o aprendizado colaborativo e proporcionar uma abordagem lúdica e envolvente para os adolescentes. Diante disso, o envolvimento ativo do enfermeiro no ambiente escolar capacita os adolescentes a adquirirem conhecimentos críticos e práticos sobre prevenção e saúde sexual, seja por meio de palestras, materiais didáticos, folhetos, dentre outros.
Ferreira et al. (2022) colabora discorrendo que as interações entre a enfermagem e grupos específicos da população, por meio de cartilhas informativas contribuem para o aumento do conhecimento e a adoção de atitudes positivas entre os adolescentes em relação aos comportamentos de saúde.
No entanto, Dutra (2020), relata em seu estudo que o simples fornecimento de informações sobre as formas de contaminação e prevenção de ISTs não é suficiente para garantir a adoção de comportamentos protetores. Além disso, em seu estudo afirma que na vacinação contra o HPV, observa-se uma falta de conhecimento e subestimação da importância da imunização e sua relação com o câncer do colo do útero. Isso torna os adolescentes um grupo altamente vulnerável às ISTs, com alguns optando pela vacinação apenas por influência de propagandas na televisão ou por pressão familiar.
Segundo Matos et al. (2022), é indispensável a articulação do setor saúde com outros setores sociais, como a educação e a utilização dos meios de comunicação e das redes sociais, as quais podem constituir importantes meios de divulgação de informações sobre o assunto em questão.
Desse modo, Ferreira et al. (2022), enfatiza que quando os adolescentes recebem orientações na escola por parte dos profissionais de saúde e dos professores sobre o HPV e a importância da vacinação, isso tende a aumentar o seu conhecimento, influenciar suas atitudes e promover práticas mais efetivas. No entanto, essa constatação levanta questionamentos sobre a qualidade e o método pelo qual essas orientações estão sendo transmitidas no contexto atual.
Portanto, é primordial que haja o investimento em capacitações profissionais que fortaleçam as práticas assistenciais voltadas para a adolescência, visando proporcionar um atendimento que atenda às suas necessidades de saúde e promova a compreensão da importância dos cuidados pessoais. As abordagens terapêuticas devem oferecer conhecimento e incentivar uma reflexão crítica entre os jovens. É necessário entender os diversos fatores pessoais, sociais e programáticos que influenciam no processo de saúde e doença, reconhecendo sua capacidade de facilitar ou dificultar o acesso aos cuidados de saúde, incentivando a busca por apoio e criando espaços de diálogo (Reis et al., 2022).
Vale considerar que o estabelecimento da relação interpessoal da enfermagem com a paciente, especialmente adolescente é de suma importância para que as necessidades sejam identificadas, as dúvidas sejam sanadas e os vínculos sejam criados. Portanto, a consulta de enfermagem exige do profissional uma postura que preserve a intimidade do adolescente possibilitando uma experiência confortável e sem traumas, com o máximo de cautela, sem deixar transparecer opiniões ou críticas, criando assim um ambiente amigável e seguro (Oliveira et al. 2021).
Diante da relevância da enfermagem na prevenção do HPV e sua atuação muito importante na promoção da saúde, observa-se uma escassez de estudos, especialmente no que diz respeito a inovações nas abordagens educativas. Apesar dos esforços em educar e prevenir sobre o HPV, o apoio da escola, ainda assim persistem desafios significativos, particularmente relacionados à falta de conhecimento e às barreiras à vacinação e o diálogo eficaz da família com o adolescente. Sendo assim, é essencial que novas pesquisas se concentrem em desenvolver abordagens inovadoras para superar esses obstáculos e promover efetivamente a prevenção do HPV.
Como proposta, este estudo traz a importância do desenvolvimento de programas de educação em saúde que incorporem tecnologias digitais, como aplicativos móveis e plataformas online interativas, para alcançar efetivamente os adolescentes. Além disso, estratégias que enfatizem o engajamento comunitário e a parceria com escolas e serviços de saúde locais podem ser fundamentais para melhorar o acesso à informação e aos serviços de prevenção do HPV. Ao mesmo tempo, é essencial investir em capacitação contínua para os profissionais de enfermagem, capacitando-os a fornecer orientação adequada e suporte emocional aos adolescentes e suas famílias, visando assim aumentar a conscientização sobre a importância da vacinação e promover hábitos saudáveis desde cedo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados apresentados neste estudo, é evidente que a transmissão do HPV e sua relação com o comportamento sexual na adolescência são temas de extrema relevância para a saúde pública. Os estudos selecionados forneceram informações necessárias ao que tange os fatores de risco e a carência da forma que este assunto é tratado, seja pelo conhecimento insuficiente dos adolescentes sobre os fatores de risco associados à infecção pelo HPV, as formas de prevenção e a adesão à vacinação, destacando a necessidade de estratégias de prevenção abrangentes e adaptadas às diferentes realidades.
Portanto, este estudo demonstrou que o enfermeiro desempenha um papel essencial na disseminação de informações precisas sobre o HPV, seus modos de transmissão, consequências clínicas e medidas preventivas disponíveis, incluindo a vacinação.
Ademais, é fundamental que as intervenções de saúde relacionadas ao HPV sejam adaptadas às necessidades e preferências dos adolescentes, levando em consideração sua familiaridade e engajamento com as tecnologias digitais. Isso pode incluir o desenvolvimento de aplicativos móveis interativos, jogos educativos e campanhas de conscientização online, que proporcionem informações precisas e relevantes sobre o HPV de maneira atrativa e acessível, incentivando ainda mais a parceria com escolas e serviços de saúde locais podem ser fundamentais para melhorar o acesso à informação e aos serviços de prevenção do HPV, além do investimento em capacitações contínuas para os profissionais de enfermagem.
Vale destacar que, a criação de um ambiente acolhedor e seguro durante as consultas de enfermagem é essencial para estabelecer vínculos com os adolescentes, garantindo que suas necessidades sejam compreendidas e atendidas de maneira eficaz, visto que, os enfermeiros desempenham um papel essencial na disseminação de informações precisas sobre o HPV, incentivando a vacinação e formas de prevenção.
Diante disso, a realização de novos estudos é fundamental, visto que há ainda aspectos a serem explorados e aprimorados, a fim de identificar lacunas no conhecimento, desenvolver intervenções mais eficazes e adaptar estratégias às necessidades específicas das diferentes populações. Além disso, novos estudos podem contribuir para o aprofundamento do entendimento sobre os determinantes sociais, culturais e econômicos que influenciam a prevenção do HPV, possibilitando a implementação de políticas de saúde mais abrangentes e eficazes. Assim, o estímulo à pesquisa contínua é essencial para avançar no combate ao HPV e promover a saúde e o bem-estar dos adolescentes em todo o mundo.
5 REFERÊNCIAS
AMTHAUER, C.; SANTOS C. Conhecimento dos pais de adolescentes sobre a vacinação contra o papilomavírus humano. SANARE – Revista de Políticas Públicas, v. 19, n. 2, 2020. Disponível em: https://sanare.emnuvens.com.br/sanare/article/download/1474/730. Acesso em: 04 mar. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf. Acesso em: 03 mar. 2024.
BUENO, L. A. et al. Papilomavírus humano (HPV) entre adolescentes–fatores de promoção à saúde e prevenção. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 44, n. 2, p. 240-255, 2020. Disponível em: https://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/view/2929/2924. Acesso em: 13 mar. 2024.
CARVALHO, C. R.; BEZERRA, M. L. R. Papilomavírus humano na realidade dos adolescentes brasileiros. Revista Revisa (Online), v. 12, n. 1, p. 25-34, 2023. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/gim/resource/fr/biblio-1416315. Acesso em: 05 mar. 2024.
CARVALHO, M. C. M. P. et al. Fatores de risco de mulheres adolescentes e jovens frente ao Papilomavírus Humano. Rev. enferm. UERJ, p.1-7, 2017. Disponível em: https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/25823/24375. Acesso em: 13 mar. 2024.
DUTRA, J. N. C. Ação educativa do enfermeiro na prevenção da infecção por HPV em adolescentes. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, Faculdade de Enfermagem, 2020. Disponível em: https://dspace.uniceplac.edu.br/handle/123456789/313. Acesso em: 14 mar. 2024.
FERREIRA, H. L. O. C. et al. Efeito de intervenção educativa para adesão de adolescentes escolares à vacina contra o papilomavírus humano. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 56, p. e20220082, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/GmhwHYntkpcM3DZTpwk8GhD/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 15 mar. 2024.
GALVÃO, M. P. S. P.; ARAÚJO, T. M. E. D.; ROCHA, S. S. D. Conhecimentos, atitudes e práticas de adolescentes sobre o papilomavírus humano. Revista de Saúde Pública, v. 56, p. 12, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/qMRBfTBSmz64Zm8hLsKVd3n/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 14 mar. 2024.
MACÊDO, F. L. S. et al. Infecção pelo HPV na adolescente. Femina, v. 43, n. 4, p. 185-188, 2015. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/fr/lil-771211. Acesso em: 13 mar. 2024.
MATOS, L. F. S. F. et al. Conhecimento e atitudes de pais de crianças/adolescentes sobre papillomavirus humano: estudo transversal. Acta Paulista de Enfermagem, v. 35, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/HHLV3djZBGxCN4nS9BgPjmz/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 04 mar. 2024.
NASCIMENTO, J. B. et al. Estratégias educativas para promover a adesão à vacina do Papillomavirus Humano entre adolescentes: revisão integrativa. AMAZÔNIA: SCIENCE & HEALTH, v. 11, n. 4, p. 41-53, 2023. Disponível em: http://www.ojs.unirg.edu.br/index.php/2/article/view/4375/2128. Acesso em: 15 mar. 2024.
OLIVEIRA, A. N. H. et al. A importância do profissional enfermeiro na prevenção do HPV na Atenção Básica. Research, Society and Development, v. 10, n. 11, p. e106101119271-e106101119271, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/19271/17311. Acesso em: 15 mar. 2024.
PADILHA, A. R. N. et al. Motivos de pais e responsáveis para a não adesão à vacinação contra o Papilomavírus Humano: Revisão de Escopo. Research, Society and Development, v. 11, n. 1, p. 1-15, 2022. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/24792/21883. Acesso em: 15 mar. 2024.
REIS, M. C. O. et al. Adolescentes e adultas jovens infectadas pelo PapilomaVírus Humano (HPV): vulnerabilidades e sentimentos vivenciados. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 43, 2022. Disponível em: scielo.br/j/rgenf/a/nsmnmkt6lmwrncmjmddhvyp/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 04 mar. 2024.
SOARES, L.; COSSE, L.; FERNANDES, J. Assistência de enfermagem na prevenção do papilomavírus humano em adolescentes. Repositório Institucional, v. 1, n. 1, p. 1-7, 2023. Disponível em: http://revistas.icesp.br/index.php/Real/article/view/4162/2068. Acesso em: 05 mar. 2024.
SOUSA, L. M. M. et al. A metodologia de revisão integrativa da literatura em enfermagem. Revista investigação em enfermagem, v. 21, n. 2, p. 17-26, 2017. Disponível em: https://www.sinaisvitais.pt/images/stories/Rie/RIE21.pdf#page=17. Acesso em: 10 mar. 2024.
[1]Acadêmica do 8º período do curso de Enfermagem, Centro Universitário São Lucas de Ji-Paraná – JPR. E-mail: freitasrenata2931@gmail.com
[2]Enfermeira, docente do curso de Enfermagem, Centro Universitário São Lucas de Ji-Paraná – JPR. E-mail: luciana.martins@saolucasjiparana.edu.br