ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202409041058


Maria Verônica dos Santos1;
Cleverton Luiz Dantas2;
Camille Marcele Resende Rocha3;
Maria Clara do Nascimento Gomes4;
Fernanda Santiago Goveia Matos5;
Cícera Sousa Silva6.


RESUMO

A educação permanente surge como estratégia para organização do processo de trabalho, sendo indispensável na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) visto a grande necessidade de conhecimentos e constante atualizações nos cuidados ao paciente crítico. Portanto, torna-se importante analisar os desafios da atuação do enfermeiro na educação permanente em UTI, bem como relatar a importância do papel do enfermeiro intensivista neste cenário e destacar as estratégias de ensino para melhoria da qualidade assistencial. Trata-se de uma revisão integrativa de abordagem qualitativa e descritiva, desenvolvida a partir de busca na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) com o uso de descritores, critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 11 artigos em conformidade com a temática proposta. Para conseguir melhores resultados na educação permanente é essencial a participação da equipe no processo de ensino-aprendizagem. Para isso, o enfermeiro necessita superar os desafios e elaborar um planejamento com base nas estratégias educativas, tendo o conhecimento das necessidades dos profissionais de acordo com a realidade do serviço. Os processos educativos são pilares para o aperfeiçoamento da prática profissional, e o crescimento de publicações de pesquisas e relatos de experiências contribuiriam para o aperfeiçoamento das estratégias.

Palavras-chave: Educação Permanente. Enfermeiro. Unidade de Terapia Intensiva.

ABSTRACT

Permanent education emerges as a strategy for organizing the work process, being indispensable in the Intensive Care Unit (ICU) given the great need for knowledge and constant updates in care for critical patients. Therefore, it is important to analyze the challenges of the nurse’s performance in continuing education in the ICU, as well as to report the importance of the role of the intensive care nurse in this scenario and to highlight the teaching strategies for improving the quality of care. It is an integrative review of a qualitative and descriptive approach, developed from searching the Virtual Health Library (VHL) with the use of descriptors, inclusion and exclusion criteria, 11 articles were selected in accordance with the proposed theme. In order to achieve better results in continuing education, team participation in the teaching-learning process is essential. For this, the nurse needs to overcome the challenges and elaborate a planning based on the educational strategies, having the knowledge of the professionals’ needs according to the reality of the service. Educational processes are pillars for the improvement of professional practice, and the growth of research publications and reports of experiences would contribute to the improvement of strategies.

Keywords: Permanent Education. Nurse. Intensive Care Unit.

1 INTRODUÇÃO

A educação permanente é uma das funções desenvolvidas pelo enfermeiro sendo fundamentada no ensino e aprendizagem de maneira dinâmica, ativa e contínua para contribuir na atualização e capacitação do pessoal no ambiente de trabalho, com base na análise das carências e dificuldades da equipe de enfermagem, frente os desafios encontrados no cotidiano, novas informações e protocolos, evolução tecnológica, objetivos e metas institucionais.

A escolha da temática é devido a necessidade de atualização constante que a área da saúde requer, principalmente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pela carência de assistência qualificada especializada, aos diversos aparelhos tecnológicos existentes no setor e as mudanças constantes nos protocolos de cuidados ao paciente crítico. Portanto, torna-se importante analisar os desafios da atuação do enfermeiro na educação permanente em UTI, para se buscar alternativas e soluções para os problemas com a finalidade de avaliar e corrigir os erros.

Os pacientes críticos precisam de cuidados de maior complexidade e alta tecnologia, exigindo profissionais em constante aperfeiçoamento nos conhecimentos teóricos e práticos, tanto dos assuntos corriqueiros quanto das novas atualizações na área. Exigindo assim atualizações também nas estratégias educativas, como na utilização da metodologia ativa e simulação realística com foco no desenvolvimento de competências e habilidades de atenção à saúde. Logo, deve-se destacar as estratégias de ensino para melhoria da qualidade assistencial.

Desse modo, relatar a importância do papel do enfermeiro intensivista na educação permanente, mostrando como é essencial para o levantamento de estratégias de ensino para melhorar no trabalho em equipe, comunicação interpessoal, tomada de decisão, liderança, gerenciamento, qualidade e confiança do atendimento prestado, como também permitir a execução das práticas assistenciais com mais autonomia e segurança. Portanto, permitir a melhoria e a reflexão frente à relevância da educação permanente voltada para a UTI.

Trata-se de uma revisão integrativa de abordagem qualitativa, descritiva, desenvolvida a partir de pesquisa nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) com os descritores: “educação permanente”, “educação continuada”, “enfermagem” e “unidade de terapia intensiva”; junto aos operadores booleanos AND e OR. Assim, alcançando 102 artigos, com filtragem para textos completos disponíveis nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados no período de 2015 a 2020, obteve-se 65 artigos, sendo selecionados 11 em conformidade com a temática proposta, excluindo artigos em duplicidade.

2 EDUCAÇÃO PERMANENTE NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Com a educação permanente é possível associar o ensino à saúde com o local de trabalho como cenário e os profissionais como integrantes ativos das ações estratégicas para melhorias no ambiente de trabalho e serviços prestados. Por meio do feedback pode-se avaliar a adesão às medidas educativas, possibilitando a reflexão diária da assistência prestada, para mudanças nas ações educativas que possibilitem melhores resultados e promova motivação dos envolvidos (BRANCO et al., 2020; MACEDO; PADILHA; PÜSCHEL, 2019).

A educação permanente surge como estratégia para organização do processo de trabalho, sendo indispensável na UTI visto a grande necessidade de conhecimentos e constante atualizações por ser um ambiente complexo e exigente devido à alta complexidade dos atendimentos. Carece ser baseada em evidências científicas, o que necessita de profissionais de ensino superior, como o enfermeiro, para comandar esta atividade, que pode contribuir para o aumento de adesão às medidas preventivas na assistência e no ambiente de trabalho, levando a uma diminuição da incidência e prevalência das complicações decorrentes da prática profissional (BRANCO et al., 2020; MELO, et al., 2019).

2.1 Enfermeiro como Protagonista da Educação Permanente 

Durante a graduação do enfermeiro, o mesmo é instruído das suas competências e habilidades necessárias na prática profissional como a de educação permanente, com o foco em uma atenção à saúde de qualidade junto a sua equipe, exercendo a liderança, tomada de decisão, administração e gerenciamento do setor, além do trabalho em equipe não só com a enfermagem, mas com toda a equipe multiprofissional, com boa comunicação interpessoal. Dessa forma, o enfermeiro exerce influência direta no processo de modificação ou aprimoramento em seu setor (PAIM; ILHA; BACKES, 2015).

A formação do enfermeiro intensivista, não se limita somente ao nível lato sensu e stricto sensu, vai além da formação acadêmica, visto que boa parte do conhecimento dos profissionais da saúde é formado na prática do cuidado, gerenciamento e construção do conhecimento junto a equipe multiprofissional. Então, nada melhor do que a aplicação da educação permanente para o compartilhamento de informações, realização de debates com base nas necessidades da equipe e experiências vivenciadas (OLIVEIRA et al., 2019; SILVEIRA; CONTIM, 2015). 

O enfermeiro é o profissional responsável pelo setor e pela equipe técnica e auxiliar de enfermagem, tendo o dever de orientar, supervisionar e fornecer conhecimento teórico e prático na correção de déficits identificados ou aprimoramento para uma assistência qualificada, integral, resolutiva e humanizada, que contribua com os indicadores de qualidade. Como também, o enfermeiro deve trocar conhecimentos com toda a enfermagem e demais profissionais do setor, tendo a capacidade de organizar e selecionar os pontos relevantes de discussão e as estratégias educativas essenciais (PAIM; ILHA; BACKES, 2015).

3 DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PERMANENTE

As estratégias de educação possibilitam segurança, conhecimento e habilidades no atendimento, porém para isso precisa-se de uma educação eficiente com base nas necessidades dos profissionais envolvidos, para que o mesmo se sinta preparado e seguro em sua prática profissional. É um desafio para os enfermeiros elaborarem uma metodologia de ensino eficaz para levar um conhecimento completo, teórico e prático, sanando as dúvidas, contribuindo para a melhoria da insegurança dos colaboradores (SILVA; RODRIGUES; NUNES, 2016).

Condições de trabalho, baixa remuneração, carga horária excessiva, rotina intensa do trabalho e vários outros fatores são problemas corriqueiros encontrados por diversos profissionais da enfermagem, que podem ser grandes causadores de desinteresse na educação permanente e consequentemente agravos à saúde (SOUZA; CORTEZ; CERMO, 2017).  Em situações como esta, torna-se um desafio a aceitação das ações educativas pela equipe, porém carece conscientizar e estimular os profissionais para manter a qualidade da assistência, levando-se em consideração os preceitos éticos da enfermagem. (PAIM; ILHA; BACKES, 2015).

As capacitações precisam ser feitas de forma contínua, o que demanda elaboração de um plano com as temáticas a serem abordadas em cada encontro e a periodicidade de repetição e atualização do assunto (SILVA; RODRIGUES; NUNES, 2016). Porém, as atividades intensas que a enfermagem executa na UTI pode conferir pouco tempo para as ações educativas, o que não significa que devam ser deixadas de lado, pelo contrário, precisam ser executadas para contribuir com a melhoria do serviço como um todo. Dessa forma, necessitará de adequado planejamento e implementação para se adequar a rotina da equipe (SILVEIRA; CONTIM, 2015).

4 ESTRATÉGIAS DE ENSINO PARA A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Para conseguir melhores resultados na educação permanente é essencial a participação da equipe no processo de ensino-aprendizagem, de forma crítica e reflexiva, com o auxílio de metodologia ativa e técnicas de ensino que despertem o interesse. Desse modo, permitindo o aperfeiçoamento e treinamento contínuo das equipes para o bom desempenho de suas funções e evolução na interação multiprofissional (OLIVEIRA et al., 2020; SOUZA et al., 2019).

4.1 Temáticas Essenciais na Educação Permanente

Deve-se selecionar os assuntos pertinentes que fazem parte do cotidiano da equipe dentro da realidade do serviço que trazem insegurança, possibilidade de erros, assim como atualizações, novas técnicas e tecnologias disponíveis. Porém, sem deixar escapar outras temáticas essenciais como as influências psicológicas que o serviço proporciona, as quais devem ser abordadas para possibilitar uma ajuda mútua, que favorecerá melhorias no relacionamento interpessoal, união, trabalho em equipe, saúde mental e motivação dos profissionais, como também melhor enfrentamento em situações de prognóstico difícil e com a perda de pacientes (PAIM; ILHA; BACKES, 2015; SILVEIRA; CONTIM, 2015).

A humanização precisa ser ressaltada nos conteúdos das capacitações, para assegurar cada vez mais uma postura e conduta que garantam dignidade para os pacientes críticos e até comatosos na rotina demasiada da UTI. Pois, a humanização é fator decisivo para melhores oportunidades de recuperação do paciente, para uma melhor integração com a equipe de trabalho e com a própria família do paciente, o que contribui para uma comunicação de qualidade entre todos os envolvidos no processo saúde-doença (SILVEIRA; CONTIM, 2015).

Além da segurança do paciente ser um dos assuntos mais relevantes dentro da assistência de enfermagem, os riscos ocupacionais devem ser levados em consideração quando se fala em educação permanente, pois esta temática necessita estar inserida para melhor conhecimento e preparo da equipe multiprofissional mediante as medidas de precaução para agentes biológicos, físicos, ergonômicos, mecânicos e químicos. Pois o bem-estar, saúde e segurança dos profissionais são essenciais para uma assistência qualificada (SOUZA et al., 2019; SOUZA; CORTEZ; CERMO, 2017).

4.2 Estratégias para a Educação Permanente

Não seguir diretrizes, protocolos, treinamentos e atualizações ocasiona um atendimento inadequado, não sistematizado e desorganizado (SILVA; RODRIGUES; NUNES, 2016). Portanto, torna-se indispensável a criação de espaços de participação coletiva para problematização, reflexões e diálogos entre os profissionais de saúde, permitindo o desenvolvimento de pensamento crítico e dialógico, autonomia e profissionais capacitados e dispostos a estarem em constante aprendizado (MELO et al., 2019; PAIM; ILHA; BACKES, 2015).

Inicialmente é fundamental ter o conhecimento das necessidades do ambiente, profissionais e público atendido, de acordo com a realidade do serviço, atividades exercidas pela equipe, dificuldades vivenciadas e os riscos ocupacionais existentes. Deve-se realizar uma revisão das estratégias de educação permanente em utilização, verificando os déficits existentes, levar em consideração estratégia de intervenção para redução de riscos, analisar as metodologias possíveis de serem aplicadas, definir metas, realizar o plano de ações e executar (SOUZA; CORTEZ; CERMO, 2017).

Existem diversos recursos disponíveis que podem auxiliar o enfermeiro e os demais profissionais da saúde como metodologia de aprendizagem e as possibilidades só aumentam com o avanço da tecnologia. Oliveira et al. (2020), trouxe exemplos desses recursos, como as aulas expositivas, dinâmicas em grupo, material ilustrativo como banner, folders e cartazes, recursos audiovisuais, demonstração passo a passo de técnicas, realização de campanhas de conscientização e grupos de discussão. Sem esquecer da simulação realística que é umas das melhores maneiras para minimização da insegurança no atendimento, pois mescla teoria com prática (SILVA; RODRIGUES; NUNES, 2016).

A implementação de um Ambiente Virtual de Aprendizagem com acesso facilitado pela instituição, pode ser uma das estratégias que contribua para o aprofundamento dos conteúdos e promoção da educação continuada por meio de vídeos, textos interativos, protocolos e artigos científicos, estimulando a discussão de temas específicos e o debate em fórum. Já que a construção do conhecimento pode ser incrementada pela união de estratégias de ensino, sem substituir a educação permanente no ambiente de trabalho (FRUTUOSO et al., 2019).

Lembrando que o processo de educação permanente para permanecer com resultados positivos precisa passar constantemente por reavaliação, avaliando a aprendizagem, satisfação e interação dos envolvidos, até mesmo com a aplicação de métodos de análise como o uso de questionários para um adequado feedback, como também verificando mudanças nos indicadores de saúde e as metas alcançadas (OLIVEIRA et al., 2020). Assim, espera-se que o aprender e o ensinar se incorporem cada vez mais ao cotidiano das equipes multiprofissionais (PAIM; ILHA; BACKES, 2015).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os processos educativos permanentes, sejam continuados ou de reciclagem do conhecimento, são pilares para o aperfeiçoamento e transformação da prática profissional, fundamentada na resolução de problemas e na reflexão crítica, através do uso de estratégias educativas, permitindo a participação dos envolvidos na construção do seu processo de ensino-aprendizagem, que contribui para a melhoria nas relações interpessoais, proporcionando interação multiprofissional e a qualificação da assistência. Diante do potencial resolutivo com a educação permanente, o crescimento de publicações de pesquisas e relatos de experiências contribuiriam para o aperfeiçoamento das estratégias.

REFERÊNCIAS

BRANCO, A. et al. Educação para Prevenção da Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica em Unidade de Terapia Intensiva. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, n. 6, p. 1-7, 2020.

FRUTUOSO, I. S. et al. Criação de um Ambiente Virtual de Aprendizagem em Terapia Intensiva. Revista de Enfermagem UFPE Online, v. 13, n. 5, p. 1278-1287, 2019.

MACEDO, A. P. M. C.; PADILHA, K. G.; PÜSCHEL, V. A. A. Práticas Profissionais de Educação/Formação dos Enfermeiros em uma Unidade de Cuidados Intensivos. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 72, n. 2, p. 338-45, 2019.

MELO, M. M. et al. Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica: Conhecimento dos Profissionais de Saúde Acerca da Prevenção e Medidas Educativas. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 11, n. 1, p. 377-382, 2019.

OLIVEIRA, J. A. et al. Educação Permanente em Enfermagem no Centro de Tratamento Intensivo. Revista de Enfermagem UFPE Online, v. 14, n. 1, p. 1-14, 2020.

OLIVEIRA, P. V. N. D. et al. Formação do Enfermeiro para os Cuidados de Pacientes Críticos na Unidade de Terapia Intensiva. Revista Nursing, v. 25, n. 250, p. 2751-2755, 2019.

PAIM, C.C.; ILHA, S.; BACKES, D. S. Educação Permanente em Saúde em Unidade de Terapia Intensiva: Percepção de Enfermeiros. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 7, n. 1, p. 2001-2010, 2015.

SILVA, R. C. S.; RODRIGUES, J.; NUNES, N. A. H. Parada Cardiorrespiratória e Educação Continuada em Unidade de Terapia Intensiva. Revista de Ciências Médicas, v. 25, n.3, p. 129-134, 2016.

SILVEIRA, R. E.; CONTIM, D. Educação em Saúde e Prática Humanizada da Enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva: Estudo Bibliométrico. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 7, n. 1, p. 2113-2122, 2015.

SOUZA, C. S. et al. Estratégias para o Fortalecimento da Cultura de Segurança em Unidades de Terapia Intensiva. Revista de Enfermagem UERJ, v. 27, n. 1, p. 1-7, 2019.

SOUZA, V.; CORTEZ, E. A.; CERMO, T. G. Medidas Educativas para Minimizar os Riscos Ocupacionais na Equipe de Enfermagem da UTI. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v. 9, n. 2, p. 583-591, 2017.


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