NURSES’ WORK WITH VICTIMS OF INTIMATE PARTNER VIOLENCE AGAINST WOMEN: CONTRIBUTIONS TO HEALTH PRACTICE
EL TRABAJO DE LAS ENFERMERAS CON LAS VÍCTIMAS DE LA VIOLENCIA DE PAREJA CONTRA LAS MUJERES: APORTACIONES A LA PRÁCTICA SANITARIA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202503061745
Tatiane Raquel Santana da Cruz1; Alexandre Zacarias Oliveira dos Santos2; Geovana Simões Carneiro da Cruz3; Amanda da Silva Lobo4; Claudia Regina dos Santos Brandão5; Guilherme Pereira Dames6; Deisilaine Aparecida Fernandes Neves Gonçalves7; Ester Dias Mesquita Ribeiro8; Luanda da Silva Costa9; Liliane Nunes de Oliveira10; Vanessa Rodrigues de Souza11; Rose Ramos Soares12; Michele Neves Rosa13
Resumo
Este estudo discute as ações e estratégias para o cuidado do enfermeiro às mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo na atenção primária à saúde. Compreender através da literatura científica disponível como a assistência de enfermagem pode contribuir para a construção da independência e autocuidado das mulheres que sofrem violência do parceiro íntimo. Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Conclui- se que é possível inferir ser imprescindível criar mais espaços educativos para refletir sobre os comportamentos masculinos dominantes em relação às mulheres que elas devem se empoderar para se tornarem sujeitos de suas próprias vidas. Essas ações são consideradas estratégias de prevenção e enfrentamento da violência contra a mulher. No entanto, é relevante salientar que esse problema requer uma integração dos serviços de saúde de forma intersetorial, bem como a capacitação dos profissionais de saúde para assegurar que a mulher seja atendida de forma humanizada e completa.
Palavras-chave: Atenção primária; Saúde da mulher; Violência contra a mulher; Enfermagem; Parceiro íntimo
Abstract
This study discusses the actions and strategies for nursing care for women victims of intimate partner violence in primary health care. It aims to understand, through the available scientific literature, how nursing care can contribute to building the independence and self-care of women who suffer intimate partner violence. This study is an integrative literature review. It concludes that it is essential to create more educational spaces to reflect on dominant male behaviors towards women, so that they can empower themselves to become subjects of their own lives. These actions are considered strategies for preventing and confronting violence against women. However, it is important to point out that this problem requires the integration of health services in an intersectoral way, as well as the training of health professionals to ensure that women are attended to in a humanized and complete way.
Keywords: Primary care; Women’s health; Violence against women; Nursing; Intimate partner
Resumen
Este estudio discute las acciones y estrategias de los cuidados de enfermería para las mujeres víctimas de violencia de pareja en la atención primaria de salud. Pretende comprender, a través de la literatura científica disponible, cómo los cuidados de enfermería pueden contribuir a la construcción de la independencia y el autocuidado de las mujeres que sufren violencia de pareja. Este estudio es una revisión bibliográfica integradora. Concluye que es fundamental crear más espacios educativos para reflexionar sobre los comportamientos masculinos dominantes hacia las mujeres, para que ellas puedan empoderarse y convertirse en sujetos de sus propias vidas. Estas acciones son consideradas estrategias para prevenir y enfrentar la violencia contra las mujeres. Sin embargo, es importante señalar que esta problemática requiere de la integración de los servicios de salud de manera intersectorial, así como de la capacitación de los profesionales de la salud para que la atención a las mujeres sea humanizada e integral.
Palabras clave: Atención primaria; Salud de la mujer; Violencia contra la mujer; Enfermería; Pareja íntima
1 Introdução
De acordo com as Nações Unidas a violência contra a mulher é definida como qualquer ação de violência de gênero que derive ou possa derivar em danos ou sofrimentos físicos, sexuais ou mentais, incluindo ameaças como coerção ou privação de liberdade em vida pública ou privada (OPAS, 2022).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como o uso de força física ou intimidação contra si próprio, outra pessoa ou contra uma comunidade que proceda ou que venha a proceder em lesão, morte, prejuízo psíquico, desenvolvimento motor dificultado ou privação da liberdade (OMS, 2015).
A violência contra a mulher está relacionada a desigualdade conjugal e social entre homens e mulheres e sobre o fato das mulheres não se encaixarem integralmente ao padrão considerado ideal pelos homens a elas atribuídos, sendo punidas com o desígnio de corrigi-las (BANDEIRA, 2009).
A violência contra a mulher (VCM) se faz presente na história há muitos anos e desencadeia vários impactos no cotidiano da mulher que perpassa as lesões físicas, acarretando depressão, déficit de autocuidado, uso abusivo de álcool e outras drogas, absenteísmo no trabalho, diminuição da produtividade e desenvolvimento de doenças crônicas. Dados epidemiológicos corroboram essa análise ratificando que 30% das mulheres no mundo já foram vítimas de violência causada por parceiro íntimo (OMS, 2014).
Somente no primeiro semestre do ano de 2023 já foram realizadas 8.083 denúncias de violência contra a mulher no estado do Rio de Janeiro e a nível nacional 46.981 denúncias (MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS E DA CIDADANIA, 2023).
Devido a necessidade da educação continuada e permanente para os profissionais atuantes na Atenção Primária no cuidado com as mulheres adscritas em seu território, constata-se que esse estudo possui importante relevância e irá nortear os profissionais enfermeiros na qualificação de um atendimento mais humanizado e acolhedor.
Diante da temática pesquisada, destaca-se a seguinte questão: Quais ações e estratégias o enfermeiro pode utilizar na APS para o cuidado às mulheres em risco ou vítimas de violência por parceiro íntimo?
Como objetivo do estudo está descrito: discutir ações e estratégias para o cuidado do enfermeiro às mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo atendidas na atenção primária à saúde.
2. Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa com abordagem qualitativa. As bases de dados utilizadas foram: LILACS, BDENF, SciELO e MEDLINE, com corte temporal de 10 anos. A estratégia de busca foi a mesma utilizada em todas as bases de dados (LILACS, BDENF, SciELO e MEDLINE).
Os descritores utilizados foram: Atenção primária AND Saúde da mulher AND Violência Contra a Mulher AND Enfermagem AND Atenção Primária AND Violência Contra a Mulher AND Parceiro Íntimo, empregando-se o português e o inglês como idiomas e o operador de pesquisa AND, conforme apresentado no quadro 1.
Os critérios de exclusão utilizados para esta revisão foram os textos fora da temática proposta e com mais de 10 anos. Os critérios de inclusão foram textos completos e em português e inglês. A partir da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram encontrados 21 artigos na Biblioteca Virtual de Saúde, sendo eles:
QUADRO 1
Estratégia Descritores #1 Atenção Primária AND Saúde da Mulher #2 Violência Contra a Mulher AND Enfermagem AND Atenção Primária #3 Violência Contra a Mulher AND Parceiro Íntimo REVISTA N° DE ARTIGOS LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) 16 SciELO (Scientific Eletronic Library Online) 2 MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online) 1 BDENF (Banco de Dados em Enfermagem – Bibliografia Brasileira) 2
3. Resultados
Para compor os resultados desta pesquisa, foi elaborado o quadro 2 apresenta em tabela as publicações segundo título, ano, autor, objetivo, resultado e recomendações.
Para tanto, foram abordadas as seguintes etapas para a construção desta revisão integrativa de literatura: 1) elaboração da pergunta de pesquisa; 2) estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão e seleção dos estudos; 3) categorização dos estudos; 4) análise crítica dos estudos selecionados; 5) interpretação dos resultados; 6) síntese do conhecimento, apresentação da revisão.
Quadro 2: Número de publicações segundo a Biblioteca Virtual de Saúde a partir da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Rio de Janeiro, 2025.
Título/Autor/Ano Objetivo Resultado Recomendações Dispositivos de poder empregados por homens na violência doméstica contra a mulher: perspectivas de enfermeiros
AMARIJO et al., 2022Conhecer os dispositivos de poder empregados pelos homens na ocorrência da violência doméstica contra a mulher, na perspectiva de enfermeiros na Atenção Básica. Emergiram as categorias “dispositivos não materiais” constituída pela cultura e criação dos filhos, a naturalização da violência, a distinção dos papéis sociais e o medo; e “dispositivos materiais” composta pelo uso de substâncias lícitas/ilícitas e dependência financeira. Sob a ótica dos enfermeiros, os homens utilizam dispositivos de poder materiais e não materiais dentro dos relacionamentos. Ações de enfrentamento da violência não podem manter seu foco exclusivamente nas mulheres devido ao risco de permanecer irresoluta. Os homens precisam ser incluídos nas intervenções, pois a violência doméstica constitui uma das formas de exercício desigual de poder. Violência Conjugal: Significando as expressões e repercussões a partir da Grounded Theory/Jordana Brock
CARNEIRO, (2016)Compreender os significados da vivência de violência conjugal por mulheres em processo jurídico. Espera-se que esse processo de reeducação de gênero possibilite a ressignificação do que é ser homem e ser mulher a partir de atributos mais simétricos entre os gêneros e valores como respeito à dignidade humana. O estudo revelou o cotidiano de violência conjugal ao qual as mulheres em processo judicial estiveram expostas durante o relacionamento íntimo, expresso nas formas: patrimonial, psicológica, moral, sexual e física. Tais achados podem nortear estratégias para qualificação profissional no sentido de sensibilizar profissionais, em especial àqueles que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS), para o reconhecimento do agravo, independentemente de suas formas de expressão. Assistência multiprofissional à mulher vítima de violência: atuação de profissionais e dificuldades encontradas
CARVALHO et al., 2013Objetivou-se identificar o papel de profissionais atuantes em serviço de referência à mulher vítima de violência e descrever as dificuldades encontradas. O centro de referência, lócus do estudo, constitui um local que oferece suporte para que as mulheres vítimas de violência possam ter amparo, tanto emocional como jurídico. Para atendimento qualificado e holístico, as vítimas seguem determinado fluxo de atendimento, passando pelos vários profissionais da equipe multidisciplinar. Sugere-se aos profissionais deste serviço e a outros com as mesmas características que observem atentamente e compreendam a importância da assistência multiprofissional no atendimento à mulher vítima de violência. Diante da complexidade da temática, urge maior interação da rede de atendimento com os serviços especializados, proporcionando à mulher atendimento humanizado e qualificado. Violência contra a mulher e sua associação com o perfil do parceiro íntimo: estudo com usuárias da atenção primária.
LEITE et al., 2019Verificar associação entre a história de violência contra a mulher e características sociodemográficas e comportamentais do parceiro íntimo. As maiores prevalências de violência psicológica, física e sexual estiveram significativamente associadas aos parceiros que não possuíam ocupação e que recusaram o uso do preservativo nas relações sexuais. Os resultados da associação entre a violência contra a mulher e as características sociodemográficas e comportamentais do parceiro íntimo mostram que certas características do parceiro íntimo, tais como as comportamentais, estão associadas a uma maior prevalência de situações de violências, sejam elas do tipo psicológica, física ou sexual. Esses dados evidenciam a importância de os profissionais de saúde da atenção primária atuarem juntamente a outros setores como educação e segurança. Permanência de mulheres em relacionamentos violentos: Desvelando o cotidiano conjugal.
GOMES et al., 2022Desvelar a permanência de mulheres em um cotidiano conjugal violento. A história oral das mulheres aponta para a não percepção da situação de abuso no início da relação, revela a crença na possibilidade de controlar os episódios de violência e o comprometimento da saúde psicoemocional. Soma-se a isso a expectativa pela mudança de postura do parceiro no cotidiano conjugal. As narrativas mostram que a não percepção da situação de abuso, acreditar ser possível controlar os episódios de violência, o comprometimento da saúde psicoemocional e confiança na promessa de mudança do cônjuge se constituem em eventos que nos permitem desvelar a permanência de mulheres no cotidiano conjugal de violência. A pesquisa contribui para oferecer subsídios para que as pessoas possam se aproximar da relação abusiva que aliena as mulheres e que é de difícil ruptura.
4. Discussão
Durante a pesquisa, foram encontradas três categorias pertinentes ao assunto abordado no estudo bibliográfico: Dispositivos de poder empregados por homens na violência contra a mulher e o perfil do parceiro íntimo, motivos que levam mulheres a permanecerem em relacionamentos abusivos e a atuação do enfermeiro na assistência a essas mulheres.
Categoria 1: Dispositivos de poder empregados por homens na violência contra a mulher e o perfil do parceiro íntimo
AMARIJO et al., (2022) descreve a violência doméstica contra a mulher, também conhecida como violência de gênero, sendo um comportamento social que apresenta relações de poder e está arraigada na diferença entre os papéis sociais de homens e mulheres. Neste sentido, o homem domina e controla está mulher. É uma demonstração de diferenças de poder entre ambos, fruto da educação machista que a sociedade patriarcal manteve ao longo dos séculos.
Além disso, o autor cita a falta de equilíbrio entre o exercício de poder nas relações conjugais, atribuída aos homens o papel de dominadores às mulheres, muitas vezes resultando em violência contra elas. Essa distinção social é responsável pela submissão das mulheres ao homem e pela imposição do domínio masculino.
Segundo LEITE et al., (2019) o parceiro íntimo é um dos principais responsáveis. No presente cenário, a mulher convive com relacionamentos marcados por comportamentos agressivos por parte do parceiro, que podem resultar em danos físicos, sexuais ou psicológicos, podendo ainda vir acompanhados de outros comportamentos.
CARNEIRO (2016) afirma que o homem é o provedor do lar ou o chefe da família, apresentando características como virilidade, coragem e competência. Não é permitido que este homem apresente fraquezas, dúvidas ou emoções, características que, sob a perspectiva de gênero, são próprias da identidade feminina.
Por outro lado, AMARIJO et al., (2022) menciona que na visão dos homens, a desrespeito às normas sociais que os impõem, é percebida como um afrouxamento dos padrões sociais estabelecidos. Ao analisar a violência doméstica contra a mulher sob a perspectiva das relações de poder, percebe-se que as formas de subordinação às quais elas são submetidas são instrumentos de exercício de poder focados na violência e na contínua condução de condutas.
Dessa forma, o ambiente familiar se torna um espaço privilegiado para a dominação baseada em gênero. A autoridade é atribuída ao homem, devendo os outros membros da família se submeterem às suas decisões.
Sendo assim, o poder do homem é legitimado socialmente tanto no papel de esposo quanto de pai. Assim, a formação da identidade masculina está atrelada às relações de poder; enquanto isso, mulheres e crianças têm um papel inferior na família (CARNEIRO, 2016).
No tocante de violência doméstica, destaca-se, ainda, na visão de AMARIJO et al., (2022) em relação aos recursos “materiais”, as formas de violência física, sexual e patrimonial.
Os escritores mencionam que as duas primeiras consequências diretas à integridade física da mulher, enquanto a patrimonial visa a destruição de seus bens materiais, o que pode ser uma forma de demonstração de poder.
Além disso, ressaltam que alguns exemplos são sistemas de vigilância, ameaças de armas, controle do outro e imposição de palavras, como exemplos de violência psicológica e moral, onde considera-se a violência psicológica um prejuízo à saúde mental das mulheres, sendo consideradas como dispositivos de poder.
Segundo o estudo desenvolvido por CARNEIRO (2016), pode-se notar que a violência contra a mulher ocorre de maneira progressiva, a partir do tempo de convivência ao lado do parceiro íntimo.
O autor acredita que no início do relacionamento, o uso de expressões ocultas da violência como os ciúmes, controle e distanciamento social da mulher, não evidenciam a realidade problemática e violenta da situação, sendo facilmente distorcidas para uma versão de romance e que posteriormente acarretarão para expressões mais notórias culminando em atos mais graves.
Categoria 2: Motivos que levam as mulheres a permanecerem em relacionamentos abusivos
Atitudes de subtração de bens materiais, destruição de objetos pessoais e privação de recursos financeiros também são estratégias utilizadas pelos agressores com objetivo de obter controle sobre a mulher, dificultando a saída da relação conjugal (CARNEIRO, 2016).
Para o autor, o não reconhecimento, a crença na mudança de comportamento do agressor juntamente com a distorção da realidade violenta dificultam que a vítima perceba que está em uma situação de violência.
Desvela-se a partir disso um ciclo de abusos em que com o passar do tempo na relação à mulher acredita ser possível moderar os episódios de violência sofrida, justificando o padrão de comportamento do agressor, principalmente em mulheres que apresentam baixa autoestima e sintomas de comportamento depressivo (GOMES et al., 2022).
Além disso, o autor acima afirma que muitas mulheres acreditam ser possível controlar o acontecimento da violência com o objetivo de manter o casamento e a família e confia na mudança de comportamento do parceiro frente a juras narradas pelo mesmo, além de que muitas dessas vítimas não possuem suporte familiar, gerando assim uma fragilidade ao veredito de romper o relacionamento.
Por outro lado, Carneiro (2016) relata que muitas mulheres não se veem em situação de violência, ao atribuírem a essa experiência a algo natural, por serem mulheres.
Além do sentimento de aceitação e impotência, algumas mulheres acreditam, inclusive, que merecem os castigos aplicados a elas. Uma pesquisa realizada com mulheres que passaram por relacionamentos íntimos violentos revelou que elas reconheceram que seus cônjuges têm a permissão de praticar atos violentos contra elas, caso achem necessário (GOMES et al., 2022).
Categoria 3: Atuação do enfermeiro na assistência às mulheres vítimas de violência doméstica
AMARIJO e outros (2021) Acreditam que as mulheres que sofrem violência doméstica devem procurar auxílio nos serviços de saúde.
Além disso, muitas mulheres não contam a violência que sofreram, o que impede que o profissional de saúde verifique as lesões causadas pela violência em casa.
Para os escritores, ao procurar o serviço de enfermagem, é importante que o enfermeiro acolha a mulher sem prejudicá-la, a fim de torná-lo um momento de aproximação e escuta de modo que as mulheres demonstrem sua situação de violência conjugal.
Durante o processo de acolhimento, as mulheres devem receber diversas instruções que podem auxiliar no enfrentamento da violência (AMARIJO et al., 2021).
Além disso, os escritores afirmam que muitas mulheres podem descrever suas experiências de violência conjugal aos profissionais de saúde através dos mecanismos utilizados pelos companheiros para efetivar essa prática.
Dessa forma, ao identificar o dispositivo usado pelo homem, o enfermeiro tem a capacidade de intervir para auxiliar a mulher na transformação da realidade vivida a partir do exercício do poder.
Com isso em mente, tem como objetivo investigar os recursos de poder empregados por homens na ocorrência de violência doméstica contra a mulher, conforme a perspectiva de enfermeiros nas unidades de saúde.
Por outro lado, LEITE e colaboradores (2010) apontam que a violência contra a mulher e as características comportamentais do parceiro íntimo mostram uma combinação que leva a maior prevalência de situações de violência, compreendendo portanto a atenção primária à saúde juntamente com os demais serviços como educação e segurança, a necessidade de desenvolverem em conjunto ações e estratégias no enfrentamento de álcool e outras drogas, capacitação dos profissionais no acolhimento às vítimas, abordagem de temas sobre gênero e o empoderamento das mulheres.
De acordo com CARVALHO et al., (2013) a violência contra a mulher é um tema recorrente em movimentos sociais, que está relacionado à área da justiça e segurança pública. Contudo, este problema não se limita ao campo da saúde, mas abrange diversos setores sociais articulados. Essa conexão está presente na visão ampliada do processo de saúde-doença como uma perspectiva social, que se refere a qualquer risco e ameaça à vida, condições de trabalho e interações interpessoais. Muitas vezes, a atenção dada às mulheres que sofrem violência, seja ela física, sexual ou psicológica, é marcada por preconceitos e a reincidência das desigualdades.
Os profissionais de saúde que lidam com o problema da violência devem se posicionar como facilitadores do tratamento, formulando táticas que considerem e respeitem o contexto social e as particularidades das mulheres. Para que isso ocorra, é preciso aproximá-las das circunstâncias enfrentadas pelas vítimas da violência e tornar públicos os conflitos relatados durante as queixas, sob uma perspectiva multidisciplinar. A atuação multidisciplinar é aquela composta por diversos profissionais de diferentes áreas de atuação, atuando em grupo, sendo necessária a inter-relação entre a equipe, que deve reconhecer o paciente integralmente, em atitude humanizada. Uma das táticas empregadas para fornecer assistência às mulheres em situação de violência é a criação de centros de referência, estruturas de prevenção e enfrentamento à violência contra mulheres. Os objetivos são romper com a violência e construir a cidadania, via ações globais e de atendimento multiprofissional (CARVALHO et al., 2013).
5. Considerações Finais
O estudo apresentado revelou a necessidade dos profissionais de saúde em reconhecer e interagir com as famílias, ajudando no rompimento e no enfrentamento da violência. Diversos estudos demonstram que os profissionais de saúde têm dificuldades em lidar com o tema quando suspeitam de violência. Os motivos podem ser diversos, incluindo o desinteresse, a falta de habilidade para lidar com o tema e o medo de represália por parte do agressor.
Esse estudo pode orientar estratégias para qualificar profissionais, especialmente aqueles que atuam na atenção primária à saúde para reconhecer o agravo, sem importar as suas formas de expressão.
Dessa forma, é possível favorecer a identificação de mulheres em situação de violência conjugal, condição indispensável para o empoderamento para uma vida livre de violência.
Espera-se que esse processo de reeducação de gênero possibilite a ressignificação que é ser homem e ser mulher a partir de atributos mais simétricos entre os gêneros e valores como respeito à dignidade humana.
Dada a naturalização que permeia os comportamentos masculinos e femininos, esses espaços são cruciais para que os homens reconheçam o caráter criminoso de suas ações; enquanto as mulheres se empoderam para assumirem a responsabilidade de suas vidas.
A enfermagem, que faz parte da equipe de referência na Estratégia Saúde da Família e, às vezes, dos espaços de coordenação nos serviços de saúde, está em posição favorável tanto para identificar o problema quanto para promover atividades educativas com a comunidade, sem discriminação de gênero, idade, raça ou classe social.
Essas ações são consideradas estratégias de prevenção e enfrentamento da violência contra a mulher. No entanto, é importante que esse enfrentamento proporcione uma integração dos serviços de maneira intersetorial, bem como a capacitação dos profissionais para garantir que a mulher seja atendida de maneira completa.
Dessa forma, o profissional de saúde deve ter consciência que o cuidado com mulheres em situação de violência vai muito além do rastreamento e do tratamento, requerendo escuta atenta e acolhimento adequado. Além disso, deve destacar a relevância de grupos de educação e abordagem às mulheres em diversas áreas da saúde, visando fortalecer e empoderar as mulheres a superarem relacionamentos violentos.
Esses dados demonstram a relevância de os profissionais de saúde da atenção primária atuarem em conjunto com outros setores, como a educação e a segurança.
É imprescindível a criação de iniciativas em conjunto para lidar com o consumo de álcool e outras substâncias ilícitas, bem como para lidar com questões de gênero, para fortalecer e fomentar o empoderamento das mulheres, a fim de que os homens compreendam, com respeito, a paridade de direitos e os diferentes papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade.
Referências
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BANDEIRA, Lourdes. Três décadas de resistência feminista contra o sexismo e a violência feminina no Brasil: 1976 a 2006. Scielo, Brasília, v. 24, p. 401-438, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/Zf8T3zdCxqNgpSsdzNCrB5m/?format=pdf. Acesso em: 07 dez. 2024.
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CARVALHO, C D. A., FREITAS, M, J., DE ABREU, K., MOREIRA, P., FABÍOLE, L., GOMES, S., CILÉIA, A., TEIXEIRA, H, P., FÁTIMA, A., & FERNANDES, C.2013. Assistência multiprofissional à mulher vítima de violência: atuação de profissionais e dificuldades encontradas. http://www.revenf.bvs.br/pdf/ce/v18n2/14.pdf. Acesso em: 27 dez. 2024.
GOMES NP, CARNEIRO JB, ALMEIDA LCG DE, COSTA DSG DA, CAMPOS LM, VIRGENS I DA R, et al. Permanência de mulheres em relacionamentos violentos: desvelando o cotidiano conjugal. Cogitare Enferm. [Internet]. 2022 [Acesso em: 27 dez. 2024.”]; 27. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5380/ ce. v27i0.78904.
LEITE, F. M. C., LUIS, M. A., AMORIM, M. H. C., MACIEL, E. L. N., & GIGANTE, D. P. (2019). Violência contra a mulher e sua associação com o perfil do parceiro íntimo: estudo com usuárias da atenção primária. Revista Brasileira de Epidemiologia [Brazilian Journal of Epidemiology], 22. https://doi.org/10.1590/1980-549720190056. Acesso em: 8 jan. 2024.
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OPAS, 2022. VIOLÊNCIA contra as Mulheres. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topics/violence-against-women. Acesso em: 8 jan. 2024.
1 Mestre em Saúde da Família
Universidade Estácio De Sá
Av. Presidente Vargas 642, Centro, Rio de Janeiro Cep: 271-001
tati.raquel@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-8923-4959
http://lattes.cnpq.br/4377276706920981
2 Especialista em Gestão
Faculdade Internacional Signorelli
Rua Cardoso Quintão, 454/103, Piedade, Rio de Janeiro/RJ, Cep: 21381460
zac.alexander2020@gmail.com
https://lattes.cnpq.br/8110995550926684
https://orcid.org/0000-0002-7299-3043
3 Especialista em Enfermagem Obstétrica
Faculdade Pitágoras de Feira de Santana, FPFS, Brasil
enfa.geovana@gmail.com
https://orcid.org/0009-0007-5700-4706
http://lattes.cnpq.br/3103258178983657
4 Residência Clínica e Cirúrgica
Universidade Federal do Rio de Janeiro
amandalobo19@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5614-0940
https://lattes.cnpq.br/3943589845507884
5 Especialista em Uti Geral e Gestão de Assistência Intensiva
FACULDADE VENDA NOVA IMIGRANTE
brandaoclaudia04@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/8334440092620173
https://orcid.org/0009-0001-5694-5084
6 Graduado em Enfermagem
Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
feuym@bol.com.br
https://orcid.org/0009-0008-7275-6161
http://lattes.cnpq.br/8534408069482740
7 Especialista em Uti geral e gestão de assistência ao paciente crítico
Faculdade Facuminas
deisilaine@gmail.com
https://orcid.org/0009-0007-5357-8112
https://lattes.cnpq.br/7562771380921707
8 Graduada em Enfermagem e obstetrícia
Universidade Gama Filho
rib07ester@gmail.com
https://lattes.cnpq.br/9408262423866569
https://orcid.org/0009-0009-1064-4217
9 Graduanda em Enfermagem Uniasselvi
fusex.luanda@hotmail.com
https://lattes.cnpq.br/5878358580941267
https://orcid.org/0009-0006-5003-8922
10 Especialista em Planejamento Estratégico e Gestão
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Av. Manoel Simão 260, Indaial, Sc, Cep: 89130000
lilianenunes180@gmail.com
https://orcid.org/0009-0007-3385-5215
http://lattes.cnpq.br/3226719049428665
11 Especialista em Ginecologia e Obstetrícia
Unisuam
caixadanessa@gmail.com
https://lattes.cnpq.br/5331055830822577
https://orcid.org/0009-0008-4937-5811
12 Especialista em enfermagem de Saúde coletiva e ESF
Faculdade Facuminas
Rua Duque de Caxias nº366 Centro Coronel Fabriciano MG, Cep 35170009
roseramos170@gmail.com
https://orcid.org/0009-0004-6029-0422
http://lattes.cnpq.br/7725423530064853
13 Especialista em gestão em saúde
Ensp/Fiocruz
Rua Leopoldo Bulhões, 1480 – Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ, 21041-210
michele.nevesrosa@gmail.com
https://orcid.org/0009-0009-4480-0185
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