REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7327185
Claudenice Gomes da Silva
Janete Cléa de Amorim Santos
Orientador: João Paulo Malta da Silva
RESUMO
Introdução: A violência contra a mulher é observado como um problema mundial que tem relação com o poder, privilégios e controle masculino, trazendo prejuízos as mulheres de toda idade, raça, religião, cor, nacionalida e condiçõa sócio-econômica. Objetivo: o objetivo geral é analisar a atuação do enfermeiro na saúde mental de mulheres vítimas de violência sexual; já os específicos são: entender sobre os tipos de violência sexual sofrido por mulheres e suas consequências; apontar as ações prioritárias da assistência à mulheres vítimas de violência sexual e por fim compreender o papel do enfermeiro no atendimento às mulheres vítimas de violência sexual. Método: Revisão integrativa, a qual inicialmente foi serapada em seis etapas a serem realizadas: identificação do problema, formulação da questão norteadora, seleção da amostra, categorização e análise dos dados, discussão dos resultados e síntese do conhecimento. Resultados: após a análise de 5 trabalhos científicos em relação a violência sexual e as consequencias mentais do ato, foi possível observar que a tal problemática é baseada no contexto histórico e papel da mulher na sociedade por anos, a qual era calada e o homem a tinha como um objeto. Conclusão: é necessário o desenvolvimento de políticas públicas eficazes na redução da casos de violência sexual, além disso é preciso mais domínio das mulheres em relação as ações dentro da área da saúde que elas podem realizar para evitar a contaminação com doenças sexualmente transmissíveis ou gravidez indesejada.
Palavras-chave: Violência doméstica; mulheres e a invisibilidade; violência sexual; saúde psicológica.
ABASTRATC
Introduction: Violence against women is seen as a worldwide problem that is related to male power, privileges and control, harming women of all ages, races, religions, colors, nationalities and socio-economic conditions. Objective: the general objective is to analyze the role of nurses in the mental health of women victims of sexual violence; the specific ones are: understanding the types of sexual violence suffered by women and their consequences; to point out the priority actions of assistance to women victims of sexual violence and, finally, to understand the role of nurses in caring for women victims of sexual violence. Method: Integrative review, which was initially divided into six steps to be carried out: problem identification, formulation of the guiding question, sample selection, data categorization and analysis, discussion of results and synthesis of knowledge. Results: after analyzing 5 scientific works in relation to sexual violence and the mental consequences of the act, it was possible to observe that this problem is based on the historical context and role of women in society for years, which was silent and the man had her as An object. Conclusion: It is necessary to develop effective public policies to reduce cases of sexual violence, in addition, women need more control over the actions within the health area that they can take to avoid contamination with sexually transmitted diseases or unwanted pregnancies.
Keywords: Domestic violence; women and invisibility; sexual violence; psychological health.
INTRODUÇÃO
As múltiplas causas e complexidades associadas à violência sexual exigem o envolvimento das autoridades públicas por meio de programas de extensão e aceitação envolvendo a comunidade e diversos setores públicos. No Brasil, conforme protocolos e recomendações técnicas e legais, alguns serviços de saúde já oferecem assistência integral e multidisciplinar, incluindo assistência policial e jurídica, às mulheres vítimas de violência sexual.
A violência sexual contra a mulher é hoje reconhecida como um grande problema de saúde pública que afeta todas as classes sociais, especialmente nos países em desenvolvimento2. A violência doméstica pode ser definida como abuso físico, sexual e/ou emocional de membros da família, incluindo crianças, idosos ou mulheres3.
A violência contra as mulheres é um problema global relacionado ao poder, privilégio e dominação masculinos. Afeta mulheres de todas as idades, raças, raças, religiões, nacionalidades, orientações sexuais ou status socioeconômico, bloqueio psicológico, desenvolvimento pessoal até a perda da autoestima, risco de prostituição, uso de drogas e outros comportamentos de risco e vida sexual4.
Se há leis que avançam hoje no campo dos direitos humanos, outras ainda são muito anacrônicas e precisam urgentemente de mudanças. A inconsistência entre a lei e a prática social e os esforços inadequados do governo para fazer cumprir os acordos internacionais sobre esta questão constituem uma negação dos direitos humanos5.
A violência realizada em casa contra a mulher é um grave problema de saúde pública devido à sua gravidade. Porque afeta não só o seu caráter físico, mas sobretudo a marca psicológica deixada pelo ataque. Atualmente, muitas pessoas optam por não denunciar seus agressores por diversos motivos, incluindo vergonha, culpa, constrangimento por não acreditar na denúncia, dependência financeira e, principalmente, medo de que seu parceiro ataque outros membros da família5.
Portanto, diante do contexto este estudo tem como objetivo geral analisar a atuação do enfermeiro na saúde mental das mulheres vítimas de violência sexual; neste sentido, os objetivos específicos a serem pontuados são: entender sobre os tipos de violência sexual sofrido por mulheres e suas consequências; apontar as ações prioritárias da assistência à mulheres vítimas de violência sexual e por fim
compreender o papel do enfermeiro no atendimento às mulheres vítimas de violência sexual.
Além disso, este estudo corrobora as implicações para a saúde pública da violência sexual contra a mulher que transcende todas as fronteiras sociais e uma vez que as mulheres vítimas dessa violência são mais vulneráveis a problemas psiquiátricos, justificada na noção de ser vista como um problema, pode causar danos a curto ou longo prazo. Nesse sentido, há a necessidade de uma assistência de qualidade com uma visão integral para prevenir futuros desfechos imprevisíveis, importantes para a construção do comportamento. Para atingir esse objetivo, a importância desta pesquisa é ampliar e aprofundar nosso conhecimento sobre a qualidade do atendimento às mulheres vítimas de violência sexual.
Em algumas situações, os enfermeiros dispensam a notificação compulsória às vítimas de violência por temerem represálias ou por serem ignorantes. Essa característica sugere que ao cuidar de um paciente em situação de maus-tratos, o ato de culpar e agir pode ser um divisor de águas na vida daquela pessoa que simplesmente precisa de alguém em determinadas situações, mostrando a importância da compreensão do profissional médico. Apoie-os e ajude-os a sair da situação em que se encontram. A denúncia do agressor não apenas liberta a vítima, mas também a impede de cometer mais abusos, inclusive outros.
METODOLOGIA
A revisão integrativa, método que apoia a síntese do conhecimento produzido sobre determinado tema, foi escolhida para conduzir esta pesquisa. Seis etapas foram seguidas para a realização deste estudo: identificação do problema, formulação da questão norteadora, seleção da amostra, classificação e análise dos dados, discussão dos resultados e síntese dos dados.
Primeiramente, o estudo foi desenvolvido no período de fevereiro a dezembro de 2022. Posteriormente, para a análise e posterior síntese dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão foi utilizado um quadro sinóptico especialmente construído para esse fim, que contemplou os seguintes aspectos pertinentes: título da pesquisa; nome dos autores; objetivos; e os resultados mais relevantes. A apresentação dos resultados, assim como a discussão dos dados coletados, foram realizados de forma descritiva, com categorias elencadas para discussão, que possibilitam ao leitor, pontos de partida para responder à questão de pesquisa e impactar positivamente na compreensão dos objetivos deste estudo.
Os critérios de inclusão de artigos definidos foram os seguintes: artigos publicados em português, inglês e espanhol, com resumos disponíveis em bases de dados e/ou biblioteca virtual, selecionados nos últimos cinco anos. Os critérios de exclusão foram os trabalhos com abordagem mais ampla, como: dissertações, teses, editoriais, resumos de publicações, artigos duplicados ou capítulos de livros. As seguintes bases de dados foram selecionadas para busca de estudos primários: SciELO, Google Acadêmico e BVS.
Para a análise e posterior síntese dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão, foi utilizada uma tabela sinótica elaborada propositalmente, que continha os seguintes aspectos relevantes: título do estudo; nomes dos autores; metas; e principais resultados. Cada protocolo de pesquisa deve ser revisado e aprovado pelo CEP, também conhecido como Comitê de Ética em Pesquisa Institucional. Verifique se o seu protocolo realmente atende às diretrizes do CEP de cada instituição e atende aos requisitos da Declaração de Helsinque e da Decisão do Conselho de Saúde.
Também descreve os procedimentos de monitoramento da coleta de dados, garantindo a segurança dos indivíduos, incluindo medidas para proteger a confidencialidade. Se necessário, defina critérios para análise interina e se deve formar um comitê externo de monitoramento (exigido nos ECRs).
A pesquisa humana direta requer uma condição de permissão e claridade para com o participante, sendo então posto no TCLE. Desta forma, o termo está pronto para ser associado ao projeto. Pesquisa realizada com dados de outras instituições, a autorização deve ser solicitada com carta de anuência, que, se possível, já está anexada ao projeto.
Se aplicável, discuta os potenciais riscos, desvantagens e benefícios de participar do estudo para o participante faça uma análise crítica de risco-benefício, avalie a probabilidade e a gravidade dos riscos e descreva as ações tomadas para proteger ou mitigar riscos potenciais. Também descreve os procedimentos (atenção médica necessária) a serem seguidos em caso de lesão corporal.
Com o intuito de organizar a forma de trazer os artigos para serem analisados na revisão foi desenvolvido um fluxograma, no qual será possível visualizar o total inicial de trabalhos sobre violência sexual e saúde mental das mulheres encontrados em plataformas como: SciELO e Lilacs. Assim como também a quantidade de artigos escolhidos. Vejamos:
Figura 1 – Fluxograma dos artigos selecionados
RESULTADOS
No processo de desenvolvimento e pesquisa sobre o tema aqui abordado, foram selecionados cinco estudos que falam sobre a violência sexual e a saúde mental das mulheres que sofrem essa violência. Como será observado, grande maioria dos estudos foram encontrados no SciELO e Lilacs, a seguir será mostrado o Quadro 1, o qual tem todos os trabalhos usados e seus respectivos dados. Além disso, é preciso ressaltar que mesmo dentro dessas plataformas, existem revistas diversas, sendo assim, alguns artigos terão publicações em revistas diferentes, mas que estão inseridas dentro de alguma dessas plataformas mencionadas.
Quadro 1 – Autores, obras, objetivos, metodologia e resultados dos trabalhos utilizados
AUTORES, ANO E BASE DE DADOS (Referência) | TÍTULO | OBJETIVO | TIPO DE ESTUDO | PRINCIPAIS RESULTADOS |
GARCIA (2016) – SciELO | A magnitude invisível da violência contra a mulher | O trabalho tratase de uma breve análise sobre a magnitude invisível presente na violência contra a mulher, demonstrando dados e porcentagens relevantes. | Quantitativo | A violência contra a mulher é um problema de saúde pública de proporções epidêmicas no Brasil, embora sua magnitude seja em grande parte invisível. Este problema não pode ser tratado como se fora restrito a alguns segmentos, uma vez que permeia toda a sociedade brasileira. A prevenção e o enfrentamento da violência contra a mulher passam necessariamente pela redução das desigualdades de gênero e requerem o engajamento de diferentes setores da sociedade |
Nunes et al. (2017) – SciELO | Violência Sexual contra Mulheres: um estudo comparativo entre vítimas adolescentes e adultas. | Descrever as características da vítima, da violência, do agressor e do atendimento recebido por mulheres (12 anos acima) em um hospital da rede pública de Fortaleza-CE entre 2010 e 2013. | Estudo quantitativo, exploratório e descritivo. | Quanto às consequências da violência sexual, confirmaram-se os problemas de saúde como estresse póstraumático, transtorno comportamental e gravidez. As vítimas destacaram-se por serem em sua maioria adultas, de raça/cor parda, heterossexual, solteira e estudante. |
Ceccon; Meneghel (2017) – SciELO | Iniquidades de gênero: mulheres com hiv/aids em situação de violência. | Visibilizar as iniquidades de gênero presentes na vida de mulheres com HIV/aids em situação de violência. | Estudo qualitativo | As mulheres se constituem como figuras do sofrimento e são tratadas pela sociedade como promíscuas, infratoras e “putas”. As desigualdades de raça, classe social e gênero são situações geradoras de vulnerabilidades, violências e iniquidades na vida de mulheres com HIV/aids. |
Souza et al., (2019) – Rebis | O papel da enfermagem na violência sexual contra a mulher. | Compreender a importância do papel do enfermeiro em casos de mulheres vítimas de violência sexual e a incidência dos casos. | Revisão bibliográfica | O atendimento às vítimas de violência sexual inclui medidas de prevenção e tratamento, proporcionando à paciente a garantia de receber cuidado humanizado e seguro prestado pelo profissional de enfermagem que se encontra a frente do atendimento a essas mulheres que sofrem esse tipo de violência. |
Purificação et al., (2017) – Revista Eletrônica da FAINOR | A violência contra mulher numa perspectiva histórica–uma questão de gênero. | Discorreu-se sobre a violência como um fenômeno social, dando-se ênfase à que ocorre em mulheres. | Pesquisa qualitativa | A casa era o limite do mundo para as mulheres da antiguidade, a porta era sua fronteira criando uma separação espacial entre homens e mulheres baseadas em antigos valores de honra, pudor, desonra e culpa que não passavam, entretanto, de uma questão ligada a gênero. Reflexões críticas sobre o papel da mulher, a violência contra ela, suas causas e consequências (pessoais, familiares e sociais) deve ser tema constante de estudo e análise. |
Alves et al., (2020) – Research, Society and Development. | “Pode gritar, ninguém vai acreditar em você”: A saúde mental de mulheres vítimas de violência sexual | Descrever as consequências à saúde mental da mulher vítima de violência sexual, tracejando os cuidados recebidos nos serviços da Rede de Atenção à Saúde. | Revisãi Integrativa de literatura, abordagem qualitativa. | O estudo identificou a importância da percepção dos profissionais de saúde, para a identificação dos casos imediatos, visando promover práticas assistenciais de acolhimento, e uma percepção qualificada para atender essa demanda, viabilizando o acolhimento inicial, acompanhamento integral, assistencial e humanizado. |
Barbosa, Souza e Freitas (2018) – Revista Panamericana de Salud Pública. | Violência sexual: narrativas de mulheres com transtornos mentais no Brasil | Compreender o impacto da violência sexual sofrida por mulheres com transtornos mentais a partir de autorrelato de suas experiências. | Qualitativa – Coleta de dados. | A instabilidade dos relacionamentos foi atribuída a situações de agressividade, infidelidade do parceiro e uso de drogas ou álcool. Houve relatos de terem sido vítimas de violência física na família, sobretudo por parte de parceiros, e também de violência sexual, sendo que, em alguns casos, os agressores eram pessoas da família. |
De Souza et al., (2012) – Reprodução & Climatério. | Aspectos psicológicos de mulheres que sofrem violência sexual | Relatar os aspectos presentes nas mulheres que sofrem com a violência sexual. | Qualitativa | Mulheres que sofrem violência sexual apresentam índices mais severos de transtornos e consequências psicológicas, como TEPT, depressão, ansiedade, transtor- nos alimentares, distúrbios sexuais e distúrbios do humor. |
Medeiros e Zanello (2018) – Estudos e Pesquisas em psicologia. | Relação entre a violência e a saúde mental das mulheres no Brasil: análise das políticas públicas. | Analisar se, e como, as políticas públicas desenvolvidas para as mulheres e aquelas resultantes da Reforma Psiquiátrica dialogam entre si no que tange ao tema dos impactos da violência na saúde mental das mulheres. | Qualitativa | A análise demonstrou que o diálogo entre estes documentos ainda é incipiente e a violência de gênero contra as mulheres não têm sido tratada claramente como um fator de risco para a saúde mental. |
Silva (2020) – Digital Library (USP) | Repercussões da violência sexual na infância sobre a função sexual e saúde mental da mulher. | Avaliar o risco de DS em mulheres com história de VSI e o risco para depressão, TAG e TEPT nestas mulheres; verificar os fatores associados ao risco de DS e os fatores associados à crença de que a VSI influenciou a vida sexual destas mulheres. | Estudo de coorte retrospectiva | Mulheres com histórico de VSI apresentam alta prevalência de disfunção sexual e de comorbidades psiquiátricas. Isso evidencia a importância de se avaliar a função sexual dessas mulheres durante as consultas ginecológicas de rotina, e a utilidade clínica de questões que permitam à paciente se expressar sobre o histórico de VSI e suas repercussões na vida sexual. |
Siebra et al., (2019) – Revista de Psicologia. | Os Prejuízos causados à Saúde Mental e à vida sexual adulta das mulheres vítimas de Abuso Sexual na infância. | Este artigo discute os prejuízos causados à saúde mental e à vida sexual adulta das mulheres vítimas de abuso sexual na infância. | Estudo bibliográfico | Os resultados demonstraram os prejuízos mentais e relacionais causados a esta parcela da população, que vão desde a apatia, medo, insônia, a dificuldade no estabelecimento de vínculos afetivos saudáveis. Parece urgente Políticas públicas que promovam apoio à saúde emocional, às vítimas de abuso sexual infantil. |
Trigueiro et al., (2017) – Escola Anna Nery. | O sofrimento psíquico no cotidiano de mulheres que vivenciaram a violência sexual: estudo fenomenológicoa. | Compreender as ações do cotidiano de mulheres que vivenciaram violência sexual. | Qualitativa – Estudo de caso | Evidenciou-se que o cotidiano de mulheres, após a violência sexual, foi permeado pelo sofrimento psíquico, traduzido pelo medo que impacta sua saúde mental, limitando sua vida, especialmente no desempenho das atividades sociais (trabalho, escola e relações afetivosexuais). |
Mota et al., (2020) – Global Academic Nursing Journal. | Desenvolvimento de Transtornos Mentais Comuns em mulheres em situação de violência sexual: revisão integrativa. | Identificar, a partir da literatura científica, os transtornos mentais comuns desenvolvidos em mulheres em situação de violência sexual. | Revisão integrativa da literatura. | Há associação significativa da violência sexual com o desenvolvimento de transtornos mentais comuns, principalmente o Transtorno de Estresse Póstraumático. |
De Barros Silva et al., (2021) – Research, Society and Development. | O sofrimento psíquico de mulheres vítimas de violência sexual. | Identificar os impactos que causam sofrimento psíquico nas mulheres vítimas de violência sexual. | Revisão integrativa da literatura. | Tem grandes consequências para a saúde, não apenas para as mulheres e crianças, mas também para suas famílias, além de contribuir para o fardo global de problemas de saúde, aumentando as taxas de morbidade e mortalidade das mulheres, incluindo trauma psicológico, medo, depressão, suicídio, assassinato, dor crônica, lesões, fraturas, deficiência, gravidez indesejada, uso inadequado de anticoncepcionais, além do risco de adquirir HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. |
Por meio dos autores e obras mencionados no tópico anterior é possível realizar uma discussão sobre o tema violência sexual e a saúde mental das mulheres que passam por essa situação. Iniciando o autor explica que no Brasil os registros realizados em relação a violência mostram que os homens morreram mais que as mulheres em 2013 por causa de agressões, contabilizando 11,3 vezes a mais que as mulheres2, além disso, no Sistema único de Saúde (SUS) 83,5% são de homens internados por causa de agressões físicas.
Ainda nesse sentido, cerca de 83,1% e 69,7% dos casos de agressões, o sujeito responsável pelo ato trata-se de homens, em relação aos casos com homens, a agressão é realizada principalmente em via pública por desconhecidos, possuindo mais lesões e aumentando os óbitos nas primeiras 24 horas, já quando a vítima é uma mulher, a violência acontece principalmente no ambiente familiar, praticada pelo companheiro, ex-companheiro, familiares ou conhecidos2.
Pode-se afirmar que os homens são as principais vítimas dessas formas de violência, que levam a mais informações nos sistemas de informação em saúde, segurança pública e justiça. A violência contra a mulher, por outro lado, caracterizase pela invisibilidade, pois ocorre principalmente na esfera privada e é cometida principalmente por familiares e conhecidos2.
É observado que a visibilidade desse crime só ocorre quando ocorrem casos extremos em que são necessárias as ações do Estado, como por exemplo estupros coletivos, exemplificando o caso do Piauí e Rio de Janeiro entre maio e junho de 2016, assim como também os feminicídios, Além disso, em reportagem realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2014, 90% dos relatos de mulheres demonstravam o medo de serem vítimas de agressões sexuais2, é importante destacar que não é um medo infundado, só no período dos Jogos Olímpicos em 2016 estimou-se que 3,5/10 milhões de mulheres passaram pelo risco de serem violentadas sexualmente.
A mulher vive com medo, e esse sentimento é fundamentado principalmente pela falta de visibilidade desse problema social, porque sim, é um problema social, não diz respeito só as mulheres, é a doença de uma população, de uma sociedade. A violência sexual, assim como as demais violações contra a mulher são epidêmicas no Brasil, mas a mesma encontra-se invisível para a maioria da sociedade, ela é ocultada pelo sistema machista e patriarcal.
A enfermagem desempenha um papel central na aceitação dessas mulheres, pois a profissão resgata a humanização como parte central de seu trabalho, além de ser uma das profissões mais informativas4. Os profissionais de saúde devem garantir sua privacidade ao recepcionar as vítimas de violência sexual. E além de não expor o paciente, deve ter a sensibilidade e o conhecimento necessários para atuar neste tipo de situação.
Um dos principais desafios dessa violência é a estruturação e integração dos serviços e atendimentos para prevenir a vitimização dessas mulheres e, sobretudo, prestar um atendimento humanizado e integral. Independentemente do gênero do profissional, o trabalho de enfermagem voltado para a mulher vítima de violência sexual deve ser de qualidade4. Uma equipe profissional e multiprofissional deve estar devidamente capacitada para receber e saber atuar sem preconceitos, independentemente da condição da vítima.
A violência está presente na história como os mais diversos passos e gestos do homem; ela não acontece isoladamente, mas está mais ou menos inserida em toda a estrutura social, mesmo que as vítimas de violência a repitam 6. Violentia é o nome em latim que deu origem ao termo violência em português, significa força, relacionado a força que agride ou transgride. A violência é inerente à natureza humana, argumentam alguns sociólogos, e nesse aspecto seria possível entender a sociedade como uma estrutura que deve conviver com o aumento da violência.
Por muitos anos a mulher não era considerada cidadã, assim não exercia cargos públicos, sua exclusão social é igualitária a dos escravos e crianças, seu único status social era de procriadora, além disso, nas civilizações orientais a mulher era submissa ao seu marido, assim o homem possuía o controle da família6.
Com isso, percebe-se que o contexto histórico das mulheres contribuiu para a enorme onda de violência contra esse público em particular, como foi mencionado anteriormente, a mulher era considerada propriedade do homem, sendo assim, precisavam ser sujeitas a eles e fazem o que desejavam.
A violência entre vítimas jovens predominou a do tipo intrafamiliar em relação ao público de mulheres adultas, o que corrobora os resultados de outros estudos que mostram que os jovens correm mais risco de violência doméstica e por parceiro íntimo2. É pontuado os problemas da saúde que são causados pela violência sexual, que são o estresse pós-traumático, transtorno comportamental e gravidez, entre estes o mais comumente é a gravidez, o que pode ser justificado pela falta de preservativo por parte do agressor, como também a demora para ser tratada no serviço de saúde pública.
É possível observar que a grande maioria da população brasileira, principalmente as mulheres, não possuem conhecimento acerca dos serviços de saúde para cuidar da violência sexual, assim como também da divulgação desses serviços e as questões emocionais, sociais e culturais que podem dificultar esse conhecimento em particular2. Outra situação trágica é quando a vítima mora com seu agressor e por causa da repetição da violência sexual, a gravidez torna-se inevitável, levando em consideração que o homem não irá se ater ao uso da camisinha quando está cometendo este ato violento.
As redes de proteção que ajudam essas mulheres violentadas precisam ser mais divulgadas e fortalecidas, passando a ser constituída de modo intersetorial e interdisciplinar com atuação da comunidade, além disso, é necessário que as políticas públicas capacitem o profissional para a identificação, notificação, tratamento eficiente, acompanhamento e encaminhamentos dos casos, colaborando com a implementação de estratégias de prevenção de novos casos e minimização das consequências dos casos notificados.
Viver com HIV/aids e sofrer violência viola os direitos humanos das mulheres e, embora esse fenômeno ainda seja pouco perceptível, é uma forma de controle e/ou punição para quem não cumpre os papéis de gênero prescritos pela cultura patriarcal3. A sociedade vê as mulheres infectadas pelo HIV/AIDS como criminosas, sujas, situações de risco e isoladas em espaços confinados2. A alta frequência de violência nesse grupo, o fato de sofrerem preconceito, estigma, acusações e tratamento desigual nos serviços se deve à moralidade sexual baseada em padrões de comportamento sexual adequado e por se tratar de circunstâncias relacionadas. Para as mulheres “desviantes”, o HIV/AIDS é aceito como exclusão social e elas veem a doença como um castigo merecido2.
É necessário, portanto, conhecer o contexto social e os estilos de vida das pessoas que vivem com HIV/aids para desenhar medidas de proteção pública específicas para esse grupo, incluindo as especificidades da vulnerabilidade das mulheres.
CONCLUSÃO
Com base na trajetória desenvolvida até o momento, é possível afirmar que a violência sexual contra a mulher gera dados não apenas mentais, mas também físicos e biológicos, como é o caso da HIV/aids e a gravidez. No que se baseia as consequências mentais, muitas mulheres podem desenvolver estresse póstraumático e transtorno comportamental, doenças psicológicas que para serem solucionadas é preciso um acompanhamento médico e psicológico.
Além disso, é preciso que seja mais viabilizada a educação em saúde para que as mulheres violadas tenham compreensão do que podem realizar para estarem se prevenindo de doenças sexualmente transmissíveis e também para não engravidarem em decorrência do abuso sem uso de preservativos. A presente pesquisa mostrou que a violência contra a mulher é invisibilizada, só sendo preocupante quando se chega ao máximo de violação como é o caso de estupro coletivo ou feminicídio, a mulher ainda é calada pelo sistema social atual, mesmo que seja capaz de ter mais voz na sociedade, o problema em questão só é posto em julgamento quando situações extremas ocorrem. Com isso, fica evidente a necessidade de pontuar a violência dentro das políticas públicas e passar as mulheres informações que as ajudem a se prevenir se em algum momento de suas vidas forem violentadas.
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