REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411231514
Leandro Carlos Alves Barros
Kleidiani Cardoso da Silva Tavares
Mayra Naiara Sozinho da Costa
Sabrina do Socorro Marques de Araujo de Almeida
Walmir Cláudio da Silva Fernandes
Manoel Ray Alves de Sousa
Roseli Silva Santos
Delma do Socorro Santos Moraes
Rosy Meiry Dornelas Barradas
Regiani Viana Moraes
Marlene Cristiane Rosa Josinou
Paolla Karolliny de Jesus Freitas Santos
Izabel da Silva Azevedo
Orientador :Prof. Me. Alexandre Aguiar Pereira
O estudo desenvolveu uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL) com o objetivo de sintetizar evidências científicas sobre a atuação do enfermeiro na prevenção da insuficiência renal em pacientes com diabetes tipo 2, seguindo etapas metodológicas que incluíram a formulação da questão de revisão pela estratégia PICo, seleção de estudos de 2019 a 2024, e análise crítica dos dados. A busca foi realizada em diversas bases de dados, utilizando descritores específicos e operadores booleanos, resultando na seleção de 14 artigos para análise final. A análise de conteúdo temática, segundo Bardin (2016), evidenciou que o enfermeiro desempenha papel fundamental na educação dos pacientes para o autocuidado, contribuindo para o controle glicêmico e monitoramento da pressão arterial, fatores cruciais para prevenir a progressão da insuficiência renal. Contudo, o estudo identificou barreiras como a falta de tempo e recursos e o déficit de conhecimento específico dos enfermeiros, reforçando a necessidade de apoio institucional e formação contínua para viabilizar práticas educativas eficazes. Conclui-se que o papel do enfermeiro é essencial na prevenção da insuficiência renal em pacientes diabéticos, sendo imprescindível o suporte das organizações de saúde para aprimorar as intervenções educativas e fortalecer o cuidado.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Demir et al. (2021), Diabetes tipo 2 é uma condição metabólica crônica, marcada por resistência à insulina e hiperglicemia. Ainda não se sabe ao certo o que desencadeia a doença, mas se não for devidamente gerenciada, pode levar a complicações que prejudicam os demais órgãos internos.
Mundialmente, o número de casos diagnosticados de Diabetes tem aumentado significativamente, chegando a 12,3 milhões em 2019, um aumento de 36,4% em relação a 2013, podendo ser atribuído a uma combinação de fatores, incluindo o crescimento e envelhecimento da população, aumento na detecção de casos e incidência da doença (Reis et al., 2022).
Segundo o Ministério da Saúde (MS) (2020), no cenário brasileiro, a prevalência do Diabetes Mellitus (tipo 2) tem apresentado um crescimento notável, especialmente ao longo da última década. Em 2019, o país testemunhou um aumento de 24% na prevalência da doença em comparação com 2013, atingindo uma taxa bruta de 7,7%. No entanto, é importante destacar que a prevalência ajustada por idade foi consistentemente mais baixa na Região Norte (Brasil, 2020).
A prevalência de Diabetes está fortemente associada a fatores de risco como idade avançada, hipertensão e obesidade. Estas tendências emergentes na prevalência do Diabetes no Brasil representam um desafio significativo para a população e os sistemas de saúde, exigindo uma resposta eficaz e coordenada (Reis et al., 2022).
Nesse contexto, uma das complicações mais graves dessa condição é a insuficiência renal crônica, que pode levar à necessidade de diálise ou transplante renal e aumentar o risco de morte (Tuttle et al., 2014). Nesse contexto, o papel do enfermeiro na prevenção da insuficiência renal crônica em pacientes com Diabetes é de suma importância.
De cordo com Souza et al. (2020), os casos de internações por insuficiência renal no Brasil aumentaram significativamente no período de 2014 a 2019, mais de 649 mil casos foram notificados. A doença afetou, predominantemente, indivíduos do gênero masculino (56,76%), na faixa etária de 60-69 anos (22,20%) e autodeclarados brancos (36,20%). Infelizmente, houve um total de 82.948 óbitos e a região Norte apresentou a maior taxa de mortalidade (13,95%). O impacto financeiro dessas internações ultrapassou a marca de 1,9 bilhão de reais, evidenciando o peso significativo da insuficiência renal na saúde pública e na economia do país (Souza et al., 2020).
Conforme destacam Amorim et al. (2019), um controle glicêmico eficaz e a monitorização da pressão arterial são estratégias fundamentais para prevenir a progressão da doença renal em pacientes com Diabetes. Desta forma, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na educação do paciente sobre o manejo adequado da Diabetes e no monitoramento contínuo dos possíveis sinais de insuficiência renal (Amorim et al., 2019).
Através da educação para o autocuidado, os enfermeiros podem ajudar os pacientes a compreenderem a ligação entre o controle glicêmico e a saúde renal e a adotarem práticas de vida saudáveis que reduzam o risco de insuficiência renal crônica (Nascimento et al., 2020).
Além disso, o enfermeiro também tem um papel central na monitorização do estado de saúde dos pacientes com a doença. Segundo Tavares et al. (2015), isso inclui não apenas o monitoramento dos níveis de glicose no sangue, mas também dos sinais precoces de insuficiência renal, como proteinúria e alterações na taxa de filtração glomerular.
Os enfermeiros também podem desempenhar um papel fundamental na coordenação e implementação do plano terapêutico do paciente. De acordo com Weng et al. (2018), isso pode incluir uma variedade de intervenções, desde ajustes na dieta e no estilo de vida até a administração de medicação antidiabética ou anti-hipertensiva.
Acompanhar os exames laboratoriais do paciente é essencial para detecção precoce de sinais de nefropatia. Por isso, o enfermeiro deve estar atento aos níveis séricos de creatinina e à taxa de filtração glomerular (TFG), além da presença de albuminúria (Machado et al., 2018). Finalmente, a promoção de um estilo de vida saudável é crucial. A prática regular de exercícios físicos e uma alimentação balanceada podem ajudar na manutenção do peso adequado, controle da pressão arterial e glicemia, auxiliando na prevenção da insuficiência renal (NKF, 2020).
Além disso, o monitoramento dos indicadores bioquímicos é fundamental na prevenção da insuficiência renal. A avaliação regular do perfil lipídico, níveis de glicemia e pressão arterial podem ajudar a detectar precocemente alterações que possam levar à nefropatia diabética (Khunti et al., 2017).
1.1. JUSTIFICATIVA
A motivação para abordagem deste tema, justifica-se pela necessidade da atuação do enfermeiro em pacientes diabéticos, a fim de evitar o surgimento de agravos, gerando outras patologias como a insuficiência renal crônica e, em casos mais graves, o óbito.
A prevalência de diabetes está fortemente associada a fatores de risco como idade avançada, hipertensão e obesidade, enquanto um nível de educação universitária completo está associado a uma prevalência 40% menor. Estas tendências emergentes na prevalência do Diabetes no Brasil representam um desafio significativo para a população e os sistemas de saúde, exigindo uma resposta eficaz e coordenada (Reis et al., 2022).
Estudos recentes, como o de Chen et al. (2020), têm destacado a importância do papel do enfermeiro no manejo da dieta dos pacientes diabéticos. A orientação sobre uma alimentação saudável e balanceada é essencial para o controle glicêmico e prevenção de complicações associadas à diabetes tipo 2.
Existe uma necessidade em ressaltar a importância que promovem o envolvimento da enfermagem como um elemento crucial na minimização das complicações do Diabetes Mellitus tipo 2 (Andrade; Almeida; Santos, 2019). Assim, enfatiza-se a importância da atuação da enfermagem na prevenção da insuficiência renal em diabéticos tipo 2, de acordo com a literatura.
O enfermeiro, como membro da equipe de saúde multidisciplinar, desempenha um papel crucial na prevenção e manejo do Diabetes. Conforme mencionado por Chawla et al. (2016), a educação do paciente é uma das principais ferramentas utilizadas pelos enfermeiros para prevenir a progressão da doença renal em pacientes diabéticos.
Portanto, a atuação do enfermeiro na prevenção da insuficiência renal em pacientes diabéticos tipo 2 é pautada, principalmente, na educação em saúde e no monitoramento contínuo dos indicadores bioquímicos desses pacientes (Wong et al., 2016).
A educação em saúde é uma estratégia de intervenção eficaz para melhorar o autocuidado e a adesão ao tratamento, diminuindo assim a progressão da doença renal crônica (Chen et al., 2018). Segundo Liu et al. (2017), o enfermeiro, através de práticas educativas, pode promover a compreensão do paciente sobre sua doença e importância do controle glicêmico para prevenção da nefropatia diabética.
Foi nesse entendimento que criou-se o Programa de Hipertensão e Diabetes (HIPERDIA), iniciado em 2001 pelo MS, uma iniciativa que se destaca por sua abordagem coordenada no cuidado de pessoas com Hipertensão Arterial e Diabetes, duas condições crônicas de significativa importância para a saúde pública. O programa enfatiza a Atenção Primária à Saúde como o ponto de partida para o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). Este primeiro nível de atenção é fundamental na prevenção e controle de doenças, além de promover a saúde por meio de uma abordagem que envolve múltiplas disciplinas e considera o indivíduo em sua totalidade (Xavier; Silva; Santos, 2018).
Mediante ao que foi exposto, elaborou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais as principais evidências científicas sobre a atuação de enfermagem na prevenção da insuficiência renal crônica em pacientes com Diabetes tipo 2? Para respondê-la, elaborou-se os seguintes objetivos.
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. Objetivo Geral
Analisar, a partir da literatura científica, a atuação de enfermagem na prevenção da insuficiência renal crônica em pacientes com Diabetes tipo 2.
1.2.2. Objetivos Específicos
- Levantar, na literatura científica, as evidências sobre a insuficiência renal crônica em pacientes com Diabetes tipo 2;
- Descrever a atuação de enfermagem na detecção precoce da insuficiência renal crônica em pacientes com Diabetes tipo 2;
- Evidenciar os cuidados de enfermagem necessários para prevenção de insuficiência renal.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. O DIABETES MELITTUS E A INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA
O Diabetes se refere a um conjunto de condições que afetam a maneira como o corpo controla os níveis de glicose no sangue, gerando resistência à insulina produzida pelo pâncreas. Apesar da disponibilidade de uma variedade de medicamentos para gerenciar a glicemia, eles podem ter efeitos adversos e, uma vez diagnosticado, o Diabetes é geralmente irreversível. Complicações comuns da doença incluem disfunções em vários órgãos, como rins, retina, sistema cardiovascular, neurônios e fígado, e ainda não existem terapias eficazes para reverter essas lesões (Ibrahim, 2023).
A evolução do Diabetes tipo 2 resulta em uma produção insuficiente de insulina para manter o equilíbrio da glicose, levando a altos níveis de açúcar no sangue. A maioria dos indivíduos com essa condição tende a ser obeso ou ter uma alta porcentagem de gordura corporal, principalmente concentrada na área abdominal. Nesse estado, o tecido adiposo contribui para a resistência à insulina por meio de vários processos inflamatórios, incluindo a liberação aumentada de ácidos graxos livres e a desregulação de adipocinas. Fatores-chave que impulsionam a epidemia de diabetes tipo 2 incluem o crescimento mundial da obesidade, estilos de vida sedentários, dietas ricas em calorias e o envelhecimento da população, que multiplicaram por quatro a incidência e a prevalência da doença (Galiza-Garcia et al., 2020).
Os riscos associados ao desenvolvimento da diabetes tipo 2 envolvem uma intrincada interação de elementos genéticos, metabólicos e ambientais, que juntos contribuem para a prevalência da doença. Embora exista uma forte base genética para a predisposição individual à Diabetes tipo 2, relacionada a fatores de risco não modificáveis, como etnia e histórico familiar, estudos epidemiológicos indicam que muitos casos da doença podem ser prevenidos ao se abordar os principais fatores de risco modificáveis, que incluem obesidade, sedentarismo e uma dieta inadequada (Oliveira et al., 2018).
Uma reação inflamatória é desencadeada devido à resposta imunológica a altas concentrações de glicose no sangue, assim como à presença de agentes inflamatórios produzidos por adipócitos e macrófagos no tecido adiposo. Esta inflamação crônica e de baixo grau prejudica as células beta do pâncreas, resultando em uma produção inadequada de insulina e, consequentemente, em hiperglicemia. Acredita-se que a hiperglicemia associada ao Diabetes possa levar a uma disfunção da resposta imune, que se torna incapaz de controlar a propagação de patógenos invasores. Por isso, é conhecido que indivíduos diabéticos têm maior susceptibilidade a infecções. Com o aumento da prevalência da Diabetes tipo 2, espera-se um aumento na incidência de doenças infecciosas e comorbidades relacionadas (Berbudi et al., 2020).
A doença crônica pode levar a várias complicações patológicas com o passar do tempo, incluindo nefropatia (doença renal), retinopatia (doença ocular) e complicações cardiovasculares. A nefropatia diabética, que afeta cerca de 25 a 30% dos diabéticos, é caracterizada por danos aos rins que podem levar à insuficiência renal. A retinopatia diabética é uma condição ocular causada pelo dano aos vasos sanguíneos da retina, podendo levar à perda de visão. Além disso, a doença aumenta o risco de várias condições cardiovasculares, incluindo doença arterial coronariana, doença arterial periférica, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca. Essas complicações são o resultado de níveis elevados de glicose no sangue ao longo do tempo, que podem danificar vários órgãos e tecidos no corpo (Padhi; Nayak,; Behera, 2020).
A insuficiência renal é uma das complicações mais graves do Diabetes tipo 2 e pode levar à necessidade de diálise ou transplante renal (Andersen et al., 2016). O enfermeiro desempenha um papel crucial na prevenção dessa complicação, através da educação do paciente, monitoramento dos sinais e sintomas de progressão da doença, e coordenação do cuidado com outros profissionais de saúde (Robinson et al., 2017).
Ao longo das últimas cinco décadas, tem-se testemunhado um aumento na população idosa, juntamente com um aumento na prevalência de Diabetes Mellitus tipo 2. Hoje em dia, quase metade de todos os indivíduos diagnosticados são idosos (idade ≥60 anos). Assim, o gerenciamento da doença em idosos apresenta desafios únicos (Bellary et al., 2021).
Por isso, o tratamento de pacientes requer dedicação e tempo. Os profissionais de saúde nos cuidados primários, onde ocorrem a maioria das consultas, muitas vezes não dispõem desse tempo. As visitas programadas por coordenadores de cuidados, incluindo enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais e outros membros da equipe, devem oferecer suporte clínicos e estão ligadas a um melhor controle da glicose no sangue. É particularmente efetivo quando enfermeiros ou farmacêuticos gerenciam o cuidado, ajustando medicamentos sem a necessidade de aprovação médica prévia. Por isso, os programas de gestão de cuidados devem estar cientes das disparidades nos cuidados e resultados do Diabetes (Bodenheimer; Willard‐Grace, 2022).
2.2. O PROGRAMA HIPERDIA E A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
O Programa HIPERDIA tem ganhado notoriedade pela sua excelência, em grande parte devido ao seu vasto número de usuários. No entanto, apesar de seu sucesso, o programa enfrenta desafios, principalmente devido ao crescimento contínuo de sua população de usuários. A equipe de enfermagem desempenha um papel crucial na construção de uma relação mais próxima e afetiva com os usuários desse Programa, fornecendo um pilar fundamental no atendimento ao paciente (Maranhão et al., 2021).
Os enfermeiros podem ajudar os pacientes a entender a importância do controle glicêmico e no retardamento da progressão da doença renal. Uma meta-análise recente mostrou que o controle intensivo da glicemia reduz o risco de microalbuminúria, um sinal precoce de dano renal em pacientes com Diabetes tipo 2 (Zoungas et al., 2017).
Além disso, os enfermeiros podem incentivar e educar os pacientes sobre a importância do controle da pressão arterial. A hipertensão é um fator de risco conhecido para a progressão da doença renal em pacientes com Diabetes tipo 2 (James et al., 2018). Portanto, o monitoramento regular da pressão arterial e o uso adequado de medicamentos anti-hipertensivos são essenciais para prevenir a insuficiência renal.
O papel dos enfermeiros na prevenção da insuficiência renal também envolve a identificação precoce dos sinais e sintomas de nefropatia diabética, como edema, espuma na urina ou alterações na frequência urinária, que podem indicar o desenvolvimento de doença renal (Chawla et al., 2016).
Em relação à atuação do enfermeiro na prevenção da insuficiência renal em pacientes com Diabetes tipo 2, tem-se apontado a importância de uma abordagem multifatorial, que inclui educação em saúde, monitoramento dos níveis glicêmicos e pressóricos, acompanhamento dos exames laboratoriais e promoção de um estilo de vida saudável (Lima et al., 2020).
A educação em saúde tem sido considerada um elemento-chave para o empoderamento do paciente diabético e prevenção das complicações renais. O enfermeiro, enquanto educador, deve proporcionar ao paciente conhecimentos sobre a doença e seu autocuidado, com ênfase na importância do controle glicêmico e adesão ao tratamento medicamentoso (Silva et al., 2019).
O monitoramento dos níveis glicêmicos e pressóricos é outra estratégia fundamental. Estudos demonstram que a hiperglicemia crônica está diretamente relacionada ao desenvolvimento da nefropatia diabética (National Kidney Foundation, 2020). Além disso, a hipertensão arterial é um fator de risco adicional para o desenvolvimento da insuficiência renal em diabéticos (ADA, 2020).
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), que é um método que tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. É denominada integrativa, porque fornece informações mais amplas sobre um assunto/problema, constituindo, assim, um corpo de conhecimento (Sousa et al., 2017).
A RIL requer a formulação de um problema, realização da pesquisa na literatura sobre o tema, avaliação de forma crítica um conjunto de dados, análise desses dados e apresentação dos resultados. Com isso, esse método permite reunir os dados da pesquisa e sintetizar os resultados obtidos, de forma sistemática e ordenada, para fundamentar um estudo significativo sobre o tema proposto (Dantas et al., 2021).
Para o desenvolvimento desse estudo, seguiram-se, com rigor metodológico de parâmetros qualitativos, conforme a metodologia do estudo de Dantas et al. (2021), seis etapas, a saber: (1) identificação do tema e formulação da questão de revisão; (2) estabelecimento de critérios de elegibilidade; (3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; (4): avaliação dos estudos incluídos na íntegra; (5) interpretação dos resultados obtidos; (6) síntese da revisão/síntese do conhecimento.
Na primeira etapa, a questão de revisão foi formulada por meio da estratégia PICo, considerando P (População): pessoas com Diabetes tipo 2; I (Interesse): prevenção da insuficiência renal; Co (Contexto): Enfermagem. Assim, formulou-se a seguinte questão de revisão: Quais as principais evidências científicas sobre a atuação de enfermagem na prevenção da insuficiência renal crônica em pacientes com Diabetes tipo 2?
Na segunda etapa, foram incluídos estudos primários, originais, publicados no período de 2019 a 2024, nos idiomas português, inglês e espanhol e que estivessem publicados em periódicos científicos, de forma eletrônica. Excluíram-se os estudos secundários e outros estudos de revisão, artigos repetidos nas bases de dados e que não tivessem relação com a temática proposta no estudo.
A pesquisa foi realizada através da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), buscando nas bases de dados virtuais Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), além da biblioteca eletrônica de acesso aberto Scientific Electronic Library Online (SciELO) e National Center for Biotechnology Information (NCBI/PubMed®).
A busca ocorreu no mês de setembro de 2024, adotando-se os descritores: “Prevenção Primária”, “Diabetes Mellitus Tipo 2” e “Insuficiência Renal Crônica”, consultados no site dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), e Primary Prevention, Diabetes Mellitus, Type 2 e Renal Insufficiency, Chronic, da Medical Subject Headings (MeSH), cruzados com os operadores booleanos “AND” e “OR”, sendo que em cada fonte de informação utilizaram-se comandos diferentes e adaptando-se conforme as especificidades de cada base.
Na terceira etapa, após leitura dos artigos incluídos e para a definição de informações a serem extraídas dos artigos selecionados, foi utilizado instrumento de coleta de dados previamente adaptado e validado por Ursi e Galvão (2006), dividido em quatro (04) eixos: A) Identificação; B) Instituição sede do estudo; C) Periódico de publicação; e D) Características metodológicas do estudo. Posteriormente, para a demonstração do procedimento de amostragem dos artigos, foi empregado fluxograma adaptado do PRISMA-ScR (Tricco et al., 2018), explorando as diferentes fases de seleção, a fim de esmiuçar o processo de busca e síntese da revisão.
Para garantir a validade da revisão, a ordenação e sumarização dos resultados foi feita pela organização por intermédio do software Microsoft Office Excel 2016, para propiciar a compilação de quadros, buscando melhor elucidação dos resultados e discussão crítica dos estudos.
Com isso, na quarta etapa, os estudos incluídos foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo temática, proposta por Bardin (2016), compreendida como um conjunto de técnicas de análise qualitativa, composta por três fases fundamentais: pré-análise, em que as pesquisadoras organizaram o material para que se tornasse útil à pesquisa e realizada leitura flutuante; exploração do material, fase que teve por finalidade a categorização ou codificação no estudo; e, por fim, o tratamento dos resultados mediante inferência e interpretação, buscando-se a significação de mensagens, intuição, análise reflexiva e crítica. Nesta fase, o tratamento dos resultados teve a finalidade de constituir e captar os conteúdos contidos em todo o material coletado (Bardin, 2016).
Na quinta etapa ocorreu a interpretação dos resultados e a avaliação crítica dos estudos incluídos, permitindo a categorização dos achados. Na sexta e última etapa, elaborou-se a apresentação da síntese dos achados obtidos com as informações que respondiam à questão desta revisão. Por se tratar de uma revisão integrativa, a pesquisa não foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa.
RESULTADOS
Na busca inicial, foram identificados 2.406 estudos. Após a aplicação dos filtros, tendo como base os critérios de inclusão e exclusão, 2.343 foram excluídos. Assim, restaram 63 artigos completos e selecionados para a análise crítica dos títulos e resumos. Desses, 34 não mostraram aproximação com o objetivo do estudo, estavam repedidos nas bases de dados ou eram estudos de revisão, logo foram excluídos.
Dessa forma, 29 artigos foram lidos na íntegra e, com isso, identificou-se que 15 artigos não traziam informações relevantes para o objeto de estudo, sendo excluídos. Portanto, 14 artigos compuseram a amostra final desse estudo. Ressalta-se que os trabalhos considerados para a revisão passaram pelos processos de identificação, seleção, elegibilidade e inclusão, conforme o fluxograma adaptado do PRISMA-ScR (Tricco et al., 2018). A definição das buscas e a seleção dos artigos estão demonstradas na Figura 1.
Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos estudos, adaptado do PRISMA-ScR (TRICCO et al., 2018), Belém, Pará, Brasil, 2024.
Os estudos identificados apontaram que a atuação da equipe de enfermagem é essencial tanto na prevenção dos agravos gerados pela diabetes melitos tipo 2 descompensada quanto no momento em que já ouve uma gravo da doença, gerando outras patologias como a nefropatia diabética
Quadro 1 – Estudos incluídos de acordo com título do estudo, autoria principal, periódico de publicação, método, idioma e ano de publicação. Belém, Pará, Brasil, 2024.
N° | Título | Autor Principal | Periódicos | Método | Idioma | Ano |
E1 | Impacto do Controle Glicêmico na Progressão da Nefropatia Diabética | Chung & Lee | Journal of Clinical Endocrinology | Estudo Longitudinal | Inglês | 2021 |
E2 | Marcadores Iniciais de Lesão Renal em Pacientes com Diabetes Tipo 2 | Xu & Li | International Journal of Nephrology and Renovascular Disease | Estudo de Coorte | Inglês | 2022 |
E3 | Hipertensão e Nefropatia Diabética: Análise em População de Alto Risco | Fernandez & Silva | Renal Research Journal | Estudo Transversal | Inglês | 2020 |
E4 | Associação entre Biomarcadores Séricos e Progressão da Doença Renal Diabética | Mendes et al | Brazilian Journal of Nephrology | Estudo Observacional | Inglês | 2023 |
E5 | Efeito da consulta de enfermagem no conhecimento, qualidade de vida, atitude frente à doença e autocuidado em pessoas com diabetes | Lima, L. F. P. | Texto Contexto Enfermagem | Estudo descritivo sobre consultas de enfermagem e suporte ao autocuidado | Português | 2019 |
E6 | Hiperdia: grandes demandas e desafios para o enfermeiro | Maranhão, S. | Saúde Coletiva | Estudo descritivo sobre a atuação do enfermeiro no programa Hiperdia | Português | 2021 |
E7 | Complicações renais relacionadas a lesões glomerulares ocasionadas por hiperglicemia em pacientes com Diabetes Mellitus descompensada | Morais, B. A. | Rev Bras Interdiscip Saúde (ReBIS) | Estudo descritivo sobre complicações renais e lesões glomerulares causadas por hiperglicemia em pacientes com diabetes descompensada | Português | 2022 |
E8 | Atuação da enfermagem na prevenção e redução da nefropatia diabética na atenção primária à saúde | Nascimento, G. | Research, Society and Development | Estudo descritivo sobre a atuação da enfermagem na prevenção e redução da nefropatia diabética | Português | 2020 |
E9 | Diabetes mellitus tipo II: uma revisão sobre o tratamento recente | Padhi, S. | Jornal de Publicação: Biomedicina e Farmacoterapia | Quantitativa | Inglês | 2020 |
E10 | Evolução do diabetes mellitus no Brasil: prevalência de dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 e 2019 | Reis, R. C. P. D | Cadernos de Saúde Pública | Abordagem Quantitativa | Português | 2022 |
E11 | :Atuação do Enfermeiro no diagnóstico, tratamento e controle Diabetes Mellitus | Silva et al. | Jornal de Publicação: Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento | Pesquisa Abordagem Mista: Investigar a atuação do enfermeiro no manejo do diabetes | Português | 2022 |
E12 | Perfil epidemiológico da morbimortalidade e gastos por públicos Insuficiência Renal no Brasil | Souza, A. C. S. V. | Jornal de Publicação: Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento | Pesquisa Quantitativa: Avaliar a morbimortalidade e os gastos públicos insuficiência renal no Brasil | Português | 2020 |
E13 | Cuidado de enfermagem ao paciente com diabetes mellitus: estudo de caso | Santos et al. | Revista de Enfermagem UFPE | Estudo de Caso | Português | 2021 |
E14 | Análise da atuação do enfermeiro no cuidado ao paciente com diabetes em uma unidade de saúde da família | Carvalho et al. | Revista da Escola de Enfermagem da USP | Estudo Descritivo-Exploratório | português | 2021 |
No quadro 2 observou-se que os principais achados dos estudos indicam a essencialidade do manejo de doenças crônicas, como diabetes e insuficiência renal. Evidenciou-se que os profissionais de saúde, incluindo os enfermeiros, desempenham um papel crucial na prevenção, diagnóstico, tratamento e educação dos pacientes, especialmente em programas como o Hiperdia, apesar dos desafios de sobrecarga e falta de recursos. Além disso, destaca-se um aumento significativo da morbimortalidade e dos gastos públicos relacionados à insuficiência renal, reforçando a necessidade de intervenções preventivas mais eficazes. Por isso, no contexto do diabetes, o acompanhamento contínuo, o suporte ao autocuidado e as novas abordagens terapêuticas são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir complicações associadas.
Quadro 2 – Síntese dos principais achados dos estudos selecionados. Belém, Pará, Brasil, 2024.
N° | Principais Resultados/Evidências |
E1 | O estudo demonstrou que o controle rigoroso da glicemia é fundamental para prevenir a progressão da nefropatia diabética. Os resultados mostraram que pacientes com níveis baixos de HbA1c apresentaram menor declínio da função renal. Além disso, o estudo destacou a importância do monitoramento contínuo da glicemia para evitar complicações renais. |
E2 | Pesquisadores identificaram marcadores iniciais de lesão renal em pacientes com diabetes tipo 2. Esses marcadores podem auxiliar no diagnóstico precoce e prevenção da nefropatia diabética. O estudo ressalta a importância da detecção precoce para evitar danos renais irreversíveis |
E3 | A hipertensão foi identificada como fator de risco significativo para a progressão da nefropatia diabética. O estudo enfatiza a necessidade de controle da pressão arterial para prevenir complicações renais. Além disso, destacou a importância do manejo integrado da hipertensão e diabetes. |
E4 | Pesquisadores encontraram uma correlação significativa entre biomarcadores séricos específicos e a progressão da doença renal diabética. Esses biomarcadores podem auxiliar no monitoramento e manejo da doença. O estudo sugere que a detecção precoce desses biomarcadores pode melhorar os resultados clínicos. |
E5 | O estudo demonstrou que consultas de enfermagem melhoram significativamente o conhecimento, autocuidado e qualidade de vida dos pacientes com diabetes. Além disso, destacou a importância da educação em saúde para promover mudanças positivas no comportamento. |
E6 | O estudo descreve que os enfermeiros enfrentam grandes desafios no programa Hiperdia, incluindo a sobrecarga de trabalho e a limitação de recursos para atender a alta demanda de pacientes com hipertensão e diabetes. Destaca a importância da atuação dos enfermeiros no acompanhamento e monitoramento dos pacientes, bem como na educação em saúde, porém, com a necessidade de melhorias estruturais para otimizar o atendimento. |
E7 | O estudo destaca que a hiperglicemia crônica descompensada é um fator crucial no desenvolvimento de lesões glomerulares, levando a complicações renais graves em pacientes com diabetes. Aborda a fisiopatologia dessas lesões e sua progressão. |
E8 | O estudo descreve a importância da atuação da enfermagem na prevenção da nefropatia diabética, destacando intervenções educacionais e de controle glicêmico em atenção primária como eficazes para reduzir a progressão da doença. |
E9 | O artigo revisa as abordagens medicamentosas mais recentes para o tratamento do diabetes tipo II, focando em novas terapias que melhoram o controle glicêmico e reduzem as complicações associadas. |
E10 | O estudo quantitativo revela um aumento na prevalência de diabetes mellitus no Brasil entre 2013 e 2019, destacando o impacto crescente da doença na saúde pública e a necessidade de políticas de prevenção e controle. |
E11 | A pesquisa revela um alto índice de morbimortalidade relacionado à insuficiência renal no Brasil, além de um crescente impacto econômico nos gastos públicos com a doença. O estudo sugere a necessidade de políticas mais eficazes para prevenção e controle da insuficiência renal, visando reduzir os custos e melhorar os resultados clínicos. |
E12 | O estudo analisou morbimortalidade e gastos públicos com insuficiência renal no Brasil. Revelou alta taxa de hospitalizações e mortalidade, especialmente em regiões pobres. Gastos públicos significativos foram identificados com tratamento e manutenção. Prevenção e detecção precoce podem reduzir morbimortalidade e gastos. Melhoria no acesso a serviços de saúde e educação em saúde são fundamentais. |
E13 | O estudo revelou a importância do cuidado individualizado ao paciente com diabetes mellitus. A abordagem de enfermagem focada nas necessidades específicas do paciente melhorou o controle glicêmico e a qualidade de vida. A intervenção de enfermagem também reduziu complicações relacionadas à doença. O estudo destaca a eficácia do cuidado de enfermagem personalizado. |
E14 | A análise mostrou que os enfermeiros desempenham papel fundamental no cuidado ao paciente com diabetes. A atuação dos enfermeiros foi eficaz na educação em saúde, monitoramento do controle glicêmico e prevenção de complicações. A pesquisa também destacou a necessidade de capacitação contínua dos enfermeiros. A atuação interdisciplinar foi essencial para o sucesso do cuidado ao paciente. |
DISCUSSÃO
Após a leitura minuciosa dos textos e das evidências apontadas, identificaram-se os principais temas abordados nas pesquisas que emergiram da análise de conteúdo, permitindo, a posteriori, a organização de duas (02) categorias temáticas, que serão apresentadas e discutidas a seguir.
Categoria 1: Diabetes tipo 2 e Insuficiência Renal Crônica: relações e fatores associados
A relação entre diabetes tipo 2 (DM2) e insuficiência renal crônica (IRC) é amplamente reconhecida na literatura científica, uma vez que a hiperglicemia persistente afeta progressivamente a função renal. Galiza-Garcia (2020) observa que a glicação de proteínas induzida pelo excesso de glicose gera respostas inflamatórias e lesões nos vasos renais, comprometendo a estrutura dos glomérulos. Esses efeitos cumulativos promovem uma redução gradual da capacidade de filtração dos rins, criando um cenário favorável para a instalação da IRC em indivíduos com DM2.
Estudos recentes revelam que a hiperglicemia crônica é um dos principais fatores de risco para a disfunção renal em pacientes com DM2. Conforme Morais (2022) sugere, as lesões causadas nos pequenos vasos renais resultam em glomerulosclerose e fibrose, processos que alteram a morfologia e a função renal. Esse mecanismo fisiopatológico evidencia que o DM2, quando mal controlado, predispõe o paciente ao desenvolvimento de complicações renais irreversíveis, impactando diretamente a progressão para a IRC.
Além dos aspectos fisiopatológicos, o estilo de vida do paciente com DM2 contribui para a evolução da doença renal. Estudos como o de Rodrigues e Costa (2022) destacam que hábitos como sedentarismo, dieta rica em gorduras e carboidratos e o consumo de tabaco aceleram a deterioração da função renal. Tais comportamentos aumentam o estresse oxidativo e a inflamação no organismo, amplificando os danos já causados pela hiperglicemia. A adoção de um estilo de vida saudável é, portanto, considerada um fator protetor contra o avanço da IRC nesses pacientes.
Avanços na farmacoterapia têm oferecido novas perspectivas para o tratamento do DM2, com efeitos significativos na preservação da função renal. O estudo de Carvalho et al. (2021) sobre os inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2) revela que esses medicamentos não só melhoram o controle glicêmico, mas também exercem um efeito direto sobre os rins, reduzindo o risco de deterioração da função renal. Essa classe de medicamentos tem demonstrado potencial em retardar a progressão da IRC em pacientes com DM2, representando um importante avanço na abordagem terapêutica.
Ademais, a pesquisa de Lima e Torres (2023) enfatiza o impacto de fatores dietéticos sobre a evolução da IRC em pessoas com DM2. Segundo os autores, uma dieta balanceada, com restrição de sódio e controle de proteínas, pode minimizar os efeitos deletérios da hiperglicemia nos rins, reduzindo o risco de sobrecarga renal. Dietas ricas em fibras, vegetais e frutas de baixo índice glicêmico são recomendadas para evitar picos de glicose e limitar os danos renais causados pelo DM2, proporcionando uma estratégia nutricional para prevenir complicações.
O impacto dos fatores socioeconômicos no controle do DM2 e na progressão para a IRC também é notável. Cardoso et al. (2022) analisam que pacientes de baixa renda enfrentam maiores dificuldades para acessar medicamentos, exames regulares e dietas específicas, o que contribui para o agravamento das condições renais. A vulnerabilidade social desses indivíduos agrava a dificuldade em manter um controle adequado da glicemia, ampliando o risco de complicações renais. Portanto, desigualdades socioeconômicas são um fator relevante na progressão do DM2 para a IRC.
Outro aspecto que tem atraído a atenção dos pesquisadores é o impacto da saúde mental sobre a progressão do DM2 e da IRC. A análise de Barbosa e Souza (2022) revela que condições emocionais, como estresse e depressão, são comuns em pacientes com doenças crônicas e podem influenciar negativamente o controle glicêmico. A saúde mental comprometida dificulta a adesão ao tratamento e intensifica o risco de complicações renais, criando uma relação bidirecional entre o controle do diabetes e o estado psicológico dos pacientes.
Galiza-Garcia (2020) explora os mecanismos fisiopatológicos do diabetes tipo 2, evidenciando a importância de intervenções precoces para evitar complicações. O conhecimento profundo sobre a fisiopatologia da doença permite que os enfermeiros implementem estratégias de cuidados mais informadas e eficazes. Isso, por sua vez, pode resultar em um melhor controle glicêmico e na prevenção de complicações associadas ao diabetes.
A análise de Morais (2022) sobre as complicações renais causadas pela hiperglicemia enfatiza a importância de um manejo adequado do diabetes para prevenir lesões glomerulares. Os enfermeiros têm um papel crucial na monitorização dos níveis de glicemia e na identificação precoce de complicações. Um controle rigoroso do diabetes pode reduzir significativamente a incidência de doença renal, melhorando os resultados de saúde a longo prazo.
Categoria 2: Atuação e cuidados de saúde e enfermagem necessários para prevenção de insuficiência renal em pacientes com Diabetes tipo 2
Diante da crescente prevalência de diabetes e insuficiência renal, destaca-se a importância da atuação da enfermagem no cuidado dessas condições crônicas. De acordo com E12 (Carvalho et al. 2021), os enfermeiros exercem uma função crucial no cuidado ao paciente diabético. Eles demonstraram eficácia na educação em saúde, monitoramento glicêmico e prevenção de complicações. Além disso, a pesquisa ressalta a importância da capacitação contínua dos profissionais de enfermagem. A abordagem interdisciplinar é fundamental para o sucesso do cuidado ao paciente.
Estudo de (Amorim et al., 2019) também discute a relação entre diabetes e complicações renais, evidenciando como a hiperglicemia pode levar a danos renais. A conexão entre a doença renal e diabetes ressalta a necessidade de uma abordagem integrada na atenção à saúde, onde os profissionais de enfermagem desempenham um papel central em monitorar e gerenciar esses fatores de risco. Com uma formação adequada, os enfermeiros podem identificar sinais precoces de complicações e implementar medidas para mitigá-las.
Bellary et al. (2021) destacam a importância de considerar as características específicas de pacientes idosos com diabetes tipo 2, pois a presença de comorbidades pode complicar o manejo da doença. A individualização dos cuidados é essencial para melhorar a adesão ao tratamento e a qualidade de vida. Nesse contexto, os enfermeiros podem adaptar suas abordagens para atender às necessidades únicas dessa população, contribuindo para um melhor controle glicêmico e redução de complicações.
O envelhecimento da população é um fenômeno global, sendo particularmente significativo em países em desenvolvimento. No Brasil, o aumento da população idosa reflete tanto fatores demográficos quanto mudanças sociais e culturais, que atuam como causas e efeitos desse crescimento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa deve triplicar nos próximos 40 anos, passando de 19,6 milhões (10% da população) em 2010 para 66,5 milhões de pessoas em 2050, o que representará cerca de 29,3% da população total (RAMOS et al., 2019).
Por isso, as intervenções de suporte ao autocuidado, como as discutidas por Lima (2019), são cruciais para capacitar pacientes a gerenciar suas condições de saúde de maneira eficaz. A educação em saúde fornecida pelos enfermeiros ajuda os pacientes a entenderem a importância do monitoramento da glicemia e da adesão ao tratamento. Assim, as consultas de enfermagem se tornam um espaço vital para o fortalecimento do autocuidado, promovendo um engajamento ativo dos pacientes em sua própria saúde (Dzhedzheva,2020).
Nesse contexto, Maranhão (2021) aponta os desafios enfrentados pelos enfermeiros no programa Hiperdia, que é voltado para pacientes com hipertensão e diabetes. A sobrecarga de trabalho e a falta de recursos são barreiras significativas que podem comprometer a eficácia do atendimento. É crucial que as instituições de saúde reconheçam e abordem esses desafios, proporcionando suporte adequado aos enfermeiros para que possam desempenhar suas funções de maneira eficaz.
Os dados de Reis et al. (2022) sobre a evolução do diabetes mellitus no Brasil ressaltam a necessidade urgente de políticas de saúde pública voltadas para a prevenção e controle da doença. Com o aumento da prevalência, é imperativo que ações coletivas sejam implementadas para educar a população e fornecer acesso a cuidados adequados. A atuação da enfermagem deve ser integrada a essas políticas, garantindo que a educação em saúde chegue a todos os segmentos da população.
A educação continuada dos profissionais de enfermagem é um fator determinante para a eficácia das intervenções em saúde, especialmente no contexto do diabetes e insuficiência renal. Como ressaltado por Nascimento (2020), a formação contínua e a atualização sobre novas diretrizes e tratamentos são essenciais para que os enfermeiros estejam preparados para lidar com a complexidade dessas condições. Investir em capacitação permite que os enfermeiros desenvolvam habilidades para orientar os pacientes, aplicar as melhores práticas e adaptar os cuidados conforme a evolução do quadro clínico de cada paciente.
Adicionalmente, o suporte familiar e comunitário desempenha um papel vital na gestão de doenças crônicas. Conforme discutido por Ibrahim (2023), integrar a família no processo de cuidado pode proporcionar um ambiente de apoio que encoraja a adesão ao tratamento e práticas de autocuidado. Os enfermeiros podem facilitar essa integração, promovendo discussões e atividades que envolvam os familiares no processo de cuidado, o que pode resultar em melhores desfechos clínicos para os pacientes.
Outro aspecto importante é a necessidade de uma abordagem interdisciplinar no manejo do diabetes e da insuficiência renal. Estudos, como o de Chawla et al. (2016), indicam que a colaboração entre diferentes profissionais de saúde, como médicos, nutricionistas e enfermeiros, pode melhorar significativamente o cuidado ao paciente. A comunicação eficaz entre as equipes de saúde é essencial para garantir que todos os aspectos das necessidades do paciente sejam atendidos, resultando em uma abordagem mais holística e eficaz.
Por fim, a revisão clínica da National Kidney Foundation (2020) enfatiza que ações imediatas são essenciais para a prevenção da doença renal diabética. O papel dos enfermeiros na implementação de estratégias de prevenção e no manejo adequado das condições de saúde é fundamental para garantir que os pacientes recebam os cuidados necessários. A colaboração interprofissional e o suporte contínuo são essenciais para enfrentar os desafios apresentados pelas doenças crônicas, garantindo que os pacientes possam levar uma vida saudável e produtiva.
A atuação do enfermeiro na prevenção da insuficiência renal em pacientes com diabetes tipo 2 é de suma importância. Os resultados obtidos no presente estudo demonstram que uma intervenção preventiva eficaz do enfermeiro pode diminuir significativamente a progressão para insuficiência renal nesses pacientes (Smith et al., 2020).
A orientação quanto à adesão ao tratamento medicamentoso e modificações no estilo de vida, como dieta adequada e exercício físico regular, foram as estratégias mais eficazes na prevenção da doença renal (Johnson et al., 2019). Nesse sentido, foi observado que o conhecimento profundo do enfermeiro sobre a fisiopatologia da doença é fundamental para o planejamento das ações preventivas (Martins et al., 2018).
Além disso, a atuação do enfermeiro na educação em saúde mostra-se como uma estratégia eficiente para aumentar a adesão do paciente ao tratamento e prevenir complicações (Jones et al., 2021). Este estudo corrobora com os achados de Davis et al. (2020), que evidenciaram o papel crucial da educação em saúde ministrada pelo enfermeiro na prevenção de complicações crônicas do diabetes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da pesquisa realizada, foi possível constatar a importância significativa do enfermeiro na prevenção da insuficiência renal em pacientes com diabetes tipo 2. Por meio de uma abordagem educativa eficaz, o enfermeiro pode capacitar os pacientes para gerenciar melhor a sua doença, prevenindo assim a progressão para insuficiência renal.
Os resultados mostraram que as intervenções educacionais realizadas pelos enfermeiros resultaram em melhor controle glicêmico e monitoramento da pressão arterial entre os pacientes com diabetes tipo 2. Estes fatores são essenciais para prevenir complicações como a insuficiência renal.
No entanto, também se observou que existem barreiras à implementação efetiva destas intervenções educativas. Estas incluem falta de tempo, recursos limitados e falta de conhecimento atualizado sobre diabetes e insuficiência renal por parte dos enfermeiros.
Dessa forma, conclui-se que é necessária uma maior ênfase na formação contínua dos enfermeiros nesta área específica. Também é importante que as organizações de saúde proporcionem o suporte necessário para permitir que os enfermeiros tenham tempo suficiente para realizar intervenções educativas eficazes.
Assim, esta pesquisa destacou o papel vital do enfermeiro na prevenção da insuficiência renal em pacientes com diabetes tipo 2 e enfatizou a necessidade de maior apoio e formação contínua para estes profissionais de saúde.
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