ATUAÇÃO DA MEDICINA PALIATIVA EM PACIENTES PSIQUIÁTRICOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10899671


Thiago Sousa Sampaio 1
Marco Túlio Aguiar Mourão Ribeiro 2


Resumo

O cuidado paliativo, destinado aos indivíduos que estão enfrentando dificuldades associadas as doenças que ameaçam a vida, visa proporcionar conforto e melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares. Portanto, o profissional de saúde deve focar nas necessidades do paciente, e o tratamento em saúde mental deve ofertar novas possibilidade para modificar e melhorar as condições de vida destes indivíduos. Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar atuação da medicina paliativa em pacientes psiquiátricos. Trata-se de uma revisão integrativa qualitativa da literatura realizada em novembro de 2023 através das bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System (MEDLINE); Campus Virtual de Saúde Pública (CVSP – Brasil); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); e Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências de la Salud (IBECS). Foram identificados 182 artigos, sendo que 176 documentos foram excluídos após aplicação dos critérios de exclusão e inclusão. A amostra final resultou em 6 estudos, na qual três foram publicados em 2019, um em 2020, um em 2021 e um em 2022. Concluiu-se, então, que é comum existir atraso nos diagnósticos de fim de vida, falta de suporte para os sintomas, presunção de incapacidade na tomada de decisões, e barreiras que as condições psiquiátricas graves podem trazer ao cuidado.

Palavras-chave: Cuidados Paliativos. Transtornos Mentais. Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida.

Abstract

Palliative care, aimed at individuals who are experiencing difficulties associated with life-threatening illnesses, aims to provide comfort and improve the quality of life of the patient and their family members. Therefore, the health professional must focus on the patient’s needs, and mental health treatment must offer new possibilities to modify and improve the living conditions of these individuals. Therefore, this study aims to analyze the role of palliative medicine in psychiatric patients. This is a qualitative integrative review of the literature carried out in November 2023 through databases: Medical Literature Analysis and Retrieval System (MEDLINE); Virtual Public Health Campus (CVSP – Brazil); Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS); and Spanish Bibliographic Index in Health Sciences (IBECS). 182 articles were identified, of which 176 documents were excluded after applying the exclusion and inclusion criteria. The final sample resulted in 6 studies, of which three were published in 2019, one in 2020, one in 2021 and one in 2022. It was concluded, then, that it is common for there to be delays in end-of-life diagnoses, lack of support for symptoms, presumption of inability to make decisions, and barriers that serious psychiatric conditions can bring to care.

Keywords: Palliative Care. Mental Disorders. Hospice Care.

1   INTRODUÇÃO

Conforme apontado por Monteiro, Oliveira e Vall (2010, p. 243), a palavra Palliare tem sua origem no Latim, tendo o significado de proteger, amparar, cobrir e abrigar, com o objetivo não apenas de curar, mas também de cuidar como principal foco.

Os cuidados paliativos são abordagens que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares que passam por dificuldades associadas as doenças que ameaçam a vida. Tem como objetivo a prevenção e o alívio do sofrimento, através da identificação precoce, avaliação de forma eficaz e tratamento para melhora da dor e de outros sintomas físicos, psicossociais ou espirituais. O objetivo é proporcionar conforto físico, emocional, social e espiritual, aliviando o sofrimento e melhorando a qualidade de vida do paciente e de seus familiares/cuidadores da melhor maneira possível. Essa abordagem ganha destaque quando não há mais terapias modificadoras de doença disponíveis, pois não se concentra em enfrentar a doença em si, mas sim em gerenciar os sintomas e limitações de forma ideal (Trachsel et al., 2016; WHO, 2023).

Os transtornos mentais são condições de saúde que afetam o funcionamento emocional, psicológico e comportamental de uma pessoa. Eles podem ser causados por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais. Existem diversas classificações para os transtornos mentais, de acordo com os sintomas e características específicas de cada condição (Rocha; Hara; Paprocki, 2015; Sena, 2022).

Alguns dos transtornos mentais mais comuns incluem a depressão, ansiedade, transtornos de personalidade, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno obsessivo- compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia (Santos, 2019).

É importante ressaltar que os transtornos mentais são condições médicas legítimas que podem afetar qualquer pessoa, independentemente de sua idade, gênero, raça ou situação econômica. É fundamental buscar ajuda profissional ao identificar sintomas de um transtorno mental, pois o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente (Zanello, 2020).

A prática em saúde mental não menciona diretamente cuidados paliativos, portanto, os cuidados oferecidos aos pacientes não são intitulados dessa forma. No entanto, diversas abordagens clínicas atuais na área da saúde mental podem ser caracterizadas como paliativas, uma vez que se concentram em aliviar os sintomas das pessoas que lidam com doenças mentais, em vez de buscar a cura ou a modificação da condição. Dessa forma, muitas das intervenções realizadas na saúde mental têm como objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacientes, sem necessariamente buscar a remissão, o que as torna, de certa forma, paliativas.

Além disso, ao considerar a assistência em Saúde Mental como um campo de atuação interdisciplinar, é essencial que as ações assistenciais busquem promover a inclusão social do indivíduo. O foco do profissional deve estar nas necessidades do paciente, sejam elas biológicas, sociais ou econômicas, e não mais na busca pela cura como objetivo principal das intervenções. Dessa forma, o tratamento em saúde mental deve oferecer novas possibilidades para modificar e melhorar as condições e estilo de vida do paciente, priorizando a promoção e manutenção da saúde em vez da simples cura de doenças. É fundamental compreender que a vida pode ser percebida, experimentada e vivenciada de diversas formas. Para isso, é necessário enxergar a pessoa em sua completude, levando em consideração seus desejos, valores e decisões (Leão; Barros, 2008; Brasil, 2013).

Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar a atuação da medicina paliativa em pacientes psiquiátricos.

2   METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo revisão integrativa qualitativa da literatura para consolidar os resultados obtidos na pesquisa. Os achados fornecem uma análise abrangente do tema, oferecendo informações valiosas para melhorar as práticas de promoção e prevenção da saúde (Souza et al., 2022).

O processo de revisão integrativa inclui as seguintes etapas: 1) identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados;

4) avaliação dos estudos selecionados; 5) interpretação dos resultados; e 6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento (Mendes; Silveira; Galvão, 2008).

A pesquisa bibliográfica foi realizada, em novembro de 2023, nas plataformas: Medical Literature Analysis and Retrieval System (MEDLINE); Campus Virtual de Saúde Pública (CVSP – Brasil); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); e Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências de la Salud (IBECS).

Para a busca, utilizaram-se descritores controlados selecionados dos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e do Medical Subject Headings (MeSH). Os termos “Cuidados Paliativos/ Soins palliatifs”; “Transtornos Mentais/ Mental Disorders”; Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida/Hospice Care” foram combinados utilizando o operador booleano AND (Tabela 1). Dessa forma, tendo como pergunta norteadora: “Qual a atuação da medicina paliativa em pacientes psiquiátricos?”.

Tabela 1 – Estratégias de busca utilizadas nas bases de dados. Fortaleza, Ceará, 2023.

Base de dadosEstratégia de busca
MEDLINESoins palliatifs AND Mental Disorders AND Hospice Care
LILACSCuidados Paliativos AND Transtornos Mentais AND Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida
IBECSCuidados Paliativos AND Transtornos Mentais AND Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida

Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

3   RESULTADOS

Durante a pesquisa dos estudos, foram encontrados 182 artigos nas bases de dados, o que representa um número considerado baixo devido à escassez de produção científica sobre cuidados paliativos. Após a aplicação de critérios de exclusão e inclusão, além da remoção de documentos duplicados, foram selecionadas 89 publicações. Destas, apenas 14 artigos foram escolhidos para uma análise mais aprofundada. Após o processo de seleção, leitura, extração e organização dos dados, a amostra final consistiu em 06 artigos.

Na Figura 1 são representadas as etapas de cada processo de acordo com o modelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA) (Page et al., 2021).

Figura 1 – Fluxograma da busca nas bases de dados. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2023.

Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

É fundamental destacar que, na pesquisa em questão, foram selecionados seis artigos para análise. Destes, três foram publicados em 2019, um em 2020, um em 2021 e um em 2022. Na Tabela 2, é possível verificar a listagem dos artigos juntamente com suas respectivas codificações de estudo por número, título, autores/ano, objetivo, metodologia e resultados.

Tabela 2 – Distribuição dos artigos selecionados. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2023.

N°.TítuloAutor/anoObjetivoMetodologiaResultado
1End-of-life care for people with severe mental illness: mixed methods systematic review and thematic synthesis of published case studies (the MENLOC study)Coffey et al. (2022).Sintetizar material de estudo de casos relacionados à organização, provisão e recepção de cuidados para pessoas com condições psiquiátricas que possuem diagnóstico de fim de vida.Revisão sistemática com dados de vários países e bases de dados: MEDLINE, PsycINFO, EMBASE, HMIC, AMED, CINAHL, CENTRAL, ASSIA, DARE e Web of Science.Atraso no diagnóstico, capacidade de decisão e dilemas, futilidade médica, redes de suporte e provisão de cuidados.
2End of life care for people with severe mental illness: mixed methods systematic review and thematic synthesis (the MENLOC study)Edwards et al. (2021).Sintetizar pesquisas e políticas em língua inglesa, internacional, e orientações do reino unido relacionadas à organização, provisão e cuidados para pessoas com doença mental grave.Revisão sistemática.Síntese abrangente foi produzida usando quatro temas: estrutura do sistema; problemas profissionais; contextos de cuidado; e viver com doença mental grave.
3A palliative care approach in psychiatry: clinical implicationsStrand, Sjöstrand e Lindblad (2020).Contribuir para a crescente literatura sobre uma abordagem paliativa em psiquiatria.Guia de prática clínico.Muitos tratamentos psiquiátricos podem ser paliativos, com necessidade de incluir metas de cuidado e priorizar qualidade de vida.
4End of life care for people with alcohol and drug problems: findings from a rapid evidence assessmentWitham, Galvani e Peacock (2019).Explorar as evidências em relação aos cuidados de fim de vida para pacientes com uso problemático de substâncias.Revisão sistemática.Foram definidas três categorias: a) manejo de dor; b) indivíduos em situação de rua e grupos marginalizados; e c) artigos relacionados ao álcool.
5On the margins of death: a scoping review on palliative care and schizophreniaRelye et al. (2019).Ampliar o entendimento de cuidados paliativos para pacientes com esquizofrenia.Revisão sistemática/guia de prática clínica.A importância de práticas obrigatórias de treinamento, e as lacunas na pesquisa sobre cuidados de fim de vida para indivíduos com esquizofrenia.
6Acceptability of palliative care approaches for patients with severe and persistent mental illness: a survey of psychiatrists in switzerlandTrachsel et al. (2019).Avaliar a aceitabilidade da abordagem paliativa em pacientes com doença mental persistente e severa.Pesquisa transversal com 1.311 psiquiatras sobre cuidados gerais e cuidados paliativos em pacientes com condições severas.Psiquiatras compreendem o alto risco de morte, e considera os cuidados paliativos adequados limitando a discussão a morte e limitação terapêutica.

Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

4   DISCUSSÃO

Dentre os casos relatados, é frequente a ocorrência de atrasos e inadequações nos diagnósticos de fim de vida, ocasionados pela complexidade dos quadros de saúde mental dos pacientes ou pela falta de experiência dos profissionais de saúde mental. Além disso, Coffey et al. (2022) demonstraram a recorrência da decisão pela não continuidade com o tratamento, complicado pela falta de insight em alguns pacientes, ou em casos como de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), em que alguns tratamentos de fim de vida podem ser similares às condições que levaram ao trauma. O cuidado de pacientes psiquiátricos em fim de vida é um desafio complexo e delicado. Muitas vezes, esses pacientes são vistos como incapazes de tomar decisões sobre seu tratamento, mesmo que possam ter capacidade para isso. Ademais, a falta de diretivas antecipadas pode levar a decisões sendo tomadas por tutores ou curadores, muitas vezes contra os desejos do paciente. Por fim, ressalta que o tratamento de pacientes psiquiátricos em fim de vida deve ser adequado e humanizado, respeitando suas necessidades e autonomia (Coffey et al., 2022).

Conforme Edwards et al. (2021), existem desafios no Reino Unido em relação às políticas de fim de vida para pacientes com condições psiquiátricas devido à falta de dados e suporte social, além das dificuldades dos cuidadores e profissionais de saúde mental em lidar com esses pacientes. Os generalistas atuam como intermediários no acesso aos cuidados paliativos, e pacientes com esquizofrenia têm menor probabilidade de se consultar com especialistas próximos à morte. É necessário abordar as questões de saúde mental para atender às necessidades desses pacientes, que enfrentam obstáculos como dificuldades de comportamento e linguagem e a falta de insight e percepção sobre sua doença.

Um artigo de revisão aborda temas específicos, como o manejo da dor, indivíduos em situação de rua e questões relacionadas ao álcool. Destaca a necessidade de uma abordagem compreensiva no manejo da dor, falhas nos serviços para indivíduos marginalizados e a importância do rastreio de pessoas com dificuldades com álcool. Mostra que cuidados paliativos poderiam ser oferecidos em abrigos e que diretivas avançadas são bem recebidas por moradores de rua. Destaca também a preferência desses pacientes por evitar intervenções heroicas e manter o controle de suas vidas. Além disso, ressalta a importância de preencher lacunas na atenção a esses pacientes para garantir acesso a cuidados (Witham; Galvani; Peacock, 2019).

Em outro estudo de revisão realizado por Witham, Galvani e Peacock (2019), foram encontradas quatro categorias temáticas em sua revisão: estigma; capacidade de decisão para consentimento informado; melhores práticas; e barreiras. Quanto ao estigma, foi evidenciado que pacientes com esquizofrenia tem menos consultas com psiquiatras ao fim de vida, assim como pacientes com esquizofrenia no fim de vida recebem menos cuidado agudo, cuidados domiciliares e manejo de dor do que pacientes sem a condição. Explicações para isto seriam a alta taxa de situação de rua, aprisionamento e subtratamento de sintomas físicos nessa população. Além disso, foi visto que médicos atribuem sintomas à condição psiquiátrica, e, quando isso ocorre, pacientes têm menor probabilidade de serem referenciados para cuidado especializado necessário. Quanto à segunda categoria, foi aventado que indivíduos com esquizofrenia demonstraram interesse em discussões relacionadas ao fim de vida e possuem habilidade de comunicar suas preferências. Apesar disso, cuidadores geralmente associam o diagnóstico à incapacidade de tomada de decisões como consequência de incompetência e fragilidade emocionais, seguido de segregação nas discussões de plano avançado de cuidados.

Um dos pontos também abordados é a importância das práticas de cuidado, que incluem intervenções psicossociais como musicoterapia, abordagem espiritual, mindfullness, psicoterapia e terapia da dignidade. Estas devem ser priorizadas em relação às práticas de farmacologia, com monitoramento de interações medicamentosas e uma menor taxa de prescrição para alívio da dor. Por fim, o estudo aponta como barreiras a comunicação, a formação dos cuidadores e profissionais em saúde mental e a disponibilidade de acesso aos serviços de saúde (Witham; Galvani; Peacock, 2019).

Também são citados três diferentes cenários de condições psiquiátricas relacionadas a sofrimento intenso: anorexia nervosa grave e prolongada; esquizofrenia resistente ao tratamento; e tendência crônica ao suicídio e automutilação persistente no transtorno de personalidade borderline. Em relação à anorexia nervosa, cerca de 25% dos pacientes não alcançam remissão a longo prazo, com artigos mostrando a ineficácia dos tratamentos médicos, levando à morte por desnutrição extrema ou por complicações de tratamentos agressivos. O estudo também destaca a frustração e tratamentos indesejados causados por múltiplos ciclos de alta e retorno aos cuidados devido à falta de motivação dos pacientes. Propõe-se que o foco no aumento da qualidade de vida pode ser uma solução para este problema, destacando programas que visam a reintegração dos pacientes na sociedade e a prevenção de complicações, em vez de apenas restaurar o peso corporal, permitindo uma transição suave entre cuidados paliativos e curativos (Strand; Sjöstrand; Lindblad, 2020).

Em relação à esquizofrenia, é comum que a doença se torne crônica, com crises graves e persistentes que afetam a qualidade de vida. Recomenda-se o uso de clozapina e o incentivo à participação social, apesar das dificuldades. As falhas no tratamento podem levar à desesperança, mas a transição para o tratamento paliativo pode oferecer controle de sintomas e melhor qualidade de vida, através de intervenções farmacológicas e biopsicossociais. Parte dos pacientes com transtorno de personalidade borderline evoluem com comportamentos suicidas crônicos, sendo que a internação não previne o suicídio em pacientes crônicos. Uma abordagem paliativa, com intervenções como primeiros socorros e ensino de lesões menos prejudiciais, poderia reduzir a autoinjúria e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Por outro lado, a aplicação de um cuidado de “tolerância zero” poderia piorar as lesões e levar ao suicídio, sendo um assunto controverso (Strand; Sjöstrand; Lindblad, 2020; Jorge; Ganem, 2021; Silva, 2023).

O último artigo avaliado ressalta que quase todos os psiquiatras acreditam que condições psiquiátricas severas podem ser doenças com critérios de terminalidade, e que curar as doenças tem menor prioridade do que prover qualidade de vida. Foi levantado por alguns participantes a compreensão de que a abordagem paliativa seria similar a “desistir” dos pacientes, com percepções diferentes sobre cuidados paliativos. A partir de análise de três casos “vinhetas” (Anorexia nervosa; Esquizofrenia; e Transtorno depressivo maior), mostrou- se que os médicos acreditavam que o tratamento curativo seria fútil, achado que se relaciona com a importância das metas de cuidado: qualidade de vida ao invés de tratamento curativo.

Foi visto ainda que uso de termos alternativos ao cuidado paliativo, como cuidado de suporte, traria mais aceitação ao cuidado (Trachsel et al., 2019).

5 CONCLUSÃO

Após uma leitura organizada dos trabalhos, percebe-se que é comum haver atraso nos diagnósticos de fim de vida e falta de suporte para os sintomas, muitas vezes relacionados a condições psiquiátricas subjacentes. Também é comum a presunção de incapacidade de tomada de decisões e as barreiras que condições psiquiátricas graves podem trazer ao cuidado, juntamente com a dificuldade dos profissionais em combinar abordagens curativas e paliativas para os pacientes. O artigo também aborda questões relevantes sobre transtornos relacionados ao álcool, anorexia nervosa, esquizofrenia, depressão e transtorno borderline.

Dada as limitações deste estudo, ressalta-se a falta de pesquisas que não sejam revisões de literatura e que se concentrem na descrição dos cuidados paliativos destinados a pacientes com condições psiquiátricas. Recomenda-se, assim, a realização de estudos com abordagens metodológicas mais variadas e direcionadas para este tema específico, contribuindo assim para embasamento científico de cuidados e ações direcionados aos transtornos mentais, melhorando a assistência prestada a esses pacientes.

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1 Residente em Medicina Paliativa pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: Thiagosampaio9595@gmail.com
2 Docente do Curso Superior de Medicina do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: marcotuliomfc@ufc.br