ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO ACOMPANHAMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

THE PERFORMANCE OF PHYSIOTHERAPY IN MONITORING AUTISTIC SPECTRUM DISORDER: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10075062


Janaina Gomes Rocha Henrique2
Brenda Varão Bogea 3


RESUMO

Este estudo aborda a atuação da fisioterapia no acompanhamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) por meio de uma revisão integrativa. O problema investigado é a compreensão das intervenções fisioterapêuticas e seu impacto no TEA. Os objetivos são explorar e compreender o papel da fisioterapia, examinando intervenções, resultados e impacto na qualidade de vida. Para isso, foi realizada uma revisão sistematizada da literatura científica. A metodologia adotada neste estudo consistiu em uma revisão integrativa da literatura. Para a coleta de dados, foram utilizadas as seguintes bases de dados: Scielo, PubMed, Medline e Pedro. O período de inclusão abrangeu estudos publicados nos últimos 5 anos, sendo considerados artigos em língua inglesa e portuguesa. Os resultados ressaltam a diversidade de abordagens utilizadas e apontam para melhorias nas habilidades motoras, funcionais e sociais dos indivíduos com TEA. Conclui-se que a fisioterapia desempenha um papel crucial no tratamento multidisciplinar do TEA, enfatizando a importância de abordagens personalizadas para otimizar o acompanhamento.

Palavra-Chave: Transtorno do Espectro Autista. Fisioterapia. Habilidades Motoras.

ABSTRACT

This study addresses the role of physiotherapy in monitoring Autism Spectrum Disorder (ASD) through an integrative review. The problem investigated is the understanding of physiotherapeutic interventions and their impact on ASD. The objectives are to explore and understand the role of physiotherapy, examining interventions, outcomes and impact on quality of life. To this end, a systematic review of the scientific literature was carried out. The methodology adopted in this study consisted of an integrative literature review. For data collection, the following databases were used: Scielo, PubMed, Medline and Pedro. The inclusion period covered studies published in the last 5 years, considering articles in English and Portuguese. The results highlight the diversity of approaches used and point to improvements in the motor, functional and social skills of individuals with ASD. It is concluded that physiotherapy plays a crucial role in the multidisciplinary treatment of ASD, emphasizing the importance of personalized approaches to optimize monitoring.

Keyword: Autism Spectrum Disorder. Physiotherapy. Motor Skills.

1. INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio neuropsiquiátrico complexo que se manifesta por meio de desafios na comunicação, interação social e comportamentos restritos e repetitivos. Os comprometimentos advindos do autismo trazem impactos ao autista e sua família, que devem se ajustar às novas demandas e às exigências advindas da condição de deficiência da criança (HOFZMANN, et al., 2019).

A crescente prevalência do TEA tem levado a um aumento significativo na busca por abordagens terapêuticas que possam otimizar o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas afetadas por essa condição. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que há cerca de 2 milhões de autistas no Brasil. A população total no país é de 200 milhões de habitantes, o que significa que 10% da população estaria no espectro (IBGE, 2023).

De antemão, o TEA é um transtorno marcado por comprometimento no neurodesenvolvimento, isto é, um conjunto de déficit que apresenta três tipos de graus: o leve, o moderado e o severo, sendo uma condição crônica. Não existe uma etiologia sobre esse transtorno, porque não há uma definição de um marcador biológico, entretanto os fatores neurobiológicos, genéticos e no meio ambiente são pontos que interagem no indivíduo e influenciam (CARMO et al., 2019).

As características do TEA implicam em dificuldades notáveis na interação social, incluindo a manutenção do contato visual, a interpretação de expressões faciais e a compreensão de gestos comunicativos, na expressão das próprias emoções e na formação de amizades. Segundo Almeida e Neves (2022), o TEA, é considerado um transtorno que apresenta todas as características autistas visto que, há uma grande diferença de um autista para o outro.

Dessa maneira, é necessário ressaltar que as características motoras do TEA podem ser altamente heterogêneas e podem ser influenciadas por fatores individuais, como idade, grau de gravidade do TEA e comorbidades associadas. Nesse contexto, a fisioterapia tem sido explorada como uma abordagem terapêutica que vai além da melhoria das habilidades motoras. Pode-se destacar que o desenvolvimento motor, social e de comunicação são mutuamente interdependentes e interconectados, o que reforça o valor e a importância da fisioterapia na promoção de saúde, prevenção de agravos e facilitação da participação social da criança e adolescente com TEA (CYNTHIA, DUCK, MCQUILLAN, 2019).

O desenvolvimento psicomotor evidenciou melhorias significativas, incluindo a diminuição de movimentos estereotipados e ansiedade, bem como um aumento na força, coordenação motora e interação social em crianças que receberam apoio de fisioterapia. Além disso, a fisioterapia contribuiu para uma maior independência desses jovens (NEVES et al., 2022). A reabilitação da pessoa com TEA envolve abordagens multidisciplinares com o objetivo de alcançar a melhora progressiva da qualidade de vida desses indivíduos com TEA. (EINSTEIN ENSINO E PESQUISA, 2021).

A intervenção fisioterapêutica para crianças e adolescentes com TEA envolve um programa de atividades criteriosamente selecionadas, que abrangem a conscientização corporal, o desenvolvimento de habilidades de planejamento motor, o aprimoramento das habilidades de equilíbrio motor bilateral e o refinamento da coordenação motora fina, entre outros aspectos essenciais (STINS; EMCK, 2018; LONDON et al., 2020; BAGGIO et al., 2021).

O objetivo principal deste estudo é conduzir uma análise abrangente das intervenções fisioterapêuticas empregadas no suporte a indivíduos diagnosticados com TEA e avaliar seu efeito na melhoria da qualidade de vida. Este estudo visa enfatizar a atribuição fundamental do fisioterapeuta na promoção do desenvolvimento motor em indivíduos com TEA.

2. METODOLOGIA

Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, cujo objetivo foi realizar uma revisão integrativa da literatura científica disponível sobre a atribuição da fisioterapia no cuidado e suporte a indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A pergunta norteadora desta revisão integrativa foi formulada da seguinte maneira: “Quais são as intervenções fisioterapêuticas utilizadas no acompanhamento de indivíduos com TEA e qual é o impacto dessas intervenções na qualidade de vida e habilidades motoras desses indivíduos?”

A metodologia envolveu a busca sistemática de artigos científicos durante o período de agosto e setembro de 2023 em bases de dados renomadas, como Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MedLine/PubMed), Scientific Electronic Libray Online (Scielo), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Physiotherapy Evidence Database (PEDro). Os descritores de busca utilizados foram “Transtorno do Espectro Autista”, “Fisioterapia”, “Habilidades motoras”, além da associação entre os termos utilizando o operador booleano AND. O idioma de inclusão na busca foi o português e inglês a fim de abranger uma ampla gama de estudos relevantes e facilitar a compreensão e análise dos artigos.

Os critérios de inclusão definidos para esta pesquisa abrangem estudos que investigaram o trabalho da fisioterapia no acompanhamento de criança com TEA, publicados no período de 2019 a setembro de 2023, com resultados relacionados a melhorias nas habilidades motoras, funcionalidade ou qualidade de vida. Os estudos que não tinham acesso ao texto completo ou que ofereciam informações insuficientes para uma análise completa foram excluídos, mesmo apresentando resultados positivos, como também pesquisas bibliográficas, teses, monografias.

A pesquisa identificou inicialmente 222 artigos que após passarem pelos critérios de elegibilidade se reduziram a 7. O processo de seleção está demonstrado através do fluxograma na figura 1 (PRISMA). As informações extraídas dos artigos selecionados estão agrupadas e organizadas nos quadros 1 e 2, elaboradas através do Microsoft Word.

Figura 1 – Fluxograma do Processo de Seleção de Artigos

Fonte: Elaborado pelos autores.

3. RESULTADOS

Inicialmente, 222 artigos foram identificados por meio de buscas nas bases de dados Scielo, Medline/PubMed, Pedro e Lilacs. No entanto, após uma triagem detalhada com base nos critérios de elegibilidade estabelecidos, apenas 7 artigos foram selecionados para inclusão nesta revisão integrativa.

A literatura revisada destaca diversas intervenções realizadas por fisioterapeutas em crianças e adolescentes com TEA, que englobam exercícios abordando aspectos motores, cognitivos, sensoriais, emocionais e de interação social, além de intervenções como hidroterapia, estimulação transcraniana, estimulação sensorial e motora, exercícios de coordenação e equilíbrio, bem como o desenvolvimento de habilidades de equilíbrio, coordenação e motricidade. Logo, as principais informações estão explanadas e divididas nos Quadros 1 e 2.

Quadro 1: As principais intervenções do fisioterapeuta em crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

AutoresPalavras-chaveObjetivo daPesquisaMétodo
1Moraes et al, (2022).Transtorno do Espectro Autista; realidade virtual; exercício; habilidades motoras; frequência cardíaca.Avaliar se a prática longitudinal de uma atividade em ambientes virtuais e reais melhora o desempenho motor e se essa melhoria é transferida para uma prática posterior.Um Estudo Experimental.
2Jia, W., & Xie, J. (2021).Transtorno do Espectro Autista; Exercício físico; Destreza Motora.Este artigo realiza uma intervenção com exercícios em crianças com TEA para estimular seu capacidade de exercício e melhorar sua capacidade de autocuidado.Intervenção Experimental.
3Brittany, G., et al, 2019.Estabilidade Postural; Motor; Videogame; Intervenções Baseadas em Tecnologia.Investigar se um treinamento de equilíbrio com biofeedback visual, implementado por meio de um videogame melhora a estabilidade postural em jovens com TEA.Estudo Piloto.
4Jamie, M., et al, 2022.Transtorno do espectro do autismo; Habilidades motoras grossas; Participação.Examinar as relações entre habilidades motoras grossas e participação em crianças em idade pré-escolar com TEA. Vinte e duas crianças com TEA participaram do estudo.Estudo piloto.
5Ansari, S., Hosseinkhanz adeh, A. A., AdibSaber, F., Shojaei, M., & Daneshfar, A. (2020).Equilíbrio estático. Equilíbrio dinâmico. Crianças autistas. Técnicas de Kata. Natação.Comparar o efeito de um programa de exercícios terrestres e de natação nas habilidades de equilíbrio.Estudo de ensaio clínico randomizado
6Mills, W., Kondakis, N., Orr, R., Warburton, M., & Milne, N (2020).Transtorno do Espectro Autista; comportamentos; hidroterapia; fisioterapia; Criança Lista de verificação de comportamento.Determinar se a hidroterapia influencia comportamentos que impactam a saúde mental e o bem-estar de crianças com TEA.Ensaio Piloto Randomizado.
7Hadoush, H., Nazzal, M., Almasri, N. A., Khalil, H., & Alafeef, M (2020)Transtornos do espectro do autismo; Estimulação transcraniana por corrente contínua; Lista de verificação de avaliação do tratamento do autismo; Córtex pré-frontal; Neurônios espelhoIdentificar os efeitos terapêuticos potenciais da Estimulação Transcraniana Anódica Bilateral por Corrente Contínua (ETCC) aplicada nas áreas pré-frontal e motora esquerda e direita em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).Estudo Experimental de Intervenção.

Legenda: TEA:Transtorno do Espectro do Autismo, ETCC: Estimulação Transcraniana Anódica Bilateral por Corrente Contínua.

Quadro 2: As principais intervenções do fisioterapeuta em crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

IntervençãoResultado
1Pessoas com TEA, com idade entre 10 e 16 anos, foram incluídos e distribuídos aleatoriamente em duas sequências opostas. Os participantes realizaram cinco sessões de prática em cada ambiente (virtual). Além disso, aferiu-se a frequência cardíaca e aplicou-se uma escala de prazer em cada atendimento.22 participantes concluíram o protocolo. A sequência A (virtual first) apresentou melhora na exatidão e precisão, e transferiu isso ao mudar o ambiente; eles também tiveram uma maior alteração na reserva da frequência cardíaca.
2O artigo agrupou aleatoriamente 24 crianças com transtorno do espectro autista. O grupo experimental recebeu intervenção com exercícios e o grupo controle teve aulas regulares.Após a conclusão do experimento, é analisada a influência da intervenção com exercícios em crianças com autismo.As habilidades motoras dos dois grupos de crianças foram diferentes após a intervenção. As habilidades motoras do grupo experimental melhoraram significativamente.
3Vinte e nove jovens com TEA (7 a 17 anos) completaram um treinamento intensivo de seis semanas de equilíbrio em videogame baseado em biofeedback. Os participantes exibiram melhorias no equilíbrio relacionadas ao treinamento que foram responsáveis significativamente pelas melhorias na oscilação postural fora do treinamento.Os resultados sugerem que o treinamento de equilíbrio baseado em biofeedback está associado a melhorias de equilíbrio em jovens com TEA, de forma mais robusta naqueles com comportamentos repetitivos menos graves e melhor equilíbrio inicial. O treinamento foi percebido como motivador, sugerindo ainda sua eficácia e probabilidade de utilização.
4Vinte e duas crianças com TEA participaram do estudo. As habilidades motoras grossas foram medidas usando a Peabody Developmental Motor Scales, Second Edition. A participação foi medida usando o Preschool Activity Card Sort. As crianças que apresentavam maior motricidade grossa também demonstraram maior participação em atividades de autocuidado, lazer de alta demanda e interação social.Os resultados também identificaram atividades que podem ser difíceis para crianças em idade pré-escolar com TEA. Os resultados sugerem que os prestadores de intervenção na primeira infância consideram o impacto dos déficits motores grossos no contexto da participação nas rotinas e atividades diárias.
5Trinta crianças foram selecionadas voluntariamente e distribuídas aleatoriamente para exercícios de caratê, treinamento aquático e grupos de controle. Os participantes praticaram durante 10 semanas, 2 sessões de 60 minutos por semana. Antes e depois da intervenção de 10 semanas, foram aplicados testes de equilíbrio estático e dinâmico.Os resultados mostraram que ambas as intervenções tiveram um efeito significativo nas habilidades de equilíbrio (p<0,001); curiosamente, descobrimos uma maior melhoria no desempenho do equilíbrio nas técnicas de katagrupo. Devido à importância do desempenho do equilíbrio nas funções diárias, nas habilidades de comunicação e interação, o karatê e os exercícios de natação podem ser intervenções valiosas adicionadas aos programas diários do autismo.
6Um ensaio piloto randomizado, cruzado e controlado dentro dos indivíduos foi utilizado em 8 semanas. Crianças de 6 a 12 anos com diagnóstico de TEA (n = 8) foram alocadas aleatoriamente no Grupo 1 (n = 4) ou Grupo 2 (n = 4). Todas as crianças participaram da intervenção de hidroterapia nas duas semanas 1 a 4 ou semanas 5 a 8. A Lista de Verificação do Comportamento Infantil (CBCL) mediu as mudanças de comportamento que impactam saúde mental e bem-estar, administrados nas semanas 0, 4 e 8.Foram encontrados nas subescalas do CBCL entre o Grupo 1 ou 2 no início do estudo (semana 0). Testes t de amostras pareadas revelou melhorias significativas pós-intervenção: subdomínio Ansioso/Deprimido (p = 0,02) e o Resumo do Domínio dos Problemas Internalizantes (p = 0,026), com grande tamanho de efeito (d = 1,03 e d = 1,06 respectivamente). Problemas de pensamento (p = 0,03) e problemas de atenção (p = 0,01) ambos significativamente melhor pós-intervenção. A pontuação Total de Problemas melhorou significativamente pós-intervenção (p = 0,018) com tamanho de efeito grande (d = 1,04).
7A intervenção consistiu na aplicação de estimulação anódica bilateral de ETCC nas áreas pré-frontal e motora esquerda e direita do cérebro das crianças com TEA no grupo de tratamento. O tratamento foi administrado em 10 sessões, com cada sessão tendo uma duração de 20 minutos e sendo realizada cinco vezes por semana. No grupo controle, procedimentos semelhantes foram aplicados, mas com o uso de estimulação simulada de ETCC, o que significa que não houve efetiva estimulação cerebral real.Os resultados do estudo indicaram que no grupo de tratamento com ETCC, houve reduções significativas nas pontuações totais da Lista de Verificação de Avaliação do Tratamento do Autismo (ATEC). Além disso, foram observadas reduções significativas nas sub pontuações de sociabilidade e sub pontuações comportamentais, de saúde e condição física no grupo de tratamento com ETCC. Não foram observadas alterações significativas nas pontuações totais e sub pontuações da ATEC no grupo controle. Em conclusão, a ETCC anódica bilateral mostrou potenciais efeitos terapêuticos em crianças com TEA, resultando em melhorias na sociabilidade, comportamento, saúde e condição física, e não foram relatados efeitos colaterais significativos.

Legenda: TEA: Transtorno do Espectro do Autismo; CBCL: Child Behavior Checklist; ETCC: Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua; ATEC: Autism Treatment Evaluation Checklist.

4. DISCUSSÃO

Os resultados destacam que a fisioterapia desempenha um papel crucial na aprimoração das habilidades motoras e comportamentais em crianças e adolescentes com TEA. As intervenções fisioterapêuticas personalizadas para o TEA demonstram um impacto positivo significativo na qualidade de vida e no bem-estar desses jovens, auxiliando na redução da dependência e no estímulo ao desenvolvimento de suas habilidades.

O TEA é uma condição com uma prevalência estimada de 1 para cada 160 crianças a nível global. Tipicamente, os sinais e sintomas se manifestam na infância, muitas vezes antes dos três anos, e podem persistir ao longo da adolescência e na vida adulta. Contudo, é crucial ressaltar que a experiência do TEA varia consideravelmente, com alguns indivíduos conseguindo levar vidas independentes, enquanto outros necessitam de apoio contínuo devido a deficiências mais significativas, conforme relatado pela OMS (CUPERTINO etal., 2019).

Nesse contexto, o estudo realizado por Moraes et al. (2022) destaca a eficácia da prática longitudinal de atividades em ambientes virtuais e reais na melhoria do desempenho motor de jovens com TEA. Os resultados demonstraram que a sequência “virtual-first” resultou em melhorias significativas na precisão e exatidão das habilidades motoras. Esse achado sugere que a prática em ambientes virtuais pode representar uma valiosa ferramenta terapêutica para promover habilidades que se traduzem em situações do mundo real. Essa abordagem inovadora tem o potencial de transformar a forma como as terapias são conduzidas para crianças com TEA, tornando-as mais envolventes e eficazes, com impacto positivo na qualidade de vida dessas crianças.

O TEA afeta um número significativo de crianças em todo o mundo, as descobertas desses estudos têm implicações profundas na prática clínica e na abordagem multidisciplinar do TEA. A fisioterapia, juntamente com outras terapias e apoio contínuo dos pais e cuidadores, desempenha um papel vital na promoção do bem-estar e do desenvolvimento dessas crianças. A pesquisa apresentada destaca a necessidade da continuação da exploração de abordagens inovadoras e personalizadas.

Conforme evidenciado na intervenção realizada por Jia, W. e Xie, J. (2021), que se concentrou em exercícios físicos personalizados para crianças com TEA, os resultados apresentaram melhorias notáveis nas habilidades motoras dessas crianças submetidas à intervenção. Essas descobertas realçam a eficácia da fisioterapia em promover o desenvolvimento das capacidades físicas e motoras, um aspecto fundamental para a qualidade de vida e o crescimento saudável desses jovens. Esse estudo reforça a importância da abordagem multidisciplinar no tratamento do TEA, enfatizando o papel essencial desempenhado pela fisioterapia na otimização das habilidades físicas e motoras, o que, por sua vez, tem o potencial de impulsionar a autonomia e a inclusão social das crianças com TEA. Portanto, é imperativo que a fisioterapia seja considerada como uma parte integral do tratamento, visando potencializar o desenvolvimento e o bem-estar dessas crianças.

O estudo conduzido por Brittany, G., et al. (2019) que investigou o treinamento de equilíbrio com biofeedback visual em jovens com TEA, ofereceu resultados igualmente notáveis. Observou-se que o treinamento resultou em melhorias significativas na estabilidade postural, especialmente em jovens com comportamentos repetitivos menos graves e um equilíbrio inicial mais sólido. Essa descoberta destaca a promissora contribuição das abordagens baseadas em tecnologia, como videogames, na melhoria das habilidades motoras e de equilíbrio em crianças com TEA. Essas intervenções não apenas podem impulsionar o desenvolvimento motor, mas também a confiança e a motivação dos jovens durante o tratamento. Portanto, é essencial considerar abordagens terapêuticas inovadoras que complementem a fisioterapia tradicional, ampliando as opções de tratamento e melhorando a qualidade de vida das crianças com TEA.

Desse modo, é fundamental reconhecer a variabilidade na gravidade e nas necessidades individuais das pessoas com TEA. Portanto, a personalização das intervenções de fisioterapia de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo é essencial para garantir o sucesso do tratamento. O papel da fisioterapia vai além do desenvolvimento de habilidades motoras; ele inclui a promoção da interação social, habilidades de comunicação e a redução do estresse e da ansiedade, criando um ambiente seguro e estruturado.

É importante enfatizar que cada indivíduo com TEA é único, o que significa que os resultados das intervenções podem variar consideravelmente. A melhoria na qualidade de vida de uma pessoa autista pode ocorrer de maneira distinta para cada caso. Geralmente, observa-se um progresso mais eficaz quando as intervenções são conduzidas por uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde e educadores, em conjunto com o apoio contínuo dos pais ou cuidadores. (MARCIÃO et al., 2021).

Diante disso, pode-se destacar o estudo conduzido por Mills etal. (2020), com crianças de 6 a 12 anos diagnosticadas com TEA (total de 8 participantes). Essas crianças foram aleatoriamente distribuídas entre dois grupos, Grupo 1 (com 4 crianças) e Grupo 2 (também com 4 crianças). Ambos os grupos passaram por sessões de hidroterapia, mas em momentos diferentes, ou seja, as semanas 1 a 4 para metade e as semanas 5 a 8 para a outra metade. Para avaliar as mudanças comportamentais relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, o Child Behavior Checklist (CBCL) foi administrado nos pontos de tempo inicial (semana 0), após 4 semanas (semana 4) e ao final das 8 semanas (semana 8).

Conforme esse estudo, foi observado que crianças diagnosticadas com TEA são menos ativas fisicamente do que crianças com desenvolvimento típico, devido à redução da socialização e atraso nas habilidades motoras grossas, impactando negativamente no bem-estar social, emocional e físico. A hidroterapia, favorece uma melhora nos aspectos motores, da marcha e do equilíbrio, contribuindo para melhoria do comportamento, saúde mental e bem-estar de crianças com TEA.

O estudo Ansari etal. (2020) comparou os efeitos de programas de exercícios terrestres e natação nas habilidades de equilíbrio de crianças com TEA. Ambas as intervenções resultaram em melhorias significativas no equilíbrio das crianças, com o grupo de karatê apresentando uma melhoria ainda mais significativa. Esses resultados enfatizam o valor das atividades físicas como um componente importante dos programas diários de tratamento para o TEA, uma vez que o equilíbrio está intimamente relacionado às funções diárias, habilidades de comunicação e interações sociais.

Esses achados realçam o papel essencial das atividades físicas na promoção das habilidades de equilíbrio, que desempenham um papel fundamental nas funções diárias, na comunicação e nas interações sociais das crianças com TEA. Isso sugere que a inclusão de programas de atividades físicas direcionadas pode ser uma estratégia valiosa para melhorar a qualidade de vida dessas crianças e promover sua inclusão social.

Com base nisso as habilidades motoras grossas e participação em crianças com TEA, examinada por Jamie, M., et al. (2022), destacou que crianças com melhor desenvolvimento de habilidades motoras grossas tendem a participar mais ativamente em atividades de autocuidado e interação social. Essa descoberta ressalta a importância de adaptar as intervenções de fisioterapia com base nas habilidades individuais de cada criança, buscando melhorar sua participação nas atividades do dia a dia e nas interações sociais.

O estudo de Hadoush et al. (2020) investigou os efeitos da Estimulação Transcraniana Anódica Bilateral por Corrente Contínua (ETCC) nas áreas pré-frontal e motora do cérebro de crianças com TEA. Os resultados demonstraram melhorias significativas na sociabilidade, comportamento, saúde e condição física, destacando o potencial terapêutico dessa abordagem inovadora e seu impacto na qualidade de vida das crianças com TEA.

Esses estudos enfatizam a importância da fisioterapia e de intervenções inovadoras para melhorar as habilidades motoras, comportamentais e emocionais em crianças com TEA. Essas intervenções têm um impacto positivo significativo na qualidade de vida e no desenvolvimento dessas crianças, reduzindo a dependência e estimulando seu crescimento saudável e bem-estar.

5. CONCLUSÃO

Os estudos revisados destacam o papel fundamental da fisioterapia e de intervenções personalizadas no aprimoramento das habilidades motoras e comportamentais de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essas intervenções desempenham um papel crucial na promoção do bem-estar e da qualidade de vida desses jovens, contribuindo para a redução da dependência e o estímulo ao desenvolvimento de suas habilidades.

O TEA é uma condição que afeta um número significativo de crianças em todo o mundo, com uma ampla variação na gravidade e nas necessidades individuais. Portanto, a personalização das intervenções terapêuticas de fisioterapia é essencial para garantir o sucesso do tratamento. Além de aprimorar as habilidades motoras, a fisioterapia também desempenha um papel crucial na promoção da interação social, no desenvolvimento de habilidades de comunicação e na redução do estresse e da ansiedade, criando um ambiente seguro e estruturado para as crianças com TEA.

Os estudos revisados também evidenciam a importância da abordagem multidisciplinar no tratamento do TEA. Além disso, abordagens inovadoras, como a prática em ambientes virtuais, exercícios personalizados e o uso de tecnologia, mostram melhoria das habilidades motoras e no bem-estar das crianças com TEA.

A pesquisa apresentada destaca a necessidade contínua de explorar estratégias terapêuticas inovadoras e personalizadas. A inclusão de atividades físicas, como a hidroterapia e programas de exercícios, demonstra melhorias significativas nas habilidades motoras, no equilíbrio e na qualidade de vida dessas crianças.

Portanto, a fisioterapia é uma parte integral do tratamento do TEA, com o potencial de impulsionar o desenvolvimento e o bem-estar das crianças com essa condição. O foco na personalização das intervenções, a colaboração multidisciplinar e a incorporação de abordagens inovadoras são essenciais para atender às necessidades específicas de cada criança com TEA, promovendo sua inclusão social e autonomia.

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1 Artigo apresentado ao Curso de Bacharelado em Fisioterapia.

2 Graduanda em Fisioterapia Janaina Gomes Rocha Henrique. E-mail: janainarochahenrique@gmail.com

3 Orientadora, docente do curso de Fisioterapia do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão. Email: brendabogeafisio@outlook.com