REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202410312140
Juliana de Oliveira Montenegro1
Lânderson Laífe Batista Gutierres2
RESUMO
Este artigo aborda o papel da enfermagem na saúde esportiva externa de atletas paralímpicos com lesão medular (LM) e paralisia cerebral (PC), destacando a importância de cuidados específicos para o bem-estar e desempenho desses atletas. Aplicando uma abordagem qualitativa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com profissionais de saúde e atletas, além de uma revisão de literatura, para distinguir práticas de enfermagem que satisfaçam às necessidades únicas desses atletas. Os resultados apresentam que a enfermagem desempenha um papel importante no suporte à saúde física e emocional dos atletas, com diretrizes que compreendem controle de medicamentos, manejo de condições crônicas e prevenção de complicações. Da mesma maneira, os profissionais de enfermagem defrontam desafios específicos, como monitorar e adaptar as práticas de saúde consoante as demandas das competições paralímpicas. A pesquisa indica para a necessidade de desenvolvimento contínuo em treinamento e recursos individualizados para que a enfermagem possa colaborar efetivamente para o cuidado integral e humanizado aos atletas, potencializando a interdisciplinaridade como essencial para melhorar o cuidado esportivo.
Palavras-chave: Atletas Paralímpicos. Enfermagem Esportiva. Lesão Medular; Paralisia Cerebral. Cuidados Especializados. Saúde e Desempenho. Interdisciplinaridade.
ABSTRACT
This article explores the role of nursing in the external sports health of Paralympic athletes with spinal cord injury (SCI) and cerebral palsy (CP), emphasizing the importance of specific care for their well-being and performance. Through a qualitative approach, semi-structured interviews were conducted with healthcare professionals and athletes, along with a literature review to identify nursing practices that meet the unique needs of these athletes. Findings reveal that nursing plays an essential role in supporting both the physical and emotional health of athletes, with guidelines encompassing medication administration, chronic condition management, and complication prevention. Likewise, nursing professionals face unique challenges, such as monitoring and adapting health practices according to the demands of Paralympic competitions. The study indicates the need for continuous development in training and personalized resources to enable nursing to effectively contribute to comprehensive and humane care for athletes, enhancing interdisciplinary as essential to improving sports care.
Keywords: Paralympic Athletes; Sports Nursing; Spinal Cord Injury; Cerebral Palsy; Specialized Care; Health and Performance; Interdisciplinary.
INTRODUÇÃO
A pesquisa examinou o desenvolvimento e a profissionalização do esporte paralímpico nas últimas décadas, destacando o aumento significativo na visibilidade desses atletas e a importância do suporte especializado que atenda às suas necessidades únicas. No campo da saúde esportiva, foi reconhecido que a enfermagem desempenha um papel essencial no fornecimento de cuidados especializados que são fundamentais para o desempenho, bem-estar e segurança dos atletas paralímpicos, especialmente aqueles com Paralisia Cerebral (PC) e Lesão Medular (LM).
Essas condições, que impactam a vida dos pacientes e se manifestam de maneiras provocativas no contexto esportivo, foram observadas a partir de uma perspectiva de enfermagem. Com base nos dados coletados, a pesquisa se baseou em práticas e conhecimento essencial de profissionais de saúde no cuidado desses atletas. Os resultados destacam a importância do cuidado de enfermagem adaptado que promova tanto a saúde quanto o desempenho desses indivíduos, considerando as especificidades das condições de PC e LME.
Por meio de entrevistas com atletas e profissionais de saúde vinculados à FAPERO e revisão da literatura sobre o tema, a pesquisa permitiu uma análise aprofundada das necessidades desses atletas e das práticas de enfermagem que comprovadamente contribuem para seu bem-estar. Os resultados não apenas fortaleceram o conhecimento sobre o suporte essencial fornecido por enfermeiros a atletas com PC e LME, mas também delinearam áreas prioritárias para pesquisas futuras.
Uma melhor compreensão das demandas específicas de atletas paralímpicos com PC e LME, bem como as práticas de cuidados de enfermagem recomendadas, apontam para um avanço significativo no suporte a esses atletas. A aplicação desse conhecimento visa não apenas promover o bem-estar geral dos atletas, mas também maximizar seu desempenho atlético, cooperando assim com o desenvolvimento contínuo do esporte paralímpico.
Os enfermeiros desempenham um papel crucial na saúde esportiva, atendendo tanto atletas profissionais quanto aqueles que praticam atividades físicas. Esses profissionais são responsáveis por monitorar a saúde dos atletas, administrar medicamentos quando necessário e fornecer cuidados preventivos para evitar complicações de saúde.
No contexto do esporte paralímpico, a enfermagem enfrenta desafios únicos devido às condições de saúde dos atletas, como Paralisia Cerebral (PC) e Lesão Medular (LM). As disciplinas de enfermagem variam do gerenciamento de condições crônicas à adaptação de práticas de saúde para atender às necessidades específicas desses atletas. Habilidades como conhecimento especializado, sensibilidade emocional e adaptabilidade são essenciais para garantir cuidados de qualidade.
DESENVOLVIMENTO E PROFISSIONALIZAÇÃO DO ESPORTE PARALÍMPICO
A história do esporte paralímpico é distinta por marcos importantes que evidenciam sua evolução e importância. Segundo Marques (2009), os Jogos Paralímpicos tiveram origem em 1939, quando o neurologista alemão Dudwig Guttmann iniciou trabalhos de reabilitação de soldados feridos na Segunda Guerra Mundial. A criação dos Jogos Internacionais de Stoke Mandeville em 1948, mais tarde afamados como Jogos Paralímpicos, foi um passo fundamental na ascensão do esporte adaptado.
Presentemente, as Paraolimpíadas representam eventos de alto rendimento para atletas com deficiência, evidenciando não apenas suas limitações, mas sobretudo suas capacidades, como destacam Marques e Gutierrez (2014). A prática esportiva para pessoas com deficiência ganhou pertinência após a Segunda Guerra Mundial, embora haja clubes com participação de atletas surdos desde o final do século XIX.
No contexto brasileiro, a participação nas Paraolimpíadas começou em 1972, em Heidelberg, na Alemanha. Todavia, foi em 1976, em Toronto, que o Brasil conquistou sua primeira medalha paraolímpica, com Robson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos “Curtinho” no Lawn Bowls. Desde então, o país ampliou sua participação e atuação nos Jogos Paralímpicos, com destaque para os Jogos de Pequim em 2008, onde o Brasil ficou entre os 10 melhores países (SENA e SANTOS, 2022).
Diversas iniciativas foram tomadas para impulsar o esporte paralímpico no Brasil, como o Plano Brasil Medalhas, a Bolsa Atleta Pódio e a Lei de Incentivo ao Esporte. O Comitê Paralímpico Brasileiro desempenha um papel fundamental na organização e promoção das Paraolimpíadas, como demonstrado pelos Jogos realizados no Rio de Janeiro em 2016, que tiveram um número indiscutível de medalhas.
Estas ações refletem o incentivo ao esporte para melhorar a qualidade de vida e promover a inclusão social. A prática esportiva, tanto para atletas olímpicos quanto paralímpicos, exige entrega e compromisso para atingir o alto nível de desempenho exigido (SENA e SANTOS, 2022)
PAPEL DA ENFERMAGEM NA SAÚDE ESPORTIVA
A prática de atividade física é uma forma de autocuidado que oferece benefícios físicos e mentais, ajudando a aliviar sentimentos de solidão, promover vínculos sociais e aumentar a autoestima. Dessa forma, proporciona efeitos benéficos tanto individual quanto coletivamente (LOURENÇO et al., 2017). Nesta conjuntura, a enfermagem esportiva dedica-se ao cuidado e orientação de pacientes praticantes de esportes e atividades físicas. Esses profissionais participam e orientam atletas e praticantes, abordando suas queixas, coletando históricos, orientando e fazendo os encaminhamentos necessários (HEIDEMANN, 1987).
É importante diferenciar o esporte da atividade física. A atividade física é qualquer movimento corporal voluntário que resulte em gasto energético acima do nível de repouso, enquanto o exercício é uma atividade planejada e organizada que visa manter ou melhorar o condicionamento físico (OLIVEIRA et al., 2018). Consequentemente, tanto os atletas quanto aqueles que praticam atividade física em busca de bem-estar e autocuidado podem necessitar de assistência à saúde, sendo potenciais pacientes da equipe de enfermagem esportiva (OLIVEIRA et al., 2018; LOURENÇO et al., 2017).
A consulta de enfermagem é essencial na promoção da assistência, com foco nas queixas e necessidades dos pacientes. Usando suas taxonomias, os enfermeiros definem diagnósticos e intervenções centrados no paciente. A prática de atividade física, seja profissional ou de promoção da saúde, traz momentos de lazer, liberação de energia e alívio da carga psicológica e emocional. Nesse sentido, o profissional de enfermagem, juntamente com a equipe multidisciplinar, visa intervir de forma eficaz (HEIDEMANN, 1987; INCHAUSPE et al., 2020; KOEPP et al., 2021).
Para esmiuçar o cuidado de enfermagem no esporte é necessário compreender as particularidades de cada indivíduo e discutir sua autoimagem, considerando os aspectos biopsicossociais que podem impactar no desempenho (SODER et al., 2017). A preparação para competições, treinos e exercícios pode, por vezes, afastar o indivíduo de seus processos de socialização. A preparação para competições, treinos e exercícios pode, em algumas situações, afastar as pessoas das interações sociais. Portanto, compreender os cuidados de enfermagem de forma mecânica é um desafio, pois os fatores sociais e as questões holísticas também têm impacto nos cuidados de saúde. (SÓDER, 2013).
Patologias cardiovasculares e metabólicas, como a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM), afetam a qualidade de vida de muitos brasileiros, principalmente no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS). Cabe à enfermagem promover o cuidado contínuo a esses indivíduos, ampliando os espaços de atuação e promovendo a longitudinalidade do cuidado (SILVA; RAMOS, 2005; SOUSA et al., 2021). O desempenho no esporte pode abranger tanto a atividade física e a promoção da saúde quanto a prevenção de doenças e traumatologia esportiva (SILVA; RAMOS, 2005).
Indivíduos que procuram academias muitas vezes buscam promover saúde ou estética e aumentar a produtividade. Muitos trazem desvios patológicos em diversos sistemas biológicos, evidenciando a necessidade de triagem criteriosa por profissional de saúde (HEIDEMANN, 1987). A complementação dos serviços de saúde é fundamental para a integralidade do cuidado e gestão da assistência prestada (SILVA et al., 2020). Orientar os pacientes sobre seus fatores de risco e a adoção de hábitos saudáveis são comportamentos que os enfermeiros podem realizar rotineiramente (LIMA et al., 2021). Porém, há resistência por parte dos pacientes em aderir às orientações, dificultando a recuperação.
A atuação do enfermeiro no esporte ainda é limitada pela falta de profissionais especializados, porém é de grande importância, principalmente na equipe multidisciplinar, para reduzir danos, dores e proporcionar um bom desempenho (ERDMANN et al., 2007; INCHAUSPE et al., 2020). Programas de enfermagem voltados para a aptidão funcional são uma realidade em outros países. Em Portugal, Preto et al. (2016) destacam a importância da enfermagem na criação de programas de reabilitação baseados em exercícios moderados para idosos institucionalizados, atribuindo ações à profissão neste ambiente (PRETO et al., 2016).
O exercício é definido na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) como uma ação voltada ao trabalho físico, utilizando sistemas orgânicos para melhorar as capacidades do indivíduo. Diversos diagnósticos e atividades podem ser traçados utilizando taxonomias próprias da profissão, auxiliando no cuidado prestado ao paciente (MARTINS; SOUSA, 2019).
Apesar da visibilidade limitada, a inclusão dos cuidados de enfermagem no desporto é crescente. Este é um campo provocativo e pouco explorado, porém necessário para a consolidação de um cuidado integral e eficaz (SODER, 2013)
COMPLEXIDADE DOS CUIDADOS EM SAÚDE ESPORTIVA PARALÍMPICA
A assistência de enfermagem em saúde esportiva paraolímpica é uma área que determina um conhecimento excepcional e uma abordagem multidisciplinar para atender às necessidades únicas dos atletas com deficiência. Esses atletas, que participam de competições de alto nível, encontram desafios adicionais relacionados às suas condições de saúde, tornando essencial o trabalho de uma equipe de enfermagem bem treinada e competente. A complexidade dos cuidados envolve não só a gestão de condições médicas crónicas e agudas, mas também a promoção do bem-estar físico e psicológico, garantindo que estes atletas possam atingir o seu máximo potencial competitivo.
Neste argumento, exploraremos intervenções específicas, adaptações de práticas de saúde e as competências necessárias dos profissionais de enfermagem para cuidar adequadamente de atletas com lesão medular e paralisia cerebral.
Atletas com Lesão Medular
A assistência de enfermagem aos atletas paralímpicos com lesão medular (LM) é um aspecto crucial para garantir não só a saúde, mas também o desempenho competitivo desses. A lesão medular, que pode ser devastadora e alterar essencialmente a vida de um indivíduo, não impede que muitos jovens pratiquem atividades físicas e esportivas, procurando melhorar a sua qualidade de vida e praticando esporte de alto rendimento, como o rugby em cadeira de rodas (RCR), esporte destacado na pesquisa de Ramos e Beneli (2013).
Intervenções de Enfermagem
O enfermeiro tem papel fundamental no cuidado e preparo diário desses atletas. Esses cuidados incluem administração de medicamentos, prevenção de úlceras por pressão, manejo de cateteres vesicais e intestinais, e apoio na mobilização e atividades diárias. Classificar o grau de funcionalidade e dependência de cuidados, segundo Teixeira (2005), é essencial para planejar intervenções adequadas, considerando as múltiplas deficiências que os indivíduos com LM apresentam.
A espasticidade ou hiperatividade reflexa da medula espinhal, é uma complicação comum em indivíduos com LM. Esses movimentos musculares involuntários podem ser agravados por problemas como infecções urinárias resultantes de cateterismo vesical contínuo e úlceras de pressão. Eliminar os fatores que contribuem para estas complicações são importantes e os enfermeiros devem planejar intervenções para reduzir estes riscos (Ramos e Beneli, 2013).
Outra complicação significativa é a hipotensão postural, muitas vezes causada por mudanças na posição do paciente. Os sintomas incluem palidez, queda da pressão arterial, zumbido nos ouvidos e perda de consciência (Brito, 2008). Além disso, a hipotonia muscular é uma condição comum que prejudica a mobilidade e aumenta o risco de formação de trombos nos membros inferiores.
Adaptação das Práticas de Saúde
O trabalho do enfermeiro se estende também ao controle de doping, prioridade do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). Os enfermeiros devem estar cientes das substâncias proibidas e garantir que o uso de medicamentos pelos atletas, o que não resulta em violações impensadas das regras antidoping. O procedimento de coleta de amostras de urina ou sangue para exames antidoping deve ser realizado com cuidado, principalmente devido à dificuldade de locomoção dos atletas tetraplégicos. O enfermeiro deve acompanhar e auxiliar na coleta do material, protegendo a segurança e minimizando o estresse do atleta durante o processo (Ramos e Beneli, 2013).
Visão holística do cuidado, promovida por Florence Nightingale, enfatiza a importância do ambiente, da higiene e do conforto no processo de cura. A enfermagem contemporânea compreende esses princípios, visando o bem-estar físico, emocional e espiritual do paciente (Giovanini, 2010). Participação dos enfermeiros no esporte adaptado é constitutiva para o desenvolvimento e implementação de programas de educação física e esporte adequado, como destaca Winnick (2006).
Durante o jogo, a transição do atleta da cadeira de passeio para a cadeira de jogo pode causar desconforto e irregularidades, como descolamento do uripen ou perda de urina. O enfermeiro deve ter o cuidado de verificar e ajustar todos os pontos de conexão da sonda e da bolsa coletora, garantindo que o atleta se sinta confortável e seguro, o que é essencial para o seu desempenho (Ramos e Beneli, 2013).
Competências e Habilidades dos Profissionais de Enfermagem
Os cuidados de enfermagem aos atletas paraolímpicos com lesão medular são complexos e multidimensionais, envolvendo desde dos básicos de saúde até suporte durante as competições. A capacidade do enfermeiro em prestar tratamentos individualizados contribui notavelmente para a qualidade de vida e desempenho destes atletas, destacando a importância de uma abordagem aprofundada e integrada aos cuidados de saúde.
Atletas com Paralisia Cerebral
Começa no Sistema Nervoso Central, a Paralisia Cerebral é um distúrbio não progressivo que se desenvolve durante a infância. As sequelas e limitações decorrentes desse transtorno orientam o indivíduo ao longo de sua vida, sendo essenciais cuidados especiais, sendo essenciais a atenção redobrada dos familiares e cuidadores, bem como a presença contínua e individualizada por parte de profissionais de saúde qualificados e bem qualificados para lidar com as limitações do transtorno e ajuda na sua rotina diária (LIMA et al., 2017).
O acompanhamento e a orientação de um profissional de saúde são extremamente importantes por afetarem diretamente as atividades diárias, como cuidados pessoais, higiene, mobilidade e integração social. A Paralisia Cerebral (PC) deixa consequência que comprometem todo o desenvolvimento e têm implicações na vida familiar (MILBRATH et al., 2012).
A PC, também chamada de encefalopatia crônica, faz parte do grupo das encefalopatias hipóxico-isquêmicas perinatais, preponderantes na infância, e inclui tipos de anomalias progressivamente diferentes. O primeiro documento com diagnóstico de PC foi identificado em 1843 pelo ortopedista Willian John Little, que analisou casos de crianças com uma condição chamada espasticidade. Little a apresentou como uma encefalopatia crônica infantil, caracterizada por distúrbios motores, dificuldades de mobilidade e limitações de raciocínio, notadas nos primeiros anos de vida (ARAUJO et al., 2014).
Em 1862, Little relacionou as complicações do parto, a prematuridade e a evolução das deformidades ao surgimento da Paralisia Cerebral. Outros componentes também são predominantes para um possível caso de PC, como o estilo de vida da mãe, doenças durante a gravidez e uso de substâncias nocivas ao bebê (ANDRADE et al., 2014).
Intervenções de Enfermagem
A intervenção do enfermeiro é fundamental no cuidado de atletas com Paralisia Cerebral. Os enfermeiros são responsáveis por monitorar a saúde dos atletas, administrar medicações quando necessário, realizar avaliações periódicas e prestar cuidados preventivos para evitar complicações de saúde relacionadas à condição física dos atletas (MILBRATH et al., 2012).
O paciente e suas peculiaridades, necessidades e recuperação constituem o principal motivo da assistência de enfermagem, que deve ser eficiente, ágil e rápida, proporcionando confiança e satisfação ao paciente e seus familiares (ANTUNES, 2014).
Adaptação das práticas de saúde
A adaptação das práticas de saúde é essencial para atender às necessidades dos atletas com PC. Isso inclui ajustes no treinamento físico, na nutrição, no acompanhamento psicológico e no manejo de lesões. As práticas devem ser personalizadas para garantir a segurança e a eficácia dos programas de treinamento, promovendo a melhora da performance e da qualidade de vida dos atletas (ANTUNES, 2014).
Os indivíduos com PC devem ser atendidos por uma equipe de profissionais de saúde, com foco principal na fisioterapia, que permite uma rápida reabilitação em atividades simples de locomoção e postura, utilizando diferentes métodos dependendo das manifestações clínicas, para auxiliar no desenvolvimento motor (MISSEL, 2017).
Competências e Habilidades dos Profissionais de Enfermagem
Os profissionais de enfermagem devem possuir competências e habilidades específicas para cuidar de atletas com Paralisia Cerebral. Isso inclui conhecimento sobre a condição, habilidades em reabilitação, capacidade de adaptação das práticas de cuidado e sensibilidade para lidar com as necessidades emocionais dos atletas. A formação contínua e o desenvolvimento profissional são essenciais para garantir um cuidado de qualidade (ANDRADE et al., 2014).
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo utilizou uma abordagem qualitativa para investigar o papel da enfermagem na saúde esportiva paralímpica. Conforme explicado por Lakatos (2021), a pesquisa qualitativa é essencial para responder a questões enraizadas nas Ciências Sociais, abordando aspectos da realidade que não podem ser quantificados. Essa abordagem focou no universo de significados, motivações, aspirações, opiniões, valores e atitudes, permitindo uma compreensão aprofundada desses elementos.
A metodologia do estudo incluiu entrevistas semiestruturadas, seguindo as recomendações de Sampieri, Collado e Lucio (2013), que descrevem essa técnica como baseada em um guia de tópicos ou perguntas. Durante as entrevistas, o entrevistador teve a flexibilidade de fazer perguntas adicionais para esclarecer conceitos ou se aprofundar em tópicos relevantes, garantindo uma coleta de dados adaptável e completa.
Também foi conduzida uma revisão sistemática da literatura, com base na abordagem de observação sistemática de Lakatos (2021). Essa abordagem permitiu ao observador manter a objetividade e a consideração de possíveis erros, minimizando sua influência nos dados analisados e focando apenas nos elementos relevantes para a pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa apresentou conteúdo relevante sobre o papel da enfermagem na saúde esportiva de atletas paralímpicos com Paralisia Cerebral (PC) e Lesão Medular (LM), com base em entrevistas com profissionais de saúde e atletas. A análise dos dados coletados indicou que a enfermagem desempenha um papel fundamental no bem-estar e desempenho desses atletas, especialmente por meio da adequação do cuidado às necessidades específicas de cada atleta.
IMPORTÂNCIA DO PAPEL DA ENFERMAGEM NA PROMOÇÃO DA SAÚDE
A pesquisa destaca a importância da atuação dos profissionais de saúde, em especiais fisioterapeutas e enfermeiros, na promoção da saúde e prevenção de lesões em atletas com necessidades específicas, como evidenciado nos depoimentos de entrevistados que participaram de eventos, como os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Ao cuidar de atletas com condições como paralisia cerebral (PC) e lesão medular (LM), esses profissionais realizam intervenções que vão além da preparação física, englobando cuidados essenciais para evitar complicações de saúde. Dentre essas intervenções, destaca-se o auxílio ao uso de sondas para problemas urinários, necessidade frequente entre esses atletas.
Esse tipo de cuidado também se amplia ao atendimento de crianças com PC, onde equipes multidisciplinares atuam de forma organizada para amenizar os impactos dessa patologia no desenvolvimento dos pacientes. O papel do enfermeiro é primordial nesse contexto, com sua participação ativa nos processos de reabilitação e nas interações com o cliente, família e equipe. Segundo Feitosa et al. (2013), os enfermeiros contribuem diretamente para a promoção da saúde e prevenção de complicações, orientando o autocuidado e facilitando a recuperação da autoestima e autonomia funcional dos pacientes. Esses elementos são essenciais para a realização das atividades de vida diária, promovendo uma melhora na qualidade de vida dos pacientes.
Portanto, os resultados reforçam que, tanto em contextos esportivos quanto no cuidado de crianças com PC, o cuidado individualizado e a integração multidisciplinar são cruciais para melhorar o potencial dos indivíduos e promover um cuidado mais humanizado e eficaz.
ADEQUAÇÃO DE RECURSOS E TREINAMENTO
Os resultados apontam que os profissionais entrevistados, de modo geral, sentem-se adequadamente equipados para cuidar de atletas paralímpicos. Todavia, houve necessidade de treinamento contínuo e maior desenvolvimento em áreas como fisiologia, psicologia e biomecânica do movimento para melhorar ainda mais o suporte oferecido (Q1). Esse aspecto foi reforçado pelos atletas, que relataram atendimento satisfatório, mas propuseram que um monitoramento mais intensivo poderia favorecer a condição física e psicológica dos atletas, especialmente em relação ao gerenciamento da ansiedade e prevenção de lesões (Q2) (Q3).
INTERDISCIPLINARIDADE E COLABORAÇÃO ENTRE PROFISSIONAIS
A colaboração entre profissionais de saúde foi destacada como um elemento crucial no cuidado de atletas paralímpicos. Os entrevistados salientaram que a interação entre enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e médicos é essencial para a formulação de estratégias de cuidado eficazes e que a interdisciplinaridade contribui para um cuidado mais amplo e direcionado às necessidades do atleta. A melhoria da comunicação e o treinamento conjunto entre esses profissionais foi identificada como uma possível área de melhoria no cuidado prestado a esses atletas (Q1).
NECESSIDADES E EXPECTATIVAS DOS ATLETAS
Os atletas entrevistados expressaram retorno positivo sobre o suporte que recebem e indicaram que, de modo global, suas necessidades são adequadamente atendidas. Contudo, desafios específicos foram relatados, como o gerenciamento de dores musculares e lesões, especialmente durante as competições (Q3). Além disso, um dos atletas sugeriu que um maior suporte físico poderia auxiliar para melhorar seu desempenho atlético, enquanto outro indicou a importância do suporte emocional fornecido por profissionais de saúde na redução da ansiedade (Q2).
MELHORIAS E FUTURAS ÁREAS DE PESQUISA
Com base nos dados coletados, a pesquisa detectou algumas áreas para futuras explorações e melhorias. Entre elas, a necessidade de desenvolver programas de treinamento mais específicos para enfermeiros na área de enfermagem esportiva paralímpica, com ênfase em técnicas de prevenção e recuperação de lesões e suporte psicológico para atletas com necessidades específicas. Além disso, a introdução de recursos adicionais, como medicamentos específicos e métodos avançados de fisioterapia, foram sugeridos pelos atletas como formas de melhorar o suporte recebido (Q3).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa revelou o papel essencial da enfermagem na saúde esportiva de atletas paralímpicos com Paralisia Cerebral (PC) e Lesão Medular (LM), enfatizando que o cuidado bem estruturado e multidisciplinar contribui diretamente para o bem-estar e desempenho desses atletas. Os resultados mostraram que enfermeiros e fisioterapeutas são essenciais na promoção da saúde e prevenção de lesões, principalmente ao oferecer suporte específico, como o uso de cateteres para problemas urinários, atendimento a crianças com PC e assistência integrada nos processos de reabilitação.
Dessarte, observou-se que os profissionais de saúde se sentem, em grande medida, preparados para cuidar desses atletas, embora reconheçam a importância da formação continuada e especializada em áreas como fisiologia e biomecânica para melhorar ainda mais o suporte. A interdisciplinaridade também foi destacada como essencial para o cuidado, e a colaboração entre enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e médicos fortalece a formulação de estratégias de cuidado que atendam de forma mais amplo às necessidades dos atletas.
Os próprios atletas exteriorizaram satisfação com o apoio recebido, todavia sugeriram melhorias no monitoramento físico e psicológico, considerando que a supervisão intensiva poderia colaborar no controle da ansiedade e na prevenção de lesões. Esses retornos dos entrevistados, particularizam a necessidade de programas de treinamento específicos para enfermeiros no contexto paralímpico e a inclusão de recursos extra, como técnicas de aperfeiçoamento de fisioterapia e suporte psicológico, como áreas potenciais para melhoria.
Em conclusão, este estudo produz uma interpretação minuciosa das práticas e necessidades de saúde dos atletas paralímpicos, consolidando que o desenvolvimento contínuo de profissionais e recursos voltados para atender às demandas específicas desses atletas pode contribuir notavelmente para um ambiente competitivo mais seguro, inclusivo e eficaz.
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1Graduando em Enfermagem pela Faculdade UNAMA. E-mail: erison.0210@gmail.com
2Bacharel e licenciado em Enfermagem (Universidade Federal de Rondônia, 2013), com especializações em Atenção Primária em Saúde da Família e Qualidade e Segurança no Cuidado ao Paciente. Mestre em Ensino em Ciências da Saúde (2017). Atuou como professor e atualmente é enfermeiro na urgência e emergência da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho.