Fisioterapeuta
Grasiella Oliveira Paizante
Marcelo Silva Duarte
RESUMO
Foram avaliados 83 hipertensos no município de Jaguaré, interior do Estado do Espírito Santo com diferentes características de sexo, idade estilo de vida, estágio de classificação da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Os dados dos níveis pressóricos foram obtidos através da média das pressões arteriais (PAs) no início e no final de cada sessão da atividade física num período de 06 meses (jul-dez/2003) de trabalho. Pôde-se verificar através da coleta de dados a eficácia da atividade física na redução e/ou controle das PAs nos hipertensos aderidos ao projeto (“Projeto Refazendo”); e contudo, a grande importância de um preparo preventivo e/ou de profilaxia para esta população.
INTRODUÇÃO
A HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica) representa um dos principais fatores de risco à saúde a nível nacional, conforme o manual de HAS do Ministério da Saúde. A HAS é mais do que uma simples elevação dos níveis pressóricos. No Brasil, a doença hipertensiva é um dos problemas de saúde pública de maior prevalência na população e representa o maior e mais perigoso fator de risco para a progressão e/ou desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Segundo estatísticas a HAS é capaz de levar aproximadamente ao óbito cerca de 40% dos acometidos, apresentando altos índices de morbi-mortalidade, pelo acometimento dos chamados órgãos-alvo (cérebro, rins, coração e vasos sangüíneos).
O Brasil é caracterizado geralmente como um país jovem, e isso está mudando. Segundo posições demográficas, no ano de 2005, haverá uma ocupação no sexto lugar do ranking mundial de população idosa, onde 15% terão 60 anos ou mais. Cerca de 85% dos pacientes com AVE (Acidente Vascular Encefálico) e 40% das vítimas de infarto do miocárdio apresentam HAS associada. Nas últimas décadas, uma série de estudos vem comprovando o papel do exercício aeróbio na redução dos níveis pressóricos em hipertensos; além de promover o bem estar físico, redução do estresse, sentimento depressivo e solidão, aumento da auto-estima e confiança, redução da ansiedade e melhora da circulação sanguínea. Um dos maiores progressos em termos de saúde pública nos últimos anos tem sido a prática da atividade física nesses indivíduos.
De acordo com o Segundo Consenso Brasileiro De Tratamento Da HAS, cerca de 14 bilhões de brasileiros são hipertensos, sendo 15% desse total, adultos em idade ativa, aumentando os custos sociais por invalidez e absenteísmo ao trabalho.
Investir na prevenção é decisivo não só para garantir a qualidade de vida como também, para evitar a hospitalização e os conseqüentes gastos, principalmente quando se considera o alto grau de sofisticação da medicina moderna.
Este trabalho tem por objetivo, baseado nos dados estatísticos do Brasil, promover saúde e qualidade de vida aos hipertensos através da orientação e da atividade física com intuito de reduzir e/ou controlar os níveis da PA, diminuir os riscos cardiovasculares, conscientizar a necessidade do uso do medicamento e da dieta, para assim; proporcionar uma melhor adaptação às atividades de vida diária dos mesmos.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado através de pesquisa de campo e coleta de dados no município de Jaguaré, interior do Estado do Espírito Santo, onde possuíam 1946 hipertensos numa população de 23041 habitantes. Os indivíduos inicialmente foram avaliados e medicados pelo médico da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e selecionados a participarem do projeto pela equipe de enfermagem conforme a disciplina de cada um.
A princípio, foram reunidos num ginásio onde seria realizado quase todo o trabalho, foram divididos em grupos de 20 pessoas conforme os estágios de classificação da HAS e realizado um questionário sobre o estilo de vida e riscos cardiovasculares de cada um, como também a aferição da PA de cada participante. O trabalho foi batizado pelo nome de “Projeto Refazendo”, os quais possuíam 83 hipetensos, dentre eles, aleatoriamente, 18 homens e 65 mulheres, com idade entre 40 e 76 anos. Cada grupo participou do trabalho duas vezes na semana com duração de uma hora cada sessão durante um período mínimo de quatro meses e máximo de seis meses (jul-dez/2003).
O projeto foi dividido em duas fases: informativa e prática. A fase informativa foi abordada com palestras sobre saúde hipertensão arterial, alimentação, importância da dieta e uso do medicamento no horário certo e as vantagens e desvantagens da prática regular da atividade física da forma correta. Já a fase prática, constou de exercício aeróbico (caminhada ao ar livre e dentro do salão por 15 minutos), exercícios de alongamentos dos principais grupos de todas as cadeias musculares (20 minutos), exercícios de recreação com bolas e bastões promovendo a socialização do grupo (15 minutos) e após um relaxamento trabalhando principalmente a respiração (10 minutos). A monitorizarão das PAs foram feitas no início e no final de cada sessão, respeitando sempre os limites individuais de cada pessoa.
Vale a pena ressaltar, que os critérios de classificação da HAS foi baseado no Segundo Comitê Nacional Norte Americano de Hipertensão Arterial (tabela 1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados após 06 meses de trabalho foram obtidos através da média das pressões arteriais realizadas no início e no final de cada atividade física, dos 83 hipertensos aderidos ao projeto.
Frente a este cálculo e baseado na classificação da HAS em adultos (tabela1), chegou-se à conclusão da redução dos níveis pressóricos de pré-hipertensão a níveis normais; estágio 1 para níveis de pré-hipertensão e níveis normais; estágio 2 para níveis de estágio 1 e pré-hipertensão; e manutenção dos níveis de pré-hipertensão, estágio 1, e estágio 2 (tabela 2).
Em termos gerais, foi constatado a redução dos níveis pressóricos de 74 hipertensos e a manutenção das PAs de 09 hipertensos, não havendo aumento da PA de nenhum dos indivíduos aderidos ao projeto no final dos 06 meses de trabalho. Porém neste intervalo, 07 pessoas foram internadas por pressão alta por não cumprirem os acordos feitos no início do projeto, principalmente por terem deixado de tomar os medicamentos receitados pelo médico.
Vale a pena ressaltar que alguns dos hipertensos eram diabéticos, tabagistas, etilistas, sedentários, diabéticos e estavam acima do peso, sendo 04 deles sido acometidos anteriormente por AVE (Tabela 3).
Os hipertensos que não eram sedentários realizam caminhada regularmente 03 vezes por semana de 30 a 40 minutos no período em que o sol está menos quente pela manhã ou pelo final da tarde.
Um outro fator a ser considerado, é que somente os hipertensos diabéticos tiveram orientação nutricional pelo especialista responsável, fazendo-se também necessário este acompanhamento com os demais integrantes dos grupos; visto que, uma dieta equilibrada e supervisionada pela nutricionista faz-se de suma importância para o bem estar físico e nutricional de cada um.
Contudo, verifica-se que o uso certo e contínuo do medicamento associado às modificações do estilo de vida (prática da atividade física e abandono dos riscos cardiovasculares) promove uma redução e/ou controle dos níveis pressóricos promovendo uma sensação de bem estar físico e mental, além da melhoria da qualidade de vida num contexto geral.
CONCLUSÃO
Após a realização deste trabalho com base nos dados obtidos, foi possível avaliar a necessidade da atividade física nos indivíduos hipertensos por ocorrer melhora da circulação sangüínea e controle dos níveis pressóricos, como descrito na literatura por Pollock.
Constatado sua importância, verifica-se que a utilização de materiais simples e de baixo custo possibilita um fácil acesso aos profissionais fisioterapeutas e demais profissionais da área de saúde.
A partir disso, fica claro a eficácia da Atividade Física e do \”Projeto Refazendo\” na promoção e prevenção da saúde coletiva, tornando-se importante a continuidade de estudos apropriados sobre a HAS para melhor orientação e conscientização de medidas preventivas e/ou profiláticas para esta população.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OMS. Manifesto de São Paulo para Programação de Atividade Física. Revista de Atividade Física e Saúde. Vol. 03. Ed. Atheneu, 2000.
Pollock, M. W. Exercício na Saúde e na Doença. Ed. Medice. 3a ed. São Paulo, 1999