ATENDIMENTO PRIMÁRIO E OS FATORES AGRAVANTES FRENTE AO TRAUMA DE FACE: REVISÃO DA LITERATURA

BASIC CARE AND AGGRAVATING FACTORS IN FACE TRAUMA: LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7879390


Adria Gadelha Ferreira dos Santos1
Jair Inácio dos Santos Júnior2
Thalia Moni de Souza Alves3
Luciana Carolina Rodrigues Barros4
Carolina Mendonca Ataíde5 
Leticia Vitória Brito Ferreira6
Larissa Pergentino Gurgel de Faria7
Leila da Silva Bortolato8
Noemi Celerino dos Anjos Araujo9
Flávio Salomão-Miranda10
Lucas Moreira Lopes11
Hana Beatriz Pimentel de Santana12


RESUMO 

Este artigo objetivou revisar a literatura acerca do atendimento primário e os fatores agravantes frente ao trauma de face. Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. O atendimento primário é um momento crucial no manejo do trauma de face, onde a avaliação adequada é fundamental para identificar a gravidade do trauma e os fatores agravantes envolvidos. A revisão da literatura evidencia a importância de uma abordagem sistemática e abrangente, envolvendo anamnese detalhada, exame físico completo, avaliação neurológica e, quando possível, a realização de exames complementares. Os fatores agravantes frente ao trauma de face podem incluir a presença de lesões que representem risco iminente à vida, como hemorragias graves, obstrução da via aérea, lesões oculares graves, entre outros. Além disso, a presença de comorbidades, como doenças pré-existentes, uso de medicamentos, idade avançada, entre outros, pode influenciar no manejo e prognóstico do paciente.

Palavras-chave: Emergência. Trauma. Trauma maxilofacial. Assistência odontológica. 

SUMMARY

This article aimed to review the literature on primary care and the aggravating factors facing facial trauma. For the construction of this article, a bibliographic survey was carried out in the databases SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) and ScienceDirect, with the help of the Mendeley reference manager. Primary care is a crucial moment in the management of facial trauma, and an adequate assessment is essential to identify the severity of the trauma and the aggravating factors involved. The literature review highlights the importance of a systematic and comprehensive approach, involving detailed anamnesis, complete physical examination, neurological evaluation and, when possible, the performance of complementary tests. Aggravating factors in facial trauma may include the presence of injuries that pose an imminent risk to life, such as severe bleeding, airway obstruction, serious eye injuries, among others. In addition, the presence of comorbidities, such as pre-existing diseases, use of medication, advanced age, among others, can influence the management and prognosis of the patient.

Keywords: Emergency. Trauma. Maxillofacial trauma. Dental care.

1 INTRODUÇÃO 

O trauma de face é uma condição clínica comum que pode ser causada por uma variedade de eventos, como acidentes automobilísticos, quedas, agressões físicas e esportes de contato. O atendimento primário é a primeira etapa do cuidado médico prestado a pacientes com trauma de face e desempenha um papel fundamental na avaliação e manejo inicial desses pacientes (MCCORMICK; PUTNAM, 2021).

A avaliação adequada dos pacientes com trauma de face é essencial para identificar a gravidade do trauma e os fatores agravantes envolvidos. A presença de lesões que representem risco iminente à vida, como hemorragias graves, obstrução da via aérea, lesões oculares graves, entre outros, podem agravar a situação do paciente e requerem uma abordagem rápida e adequada. Além disso, comorbidades pré-existentes, uso de medicamentos, idade avançada, entre outros fatores, podem influenciar no manejo e prognóstico do paciente (MCCORMICK; PUTNAM, 2021).

A associação do álcool com a violência interpessoal e, consequentemente, com lesões faciais é significativa. A política social, a legislação e a mudança de comportamento dos grupos são necessárias para influenciar as ações que levam à violência interpessoal. A introdução da legislação sobre dirigir alcoolizado e cinto de segurança melhorou as condições de direção e das estradas, e o avanço nas características de segurança dos veículos modernos levou a uma queda nas lesões maxilofaciais atribuíveis a acidentes de trânsito (ATTs) no mundo desenvolvido. As quedas, particularmente em idosos, são um problema crescente e têm sido atribuídas à tendência de envelhecimento da população em países avançados (GHAI, 2020).

Dessa forma, este artigo, possui como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre o atendimento primário e os fatores agravantes frente ao trauma de face, destacando a importância da abordagem sistematizada e multidisciplinar, a identificação dos fatores de risco e a coordenação do cuidado para garantir uma abordagem adequada e minimizar complicações futuras. Essa revisão busca fornecer uma visão abrangente do tema, contribuindo para a compreensão e atualização do conhecimento sobre o assunto, visando uma melhoria na qualidade do atendimento a pacientes com trauma de face.

2 METODOLOGIA

Refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativo. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico, nesse caso, o atendimento primário e os fatores agravantes frente ao trauma de face (PEREIRA et al., 2018). 

Sendo assim, para a construção do presente artigo, foi estabelecido um roteiro metodológico baseado em seis fases, a fim de nortear a estrutura de uma revisão integrativa, sendo elas: elaboração da pergunta norteadora, organização dos critérios de inclusão e exclusão e a busca na literatura, caracterização dos dados que serão extraídos em cada estudo, análise dos estudos incluídos na pesquisa, interpretação dos resultados e apresentação da revisão. 

Foi utilizada a estratégia PICOS para a elaboração da pergunta norteadora, sendo o PICOS (Patient/population/disease; Exposure or issue of interest, Comparison Intervention or issue of interest Outcome), a População (P): Pacientes com fratura da face; Intervenção (I): Cirurgia reabilitadora; Comparador (C): fatores agravantes; Desfecho (O): Não se aplica; Desenho do estudo (S) = Estudos prospectivos e retrospectivos, randomizados e não randomizados que avaliaram o atendimento primário e os fatores agravantes frente ao trauma de face. Diante disso, construiu-se a questão norteadora: “qual deve ser o atendimento primário e os fatores agravantes associados ao trauma de face?” (Tabela 1).

Tabela 1 – Elementos da estratégia PICOS, Brasil, 2023.

ComponentesDefinição
P – populaçãoPacientes com fratura da face
I – Intervenção Cirurgia reabilitadora
C – ComparadorFatores agravantes
O – DesfechoNão se aplica
S – Desenho do estudoEstudos prospectivos e retrospectivos, randomizados e não randomizados que avaliaram o atendimento primário e os fatores agravantes frente ao trauma de face

Fonte: Autoria própria, 2023.

Buscas avançadas foram realizadas em estratégias detalhadas e individualizadas em quatro bases de dados: SciVerse Scopus (https://www-scopus.ez43.periodicos.capes.gov.br/), Scientific Eletronic Library Online – Scielo (https://scielo.org/), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/) e ScienceDirect (https://www-webofknowledge.ez43.periodicos.capes.gov.br/), com auxílio do gerenciador de referência Mendeley. Os artigos foram coletados no mês de dezembro de 2022 e contemplados entre os anos de 2000 a 2022.  

A estratégia de pesquisa desenvolvida para identificar os artigos incluídos e avaliados para este estudo baseou-se em uma combinação apropriada de termos MeSH (www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html), nos idiomas português e inglês. 

Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.

A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso atingisse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos eram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo.  Na sequência metodológica foi realizada a busca e leitura na íntegra dos artigos pré-selecionados, os quais foram analisados para inclusão da amostra. 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Com base na revisão de literatura feita nas bases de dados eletrônicas citadas, foram identificados 2795 artigos científicos, dos quais 324 estavam duplicados com dois ou mais índices. Após a leitura e análise do título e resumos dos demais artigos, outros 2390 foram excluídos. Assim, 81 artigos foram lidos na íntegra e, com base nos critérios de inclusão e exclusão, apenas 22 artigos foram selecionados para compor este estudo. 

Este trabalho objetivou revisar a literatura atual sobre o atendimento primário e os fatores agravantes frente ao trauma de face.  Os principais aspectos do atendimento inicial, bem como os fatores que podem agravar a situação, incluindo a complexidade do trauma, as lesões associadas, às condições pré-existentes do paciente e a falta de recursos foram abordados. 

O atendimento primário ao trauma de face é a primeira intervenção médica realizada no local do acidente ou na sala de emergência. Ele é fundamental para avaliar a gravidade do trauma, identificar lesões potencialmente fatais ou debilitantes e iniciar medidas de suporte vital, como controle de hemorragias, estabilização da via aérea e manejo da dor (KUMPF; SAADI; LIGHTHALL, 2020). Além disso, o atendimento primário permite uma avaliação rápida das funções craniofaciais, como a visão, a audição, a respiração, a fala e a deglutição, e a identificação de lesões potencialmente graves, como fracturas de mandíbula, maxila, nariz e órbitas (GHAI, 2020). 

No entanto, o manejo do trauma de face pode ser desafiador devido a vários fatores agravantes. Um dos principais é a complexidade anatômica da região craniofacial, que envolve várias estruturas vitais, como o cérebro, os olhos, os ouvidos, a boca, o nariz e os dentes. Lesões nesses órgãos podem ter consequências graves e exigem uma abordagem especializada e multidisciplinar para garantir a melhor recuperação possível (DAVID, 2022; GHAI, 2020).

Outro fator agravante é a presença de lesões associadas. O trauma de face muitas vezes ocorre em conjunto com outras lesões, como lesões cerebrais, lesões cervicais e lesões torácicas. Essas lesões podem aumentar a gravidade do trauma de face e complicar o manejo, exigindo uma avaliação e um tratamento adequado e coordenado de todas as lesões associadas (GUPTA et al., 2015). 

As condições pré-existentes do paciente também podem agravar o trauma de face. Pacientes idosos, por exemplo, podem ter uma fragilidade óssea aumentada devido à osteoporose, o que pode levar a fraturas mais graves e complicadas. Pacientes com doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares, também podem ter um risco aumentado de complicações e requerem uma abordagem cuidadosa (KELLMAN; LOSQUADRO, 2008a).

A avaliação do trauma de face é uma parte crucial do atendimento primário e deve ser realizada de forma sistemática e abrangente. A avaliação pode variar dependendo dos recursos disponíveis, do local onde o atendimento está sendo realizado e do nível de especialização dos profissionais de saúde envolvidos. No entanto, em geral, a avaliação pode incluir os seguintes passos (KELLMAN; LOSQUADRO, 2008b):

  • Avaliação da gravidade do trauma: é importante determinar a gravidade do trauma de face, incluindo a presença de lesões que representem risco iminente à vida, como hemorragias graves, obstrução da via aérea, fraturas com deslocamento, lesões oculares graves, entre outros.
  • Anamnese detalhada: é importante obter informações detalhadas sobre o mecanismo do trauma, o tempo decorrido desde o acidente, os sintomas relatados pelo paciente, histórico médico prévio, uso de medicamentos, alergias e outras informações relevantes.
  • Exame físico: deve-se realizar um exame físico completo da região craniofacial, incluindo a inspeção, palpação e avaliação funcional de todas as estruturas, como a face, a boca, o nariz, os olhos, os ouvidos, os dentes e a mandíbula. É importante identificar lesões evidentes, como cortes, contusões, deformidades ou fraturas.
  • Exame neurológico: é fundamental avaliar as funções neurológicas, como a consciência, a visão, a audição, a fala, a motricidade e a sensibilidade, para identificar possíveis lesões cerebrais associadas ao trauma de face.
  • Exames complementares: dependendo da disponibilidade de recursos e da gravidade do trauma, podem ser realizados exames complementares, como radiografias, tomografias computadorizadas (TC), ressonância magnética (RM), exames de sangue e outros exames específicos, para auxiliar na avaliação do trauma e no planejamento do tratamento.

É importante ressaltar que a avaliação do trauma de face deve ser realizada de forma rápida e eficiente, levando em consideração a priorização do tratamento das lesões que representam risco iminente à vida. A abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde especializados, como cirurgiões de face, otorrinolaringologistas, oftalmologistas, dentistas e neurocirurgiões, pode ser necessária em casos mais complexos (KORTBEEK et al., 2008).

Após a avaliação inicial, o tratamento do trauma de face pode incluir medidas como controle de hemorragias, estabilização da via aérea, redução e imobilização de fraturas, cuidados com lesões oculares, manejo da dor, profilaxia de infecções, entre outros. É fundamental seguir os protocolos e diretrizes clínicas estabelecidos, bem como garantir um acompanhamento adequado e um plano de cuidados apropriado para cada paciente, visando uma recuperação completa e minimização de complicações futuras (GHAI, 2020).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, o atendimento primário é um momento crucial no manejo do trauma de face, onde a avaliação adequada é fundamental para identificar a gravidade do trauma e os fatores agravantes envolvidos. A revisão da literatura evidencia a importância de uma abordagem sistemática e abrangente, envolvendo anamnese detalhada, exame físico completo, avaliação neurológica e, quando possível, a realização de exames complementares.

Os fatores agravantes frente ao trauma de face podem incluir a presença de lesões que representem risco iminente à vida, como hemorragias graves, obstrução da via aérea, lesões oculares graves, entre outros. Além disso, a presença de comorbidades, como doenças pré-existentes, uso de medicamentos, idade avançada, entre outros, pode influenciar no manejo e prognóstico do paciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAVID, D. J. Facial Trauma. In: FARHADIEH, R. D. et al. (Eds.). [s.l.] Elsevier, 2022. p. 480–519. 

GHAI, S. Facial Trauma Management during the COVID-19 era: a primer for surgeons. Current Medicine Research and Practice, v. 10, n. 4, p. 169–173, 2020. 

GUPTA, B. et al. Facing the airway challenges in maxillofacial trauma: A retrospective review of  288 cases at a level i trauma center. Anesthesia, essays and researches, v. 9, n. 1, p. 44–50, 2015. 

KELLMAN, R. M.; LOSQUADRO, W. D. Comprehensive Airway Management of Patients with Maxillofacial Trauma. Craniomaxillofacial Trauma & Reconstruction, v. 1, n. 1, p. 39–47, 2008a. 

KELLMAN, R. M.; LOSQUADRO, W. D. Comprehensive Airway Management of Patients with Maxillofacial Trauma. Craniomaxillofacial Trauma & Reconstruction, v. 1, n. 1, p. 39–47, 1 nov. 2008b. 

KORTBEEK, J. B. et al. Advanced Trauma Life SupporT. Journal of Trauma and Acute Care Surgery, v. 64, n. 6, 2008. 

KUMPF, D.; SAADI, R.; LIGHTHALL, J. G. The difficult airway in severe facial trauma. Operative Techniques in Otolaryngology-Head and Neck Surgery, v. 31, n. 2, p. 175–182, 2020. 

MCCORMICK, R. S.; PUTNAM, G. The management of facial trauma. Surgery (Oxford), v. 39, n. 9, p. 630–637, 2021. 

PEREIRA, A. et al. Método Qualitativo, Quantitativo ou Quali-Quanti. [s.l: s.n.].


1https://orcid.org/0009-0000-0602-0916

2https://orcid.org/0009-0009-7032-4872

3https://orcid.org/0000-0002-9478-2458

4https://orcid.org/0000-0002-0619-5342

5https://orcid.org/0009-0007-1328-8962

6https://orcid.org/0009-0008-8959-2888

7https://orcid.org/0009-0005-1643-748X

8https://orcid.org/0009-0001-6656-8016

9https://orcid.org/0009-0000-5373-1382

10https://orcid.org/0000-0001-7817-2214

12https://orcid.org/0009-0008-7883-7691

13https://orcid.org/0009-0006-3904-4053