CARE FOR A ADOLESCENT, TRANS WOMAN, IN A WOMEN’S WARD FOR PSYCHIATRIC TREATMENT: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202502221349
Bárbara Geraldo Amaro1
André Ferreira Dias 2
Isadora Goldbaum Calil Lopes2
Paula Souza Lage3
Resumo
Os transgêneros fazem parte das minorias sexuais. Estes são vítimas de estigmatização, discriminação e violência desde a infância, o que os leva muitas vezes à marginalização. Estudos relataram que essa população apresenta maior índice de consumo de álcool, tabaco, cannabis e outras drogas. Além disso, há taxas aumentadas de eventos e condições psiquiátricas entre pessoas trans, incluindo taxas elevadas de suicídio, tentativas de suicídio, automutilação, depressão e ansiedade. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) promove acesso integral à saúde para o grupo em questão. Assim, o objetivo desse artigo foi relatar o atendimento de uma adolescente transexual admitida em ala feminina de um Hospital no Paraná, para tratamento da sensação de angústia e irritabilidade, com risco de suicídio, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade e transtorno mental e comportamental devido ao uso de múltiplas drogas e ao uso de substâncias psicoativas. O Hospital fez algumas alterações estruturais físicas e de manejo para atendê-la, como reuniões de equipe multidisciplinar e das adolescentes que iriam dividir o quarto com a paciente para garantir um atendimento de qualidade. Ela teve seus direitos garantidos e uma assistência diferenciada que favoreceu seu prognóstico, recebendo alta e sendo encaminhada para tratamento ambulatorial.
Palavras-chave: Pessoas Transgêneros, Adolescência, Assistência Integral à Saúde.
ABSTRACT
Transgenders are part of sexual minorities. These are victims of stigmatization, discrimination and violence since childhood, which often leads them to marginalization. Studies have reported that this population has a higher rate of consumption of alcohol, tobacco, cannabis and other drugs. Additionally, there are increased rates of psychiatric events and conditions among transgender people, including elevated rates of suicide, suicide attempts, self-harm, depression, and anxiety. In Brazil, the Unified Health System (SUS) promotes full access to healthcare for the group in question. Thus, the objective of this article was to report the care of a transsexual teenager admitted to the female ward of a Hospital in Paraná, for treatment of feelings of anguish and irritability, with risk of suicide, Attention Deficit Hyperactivity Disorder and mental and behavioral disorder and due to the use of multiple drugs and the use of psychoactive substances. The Hospital made some physical and management structural changes to serve it, such as meetings of the multidisciplinary team and the teenagers who would share the room with the patient to guarantee quality care. She had her rights guaranteed and differentiated assistance that favored her prognosis, being discharged and referred for outpatient treatment.
Keywords: Transgender People, Adolescence, Comprehensive Health Care
1. Introdução
Quando se trata da população transgênero, a literatura é escassa em todo o mundo. A carência por dados populacionais, demográficos, socioeconômicos e educacionais é visível e, quando presentes, não traz exatidão ou estão subestimados (Eyssel et al., 2017).
O termo trans advêm do latim “do outro lado”, dessa forma, indivíduo transexual ou transgênero é aquele cuja identidade de gênero difere do gênero designado ou imposto, de acordo com o sexo. Já a transexualidade refere-se à pessoa que quer expressar-se e ser reconhecido como sendo do sexo oposto e deseja modificar seu corpo, seja por meio de terapia hormonal e/ou cirurgia (transgenialização) (Rocon et al., 2016; Pereira e Neto, 2021).
Pacientes transexuais são comumente desassistidos no que se refere ao cuidado com a saúde, talvez pelo temor da discriminação, pelo desconhecimento da condição por profissionais da saúde ou por barreiras no acesso à saúde (Stroumsa D., 2014).
A transexualidade, pelo período de 28 anos, esteve presente na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde (CID), como uma patologia, inserida na categoria dos Transtornos Mentais e Comportamentais. No entanto, a proposta lançada para a CID-11, que passou a vigorar mundialmente a partir de 2022, apresentou uma importante alteração com a inclusão do conceito de Incongruência de Gênero em substituição ao Transtorno de Identidade de Gênero. Alteração semelhante já́ havia ocorrido no ano de 2014, com o lançamento da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) que exclui o Transtorno de Identidade de Gênero e criou uma categoria, a Disforia de Gênero. A importância dessa alteração deu-se pelo fato do termo disforia relaciona-se com uma incongruência entre o gênero experimentado ou expressado e o gênero designado do indivíduo. Com isso, passou a ser considerada uma questão clínica, em função do sofrimento psíquico que tal incongruência possa acarretar, e não mais um transtorno de identidade (Barbosa e Schmidt, 2023).
A incongruência de gênero costuma estar presente desde a infância e acaba, na maioria dos casos, sendo oprimida socialmente através de preconceitos, discriminação e negação da identidade. Em função disso, pode haver uma dificuldade no processo de autoaceitação desses indivíduos, podendo gerar sofrimento psíquico e até o desenvolvimento de transtornos emocionais (Barbosa e Schmidt, 2023).
Devido ao preconceito, a discriminação, ao sentimento de invisibilidade e a violação de todas as naturezas promovidos pela sociedade no mundo atual, há uma dificuldade de acesso dos transexuais aos serviços públicos, entre eles educação, saúde, meios sociais e segurança pública. Eles apresentam ainda como agravantes de sua saúde riscos à integridade psíquica, física e moral, causando redução da qualidade de vida e promovendo danos à saúde mental e física principalmente (Corrêa et al., 2020, Silva Filho et al., 2021).
Um grupo etário em questão chama a atenção, os adolescentes, indivíduos com idade entre 12 e 18 anos, pois essa faixa etária é marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial, manifestado através de transformações anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais (Assis et al., 2020) e os adolescentes transexuais tendem a enfrentar com maior dificuldade a aceitação de seus corpos. Isso ocorre devido a esta época ser marcada por importantes alterações corporais que evidenciam as diferenças físicas entre os sexos, além de ser um período de construção identitária e descobertas.
De acordo com Nascimento (2020), neste momento os indivíduos transgêneros tendem a encontrar maior dificuldade em lidar com a sua imagem corporal, apresentando níveis mais altos de insatisfação se comparados à pessoas cisgênero e ainda estes tendem a isolarem-se socialmente em função do preconceito, da discriminação e da violência, enfrentando dificuldades em encontrar o reconhecimento de suas identidades na sociedade de forma geral e, em muitos casos, dentro do ambiente familiar.
Estudo de Santana, 2021, retratou a vulnerabilidade das pessoas transgênero que as levaram a ter necessidades de saúde diferenciadas. Entre estas destacaram-se: os diversos distúrbios de ordem psicológica acompanhados de tendências a automutilação e ao suicídio; uso abusivo de drogas; a violência, incluindo além da física, a sexual e a psicológica e a violência institucional.
O estigma vivenciado por essa população, por não condizer com as expectativas da sociedade vinculada aos padrões aceitos para o sexo atribuído ao nascimento, colocam-na em risco para desenvolvimento de transtornos mentais como depressão, ansiedade e comportamento suicida (Bockting et al., 2013).
No Brasil, é visível o alto grau de preconceito. Quando se trata de transexuais, nos quais a expressão de gênero difere da maioria populacional (cisgênero), essa situação é ainda mais nítida (Costa et al., 2013). Souza, em 2017, realizou um estudo em nível nacional, com mais de 800 indivíduos transgêneros, o qual demonstrou que aproximadamente 55% já haviam sofrido discriminação alguma vez na vida. Ademais, morar em locais com elevado índices de preconceito gera maior mortalidade da população de lésbicas, gays, bissexuais e transgênero (LGBT), uma vez que este é precursor e alimento de ações violentas (Hatzenbuehler M.L., 2014).
Além disso, estudos observaram que os jovens transexuais que sofreram abuso verbal e físico apresentaram maior probabilidade de tentativas de autoextermínio, e os indivíduos transexuais são desproporcionalmente vítimas de abuso físico. Estes também apresentaram taxas mais elevadas de consumo de álcool, tabaco, cannabis e outras drogas (Olson et al.; 2015).
Uma vez que a saúde é uma garantia social e um dever do Estado para com todos os cidadãos brasileiros, conforme o Artigo 196 da Constituição Federal de 1988 e regulamentação dada pela Lei no 8.080/90. Esta regulamentação descreveu que o Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de seus princípios de universalidade, integralidade e equidade, tem entre suas atribuições a formulação e implementação de políticas específicas direcionadas ao atendimento de demandas oriundas de grupos da população que estejam mais expostos a diferentes riscos de adoecer e morrer. Isto vale para qualquer situação que seja por características genéticas-hereditárias ou econômico-sociais, por características histórico-políticas e culturais, como nos casos da população indígena, população negra, população de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgênero e outras. Desta forma o governo deve garantir um atendimento de qualidade para pacientes transexuais de acordo com suas particularidades (Arce e Teixeira, 2017).
Portando, visto o reduzido número de estudos que abordem questões de gênero no atendimento ao adolescente transexual, o presente trabalho teve por objetivo relatar um caso clínico de mulher trans admitida em ala feminina de um Hospital em Londrina, no Paraná, para tratamento psíquico.
Não houve necessidade de obtenção do Comitê de Ética em Pesquisa aprovação porque todos os dados coletados foram secundários (relato de experiência), sem identificação dos participantes, conforme determina a Resolução nº 466 da Direção Nacional de Saúde Conselho de 12 de dezembro de 2012.
2. Relato de caso
Paciente 17 anos, sem profissão, usuária do SUS, foi admitida em um Hospital, em Londrina, no estado do Paraná, no dia 16.05.23, devido ao CID10: sensação de angústia e irritabilidade, com risco de suicídio (F32.2) + Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (F90.0) + Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias psicoativas (F19.2). Esta foi encaminhada de outro Hospital, onde ficou internada por 2 meses, e tinha recebido alta há aproximadamente 10 dias, retornando ao abrigo onde reside. Porém, ela recaiu ao uso de álcool e maconha após 4 dias da alta médica, ficando agitada, agressiva verbalmente e fisicamente, ela apresentava baixo limiar à frustrações, relatos de impulsividade, histórico de várias tentativas de autoextermínio e automutilação com vidro. Dessa forma, foi necessário nova internação, sendo esta foi de caráter compulsório.
No momento da internação a paciente estava acompanhada pela cuidadora que informou que ela era instável, apresentava comportamento agressivo e discurso negativo. Para ser recebida na instituição, a mesma precisou passar por algumas alterações estruturais: físicas e de manejo de pacientes, já que foi a primeira vez que a instituição recebeu na ala de adolescentes uma paciente transexual.
Na verdade, foi um marco para as instituições de saúde e essa admissão apresentou um aspecto político também, visto que geralmente pessoas trans são atendidas em alas de acordo com seu sexo biológico.
Para a adequação e recebimento da paciente foi realizado primeiramente uma reunião com a Equipe Multidisciplinar que a acompanharia, sendo: médica, serviço social, psicologia, terapia ocupacional, enfermagem, nutrição e educação física. Um representante de cada segmento estava presente e foram discutidas questões de gênero e de transexualidade. Foi discutido o tratamento destinado a paciente, desde horário de banho, troca de roupa, convívio com as colegas de quarto e tratamento pessoal, uma vez que seus direitos civis deveriam ser respeitados e em nenhum momento deveria haver quaisquer tratamentos discriminatórios, promovendo assim a sensibilização da equipe. Além disso, houve uma reunião com as pacientes internadas no quarto onde ficaria a adolescente, para explicação de como deveriam comportar-se diante de um paciente transexual, sanar dúvidas em relação a isso e principalmente aos limites e tratamento.
Na admissão, a paciente apresentava comportamento agressivo, estava agitada, apresentando comportamento inadequado, apresentando alucinações visuais e auditivas, poliqueixosa e com pensamentos de autoextermínio. Foi medicada e acompanhada adequadamente. Posteriormente sua internação será melhor detalhada.
A respeito da história pessoal pregressa da paciente, a assistente social contatou a família e sua avó relatou que teve três filhos de pais diferentes, sendo que um deles é homossexual e não reside com ela, outro reside em Curitiba e a filha mais nova residia com ela e a adolescente. Entretanto a tia da paciente é homossexual, diagnosticada com síndrome do pânico, depressiva, usuária de drogas, sem renda fixa, e recebia ajuda financeira de familiares, avó refere ter vários problemas de saúde. Após sucessivas discussões com a adolescente e não se sentindo capaz de cuidar dela, devido as agressões sofridas e as tentativas de suicídio da neta, a avó encaminhou a menina para um abrigo. A infância da paciente não foi nada fácil pois a mãe a rejeitava e não conseguia cuidar dela devido ela ter sido fruto de abuso sexual.
A adolescente faz acompanhamento no Caps com psiquiatra e psicólogo desde os 5 anos. Teve dificuldade no aprendizado e convivência com outras crianças, inquieta, sempre apanhava dos colegas. Aos 12 anos foi estuprada pelo primo e após assumir ser transsexual foi espancada na escola por vários alunos e informa ainda ter sofrido abuso sexual. Iniciou o uso de drogas e bebidas há dois anos quando ficou a primeira vez em abrigo. A avó informa que ela teve muitos problemas nos abrigos. Segundo o discurso da paciente houve discriminação, preconceito e abuso sexual por outros internos. Sabe-se também que a paciente não é fácil e problemática, tendo dificuldade de convivência e comprometimento com o tratamento no Caps, não tendo um diagnóstico conclusivo. Há discussão sobre diagnóstico de Transtorno de Atenção e Hiperatividade, bipolaridade, esquizofrenia, borderline, uso de drogas, até um leve autismo.
A paciente já recebeu tratamento para todas as hipóteses diagnósticas, mas sem sucesso. A avó relatou preocupação pois estava envelhecendo e não havia condições emocionais e físicas para assumir a responsabilidade pela paciente com todos esses problemas, ela temia também pela sua integridade. Ela nunca se importou em cuidar e ajudar, entretanto devido ao comportamento da neta, ela e o restante da família não tinham como garantir a segurança e a vida da paciente e dos mesmos, caracterizando vulnerabilidade familiar e social.
A internação de adolescente no Hospital em Londrina, iniciou-se conturbada nos primeiros dias e oscilava, pois ela continuava poliqueixosa, agitada, com comportamento inadequado, tentado se automutilar com gilete e dando socos no espelho, sendo necessário o aumento da medicação que inicialmente era Carbonato de Lítio, Diazepan, Quetioprina e Risperidona e contenção mecânica. Após mudança da medicação e início da terapia de grupo e atendimento individual, ela ficou mais calma.
A relação dela com as demais pacientes apresentou uma mudança interessante ao longo de sua evolução: inicialmente ela se revelou extremamente demandante, desejando muita atenção e contato com as demais, evoluindo para uma agressividade pontual com uma ou com outra que logo se amenizava. Exemplos dessa alternância de comportamento seriam quando uma das colegas apresentava comportamento de vigia da paciente enquanto tomava banho e pedia que ela abaixasse a calça para poder ficar olhando o órgão sexual da paciente, que não reagia. Diante da necessidade de ser aceita pelo grupo aceitava as situações desrespeitosas.
Em alguns momentos a adolescente chegou a ser agredida fisicamente por uma das colegas de quarto, porém não revidou um tapa recebido, pois tinha sido advertida que sua permanência naquele local apresentava um caráter político, e que para que outras transexuais tivessem acesso a esse tipo de tratamento era imprescindível que sua estadia fosse bem sucedida.
A paciente relatou que em alguns momentos continha-se, pois sabia que tinha mais força que as colegas e se revidasse a culpa poderia cair sobre ela. Relatou ainda a psicóloga, que estar pela primeira vez internada em uma ala feminina era importante e que percebia na sociedade a necessidade dessa quebra de paradigmas. Então, a psicóloga interveio chamando as colegas várias vezes para discussão de como respeitar o limite da outra.
No final da internação ela conseguiu fazer vínculos mais sólidos e equilibrados, e conseguiu respeitar mais o limite das outras. A paciente recebeu alta no dia 17.07.2023, devido a melhora em seu quadro, sendo encaminhada para tratamento ambulatorial no Caps com proposta terapêutica de manutenção de Carbonato de Lítio, Quetioprina, Risperidona e Cloropromazina.
3. Discussão
Quando se fala em disforia de gênero, conceitua-se também o termo transgênero que abrange uma gama de pessoas as quais a identidade de gênero, expressão de gênero ou comportamento não condiz com o padrão aceito culturalmente de atitudes do sexo de nascimento. Este grupo de pessoas possui significativas vulnerabilidades socioculturais, que se agravam pela discriminação, falta de conhecimento, violência e preconceitos. Tais fatores, podem empenhar uma significativa sinergia na gênese dos transtornos depressivos, visto a influência do ambiente social, econômico e cultural ao qual estes estão inseridos (Sadock e Ruiz, 2016).
A prevalência de disforia de gênero não é bem conhecida devido a fatores culturais e metodológicos. Para indivíduos masculinos que se identificam femininos, a prevalência varia de 1:11.900 a 1:45.000 e para femininos que se identificam masculinos de 1:30.400 a 1:200.000. Segundo o DMS-5, a proporção entre meninos e meninas é 2:1 a 4,5:1 na infância e 1:1 a 6,1:1 na adolescência (Meerwijk e Sevelius, 2017; Sociedade Brasileira de Pediatria, 2020).
É importante ressaltar que no ambiente familiar são formadas as ligações iniciais que garantem a habilidade da criança em se relacionar e desenvolver vínculos afetivos posteriormente. Desta forma, o apoio familiar é um elemento importante para o processo saudável de autodesignação de gênero (Nascimento et al., 2020). Quando a criança não consegue afirmar a identidade de gênero isso interfere em sua capacidade de desenvolver e manter relacionamentos interpessoais saudáveis, assim como outros desfechos negativos, com a perda do interesse escolar, maior risco de uso de álcool e outras drogas, piora em saúde física e mental, além de maior risco de comportamentos suicidas (Hidalgo e Chen, 2019).
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, 2020, os transtornos de humor, transtornos de personalidade, uso e abuso de drogas e ansiedade são mais frequentes entre os indivíduos com disforia de gênero. O comportamento suicida também é maior, independentemente da presença de qualquer comorbidade psiquiátrica. O risco, no entanto, aumenta quando há associação com depressão, ansiedade, uso indevido de substâncias e fatores sociais como rejeição e discriminação dos pais. Nesse sentido, deve-se sempre ter em mente que o estigma social associado, nomeado como “estresse das minorias”, repercute negativamente na qualidade de vida e saúde mental dos sujeitos. (Sociedade Brasileira De Pediatria, 2020).
Em relação a saúde mental do grupo em questão, estudo sobre disparidades demonstrou que os jovens transexuais tinham um risco duas a três vezes maior de depressão, transtorno de ansiedade, ideação suicida, tentativa de suicídio, comportamentos de automutilação e utilização de serviços de saúde mental para pacientes internados e ambulatoriais em comparação com jovens cisgêneros (Reisner et al., 2015). Isso devido a falta de auxílio social e até episódios de abuso físico e/ou emocional de cunho homofóbico e transfóbico que é encarado desde cedo por essa minoria. Essas experiências têm um impacto negativo na autoestima, no sentimento de abandono, no estigma social e consequentemente na gênese de transtorno mentais a qual a população LGBT demonstrou índices com alta sintomatologia (Clark et al., 2014; Souza J.A., 2018; Correa et al., 2020).
Além disso, um trabalho realizado no Hospital Infantil de Boston (EUA), observou que os pacientes trans apresentavam alta prevalência de comorbidades psiquiátricas diagnosticadas (44%), histórico de automutilação (21%), histórico de hospitalização psiquiátrica (9%) e histórico de tentativa de suicídio (9%). Outro trabalho realizado com 101 jovens transgêneros com idades entre 12 e 24 anos acompanhados no Centro de Saúde e Desenvolvimento Transjuvenil do Hospital Infantil de Los Angeles descreveu que 15% tiveram depressão leve, 9% tiveram depressão moderada e 11% tiveram depressão grave conforme avaliado no Beck Depression Inventory. Metade relatou ter pensamentos suicidas, enquanto 30% tentaram autoextermínio (Shumer et al.; 2016).
Estudo de Nascimento, 2020, realizado com crianças e adolescentes transexuais demonstrou ainda que adolescentes trans expressavam angústia em suas relações na sociedade e declaravam que as pessoas desconhecem e não buscam compreender o que é ser uma pessoa transgênero. Além disso, informaram ser rotulados como “a pessoa transexual”, o que gera um incômodo. Nessa perspectiva, muitas vezes a curiosidade de outras pessoas e perguntas íntimas em relação ao corpo trazem desconforto aos adolescentes, pois sentem sua intimidade exposta e invadida, fazendo-os sentir-se estranhos ou anormais.
Quando se trata da assistência à saúde, Almeida e Murta (2013) relataram que a assistência ao paciente transexual no Brasil teve uma trajetória da luta pela conquista e implementação de direitos. Essa luta iniciou-se no final da década de 1970 e início dos anos 80, no contexto do processo de luta e implementação da redemocratização do país, quando vários segmentos da sociedade levaram às ruas as reivindicações políticas comuns e as específicas dos diferentes segmentos sociais. O direito à diferença e a identidade de gênero, por parte das comunidades LGBTs, encontraram amparo na Constituição de 1988. Assim sendo, a Portaria GM/MS nº 1.707, de 18 de agosto de 2008, foi um importante marco, pois definiu as Diretrizes Nacionais para o Processo Transexualizador no SUS e posteriormente a Portaria GM/MS nº 2.803, de 19 de novembro de 2013, na qual o Ministério da Saúde redefiniu e ampliou o processo transexualizador no SUS, permitindo ampliação de seus direitos (Pereira e Neto, 2021).
Apesar das conquistas, a população trans, dentro do acrônimo LGBT, é uma das que mais enfrenta dificuldades para acessar os serviços de saúde, da atenção básica à alta complexidade, segundo Rocon e colaboradores, 2020. O acesso à saúde pública por este grupo tem sido um desafio, persistindo: episódios de discriminação e patologização da transexualidade; baixa qualificação dos profissionais frente as demandas das pessoas trans; acolhimento inadequado/insuficiente; falta de recursos para o desenvolvimento dos programas e ações de promoção à saúde do grupo em questão e vínculo precário entre o profissional de saúde e o paciente (Rocon et al., 2018; Rocon et al., 2020).
Entretanto o direito de acesso a saúde é garantido pelos princípios norteadores do SUS no qual descreve a respeito da igualdade da assistência à saúde sem nenhuma discriminação/privilégio. Nesse sentido, o cuidado a que o SUS se propõe é perpassado pelo atendimento a todo sujeito, independentemente de sua identidade de gênero e/ou orientação sexual (Silva et al., 2021). Ademais, a proteção especial da criança e do adolescente é garantida pela Constituição Federal de 1988, que, em seu Artigo 227, estendeu direitos fundamentais e inseriu no direito nacional a doutrina da proteção integral e o princípio da prioridade absoluta ao direito da criança e do adolescente (Brasil, 1988). O Estado brasileiro na década de 1990, formulou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Brasil, 1990), e esse ordenamento jurídico nacional de pronto deixou cristalino o seu objetivo: a proteção integral à criança e ao adolescente.
Segundo Assis e Jesus, 2020, o acesso aos serviços de saúde é multidimensional envolvendo aspectos políticos, econômicos, sociais, organizativos, técnicos e simbólicos. Observou-se neste estudo que em relação às pessoas trans há barreiras ao acesso em todas as dimensões (Albino et al. , 2021).
Os adolescentes transexuais devem ter acesso à terapia psicológica para apoio e um meio seguro para explorar a sua identidade de gênero, ajustar-se aos aspectos socioemocionais da incongruência de gênero e discutir expectativas realistas para uma terapia potencial (American Psychological Association, 2015; HERMAN et al., 2017).
A assistência em saúde a pessoas trans vincula-se historicamente ao campo dos saberes biomédicos e PSI – psiquiatria, psicanálise e psicologia – que seguem ocupando uma posição privilegiada de interlocução na formulação de modalidades explicativas e de intervenção sobre as sexualidades e o(s) gênero(s). A equipe interdisciplinar deve promover uma construção de cada caso, evitando a fragmentação das intervenções, mantendo sempre o lugar central reservado ao paciente que é verdadeiramente quem conduz a equipe por um percurso singular (Pontes et al., 2020).
A psicoterapia (individual, casal, família ou grupo) deve ter o foco na identidade de gênero, preconceito, apoio social, imagem corporal, promoção da resiliência e suporte para lidar com o sintomas psíquicos associados ao quadro e além das técnicas terapêuticas, existem ainda algumas estratégias de enfrentamento e orientações atreladas ao processo terapêutico de pacientes com depressão, sintomas depressivos e outras psicopatologias, no enquadre da abordagem cognitiva comportamental e de outras abordagens. Entre estas, podemos destacar a realização de atividade física, a arte terapia, a regulação ou adequação do sono, bem como outras terapias alternativas que possam contribuir para o tratamento da depressão (Scarpati e Gomes, 2020).
É preciso considerar que profissionais de saúde devem seguir preceitos éticos, tratando todos os pacientes com dignidade, humanização e sem distinção de raça, cor e sexualidade. Crianças, adolescentes e adultos com incongruência de gênero devem sempre ser acolhidos e tratados nos serviços de saúde, seguindo os preceitos da universalidade, integralidade e equidade da atenção, princípios resguardados pelo SUS.
O grande desafio para uma assistência de qualidade a estes pacientes é o reconhecimento do sofrimento psíquico e a importância de tratar desigualmente os desiguais, como forma de justiça social (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2020).
4. Considerações finais
Com base no relato exposto foi possível concluir que apesar das barreiras encontradas pelos pacientes transexuais no sistema de saúde brasileiro houve um atendimento efetivo e diferenciado a adolescente, garantido pela Constituição, pelos Princípios do SUS e pelo Estatuto da Criança e Adolescente.
Além disso, foi possível observar a relevância de uma equipe multidisciplinar atuando de maneira ordenada, organizada e principalmente com os mesmos objetivos pode trazer inúmeros benefícios ao paciente.
Por fim, foi importante perceber o movimento ordenado e organizado realizado pelo hospital de forma a atender a paciente de forma integral e plena, ajustando sua estrutura para tal. Isso demonstra a mobilização organizacional de forma a se tornar referência para outras entidades no acolhimento deste tipo de paciente.
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1Especialista, Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo, São Paulo, Brasil.
2Especialista, Psiquiatria no Hospital Vida- Londrina, Paraná, Brasil.
3Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais/ UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.