ATENÇÃO ODONTOLÓGICA A PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8184942


Erick Michell Bezerra Oliveira1,
Flávio Bruno Rodrigues de Assunção2,
Carlos Pedro Magalhães da Silva3,
Aldileia Lima Costa Miranda4,
Jonas Alves Cardoso5,
Julianne de Area Leão Pereira da Silva6,
Alan Borba Pereira7,
Geraldo Carvalho Magalhães8,
Bruna Maria Almeira Carlos da Cunha9


RESUMO

INTRODUÇÃO: Apesar da escassez de pesquisas que apresentem resultados da ligação das contaminações odontológicas com a aparência de reações hansênicas, ações de infecção na cavidade oral, e também no corpo por completo, tendem a estimulações de atuações do sistema imunológico, o que resulta na aparição de reações em pessoas acometidas pelo bacilo. OBJETIVO: Analisar o papel da assistência odontológica prestada ao paciente com hanseníase. MÉTODOS: Tratou-se de uma revisão bibliográfica narrativa, com artigos publicados nos últimos 10 anos (janeiro de 2012 a janeiro 2022), encontrados nas bases de dados Google Acadêmico, Literatura da América Latina e Caribe – LILACS, Biblioteca Cochrane no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde – BIREME, Scientifc Eletronic Library Online – SCIELO, além de dissertações e teses. RESULTADOS: A ligação entre a hanseníase e a saúde bucal, é relevante lembrar que não têm lesões patognomônicas da hanseníase, contudo, múltiplas pesquisas têm mostrado a apresentação de lesões bucais em indivíduos com hanseníase em níveis distintos. A hanseníase tem sua importância para a odontologia, por conta das manifestações orofaciais. A saúde bucal em pessoas com hanseníase é precária, ou seja, com grandes níveis de cárie e doença periodontal, com mínimo desenvoltura dos cirurgiões-dentistas no tratamento e assistência dessa doença. CONCLUSÃO: Ainda são poucos os estudos referentes à prática odontológica em usuários portadores de Hanseníase. No entanto, por ser um problema de saúde pública, o papel do cirurgião-dentista é fundamental na assistência integral a estes usuários, auxiliando na redução de focos de infecção e aparecimento de reações hansênicas.

Palavras-chave: Lepra. Dentista. Odontologia. Saúde Pública.Parte superior do formulário

1 INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma patologia infectocontagiosa ocasionada pelo Mycobaterium leprae, que lesiona especialmente a pele e os nervos periféricos, procedendo em neuropatia e distúrbios de modo crônico adjuntas durante a trajetória da doença, abrangendo deficiências e deformidades. Seu aspecto clínico e a classificação da hanseníase está sujeito ao nível de imunidade mediada por células (IMC) demonstrada pelo sujeito em comparado à micobactéria. Os diversos tipos de hanseníase são especificados conforme a categorização de RidleyJopling: Tuberculóide (TT), Borderline (BB), Borderline Tuberculóide (BT), Lepromatosa (LL) e Borderline Lepromatous (BL)1.

Apesar da escassez de pesquisas que apresentem resultados da ligação das contaminações odontológicas com a aparência de reações hansênicas, ações de infecção na cavidade oral, e também no corpo por completo, tendem a estimulações de atuações do sistema imunológico, o que resulta na aparição de reações em pessoas acometidas pelo bacilo de Hansen2.

As pesquisas revelam a grande manifestação de periodontite, cárie, níveis altíssimos de placa dentária, ampla perda dentária e a existência de lesões bucais em pacientes com hanseníase3,4,5. Contudo, ainda não se tem a clareza que esse aparecimento bucal tem real afinidade com a hanseníase ou somente é a reflexão de uma representação epidemiológica do acesso restrito aos serviços de saúde por esses pacientes1.

Assim a intervenção do cirurgião-dentista na atenção primária, secundária e terciária em saúde deve ocorrer principalmente na prevenção, além de ser designado pela formação e desenvolvimento de ações e políticas que amenizem a exibição dos indivíduos às condições de risco de patologias infectocontagiosas e crônicas que sensibilizem a comunidade do quanto são importantes a prevenção e o diagnóstico prévio6.

A insuficiente noção dos cirurgiões-dentistas a respeito da hanseníase afeta sua cooperação em ações de prevenção e manejo desta patologia em conjunto com a equipe multidisciplinar em saúde, além de retardar a promoção e o tratamento da saúde bucal das pessoas com hanseníase. Diante do exposto, é necessário que os cirurgiões-dentistas possuam noções básicas a respeito da hanseníase, sobretudo focalizado no diagnóstico precoce, sua gravidade, sinais, sintomas e diagnóstico.

No contexto da Hanseníase, o cirurgião-dentista tem suas ações na promoção e prevenção da saúde bucal tendo como domínio proporcionar assistência odontológica, executando a avaliação diagnóstica, terapêutica e reabilitação. Além disso as competências profissionais e as ações educacionais em conjunto com diferentes profissionais. Esses argumentos justificam a relevância na construção de uma revisão narrativa com tema atenção odontológica a pacientes portadores de Hanseníase, embasando-se em documentos oficiais e pesquisas científicas do ramo odontológico em contexto nacional e internacional, pois dessa maneira temos a possibilidade do conhecimento do que realmente encontra-se publicado e em desenvolvimento na odontologia com o intuito da ampliação de estudos futuros.

Os estudos na odontologia são primordiais para a origem de bases de informação, assim tem-se mais segurança na fundamentação da prática clínica, assim como a probabilidade no apontamento dos impactos da hanseníase e do acompanhamento necessário no dia-a-dia destes pacientes.

2 METODOLOGIA

Este estudo tratou-se de uma revisão bibliográfica narrativa, o qual, corresponde na exposição de pesquisas atualizadas a respeito do tema explorado com o objetivo de destacar lacunas no corpo de pesquisas, portanto estimular os estudiosos a aprimorar as bases de dados científicos. A revisão narrativa possibilita a efetivação de uma apreciação ampla e atual, permitindo uma apreciação crítica do estudo em questão a começar das bases teóricas e contextual dos pesquisadores, promovendo a escolha e análise de elementos que se conectam com os objetivos do estudo7.

A pesquisa foi realizada com artigos publicados nos últimos 10 anos (janeiro de 2012 a janeiro 2022), encontrados nas bases de dados Google Acadêmico, Literatura da América Latina e Caribe – LILACS, Biblioteca Cochrane no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde – BIREME, Scientifc Eletronic Library Online – SCIELO, além de dissertações e teses.

Foram analisadas 32 publicações científicas contemplando o tema “ATENÇÃO ODONTOLÓGICA A PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASE”. As palavras-chave utilizadas foram: “Lepra, Dentista, Odontologia, Saúde Pública.” nas línguas portuguesa e inglesa. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos com texto integral disponível, publicação em periódico revisado por pares, ano de publicação (2012 a 2022), critérios de exclusão: estudos incompletos, estudos que não contemple a temática. Todos os tipos de pesquisa foram considerados (revisão, estudos experimentais e estudos de caso).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 HANSENÍASE

A hanseníase é uma patologia infecciosa, de estilo crônico e avaliada como um amplo problema de saúde pública em nações como no Brasil. O agente etiológico é o Mycobacterium leprae, bacilo que infecta os nervos periféricos, olhos e pele. A patologia é capaz de progredir de forma branda e progressiva, originar incapacidades físicas, quando não buscado o devido tratamento8.

O tempo para sua incubação tem variação de 2 a 7 anos, tem elevada taxa de infecção, entretanto com reduzida virulência. Sua característica básica é a aparecimento de lesões cutâneas seguidas da redução de sensibilidade térmica, tátil e dolorosa9.

Sua propagação acontece por meio da relação direta com o indivíduo infectado e principalmente através do contato pelas vias aéreas por meio de gotículas (espirro ou tosse). A hanseníase tem o ser humano como o portador do bacilo. Essa doença ataca indivíduos de diferentes idades, dos dois sexos e tende a se desenvolver em um amplo período, perdurando em tempo de 2 a 7 anos de incubação. Outros condicionantes ligados à sua transmissibilidade abrangem os modos de vida da pessoa e a convivência com seres humanos em um único ambiente, o que tende na influência do perigo de ser contaminado pela enfermidade10.Conforme11 os danos cutâneos têm a possibilidade de lançar inúmeros bacilos, e as lesões com feridas na pele são capazes de ser meio de entrada para a microbactéria.

Os principais sinais e sintomas da hanseníase são: manchas com aspectos esbranquiçados (hipocrômicas), avermelhadas ou acastanhadas na pele, acrescidas de modificações na sensibilidade ao tato e/ou calor, choques, formigamentos e a um maior ação de câimbras nas pernas, que tem sua evolução para ficar dormente – assim essa pessoa pode se queimar ou se machucar sem mesmo perceber pápulas, tubérculos e nódulos (caroços), habitualmente com a ausência de sintomatologia, redução ou perca de pelos, localizado ou difuso, principalmente nas sobrancelhas, pele avermelhada, com redução ou falta de suor na localidade12.

Ademais, pode-se observar também: dor, espessamento de nervos periféricos, redução e/ou perca total da sensibilidade nas localidades dos nervos infectados, redução e/ou perca da força da musculatura inervadas por estes nervos, especialmente nos membros inferiores e superiores, edema nas mãos e cianose nos pés e diminuição da hidratação da pele, artralgia e febre, manifestação repentina de manchas adormecidas acrescidas a dor nos nervos dos cotovelos, tornozelos e joelhos, congestão, lesões e ressecamento do nariz, percepção de sequidão e presença de areia no globo ocular10.

3.2 A ODONTOLOGIA COMO MEIO DE PROMOVER SAÚDE

O Sistema Único de Saúde – SUS “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, além da organização e do funcionamento dos seus serviços correspondentes”. Conforme a constituição, esse sistema necessita de uma organização desde a descentralização das ações; assistência integralizada com preferência em práticas de evento e a colaboração da comunidade13.

A saúde bucal é componente da saúde geral e não se pode pensar o contrário, o efeito da saúde bucal na qualidade de vida e personalidade das pessoas é evidente e ratificado por meio de contínuos estudos científicos publicados. A admissão da saúde bucal no SUS foi uma inovação nos cuidados da comunidade brasileira14.

A Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente) sugere a reestruturação da atenção à saúde bucal com o objetivo nas atuações de promoção, prevenção e reabilitação da saúde bucal a toda nação brasileira, fundamentada nos princípios e diretrizes do SUS15.

A ampliação do acesso à saúde bucal foi observada nos grupos populacionais mais vulneráveis, embora o sistema tem demonstrado suas dificuldades, como a fragilidade dos programas e políticas de saúde, da competência dos gestores e do domínio social, sem contar o problema para organização de uma rede hierarquizada e regionalizada e de ações e serviços de saúde, afetando a integralidade e universalidade do SUS. Com a instalação das diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) em 2004, respeitáveis melhorias foram observadas na atenção à saúde bucal, assim também novos obstáculos nasceram15.

De forma adicional, o desenvolvimento da atenção secundária à saúde, estimulada pela PNSB, agrupou o oferecimento de procedimentos de ampla complexidade, como tratamentos protéticos, endodônticos, ortodônticos, ajuda nos diagnósticos (biopsias e radiologia) e outros, estruturando a rede de serviços de saúde bucal16.

Compete ao cirurgião-dentista a avaliação e o diagnóstico dos pacientes com modificações nas estruturas bucais e anexas; esse diagnóstico é feito exclusivamente através de um exame clínico sistematizado, ordenado e completo, integrado pela anamnese e exame físico com uma análise minuciosa das estruturas intraorais e extraorais17, caso comentado18 expondo que o exame físico apropriado é a básica medida de prevenção.

Muito frequentemente as manifestações bucais acontecem com base em alterações sistêmicas, bem como, a existência de doenças sistêmicas motivadas por condições bucais, podemos citar, o exemplo da bactéria Streptococcus viridans, que é membra da microbiota oral de pessoas saudáveis e tem a capacidade de gerar endocardite e septicemia. Essa pesquisa ratifica a importância que o cirurgião-dentista tem no diagnóstico de modificações sistêmicas e bucais19.

Algumas condições da saúde bucal são vistas como problemas de saúde pública em papel de sua alta prevalência, impacto individual e comunitário, despesas que carecem ao sistema de saúde e presença de técnicas efetivas de prevenção e tratamento20.

3.3 ODONTOLOGIA E PACIENTES PORTADORES DE HANSENÍASE.

É grandemente reconhecida que a saúde bucal é essencial para qualidade de vida de qualquer ser humano. Todavia, as manifestações bucais da hanseníase não têm ganhado muita atenção. O conhecimento sobre essas lesões é importante para a comunidade, profissionais de saúde como dentistas e leprologistas21.

Favorecer ações que colaborem para o diagnóstico antecipado da hanseníase é essencial para o domínio da doença, logo é formidável que os profissionais de saúde tenham conhecimento de seus sinais e sintomas22.

O preconceito contra os indivíduos contaminados pela hanseníase nos locais de atendimento tem a possibilidade de acontecer em múltiplos níveis e períodos. Problemas na entrada dos serviços de saúde para diagnóstico, tratamento, assistência posteriormente ao término do tratamento, manipulação das reações hansênicas e das reações motivados pela poliquimioterapia (PQT), paralisação da procura ativa e defeitos no acolhimento são exemplos de atos discriminatórios a nível institucional. Sem falar a negligência com a reabilitação, o que resulta no progresso das incapacidades23.

Nesse aspecto, a equipe multidisciplinar necessita tornar-se encarregada pela aplicação e desenvolvimento de atitudes que sejam capazes de impactar a saúde da comunidade, resultando numa mais apropriada qualidade de vida a sociedade, logo usando a conscientização é que as pessoas conseguirão dar início de forma imediata em seu tratamento24.

Hoje em dia, temos o conhecimento que os indivíduos com doenças infectocontagiosas, tem a possibilidade de exibir múltiplas alterações bucais derivados do nível de desgaste do sistema imunológico25.

Nesse âmbito, o cirurgião-dentista necessita atuar no diagnóstico da hanseníase e da assistência a esses pacientes, não importando de ser casos novos ou antigos. Na prática odontológica, sem exceção quando houver suspeitas de hanseníase, o exame clínico necessita ser realizado pelo complexo bucomaxilofacial, consentindo a identificação de sinais e sintomas de alguma região do corpo humano através da classificação de achados sobre o estado geral de saúde da pessoa25.

O Ministério da Saúde indica que os integrantes da equipe de saúde bucal da Estratégia Saúde da Família produzam ações e programas educativos para prevenir a doença, tratá-la, combater seu estigma, informar os enfermos a respeito das decorrências adversas de medicamentos e a prevenção de incapacidades, cooperando para a vigilância epidemiológica26.

Um alvo mais amplificado nos atendimentos de assistência odontológica pode colaborar para o progresso da condição de saúde das pessoas e da sociedade22. A pouca informação de cirurgiões-dentistas e outros profissionais de saúde a respeito da doença é um grande destaque entre as condições que agravam o combate a hanseníase27.

Sobre a ligação entre a hanseníase e a saúde bucal, é relevante lembrar que não têm lesões patognomônicas da hanseníase, contudo, múltiplas pesquisas têm mostrado a apresentação de lesões bucais em indivíduos com hanseníase em níveis distintos. Há uma grande prevalência de doença periodontal inflamatória crônica em indivíduos com hanseníase resultante da presença de Mycobacterium leprae na mucosa gengival22.

A hanseníase tem sua importância para a odontologia, por conta das manifestações orofaciais. Dos diversos tipos de hanseníase, a LL é a mais facilmente conexa a distúrbios orofaciais. Estes contêm nódulos intraorais na região do palato, lábios e faringe, dorso da língua, e alterações esqueléticas que são capazes de destruir o processo alveolar pré-maxilar adjunta à perda ou mesmo afrouxar os incisivos superiores. Essas mudanças nasais e orofaciais possivelmente sejam resultado da prioridade dos M. leprae por tecidos mais frios. Mas ainda não está completamente comprovado se essas modificações têm relacionamento com a patologia ou ao não cuidado da saúde bucal acrescida pelo modo de vida desses pacientes1.

Algumas pesquisas já apontam uma provável conexão entre as manifestações de eventos reacionais e infecção dentária28. A saúde bucal em pessoas com hanseníase é precária, ou seja, com grandes níveis de cárie e doença periodontal (DP)29, com mínimo desenvoltura dos cirurgiões-dentistas no tratamento e assistência dessa doença30.

As manifestações da hanseníase e as infecções dentárias apresentam determinadas particularidades comuns. Ambos são processos crônicos de desenvolvimento lento, envolvidos por uma série de ações inflamatórias e imunopatológicas seguidas de interações entre bactérias e seus produtos, e o hospedeiro com seu sistema imunológico. Tanto as desordens da hanseníase quanto a expansão e agravamento da DP manifestam-se como agravos secundários, resultantes de um modo de defesa falho do hospedeiro. Mediadores comuns e fundamentais nas duas condições abrangem IL-1, IL-4, IL-6, IL-8, IL-10, TNF e IFN31.

O desbloqueio de citocinas em retorno a bactérias da cavidade oral está entre os artifícios subjacentes aos efeitos sistêmicos da periodontite. Foi estudado a função das infecções dentárias na estimulação, sustentação ou agravamento de ocorrências reativas e destacaram a provável função da IL-6, IL-10 e IL-1 nesses episódios. Todavia, tem-se a precisão de pesquisas mais aprofundadas para o entendimento dessa provável interação32

A teoria de uma íntima afinidade entre doenças bucais e certas condições sistêmicas não são de hoje. As pesquisas em odontologia e medicina têm confirmado a afinidade bidirecional com a saúde geral de uma pessoa e a saúde bucal, assim como as doenças bucais exclusivas, como as DPs32.

Ações inflamatórias na região do palato duro, partindo de pequenas depressões com proximidade das suturas palatinas transversais, até perfuração palatina, junto com a atrofia da espinha nasal anterior e processo alveolar da maxila foram analisadas na maior parte desses espécimes. Atreladas, a elas constituíram a tríade fácies leprosa que era excessivamente sugestiva de hanseníase. O abarcamento do palato duro indica que as manifestações da mucosa oral acontecem em indivíduos com doença bem avançada. A abrangência da mucosa oral na hanseníase é considerada de grande valor epidemiológico, pois, ligado com o envolvimento da mucosa nasal, é capaz de ser uma grande forma de transmissão do bacilo33.

As lesões orais na hanseníase são de desenvolvimento lento e comumente são assintomáticas. O espectro das lesões tem sua variação desde relativamente como enantema de palato ou úvula, que na histopatologia não apresenta alterações ou infiltrado inespecífico, até mesmo lesões mais peculiares como pápulas, nódulos e úlceras, que conseguem sua apresentação de positividade bacilar33.

A pesquisa realizada por Sun34 incluiu 613 indivíduos com hanseníase na China e teve como resultado que a maior parte das pessoas com hanseníase não apresentava conhecimentos sobre autocuidado na saúde bucal. É fato que esses enfermos tinham precisões normativas de tratamento odontológico muito elevadas; 55,6% de restaurações originada por cárie dentária35. Os levantamentos que se originam com frequência são as cáries em indivíduos acometidos e os possíveis motivos para a elevada presença de cárie neste grupo.

O avanço da saúde bucal é uma incitação significativa em muitas nações em desenvolvimento. Assim, como também a cárie dentária permanece sendo uma grave problemática de saúde em vários países desenvolvidos35,36. A OMS produziu indicadores para definições, critérios diagnósticos e classificações da cárie que são capazes de ser aplicados para calcular o estado de saúde bucal na vivência clínica e em pesquisas epidemiológicas37. Podemos citar, a descrição da prevalência de cáries dentárias, o número de dentes cariados (D), perdidos (M) e obturados (F) (CPOD) são ajustados para o fornecimento da pontuação CPO-D38.

Pesquisas atuais observaram a ausência de ações adequadas para higiene bucal entre pessoas com hanseníase, o que cooperou para uma saúde bucal precária39,40. Há uma evidente precisão da conscientização desses enfermos e profissionais de saúde para que assim a higiene bucal ganhe uma assertiva atenção40.

O índice CPOD é possível ser utilizado para a comparação da saúde bucal de pessoas não diagnosticadas com hanseníase, com a de indivíduos com hanseníase, e indicadores de risco conexos são capazes de ser identificados para a aprimorar a saúde bucal e organizar ações efetivas de prevenção das doenças bucais. Esse segmento tem a possibilidade do fortalecimento das políticas de saúde pública em todo o planeta. Assim, os dentistas conseguem usar os escores deste índice para a avaliação das condições de cárie de indivíduos com hanseníase41.

É indiscutível que os dentistas necessitam do desenvolvimento não somente de aptidões pertinentes às técnicas e práticas odontológicas, mas igualmente daquelas focalizadas em pessoas com hanseníase. O cirurgião-dentista pode e tem o dever da contribuição na prevenção, controle e assistência da hanseníase, ser participante de campanhas de educação em saúde e entender sua função nas ações de vigilância epidemiológica e nos programas de saúde pública30.

4 CONCLUSÃO

Ainda são poucos os estudos referentes à prática odontológica em usuários portadores de Hanseníase. No entanto, por ser um problema de saúde pública, o papel do cirurgião-dentista é fundamental na assistência integral a estes usuários, auxiliando na redução de focos de infecção e aparecimento de reações hansênicas e, consequentemente, proporcionando uma melhoria das condições de saúde bucal desses indivíduos assim evitando o aumento da demanda em serviços especializados.

Reafirma-se, portanto, a importância do fortalecimento da atuação do cirurgião-dentista na Atenção Primária à Saúde, além dos processos educativos permanentes para capacitar e preparar estes profissionais.

Ressalta-se também a necessidade de novas pesquisas acerca deste tema, buscando compreender melhor as consequências que esta doença traz para cavidade oral e, a partir daí, elaborar protocolos clínicos de assistência prestada a esses usuários.

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1,8Universidade Federal da Paraíba – UFPB2,3,7,9Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão – UniFacema
4,6Universidade Federal do Maranhão – UFMA5Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS