REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7998608
Eliel Siqueira da Silva Júnior1
Prof. Dr. Saulo José Figueiredo Mendes2
Profa. Izabel Cristina Portela Bogéa Serra2
RESUMO
INTRODUÇÃO: Os Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA) são compostos naturais precursores ou derivados da testosterona, deste modo, estimulam os feixes de células musculares e miócitos, a fim de produzirem proteínas a um ritmo mais acelerado. O uso ilícito vem crescendo de forma preocupante entre a população, principalmente entre jovens praticantes de musculação, que buscam o efeito anabólico do fármaco sobre a massa muscular. O uso indiscriminado destas terapias para fins estéticos e esportivos causam diversos riscos a saúde humana.
OBJETIVOS: analisar a partir de uma revisão integrativa a importância da Atenção Farmacêutica no controle e dispensação de Esteroides Anabólicos Androgênicos.
MÉTODOS: Trata-se de uma revisão de literatura, as buscas de estudos foram coletadas nas bases de dados do Google Acadêmico e LILACS. Para identificar os artigos foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: “Atenção Farmacêutica”; “Esteroides Anabólicos Androgênicos”; “Controle e dispensação”. Foram contemplados artigos no idioma português e disponíveis na íntegra, datados entre 2015 a 2022.
RESULTADOS: A busca eletrônica nas referidas bases de dados retornou um total de 417 artigos, no qual apenas 10 foram incluídos nesta revisão integrativa. Identificou-se através dos estudos que os AEEs mais vendidos/comercializados em Farmácias são: Oxandrolona, Estanazolol, e tratando da testosterona mais procurado, destaca-se o Durateston®. Observou-se que os erros e/ou irregularidades geralmente associadas as prescrições e dispensação destes fármacos foram: prescrições de médicos generalistas, ou seja, sem especialidade em endocrinologia ou outra necessária para a prescrição, receitas sem preenchimento adequado, inexistência de carimbo e assinatura do farmacêutico, inexistência de nome e endereço/telefone do comprador.
CONCLUSÃO: Identificou-se através desta revisão integrativa que o farmacêutico deve promover a saúde do indivíduo, especialmente, quando este apresenta-se nas Farmácias e Drogarias com o intuito de comprar fármacos de cunho AEE. Logo, é imprescindível que o profissional da Farmácia identifique possíveis erros na receita médica, e avalie as condições a serem vendidos estes medicamentos, haja vista que a prescrição e comercialização atualmente é proibida para fins estéticos e esportivos.
Palavras-chaves: Atenção Farmacêutica. Esteroides Anabólicos Androgênicos. Prescrição.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Anabolic Androgenic Steroids (AAS) are natural compounds that are precursors or derivatives of testosterone, thus stimulating bundles of muscle cells and myocytes in order to produce proteins at a faster rate. Illicit use has been growing worryingly among the population, especially among young bodybuilders, who seek the anabolic effect of the drug on muscle mass. The indiscriminate use of these therapies for aesthetic and sports purposes causes several risks to human health.
OBJECTIVES: To analyze, from an integrative review, the importance of Pharmaceutical Care in the control and distribution of Anabolic Androgenic Steroids.
METHODS: This is a literature review, searches for studies were collected from Google Scholar and LILACS databases. To identify the articles, the following keywords were used: “Pharmaceutical Care”; “Anabolic Androgenic Steroids”; “Control and Dispensing”. Articles in Portuguese and available in full, dated between 2015 and 2022, were contemplated.
RESULTS: The electronic search in these databases returned a total of 417 articles, of which only 10 were included in this integrative review. It was identified through the studies that the most sold/commercialized AEEs in Pharmacies are: Oxandrolone, Stanazolol, and dealing with the most sought after testosterone, Sustanon® stands out. It was observed that the errors and/or irregularities generally associated with the prescriptions and dispensing of these drugs were: prescriptions by general practitioners, that is, without expertise in endocrinology or another necessary for the prescription, prescriptions without proper filling, lack of stamp and signature of the pharmacist, lack of name and address/phone number of the buyer.
CONCLUSION: It was identified through this integrative review that the pharmacist should promote the individual’s health, especially when he appears in pharmacies and drugstores with the intention of buying AEE drugs. Therefore, it is imperative that the Pharmacy professional identify possible errors in the medical prescription, and assess the conditions for selling these drugs, given that prescription and marketing is currently prohibited for aesthetic and sports purposes.
Keywords: Pharmaceutical Care. Anabolic Androgenic Steroids. Prescription.
1 INTRODUÇÃO
Os Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA) são compostos naturais precursores ou derivados da testosterona, hormônio sexual masculino. A testosterona é um hormônio androgênico que é secretado pelas células testiculares de Leydig, sendo responsável pela função e crescimento do trato genital, pela diferenciação sexual masculina e pela potência sexual (CÂMARA, 2018).
A testosterona desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de tecidos reprodutivos masculinos, como testículos e próstata, bem como a promoção de características sexuais secundárias, como o aumento da massa muscular, aumento e maturação dos ossos e o crescimento de pelos e cabelos corporais (MAIA, 2020).
Os esteroides assemelham-se aos efeitos da testosterona no corpo humano, uma vez que estimulam os feixes de células musculares e miócitos, a fim de produzir proteínas em um ritmo mais acelerado. Assim, os esteroides anabólicos elevam o acúmulo de nitrogênio proteico e não proteico existente nos alimentos, promovendo assim a modificação de proteínas para os músculos esqueléticos (DELGADO; GICO JR, 2018).
Os EAAs possuem diversas finalidades clínicas, sendo um dos principais usos a reposição ou aumento da secreção endógena desses hormônios em homens hipogonádicos, uso como estimulantes do crescimento, distúrbios ginecológicos, como agentes anabólicos proteicos, em algumas anemias e na osteoporose (KATZUNG; TREVOR, 2017).
Contudo, na contemporaneidade e em busca pela satisfação estética corporal, praticantes e profissionais de educação física têm buscado utilizar esses recursos terapêuticos, objetivando melhorar a forma atlética, a força e a aparência física, uma vez que os EAAs têm a capacidade de aumentar/expandir os músculos (MAIA, 2020).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – SBEM (2022), o uso de EAAs para fins estéticos e esportivos aumentou 75% no Brasil na última década. Ainda, segundo o relatório anual, cerca de 3% dos jovens brasileiros entre 16 e 26 anos utilizam/utilizaram tais fármacos sem orientação/prescrição médica para esses fins.
De acordo com o mesmo relatório, os praticantes de atividades físicas, especialmente, musculação, 33,3% declararam que começaram a usar os anabolizantes com menos de um mês de atividade física e 16,7% declararam que utilizaram com 3 meses de atividade física e 41,7% tem o objetivo na utilização dos anabolizantes de hipertrofia muscular (SBEM, 2022).
O uso desses medicamentos com essa finalidade pode gerar diversos efeitos negativos no corpo humano, tais como: aumento de acne, queda de cabelo, distúrbios da função do fígado, tumores no fígado, explosões de ira ou comportamento agressivo, alucinações, psicoses, coágulos sanguíneos, retenção de líquidos no organismo, aumento da pressão arterial e risco de adquirir doenças transmissíveis como AIDS e Hepatite através do compartilhamento de seringas (SBEM, 2022).
A resolução Nº 2.333/23 regulamenta que a prescrição médica de terapias hormonais está indicada em casos de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, cuja reposição hormonal proporcione benefícios cientificamente comprovados (REF).
Logo, percebe-se o crescimento do uso indiscriminado de esteroides anabolizantes sintéticos, análogos à testosterona, no Brasil, tornando-se assim um problema de saúde pública. Entendendo essa pauta emergente, o Conselho Federal de Medicina (CFM), através da Resolução Nº 2.333/23, regulamenta que a prescrição médica de terapias.
Para tanto, a pesquisa teve como objetivo analisar a partir de uma revisão integrativa a importância da Atenção Farmacêutica no controle e dispensação de Esteroides Anabólicos Androgênicos.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo desenvolveu-se por meio de uma revisão bibliográfica, de caráter qualitativo e descritivo a fim de conhecer e entender as estruturas e funcionalidade da realidade a ser pesquisada viabilizando assim que os objetivos da pesquisa sejam alcançados. Dessa maneira, ocorreu a análise de literatura específica referente a atenção farmacêutica sob a perspectiva de controle e dispensação de EAAs.
Destacando as evidências cientificas disponíveis entre 2015 a 2022, período necessário para entender aspectos gerais e conceituais referentes ao tema proposto. A verificação da base de dados bibliográficos realizou-se através de bases eletrônicas do LILACS, Web of Science, PubMed e do buscador de artigos, Google Acadêmico, utilizando as palavras-chave: “Atenção Farmacêutica”; “Esteroides Anabólicos Androgênicos”; “Controle e dispensação”.
Foram considerados como critérios de inclusão artigos e trabalhos disponíveis na íntegra no idioma português com busca em bases nacionais, com disponibilidade online e gratuita, e publicados entre 2015 e 2022, considerando as palavras chaves descritas anteriormente. Como critérios de exclusão, foram descartados artigos duplicados e os que não dizem respeito ao tema que abordado.
Para a análise de dados foi necessária uma leitura exploratória de todo o material utilizado e posteriormente uma leitura seletiva, além de analisar os registros de informações obtidos nos artigos selecionados, como por exemplo, os resultados e discussões encontrados, destaca-se que a pesquisa foi submetida a uma leitura analítica a partir de uma análise descritiva.
3 RESULTADOS
Com este estudo foi possível observar 417 artigos através das palavras-chaves descritas anteriormente, ao aplicar os filtros (data e idioma) 52 artigos foram pré-selecionados e após a leitura minuciosa dos títulos e resumos, 30 artigos foram incluídos para avaliação de elegibilidade, desses foram inclusos apenas 10 artigos (Quadro 1) como objetivo de estudo nesta pesquisa, selecionados pelos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidas como mostra o Fluxograma 1:
Fluxograma 1 – Fluxograma de coleta de dados
Procedência | Título do Trabalho | Autores | Periódico | Considerações relevantes do trabalho |
Google Acadêmico | Problemas relacionados ao uso de Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA) por praticantes de musculação e o papel do farmacêutico na educação destes atletas de modo a reduzir o uso indiscriminado | Souza, Nascimento e Cole | Brazilian Journal of Health Review, 2020. | Identificou-se que o farmacêutico, através de seus conhecimentos sobre medicamentos, assume papel fundamental na educação de usuários de EAA, esclarecendo-os sobre os riscos inerentes a tal prática, atuando de forma decisiva no desencorajamento do uso, utilizando abordagens que fujam das tradicionais campanhas de conscientização |
LILACS | Determinação do perfil de prescrição de oxandrolona e estanazolol em farmácias de manipulação de Vitória Da Conquista no ano de 2019 | Marques e Corrêa | Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p.34696-34706, jun. 2020. | Foi encontrado um total de 542 ordens de manipulação, sendo que a oxandrolona foi muito mais utilizada que o estanazolol, 58,3% dos pacientes pertenciam ao sexo feminino, e 84,9% dos médicos prescritores foram generalistas. A forma mais utilizada foi em cápsulas por via oral, e a dosagem mais frequente foi a de 10mg para as duas drogas |
LILACS | Anabolizantes: erros de prescrição e dispensação | Moraes et al., | Journal of Management & Primary Health Care, 2020 | As avaliações das prescrições demonstraram a ocorrência de erros tanto no processo de prescrição como no de dispensação, evidenciando a importância da completude das prescrições e adequação as legislações a fim de promover a segurança do paciente |
LILACS | Estudo do Perfil de Utilização oo Esteroide Anabólico Androgênico: Oxandrolona em uma Farmácia Magistral de Manaus – AM | Silva, LR. | Investigação, Sociedade e Desenvolvimento, [S. l.], v. 11, n. 14, pág. e348111436291, 2022 | Conclui-se que nesta farmácia a grande maioria dos usuários de oxandrolona são mulheres, esta substância pode ser utilizada para diversos usos clínicos e usos não terapêuticos. A prescrição desta substância deve ser criteriosa devido aos efeitos adversos que os anabolizantes podem causar e o conhecimento sobre estes é de extrema importância para a prevenção do seu uso indevido. |
Google Acadêmico | Abuso de esteroides anabólicos androgênicos: prescrições facilmente obtidas com médicos e pela internet | Oliveira, RA. | Investigação, Sociedade e Desenvolvimento, [S. l.] , v. 11, n. 7, pág. e42211730493, 2016. | Conclui-se a necessidade de disseminação de informações de qualidade sobre os riscos associados ao consumo dos EAA, além de maior controle na venda desses medicamentos, algo estabelecido pela legislação sanitária. Enfim, o uso de EAA tornou-se um problema de saúde pública que está crescendo rapidamente no cenário brasileiro. |
LILACS | Farmacovigilância de Esteroides Anabolizantes | Silva, ERS. | Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação, 8(3), 638–645, 2018. | Chegou-se à conclusão de que muito ainda precisa ser feito para que a farmacovigilância se efetive realmente na sociedade brasileira, e quanto a dispensação dos esteroides anabolizantes, sendo alvo da educação e assistência farmacêutica, de forma que ao atuar diretamente junto às pessoas o profissional possa levar o aprendizado sobre os riscos do uso indiscriminado dessas drogas, e atuar como gestor da farmacovigilância |
Google Acadêmico | Perfil do consumo de anabolizantes em praticantes de atividade física da cidade de João Pessoa, Paraíba | Cerqueira et al., | Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, agosto de 2015. | Os principias anabolizantes utilizados foi testosterona 36,6%, Primabolan 27,3% e a nandrolona 9,1%. Constatou-se que há padrão de consumo de anabolizantes entres praticantes de musculação da cidade de João Pessoa, sendo necessária a implementação de ações educativas, visando à diminuição do consumo. |
Google Acadêmico | Estudo da utilização de esteroides anabólicos androgênicos por universitários em São José do Rio Preto-SP | Lima et al., | Brazilian Journal of Science, 1(8), 24-32, 2019 | 14% afirmaram o uso dos esteroides anabólicos androgênicos: estanozolol, a testosterona propionato e a metandrostenolona. As reações adversas apresentadas foram dermatológicas e psicológicas. Baseado nestes resultados, sugere-se ações promovidas por profissionais da saúde com o intuito de orientar e conscientizar os universitários |
Google Acadêmico | Uso inadequado de anabolizantes e atenção farmacêutica | Veríssimo e Gomes | Research, Society and Development, v. 10, n. 12, e485101220405, 2020 | O uso irresponsável e inconsequente pode acarretar diversas complicações em pessoas saudáveis, como por exemplo, câncer de próstata, ginecomastia, disfunções e câncer hepáticos |
LILACS | O uso da testosterona como anabolizante e seus efeitos colaterais | Carvalho, MP. | Rev. OFIL·ILAPHAR vol.30 no.1 Madrid ene./mar. 2021 | A atenção farmacêutica na problemática de conscientização do uso de anabolizantes é de suma importância, pois é dever do farmacêutico incentivar o uso racional de medicamentos. |
4 DISCUSSÃO
Segundo Souza, Nascimento e Cole (2020) avaliaram o consumo e o comportamento dos usuários de EAA, praticantes de atividade física em academias. Utilizaram questionários auto-aplicáveis, disponibilizados nas academias para que fossem respondidos anônima e voluntariamente pelos praticantes (17). Com relação à faixa etária, metade dos praticantes tinha idade entre 21 e 25 anos. Foi observado que 6,5% (27 usuários) do total de pessoas que responderam ao questionário, relataram uso, pelo menos uma vez, de EAA.
Todos os voluntários que declararam fazer uso de EAA eram homens e os principais motivos do uso eram benefícios estéticos e o ganho de força. Dez (37,04%) destes vinte e sete usuários relataram que a obtenção dos EAA ocorreu em farmácias com receita médica, oito (25,92%) em farmácias sem a apresentação da prescrição médica, e nove (33,33%), em outros estabelecimentos comerciais (17). Essa pesquisa revelou que a relação entre o meio de obtenção dos medicamentos na farmácia com prescrição médica (37,04%) e sem prescrição médica (25,92%) se encontra muito próxima, o que mostra a falta de fiscalização sanitária e ética de alguns profissionais. A obtenção de EAA em estabelecimentos farmacêuticos somente poderia ser realizada por meio de receituário de controle especial em duas vias (SOUZA; NASCIMENTO; COLE, 2020).
Essa perspectiva vai de encontro com os apontamentos de Marques e Côrrea (2020) no qual realizaram um estudo de campo em uma grande Farmácia de manipulação da cidade de Vitória da Conquista, no qual identificaram que os EAAs mais vendidos foram: Oxandrolona (82,5%) e Estanazolol (17%). O uso maior de Oxandrolona está associado a uma baixa hepatotoxicidade pois passa por um metabolismo hepático limitado. Ainda, os autores enfatizam que a grande maioria dos médicos prescritores (84,9%) são generalistas, ou seja, não possuem especialização registrada no CFM ou em qualquer área especializada de modo a realizar a prescrição segura dos EAA, sejam esses para o uso terapêutico ou para o uso desportivo. Logo, torna-se imperioso a participação do profissional farmacêutico neste contexto.
Percebe-se nos estudos de Moraes et al., (2020) que realizaram um estudo de caráter transversal, em uma farmácia localizada na Bahia. Os autores identificaram alguns erros relevantes tanto na perspectiva de prescrição quanto de dispensação dos fármacos EAA. Desta forma, evidenciaram que 8,7% das receitas manuscritas encontrava-se com preenchimento incompleto e ilegível do nome. No que tange à descrição dos medicamentos prescritos, a maioria adotou o nome comercial, dentre as marcas as que se apresentaram em maior frequência foram Durateston® com 67,2%, seguido de Deposteron® 19,5%, Deca-durabolin® 7,0% e Nebido® 4,7%. Sobre a especialidade do prescritor, foi detectado um maior número de prescrições de médicos generalistas (92,2%), sendo encontrados receituários prescritos também por cirurgiões-dentistas (5,5%).
Ainda, nenhum receituário continha o carimbo ou assinatura do profissional farmacêutico, verificando também a inexistência do telefone e endereço do comprador em 37,5% e 18,8% das prescrições, respectivamente. Todos os anabolizantes foram dispensados mediante receituário comum (não seguia o modelo disponibilizado na Portaria 344/98), arquivado a primeira via, conforme as regras (MORAES et al., 2020).
Silva (2022) também relatam uma perspectiva análoga ao explicitarem que a oxandrolona foi um dos EAAs mais prescritos na farmácia estudada. No período de 11 meses foram recebidas 1045 ordens de manipulação sendo 868 (84%) prescrições de oxandrolona e 177 (16%) prescrições com oxandrolona e associações. No que diz respeito ao gênero dos pacientes, 602 (57,6%) pertenciam ao sexo feminino e 445 (42,4%) pertenciam ao sexo masculino. Relatam ainda que o médico generalista foi o maior prescritor destes EAAs (43,2%).
De acordo com Cerqueira et al., (2015) no qual realizaram um estudo transversal, identificaram que que o anabolizante mais utilizado foi testosterona 36,6%. Com relação ao total de prescrições avaliadas neste estudo, observou-se a inexistência do carimbo e assinatura do farmacêutico, demonstrando negligência por parte do profissional quanto ao preenchimento desse item.
Para Lima et al., (2019) é de suma importância uma reflexão e atuação mais eficiente dos profissionais farmacêuticos frente a este cenário alarmante, tendo em vista os inúmeros que envolvem o uso indiscriminado de AEEs. Segundo Silva (2018) é necessário verificar e investigar continuamente as receitas e prescrições, especialmente aquelas que envolvem médicos generalistas, ou informações incompletas nas receitas
Esta perspectiva corrobora com os achados de Veríssimo e Gomes (2020) que para minimizar esse cenário, é necessário que os farmacêuticos desenvolvam e executam programas educativos sobre os EAA. Os autores relataram que uma ação educativa em saúde realizada em uma faculdade do Rio de Janeiro destinado aos alunos de educação física, tendo em vista que estes terão mais contado em locais onde o abuso de EAA está presente, mostrou-se uma estratégia pertinente no sentido de ampliar os níveis de conscientização e reflexão sobre os potenciais riscos de AEEs para fins estéticos e esportivos.
Nesse sentido, os profissionais Farmacêuticos devem continuamente buscar conhecimentos farmacológicos sobre os EAA, sendo este o profissional ideal capaz de prestar uma orientação farmacêutica voltada ao desencorajamento do abuso de tais fármacos, estando ele apto a reconhecer os diversos casos em que há uma tentativa de uso ilícito, ainda que o paciente tenha uma receita médica ao solicitar a sua administração (VERÍSSIMO; GOMES, 2020; CARVALHO, 2021)
É importante ainda ressaltar que os componentes característicos da prática da Atenção Farmacêutica, não se resumem apenas na dispensação de medicamentos. Inclui também a promoção do uso racional de fármacos, orientações, atendimento farmacêutico, acompanhamento e seguimento farmacoterapêutico e registro sistemático das atividades, de modo a avaliar, identificar e investigar possíveis erros e ilicitudes em prescrições e dispensações irregulares, especialmente de EAA (OLIVEIRA, 2016; CARVALHO, 2021).
5 CONCLUSÃO
A partir da literatura elencada para esta revisão integrativa, identificou-se que os EAAs mais vendidos/comercializados em Farmácias são: Oxandrolona, Estanazolol, e tratando da testosterona mais procurado, destaca-se o Durateston®. Observou-se que os erros e/ou irregularidades geralmente associadas as prescrições e dispensação destes fármacos foram: prescrições de médicos generalistas, ou seja, sem especialidade em endocrinologia ou outra necessária para a prescrição, receitas sem preenchimento adequado, inexistência de carimbo e assinatura do farmacêutico, inexistência de nome e endereço/telefone do comprador.
Desta forma, percebe-se a importância da atenção farmacêutica, a partir de uma atuação eficiente nas Drogarias e Farmácias, no sentido de promoverem uma educação em saúde capaz de orientar, identificar e verificar possíveis problemas e irregularidades em prescrições de AEEs, ainda, é necessário que os profissionais farmacêuticos busquem trazer reflexões acerca dos potenciais riscos destes fármacos, além de observar se há descrição do CID e CPF do prescritor, conforme exigido em lei.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmico do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.
2Docente do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.