ASSISTÊNCIA HOSPITALAR E A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO CONTINUADO NO CUIDADO AO PACIENTE

Hospital Care and the Importance of Continuous Follow-up in Patient Care

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102503011014


Heloisa Monique da Silva [1]
Gabriel de Castro Voss [2]
Roberta Maria de Jesus Lima Barbosa [3]
Elisangela Sandra de Araújo Aragão  [4]
Manoel Borges dos Santos Filho [5]
Leilane Sousa Silva [6]
Ana Caroline Diniz dos Santos [7]
Júlia Aparecida Pereira Gomes  [8]
Carla Emanuele Lopatiuk [9]
Carlos Lopatiuk [10]


Resumo

O presente estudo analisa a continuidade do cuidado pós-hospitalar, destacando suas principais estratégias, desafios e barreiras no acompanhamento de pacientes após a alta. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, baseada na análise de 18 artigos publicados entre 2021 e 2025, selecionados em bases científicas como PubMed, Scopus e Web of Science. O estudo identificou as práticas mais utilizadas para o seguimento de pacientes, como consultas presenciais, acompanhamento telefônico e o uso de tecnologias digitais, evidenciando a importância dessas estratégias na prevenção de complicações, redução das taxas de reinternação e promoção da qualidade de vida. A análise revelou que, embora existam avanços significativos, o acesso ao acompanhamento não é uniforme, sendo influenciado por fatores socioeconômicos e estruturais que acentuam desigualdades em saúde. Tecnologias como o Critical Test Result Recall Supporting System (CTR RSS) mostraram-se promissoras para ampliar a adesão ao seguimento, mas devem ser integradas a práticas humanizadas e interdisciplinares. O estudo conclui que o fortalecimento da atenção primária, aliado ao uso de tecnologias de monitoramento e estratégias educativas, é essencial para a construção de um modelo de cuidado integral e contínuo, capaz de promover maior segurança e equidade no sistema de saúde.

Palavras-chave: Continuidade do cuidado. Alta hospitalar. Atenção primária. Tecnologias em saúde. Seguimento de pacientes.

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2 INTRODUÇÃO

A continuidade do cuidado pós-hospitalar é um elemento essencial para a manutenção da saúde, a prevenção de complicações e a redução de reinternações evitáveis. Embora a hospitalização seja um momento crucial para a estabilização clínica, é no acompanhamento subsequente que a recuperação plena se consolida, garantindo maior segurança para o paciente e a eficácia das intervenções terapêuticas (Handiyani et al., 2024; Olsen et al., 2021). Esse processo, porém, não se dá de forma automática e linear, exigindo uma articulação eficaz entre diferentes níveis assistenciais. A ausência de estratégias de seguimento bem estruturadas contribui para a fragmentação do cuidado e representa um risco significativo para a continuidade do tratamento, especialmente em pacientes com condições crônicas e em populações mais vulneráveis (Safstrom; Stromberg, 2024).

A transição entre a alta hospitalar e o cuidado domiciliar ou ambulatorial exige coordenação entre os profissionais de saúde e o paciente. O acompanhamento inadequado ou inexistente pode levar à piora clínica, retorno às emergências e aumento das taxas de reinternação (Sunderland et al., 2024). Para evitar esse cenário, diferentes estratégias de seguimento têm sido adotadas, como consultas presenciais, acompanhamento telefônico e o uso de tecnologias digitais, que facilitam a comunicação entre paciente e profissional de saúde, melhorando a adesão ao tratamento e promovendo a educação em saúde (Tabas et al., 2020; Chang et al., 2022). A literatura aponta que essas práticas melhoram não apenas a qualidade de vida dos pacientes, mas também reduzem custos para o sistema de saúde ao minimizar internações desnecessárias (Barr et al., 2020).

No entanto, o acesso ao cuidado continuado não é homogêneo. Safstrom e Stromberg (2024) destacam que as desigualdades no acompanhamento pós-hospitalar estão frequentemente associadas a fatores socioeconômicos, estruturais e geográficos, o que reforça a necessidade de políticas públicas que promovam a equidade na assistência. Pacientes com insuficiência cardíaca, por exemplo, se beneficiam diretamente de estratégias educativas e de monitoramento contínuo, mas muitos enfrentam dificuldades para manter o acompanhamento necessário (Olsen et al., 2021). Esse cenário mostra que a continuidade do cuidado requer mais do que intervenções clínicas: ela demanda suporte emocional, acesso facilitado aos serviços e uma articulação intersetorial capaz de reduzir barreiras ao seguimento.

Diante dessas evidências, este estudo tem como objetivo analisar as estratégias utilizadas na continuidade do cuidado pós-hospitalar e as barreiras enfrentadas para sua implementação. A justificativa para esta pesquisa está na necessidade de identificar as práticas mais eficazes para a promoção de um cuidado integrado e contínuo, bem como fornecer subsídios para o desenvolvimento de políticas públicas mais inclusivas e eficientes. O foco da análise recai sobre as diversas formas de acompanhamento utilizadas no contexto pós-hospitalar e sobre os impactos dessas práticas nos desfechos clínicos e na qualidade de vida dos pacientes.

A relevância do estudo reside na possibilidade de contribuir para a construção de modelos de cuidado mais eficientes, que privilegiem a articulação entre hospital e atenção primária e promovam maior segurança no período pós-alta (Barr et al., 2020). Além disso, a pesquisa busca ampliar o entendimento sobre o papel das novas tecnologias, como sistemas de monitoramento digital, no fortalecimento das práticas de seguimento e no suporte ao autocuidado (Chang et al., 2022). Assim, pretende-se responder à seguinte questão: quais são as principais estratégias e barreiras para a continuidade do cuidado após a alta hospitalar e como essas práticas impactam a saúde e o bem-estar dos pacientes?

Por fim, o estudo está organizado em três partes principais: a metodologia, que detalha os procedimentos de busca e análise dos artigos selecionados; os resultados e discussões, nos quais os principais achados são analisados e organizados em categorias temáticas; e as considerações finais, que sintetizam as descobertas e oferecem sugestões para aprimorar o cuidado continuado em saúde.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A assistência hospitalar ocupa um lugar central na prestação de cuidados de saúde de alta complexidade, sendo indispensável no manejo de condições agudas e crônicas que exigem intervenções especializadas. No entanto, a hospitalização por si só não garante a plena recuperação do paciente, sendo fundamental que o cuidado se estenda para além dos muros hospitalares, através de estratégias de acompanhamento continuado que assegurem a manutenção dos resultados terapêuticos obtidos durante a internação. O conceito de continuidade do cuidado está diretamente relacionado ao fortalecimento das redes de atenção à saúde, promovendo a integração entre os diferentes níveis assistenciais e buscando a coordenação eficaz dos serviços para atender às múltiplas necessidades dos pacientes no período pós-hospitalização.

A pesquisa de Wang et al. (2021) destaca a relevância de considerar as preferências dos profissionais de saúde da atenção primária no acompanhamento pós-alta, evidenciando que as decisões relacionadas a esse seguimento não são pautadas exclusivamente por protocolos clínicos, mas também pelas condições estruturais das unidades de saúde e pelos recursos disponíveis. Em muitos casos, a ausência de uma articulação eficiente entre o hospital e os serviços comunitários resulta em descontinuidade do cuidado, com consequências negativas para o estado de saúde do paciente, ampliando o risco de complicações e reinternações evitáveis. A integração efetiva entre esses serviços exige uma abordagem sistêmica e colaborativa, na qual cada ator envolvido compreenda seu papel e responsabilidade no processo terapêutico ampliado.

A experiência das enfermeiras no acompanhamento pós-hospitalização, descrita por Handiyani et al. (2024), revela que a continuidade do cuidado não se limita à aplicação de intervenções clínicas; pelo contrário, envolve a construção de um vínculo mais profundo com o paciente e sua família, promovendo a educação em saúde, o suporte emocional e a orientação para o autocuidado. O estudo mostra que a fragmentação dos serviços e a ausência de protocolos claros são desafios recorrentes, especialmente em contextos de alta demanda e baixa disponibilidade de recursos humanos. Nesse cenário, a atuação das enfermeiras como elo entre o hospital e a comunidade torna-se essencial para assegurar que as orientações recebidas durante a internação sejam efetivamente implementadas no cotidiano do paciente.

Além do papel das enfermeiras, Venigalla et al. (2023) sublinham a importância de estratégias institucionais para melhorar a adesão dos pacientes ao acompanhamento pós-alta. Em um estudo realizado em um centro oncológico comunitário, os autores evidenciam que a falta de comparecimento às consultas de seguimento pode comprometer seriamente a detecção precoce de recidivas ou efeitos adversos dos tratamentos, impactando diretamente nos desfechos clínicos. Estratégias simples, como o uso de lembretes automatizados, contatos telefônicos e reforço educativo durante a internação, mostraram-se eficazes para aumentar a adesão e garantir a continuidade do cuidado.

O estudo de Barr et al. (2020), realizado na região de Central e Eastern Sydney, aprofunda essa discussão ao demonstrar que o acesso oportuno aos médicos generalistas após a alta hospitalar tem impacto direto na redução da sobrecarga dos serviços de emergência e na melhoria dos indicadores de saúde da população. O acompanhamento regular por esses profissionais permite identificar precocemente sinais de agravamento das condições de saúde, ajustando intervenções de forma preventiva e evitando complicações mais graves. Essa atuação integrada, que conecta hospitais e atenção primária, fortalece a lógica do cuidado em rede, promovendo um modelo de atenção centrado no paciente e nas suas necessidades ao longo do tempo.

No caso de pacientes com condições crônicas complexas, como doenças cardíacas, a continuidade do cuidado assume uma dimensão ainda mais estratégica. Skogby et al. (2020) enfatizam a importância de garantir recursos humanos e estruturais suficientes para acompanhar a transição de adolescentes com cardiopatias congênitas para os serviços de saúde adultos. A ausência de uma transição planejada e bem conduzida pode resultar em perda de acompanhamento, colocando esses pacientes em situação de risco elevado. Da mesma forma, Olsen et al. (2021) destacam que pacientes com insuficiência cardíaca beneficiam-se de seguimentos regulares e estruturados, que não apenas reduzem a taxa de reinternação, mas também melhoram significativamente a qualidade de vida ao longo do tratamento.

A continuidade do cuidado também se mostra especialmente relevante no campo da saúde mental, como evidenciado por Ojo et al. (2024). Pacientes psiquiátricos frequentemente enfrentam desafios adicionais no processo de transição entre o hospital e a comunidade, sendo fundamental que as estratégias de acompanhamento sejam adaptadas às suas especificidades. A presença de uma rede de apoio sólida, composta por profissionais de saúde, familiares e serviços comunitários, constitui um fator determinante para a eficácia do cuidado continuado, prevenindo recaídas e promovendo uma reintegração social efetiva.

Essa perspectiva é reforçada por Lynch et al. (2020), que destacam o impacto negativo da falta de seguimento estruturado para crianças e adolescentes hospitalizados por condições relacionadas à saúde mental. O estudo aponta que a ausência de protocolos específicos para o acompanhamento desses jovens no período pós-alta compromete não apenas o progresso terapêutico, mas também o bem-estar psicossocial, aumentando a vulnerabilidade a novas crises e internações subsequentes.

Finalmente, Moneme et al. (2023) ressaltam que o acompanhamento por médicos da atenção primária nos primeiros 30 dias após internações cirúrgicas de emergência está associado a uma redução significativa nas taxas de reinternação. Esse dado reforça a importância de uma articulação fluida entre os diferentes níveis de atenção, garantindo que os pacientes recebam cuidados de forma integral, contínua e coordenada. Chang et al. (2022), por sua vez, apresentam uma solução tecnológica inovadora para melhorar o acompanhamento de pacientes na comunidade, o sistema de suporte de recall de resultados críticos (CTR RSS), demonstrando como o uso adequado de tecnologia pode contribuir para a continuidade do cuidado.

A análise desses diferentes contextos evidencia que a continuidade do cuidado é um elemento estruturante para a construção de um modelo de saúde que seja, de fato, centrado no paciente. Ela demanda esforços conjuntos e sustentados por parte dos profissionais de saúde, gestores e pacientes, articulando recursos humanos, tecnológicos e institucionais para superar os desafios da fragmentação assistencial e construir uma prática verdadeiramente integrada e humanizada. Mais do que uma simples extensão do cuidado hospitalar, o acompanhamento continuado configura-se como um processo dinâmico, no qual cada intervenção deve ser pensada como parte de um ciclo maior de cuidado, destinado a garantir a segurança, a qualidade de vida e a autonomia dos pacientes em suas trajetórias de recuperação.

4 METODOLOGIA

A metodologia adotada para este estudo consiste em uma revisão narrativa da literatura, cujo objetivo é analisar a continuidade do cuidado pós-hospitalar e suas implicações no acompanhamento de pacientes em diferentes contextos clínicos. Esse tipo de revisão foi escolhido por permitir uma visão abrangente sobre o tema, proporcionando uma síntese crítica das evidências disponíveis sem a necessidade de quantificação estatística dos resultados. O levantamento bibliográfico foi realizado em bases de dados reconhecidas pela qualidade científica e abrangência de publicações, garantindo o acesso a estudos relevantes e atualizados. As bases consultadas incluem PubMed, Scopus, Web of Science, Google Scholar e SciELO, que oferecem ampla cobertura de artigos científicos nas áreas de saúde e cuidados clínicos.

A busca pelos artigos seguiu uma estratégia sistematizada com o uso de descritores padronizados no Medical Subject Headings (MeSH) e no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), combinados por meio de operadores booleanos para refinar a pesquisa. Foram utilizados termos como “Continuity of Patient Care”, “Post-Hospital Discharge”, “Follow-Up Care”, “Primary Health Care”, “Patient Readmission”, “Care Transition”, “Continuity of Care”, “Nursing” e “Hospital Discharge”. Esses descritores foram intercruzados com os operadores booleanos AND e OR, permitindo a combinação de diferentes palavras-chave para ampliar ou restringir os resultados. O uso dessas estratégias de busca garantiu a inclusão de artigos relevantes ao tema, eliminando aqueles que não se enquadravam nos objetivos do estudo.

Foram definidos critérios de inclusão e exclusão para assegurar a qualidade e a pertinência dos artigos selecionados. Os critérios de inclusão estabeleceram que seriam considerados apenas estudos publicados entre 2021 e 2025, garantindo que as informações analisadas fossem recentes e refletissem as práticas mais atuais. Além disso, foram incluídos artigos publicados em português e inglês, que abordassem diretamente a continuidade do cuidado após a alta hospitalar, estratégias de acompanhamento, impacto nos desfechos clínicos e as barreiras enfrentadas nesse processo. Os tipos de estudos aceitos foram revisões de literatura, ensaios clínicos e estudos empíricos que trouxessem contribuições relevantes para a temática. Em contrapartida, foram excluídos artigos publicados antes de 2021, trabalhos duplicados entre as bases de dados, estudos que não apresentassem informações diretamente relacionadas ao tema central, artigos de opinião, editoriais e resumos de conferências, bem como revisões sistemáticas sem análise aprofundada sobre o tema.

A seleção dos artigos foi realizada em etapas. Primeiro, foi feita a leitura dos títulos e resumos para identificar os estudos que atendiam aos critérios de inclusão. Em seguida, procedeu-se à leitura completa dos textos selecionados, verificando-se a metodologia, resultados e conclusões de cada um, garantindo assim a pertinência e a qualidade científica das publicações. Por fim, foram incluídos apenas os estudos que apresentaram dados consistentes e relevantes para o objetivo da pesquisa, eliminando-se as duplicações e aqueles que não cumpriam os critérios estabelecidos.

A análise dos dados coletados foi realizada por meio de uma síntese qualitativa, organizada em três categorias principais: estratégias de continuidade do cuidado, impacto do acompanhamento pós-hospitalar nos desfechos clínicos e desafios e barreiras no seguimento dos pacientes após a alta hospitalar. Os resultados foram agrupados e discutidos com o objetivo de integrar as evidências apresentadas nos artigos selecionados, oferecendo uma visão crítica e abrangente do tema. Essa abordagem permitiu identificar as melhores práticas adotadas, bem como as lacunas existentes no cuidado continuado, contribuindo para a construção de uma base teórica consistente e para a proposição de melhorias nas estratégias de acompanhamento dos pacientes.

A metodologia adotada garantiu uma análise abrangente e fundamentada, oferecendo uma síntese robusta das evidências disponíveis sobre o tema. Ainda que a revisão narrativa não tenha o rigor quantitativo de uma meta-análise, ela permitiu uma compreensão detalhada e crítica do estado da arte sobre a continuidade do cuidado pós-hospitalar, destacando tanto os avanços quanto as lacunas nas práticas atuais, além de apontar possíveis caminhos para estudos futuros.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A continuidade do cuidado após a alta hospitalar revela-se um componente essencial para a manutenção da saúde e a prevenção de complicações futuras, sendo frequentemente apontada como um dos fatores determinantes para a efetividade das intervenções em saúde e a melhoria dos desfechos clínicos. Esse processo, no entanto, envolve múltiplos desafios e demanda estratégias integradas e articuladas entre os diferentes níveis assistenciais. A literatura analisada reforça que a continuidade do cuidado não pode ser compreendida como uma prática acessória, mas como um eixo central na assistência em saúde, especialmente em populações vulneráveis e em condições de alta complexidade. O estudo de Handiyani et al. (2024) oferece uma perspectiva detalhada sobre a experiência das enfermeiras no acompanhamento pós-alta, destacando que a continuidade do cuidado exige uma abordagem que vá além da transferência de informações clínicas — ela implica no fortalecimento das relações terapêuticas, na comunicação efetiva entre os profissionais e no suporte constante ao paciente. Segundo as autoras, a presença das enfermeiras como figura de referência durante o período de transição para o cuidado domiciliar faz-se essencial para garantir a adesão às orientações de saúde e o desenvolvimento de práticas de autocuidado, reduzindo o risco de complicações e internações recorrentes.

A importância das estratégias de seguimento personalizadas é reforçada por Tabas et al. (2020), que compararam três métodos distintos de acompanhamento — contato telefônico, distribuição de livreto educativo e envio de mensagens de SMS — em pacientes com síndrome coronariana aguda. O estudo conclui que o contato telefônico foi o método mais eficaz para promover a capacidade de autocuidado e a adesão ao tratamento, justamente pela possibilidade de interação direta e esclarecimento de dúvidas em tempo real, proporcionando maior segurança e confiança ao paciente no manejo de sua condição. A abordagem personalizada demonstrou ser mais eficiente do que intervenções padronizadas e impessoais, destacando a necessidade de humanizar o cuidado continuado, adaptando-o às características e necessidades específicas de cada paciente, especialmente em condições clínicas mais delicadas e que demandam monitoramento constante.

Outro aspecto relevante abordado nos resultados refere-se à transição do cuidado para adolescentes com cardiopatias congênitas, um momento particularmente crítico na trajetória desses pacientes. O estudo de Skogby et al. (2020) revelou que o volume de atendimento ambulatorial e a disponibilidade de recursos humanos são preditores importantes para a continuidade do cuidado durante a transição para os serviços de saúde adultos. A ausência de uma estrutura adequada para essa transição pode resultar na perda de seguimento, colocando os pacientes em risco de complicações evitáveis e interrompendo o monitoramento necessário para sua condição. Esse contexto exige uma articulação mais sólida entre os serviços pediátricos e adultos, além da definição de protocolos específicos que garantam o acompanhamento contínuo e o suporte necessário para essa população.

A desigualdade no acesso ao acompanhamento contínuo após hospitalização também emerge como uma questão central na análise dos resultados, especialmente no contexto de doenças cardíacas crônicas. Safstrom e Stromberg (2024) destacam que fatores socioeconômicos e regionais têm um impacto significativo na continuidade do cuidado, com pacientes de classes sociais mais baixas apresentando maior dificuldade para acessar consultas de seguimento e monitoramento clínico. Esse cenário reforça a necessidade de políticas públicas que promovam maior equidade no sistema de saúde, assegurando que todos os pacientes, independentemente de sua condição social, possam ter acesso a um acompanhamento adequado. A continuidade do cuidado, nesses casos, não se trata apenas de uma questão clínica, mas de uma questão de justiça social e de redução das iniquidades em saúde.

A perspectiva dos pacientes também foi abordada por Safstrom et al. (2022), que desenvolveram um questionário específico para medir a percepção da continuidade do cuidado. A aplicação desse instrumento permitiu identificar diversas lacunas no processo de transição entre hospital e atenção primária, evidenciando que muitos pacientes percebem uma ruptura no cuidado, especialmente quando não há comunicação clara sobre o plano terapêutico ou quando o acesso aos profissionais responsáveis pelo seguimento é dificultado. A inclusão da perspectiva do paciente na avaliação dos serviços de saúde revela-se fundamental para a construção de estratégias mais eficazes, que considerem suas reais necessidades e expectativas, promovendo maior segurança e qualidade no cuidado.

No campo da saúde mental, Sunderland et al. (2024) aprofundam a discussão ao analisar a continuidade do cuidado em pacientes psiquiátricos idosos. Os resultados demonstram que a ausência de um seguimento estruturado no período pós-hospitalar aumenta significativamente o risco de recaídas e novas internações, comprometendo a recuperação e a qualidade de vida desses pacientes. O estudo destaca a importância de uma abordagem integrada, que envolva médicos de família, profissionais de saúde mental e assistentes sociais para assegurar um cuidado contínuo e holístico, capaz de atender não apenas às demandas clínicas, mas também às necessidades emocionais e sociais desses indivíduos. A construção de redes de apoio sólidas e a articulação entre os diferentes níveis de atenção são apontadas como estratégias fundamentais para reduzir a vulnerabilidade dos pacientes e promover sua reintegração social.

Barr et al. (2020), por sua vez, analisam o impacto do acompanhamento por médicos generalistas na região de Central e Eastern Sydney, na Austrália, reforçando a atenção primária como elemento central para a coordenação e continuidade do cuidado. O estudo evidencia que o seguimento regular com esses profissionais não apenas reduz as taxas de reinternação hospitalar, mas também promove uma gestão mais eficaz das condições de saúde dos pacientes, resultando em desfechos clínicos mais favoráveis e uma significativa melhora na qualidade de vida. Esse tipo de acompanhamento contínuo é especialmente relevante para indivíduos com condições crônicas ou recém-saídos de internações prolongadas, uma vez que permite a identificação precoce de sinais de agravamento e a intervenção preventiva, evitando complicações mais graves e a necessidade de novas hospitalizações. Além disso, a proximidade dos médicos generalistas com o contexto de vida do paciente facilita uma abordagem mais personalizada e integral, capaz de considerar não apenas aspectos biológicos, mas também fatores psicossociais e ambientais que afetam diretamente a saúde e o bem-estar do indivíduo.

O fortalecimento desse elo entre o hospital e a atenção primária configura-se como um mecanismo poderoso para evitar a fragmentação dos serviços, garantindo uma transição mais segura e fluida entre os diferentes níveis de cuidado. Essa integração é crucial para assegurar a continuidade das intervenções iniciadas no ambiente hospitalar, minimizando lacunas no acompanhamento e proporcionando maior segurança aos pacientes. Os resultados apresentados por Barr et al. (2020) também destacam a importância de políticas públicas que apoiem e fortaleçam a atenção primária, reconhecendo-a como o eixo organizador do sistema de saúde. A redução da pressão sobre os serviços de emergência, apontada como um dos benefícios do acompanhamento regular por médicos generalistas, reflete uma utilização mais racional e eficiente dos recursos disponíveis, contribuindo para a sustentabilidade do sistema de saúde a longo prazo.

Olsen et al. (2021) corroboram essa perspectiva ao analisar a continuidade do cuidado em pacientes com insuficiência cardíaca, uma população particularmente vulnerável a desfechos adversos quando não há um seguimento estruturado. O estudo demonstra que o acompanhamento regular, associado a estratégias educativas para o manejo da condição, não apenas reduz a frequência de hospitalizações, mas também melhora substancialmente a qualidade de vida dos pacientes, promovendo maior autonomia e engajamento no cuidado. Nesse contexto, o papel da educação em saúde revela-se indispensável para capacitar os pacientes a reconhecerem sinais de alerta, seguirem corretamente o regime terapêutico e adotarem práticas de autocuidado adequadas. A participação ativa dos familiares nesse processo é igualmente relevante, especialmente em condições crônicas complexas, onde o suporte social e emocional são significativos no sucesso do tratamento. A continuidade do cuidado, portanto, deve ser compreendida como um processo compartilhado, que envolve a colaboração constante entre profissionais de saúde, pacientes e seus familiares, todos engajados em uma mesma direção: a manutenção e a promoção da saúde.

A discussão sobre o uso de tecnologias para melhorar a continuidade do cuidado ganha força com a contribuição de Chang et al. (2022), que apresentam o sistema Critical Test Result Recall Supporting System (CTR RSS) como uma solução inovadora e promissora. O CTR RSS, um sistema baseado em tecnologia digital para o acompanhamento de resultados críticos de exames, mostrou-se altamente eficaz na redução de perdas de seguimento e no aumento da adesão ao acompanhamento médico, facilitando a comunicação entre pacientes e profissionais de saúde. O uso de tecnologias como essa oferece uma nova dimensão ao cuidado continuado, ampliando as possibilidades de intervenção e permitindo um monitoramento mais próximo e constante, mesmo em contextos onde a disponibilidade de recursos humanos é limitada. A adoção dessas soluções digitais representa uma oportunidade valiosa para integrar ferramentas de saúde digital ao modelo assistencial tradicional, promovendo maior eficiência, segurança e abrangência nas intervenções.

Além disso, a possibilidade de combinar tecnologia com estratégias personalizadas de acompanhamento abre caminho para a construção de modelos híbridos de cuidado, nos quais o contato presencial e o monitoramento remoto atuam de maneira complementar. Esse tipo de abordagem pode ser especialmente útil para pacientes que vivem em áreas remotas ou têm dificuldade de acesso físico aos serviços de saúde, garantindo que recebam o suporte necessário independentemente de sua localização geográfica. As tecnologias digitais, quando bem integradas aos fluxos assistenciais, podem funcionar como um elemento facilitador da continuidade do cuidado, promovendo maior autonomia para os pacientes e ampliando o alcance das práticas de saúde.

Assim, os resultados apresentados reforçam que a continuidade do cuidado é um processo multifacetado e complexo, que exige uma articulação constante e eficiente entre diferentes atores do sistema de saúde. A construção de uma prática de cuidado contínua e equitativa não pode ser fruto de ações isoladas, mas requer um esforço coordenado para integrar tecnologia, políticas públicas e uma abordagem interdisciplinar centrada no paciente. O fortalecimento da atenção primária, o uso de estratégias educativas e a incorporação de soluções tecnológicas são pilares fundamentais para garantir a sustentabilidade desse processo, assegurando que o cuidado seja realmente integral, humanizado e capaz de responder às demandas de saúde cada vez mais complexas da população. Nesse sentido, a continuidade do cuidado deve ser vista não como uma etapa final, mas como um ciclo permanente de atenção, no qual cada intervenção se conecta à próxima, promovendo a saúde e prevenindo novos agravos, sempre a partir de uma perspectiva ampliada e centrada nas reais necessidades dos indivíduos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise evidencia que a continuidade do cuidado após a alta hospitalar é indispensável para garantir desfechos clínicos mais favoráveis, prevenindo reinternações e promovendo maior segurança e qualidade de vida para os pacientes. As estratégias de acompanhamento estruturado, quando associadas à integração entre hospital e atenção primária, demonstram eficácia na coordenação das ações de saúde, fortalecendo a gestão do cuidado em longo prazo. O papel da tecnologia, especialmente no uso de sistemas de monitoramento digital, amplia o alcance das intervenções, facilitando o seguimento clínico e aprimorando a comunicação entre profissionais e pacientes.

Os resultados confirmam que a continuidade do cuidado não é uniforme, sendo influenciada por fatores socioeconômicos e pela disponibilidade de recursos humanos, o que reforça a necessidade de políticas públicas mais equitativas. As intervenções personalizadas, o fortalecimento das redes de apoio e a inclusão da perspectiva do paciente surgem como elementos essenciais para assegurar que o acompanhamento seja contínuo e centrado nas reais necessidades dos indivíduos.

O estudo aponta que, embora os avanços tecnológicos sejam promissores, eles devem ser combinados com uma abordagem humanizada e interdisciplinar para garantir a efetividade das intervenções. O fortalecimento da atenção primária como coordenadora do cuidado e a integração das práticas educativas no seguimento são determinantes para a sustentabilidade das ações e a promoção de um cuidado integral e contínuo.

Como limitação, a análise destaca a ausência de dados longitudinais para algumas populações específicas e a necessidade de uma avaliação mais aprofundada sobre o impacto econômico das estratégias adotadas. Estudos futuros podem explorar essas dimensões, ampliando a compreensão das melhores práticas para a continuidade do cuidado em diferentes

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[1] Enfermeira e Graduanda em Medicina pela Faculdade Afya e-mail: helo30davi@gmail.com

[2] Graduanda em Medicina pela FUNEPE. e-mail: gvoss3259@gmail.com

[3] Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrôneo Portela.e-mail: mariaroberta.fkt08@ufpi.edu.br

[4] Enfermeira pela UNINTA. Esp. em Enfermagem Perioperatoria pela Unyleya. Esp. Em Saúde Pública Com Ênfase Em Saúde Da Família Pela Fatap. e-mail: elizinha_021_@hotmail.com

[5] Graduando em Enfermagem pela UESPI. e-mail: manoelborgesdossf@aluno.uespi.br

[6] Enfermeira pela Facimp Wyden. e-mail: leilanesousasilva8@gmail.com

[7] Graduanda em Odontologia pela Universidade Ceuma. e-mail: scarolinediniz@gmail.com

[8] Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Cariri – UFCA. e-mail: julia.pereira@aluno.ufca.edu

[9] Graduanda em Medicina pelo Centro Universitario Campo Real. e-mail: carla.emanuele2201@gmail.com

[10] Doutor em Ciências Sociais pela UEPG e Doutorando em Desenvolvimento Comunitário pela UNICENTRO. e-mail: carloslopatiuk@yahoo.com.br