ASSISTÊNCIA DO ENFERMEIRO À SAÚDE DO HOMEM NA ATENÇÃO BÁSICA DE SÁUDE¹

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10058335


Gismar Monteiro Castro Rodrigues²
Antônio Carlos Bolonha Júnior³
Gabriela Zanim4
Mariana Gondim Mariutti-Zeferino5
Elen Eduarda Rodrigues Souza6
Tobias Divino dos Santos7


RESUMO

O homem historicamente tem um descaso com o autocuidado esse sentimento se dá pela invulnerabilidade que ele acredita ter, dificultando assim seu interesse pelo zelo de sua saúde, sendo assim a enfermagem tem um papel importante nesse atendimento ao homem que já vem acompanhado de crenças e costumes. O objetivo desse estudo é identificar como é a assistência do enfermeiro ao homem na atenção básica a saúde. O método utilizado nesse estudo é a revisão integrativa que vai analisar os artigos escolhidos dentre os critérios apresentados e discutir sobre os mesmos. Tendo em vista a dificuldade do homem em procurar os serviços de saúde na atenção básica, principalmente, conclui-se que por vários motivos como a crença da invulnerabilidade, a dificuldade de acesso pelo horário de atendimento que coincide com o horário de trabalho, pela falta de informação e políticas públicas que incentive o fácil acesso, o homem cria esse distanciamento das unidades de saúde.

Palavras-chave: Saúde do homem, atenção básica, enfermeiros, masculinidade.

1 INTRODUÇÃO

Em setembro de 1978 aconteceu a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde em Alma Ata, capital do Cazaquistão, onde originou-se em uma declaração que tinha por objetivo reafirmar o significado da saúde como um direito básico para todos. Nessa conferência entrou em discussão de como os países iriam promover saúde a comunidade, foi então que discorreram a ideia de atenção primaria a saúde, pensando no sistema de saúde e no desenvolvimento econômico (ALMA ATA, 2002).

A Atenção Primaria é a porta principal de entrada para o SUS, é por ela que é feito o primeiro contato com o cliente e ofertado o acesso e acolhimento, a mesma define-se por ações de saúde individual e coletiva que visão um olhar ao indivíduo em sua singularidade, dificuldade e inserção sociocultural. Busca a promoção e prevenção de sua saúde, o tratamento do adoecimento e a redução de danos ou de sofrimento que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável (BRASIL, 2006)

O homem historicamente tem um descaso com o autocuidado esse sentimento se dá pela invulnerabilidade que ele acredita ter, dificultando assim seu interesse pelo zelo de sua saúde. Vale ressaltar que a dificuldade que o homem tem no acesso a saúde se dá também pela forma que os serviços de saúde lidam com essa demanda de assistência à saúde do homem (NASCIMENTO et al, 2018).

A maneira de como os homens são preparados desde a sua infância influencia muito na sua vida adulta culturalmente e socialmente, isso é uma barreira que o distancia de seu autocuidado. É comprovado que o homem vive em média 7,1 anos a menos que as mulheres. Ademais estudos recentes (Saúde-Brasil 2021-2022) apontam a propensão de maior mortalidade precoce (até 60 anos) entre homens principalmente resultante de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Identificada principalmente por doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, neoplasias e diabetes mellitus. Esses quatro principais grupos de DCNT foram responsáveis por 55% do total das mortes no Brasil, em 2018.

Pensando nisso, em 2009, o Ministério da Saúde instituiu no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). Que tem como um dos principais objetivo facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde. Como forma de reduzir os índices de morbimortalidade por causas preveníeis e evitáveis aumentando a expectativa de vida masculina, esta Política Pública voltada para saúde impacta significativamente nos contextos masculinos, seja de cunho cultural, seja de cunho econômico (Ministério da Saúde, 2009).

Posto isso percebe-se que é fundamental a capacitação do enfermeiro frente a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem (PNAISH), para que assim possa prestar uma melhor assistência disseminando informações que desperte o interesse do homem para acompanhamento e prevenção de doenças crônicas (SOUSA et al, 2022). Assim sendo, o que levou a realizar esta pesquisa é a quantidade de óbitos e comorbidades relacionadas ao homem, observados no núcleo familiar, nas redes sociais e em telejornais.

Sendo assim o estudo mostrou ser relevante para detectar a procura do homem no serviço de saúde da atenção básica e como o enfermeiro da assistência a este homem que vem acompanhado de crenças e costumes estigmatizados pela força masculina evidenciando a busca por serviço médico como fraqueza, bem como realizar educação dessa população a respeito da importância do atendimento precoce a fim de evitar agravos à saúde que poderiam ser evitados.

Para responder a esta indagação a seguinte pergunta de pesquisa foi elaborada: Por que o homem tem dificuldade em procurar os serviços de saúde na atenção básica, e o que o enfermeiro têm feito para promover assistência a esses homens?

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a fim de responder o objetivo proposto, sendo tal revisão uma alternativa de pesquisa que se propõe analisar e buscar as publicações referentes a determinado tema. Proporciona um saber crítico, tomada de decisão e conduta, fundamentados em resultados relevantes de pesquisa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

O presente estudo foi realizado em seis etapas: 1) elaboração da questão de pesquisa; 2) busca na literatura; 3) categorização dos estudos selecionados; 4) avaliação crítica; 5) interpretação dos resultados e; 6) apresentação da síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

A partir da identificação do tema, definiu-se a questão norteadora do estudo: Por que o homem tem dificuldade em procura os serviços de saúde na atenção básica, e o que o enfermeiro têm feito para promover assistência a esses homens?

A pesquisa começou a ser desenvolvida no mês de fevereiro de 2022, no Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Bases de Dados de Enfermagem (BDENF); Medline. Para isso, foram utilizados os descritores e palavras chaves: masculinidade, saúde, saúde do homem, pertencentes aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e representando a temática do estudo. Tais descritores estão definidos no DeCS como:

  • Masculinidade: Papéis sociais e comportamentos masculinos específicos do sexo não relacionados à função biológica.
  • Saúde: Estado do organismo quando funciona otimamente sem evidência de doença
  • Saúde do homem: Conceito que abrange as condições físicas e mentais de homens.

Foi realizada busca com cada um dos descritores isoladamente e busca cruzada entre eles: masculinidade x saúde x saúde do homem.

Em seguida foi realizado a coleta de dados e para a escolha dos artigos primeiramente ao colocar os descritores, foram lidos os títulos dos artigos e separados aqueles que estavam de acordo com o tema abordado, em seguida foram lidos os resumos dos artigos e incluídos ou não de acordo com os critérios de inclusão e exclusão da pesquisa.

Utilizou-se como critério de inclusão artigos completos disponíveis online de maneira gratuita, publicados entre os anos de 2017 a 2022, artigos em português, artigos sobre a saúde do homem com contexto na atenção básica. Foram excluídos: artigos incompletos, que não estavam disponíveis gratuitamente online, que não respondiam ao ano de publicação exigido de 2017 a 2022, que não estavam em português, e que não falavam da saúde do homem no contexto da atenção básica.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta revisão integrativa examinou oito artigos que atenderam aos critérios de inclusão citados anteriormente. A seguir, um resumo dos artigos analisados.

Tabela 1. Síntese dos estudos incluídos na revisão integrativa. São Sebastião do Paraiso, MG, Brasil, 2023

ORDEMTÍTULO DO ARTIGOTIPO DE PESQUISAOBJETIVOAUTORES E ANO
1As compreensões da população masculina acerca do cuidado em saúdeDescritivo-exploratório qualitativoAnalisar as compreensões da população masculina, atendida no âmbito da Atenção Primária à Saúde, acerca do sistema e do cuidado em saúdeROCHA et al., 2022
2Aspectos relacionados à implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) no BrasilRevisão integrativaFoi identificar produções bibliográficas sobre desafios na implementação da PNAISH na perspectiva 
da formação em enfermagem.
NOBRE;                      FREITAS, 2021
    3Atendimento à população masculina na atenção primária de Maracanaú-CE: estudo documentalRevisão documentalAnalisar os atendimentos de enfermagem destinados aos homens na Estratégia Saúde da Família (ESF), confrontando-os com as diretrizes propostas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem;MAGALHÃES et al., 2018
  4Atuação dos enfermeiros frente à política nacional de atenção integral a saúde do homem: um estudo exploratórioDescritivo-exploratório qualitativoConhecer como os enfermeiros desenvolvem a Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem.ASSIS et al., 2018
  5Autocuidado e Adoecimento dos Homens: Uma Revisão Integrativa NacionalRevisão integrativaVerificar os fatores    culturais, emocionais e laborais relacionados ao processo de adoecimento e autocuidado dos homens.GARCIA et al., 2019
  6Implementação     da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: desafios vivenciados por enfermeirasDescritivo qualitativoAnalisar os desafios vivenciados por enfermeiras na implementação da PNAISH.SOUSA et al., 2021
  7O “ser homem” nos serviços oferecidos pela Estratégia Saúde da Família: olhar do usuárioDescritivo, transversal, qualitativaIdentificar o conhecimento do usuário e suas propostas acerca da oferta de serviços específicos à saúde do homem na Atenção Básica.BAPTISTA et al., 2021
  8Política de saúde do homem e assistência prestada pelos profissionais na atenção primária à saúdeDescritivo-exploratório qualitativoCompreender a percepção dos profissionais da Estratégia Saúde da Família sobre a Política de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH).FREITAS et al., 2020
Fonte: própria do autor

De acordo com os estudos analisados foi levantado que os homens entrevistados entediam a importância do cuidado e do acompanhamento dos exames e que não se resume em apenas na ida ao hospital nível terciário e sim também ser muito importante a prevenção e a promoção da saúde na unidade básica, porém encontram uma grande dificuldade para chegar até estas unidades devido ao horário de trabalho, falta de flexibilidade dos empregadores em liberar estes homens para ida até as unidades (ROCHA et al., 2022).

Ainda em outros estudos há o relato desses homens na demora do tempo de espera para realizar a consulta e ainda mais no tempo para realização desses exames após solicitados e toda burocracia a cerca para autorização dos mesmos (GARCIA et al., 2019; FREITAS et al., 2020).

Alguns homens ainda têm o grande tabu sobre o machismo em que o homem é a estrutura mais forte da casa e que nunca podem adoecer, sendo assim a busca pela prevenção e promoção de saúde toca ainda em alguns homens com esse pensamento fazendo assim com que eles deixem de procurar pelas unidades de saúde (GARCIA et al., 2019).

Na maioria dos artigos analisaram que homens dentro da faixa etária de 20 a 59 anos já apresentavam histórico de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus ou estavam em processo de investigação durante a realização dos estudos (MAGALHÃES et al., 2018; BAPTISTA et al., 2021; ASSIS et al., 2018; NOBRE; FREITAS, 2021; SOUSA et al., 2021).

A falta ações de voltadas especificamente para saúde dos homens foi muito abordada também em alguns estudos, além disso o sentimento de medo em descobrir uma doença grave foi muito apontada pelos participantes em entrevistas realizadas em alguns estudos (GARCIA et al., 2019; BAPTISTA et al., 2021; FREITAS et al., 2020).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resumo, os resultados mostram que a saúde integral da população masculina não é preventiva, não tem hábitos de autocuidado e parece estar perdida em um mundo moderno, de certa forma esquecida e isso precisa de novas ações, novos modelos de atenção, prevenção e promoção da saúde desses homens perdidos no tempo. Desse modo e se não haver mudanças com certeza os índices de morbimortalidade dessa população continuem aumentando até que seja possível implementar mudanças comportamentais eficazes que incluam elementos de prevenção e autocuidado.

No entanto, é enfatizado que a superação da cultura machista patriarcal é necessária, e não apenas dos homens, mas de toda a sociedade que ainda se agarra a esse modelo arcaico de sexualidade de modo geral então a responsabilidade recai sobre a sociedade como um todo, além disso, o governo tem a capacidade de ajudar esta população por meio do aperfeiçoamento ou desenvolvimento de políticas públicas já existentes. No entanto, essas políticas devem levar em consideração o ambiente sociocultural em que os homens vivem em todas as regiões de nosso país.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMA-ATA. Declaração de Alma Ata sobre Cuidados. [S.l.]: [s.n.]. 1978, p. 1-3.

ASSIS, N. O. D. et al. Atuação dos enfermeiros frente à política nacional de atenção integral a saúde do homem: um estudo exploratório. Arq. Ciênc. Saúde UNIPAR, 22, n. 3, 2018., p. 151-156

BAPTISTA, A. et al. O “ser homem” nos serviços oferecidos pela Estratégia Saúde da Família: olhar do usuário. Revista de APS, 24, n. 2, abr-jun 2021., p. 367-379 Disponivel em: https://doi.org/10.34019/1809-8363.2021.v24.33185. Acesso em: janeiro 2023.

BRASIL, M. D. S. Pactos pela vida, em defesa do sus e de gestão. 2ª. ed. Brasilia: [s.n.], 2006., p. 78.

FREITAS, R. J. M. D. et al. Política de saúde do homem e assistência prestada pelos profissionais na atenção primária à saúde. Rev Enferm UFPI, 2020., p. e11293

GARCIA, L. H. C.; CARDOSO, N. D. O.; BERNARDI, C. M. C. D. N. Autocuidado e Adoecimento dos Homens: Uma Revisão Integrativa Nacional. Revista Psicologia e Saúde, 11, n. 3, 2019., p. 19-33

MAGALHÃES, M. C. et al. Atendimento à população masculina na atenção primária de Maracanaú-CE: estudo documental. Revista de APS, 21, n. 4, 2018., p. 737-746

MENDES, K. D. S.; SILVEIRA, C. D. C. P.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, 17, n. 4, out/dez 2008., p. 758-764 Disponivel em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=71411240017. Acesso em: Novembro 2022.

NOBRE, J. D. P.; FREITAS, C. A. D. Aspectos relacionados à implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) no Brasil. Espac. Saúde, 1, n. 22, 2021., p. e794

ROCHA, J. M. D. et al. AS COMPREENSÕES DA POPULAÇÃO MASCULINA ACERCA DO CUIDADO EM SAÚDE. Revista Ciência Plural, 8, n. 2, 2022., p. e26582

SOUSA, A. R. et al. Implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Implementação da Política Nacional de Atenção Integral à. Revista da escola de enfermagem da USP, 2021., p. e03759 Disponivel em: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/tspwMM5BVh4rtR8HN6yx65y/?lang=pt. Acesso em: agosto 2022.

SOUZA, L. V. D. S. A. D. et al. Desafios da implementação da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem em Mato Grosso. RSDJournal, 11, n. 2, 2022., p. e5311225354 Disponivel em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i2.25354. Acesso em: Janeiro 2023.

SOUZA, M. T. D.; SILVA, M. D. D.; CARVALHO, R. D. Revisão integrativa: o que é e como fazer, 8, n. 1, 2010., p. 102-106  Disponivel em: https://www.scielo.br/j/eins/a/ZQTBkVJZqcWrTT34cXLjtBx/?lang=pt#:~:text=A%20revis%C3%A3o%20integrativa%20determina%20o,cuidados%20prestados%20ao%20pa ciente(%201. Acesso em: Dezembro 2022.


¹Artigo submetido em 22/05/2023, e apresentado à Libertas – Faculdades Integradas, como parte dos requisitos
para obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem.
²Coordenadora dos cursos da área da saúde – Faculdades Integradas – E-mail: gismarrodrigues@libertas.edu.br
³Professor-orientador. Especialista em enfermagem do trabalho, docência no ensino superior e saúde mental e psiquiatria. Docente na Libertas – Faculdades Integradas – E-mail: antoniojunior@libertas.edu.br.
4Professora-orientadora. Mestre em Ciência da Saúde. Docente na Libertas – Faculdades Integradas – E- mail: gabrielazanim@libertas.edu.br.
5Professor-orientadora. Doutora em Ciências  da saúde, Docente na Libertas – Faculdades Integradas – E-mail: mgmariutti@yahoo.com.br
6Graduada em enfermagem pela Libertas – Faculdades Integradas – E-mail: eleneduarda2408@gmail.com.
7Professor-orientador. Mestre em Ciência da Saúde. Docente na Libertas – Faculdades Integradas – E-mail: tobiassantos@libertas.edu.br.