REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410270819
Andreza Carvalho dos Santos1;
Orientadora: Karina Brito da Costa Ogliari2
Resumo:
No Brasil, as síndromes hipertensivas são a principal causa de mortalidade materna, com a pré-eclâmpsia destacando-se globalmente, afetando de 3% a 10% das gestantes. O objetivo deste trabalho consiste em descrever a atuação da enfermagem na assistência ao pré-natal de alto risco no contexto de síndromes hipertensivas específicas da gestação, como pré-eclâmpsia e eclâmpsia. A metodologia definida foi a revisão integrativa, com buscas nas bases indexadas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na National Library of Medicine (PubMed) e na biblioteca eletrônica da Scientific Electronic Library Online (SciELO), para a qual aplicou-se a estratégia PICO (população-intervenção-comparação-desfecho), selecionando artigos publicados entre 2019 e 2024. Os resultados apontaram que a atuação de enfermagem se pauta pela prevenção, detecção precoce das síndromes hipertensivas gestacionais e domínio técnico (conhecimento e prática) sobre as referidas síndromes. Concluiu-se que essas qualificações configuram o perfil necessário para que o enfermeiro desempenhe seu papel na assistência à gestante com risco de pré-eclâmpsia.
Palavras-chave: Gestação de risco; Pré-eclâmpsia; Eclâmpsia.
Abstract:
In Brazil, hypertensive syndromes are the main cause of maternal mortality, with preeclampsia standing out globally, affecting 3% to 10% of pregnant women. The objective of this study is to describe the role of nursing in high-risk prenatal care in the context of hypertensive syndromes specific to pregnancy, such as preeclampsia and eclampsia. The methodology defined was an integrative review, with searches in the databases indexed in the Virtual Health Library (BVS), the National Library of Medicine (PubMed) and the electronic library of the Scientific Electronic Library Online (SciELO), to which the PICO strategy (population-intervention-comparison-outcome) was applied, selecting articles published between 2019 and 2024. The results indicated that nursing practice is guided by prevention, early detection of gestational hypertensive syndromes and technical mastery (knowledge and practice) of these syndromes. It was concluded that these qualifications configure the necessary profile for nurses to play their role in assisting pregnant women at risk of pre-eclampsia.
Keywords: High-risk pregnancy; Pre-eclampsia; Eclampsia.
1. INTRODUÇÃO
A gestação é um dos períodos da vida mais importantes para a mulher e traz várias adaptações no organismo que devem ser avaliadas e analisadas com cautela. Desse modo, eventos desfavoráveis podem acontecer durante a gestação com probabilidade de culminar em desfechos igualmente adversos, sobretudo quando decorrente de síndromes hipertensivas (Berlato; Costernaro, 2016).
Nesse contexto, surge a gravidez de alto risco (GAR), caracterizada por uma variedade de condições clínicas, obstétricas e sociais inesperadas, que acarretam perigos reais ou potenciais à gestação. Essas circunstâncias demandam alterações no modo de vida, suporte técnico e/ou internação hospitalar, acompanhamento especializado, detecção precoce de questões relacionadas a condições clínicas, socioeconômicas e demográficas, bem como oferta de procedimentos diagnósticos e terapêuticos perinatais adequados (Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, 2019).
No Brasil, as síndromes hipertensivas da gestação são a principal causa de mortalidade materna, seguidas por hemorragias e infecções. Entre essas condições, a pré-eclâmpsia se destaca como uma das principais causas de mortalidade materna e perinatal em nível global, afetando entre 3% e 10% das gestantes em todo o mundo. Anualmente, aproximadamente 76.000 mulheres e 500.000 bebês morrem em decorrência dessa complicação (Lima et al., 2024).
A pré-eclâmpsia é caracterizada por aumento da pressão arterial (≥140/90 mmHg) após 20 semanas de gestação, associado à proteinúria ou lesão de órgãos-alvo. Em casos graves, a pressão arterial pode subir para ≥160/110 mmHg, acompanhada de sinais como baixa contagem de plaquetas, elevação das enzimas hepáticas, dor persistente, elevação da creatinina, edema pulmonar e distúrbios cerebrais ou visuais. Em pacientes previamente hipertensas, a presença desses sinais indica pré-eclâmpsia sobreposta (Brasil, 2012).
Gestantes que apresentam alto risco gestacional devem ser acompanhadas no pré-natal de alto risco, o qual, geralmente, é desenvolvido na atenção secundária por envolver casos mais complexos de assistência durante a gravidez. Isto é, aqueles que envolvem diversos equipamentos da rede de saúde na busca por reduzir a mortalidade materna, uma realidade ainda preocupante no mundo (Ferreira Junior et al., 2017).
O tratamento dessas condições visa equilibrar o controle da pressão arterial, o bem-estar fetal e o momento adequado para o parto. Medicamentos antihipertensivos e corticosteroides para acelerar a maturação pulmonar do feto são frequentemente usados. A antecipação do parto deve ser cuidadosamente avaliada para minimizar riscos e complicações para mãe e bebê (Silva et al., 2024).
Em um cenário com risco de pré-eclâmpsia, os enfermeiros têm um papel vital. É fundamental identificar e aplicar estratégias eficazes para controlar os riscos durante a gestação, considerando as características individuais de cada mulher. Esse cuidado no pré-natal de alto risco ajuda a reduzir os perigos para a saúde da mãe e do bebê, promovendo o bem-estar em diversas áreas, como a biológica, social, psicológica e espiritual (Frazão et al., 2023).
Os enfermeiros são responsáveis, ainda, por orientar as gestantes a comunicar prontamente qualquer complicação durante a gravidez. Complicações como prematuridade, morte materna, aborto espontâneo, óbito fetal, descolamento prematuro de placenta, parto prematuro, ruptura prematura de membranas, diabetes gestacional, hipertensão gestacional, macrossomia fetal e malformações fetais são algumas das possíveis ocorrências adversas. Essas orientações são cruciais para que as gestantes identifiquem sinais de alerta e busquem ajuda médica imediatamente, prevenindo complicações graves (Mendes et al., 2023).
Diante deste cenário, levantou-se a seguinte questão de pesquisa: qual o papel dos enfermeiros diante de gestantes com risco de síndromes hipertensivas da gestação, incluindo de pré-eclâmpsia e eclâmpsia?
A partir do problema acima identificado, definiu-se o seguinte objetivo geral: descrever a atuação da enfermagem na assistência ao pré-natal de alto risco no contexto de síndromes hipertensivas específicas da gestação, como pré-eclâmpsia e eclâmpsia. Os objetivos específicos foram assim definidos: conceituar gestação de alto risco, pré-eclâmpsia e eclâmpsia; relacionar os fatores de risco identificáveis durante o pré-natal; e discutir o papel da enfermagem na assistência à gestante no pré-natal de alto risco para pré-eclâmpsia.
Esta pesquisa se justifica pela necessidade de compreensão teórica e, oportunamente, prática, dos sinais que configuram suspeitas de síndromes hipertensivas específicas da gestação. O domínio desse conhecimento contribuirá para melhor oferta de assistência às gestantes e, consequentemente, para o desenvolvimento profissional de profissionais de Enfermagem.
Para o desenvolvimento desta pesquisa foram efetuadas etapas de delimitação do tema, seleção de artigos publicados nas bases de dados científicos, mediante o uso de termos descritores devidamente indexados no DeCS/MeSH (Descritores de Ciências da Saúde/ Medical Subject Headings). Estes foram pré-selecionados e, posteriormente, selecionados para integrarem a discussão dos resultados.
2. METODOLOGIA
Este é um estudo integrativo da literatura com o objetivo de investigar de maneira sistemática um problema específico no campo científico, visando identificar possíveis lacunas no conhecimento. De acordo com Botelho, Cunha e Macedo (2011), este tipo de revisão compila informações de várias pesquisas publicadas, gerando novos insights e permitindo o uso de dados de estudos realizados com diferentes metodologias, o que pode fornecer resultados mais práticos e experimentais.
Para a realização da revisão integrativa, foram seguidas várias etapas metodológicas: identificação do tema e definição da questão de pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; seleção e pré-seleção dos estudos; categorização dos estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados; e, finalmente, apresentação da revisão e síntese do conhecimento (Botelho; Cunha; Macedo, 2011).
Foi aplicado o formato PICO para definição da questão de pesquisa. PICO é um acrônimo no qual a letra “P” significa população alvo, letra “I” considera o interesse ou intervenção, a letra “C” para comparação e a letra “O” significa resultados, desfecho (Grupo Anima Educação, 2014).
Aplicando o formato PICO para a definição da pergunta de pesquisa deste trabalho, tem-se: P: enfermeiros; I: pré-eclâmpsia; C: não comparado; O: desfechos positivos no pré-natal com risco de pré-eclâmpsia.
Sendo assim, a pergunta de pesquisa foi definida como: qual o papel dos enfermeiros diante de gestantes com riscos de pré-eclâmpsia?
Foram selecionadas as bases de dados indexadas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), National Library of Medicine (PubMed) e na biblioteca eletrônica da Scientific Electronic Library Online (SciELO).
Os descritores para estratégias de busca foram identificados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Assistência de enfermagem (Nursing Care), pré-natal (Prenatal Care), gravidez de risco (Pregnancy, High-Risk), e pré-eclâmpsia (Pré-Eclâmpsia).
Para seleção dos achados, foram observados os seguintes critérios de inclusão: artigos publicados entre 2019 e 2024 nos idiomas inglês, espanhol e português; com acesso aberto (gratuitos) e completos. Foram excluídos estudos publicados fora do período determinado acima e em idiomas diferentes dos mencionados; pagos ou que apresentaram outras restrições de acesso.
As bases de dados científicos bem como os achados e a seleção dos artigos e, também, a relação dos estudos selecionados constam demonstrados no fluxograma Figura 1) e no Quadro 1, respectivamente:
Figura 1: Fluxograma de cruzamentos, resultados na busca de dados disponíveis e os motivos de exclusão, adaptados no diagrama de fluxo PRISMA
Quadro 1: Distribuição dos artigos incluídos na revisão de acordo com o título, autor/ano, objetivo, tipo de estudo e resultados em ordem cronológica
Autor/ano | Título | Objetivo | Metodologia | Resultado/conclusão |
Eticha et al. (2024) | Determinantes da pré-eclâmpsia entre mulheres que deram à luz no Hospital Universitário Especializado Abrangente Hiwot Fana, Etiópia Oriental: um estudo de caso-controle | Determinar os determinantes da pré-eclâmpsia, uma vez que é essencial para sua prevenção e/ou suas consequências associadas | Estudo de caso-controle não pareado de base institucional | O estudo revelou que viver em áreas rurais, histórico de pré-eclâmpsia, ausência de cuidados pré-natais e idade inferior a 20 anos estão significativamente associados à pré-eclâmpsia, destacando a necessidade de maior atenção a gestantes jovens e rurais na triagem e prevenção dessa condição. |
Seif; Rashid (2022) | Conhecimento e habilidades de gerenciamento de pré-eclâmpsia entre profissionais de saúde que trabalham em clínicas pré-natais em Zanzibar | Avaliar o conhecimento e as habilidades no gerenciamento da pré-eclâmpsia e eclâmpsia e seus fatores associados entre os profissionais de saúde que trabalham em clínicas pré-natais em Zanzibar. | Estudo analítico transversal | 49% dos profissionais de saúde possuíam conhecimento adequado e 47% tinham habilidades adequadas. O conhecimento foi associado ao trabalho em unidades mais avançadas e à participação em treinamentos sobre pré-eclâmpsia. As habilidades foram relacionadas a treinamentos e experiência mínima de cinco anos em cuidados pré-natais. |
Mekie et al. (2022) | Percepção sobre pré-eclâmpsia ebarreiras percebidas para busca precoce de saúde entre mulheres grávidas em hospitais selecionados da Zona Sul de Gondar, Noroeste da Etiópia: Um estudo qualitativo | Avaliar a percepção em relação à pré-eclâmpsia e as barreiras percebidas à busca precoce por saúde entre mulheres grávidas em hospitais selecionados da Zona Sul de Gondar, Noroeste da Etiópia. | Estudo qualitativo com abordagem fenomenológica | Os resultados destacam a necessidade de aumentar a conscientização sobre os riscos da hipertensão na gravidez e melhorar o atendimento nas unidades de saúde, reduzindo o tempo de espera e incentivando a busca precoce por cuidados. |
Moraes et al. (2019) | Síndromes hipertensivas na gestação: perfil clínico materno e condição neonatal ao nascer | Identificar o perfil clínico de mulheres com Síndromes Hipertensivas na Gestação (SGH) e seus neonatos, caracterizando o perfil sociodemográfico e obstétrico materno, além de descrever as condições clínicas neonatais ao nascer. | Estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa | O perfil clínico e obstétrico materno é prejudicado, porém, o desfecho neonatal foi 600 considerado positivo frente a essa patologia. Por isso a importância da assistência pré-natal qualificada, minimizando riscos e evitando complicações por meio de medidas preventivas |
Ferreira et al. (2019) | Características maternas e fatores de risco para pré-eclâmpsia em gestantes | Investigar as características maternas e os fatores de risco para o desenvolvimento da pré-eclâmpsia em gestantes | Estudo documental e retrospectivo | Os fatores de risco para o desenvolvimento de pré-eclâmpsia presentes na amostra foram a primiparidade 40 (42,6%), a hipertensão crônica 4 (4,3%), a gravidez múltipla 9 (9,6%), o diabetes mellitus e a obesidade 8 (8,6%) e a idade >40 anos (1,1%). |
3. REVISÃO DE LITERATURA
Este capítulo expõe os resultados dos achados da busca sistemática nas bases de dados científicos. Os achados possibilitaram identificar duas categorias relevantes neste estudo: fatores de risco às síndromes hipertensivas específicas da gestação (pré-eclâmpsia e eclâmpsia); e estratégias de enfermagem no contexto dessas síndromes.
Cinco artigos foram selecionados para a revisão. Todos abordam o papel da enfermagem ante as síndromes hipertensivas específicas da gestação, entre as quais, pré-eclâmpsia e eclâmpsia.
Dois dentre o total de estudos selecionados, mencionam a habilidade profissional na gestão de pré-eclâmpsia e eclâmpsia, sendo um no que tange ao domínio das técnicas convencionais de triagem para detecção de sinais de perigo (Seif; Raschid, 2022).
3.1 Fatores de risco para síndromes hipertensivas específicas da gestação
Os fatores de risco e os procedimentos estratégicos de enfermagem foram as categorias identificadas nos estudos. A primeira destas categorias ficou evidenciada em quatro estudos, a saber: idade avançada (acima de 40 anos), ser primigesta, ter histórico de pré-eclâmpsia, ter curta duração de coabitação e baixo status socioeconômico. Além destes fatores, condições como a obesidade, hipertensão crônica, diabetes mellitus, gravidez na adolescência e condições que levam à hiperplacentação e placentas grandes estão relacionadas à pré-eclâmpsia (Mekie et al., 2022; Ferreira et al., 2019).
Por outro lado, a idade avançada – mais de 40 anos – (Mekie et al., 2022) bem como ter menos de 20 anos (Eticha et al., 2024) foram fatores genéticos identificados nos estudos como de risco para a ocorrência de pré-eclâmpsia, independente da situação socioeconômica, segundo estes últimos autores.
As comorbidades tais como doença renal crônica, história de trombofilia, lúpus eritematoso sistêmico e, também, gravidez multifocal e fertilização in vitro (Ferreira et al., 2019) são concorrentes para o desfecho das referidas síndromes hipertensivas da gestação. O diabetes foi citado como a comorbidade mais comprometedora para esses desfechos (Moraes et al., 2019).
3.2 Estratégias de enfermagem
A segunda categoria aborda os procedimentos estratégicos de enfermagem. A conduta estratégica de enfermagem diante das síndromes hipertensivas específicas da gestação, segundo os achados desta revisão, começa com o acompanhamento regular à gestante – o pré-natal (Eticha et al., 2024; Ferreira et al., 2019).
Tomando este procedimento como primordial e abrangente, nele constam: a medicação com pequenas doses de aspirina (150 mg) a partir da 16ª semana; orientação nutricional; e cuidados específicos, além de educação às gestantes (Ferreira et al., 2019).
4. DISCUSSÃO
De modo geral, a assistência de enfermagem no tocante às síndromes hipertensivas específicas da gestação visa a medidas preventivas e, por conseguinte, a detecção precoce destas. Os estudos explorados neste artigo permitiram destacar estas duas temáticas porquanto se mostraram predominantes na abordagem relacionada às referidas síndromes.
4.1 Prevenção
A prevenção às síndromes hipertensivas específicas da gestação, identificada nos estudos aqui apresentados, destacou alguns fatores relevantes. A percepção sobre as causas e características sociodemográficas foram apontadas como obstáculos. Por outro lado, enfatizou o uso de medicamentos e o estilo de vida como medidas preventivas.
Uma dificuldade diz respeito à percepção limitada sobre as causas, gravidade e consequências da pré-eclâmpsia, juntamente com barreiras na prevenção. Essas dificuldades, de acordo com Mekie et al. (2022) afetam negativamente as medidas preventivas, como a busca por cuidados e os resultados de tratamento em mulheres com a doença.
Em contrapartida, a percepção positiva sobre a causa percebida, complicações percebidas e prevenção da doença é central para a previsão e diagnóstico precoce da doença que, por sua vez, melhora os resultados maternos e fetais (Mekie et al., 2022).
Acrescente-se que, no estudo de Eticha et al. (2024), constatou-se que moradoras de áreas rurais apresentaram maior probabilidade de desenvolver pré-eclâmpsia em comparação com as urbanas. Isso pode ser atribuído à falta de acompanhamento pré-natal, comportamento inadequado de busca por saúde e ausência de intervenções preventivas, como o uso de aspirina, em áreas rurais.
Fica evidenciado que as medidas preventivas para a pré-eclâmpsia são fundamentais na redução das síndromes hipertensivas na gestação. A conscientização sobre as causas e complicações da doença, aliada a hábitos saudáveis, como dieta equilibrada e atividade física, é essencial para a prevenção, somando-se ao uso de medicamentos específicos. Essas ações visam melhorar os resultados maternos e fetais.
A propósito dos medicamentos, tanto o ácido acetilsalicílico quanto o sulfato de magnésio foram mencionados para uso como medidas preventivas de pré-eclâmpsia e eclâmpsia. Neste sentido, estimou-se que nos países de baixo e médio rendimento, as mortes maternas por essas síndromes poderiam ser reduzidas em 84% com a detecção precoce de proteinúria e hipertensão, tratamento rápido com sulfato de magnésio, além do parto prematuro do feto (Seif; Rashid, 2022).
Quanto à aspirina, especificamente, sendo considerada de baixo custo, foi mencionada como medida segura e econômica. Nas palavras de Ferreira et al. (2019), em doses baixas, é uma opção econômica, sendo um medicamento seguro, acessível e de baixo custo disponível na rede de saúde.
Além das medidas supramencionadas, outras devem ser praticadas. A maioria dos participantes do estudo de Mekie et al. (2022) concordou que a pré-eclâmpsia pode ser evitada através da redução de comportamentos de risco, como ajustes na dieta, aumento de atividade física e controle de peso. Além disso, o acompanhamento pré-natal foi mencionado como uma medida importante para diminuir o risco de desenvolver a condição.
Nessas circunstâncias, importa ressaltar que a combinação do uso de medicamentos como ácido acetilsalicílico e sulfato de magnésio com a educação contínua sobre a importância do pré-natal pode ser decisiva na prevenção de complicações da pré-eclâmpsia. Considerando que o estilo de vida da gestante e o pré-natal bem acompanhado são medidas preventivas de grande relevância, faz sentido que o enfermeiro tenha domínio tanto na aplicação dessas e orientação dessas medidas, quanto na detecção precoce das síndromes hipertensivas específicas da gestação.
4.2 Detecção precoce
A pré-eclâmpsia ainda não tem uma patogênese claramente definida, mas teorias sugerem que ela pode ser causada por um desenvolvimento placentário anormal, onde a invasão do trofoblasto e a remodelação da artéria espinal são defeituosas, resultando em isquemia placentária. Isso libera fatores antiangiogênicos que levam ao vasoespasmo sistêmico e hipertensão. Outras hipóteses incluem disfunção endotelial, infecções, predisposição genética e maior resposta à angiotensina II (Eticha et al., 2024).
Em face dessa premissa, a anamnese e o exame físico são eficazes para identificar preditores de pré-eclâmpsia, especialmente quando relacionados ao histórico pessoal da paciente, como nuliparidade, idade, histórico familiar, pré-eclâmpsia anterior, hipertensão, doenças renais, tireoidianas ou gestações múltiplas (Ferreira et al., 2019).
Nesse sentido, um estudo apontou oito casos de eclâmpsia e oito de síndrome HELLP, formas graves da doença com potencial de causar graves complicações para mãe e bebê. Observou-se que 42% das gestantes realizaram de 4 a 6 consultas pré-natal, enquanto 58% participaram de mais de 6 consultas, conforme a recomendação mínima do Ministério da Saúde (Moraes et al. 2019). É notável a quantidade considerável de gestantes que não realizaram a quantidade mínima recomendada de consultas pré-natal.
O pré-natal adequado, com assistência qualificada, é essencial para a detecção precoce de complicações e controle da pressão arterial, além de conscientizar mulheres hipertensas sobre a importância do planejamento reprodutivo para reduzir riscos na gestação. Diante dessa situação, os enfermeiros continuam com grande responsabilidade e tarefa de conhecer e reconhecer sintomas, aplicar medidas preventivas e detectar precocemente as síndromes hipertensivas relacionadas à gestação.
4.3 Importância do conhecimento do enfermeiro sobre síndromes hipertensivas específicas da gestação
A atuação dos enfermeiros é fundamental no manejo das síndromes hipertensivas da gestação, sendo essencial que identifiquem precocemente os riscos e promovam cuidados preventivos eficazes. A falta de capacitação dos profissionais de saúde e de recursos compromete o tratamento adequado das gestantes, agravando as complicações. Nessa continuidade, o pré-natal qualificado, com acompanhamento contínuo, é crucial para reduzir riscos e melhorar os desfechos para mães e bebês.
A pré-eclâmpsia grave é caracterizada por sintomas como dor de cabeça intensa, visão embaçada, síndrome HELLP (hemólise, elevação das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas), edema pulmonar e falência de órgãos. A condição pode progredir para eclâmpsia quando ocorrem convulsões (Eticha et al., 2024).
À vista disso, a realização de consultas pré-natal regularmente, contribui para a prevenção e detecção precoce de síndromes hipertensivas da gestação. Um estudo de Moraes et al. (2019), relatou que recém-nascidos adequados para a idade gestacional (AIG), a termo e com Apgar positivo foram observados em mulheres que realizaram seis ou mais consultas de pré-natal qualificadas. Isso destaca a relevância do pré-natal adequado, com profissionais capacitados para escutar de forma acolhedora e identificar precocemente os riscos, além de promover ações preventivas para alcançar melhores desfechos.
Sob esse ponto de vista, o enfermeiro desempenha um papel essencial na detecção precoce de fatores de risco e no manejo da pré-eclâmpsia, oferecendo vigilância contínua e cuidados baseados em evidências científicas, visando reduzir complicações e melhorar os desfechos para gestantes e recém-nascidos (Ferreira et al., 2019).
A falta de conhecimento e habilidades sobre pré-eclâmpsia/eclâmpsia entre profissionais de saúde – dentre os quais, os enfermeiros – , junto com a insuficiência de recursos, impede que muitas mulheres recebam tratamentos eficazes, contribuindo para o impacto das doenças hipertensivas gestacionais, sobretudo nos países de baixo e médio rendimento (Seif; Rashid, 2022).
Ficou evidenciado que o conhecimento do enfermeiro sobre as referidas síndromes, mesmo diante da falta de recursos, contribui sobremaneira para prevenir e detectar as síndromes hipertensivas específicas da gestação. Desse modo, a atuação desse profissional representa um diferencial substancial na qualidade da assistência de enfermagem às pacientes gestantes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho possibilitou analisar a atuação da enfermagem na assistência ao pré-natal de alto risco, com foco nas síndromes hipertensivas específicas da gestação, como a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia. De modo geral, foram identificados fatores de risco relacionados às síndromes hipertensivas específicas da gestação e as estratégias de enfermagem aplicadas no manejo dessas condições, permitindo alcançar êxito do objetivo proposto, respondendo à pergunta de pesquisa, a qual questiona qual o papel dos enfermeiros diante de gestantes com risco de síndromes hipertensivas da gestação, incluindo pré-eclâmpsia e eclâmpsia.
Inicialmente, abordou-se o conceito de gravidez de alto risco (GAR), pré-eclâmpsia e eclâmpsia, estabelecendo as diferenças entre as duas últimas. A conceituação favoreceu o entendimento de que a GAR abrange uma gama ampla de fatores de risco, enquanto a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia são condições específicas relacionadas a alterações hipertensivas durante a gravidez, com a eclâmpsia sendo uma evolução severa da pré-eclâmpsia.
De posse da compreensão desses conceitos, a tarefa de relacionar os fatores de risco ocorreu fluentemente, permitindo identificá-los, bem como destacar o fator mais influente, nos limites dos estudos aqui analisados. O fator preponderante identificado foi a idade da mulher, em caráter extremo, qual seja: ter mais de 40 anos ou menos de 20 para risco de pré-eclâmpsia.
As abordagens conceituais e características das gestações de risco, bem como, dos riscos mais relevantes para o desencadeamento de pré-eclâmpsia, abriram caminho para a discussão da atuação da enfermagem na assistência à paciente gestante com potencial risco dessa síndrome hipertensiva. Nessa circunstância, a conduta desses profissionais se resume na prevenção e detecção precoce das síndromes hipertensivas da gestação no contexto de gravidez de alto risco. Para tanto, requer conhecimento técnico para reconhecê-las e tomar medidas cabíveis de prevenção à eclampsia.
Esta revisão apresentou limitações pertinentes à quantidade de artigos que responderam à pergunta de pesquisa, considerando a delimitação temporal (publicações dos últimos cinco anos) como, também, a restrição ao uso apenas de termos indexados nas bases de dados científicos elencados previamente. Não obstante as limitações, o resultado foi satisfatório para a delimitação temática deste trabalho.
Ademais, dada a importância deste tema, espera-se que este estudo inspire o desenvolvimento de novos projetos voltados à saúde pública, com foco na preparação e capacitação contínua dos enfermeiros para lidar com gestantes de alto risco. A otimização da oferta de serviços voltados à prevenção e ao manejo das síndromes hipertensivas gestacionais, como a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia, deve ser incentivada por meio de políticas públicas e investimentos em pesquisa. Assim, promover a qualificação desses profissionais e ampliar o acesso a cuidados preventivos contribuirá significativamente para a redução dos riscos materno-fetais e para a melhoria dos indicadores de saúde materna no país.
REFERÊNCIAS
BERLATO, Luciene Pereira; COSTENARO, Regina Gema Santini; BENEDETTI, Franceliane Jobim. Gestação na paciente renal crônica em hemodiálise. Disciplinarium Scientia, Ciências da Saúde, v. 17, n. 1, p. 171-180. 2016. Disponível em: https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumS/article/view/1918. Acesso em: 26 abr. 2024.
BOTELHO, Louise Lira Roedel; CUNHA, Cristiano Castro de Almeidas; MACEDO, Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Revista Eletrônica Gestão e Sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, maio/ago. 2011. Disponível em: https://ges.face.ufmg.br/index.php/gestaoesociedade/article/view/1220/906. Acesso em: 5 jun. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de atenção básica n.32 pré-natal de baixo risco. Série A normas e manuais técnicos. Brasília-DF 2012.
ETICHA, Tadesse Gure et al. Determinantes da pré-eclâmpsia entre mulheres que deram à luz no Hospital Universitário Especializado Abrangente Hiwot Fana, Etiópia Oriental: um estudo de caso-controle. Sci Rep., v. 14, n. 1, 18744, 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11322304/. Acesso em: 10 set. 2024.
FERREIRA JUNIOR, Antonio Rodrigues et al. O enfermeiro no pré-natal de alto risco: papel profissional. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 41, n. 3, p. 650-667, set. 2017. Disponível em: https://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/view/2524. Acesso em: 26 abr. 2024.
FERREIRA, Eilen Tainá Matos et al. Características maternas e fatores de risco para pré-eclâmpsia em gestantes. Rev Rene., v. 20, e40327, 2019. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/40327/pdf_1. Acesso em: 10 set. 2024.
GRUPO ANIMA EDUCAÇÃO. Manual revisão bibliográfica sistemática integrativa: a pesquisa baseada em evidências. Belo Horizonte – MG: Anima Educação EaD, 2014.
LIMA, Libna Helen de Melo et al. Qualidade do pré-natal e a pré-eclâmpsia: estudo transversal. Research, Society and Development, v. 13, n. 7, e3613746253, 2024. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/46253/36731. Acesso em: 26 abr. 2024.
MEKIE, Maru et al. Percepção sobre pré-eclâmpsia e barreiras percebidas para busca precoce de saúde entre mulheres grávidas em hospitais selecionados da Zona Sul de Gondar, Noroeste da Etiópia: Um estudo qualitativo. PLOS ONE, v. 17, n. 8, e0271502. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0271502. Acesso em: 10 set. 2024.
MENDES, Ryanne Carolyne Marques Gomes et al. Sistema de enfermagem apoio-educação na promoção do autocuidado a gestantes de alto risco: revisão integrativa. REME – Rev Min Enferm., v. 27, e-150, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/reme/article/view/38505/37678. Acesso em: 12 maio 2024.
MORAES, Lhayse dos Santos Lopes et al. Síndromes hipertensivas na gestação: perfil clínico materno e condição neonatal ao nascer. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 43, n. 3, p. 599-611, 2019. Disponível em: https://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/view/2974/2800. Acesso em: 10 set. 2024.
SEIF, Saada Ali; RASHID, Salma Ali. Conhecimento e habilidades de gerenciamento de pré-eclâmpsia entre profissionais de saúde que trabalham em clínicas pré-natais em Zanzibar. BMC Health Services Research., v. 22, n. 1512, 2022. Disponível em: https://bmchealthservres.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12913-022-08892-5. Acesso em: 10 set. 2024.
SILVA, Tatielle Caroline et al. Pré-eclâmpsia e doença de placenta: repercussões clínicas. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação —REASE, v, 10, n. 8, 2024. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/15453/8175. Acesso em: 26 abr. 2024.
SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN. Nota Técnica para organização da Rede de Atenção à Saúde com foco na Atenção Primária à Saúde e na Atenção Ambulatorial Especializada – Saúde da Mulher na Gestação, Parto e Puerpério. 2019. São Paulo: Hospital Israelita Albert Einstein, Ministério da Saúde. Disponível em: https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202001/03091259-nt-gestante-planificasus.pdf. Acesso em: 26 abr. 2024.
Agradecimentos
Primeiramente, agradeço a Deus pela sabedoria, pela força, e perseverança durante todo este percurso. Sem a sua presença, não teria chegado até aqui.
Aos meus familiares, especialmente aos meus pais, pelo amor, força e pelo constante apoio em todos os momentos. Vocês foram a minha maior inspiração ao meu filho, que é a minha fonte de motivação para seguir em frente, mesmo nos momentos mais desafiadores.
1Graduando(a) do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac.
2Docente no Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac. Brasília, Distrito Federal, Brasil. E-mail: elisangela.aoyama@uniceplac.edu.br