REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7149362
Autora:
Ivone Sobral Carneiro Fialho
RESUMO
O Brasil atualmente é o segundo maior transplantador de órgãos do mundo, os pacientes que são contemplados recebem auxilio e cuidados que englobam desde exames preparatórios até medicações pós-transplantes, sendo o enfermeiro um dos profissionais com maior habilidade para gerenciar esse processo. Objetivo: Identificar na literatura a assistência de enfermagem em relação a manutenção clínica do paciente doador de órgãos. Método: Trata-se de uma revisão integrativa, realizada nas bases de dados PubMed e BVS com os descritores controlados Equipe de Enfermagem, Cuidados de Enfermagem, Doador de Órgãos. Para o delineamento da questão norteadora utilizou-se a estratégia PICO a construção do protocolo de pesquisa as orientações do Instituto Joanna Briggs. Resultados: Foram selecionados 10 artigos, efetivados majoritariamente no Brasil, sendo a primeira data de publicação no ano de 2017. Aos quais destinaram-se a assistência de enfermagem prestada ao possível doador de órgãos. Conclusão: Esta revisão identificou o enfermeiro como um profissional essencial em todas as etapas de doação de órgãos, destacando-se na elaboração de métodos para a manutenção e conservação dos órgãos, além de serem coordenadores de atividades voltadas para esta pratica. Este profissional se torna essencial para a elaboração do processo e para os pacientes e familiares.
Palavras-chave: Equipe de Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Doador de Órgãos.
ABSTRACT
Brazil is currently the second largest organ transplant in the world, the patients who receive it receive assistance and care ranging from preparatory exams to post-transplant medications, with nurses being one of the professionals with the greatest ability to manage this process. Objective: To identify nursing assistance in the literature in relation to the clinical maintenance of the organ donor patient. Method: This is an integrative review, carried out in the PubMed and VHL databases with controlled descriptors Nursing Team, Nursing Care, Organ Donor. To outline the guiding question, the PICO strategy was used and the construction of the research protocol was carried out under the guidelines of the Joanna Briggs Institute. Results: 10 articles were selected, mostly in Brazil, the first date of publication in 2017. The nursing assistance provided to the possible organ donor was intended. Conclusion: This review identified the nurse as an essential professional in all stages of organ donation, standing out in the development of methods for the maintenance and conservation of organs, in addition to being coordinators of activities aimed at this practice. This professional becomes essential for the elaboration of the process and for patients and family members.
Keywords: Nursing team; Nursing care; Organ Donor.
1. INTRODUÇÃO
A legalização do uso de órgãos para tratamento ou cura de pessoas foi legalizada de acordo com a lei 9.434/97 (BRASIL, 1997) que autoriza a disposição de órgãos, tecidos e partes do corpo humano, em vida ou post mortem, para fins de transplante e tratamento. Mas para que tal tratamento ocorra, é necessário que, em caso de morte do possível doador, o procedimento seja realizado depois do diagnóstico de morte encefálica, contatada e registrada por dois médicos de equipes diferentes e que não estejam envolvidos na remoção e transplante dos órgãos.
O Brasil atualmente, é referência mundial na área de transplantes e possui o maior sistema público destinado a essa atividade no mundo, sendo ele o Sistema Único de Saúde (SUS), o mesmo cobre cerca de 96% dos procedimentos de todo o país. Em uma escala mundial, o Brasil é o segundo maior transplantador do mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Os pacientes contemplados com tal assistência recebem, auxílio gratuito que abrange além da cirurgia, abordando uma visão integral do paciente. Os cuidados prestados pelo SUS incluem: exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante, pela rede pública de saúde (BRASIL, 2021).
A partir do diagnóstico de morte encefálica e a assinatura do termo de consentimento da família do paciente para a adoção de órgãos deve-se ocorrer a notificação compulsória para o transplante de órgãos, pois de acordo com o artigo 13 da lei nº 9.434/97 é obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde, notificar as centrais de captação de órgãos (BRASIL, 1997). Logo após é verificado a lista de espera de órgãos e comunicado para o potencial receptor.
No processo de doação, a segurança está em fazer a avaliação e o cuidado ao potencial doador minuciosamente. É preconizado que esse paciente seja mantido sob cuidados intensivos, pois requer atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e tecnologias para monitorização e tratamento. Acrescenta-se que, além dos profissionais deste setor, existem os profissionais das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) e da Central de Transplantes, que auxiliam na condução da avaliação e dos cuidados ao potencial doador (MAGALHAES, et al. 2017).
O enfermeiro, ao longo dos anos, é considerado o profissional com maior habilidade para interagir nesse cenário e gerenciar esse processo. Ele é capaz de interagir com a equipe multiprofissional e a família, priorizar e tomar decisões em tempo hábil, garantindo que o cuidado desenvolvido nesse processo possa se tornar efetivo, seguro e com qualidade (MAGALHAES, et al. 2015).
Um dos papéis dos enfermeiros nos processos de transplantes é integrar a equipe multiprofissional, colaborando na prestação da assistência. Assim, esses profissionais são constantemente estimulados a desempenhar cuidado de qualidade aos clientes submetidos a transplantes, contribuindo para o seu sucesso. A complexidade do cuidado tem se tornado cada vez maior e o tempo de hospitalização pós-transplante tem sido reduzido. Nesse sentido, os enfermeiros necessitam prover assistência de alto nível, tanto aos clientes quanto a seus familiares ou cuidadores, possibilitando a continuidade do tratamento no ambiente domiciliar(ITNS, 2011).
Assim, esse profissional é um elemento-chave para o estabelecimento de um transplante de sucesso. Para tanto, o mesmo precisa ser educado e desenvolver competências essenciais para atuar nesse processo (NEGREIROS, et al. 2017).
A educação do enfermeiro no transplante envolve educação de si, de outros provedores do cuidado de saúde e do público em geral. Para ensinar outras pessoas, os enfermeiros devem atualizar constantemente conhecimento, habilidades e atitudes, especialmente neste campo instável e complexo que é o transplante (OHLER; CUPPLES, 2013).
2. JUSTIFICATIVA
A atuação do enfermeiro no serviço de transplante envolve diversas atividades de cuidado e gerenciais. Dessa forma, o enfermeiro que assume a função de coordenador de transplante precisa ter conhecimentos abrangentes para gerenciaras complexas situações que envolvem o cuidado ao paciente nas diferentes fases do transplante e para desenvolver habilidades: de avaliação clínica direcionadas aos sinais e sintomas de rejeição e infecção, complicações associadas aos transplantes, interações farmacológicas; de comunicação com pacientes, familiares e demais membros da equipe de transplante; de ensino–aprendizagem, organizacionais, de triagem, administrativas e de resolução de problemas (AUED, et al. 2016).
Assim, vale destacar também a importância do preparo profissional no que diz respeito à abordagem familiar, haja vista que neste momento especifico a família está fragilizada com a perda de um ente querido, devendo este profissional fazer um acolhimento a esses indivíduos e esclarecer as dúvidas que podem surgir sobre morte encefálica e a realização da solicitação para doação de órgãos, configurando-se o momento importante para que se possa dar continuidade ao processo de captação de órgãos(ALMEIDA; BUENO, 2014).
Diante da pesquisa ampliamos as informações sobre a atuação do profissional de enfermagem diante de situações em que o paciente passara por um processo de doação de órgãos e os principais cuidados que esses profissionais devem ter. Assim, a pesquisa tem uma grande importância para a sociedade acadêmica e de profissionais que pretendem atuar nessa área.
3. OBJETIVOS
3.1 GERAL
- Avaliar na literatura a assistência de enfermagem em relação a manutenção clínica do paciente doador de órgãos.
3.2 ESPECÍFICOS
- Identificar a manutenção clínica e a conduta do enfermeiro para o transplante de órgãos na literatura;
- Caracterizar a assistência de enfermagem com o paciente doador de órgãos;
- Relacionar a conduta do enfermeiro com a efetividade do processo de doação de órgãos.
4. METODOLOGIA
Tipo de estudo
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que consiste em uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (SILVEIRA, 2005). A revisão integrativa, finalmente, é a mais ampla abordagem metodológica referente às revisões, combina também dados da literatura teórica e empírica, além de incorporar um vasto leque de propósitos: definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico particular. A ampla amostra, em conjunto com a multiplicidade de propostas, deve gerar um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).
Para o delineamento da questão norteadora será utilizada a estratégia PICO (SACKETT et al. 2005) sendo P: Paciente doador de órgão, I: assistência de enfermagem, O: cuidados com o paciente doador. Originando a questão norteadora: Qual assistência de enfermagem na manutenção clínica do paciente doador de órgãos?
População
A construção do protocolo da pesquisa será embasada nas orientações para estudos na mesma área, recomendadas pelo Instituto Joanna Briggs(2014), as quais compreenderam: número de revisores, título do protocolo, objetivos da revisão, questão da revisão, base da literatura, critérios de inclusão (estratégia PICO), estratégias de busca, extração dos dados e síntese dos dados (Quadro 1).
Quadro 1: Protocolo para realização de pesquisa de revisão integrativa da literatura: Assistência de enfermagem na manutenção clínica do paciente doador de órgãos
Critérios de seleção
A assistência e o cuidado de enfermagem para o potencial doador devem ser rigorosos, no sentido de todos os cuidados para manutenção da vitalidade dos órgãos, assim conseguindo sucesso nos transplantes realizados. Dentre os cuidados, estão: manutenção térmica, hemodinâmica e do equilíbrio eletrolítico, assim como a reposição hormonal e a aplicação de regime ventilatório adequado(WESTPHAL, et al. 2012).
Neste sentido, este estudo foi considerado as assistências de enfermagem na manutenção clínica do potencial doador de órgãos, sendo esses cuidados de cunho assistencial até a prática propriamente dita.
Coleta de dados
A busca dos estudos ocorreu por pares, no período de março a maio de 2022 por meio dos descritores controlados: Equipe de enfermagem, Cuidados de enfermagem, Doador de órgãos (QUADRO 2).
Quadro 2: Relação de descritores controlados e sinônimos utilizados para a busca. Ourilândia do Norte – PA, Brasil, 2022
Os operadores booleanos AND e OR foram utilizados no processo de elaboração da pesquisa nas bases de dados aplicados respectivamente, para o conjunto de descritores e as combinações de palavras sinônimas.
Do total de 3.354 artigos encontrados, foram excluídos 3.287 artigos que se repetiram nas bases de dados e por não terem relação com o presente estudo; a ordem de busca foi BVS e PubMed. Após, foram excluídos 30 estudos que não apresentavam no título as palavras-chave e que não foram publicados nos últimos 5 anos. Em seguida, excluíram-se 27 artigos após a leitura do resumo e na íntegra, por não contemplarem os objetivos da busca.
Figura 1: Diagrama de busca e seleção dos estudos
De acordo com as características específicas de cada base de dados selecionada, foram adaptadas as estratégias para localizar os artigos, tendo como eixo central a questão norteadora, os critérios de inclusão e que foram publicados nos últimos 5 anos. Foram critérios de exclusão: artigos repetidos, título, assunto, conteúdo que não se enquadrassem na presente pesquisa, artigos de revisão e que não eram disponibilizados de forma gratuita.
Análise dos dados
Os trabalhos selecionados foram lidos na íntegra, onde foram extraídas informações utilizando-se de um instrumento adaptado (URSI; GALVÃO, 2006) que determina os principais dados a serem extraídos do artigo. No presente estudo, buscou-se identificar, título; ano de publicação; objetivo; intervenção realizada e os principais resultados de cada estudo. As informações extraídas foram dispostas em quadro.
5. RESULTADOS
Os artigos selecionados foram encontrados em cinco periódicos científicos de diferentes áreas da saúde, de dois países diferentes (Reino Unido e Brasil). As pesquisas foram majoritariamente realizadas no Brasil sendo consideradas publicações de 2017 a 2022.
Em síntese qualitativa dos estudos está representada no Quadro 3, organizado conforme título; ano de publicação; ano de publicação; objetivo e os principais resultados de cada estudo. Dos estudos envolvidos na análise, foi possível observar que a assistência de enfermagem voltada para o paciente potencial doador é homogenia e assistencial voltada para a preservação da dignidade e dos órgãos do paciente que irão ser retirados. Apenas quatro estudos (1, 3, 4, 10) buscaram entender a assistência prestada aos possíveis doadores de órgãos. O restante dos estudos (2, 5, 6, 7, 8, 9) avaliou a percepção dos profissionais, o desenvolvimento de tecnologias para a melhora da assistência e identificação dos principais diagnósticos de enfermagem para os possíveis doadores de órgãos.
Quadro 3: Síntese qualitativa dos resultados organizado conforme título, ano de publicação, objetivo e os principais resultados de cada estudo, Ourilândia do Norte – PA, Brasil, 2022
6. DISCUSSÃO
No período de investigação, encontrou-se que existem diversos estudos acerca do tema, porém escassos os voltados para a assistência de enfermagem na manutenção clínica dos doadores de órgãos. Em relação a esse tema, observou-se que o enfermeiro, por vezes, assume o papel de coordenador do processo de doação de órgãos, pois fiscalizam e disponibiliza de suportes para a assistência humanizada ao paciente e familiar (RODRIGO et al., 2019).
Assim, após a análise estudos são discutidos de acordo com as principais áreas abordadas.
Manutenção clínica e conduta do enfermeiro para o transplante de órgão
A dificuldade vivenciada para a doação de órgãos é representada pelo estigma da família em aceitar e compreender o significado da morte e principalmente quando o evento envolve causas traumáticas e o doador é jovem. Muitas perguntas são feitas pela família do paciente sobre o processo de retirada de órgãos, sendo uma delas o medo de seu ente querido ficar deformado após a retirada, porém, realizando uma abordagem humanizada e adequada com esses pacientes e familiares, consegue-se o apoio e a autorização para a doação (ALMEIDA et al., 2017).
Para a manutenção dos pacientes para a doação de órgãos, as principais dificuldades encontradas são em relação a infraestrutura, recursos humanos e recursos materiais para uma melhor gerência do cuidado. Segundo os profissionais a pouca disponibilidade de equipamentos necessários para o diagnóstico de morte encefálica, a redução do quadro de profissionais, bem como uma estrutura física precária, além de dificultar o cuidado, geram carga de estresse na equipe por não conseguir atender toda a demanda desejada (FARIAS et al., 2017).
Durante todo o processo de conservação dos órgãos até o transplante é necessário que o enfermeiro tenha conhecimento e seja apto para atuar em qualquer intercorrência que venha a ocorrer. Assim, ser efetivo e desenvolver menor possibilidade de perda da viabilidade dos órgãos.
É necessário que o enfermeiro, junto com a equipe, conheça as alterações fisiológicas, dentre as principais: hipotensão, hipotermia, hipóxia, aumento da PIC (Pressão Intra-Craniana), aumento do débito cardíaco, vasodilatação, depressão da função cardíaca para que possam ser realizados os cuidados efetivos com a finalidade de manter os parâmetros hemodinâmicos do potencial doador, devendo estar em condições favoráveis para a manutenção eficaz dos órgãos e tecidos(JUNQUEIRA et al., 2017). Esse profissional exerce função importante para a assistência e cuidado satisfatórios do doador, com o objetivo de prover uma possível doação(LIMA et al., 2013). A assistência prestada pelo mesmo é de forma completa, onde elabora e executa funções desde a manutenção fisiológica até emocional para com a família do doador.
Dentre as principais estratégias de manutenção de órgãos, estão:
A reposição hídrica de volume deverá ser realizada através de um acesso venoso calibroso e periférico, atentando que as drogas vasoativas devem ser administradas em acessos venosos centrais, sempre utilizando-se de vias exclusivas, evitando-se o uso conjunto de medicações e/ou reposição volêmica rápida pelas mesmas(GUETTI, MARQUES, 2008).
Convém mencionar que a hiperglicemia deve ser controlada, realizando-se dosagens seriadas de glicose sanguínea. Se isto não for possível, o enfermeiro deve orientar a equipe a realizar controle de glicemia capilar, no mínimo, de quatro em quatro horas. Se houver persistência do distúrbio, os intervalos de controle devem ser diminuídos (GUETTI, MARQUES, 2008).
Outro fator importante é a manutenção da temperatura do potencial doador. Neste sentido, é necessária a verificação da temperatura, a cada duas horas, sendo uma ação primária na definição de condutas de enfermagem. Essa monitoração da temperatura é de grande relevância, por tratar-se de um indicador precoce da hipotermia(MENDONÇA et al., 2010).
A temperatura central pode ser obtida na artéria pulmonar, no esôfago, na membrana timpânica e na nasofaringe. A alteração da temperatura indica a necessidade de intervenções para restaurar o padrão de normalidade(MOURO et al., 2012).
Após todos os cuidados e a realização da cirurgia de extração de órgãos uma etapa de suma importância é o acondicionamento que consiste no armazenamento do órgão até o hospital transplantador (FREIRE et al., 2014). É de suma importância após o transplante o acompanhamento com finalidade de prevenir complicações que possam afetar a estabilidade do enxerto. Familiares e pacientes devem receber orientações acerca de: dieta alimentar, medicamento, atividade físicas, prevenir infecções, identifica sinais e sintoma de rejeição é fundamental na eficácia terapêutica (NOGUEIRA et al., 2017).
Assistência de enfermagem com o paciente doador de órgãos
Segundo a Resolução 292/2004 do COFEN, compete ao profissional de enfermagem: esquematizar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar a assistência prestada aos doadores de órgãos e tecidos. Tendo em vista que o enfermeiro responsável por estes ofícios tenha ciência e entendimento adequados. Com embasamento para oferecer subsídios necessários à família, além disso identificar um possível doador e concretizar as intervenções de enfermagem na sustentação desse indivíduo para posterior doação (COFEN, 2004).
De acordo com um estudo realizado (ANDRADE et al., 2016) o enfermeiro é um membro essencial no decorrer das fases da doação de órgãos, pois sua atuação começa na busca ativa para localizar o possível doador, na identificação, na conservação, na abordagem a família e na assistência após o transplante. O mesmo proporciona subsídio sistematizado com a finalidade de nutrir os órgãos, mantendo a qualidade, até implante no receptor sem intercorrências indesejadas, sendo que os cuidados se estendem ao receptor no momento de internação e após de forma essencial.
Percebe-se que os pilares envolvidos no processo de doação e transplante, além de envolver principalmente o tripé busca ativa e reconhecimento da morte encefálica, abordagem familiar e a manutenção clínica do doador falecido, envolve inúmeros profissionais que atuam direta e indiretamente para o sucesso do processo (MAGALHÃES et al., 2019).
O enfermeiro é um dos responsáveis por planejar e executar todos os procedimentos que serão realizados, junto à equipe de enfermagem, no potencial doador. Desde a informação do diagnóstico de morte encefálica para a família, os exames que serão realizados, como será realizado o período de manutenção, o controle e registro de todos os parâmetros hemodinâmicos, até o momento da entrega do corpo à família do potencial doador (MORAES et al., 2015; NOYES et al., 2019).
Diversos estudos demonstram o despreparo da equipe de enfermagem no quesito de manutenção dos órgãos para a doação (AGUIAR et al., 2017). Por isso é necessário que tenha conhecimento científico e técnico a respeito de todos os aspectos da morte encefálica, pois a viabilidade dos órgãos ou tecidos a serem doados depende diretamente de sua adequada conservação (MAGALHÃES et al., 2018).
Em relação à manutenção de órgãos do potencial doador, grande parte dos profissionais pesquisados no estudo(COSTA et al., 2016) elencou a importância da manutenção da função cardiocirculatória, contudo, apresentou dúvidas quanto à temperatura ideal de conservação do potencial doador e às contraindicações para transplantes. Além disso, a maioria dos profissionais intensivistas relatou que não recebeu treinamentos para a manutenção de órgãos, destacando a necessidade de capacitações para melhorar a qualificação desses profissionais e elevar o número de doadores efetivos.
A literatura reporta que a abordagem dos familiares é importante na decisão de doação dos órgãos, sendo importante humanizar a abordagem da assistência aos familiares do paciente. Desta forma, eles se sentirão mais confortáveis com a situação, possibilitando o enfrentamento e reduzindo o sofrimento devido à perda de seu familiar (SOUZA et al., 2013). É importante ressaltar que não só o enfermeiro cria um vínculo com a família, mas toda a equipe responsável pelos cuidados a este indivíduo.
Desta forma, a troca de informações constantes, o acolhimento e a influência positiva diante do luto iminente poderão ser intensificados, auxiliando na aceitação da doação dos órgãos. A família do paciente em morte encefálica pode apresentar-se confusa e muitas vezes não compreendendo o diagnóstico de morte encefálica e os fatores inerentes à doação de órgãos. Neste sentido, cabe ao enfermeiro esclarecer tais dúvidas e amparar a família neste momento, a fim de que eles possam decidir sobre a aceitação ou rejeição da doação de órgãos do seu familiar (SOUZA et al., 2013).
O enfermeiro é visto como profissional que propicia a comunicação entre a equipe de saúde, facilitando o cuidado integral para atender as reais necessidades do cliente, principalmente porque está presente junto ao usuário e, assim, detecta com mais prontidão as necessidades apresentadas que requerem solução compartilhada com a equipe. Evidenciou-se nos relatos dos sujeitos, através do estudo (URSI et al., 2006) o enfermeiro é um membro fundamental na equipe de transplante, tanto na coordenação como na assistência direta ao cliente. No entanto, faz-se necessário que ele participe de mais estudos científicos no intuito de divulgar seu trabalho, o que vai permitir uma maior valorização e reconhecimento profissional no espaço perioperatório de transplante.
7. CONCLUSÃO
Esta revisão identificou o enfermeiro como um profissional essencial em todas as etapas de doação de órgãos, destacando-se na elaboração de métodos para a manutenção e conservação dos órgãos, além de serem coordenadores de atividades voltadas para esta pratica. Este profissional se torna essencial para a elaboração do processo e para os pacientes e familiares.
A assistência de enfermagem com o paciente doador de órgãos é eficaz na adesão da família para determinada decisão, além disso, a humanização desses profissionais é essencial para a melhoria da qualidade da assistência. Espera-se que este estudo impulsione o desenvolvimento de futuros enfermeiros na produção de conhecimentos acerca do tema e na atividade de educação continuada, assim como também em pesquisas que promovam melhoria na qualidade do atendimento, conhecimentos sociais, éticos e humanizados.
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Centro universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN como requisito básico para a conclusão do Curso de bacharel em Enfermagem.