NURSING ASSISTANCE IN POST-TRAUMATIC STRESS DISORDER: STRATEGIES FOR INDIVIDUALIZED, HUMANIZED AND QUALIFIED MANAGEMENT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505191757
Samuel Felipe Cardoso Lopes¹; Geàvila Pantaleão Xavier Cotta¹; Arthur Leonardo Amorim Silva¹; Anna Paula Moreira Francisco¹; Eliza Pereira Bragança¹; Enfª. Orientadora: Hyorrana Priscila Pereira Pinto².
Resumo
Introdução: O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) foi descrito desde a antiguidade, estudado mais profundamente durante as Guerras Mundiais. No entanto, ele vai além desses contextos históricos, podendo ser associado a qualquer vivência traumática. Populações expostas a altos níveis de violência e outros problemas estão particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de TEPT. Justificativa: Justifica-se, no presente estudo, pela importância do manejo individualizado, humanizado e qualificado na assistência de enfermagem ao partilhante com TEPT. Objetivo: Realizar revisão bibliográfica, visando a atuação do enfermeiro em estratégias para o manejo individualizado, humanizado e qualificado. Metodologia: Diante da questão norteadora: “o que a literatura traz de mais recente acerca das estratégias para o manejo individualizado, humanizado e qualificado da enfermagem em transtorno do estresse pós-traumático?”, desenvolveu-se, uma revisão bibliográfica na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), com os descritores: enfermagem; AND transtorno do estresse pós-traumático; AND saúde mental. Na amostra final do trabalho, foram utilizados 13 artigos, Portaria N°336/2002, Caderno HumanizaSUS (2015) e a Política Nacional de Humanização (PNH, 2013), que após a leitura na íntegra, responderam à questão norteadora e estavam dentro dos critérios de inclusão e exclusão. Conclusão: O texto trata do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), abordando definições, dados epidemiológicos e o fluxo de assistência segundo a legislação vigente. Destaca a importância da atuação do enfermeiro com estratégias individualizadas, humanizadas e de qualidade, alinhadas à Política Nacional de Humanização (PNH). Enfatiza ainda a necessidade de qualificação profissional para melhorar o cuidado em saúde mental e o manejo dos pacientes.
Palavras-chave: Enfermagem; assistência; estratégias; manejo; transtorno do estresse pós-traumático.
Abstract
Introduction: Post-Traumatic Stress Disorder (PTSD) has been described since antiquity and was studied more deeply during the World Wars. However, it goes beyond these historical contexts and can be associated with any traumatic experience. Populations exposed to high levels of violence and other issues are particularly vulnerable to developing PTSD. Justification: This study is justified by the importance of individualized, humane, and qualified nursing care for individuals with PTSD. Objective: To conduct a literature review focusing on nurses’ role in strategies for individualized, humane, and qualified management. Methodology: Based on the guiding question: “What does the most recent literature say about strategies for individualized, humane, and qualified nursing management of post-traumatic stress disorder?”, a literature review was conducted in the Virtual Health Library (VHL) using the descriptors: nursing; AND post-traumatic stress disorder; AND mental health. The final sample included 13 articles, Ordinance No. 336/2002, the HumanizaSUS Handbook (2015), and the National Humanization Policy (PNH, 2013). After full reading, these sources answered the guiding question and met the inclusion and exclusion criteria. Conclusion: The text addresses Post-Traumatic Stress Disorder (PTSD), covering definitions, epidemiological data, and the assistance flow according to current legislation. It highlights the importance of nurses’ role in implementing individualized, humane, and high-quality strategies aligned with the National Humanization Policy (PNH). Additionally, it emphasizes the need for professional training to improve mental health care and patient management.
Keywords: Nursing; assistance; strategies; management; post-traumatic stress disorder.
INTRODUÇÃO
Popularmente se associa o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), a contextos de conflitos armados violentos, como em cenários de guerras. Tal diagnóstico psiquiátrico desenvolveu-se na Grécia clássica, onde Hipócrates descreve comportamentos e o sofrimento de soldados em batalhas, trazendo o conceito de “Neurose Traumática”, definido por Hermman Oppenheim, associando aos combatentes e aos cenários violentos, a “Neurose de Guerra”, fenômenos definidos e estudados, durante a I e II Guerra Mundial. Incorpora-se, o uso de psiquiatras nos combates, com objetivo de detectar alterações psíquicas relacionadas ao cenário de guerra. Conflitos no Vietnã e Guerra do Golfo, cenários esses serviram de evidências para análise de resposta aos cenários hostis (Souza; Santos, 2024).
Destaca-se, que o TEPT não está situado apenas no conflito armado, no combate e na violência, deve ser associado a qualquer vivência ou contexto que possibilite um possível trauma. Defini-se, essa palavra em: ferida emocional por exposição a uma circunstância, momento, ou ato, que resulte em uma experiência impactante (Souza; Santos, 2024). Estima-se que possa ocorrer de 61 a 80% de eventos traumáticos ao longo da vida de uma pessoa. Entretanto, apenas cerca de 5 a 10% da população desenvolve Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) após esses eventos traumáticos (Olivos, 2020).
Percebe-se, que a sociedade brasileira apresenta níveis elevados de violência, o TEPT representa situações de relevância clínica e social para profissionais de saúde mental. Em uma amostra representativa de adolescentes, jovens e adultos de 15 a 75 anos, totalizando 3.744 pessoas entrevistadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, evidenciou que cerca de 90% já haviam vivenciado eventos traumáticos violentos, durante a vida. Observou-se, prevalência de transtorno mental nessa amostra, de 42,1 a 44%, e em específico, o TEPT ocorreu em 1,6 a 5% das pessoas e, pelo menos uma vez na vida, em 8,7 a 10,2% (Cunha et al., 2023). Ademais, justifica-se o presente estudo pela importância da assistência da enfermagem em transtorno do estresse pós-traumático, atuando de maneira humanizada no cuidado e no manejo ao partilhante.
Assim, o objetivo deste estudo é, realizar revisão bibliográfica, visando a atuação do enfermeiro em estratégias para o manejo individualizado, humanizado e qualificado em transtorno do estresse pós-traumático.
METODOLOGIA
Formulou-se, a seguinte questão norteadora: “o que a literatura traz de mais recente acerca das estratégias para o manejo individualizado, humanizado e qualificado da enfermagem em transtorno do estresse pós-traumático?”. Desenvolveu-se, uma revisão de bibliográfica sobre o tema, na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) utilizando da base de dados: LILACS e SciELO, para embasamento teórico, com os seguintes descritores, combinados com os operadores booleanos: enfermagem; and transtorno do estresse pós-traumático; and saúde mental. Capturou-se, inicialmente, 28 artigos, e aplicou-se os seguintes critérios de inclusão: texto completo disponível na íntegra, gratuito e escopo temporal dos últimos cinco anos, e critérios de exclusão: artigos pagos, teses e dissertações, totalizando 15 estudos para leitura do título e resumo. Na amostra final do trabalho, foram utilizados 13 artigos, que após a leitura na íntegra, responderam à questão norteadora, tal como uso da Portaria n⁰ 336/2002; Política Nacional de Humanização (PNH), 2013; Sistema de informação de Agravos de Notificação (SVAN); e Caderno HumanizaSUS (2015).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Definições e Conceitos
O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é classificado pela Classificação Internacional de Doença pelo código CID-11 e no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais pelo código DMS-5, é um transtorno bastante associado a ansiedade, que se desenvolve após a exposição do partilhante a um ou mais eventos extremamente ameaçadores, traumáticos e horríveis, como: estupro, sequestro, assalto, homicídio, desabamentos, incêndios, catástrofes naturais, eventos de guerra, entre outros (Cunha et al., 2023).
Caracteriza-se, o TEPT, por lembranças ou recordações vividas que dominam a consciência do partilhante que vivenciou o trauma, denominados por flashbacks ou em por pesadelos. Observa-se, frequentemente, flashbacks acompanhados de fortes e profundas emoções, com ansiedade, medo e/ou horror e sensações físicas marcantes, que de maneira recorrente, com a mesma sensação física e/ou sentimento intenso do momento original do evento traumático, ocorrem (Cunha et al., 2023).
Destaca-se, a busca pela evitação dos pensamentos e recordações do trauma, presenciado pelo partilhante. Observa-se, ainda, que evita atividades, situações ou pessoas que de alguma maneira tragam memória do evento. No TEPT, o partilhante experimenta continuamente sensações de ameaça, tende a permanecer altamente vigilante ou preparado para reagir a estímulos, como ruídos inesperados. Os sintomas podem durar muitas semanas ou meses, causando grande sofrimento (Cunha et al., 2023).
Experiências negativas são interpretadas de maneira individual, e a definição de alguma condição de estresse dependerá do sentido atribuído pelo sujeito. Desta maneira, um mesmo acontecimento pode ser enfrentado como desafio por um partilhante ou como perigo por outro. A resposta decorrente da vivência estressante aparece de maneiras distintas em indivíduos, avalia-se o risco e reação em fatores intrínsecos e extrínsecos, bem como experiências de vida (Oliveira; Novais; Santos, 2023).
Considerando-se, os níveis e a quantidade de exposição a condições estressoras, juntamente ao sentido atribuído, pelo acúmulo de elementos de risco, pela cronicidade do evento e pelo nível de tolerância ao estresse do partilhante, sendo que fatores de risco podem estar presentes na esfera familiar, pessoal ou comunitária, denominam-se, fatores de risco em: circunstâncias familiares adversas, dificuldades emocionais, problemas escolares, contexto social, problemas interpessoais, abandono, acidentes, perdas pessoais, doenças, entre outros (Oliveira; Novais; Santos, 2023).
Por outro lado, observa-se, fatores de proteção que influenciam na maneira de lidar com o evento estressor, podendo haver diminuição ou eliminação dos impactos negativos, revertendo os efeitos do estresse. Compreende-se, que fatores de proteção modificam ou aperfeiçoam a resposta do partilhante, frente a ameaças e traumas. Tais elementos protetivos, relacionados com a maneira do indivíduo enfrentar a situação estressante e dificuldades, são passíveis de modificação, podendo ser desenvolvidos, estimulados ou melhorados ao longo da vida (Oliveira; Novais; Santos, 2023).
Salienta-se, que ao longo da vida, o indivíduo vivencia diversas situações estressoras que demandam uma atitude resiliente, a capacidade do partilhante de suportar as adversidades impostas pela doença, de lidar com as limitações e desafios dessa nova condição, tendo uma boa adesão ao tratamento e readaptando-se de forma positiva, reflete a história de vida de cada pessoa, de modo que uma mesma doença, provoca reações singulares e diversas em cada um (Oliveira; Novais; Santos, 2023).
Dados Epidemiológicos
A análise de estudos de rastreamento em mulheres diagnosticadas com câncer de mama revela que a taxa de agravos psicológicos e morbidade psiquiátrica pode variar entre 22% e 43%, com alta prevalência de transtornos de ansiedade e de modulação afetiva, mesmo em mulheres com câncer primário localizado. Além disso, há evidências de que essas mulheres e seus familiares estarão predispostos a desenvolver transtornos psicológicos durante anos após o diagnóstico (Caires et al., 2024).
Casos de pacientes que sofreram queimaduras, apresentaram transtornos de ansiedade e foram acometidos pelo transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), pois a queimadura, por sua vez, denota evento impactante. Observa-se, que pessoas queimadas adquirem um estresse traumático crônico, devido à constante experiência de dor no tratamento. Destaca-se, que o processo do tratamento da queimadura é doloroso e perdura por longo período, implicando uma recuperação psicológica associada paralelamente com a recuperação física (Oliveira; Novais; Santos, 2023).
Relacionando os fatores associados à Síndrome Pós-Cuidados Intensivos (PICS) nos idosos e cuidadores, estudo realizado com 109 idosos e seus cuidadores familiares, aponta idade mediana de 70 anos, 63,3% eram homens, e ao longo do tempo, observou-se os sintomas de ansiedade, depressão e TEPT em três meses após a alta, onde identificou 46%, 40% e 22% de prevalência, respectivamente. Nos cuidadores, verificou-se prevalência significativa de sintomas de ansiedade (45,8%), depressão (25%) e TEPT (11,1%) (Mocellin, 2022).
Segundo o Ministério da Saúde (SVSA), realizou-se investigação de transtornos mentais relacionados ao trabalho, com notificações registradas no SINAN NET, com um total de 2.888 casos (869 sexo masculino e 2.019 sexo feminino) no ano de 2024 (Brasil, 2025). Ao voltar cinco anos no passado, depara-se com um cenário trágico no ano de 2020, onde o sofrimento psíquico de enfermeiros durante a pandemia de Covid-19, trouxeram elementos para entender que os fenômenos individuais e coletivos são cabíveis de atenção, quando relacionados a saúde mental (Cunha et al., 2023). Estudos que relacionam a pandemia e os profissionais de enfermagem, apontam que 309 profissionais estavam em condições exaustivas de trabalho, 43,37% relataram prejuízo emocional e na Escala do Impacto do Evento – Revisada, 29,53,40% dos participantes atingiram pontuação indicativa de provável Transtorno do Estresse Pós-Traumático (Olivos, 2020). Em pesquisa com 302 estudantes de enfermagem encontra-se prevalência de transtornos mentais clinicamente importantes em 61,92% dos casos, de disfunção familiar em 61,58%, com baixo apoio social em 9,33%, e ainda, sintomas de estresse pós-traumático em 44,46%, que sofreram dificuldades econômicas 52,65%, acadêmicas 54,61% e pessoais 69,87% (Almeida et al., 2022).
Fluxo de Assistência na Rede
Perante a Lei 10.216 de 2001, que dispõem sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, e considerando a 3° Conferência Nacional de Saúde Mental em 2001, que conota “Cuidar sim, excluir não”, seguida da aprovação da Portaria N° 336 em 2002, foram o marco para o cenário da saúde mental brasileira no século XXI que alicerçam a assistência à saúde mental no Brasil (Brasil, 2002).
Diante do proposto pela Portaria N° 336/02, no Art.1°, estabelece que Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se estabelecem em três modalidades de serviço: CAPS I, CAPS II (CAPS i II: infantil e CAPS ad II: álcool e droga) e CAPS III, ordenados de maneira crescente pelo porte/complexidade e abrangência populacional. Observa-se, no Art.4°, desta portaria, que o serviço de atenção psicossocial atenderá os municípios de acordo com a quantidade de habitantes por região, dessa forma, o atendimento varia de 20.000 a 200.000 habitantes, com horário de funcionamento de 08 às 18 horas durante cinco dias úteis da semana, podendo atender até às 21 horas durante a semana ou 24 horas diariamente, incluindo feriados e finais de semana, constituindo-se como serviço ambulatorial “porta de entrada”, serviço de atendimento de urgência/emergência geral da região (Brasil, 2002).
Tratando-se, ainda, do Art.4°, observa-se, que a assistência prestada em todos os níveis de CAPS, incluem atividades que denotam desafios para o manejo do partilhante, como: atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros); atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outros); atendimento em oficinas terapêuticas executada por profissional de nível superior ou médio; visitas domiciliares; atendimento à família; e atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade e sua inserção familiar e social. Frisa-se, importância no manejo individualizado, humanizado e qualificado, para a assistência de enfermagem e da equipe multidisciplinar na atenção à saúde mental (Brasil, 2002).
Visando identificar os principais desafios encontrados nos níveis de atenção do CAPS, o problema agrava-se quando esse sentido anima, ou melhor, desanima, as práticas cotidianas em saúde pública: perde-se o sentido do envolvimento coletivo com a construção de estratégias de mudança e de qualificação das políticas e práticas nos serviços de saúde, cristalizando-os na sentença “serviço público é assim mesmo”. Foi assim que, aos poucos, no processo de gestão de um Caps, o entendimento da noção de “público” como “de ninguém e de todos” mostrou-se como a oportunidade para discutir alguns aspectos da administração de recurso público, como os altos gastos decorrentes do uso do telefone do serviço. Outros aspectos como transporte de usuários(as) e alimentação foram sendo retomados nas discussões com a equipe. Como esse quase imperceptíveis elementos do cotidiano de um serviço público foram ganhando visibilidade em uma gestão pensada como empreendimento coletivo de negociação e de criação de normatividades, e não como estratégia de um poder normalizador que expõe os corpos primando por sua organização e sua marcação, nesse caso, em identidades profissionais corporativas, identidades institucionais que os divide e hierarquiza entre trabalhadores(as) e gestores(as) e entre trabalhadore(as) e usuários(as) (Brasil, 2015).
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) afeta profundamente a saúde mental de indivíduos expostos a eventos traumáticos, incluindo profissionais de saúde e pacientes críticos. Diante desse cenário, a enfermagem desempenha um papel essencial na identificação precoce, no acolhimento e na construção de um plano de cuidado integral (Macêdo et al., 2022). Este fluxo de assistência propõe uma abordagem estruturada, iniciando pela triagem e identificação de sintomas, seguido do atendimento na atenção primária, especializada e hospitalar. Além do suporte clínico e psicoterapêutico, reforça-se a importância da reabilitação psicossocial e do envolvimento (Martino; Sobreira; Nakandacare, 2023). Destaca-se ainda o impacto emocional vivido pelos próprios profissionais de saúde, especialmente durante a pandemia da COVID-19, e a necessidade de estratégias institucionais para o cuidado desses trabalhadores. Com isso, busca-se não apenas minimizar o sofrimento individual, mas fortalecer redes de apoio e promover um ambiente de saúde mental mais acolhedor, individualizado, humanizado e qualificado (Olivos, 2020).
Atuação do Enfermeiro
Com o surgimento de diagnósticos psiquiátricos, e estudos em cenários hostis, feridas emocionais relacionadas a exposições traumáticas, deixam marcas consideráveis na vida de indivíduos. Centrada na pertinência do papel da enfermagem (e de toda equipe interdisciplinar de saúde), objetiva-se atender às possíveis necessidades de cuidado, que eventualmente, possam surgir a partir de respostas físicas, emocionais, cognitivas e comportamentais, essas, relacionadas a exposição patológica a cenários traumáticos (exemplos de cenários evidenciados em: Dados Epidemiológicos) (Souza; Santos, 2024).
Embasando-se, na Política Nacional de Humanização (PNH), que visa colocar em prática os princípios do SUS, no cotidiano dos serviços de saúde, agregando mudanças na maneira de gerir e cuidar, a PNH estimula a comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários construindo processos coletivos de enfrentamento a relações de poder, trabalho e afeto que podem produzir atitudes e práticas desumanizadoras que inibem a autonomia e a corresponsabilidade dos profissionais de saúde em seu trabalho e dos usuários no cuidado de si (Brasil, 2013).
Para isso, vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, a PNH advém de equipes por região com apoiadores articulados às secretarias estaduais e municipais de saúde. Desta forma, essa articulação constrói de maneira compartilhada, planos de ação para promoção e disseminação de propostas inovadoras no modo de fazer saúde (Brasil, 2013).
Tratando-se, da importância da atuação do enfermeiro e da equipe multidisciplinar de saúde, é de suma importância o manejo individualizado, humanizado e qualificado, destaca-se, ainda, a importância do cumprimento desta política somatizada com as diretrizes e princípios do SUS, como a: universalidade, equidade, integralidade e proteção dos direitos humanos (Brasil, 2013).
Com isso, a PNH traz diretrizes a partir de orientações clínicas, éticas e políticas que se traduzem em determinados arranjos de trabalhos. Esta, propõe, as seguintes diretrizes: acolhimento, gestão participativa e cogestão, ambiência, clínica aplicada e compartilhada, valorização do trabalhador e defesa dos direitos dos usuários (Brasil, 2013).
De acordo com essas diretrizes, trata-se de algumas estratégias para o manejo individualizado, humanizado e qualificado. O Acolhimento e o Reconhecimento legítimo e singular advém da necessidade de saúde de cada um. Ela sustenta a relação entre equipes/serviços e usuários/populações, que será construído de forma coletiva, a partir de análises de processos de trabalho com objetivo da construção da relação de confiança, compromisso e vínculo entre equipes/serviços, trabalhador/equipes e usuário com sua rede socioafetiva. Então, com uma escuta qualificada oferecida pelos profissionais às necessidades do partilhante, pode proporcionar acesso a tecnologias adequadas às suas necessidades de saúde, trazendo melhora na eficácia das práticas de saúde, atendendo com prioridade às condições de vulnerabilidade, gravidade e risco (Brasil, 2013).
A Gestão Participativa e Cogestão, inclui novos sujeitos em processos de análise e decisão referentes à gestão, que se transforma para analisar contextos, política em geral e da saúde particular, gerando pacto em tarefas, visando aprendizado coletivo. Destaca-se, a importância de organizar e experimentar rodas de conversa, para reconhecimento das diferenças, de modo a produzir movimentos de desestabilização que favoreçam mudanças nas práticas de gestão e de atenção. A PNH aponta dois grupos de dispositivos de cogestão: à organização de um espaço coletivo de gestão (necessidades e interesses de usuário, trabalhadores e gestores) e mecanismos que garantem participação ativa de usuários e familiares no cotidiano das unidades de saúde. Arranjos de trabalho que permitam a cogestão, apontados pela PNH são: colegiados gestores, mesas de negociação, contratos internos de gestão, Câmara Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Trabalho de Humanização (GTH), gerência de porta aberta, entre outros (Brasil, 2013).
A Ambiência propõe espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis, respeitando a privacidade e proporcionando mudanças no processo de trabalho, tornando um local agradável de encontro entre as pessoas. Discussões compartilhadas do projeto arquitetônico, das reformas e do uso dos espaços de acordo com a demanda de usuários e trabalhadores de cada serviço, podem melhorar o trabalho de saúde (Brasil, 2013).
A Clínica Ampliada e Compartilhada é uma ferramenta teórica e prática, com a finalidade de contribuir na abordagem clínica do adoecimento e do sofrimento, respeitando a individualidade e a complexidade do processo saúde/doença relacionado ao partilhante. Proporcionando, enfrentamento aos conhecimentos fragmentados e das ações de saúde e seus respectivos danos e ineficácia. Adotando essa prática, observa-se enriquecimento dos diagnósticos (mais variáveis, mais percepções diferentes nas relações clínicas) e qualificação do diálogo (entre profissionais de saúde, no quesito tratamento do partilhante e destes profissionais para com o usuário), possibilitando decisões compartilhadas e comprometidas com a autonomia e a saúde dos partilhantes do SUS (Brasil, 2013).
A Valorização do trabalhador propõe dar visibilidade à experiência dos colaboradores, incluindo os mesmos na tomada de decisão, considerando a sua capacidade de analisar, definir e qualificar os processos de trabalho. É importante assegurar a participação dos trabalhadores em espaços coletivos de gestão, como: Programa de Formação em Saúde e Trabalho e a Comunidade Ampliada de pesquisa, que possibilitam o diálogo, intervenção e análise da causa de sofrimento e adoecimento, fortalecendo os colaboradores e acordando a maneira de agir no serviço de saúde (Brasil, 2013).
A Defesa dos Direitos dos Usuários advém dos direitos garantidos por lei, tornando necessário o incentivo do conhecimento desses direitos e assegurando que sejam cumpridos em todas as fases do cuidado/manejo, desde o momento da entrada até a alta. Para isso, o cidadão deve possuir direito a uma equipe que faça o manejo individualizado, humanizado e qualificado dele, de ser informado sobre as condições de saúde e da tomada de decisão sobre o compartilhar ou não sua dor/alegria com sua rede social (Brasil, 2013).
Dessa forma, destaca-se, que a atuação do enfermeiro estará centrada na intervenção individual ao partilhante, na detecção das necessidades que serão encontradas a partir do seu conhecimento e habilidade. Tratando-se, aos cenários que propicie um diagnóstico de TEPT, doença caracterizada por diversos sinais e sintomas, que serão perceptíveis, na maioria dos casos, após a exposição extremamente traumática: como em conflitos armados, demonstrarão sinal determinante e dentre outros achados, como o flashback, que seria revisitação do evento traumático com as mesmas intensidades psíquica vivenciada, e respostas psíquicas e físicas do momento original. Espera-se que o enfermeiro possa identificar tais pontos, e possa intervir da maneira mais assertiva e cabível possível (Souza; Santos, 2024).
Buscando evidenciar a importância da assistência de enfermagem ao TEPT, estudo baseado na teoria de relações interpessoais de Hildegard Peplau, propõem uma técnica de intervenção denominada por “Remotivação”. Destaca-se, pontos positivos na utilização da teoria: praticidade, brevidade e eficiência, aplicável em qualquer local e situação e por ser implementável em instituição psiquiátrica ou em qualquer local que seja desejável. Propõe-se, aplicação de sessões precedidas por um líder (profissional de enfermagem: enfermeiro) capacitado, que será denominado “remotivador”. Objetiva-se, em cada sessão de remotivação, aumentar a socialização e aumentar a autoestima do partilhante de maneira gradativa. As sessões consistem em cinco fases identificadas e estabelecidas, abordando grupo de pessoas que sofrem desse transtorno, discutindo-se e desenvolvendo-se aspectos saudáveis dessas pessoas, centrando a atenção para si mesmo (Souza; Santos, 2024).
No entanto, visando a adesão dessas estratégias nos serviços de saúde, o trabalho dos enfermeiros envolve esferas psicoafetivas, esforços mentais, concentração, atenção e longa exposição ao ritmo intenso de trabalho, driblando a escassez de recursos, equipamentos, medicamentos e, principalmente, de reconhecimento. Destaca-se, o impacto psicológico em profissionais de enfermagem, como ansiedade, depressão, insônia e exaustão, agravados pelo cuidado com pacientes e colegas. Isso evidencia a necessidade de suporte psicológico e organizacional para o cumprimento da assistência de enfermagem individualizada, humanizada e qualificada (Cunha et al., 2023).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O almejo de uma assistência de enfermagem e da equipe multidisciplinar de saúde no manejo individualizado, humanizado e qualificado, mediante aos desafios enfrentados, torna-se evidente perante a existência de leis e portarias que asseguram obrigatoriedade do cumprimento dos princípios do SUS e da Política Nacional de Humanização, nos quais, quando considerados, possibilitam ambiente harmônico para o cuidado de pacientes com transtornos mentais e demais patologias relacionadas, desencadeando vínculo entre profissional e paciente, proporcionando então, melhores condições de saúde/trabalho para os mesmos. Aponta-se, necessidade de incentivo na qualificação de profissionais, para melhora geral à atenção à saúde mental e no manejo ao partilhante.
REFERÊNCIAS
- ALMEIDA, T. F.; SILVA, S. O.; DUARTE, F. H. S.; QUEIROZ, C. G.; ARAÚJO, P. L. O.; DANTAS, R. A. N.; DANTAS, D. V.; NUNES, P. S. Análise do transtorno do estresse pós-traumático em profissionais de enfermagem durante a pandemia da COVID-19. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2022 [acesso em 25 fev. 2025]; 31:e20220139. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2022-0139pt.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002. Brasília, 2002. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt0336_19_02_2002.html. Acesso em: 27 mar. 2025.
- BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS – Política Nacional de Humanização (PNH): documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf. Acesso em: 27 mar. 2025.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 52–53 p. il. (Caderno HumanizaSUS; v. 5). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_mental_volume_5.pdf. Acesso em: 24 abr. 2025.
- BRASIL. Ministério da Saúde/SVSA. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabogi.exe?sinannet/cnv/transmentalbr.def. Acesso em: 04 mar. 2025.
- CAIRES, S. et al. A fase terminal do filho com câncer: percepções dos profissionais hospitalares. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 44, p. e258183, 2024. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/yzufv. Acesso em: 25 fev. 2025.
- CUNHA, C. C. da et al. A Covid-19 como um analisador do sofrimento de enfermeiras: um ensaio teórico. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 43, p. e248295, 2023. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/84wu8. Acesso em: 25 fev. 2025.
- DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2019. E-book. p. 374. ISBN 9788582715062. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788582715062/. Acesso em: 14 mar. 2025.
- FARIA, M. G. de A. et al. Repercussões para saúde mental de profissionais de enfermagem atuantes no enfrentamento à Covid-19: revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFSM, v. 11, p. e70, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/64313/pdf. Acesso em: 25 fev. 2025.
- LOZA, D. C. T.; BETTY, A. de P. L.; CRUZ, M. Á. R.; CORDERO, D. de R. Factors related to mental health problems in nursing students: a multicenter study. Revista Cuidarte, v. 15, n. 2, p. e3296, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.15649/cuidarte.3296. Acesso em: 25 fev. 2025.
- MACÊDO, L. D. P. et al. Impacto da pandemia na saúde mental dos discentes de enfermagem no contexto da COVID-19. Revista Enfermagem Atual In Derme, v. 96, n. 39, 2022, e-021284. Disponível em: https://doi.org/10.31011/reaid-2022-v.96-n.39-art.1456. Acesso em: 25 fev. 2025.
- MARTINO, M. K.; SOBREIRA, L. A.; NAKANDACARE, V. C. de S. A. Violência sexual e aborto legal: possibilidades e desafios da atuação psicológica. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 43, p. e263877, 2023. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/44zsj. Acesso em: 25 fev. 2025.
- MOCELLIN, D. Síndrome pós-cuidados intensivos em idosos e seus cuidadores familiares: estudo de coorte prospectivo. Porto Alegre, s.n., 2022. 132 f. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/249388. Acesso em: 25 fev. 2025.
- OLIVEIRA, K. M. F. de; NOVAIS, M. R.; SANTOS, R. C. Resiliência: avaliação de pacientes queimados em um hospital de urgência e emergência. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 43, p. e248738, 2023. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/wp8fz. Acesso em: 25 fev. 2025.
- OLIVOS, C. F. B. Enfermagem e estresse pós-traumático: proposta de atendimento no pós-conflito. Revista Cuidarte, v. 11, n. 1, jan. 2020. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/zu7nt. Acesso em: 25 fev. 2025.
- PEREIRA, J. L. et al. Sintomas de transtorno de estresse pós-traumático e afetos em profissionais da saúde durante a pandemia da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 40, p. e200213, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-0275202340e200213. Acesso em: 25 fev. 2025.
- RAMOS, S. R. F. et al. Pandemia da Covid-19: um evento traumático para estudantes de Ciências Biológicas e da Saúde? Revista Brasileira de Educação Médica, v. 47, n. 1, p. e036, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5271v47.1-20220172. Acesso em: 25 fev. 2025.
- SOUZA, C. de; SANTOS, M. A. dos. Significados atribuídos por mulheres com câncer de mama ao grupo de apoio. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 44, p. e259618, 2024. Disponível em: https://fi-admin.bvsalud.org/document/view/yzufv. Acesso em: 25 fev. 2025.
¹Discentes do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário UNA Campus Barreiro. E-mail: samuelfclopes@icloud.com;
²Docente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário UNA Campus Barreiro. Doutora em Neurociências pela UFMG. E-mail: hyorrana.pereira@prof.una.br;