ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À PESSOAS QUE TENTARAM SUICÍDIO: DESAFIOS ENFRENTADOS NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

NURSING CARE FOR PEOPLE WHO HAVE ATTEMPTED TO COMMIT SUICIDE: CHALLENGES FACED IN EMERGENCY CARE

ATENCIÓN DE ENFERMERÍA A PERSONAS QUE HAN INTENTADO SUICIDARSE: RETOS EN LA ATENCIÓN DE URGENCIAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202506131539


Letícia Gadelha Leite1
Macerlane de Lira Silva2
Renata Lívia Fonseca Moreira de Medeiros3
Yuri Charllub Pereira Bezerra4


RESUMO:

O suicídio é uma questão de saúde pública complexa e multifacetada que afeta indivíduos de todas as idades e contextos sociais. Essa problemática é agravada por diversos estigmas associados. Fatores como doenças mentais, trauma, isolamento social, problemas financeiros, histórico familiar e uso de substâncias estão fortemente associados ao risco de suicídio. Os serviços de urgência e emergência desempenham papel crucial na assistência a pacientes que tentaram suicídio e a enfermagem tem papel fundamental, proporcionando avaliação inicial e contínua, planejamento de cuidados e coordenação com equipe multidisciplinar. No entanto, a enfermagem enfrenta desafios, como falta de formação específica em saúde mental, limitações de recursos, estigma interno, falta de suporte de outros profissionais, estrutura física da urgência e emergência, dificuldade em estabelecer vínculo com pacientes e prevenção de novas tentativas. Para superar esses desafios, é essencial investir em educação e capacitação, desenvolver protocolos claros, fortalecer equipe multidisciplinar, promover ambiente acolhedor e realizar acompanhamento contínuo. OBJETIVO: Discutir sobre a assistência de enfermagem prestada a pacientes que tentaram suicídio em unidades de urgência e emergência, identificar e analisar os desafios enfrentados pela enfermagem na assistência à essas pessoas, analisando a literatura científica. Oferecendo subsídios para o planejamentos das estratégias que possam melhorar a qualidade da assistência.  METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica sistemática com objetivo de reunir conhecimento científico relacionado à assistência de enfermagem à pacientes que tentaram suicídio e os desafios assistenciais na urgência emergência. A presente revisão realizou uma síntese a partir da busca de dados em artigos científicos, dissertações, sites e boletins epidemiológicos. Foram consultadas as seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de saúde (BVS), Banco de Teses – Capes e Google Acadêmico. RESULTADOS ESPERADOS: Espera-se trazer importantes evidencias cientificas sobre a enfermagem frente aos pacientes que tentaram suicídio no âmbito da urgência e emergência e dificuldades enfrentadas por esses profissionais, que possam oferecer subsídios para melhoria da assistência á esses pacientes. 

PALAVRAS-CHAVE: Suicídio; Assistência; Enfermagem; Urgência e emergência. 

ABSTRACT:

Suicide is a complex and multifaceted public health issue that affects individuals of all ages and social backgrounds. This problem is compounded by several associated stigmas. Factors such as mental illness, trauma, social isolation, financial problems, family history, and substance use are strongly associated with suicide risk. Emergency services play a crucial role in assisting patients who have attempted suicide, and nursing plays a fundamental role in providing initial and ongoing assessment, care planning, and coordination with a multidisciplinary team. However, nursing faces challenges such as lack of specific training in mental health, resource limitations, internal stigma, lack of support from other professionals, physical structure of emergency services, difficulty in establishing bonds with patients, and preventing new attempts. To overcome these challenges, it is essential to invest in education and training, develop clear protocols, strengthen a multidisciplinary team, promote a welcoming environment, and provide ongoing monitoring. OBJECTIVE: To discuss nursing care provided to patients who attempted suicide in emergency units, identify and analyze the challenges faced by nursing in assisting these people, analyzing the scientific literature. Offering support for planning strategies that can improve the quality of care. METHODOLOGY: This study is a systematic bibliographic review with the objective of gathering scientific knowledge related to nursing care for patients who attempted suicide and the care challenges in emergency units. This review performed a synthesis based on the search for data in scientific articles, dissertations, websites and epidemiological bulletins. The following databases were consulted: Virtual Health Library (BVS), Thesis Bank – Capes and Google Scholar. EXPECTED RESULTS: It is expected to bring important scientific evidence about nursing in the face of patients who attempted suicide in the context of emergency units and the difficulties faced by these professionals, which can offer support for improving care for these patients.

KEYWORDS: Suicide; Care; Nursing; Urgency and emergency.

RESUMEN:

El suicidio es un problema de salud pública complejo y multifacético que afecta a personas de todas las edades y orígenes sociales. Este problema se ve agravado por varios estigmas asociados. Factores como enfermedades mentales, traumas, aislamiento social, problemas financieros, antecedentes familiares y consumo de sustancias están fuertemente asociados con el riesgo de suicidio. Los servicios de emergencia desempeñan un papel crucial en la asistencia a los pacientes que han intentado suicidarse, y la enfermería juega un papel fundamental, proporcionando evaluación inicial y continua, planificación de la atención y coordinación con un equipo multidisciplinario. Sin embargo, la enfermería se enfrenta a retos como la falta de formación específica en salud mental, la limitación de recursos, el estigma interno, la falta de apoyo de otros profesionales, la estructura física de la sala de urgencias, la dificultad para establecer vínculos con los pacientes y la prevención de nuevos intentos. Para superar estos desafíos, es esencial invertir en educación y formación, desarrollar protocolos claros, fortalecer un equipo multidisciplinario, promover un entorno acogedor y realizar un seguimiento continuo. OBJETIVO: Discutir la atención de enfermería brindada a los pacientes que intentaron suicidarse en unidades de emergencia, identificar y analizar los desafíos que enfrenta la enfermería en la asistencia a estas personas, analizando la literatura científica. Brindar apoyo para la planificación de estrategias que puedan mejorar la calidad de la atención. METODOLOGÍA: Este estudio es una revisión bibliográfica sistemática con el objetivo de recopilar el conocimiento científico relacionado con la atención de enfermería al paciente que ha intentado suicidarse y los desafíos de la atención en la atención de urgencias. En esta revisión se realizó una síntesis basada en la búsqueda de datos en artículos científicos, tesis, sitios web y boletines epidemiológicos. Se consultaron las siguientes bases de datos: Biblioteca Virtual en Salud (BVS), Banco de Tesis – Capes y Google Académico. RESULTADOS ESPERADOS: Se espera aportar evidencia científica importante acerca de la enfermería delante de los pacientes que intentaron suicidio en el contexto de urgencia y emergencia y las dificultades enfrentadas por estos profesionales, que puedan ofrecer subsidios para la mejora de la atención a estos pacientes.

PALABRAS CLAVE: Suicidio; Asistencia; Enfermería; Urgencia y emergencia.

1. INTRODUÇÃO

O suicídio é um ato extremo e irreversível que ocorre quando uma pessoa decide terminar sua própria vida. É um fenômeno complexo que envolve uma combinação de fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais. Geralmente é precedido por um processo de pensamentos, sentimentos e comportamentos que podem durar semanas, meses ou até anos, podendo ser influenciado por diversos fatores associados. É importante lembrar que o suicídio é uma escolha que pode ser prevenida com apoio emocional, tratamento adequado e uma rede de apoio forte, porém, a maior parte das pessoas ainda não sabem como reconhecer o estado de ideação suicida, o que acaba colocando essas pessoas em risco (Barnabé; Silva, 2024). Segundo Cardoso (2022), a tentativa de suicídio caracteriza-se como um comportamento autolesivo com intenção de causar morte, mas sem sucesso, apresentando sinais claros ou subjacentes de intenção autodestrutiva.

No Brasil a tentativa de autoextermínio não é considerada como crime, mas os pacientes com ideação suicida enfrentam estigmatização e julgamentos discriminatórios, contrariando a necessidade de abordagem compassiva e profissional. É fundamental reconhecer esses pacientes como portadores de patologias que exigem cuidado e apoio, não julgamento (Botelho et al.,2023). Dados mostram que foram contabilizadas cerca de 13 mil suicídios por ano, com cerca de uma morte a cada 45 segundos. O país se encontra em 8° lugar entre os dez países que apresentam os maiores números já registrados de suicídios do mundo (Barnabé; Silva, 2024).

A tentativa de suicídio representa um desafio significativo para os serviços de saúde, gerando consequências graves, como trauma familiar, custos elevados para o setor público, procedimentos invasivos e impacto negativo na saúde dos pacientes. É fundamental desenvolver estratégias de avaliação e cuidado para minimizar esses danos (Fontão et al.,2020).

O atendimento eficaz a indivíduos em risco de suicídio depende de vários fatores, incluindo percepções e atitudes dos profissionais, qualificação profissional específica e capacidade de avaliar riscos e planejar cuidados personalizados (Magrini, 2016).

A abordagem dos pacientes que tentaram suicídio requer uma perspectiva crítica, permitindo intervenções imediatas para proteger tanto o indivíduo quanto terceiros. A coleta e análise de dados são essenciais para acionar redes de atenção, acompanhar casos, intervir precocemente e alimentar sistemas de informação em saúde, reconhecendo o suicídio como problema de saúde pública (Blanes; Silva, 2023).

O atendimento a pacientes pós-tentativa de suicídio em unidades de urgência é complexo, já que são unidades que geralmente encontram-se tumultuadas e exigem atenção integral da equipe de saúde. Embora os cuidados vitais sejam prioritários, é fundamental não negligenciar o apoio à família, oferecendo informações claras e conforto emocional. Essa realidade destaca a necessidade de recursos adicionais para melhorar a qualidade da assistência (Blanes; Silva, 2023).

Mesmo a urgência e emergência não sendo um setor tão apropriado e adaptado para lidar com pacientes suicidas em sofrimento psíquico, para a enfermagem é necessário estabelecer o vínculo terapêutico, pois é fundamental para defender a saúde e promover qualidade de vida, para isso a enfermagem faz uso da teoria das relações interpessoais de Hildegard E. Peplau (Guedes et al., 2023). 

Os profissionais da Enfermagem na Urgência e Emergência devem combinar conhecimentos técnicos com habilidades éticas para cuidar de pacientes pós-tentativa de suicídio. Uma abordagem holística, considerando aspectos físico, emocional e social, facilita a recuperação, onde a empatia, honestidade e prudência são essenciais para promover saúde mental e bem-estar (Botelho et al., 2023). 

A Enfermagem exige uma compreensão holística do ser humano, considerando aspectos físicos, sociais, psicológicos e espirituais, para isso é necessário o uso da Sistematização da Assistência de Enfermagem que permite uma abordagem integral, reconhecendo o paciente como um indivíduo único, inserido em seu contexto de vida (Fontão et al., 2020). As intervenções de saúde para pacientes com risco de suicídio enfrentam obstáculos significativos, incluindo falta de planejamento estratégico, dificuldades na gestão de riscos e escassez de recursos adequados (Magrini, 2016).

A importância da realização dessa pesquisa surgiu da necessidade da avaliação do papel e assistência de enfermagem prestada a pacientes que tentaram suicídio no âmbito da urgência e emergência e suas dificuldades, já que é notório o aumento dos índices de suicídio no Brasil e no mundo. O tema apresentado nesse estudo tem grande relevância social, acadêmica e hospitalar, abordando estudos verídicos e necessários para compreensão da assistência de enfermagem á pacientes que tentaram suicídio no âmbito da urgência e emergência e os desafios desses profissionais durante a assistência, podendo contribuir para melhoria da assistência de enfermagem à esses pacientes.

Frente ao exposto, o presente estudo busca responder a seguinte questão norteadora: Qual papel da enfermagem no processo terapêutico dos pacientes admitidos na urgência e emergência por tentativa de suicídio e quais os desafios que a equipe de enfermagem enfrenta na assistência à pacientes que tentaram suicídio no âmbito da urgência e emergência?

2. MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica sistemática com objetivo de reunir conhecimento científico relacionado à assistência de enfermagem à pacientes que tentaram suicídio e os desafios assistenciais na urgência emergência. A presente revisão realizou uma síntese a partir da busca de dados em artigos científicos, dissertações, sites e boletins epidemiológicos. As seguintes etapas foram percorridas: 1)

Elaboração da pergunta norteadora, 2) Busca da literatura, 3) Coleta de dados, 4) Análise crítica dos estudos incluídos, 5) Discussão dos resultados e 6) Apresentação dos resultados obtidos. Foram consultadas as seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de saúde (BVS), Banco de Teses – Capes e Google Acadêmico.

Inicialmente foi realizada uma pesquisa na biblioteca virtual em saúde (BVS)  utilizando o descritor (DeCS): “suicídio”. Os filtros utilizados foram: recorte temporal dos últimos 5 anos, idioma em português e base de dados BDEnf e Lilacs. A amostra Inicial culminou em 416 artigos, aplicando o critério de eliminação por título, questão norteadora ou resumo, restando 13 artigos para leitura na íntegra. Após essa triagem foram selecionados 7 artigos para extração de conteúdo e 6 foram descartados. 

Ainda na biblioteca virtual de saúde (BVS) foi realizada uma segunda pesquisa, dessa vez com o operador booliano “AND” e os seguintes descritores (DeCS): “suicídio” AND “enfermagem” AND “urgência” AND “emergência”. Os filtros usados foram: recorte temporal dos últimos 5 anos, idioma em português e base de dados Lilacs, BDEnf e Medline. A amostra inicial resultou em 6 artigos, onde foi realizada a leitura de seus resumos e 2  artigos foram selecionados para a leitura completa na íntegra, por fim 1 artigo foi selecionado como fonte de informação para este trabalho e 1 foi excluído. 

Na pesquisa realizada no Banco de Teses – Capes foram utilizados como filtros os descritores: “suicídio” e “enfermagem”, o que resultou na apresentação de 26 trabalhos, dentre eles teses e dissertações, usando o critério de inclusão de leitura de títulos apenas uma dissertação foi selecionada para estratificação do conteúdo.

Também foram utilizados os descritores: “enfermagem,  “suicídio”, “urgência” e “emergência” na pesquisa realizada no Google Acadêmico, com os filtros: idioma em português e recorte temporal dos últimos 4 anos. Após a leitura de títulos e resumos a pesquisa resultou na seleção de 10 artigos para leitura completa na íntegra, onde 6 desses artigos tiveram seu conteúdo extraído para elaboração deste trabalho e 4 foram descartados.

Todas as leituras completas na íntegra que findaram e descartes não conduziam com o tema abordado nesse trabalho ou estavam fora do idioma “Português”. Além das pesquisas citadas anteriormente também foram realizadas pesquisas de 2 boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde e sites do governo e Ministério da Saúde. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Quadro 1 – Principais achados da literatura sobre a assistência de enfermagem a pacientes que tentaram suicídio em unidades de urgência e emergência

Os estudos revisados confirmam que os desafios enfrentados pela enfermagem no cuidado a pacientes pós-tentativa de suicídio incluem falta de preparo, estigmatização, ausência de protocolos claros, estrutura inadequada dos serviços e sobrecarga de trabalho. Todos esses fatores se relacionam diretamente com a hipótese inicial da pesquisa. A literatura também aponta caminhos para superar esses obstáculos, como a adoção de teorias de enfermagem, capacitação contínua e fortalecimento da rede psicossocial.

Este estudo foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica sistemática, com o objetivo de reunir conhecimento científico sobre a assistência de enfermagem a pacientes que tentaram suicídio. A pesquisa envolveu a seleção de artigos científicos, dissertações e documentos oficiais, buscando identificar os desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem e as estratégias adotadas na assistência.

A escolha por uma revisão bibliográfica justifica-se pela necessidade de reunir e analisar criticamente as evidências disponíveis sobre o tema, possibilitando um panorama mais amplo da realidade enfrentada pelos enfermeiros na urgência e emergência. Além disso, a literatura científica já produzida fornece subsídios importantes para compreender os desafios assistenciais e sugerir melhorias na prática profissional.

Para realizar esta pesquisa, foram consultadas bases de dados como a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), o Banco de Teses da Capes e o Google Acadêmico. Foram utilizados critérios rigorosos de seleção, incluindo o recorte temporal dos últimos cinco anos, idioma em português e relevância para o tema. Os estudos selecionados foram analisados criticamente, destacando os principais desafios enfrentados pelos enfermeiros e as recomendações para aprimorar a assistência.

A pesquisa buscou identificar as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de enfermagem no atendimento a pacientes que tentaram suicídio, bem como compreender as estratégias adotadas para oferecer uma assistência qualificada. Esperava-se também levantar reflexões sobre a importância da capacitação dos enfermeiros e da adoção de protocolos específicos para esse tipo de atendimento.

A revisão bibliográfica identificou que muitas unidades de urgência e emergência não possuem estrutura adequada para atendimento de pacientes com sofrimento psíquico. A superlotação, a falta de privacidade e a ausência de espaços apropriados dificultam uma abordagem humanizada e eficaz. Estudos mostram que, frequentemente, pacientes suicidas são atendidos em corredores ou em espaços improvisados, comprometendo o sigilo e a segurança necessários para um atendimento qualificado (Lima; Morais, 2023).

Além disso, a sobrecarga de trabalho dos profissionais de enfermagem compromete o tempo disponível para acolher e estabelecer vínculo terapêutico com esses pacientes. A assistência em urgência/emergência prioriza a estabilização clínica, muitas vezes relegando os cuidados psicológicos a um segundo plano (Fontão et al., 2020). 

Isso evidencia a necessidade de ampliar o número de profissionais e qualificar a equipe para lidar com esse tipo de demanda.

Outro ponto relevante é o estigma associado à tentativa de suicídio. Profissionais de enfermagem, muitas vezes, carregam crenças e preconceitos que podem comprometer a assistência. A literatura indica que alguns enfermeiros veem pacientes suicidas como manipuladores ou como indivíduos que buscam apenas chamar atenção, o que pode levar a uma abordagem negligente ou impessoal (Botelho et al., 2023). 

Esse fator destaca a importância da educação permanente e da capacitação dos profissionais para que adotem uma postura empática e livre de julgamentos. A falta de preparo acadêmico também é um fator crítico. Estudos demonstram que a formação dos enfermeiros, em sua maioria, não inclui disciplinas voltadas especificamente para o manejo de crises suicidas na urgência e emergência. A capacitação inadequada resulta em insegurança dos profissionais ao lidar com esses pacientes, aumentando a resistência ao contato e dificultando a prestação de um atendimento humanizado e eficaz (Moura et al., 2022).

Apesar dos desafios, a enfermagem tem papel central na assistência a esses pacientes. A literatura reforça a necessidade da aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) para garantir um atendimento estruturado e individualizado. A implementação de protocolos claros pode facilitar a identificação de pacientes com risco suicida e a adoção de medidas preventivas.

A Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau é amplamente recomendada na abordagem ao paciente suicida, pois enfatiza a criação de vínculo terapêutico entre enfermeiro e paciente, promovendo um espaço seguro para a expressão emocional e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento (Cardoso, 2022). 

Essa abordagem possibilita não apenas o atendimento imediato, mas também a construção de um plano de cuidado contínuo, prevenindo novas tentativas. Outra estratégia essencial é a articulação com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPs), garantindo encaminhamento adequado e acompanhamento pós-alta. A integração entre os serviços de urgência/emergência e as unidades de saúde mental pode ser determinante para evitar a reincidência de tentativas de suicídio (Negrão et al., 2024).

Diante dos achados, percebe-se que a assistência de enfermagem ao paciente póstentativa de suicídio enfrenta desafios significativos, mas que podem ser minimizados com melhorias na infraestrutura hospitalar, capacitação profissional e adoção de abordagens humanizadas e baseadas em evidências científicas.

A resposta ao problema de pesquisa indica que, para melhorar a assistência de enfermagem a pacientes pós-tentativa de suicídio, é necessário investir na capacitação dos profissionais, na criação de protocolos assistenciais e na integração entre os serviços de urgência/emergência e a Rede de Atenção Psicossocial. Somente com essas medidas será possível garantir um atendimento humanizado e eficaz, reduzindo as taxas de reincidência e melhorando a qualidade de vida desses pacientes.

A hipótese inicial da pesquisa sugeria que os desafios da enfermagem na assistência a pacientes pós-tentativa de suicídio estavam relacionados à falta de preparo profissional e à ausência de protocolos específicos. Os achados confirmam essa hipótese, evidenciando que a deficiência na formação acadêmica e a falta de diretrizes claras impactam diretamente a qualidade do cuidado prestado. Além disso, os dados revelam que a sobrecarga de trabalho e a estigmatização do paciente suicida são fatores adicionais que dificultam a assistência.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O desenvolvimento desta pesquisa seguiu um planejamento estruturado, que envolveu a escolha do tema, formulação do problema e definição dos objetivos. A revisão bibliográfica foi conduzida com rigor metodológico, garantindo a seleção de materiais relevantes para a discussão proposta. 

O objetivo geral da pesquisa era analisar os desafios da assistência de enfermagem a pacientes que tentaram suicídio na urgência e emergência, verificando a atuação profissional e as dificuldades enfrentadas. Esse objetivo foi plenamente alcançado, uma vez que os achados da literatura permitiram uma análise crítica e detalhada da realidade dos enfermeiros nesse contexto.

A hipótese de que a assistência de enfermagem enfrenta dificuldades devido à falta de preparo e à ausência de protocolos foi confirmada pelos dados encontrados. Além disso, a revisão revelou outros desafios, como o estigma e a sobrecarga dos profissionais, que precisam ser superados para garantir uma assistência mais eficaz.

A revisão bibliográfica foi a estratégia metodológica escolhida para a pesquisa, permitindo uma análise abrangente sobre o tema. No entanto, a principal limitação do estudo foi a escassez de pesquisas que abordam diretamente a atuação da enfermagem na urgência e emergência nesse contexto. Muitos estudos tratam o suicídio de forma geral, sem um recorte específico para a prática assistencial dos enfermeiros.

Diante das limitações encontradas, recomenda-se que futuras pesquisas explorem a experiência dos enfermeiros no atendimento a pacientes pós-tentativa de suicídio, por meio de estudos qualitativos e relatos de experiência. Além disso, seria importante investigar a eficácia de programas de capacitação em saúde mental voltados para profissionais da urgência e emergência.

A assistência de enfermagem a pacientes que tentaram suicídio na urgência e emergência é um desafio que exige preparo técnico, sensibilidade e estrutura adequada. O estudo demonstrou que os principais obstáculos envolvem a falta de capacitação, a sobrecarga de trabalho, o estigma e a ausência de protocolos específicos.

Para melhorar essa realidade, é fundamental investir em treinamentos para os profissionais, integrar a urgência e emergência à Rede de Atenção Psicossocial e desenvolver políticas públicas que priorizem a saúde mental. Dessa forma, será possível garantir um atendimento mais humanizado e eficaz, contribuindo para a redução das taxas de suicídio e promovendo melhor qualidade de vida para esses pacientes.

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1Acadêmica do curso de Enfermagem, Cajazeiras-PB, Centro Universitário Santa Maria – UNIFSM. Email: Gadelhaleiteleticia118@gmail.com, Orcid: https://orcid.org/0009-0007-9477-4750
2Docente do curso de Enfermagem, Cajazeiras-PB, UNIFSM. E-mail: macerlane15@gmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9231-5477
3Docente do curso de Enfermagem, Cajazeiras-PB, UNIFSM. E-mail: renaliviamoreira@hotmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9913-4863
4Docente do curso de Enfermagem, Cajazeiras-PB, UNIFSM. E-mail: yuri-m_pereira@hotmail.com, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5577-9590