ASSISTANCE TO THE PATIENT VICTIM OF SCORPION ACCIDENT
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8346880
Erica Fernanda Jesus Alkimim1; Eliseu Rocha Matos1; Christiane Silva Souza2; Leone Mendes Dias3; Cinara Ferreira Coutinho2; Luana Souza Torres4; Flávia Cristina Higino Passos1; Maria Daniella Silva2; Fernanda Fagundes Fernandes1; Joana Carolina Rodrigues dos Santos Schramm4; Ana Carolina Costa Maia Pinheiro5; Reginalda Maciel6; Bruno de Pinho Amaral5; Anderson Dias Fernandes2; Lorrayne Oliveira Dias Soares1; Ticiane Dias Prado1
RESUMO
Objetivo: conhecer a assistência médica e de enfermagem aos pacientes vítimas de escorpionismo. Método: conduziu-se uma revisão integrativa, com produções científicas, como artigos, trabalhos acadêmicos, livros e periódicos. Foi realizada a seleção por meio do catálogo de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), as bases de dados secundários da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (Scielo). Resultados: diante dos sintomas levantados durante a realização desta revisão integrativa, foi possível estabelecer uma série de cuidados de enfermagem para pacientes vítimas de escorpionismo, de acordo com diagnósticos de enfermagem baseados nos sinais e sintomas apresentados pela vítima. Conclusão: o estudo revelou que é primordial atendimento imediato às vítimas de escorpionismo e considera a importância do enfermeiro no reconhecimento dos sinais e sintomas, a fim de, auxiliar no diagnóstico e tratamento, evitando-se assim, complicações, sequelas e até mesmo óbito.
Palavra Chave: animais peçonhentos; picadas de escorpião; escorpiões; assistência hospitalar.
ABSTRACT
Objective: to know the medical and nursing care for patients who are victims of scorpionism. Method: an integrative review was conducted, with scientific productions, such as articles, academic papers, books and journals. The selection was made through the catalogue of theses and dissertations of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (Capes), the secondary databases of the Virtual Health Library (VHL): Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) and the Electronic Library Scientific Electronic Electronic Library Online (Scielo). Results: in view of the symptoms raised during this integrative review, it was possible to establish a series of nursing care for patients who are victims of scorpionism, according to nursing diagnoses based on the signs and symptoms presented by the victim. Conclusion: the study revealed that immediate care is paramount to victims of scorpionism and considers the importance of nurses in recognizing signs and symptoms, in order to assist in diagnosis and treatment, thus avoiding complications, sequelae and even death.
Keywords: venomous animals; scorpion bites; Scorpions; hospital care.
Introdução
Acidentes escorpiônico ou escorpionismo é um processo de envenenamento humano provocado pela picada de escorpião ou quadro clínico decorrente do acidente com este animal peçonhento. Tal envenenamento ocorre quando o artrópode injeta sua toxina por meio do telson, popularmente chamado de ferrão, situado na cauda do mesmo. A picada pode ocasionar ao indivíduo sequelas geradoras de incapacidade momentânea ao trabalho, atividades rotineiras ou até mesmo à morte (ZANELLA et al., 2018).
No Brasil, os acidentes escorpiônicos são considerados um grave problema de saúde pública, devido à elevada incidência em várias regiões do país. O aumento de estudos voltados para essa temática, se dá, em virtude, de representarem a maior computação de registro de casos no meio de todos os animais peçonhentos no Brasil. Além disso, é considerado um agravo de grande impacto médico sanitário, pois, a picada escorpiônica apresenta alto potencial de gravidade devido a elevada toxicidade da peçonha de algumas espécies, podendo resultar em casos fatais, sobretudo, em crianças e idosos (SOUZA, 2016).
Segundo o Ministério da Saúde, os casos de escorpionismo são o que mais crescem nas zonas urbanas de todo o país, representando 30% das notificações destes acidentes no país, tendo assim, grande expressão no âmbito da saúde pública. Calcula-se que ocorrem, anualmente, no Brasil, aproximadamente, 100 mil casos de acidentes escorpiônicos e cerca de 2.600 óbitos (BRASIL, 2009 b).
A ação do veneno escorpiônico tem início poucos minutos após a picada, provocando efeitos locais e sistêmicos no organismo, que vão definir o quadro clínico da vítima como escorpionismo leve, moderado ou grave (CARMO, 2017). A despeito do tratamento das vítimas de escorpionismo, é essencial o reconhecimento e classificação da gravidade clínica, tendo em vista, fatores de risco como: idade, massa corpórea, sensibilidade da vítima à toxina e o tempo entre a picada e a aplicação do soro (GUERRA, 2007).
Neste contexto, é de fundamental importância destacar o papel dos profissionais no atendimento às vítimas de escorpionismo, posto que, nas unidades hospitalares, os mesmos são responsáveis pelo acolhimento e triagem com classificação para o atendimento das vítimas de animais peçonhentos. É essencial que estes profissionais sejam devidamente capacitados para identificar, de imediato, os sinais e sintomas locais e sistêmicos manifestados pelo indivíduo, proporcionando assim, um atendimento rápido, preciso e seguro do paciente, diminuindo com isso o número de vítimas fatais (LIMA et al., 2016). Assim, o objetivo do presente estudo foi conhecer a assistência médica e de enfermagem aos pacientes vítimas de escorpionismo.
Métodos
Como ferramenta metodológica, o presente trabalho foi realizado por meio de uma revisão integrativa de literatura. Para construção do estudo, baseou-se nas fases propostas por Souza; Silva; Carvalho (2010): elaboração da pergunta norteadora, busca ou amostragem na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa. Como a pergunta norteadora definiu-se: Como é realizada a assistência médica e de enfermagem ao paciente vítima de acidentes escorpiônicos?
As publicações selecionadas seguiram os seguintes critérios de inclusão: artigos completos, relação com o tema, ser de domínio público, estar disponíveis online e publicados em inglês, português ou espanhol. Não se fez distinção do ano de publicação em razão da especificidade do tema. Foram excluídos estudos apenas com opiniões de especialistas.
Para a elaboração deste artigo foi realizada uma leitura dos títulos dos artigos e resumos. Foi realizada a seleção das publicações por meio do catálogo de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), das bases de dados secundários da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (Scielo). Foram utilizados como descritores os termos: animais peçonhentos; picadas de escorpião; escorpiões e assistência hospitalar.
Para a coleta de dados, foi elaborado instrumento, contemplando os seguintes itens: código de identificação, título da publicação, autor e formação do autor, fonte, ano de publicação, tipo de estudo, região em que foi realizada a pesquisa e a base de dados na qual o artigo foi publicado.
Após a seleção dos artigos, foram definidas as informações que seriam extraídas dos estudos. Foram assim selecionados 10 estudos. Para viabilizar a apreensão das informações, utilizou-se banco de dados elaborado no software Microsoft Office Excel 2010, composto das seguintes variáveis: título do artigo, ano de publicação, base de dados, título do periódico, delineamento do estudo, resumo, intervenção, desfecho e conclusão. Os dados obtidos foram agrupados em quadros e em abordagens temáticas e interpretados com base na literatura.
Resultados
Para melhor descrição dos dados foram elaborados quadros para apresentação dos resultados, assim, foram selecionados por meio dos critérios de elegibilidade nove publicações científicas apresentadas no quadro 1, considerando-se ainda que estão disponíveis significativos publicações que discorrem sobre o tema, nesse sentido, foram analisados também dois manuais publicados pelo Ministério da Saúde e um livro de enfermagem clínica, disposto no quadro 2, ademais apresentou-se no quadro 3 a descrição do tratamento para os pacientes vítimas de acidentes escorpiônicos conforme a gravidade do caso e por fim no quadro 4 foram apresentados os diagnósticos e intervenções de enfermagem conforme o processo de enfermagem.
Quadro 1. Publicações incluídas na revisão integrativa.
Títulos | Autor(es) | Ano |
Aspectos clínicos, epidemiológicos e fatores associados à gravidade do escorpionismo. | Carmo et al. | 2017 |
Vivência acadêmica no atendimento de acidentes provocados por animais peçonhentos no Ceatox – CG (manuscrito): um relato de experiências. | Cruz | 2014 |
Análise espacial na estratificação de áreas notificadas por casos de escorpionismo (manuscrito): um estudo dependente das condições socioeconômicas. | Farias | 2014 |
Análise da Ocorrência de Escorpiões (Arachnida, Scorpiones) no Condomínio Villagio Di Iália, Jaraguá, SP. | Gomes | 2013 |
Estudo clínico-epidemiológico do acidente escorpiônico em crianças e adolescentes no Estado de Minas Gerais no período de 2001 a 2005. | Guerra | 2007 |
Estudo clínico-epidemiológico, laboratorial e de vulnerabilidade dos acidentes escorpiônicos atendidos no hospital municipal de Santarém – Pará | Quispe, Torrez. | 2006 |
Análise do escorpionismo no Brasil no período de 2000 a 2010. | Reckziegel | 2013 |
Estudo retrospectivo do Escorpionismo no Estado de Goiás (2003 – 2012) | Souza | 2016 |
Ecologia do Tityus Serrulatus e ação de sua peçonha no corpo humano. | Sá | 2002 |
Fonte: Elaboração própria.
Quadro 2. Manuais e livros utilizados para revisão integrativa.
Manuais de Saúde | Ano de Publicação |
Guia de Vigilância Epidemiológica. Acidentes por Animais Peçonhentos/Caderno 14. | 2009 |
Guia de Vigilância Epidemiológica. Manual de Controle de Escorpiões. | 2009 |
Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. | 2008 |
Fonte: Elaboração Próprio Autor. 2018.
Quadro 3. Tratamento conforme a gravidade do acidente escorpiônico.
Acidente | Gravidade | Sintomas | Tratamento |
Escorpiônico | Leve | Dor, edema e parestesia local. Podem ocorrer vômitos ocasionais, taquicardia e leve agitação devido à ansiedade causada pelo acidente e a própria dor. | Analgésicos oraise lidocaína 2% |
Moderada | Sintomas locais como dor intensa associada a uma mais sintomas sistêmicos como: náuseas, vômitos, sudorese e sialorreia discretas, sonolência, agitação, hipertensão, taquipneia e taquicardia | 2 a 4 ampolas de (SAEEs) + Tratamento de suporte | |
Grave | Além dos sintomas citados na forma moderada, ocorre a presença de uma ou mais das seguintes manifestações: vômitos profusos e incoercíveis, sudorese generalizada e abundante, sialorreia intensa, prostração, agitação psicomotora acentuada, taquicardia, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar agudo e choque, convulsão e coma, | 4 a 8 ampolas de (SAEEs) + Tratamento de suporte de vida |
Fonte: adaptado de Brasil, 2010.
Quadro 4. Diagnósticos e cuidados de enfermagem ao paciente vítima de escorpionismo.
Diagnósticos de Enfermagem | Cuidados de Enfermagem |
Ansiedade | Usar abordagem calma e tranquilizadora; Oferecer informações reais sobre diagnóstico, tratamento e intervenções; observar sinais verbais e não verbais de ansiedade; |
Dor Local | Realizar uma avaliação completa da dor, incluindo local, características, início/duração, frequência, qualidade, intensidade e gravidade, além de fatores precipitadores; assegurar que o paciente receba cuidados precisos de analgesia; orientar sobre os métodos farmacológicos de alívio da dor. |
Integridade da Pele Prejudicada | Examinar a pele e mucosas quanto a vermelhidão, calor exagerado, edemas e drenagem; monitorar a ocorrência de infecção, em especial em áreas edemaciadas. |
Risco de Infecção | Providenciar cuidados adequados à pele em áreas edemaciadas; |
Risco de Volume de Líquidos Deficiente | Monitorar cor, quantidade e gravidade específica da urina; administrar líquidos conforme apropriado; monitorar o estado de hidratação, conforme apropriado; monitorar os sinais vitais, conforme apropriado; avaliar a localização e extensão do edema, se presente. |
Padrão Respiratório Ineficaz | Posicionar o paciente visando minimizar esforços respiratórios; monitorar o estado respiratório; iniciar e manter oxigenação suplementar conforme a prescrição e tranquilizar o paciente |
Débito Cardíaco Aumentado | Avaliar a pressão arterial, ritmo e frequência do pulso e acompanhar a administração de medicamentos prescritos. |
Fonte: adaptado de Medeiros et.al. (2013). Smeltzer; Bare (2008).
Discussão
Os acidentes com magnitude de saúde pública, causados por escorpiões são denominados escorpionismo, sendo considerado um problema que afeta diversos países no mundo. Em humanos, ocasiona um quadro de envenenamento pela injeção da toxina por meio do ferrão ou télson, que fica posicionado na cauda desse artrópode. Tal envenenamento pode progredir para sequelas transitórias ou até mesmo o óbito da vítima (SOUZA, 2016).
Com base em dados analisados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o escorpionismo é um agravo identificado como um descuido, ligado às condições de pobreza, desequilíbrio ambiental e desinformação, manifestando-se com maior frequência nas regiões que apresentam climas mais quentes e/ou com maior índice pluviométrico. Com o objetivo de acompanhar as doenças de notificação compulsória e agravos considerados de interesse nacional, em 1998, foi implantado o Sistema Notificação dos Acidentes Escorpiônicos, junto ao SINAN (Sistema de Informação de Agravos e Notificação). Tal sistema, possibilita estimar a quantidade de acidentes no país, possibilitando, assim, produção de quantidade adequada de soro antiescorpiônico (FISZON; BOCHNER, 2008).
Estima-se que, existam mais de 100 espécies de escorpiões no país e a família da Buthidae, destaca-se como a principal no Brasil, pois, a ela pertence o gênero Tityus, considerado o mais crítico para o homem, não só pela quantidade de acidentes a ele atribuído como pela ampla distribuição geográfica e alta toxidade do veneno do mesmo. Entre as espécies deste gênero, destacam-se o Tityus serrulatus (escorpião amarelo) e o Tityus bahiensis (escorpião marrom), responsáveis, respectivamente, pela alta incidência de casos de acidentes em localidades urbanas e rurais do país, especialmente, nos estados de São Paulo e Minas Gerais que, correspondem a 50% dos casos notificados no Brasil (SANTOS, 2007).
Os escorpiões produzem um veneno altamente perigoso e essa toxina escorpiônica é composta por um concentrado de substâncias biológicas, extremamente complexas, que tem como objetivo destruir as células ao qual penetram, bloqueando assim, as funções fisiológicas da vítima. Sabe-se que, a toxina do escorpião atua diretamente nas células nervosas e do miocárdio, além de ocasionar aumento da permeabilidade da membrana dos pulmões, facilitando, assim, a instalação do quadro de edema pulmonar (FARIAS, 2014).
Embora, os estudos sobre os efeitos fisiológicos da toxina escorpiônica sejam recentes, pode-se afirmar que, a maioria das espécies de escorpiões apresentam similaridade na composição da sua toxina, e a maior parte dos sintomas e sinais clínicos graves deste veneno, estão na predominância de efeitos gastrointestinais, respiratórios, neurológicos e cardiovasculares que os mesmos causam ao indivíduo (FARIAS, 2014).
Nesse sentido, a toxina do escorpião age, predominantemente, no Sistema Nervoso Periférico (SNP), contudo, em casos em que a quantidade de veneno é muito alta, a mesma poderá atuar no Sistema Nervoso Central (SNC). A dor intensa e imediata no local da picada é o principal sintoma do escorpionismo humano, podendo ser simples e limitada ao local do acidente, ou insuportável, com irradiação até a raiz do membro afetado, provocando percepção de queimação, agulhada ou pulsação, seguida ou não de dormência (RECKZIEGEL, 2014).
Salienta-se que a toxicidade do veneno escorpiônico costuma variar entre as espécies e os seus efeitos também podem ser influenciados conforme a quantidade de veneno introduzida, massa corporal, idade e condição médica do indivíduo. Ao analisar os aspectos da vítima, inúmeros estudos presentes na literatura brasileira reforçam que, as crianças sofrem maior risco de envenenamento grave do que os adultos (GOMES, 2013).
Os acidentes escorpiônicos sempre devem ser classificados como dano que exige atendimento instantâneo, pois o princípio das manifestações clínicas é prematuro. O quadro de envenenamento por acidentes escorpiônicos é dinâmico e as vítimas de escorpionismo podem apresentar sinais e sintomas que podem evoluir para maior gravidade em minutos ou poucas horas. Quanto à gravidade, escorpionismo pode ser classificado como leve, moderado e grave, conforme os seus efeitos provocados na vítima (SÁ, 2002).
Os efeitos leves do veneno apresentam manifestações locais como dor imediata no local da picada, e em alguns casos, parestesias segundos após o acidente. As manifestações sistêmicas com efeitos moderados, podem iniciar-se cerca de 20 minutos após picada e são dor local intensa, associada com dois ou mais dos seguintes sintomas: sudorese, náuseas, vômitos, taquicardia, taquipneia e hipertensão. Já os casos com efeitos graves, apresentam manifestações moderadas agravados com vômitos e sudorese profusos, sialorréia intensa, oscilação de agitação à prostração, insuficiência cardíaca, edema pulmonar, choque, convulsões e coma, cerca de 45 minutos após o acidente (SÁ, 2002).
O diagnóstico dado às vítimas de escorpionismo é baseado na história clínica da picada ou de mal súbito, principalmente em áreas endêmicas, associado a sinais clínicos, independente da presença do animal no momento do atendimento, ou seja, o diagnóstico é, em geral, clínico epidemiológico. Entretanto, há alterações de exames laboratoriais para confirmação do escorpionismo, como: hiperglicemia, hiperamilasemia e aumento da creatino-fosfoquinase que se eleva pela rabdomiólise e sua fração cardíaca (BRASIL, 2009a).
Ressalta-se que, o efeito do veneno é rápido, fazendo-se necessário socorro imediato da vítima, com a finalidade de definir prontamente o diagnóstico, visto que, o prognóstico do acidente está relacionado com o intervalo de tempo entre da picada e o início do tratamento com soro antiescorpiônico (BRASIL, 2009a).
Considerando importância dos acidentes escorpiônicos, os mesmos precisam ser atendidos em unidades equipadas para atenção às urgências clínicas devido a rapidez obrigatória na abordagem ao paciente, a fim de anular os efeitos do veneno circulante com soroterapia, bem como, evitar um quadro clínico sistêmico, em que o paciente necessitará de internação e exigirá cuidados especializados e ações para a manutenção de suas condições vitais, em virtude, da chance de óbito (MESCHIAL et al., 2013).
Neste contexto, destaca-se a figura do enfermeiro, posto que, nas unidades de urgência e emergência, os mesmos realizam a admissão das vítimas de animais peçonhentos. Sabe-se que, o prognóstico destes pacientes, depende da exatidão do diagnóstico, precocidade e eficácia do tratamento, logo, uma assistência de enfermagem de qualidade é indispensável, pois, viabiliza atendimento eficaz, diagnóstico em tempo hábil, tratamento sem complicações ou sequelas e redução dos índices de mortalidade (LIMA et al., 2016).
O enfermeiro, durante a graduação não adquire conhecimento suficiente para lidar com vítimas de acidentes escorpiônicos, uma vez que, os sinais e sintomas destes pacientes são muito variados e mutáveis. Deste modo, é imprescindível que este profissional esteja atualizado quanto a conduta de diagnóstico e tratamento das vítimas, capacitando-se sobre as complicações e fisiopatologia dos acidentes; manifestações clínicas; classificação, conforme a gravidade e soroterapia, no intuito de aperfeiçoar o atendimento e apurar o prognóstico dos acidentados (CRUZ, 2014).
Em relação à vítima de escorpionismo, o enfermeiro deve realizar os cuidados de enfermagem baseando-se nos sinais e sintomas apresentados pelo paciente, pois estes, determinarão a gravidade do quadro clínico do mesmo. Tal profissional deverá realizar contínua avaliação do estado da vítima, uma vez que, os diagnósticos de enfermagem sofrem alterações conforme a condição do paciente (SMELTZER; BARE, 2008).
Nos acidentes escorpiônicos, o tratamento da toxina depende das manifestações apresentadas pela vítima, podendo ser classificado em estágios sintomáticos, específico e de suporte. O tratamento para picada de escorpiões, visa neutralizar o veneno circulante no sangue, combater os sinais e sintomas da toxina e dar suporte às condições imprescindíveis da vítima e geralmente é feito com medicações anestésicas e analgésicas para os casos leves e soro antiescorpiônico (SAEEs) para os casos moderados ou graves (SANTOS, 2007).
Nos acidentes classificados como leves, os pacientes apresentam somente dor local, o enfermeiro deverá observar o paciente por 6 a 12 horas; avaliar a dor por meio de um instrumento de escala de dor e realizar compressas quentes no local da picada, bem como solicitar prescrição médica de analgésicos como paracetamol e dipirona por via oral ou em casos de dor com intensidade moderada a intensa, analgésicos como o tramadol e anestesia local com anestésico, sem vasoconstritor, como a lidocaína a 2%; observar regularmente a pressão arterial e níveis de glicemia (QUISPE; TORREZ, 2016).
Nos acidentes classificados como moderados e graves, o profissional de enfermagem, deverá realizar tratamento específico para neutralizar a toxina circulante, ministrando 2 a 4 ampolas ou 4 a 8 ampolas de soro antiescorpiônico, respectivamente, por via intravenosa, e atentar-se para os sinais vitais do paciente, dando suporte de vida ao acidentado (CRUZ, 2014).
O enfermeiro do setor de urgência e emergência do hospital, deve atentar-se quanto a possíveis mudanças no eletrocardiograma do paciente, pois, são as arritmias cardíacas as principais complicações do escorpionismo. As vítimas de acidentes escorpiônicos, geralmente, manifestam alterações similares às constatadas no infarto agudo do miocárdio. Portanto, discernir tais alterações é essencial, no intuito de inteirar-se da evolução do quadro clínico da vítima, para acelerar o atendimento, tratamento e reduzir as complicações severas (GUERRA, 2007).
Nos casos de acidentes escorpiônicos considerados moderados e graves, após intervalo de minutos a poucas horas (1-3 horas), podem progredir do quadro local para manifestações sistêmicas variados, com consequências cardiovasculares, respiratórias, neuromusculares, gastrintestinais, hematológicos, metabólicos e no sistema nervoso central. Desta forma, dar suporte às condições vitais da vítima de escorpionismo é imprescindível para o êxito do tratamento, devendo ser feito, além do tratamento sintomático e específico, medidas conjuntas ao tratamento específico como: acompanhamento contínuo do sistema cardiorrespiratório; aferição da pressão arterial; monitorização da oxigenação, controle do equilíbrio ácido básico e estado de hidratação, bem como, a administração de drogas específicas para as ocorrências apresentadas (RECKZIEGEL, 2014).
Quanto aos cuidados de enfermagem, estes devem ocorrer conforme as prescrições de enfermagem e estas ocorrem, concomitantemente, com as ações médicas, as quais ambas se completam. Estas prescrições são baseadas na sintomatologia do paciente, e demandam avaliação contínua, dado que, os diagnósticos de enfermagem mudam conforme o estado de saúde do paciente (SMELTZER; BARE, 2008).
De modo geral, o paciente vítima de escorpionismo requer atendimento imediato para tratamento dos sinais e sintomas apresentados, a fim de evitar possíveis complicações. O mesmo deve ser orientado quanto ao tratamento; medicados com analgésicos para alívio da dor; atropina em casos de bradicardia sinusal; nifedipina quando apresentar hipertensão arterial com ou sem edema agudo de pulmão; receber líquidos para evitar possível desidratação; intubação, em casos, de edema agudo de pulmão ou insuficiência respiratória aguda; dopamina e/ou dobutamina quando identificado estado de choque ou insuficiência cardíaca e em circunstâncias moderadas e graves as vítimas devem ser hospitalizados para acompanhamento de suas funções vitais (SMELTZER; BARE, 2008).
Conclusão
O presente artigo discorreu sobre o escorpionismo e relatou o alto número de acidentes escorpiônicos em diversas regiões do Brasil. Concluiu-se, portanto, que estes acidentes retratam um grave problema de Saúde Pública no país.
Neste trabalho, são descritos o escorpionismo, suas complicações, assim como a assistência de enfermagem às vítimas de escorpionismo no âmbito hospitalar. Apesar de a literatura não mostrar, especificamente, a atuação do enfermeiro face à emergência do escorpionismo, é fundamental salientar a importância deste profissional e das funções que o mesmo exerce junto à equipe.
Tendo em vista os aspectos observados nas diversas produções científicas para a realização deste trabalho, nota-se que o enfermeiro, por ser responsável pelo acolhimento aos pacientes vítimas de escorpionismo nos hospitais, necessitam constantemente aprofundar os conhecimentos sobre esta temática, pois o atendimento ao paciente vítima do escorpionismo requer domínio clínico e agilidade do enfermeiro, no reconhecimento dos sinais e sintomas, de modo a oferecer à vítima cuidado qualificado e eficaz, com rápida intervenção e tratamento para a obtenção de um bom prognóstico.
Considera-se fundamental a capacitação do enfermeiro para lidar com os casos de acidentes escorpiônicos. Deste modo, faz-se necessário conhecer as manifestações locais e sistêmicas que as vítimas possam apresentar, objetivando agilizar o atendimento ao paciente, garantindo-lhe suporte das funções vitais, bem como o manejo adequado das complicações advindas da toxina escorpiônica, contribuindo assim, para a redução das complicações, sequelas e mortalidade, principalmente, em idosos e crianças, que são considerados população de risco.
Referências
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CRUZ, B.A.A. Vivência acadêmica no atendimento de acidentes provocados por animais peçonhentos no Ceatox – CG (manuscrito): um relato de experiências. Vivência acadêmica no atendimento de acidentes provocados por animais peçonhentos no Ceatox. Universidade Estadual da Paraíba, 2014.
FISZON, J.T.; BOCHNER, R. Subnotificação de acidentes por animais peçonhentos registrados pelo SINAN no Estado do Rio de Janeiro no período de 2001 a 2005. Rev Bras Epidemiol. v.11, n.1, p. 114-127, 2008.
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QUISPE-TORREZ, PP. Estudo clínico-epidemiológico, laboratorial e de vulnerabilidade dos acidentes escorpiônicos atendidos no hospital municipal de Santarém – Pará/ Pasesa Pascuala Quispe Torrez. Tese (doutorado) – Faculdade de Medicina da universidade de São Paulo. São Paulo, 2016.
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ZANELLA, D.P et al. Escorpionismo no Vale do Aço, Minas Gerais. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. v.23, n.1, p.60-66, 2018.
1Faculdades Unidas do Norte de Minas Gerais (FUNORTE);
2Faculdade de Saúde e Humanidades Ibituruna (FASI);
3Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF);
4Centro Universitário Pitágoras (UNIFIPMOC);
5Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES);
6Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).