ASSISTÊNCIA À GESTANTE NO PARTO DOMICILIAR SOB A ÓTICA DA TEORIA DO AUTO CUIDADO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10266485


Maria Eduarda Tavares Bezerra1
Orientadora: Graciana de Sousa Lopes2


RESUMO 

OBJETIVO: discutir sobre a assistência de enfermagem frente ao parto domiciliar. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo exploratório, analítico  descritivo, utilizando revisão integrada da literatura (RIL). Na prática, a  RIL disponibiliza diversas informações e resultados por meio de publicações com diferentes abordagens metodológicas implementadas em diferentes anos, que incluem conceitos e evidências de questões metodológicas  RESULTADOS: Através do desenvolvimento desse estudo foram encontrados 641 artigos na totalidade nas bases de dados. Ao adicionar os critérios de inclusão e exclusão o número reduziu para 101. Após a análise das pesquisas, 15 publicações foram selecionadas para compor esta pesquisa. Sendo desenvolvido dois tópicos para discussão: As dificuldades no parto domiciliar; As condutas de enfermagem durante o parto domiciliar a luz teoria do autocuidado de Dorothea Orem. CONCLUSÃO: A partir do desenvolvimento desse estudo foi possível compreender os aspectos relacionados à teoria do autocuidado de Dorothea Orem e sua aplicabilidade no parto domiciliar, bem como os cuidados de enfermagem empregados, foi possível ainda compreender as dificuldades do processo de parto domiciliar, e todos os desafios que esse processo traz. 

Palavras-chaves: parto domiciliar; assistência de enfermagem; humanização no parto. 

ABSTRACT 

OBJECTIVE: To discuss nursing care during home births. METHODOLOGY: This is an exploratory, analytical and descriptive study using an integrated literature review (ILR). In practice, the ILR provides diverse information and results through publications with different methodological approaches implemented in different years, which include concepts and evidence of methodological issues. RESULTS: Through the development of this study, 641 articles were found in total in the databases. Adding the inclusion and exclusion criteria reduced the number to 101. After analyzing the research, 15 publications were selected for this study. Two topics were developed for discussion: The difficulties of home birth; Nursing conduct during home birth in the light of Dorothea Orem’s theory of self-care. CONCLUSION: From the development of this study it was possible to understand the aspects related to Dorothea Orem’s self-care theory and its applicability in home birth, as well as the nursing care employed, it was also possible to understand the difficulties of the home birth process, and all the challenges that this process brings. 

Keywords: home birth; nursing care; humanization in childbirth.

1 INTRODUÇÃO  

Em meados do século XVIII, os partos eram realizados por parteiras que através do conhecimento empírico se responsabilizavam pelos cuidados das mães e dos recém-nascidos em suas próprias casas. No entanto, ao final do século XIX, a medicina começou a tornar o parto um evento controlado e os partos domiciliares desapareceram gradualmente (OLIVEIRA; PERALTA; SOUSA, 2019). 

Assim, esse fenômeno, que geralmente era realizado em ambiente privado e próximo da família, começou a aparecer nos serviços de saúde, ou seja, em locais públicos e longe dos familiares, onde foram aplicadas medidas para aumentar a proporção de mulheres. cesarianas e, como consequência, aumento da morbimortalidade materna e perinatal (SANDALL et al., 2016).   

Apesar das evidências científicas nacionais e internacionais mostrarem que o modelo  de parto atual não é o ideal, ele continua  devido à história  do parto, ao processo de institucionalização do parto, à supervalorização das tecnologias e à comercialização de práticas médicas e de saúde. (ROSSI; PRÉFUMO, 2018).   

O parto domiciliar planejado é  a assistência prestada à mulher durante a gestação, o parto e imediatamente após o parto, realizada por especialista habilitado, em ambiente domiciliar,  de acordo com a livre escolha da mulher, e registrado no Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (CURSINO). . ; BENICASA, 2020). 

A teoria do autocuidado de Dorothea Orem, publicada em 1971 e 1980, foi desenvolvida a partir de um quadro conceitual no qual ela acredita que a enfermeira deve trabalhar com o cliente para identificar lacunas na capacidade de atender às necessidades individuais de autocuidado na tentativa de desenvolvê-las. oportunidades pré-existentes dos indivíduos  para o autocuidado. Dessa forma, o cuidador funciona como regulador sistêmico do autocuidado. Identifica lacunas de competências relacionadas à necessidade de autocuidado, faz pela pessoa o que ela não pode fazer, ensina, orienta e incentiva o desenvolvimento das competências da pessoa para que ela possa se tornar independente da enfermagem, posicionando-se por conta própria. autocuidados . Essas habilidades podem ser desenvolvidas diariamente por meio de aprendizagem espontânea, curiosidade intelectual, treinamento e mentoria de outras pessoas ou experiências adquiridas na realização de procedimentos de autocuidado (OREM, 2001; HARTWEG; METCALFE, 2022).   

Os direitos reprodutivos das mulheres orientam o cuidado e a assistência dos profissionais de saúde durante o parto. Esses direitos estão divididos em quatro pilares, que são integridade corporal, igualdade, diversidade e autodeterminação pessoal. Considerando-os, os direitos humanos das mulheres no campo da saúde são protegidos e garantidos (SANFELICE; SHIMO, 2015). 

No parto natural, o corpo libera analgésicos naturais  e a mãe pode se concentrar e se sentir calma durante o parto. Além disso, promove a amamentação por meio da liberação de hormônios e deixa a mãe  atenta, pronta e consciente para criar vínculo com seu filho (AMORIM et al. 2017).  

 O parto domiciliar planejado não é atualmente reconhecido como uma boa opção de tratamento no país, o que gera preconceitos e informações equivocadas a seu respeito, embora se destaque novamente por afirmar o caráter principal, os valores, os princípios, o conforto e a segurança da mulher. percebemos a necessidade de  uma revisão integrada que responda aos benefícios do parto domiciliar planejado descritos na literatura brasileira dos últimos dez anos  (GONÇALVES, 2014). 

O dever de casa para parteiras é um trabalho gratificante, gratificante e independente. Porém, traz consigo dificuldades, incertezas e conflitos entre departamentos. Acreditam que o cuidado domiciliar inclui valores que transcendem os aspectos científicos e tecnológicos, utilizando atualmente uma visão holística (BOCHNIA et al., 2019). 

O objetivo geral deste estudo é discutir sobre a assistência de enfermagem frente ao parto domiciliar. Os objetivos específicos são: Descrever as condutas de enfermagem durante o parto domiciliar à luz da teoria do autocuidado de Dorothea Orem; Descrever as dificuldades no parto domiciliar;  

2 REFERENCIAL TEÓRICO 

2.1 Os aspectos que cercam o parto domiciliar 

O ciclo gravídico-infantil é um momento extraordinário para uma personagem feminina, vivenciando os momentos do parto e do nascimento do feto, acontecimentos que estão intimamente relacionados a diversos fatores e rodeados de expectativas,  cultura, conhecimentos sobre o parto, preparo pré-natal, partos anteriores . . . história, ansiedade e sobretudo atenção e cuidado nesses mesmos períodos (MEDEIROS; SANTOS; SILVA, 2016). 

Dentre esses momentos que cercam o ciclo gravídico-puerperal, nota-se que o parto é um período intenso, sofrido pela mulher conforme sua individualidade. Com isso, é importante que esse momento seja compartilhado com alguém que possa transmitir segurança e assim proporcionar uma experiência mais segura e tranquila para a parturiente, sendo isso considerado essencial para que este momento seja completo (CARPENTER; BURNS; SMITH, 2017). 

Consequentemente, observou-se que as vivências das mulheres nesse período foram caracterizadas por uma intensa carga de ações e sugestões negativas sobre o cuidado. Nesse contexto, afirma-se que a violência contra a mulher é definida como qualquer ação ou atividade baseada no gênero que cause morte, lesão ou sofrimento físico, sexual ou psicológico às mulheres nas esferas pública e privada (FEYER et al., 2013). ). 

Durante toda a gestação e no trabalho de parto as mulheres possuem direitos que devem ser respeitados pelos profissionais atuantes na saúde para que se tenha um atendimento com integralidade, equidade e de qualidade. Foram criados assim, políticas que visam garantir os direitos sexuais, de cidadania e reprodutivos das mulheres, a fim de que elas conheçam e disponham dos seus direitos para que possam exigi-los e se prevenirem de abusos e desrespeito contra a sua dignidade (SANDALL et al., 2016). 

É destacável que alguns fatores são associados para as práticas do parto não humanizado, o qual pode-se frisar a falta de informações por parte das gestantes, em não saber dos seus direitos, além das diversas práticas que remetem a paciente a traumas que podem levar pelo resto da vida, tendo em vista a intensidade do evento ocorrido e de toda expectativa que está sendo colocada pela parturiente e pelos familiares que a acompanham (FEYER et al., 2013). 

2.2 As dificuldades/ desafios no parto domiciliar 

 Atualmente, o contexto que envolve o parto é cercado por um dispositivo tecnológico com histórico de violência no parto, eventos iatrogênicos e negligência com o processo  individual de nascimento de cada mulher. Para mudar esse modelo, as mulheres passaram a verbalizar o desejo de parir como um evento fisiológico, feminino, familiar e social, o que levou a  muitos partos domiciliares (VALINHO et al., 2021).  

Porém, o parto domiciliar é acompanhado de muitos  desafios e dificuldades, pois o parto domiciliar é visto atualmente como uma experiência de risco para a mulher e para a criança, muitas vezes como um modelo de tratamento simplificado  e com pouca segurança (BOCHNIA et al., 2019).  

É citado por Bochnia et al. (2019) que no Brasil as mulheres que optam por parir em casa são consideradas socialmente  irresponsáveis, ignorantes e adeptas da moda. Da mesma forma, os profissionais que optam por prestar este serviço são coagidos, assediados e desencorajados pelos conselhos profissionais.  

Outro desafio destacado são as redes de apoio familiar e  profissional, a primeira, em sua maioria, condena ou estereotipa o parto domiciliar como um procedimento inadequado por apresentar risco para mãe e filho, diferentemente do parto hospitalar. Noutra rede, as mulheres grávidas encontram profissionais de saúde que continuam em conflito com as forças anti-parto domiciliar. É um paradigma de tratamento cuja figura principal é o médico, às gestantes e aos próprios profissionais de saúde, integrantes de equipes multidisciplinares (VALINHO et al., 2021). 

2.3 A enfermagem e as boas práticas no parto domiciliar 

Humanizar as práticas de parto é o processo pelo qual o profissional deve respeitar a fisiologia do parto sem interferir desnecessariamente, reconhecer os aspectos sociais e culturais do trabalho de parto e nascimento, fornecer apoio emocional à mulher e sua família, facilitar o desenvolvimento das relações familiares e maternais. cria uma conexão que cria espaços onde as mulheres possam exercer sua independência durante todo o processo (OLIVEIRA; PERALTA; SOUSA, 2019).   

As boas práticas no processo parturitivo são aquelas que estão intimamente relacionadas ao processo de humanização da assistência obstétrica. Autonomia, respeito pelos direitos das mulheres e famílias, apoio empático dos profissionais de saúde, promoção do alívio da dor não invasiva e não farmacológica, liberdade de postura, utilização das melhores evidências na prática clínica, por ex. deve ser garantido, entre outros. Tais recomendações incentivam o afastamento de um modelo  de  saúde tecnocrata e promovem práticas que reflitam qualitativamente a humanização do parto, a partir de um arcabouço de práticas e atitudes benéficas à saúde materno-infantil, bem como na atualização profissional contínua (SANFELICE; SHIMO, 2015). ).  

As boas práticas de assistência ao parto normal foram categorizadas para orientar a ação profissional: práticas que são claramente benéficas e  devem ser incentivadas; práticas que são claramente prejudiciais ou ineficazes e  devem ser eliminadas;  práticas utilizadas de forma inadequada durante o trabalho de parto e parto. No Brasil,  em 2014, menos de 50% das mulheres apresentavam boas práticas durante o parto, sendo pior nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (BOCHNIA et al., 2019).   

Os partos assistidos estão munidos de um maior número de boas práticas e  menos intervenções, o que realça a importância do papel deste profissional nos partos de risco normal e nos partos vaginais. Assim, é possível confirmar que a obstetrícia tem contribuído e participado efetivamente na observância dos atuais princípios  nacionais e internacionais recomendados para a assistência humanizada durante o trabalho de parto e nascimento (VALINHO et al., 2021). 

2.4 Fundamentos da Teoria de Orem 

A obstetrícia e a ginecologia com intervenções excessivas, inadequadas e desnecessárias podem ter consequências graves, como a falta de cuidados, que podem fazer mais mal do que bem, colocando em risco a vida de mães e bebés e muitas vezes causando traumas a longo prazo (NOVO, et al. 2019). 

Nesse sentido, Hartweg e Metcalfe (2022), evidenciam que restaurar a fisiologia do parto é necessário não só para prevenir a mortalidade materna, mas também para promover uma redução nas intervenções. Os enfermeiros obstetras e ginecologistas têm acesso a cuidados centrados nas necessidades das mulheres em cenários de parto, aumentando a oferta de gestão não farmacológica da dor e práticas que favorecem o parto vaginal através de práticas baseadas em evidências para proporcionar experiências benéficas e agradáveis durante o parto. 

Para fundamentar a enfermagem, a teoria de enfermagem  orienta a prática clínica e, neste estudo, o referencial teórico da teoria do autocuidado apresentado por Dorothea e Orem é definido como: “Prática de ação iniciada e realizada pelos indivíduos  na manutenção da vida, da saúde e do bem-estar”. ser. – ser em benefício próprio” (OREM, 2001).   

A teoria do autocuidado de Dorothea Orem inclui autocuidado, atividades de autocuidado e a exigência terapêutica de autocuidado. O autocuidado é uma atividade iniciada e realizada pelos indivíduos em  benefício próprio, a fim de preservar a vida e o bem-estar (HARTWEG; METCALFE, 2022). 

De acordo com Novo, et al. (2019), a assistência ao parto em domiciliar baseia-se na teoria do autocuidado e reduz a dor materna, reduz as taxas de hemorragia e infecção pós-parto, promove a amamentação, melhora o estado emocional da mãe e promove a recuperação fisiológica da mãe. 

3 METODOLOGIA  

Trata-se de um estudo exploratório, analítico e descritivo, utilizando revisão integrada da literatura (RIL). Na prática, a  RIL disponibiliza diversas informações e resultados por meio de publicações com diferentes abordagens metodológicas implementadas em diferentes anos, que incluem conceitos e evidências de questões metodológicas (SOARES, 2014). 

A coleta das informações para a pesquisa bibliográfica será por meio da exploração da base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Biblioteca Científica Eletrônica Virtual (SCIELO) e Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE) e Biblioteca de Enfermagem (BDENF), por meio da junção de três Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) cruzados com operador booleano “AND” “parto domiciliar” AND “assistência de enfermagem” AND “humanização no parto”. 

Os critérios de elegibilidade incluíram artigos originais publicados entre 2018 e 2023, revisão sistemática, integrativa, tipo relato de caso, disponíveis gratuitamente, publicados em português e inglês, abordando a temática em estudo. Os critérios elegíveis foram artigos com texto incompleto, resumos, monografias, teses e dissertações e artigos escritos em outros idiomas que não o inglês e o português.

Fluxograma das etapas de seleção dos artigos para a revisão.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Utilizando os três DeCS: parto domiciliar” AND “assistência de enfermagem” AND “humanização no parto”, foram encontrados 641 artigos na totalidade nas bases de dados. Ao adicionar os critérios de inclusão e exclusão o número reduziu para 101. Após a análise das pesquisas, 15 publicações foram selecionadas para compor esta pesquisa.

Para melhor organização das publicações presentes/selecionadas para compor esta RIL, será apresentada uma síntese conforme autor, ano, título, objetivo, estudo, bases, idioma e resultados, contribuindo para o processo de análise e interpretação das publicações presentes nesta revisão (Quadro 1).

As dificuldades no parto domiciliar 

 O parto domiciliar é considerado um grande desafio, que contempla em seu decorrer inúmeros desafios e dificuldades, principalmente as condutas referentes aos primeiros socorros em caso de intercorrências com binômio mãe e feto. No que diz respeito a essas intercorrências inerentes ao parto e nascimento a preocupação das mulheres com o recém-nascido, bem como a confiança adquirida nos profissionais para o manejo das intercorrências são tidos como pontos fortes das dificuldades encontradas no processo do parto domiciliar, junto a falta de recursos tecnológicos que supram essas necessidades (CASTRO et al., 2015; SILVA et al., 2019). 

De acordo com Sandall et al. (2016), mediante a esses desafios, parece que o atendimento ao parto domiciliar planejado representa um movimento de contracultura na atualidade que sofre todos os estigmas e pré-conceitos de uma profissão que, até o presente momento, não é reconhecida pela sociedade. 

 É citado por Valinho et al. (2021), que são muitos os paradigmas previamente estabelecidos pelo modelo de parto tecnocrático, biomédico, e intervencionista, sendo considerado um desafio a sua desmistificação, tendo em vista que a maioria das mulheres tem um conhecimento deficiente dos aspectos que cercam o parto domiciliar, como o controle da dor sem uso de medicações.  

Dessa forma, compreende-se que frente a esses paradigmas há um grande conflito diante da mudança de um modelo assistencial, que parte de uma assistência tecnicista e intervencionista, para uma prática que resgata o parto natural com pouco ou nenhum uso de aparatos tecnológicos, como é o caso da assistência domiciliar (ROSSI; PREFUMO, 2018). 

 Como resultado, Lessa et al. (2018) afirma que a falta de orientação e conhecimento sobre diversas técnicas não médicas de analgesia entre mulheres e profissionais de saúde qualificados para o parto domiciliar corrobora mitos sobre a dor insuportável no processo de parto domiciliar, dificultando sua implementação neste segmento. 

O preconceito e a falta de informação sobre o parto domiciliar dificultam o trabalho das enfermeiras obstetras, tornando-as alvo de constante julgamento social. Nesta direção, sugere-se como estratégia de enfrentamento o delineamento de medidas para expansão do conhecimento científico sobre o tema parto domiciliar para o senso comum, em especial a população leiga, o que ampliaria a compreensão dessa modalidade de assistência e poderia auxiliar na desconstrução dos preconceitos sobre a assistência ofertada pelas enfermeiras obstetras (SANFELICE; SHIMO, 2015). 

Na atualidade, destaca que durante a pandemia o parto domiciliar contemplou outros desafios e dificuldades como a implementação de medidas que previnam a contaminação pelo Covid 19, bem como a de protocolos oficiais estabelecidos pelo Ministério da saúde. Predominando ainda nos dias de hoje fatores como o preconceito e a falta de informação, a qual dificulta o processo do trabalho de parto domiciliar, bem como a implementação de protocolos que o guiam (PASCOTO et al., 2020;  WEBLER et al. 2022). 

Este preconceito pode ser explicado por meio de uma contextualização histórica, já que a sociedade civil e os profissionais de saúde construíram, ao longo das últimas décadas, um paradigma a respeito da assistência ao parto que entende a tecnologia avançada como sinônimo de qualidade e segurança (MACDORMAN; DECLERC, 2019). 

 Nesse sentido, Cursino et al. (2021), relata que são necessárias a implementação de políticas públicas que se relacionem ao parto domiciliar planejado, tendo em vista que são praticamente inexistentes, bem como a falta de conhecimento dos profissionais que atuam no parto domiciliar, o que pode levar a traumas referentes ao processo de parir. 

Além disso, sugere-se aumentar a base de conhecimento sobre o parto domiciliar planejado entre todos os provedores de maternidade (NADERIFAR; GOLI; GHALJAIE, 2017). 

As condutas de enfermagem durante o parto domiciliar a luz teoria do autocuidado de Dorothea Orem  

 Sabe-se que o processo de parto é algo que marca profundamente a vida de uma mulher, podendo lhe gerar uma experiência positiva ou um trauma que marcará toda a sua vida. Frente a isso, nota-se que os cuidados implementados pela equipe de enfermagem em um parto domiciliar é importante, pois estes se relacionam com a segurança do paciente e do recém nascido durante todo o processo de parir, através de cuidados como a seleção do ambiente, a organização de materiais e equipamentos, bem como a seleção de hospitais de referência caso haja intercorrências durante o parto, promovendo assim, uma atenção humanizada e livre de traumas (SOUZA et al., 2019). 

De acordo com Possati et al. (2017), o conceito de humanização inclui atitudes, práticas, comportamentos e conhecimentos pautados no desenvolvimento saudável dos processos de trabalho e parto, respeitando a individualidade e valorizando a mulher. A assistência humanizada ao parto sugere a necessidade de um novo olhar, para compreendê-lo como uma experiência verdadeiramente humana. Nesse contexto, os elementos-chave do cuidado à mulher são acolher, ouvir, orientar e conectar. 

 Os cuidados de enfermagem durante o parto domiciliar se associam principalmente com o controle da dor sem o uso de medidas farmacológicas, através de medidas como a realização de massagens, banho morno, mudanças de posição e musicoterapia (LIMA et al., 2020). Sendo citado ainda por Oliveira (2020), que a utilização de manobras e massagens na região sacral que aliviam as dores causadas durante a contração. 

Concernente a isso, é citado por Medeiros e Batista (2016), que a promoção de protagonismo da parturiente e a implementação das técnicas não farmacológicas para o alívio da dor, como a deambulação e o posicionamento livre, são práticas que devem ser realizadas no sentido de melhorar a assistência prestada e torná-la humanizada. 

O parto domiciliar pode ocorrer na água com o auxílio de uma banheira caso seja algo que a parturiente deseje, e cabe a enfermagem implementar cuidados que remetam a indução natural do parto e que traga conforto e acolhimento à parturiente nesse momento delicado. Podendo ainda implementado nesse viés, medidas como as massagens corporais a qual é considerada uma das técnicas de relaxamento mais eficazes (PRATES et al. 2018; LIMA et al. 2020). 

Freitas et al. (2021), a massagem é um método de estimulação sensorial caracterizado pelo toque sistêmico e pela manipulação dos tecidos. A massagem tem potencial para promover o  alívio da dor durante o parto, além de criar contato físico com a parturiente, melhorar o  relaxamento, reduzir a tensão mental e melhorar a circulação e a oxigenação dos tecidos. 

O protagonismo da enfermeira obstétrica na implementação de cuidados e da humanização durante o parto domiciliar, tendo em vista que suas ações remetem a segurança da paciente, bem como ao conforto, vínculo e implementação de medidas que controlem a dor, além de medidas como a monitorização dos sinais vitais são essenciais durante o parto domiciliar, pois trás parâmetros que podem remeter a gravidade e a progressão de intercorrências (BAGGIO et al. 2022; ALMEIDA, LOPES, 2022). 

Nesse contexto, a participação do enfermeiro da maternidade torna-se imprescindível e é cada vez maior o número de hospitais que elegem esse especialista como  principal referência para um tratamento humanizado e hospitaleiro, pois  o parto é visto como um processo fisiológico, natural graças aos procedimentos utilizados. . tanto a mulher quanto o profissional que acompanha a gestante devem proporcionar oportunidades para que ela se torne protagonista desse acontecimento, garantindo a criação e transmissão de um vínculo familiar com boas qualidades físicas e emocionais à criança (VARGENS; SILVA; PROGIANTI, 2017) .  

 Dessa forma, nota-se que a enfermagem é essencial no processo de parto domiciliar, pois através dos cuidados implementados e do acolhimento à gestante e a família, promove-se um processo de parto humanizado, baseado na escuta e na formação de vínculo, proporcionando uma experiência positiva e sem traumas para a parturiente (SANTOS, 2020). 

De acordo Souza et al. (2016), a admissão é um momento adequado para  a equipe de saúde  demonstrar atenção, interesse e disponibilidade, procurar conhecer e compreender as expectativas da mãe e sua família e esclarecer dúvidas relacionadas à gravidez e ao parto. A internação facilita o relacionamento entre a mãe biológica e os especialistas, evitando situações de estresse e ansiedade para a mulher e sua família. 

Nesse ponto de vista Orem trás consigo o ponto de vista de que a mulher pode ser protagonista do próprio parto através de medidas de autocuidado, e o enfermeiro vem atuando com um papel de orientador dessas medidas que vão desde a segurança do paciente, até a identificação da perda do tampão mucoso, avaliação do tempo de contração, identificação do rompimento da bolsa, e principalmente a identificação de sinais de perigo para que não se traga risco ao feto e a si mesma (ALMEIDA, LOPES, 2022). 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS  

A partir do desenvolvimento desse estudo foi possível compreender os aspectos relacionados à teoria do autocuidado de Dorothea Orem e sua aplicabilidade no parto domiciliar, bem como os cuidados de enfermagem empregados, foi possível ainda compreender as dificuldades do processo de parto domiciliar, e todos os desafios que esse processo traz. 

 Como dificuldades, ficou evidenciado que durante a pandemia pelo Covid 19 o que predominou foi o risco de contaminação, sendo difícil a implementação de medidas preventivas. A falta de preparo dos profissionais atuantes no parto domiciliar, bem como a falta de recursos e materiais, e as dificuldades na implementação de medidas não farmacológicas de controle da dor, são apontados como principais dificultadores. 

 Os principais cuidados de enfermagem apontados são as medidas não farmacológicas de controle da dor, as medidas de segurança caso haja intercorrências durante o parto, tendo o enfermeiro como protagonista. 

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1Acadêmica de Enfermagem CEUNI-FAMETRO. E-mail: mariaeduardatavaresbezerra@gmail.com 
ORCID: https://orcid.org/0009-0003-0607-1483

2Mestre em Enfermagem; Docente do CEUNI-FAMETRO. E-mail: gracilopess@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3615-9040