MORAL HARASSMENT AGAINST NURSING PROFESSIONALS IN HOSPITAL CARE AT AN EMERGENCY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411300645
Alessandra Ferreira Alencar Alves1, Lana Benevides velho2, Ronald Pereira de Aquino3, Tayara de Souza Soares4, Willams Costa de Melo5, Adriano dos Santos Oliveira6
RESUMO
O assédio moral no ambiente hospitalar é uma questão de grande relevância para a saúde e segurança ocupacional dos profissionais de enfermagem, com impactos significativos na qualidade do atendimento aos pacientes e no bem-estar das equipes de trabalho. Este estudo teve como objetivo geral analisar, por meio de uma revisão integrativa de literatura, os principais fatores que contribuem para a ocorrência de assédio moral contra profissionais de enfermagem em instituições hospitalares. A metodologia utilizada foi uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL), estruturada em seis etapas, foram selecionados artigos dos últimos cinco anos, abordando temas relacionados ao assédio moral, carga de trabalho e qualidade de vida de enfermeiros no contexto hospitalar. Os resultados mostraram que o assédio moral é favorecido por fatores como sobrecarga de trabalho, hierarquias rígidas e ausência de políticas organizacionais de proteção ao trabalhador, impactando diretamente a saúde física e mental das enfermeiras e comprometendo a qualidade do atendimento aos pacientes. As principais estratégias identificadas para enfrentar esse problema incluem a implementação de políticas institucionais contra o assédio, programas de suporte psicológico, capacitação de gestores e criação de ambientes de trabalho mais colaborativos. Conclui-se que a prevenção e o enfrentamento do assédio moral no ambiente hospitalar são essenciais para promover ambientes mais seguros e saudáveis para os profissionais de enfermagem e para garantir a qualidade do cuidado prestado aos pacientes.
Palavras-chave: assédio moral, enfermagem, ambiente hospitalar, revisão integrativa, saúde ocupacional.
1 INTRODUÇÃO
O assédio moral é uma problemática recorrente no ambiente de trabalho, impactando diretamente a saúde física e mental dos indivíduos e prejudicando a qualidade das relações interpessoais e o ambiente organizacional.
O assédio moral é caracterizado pela exposição de pessoas a situações humilhantes e constrangedoras, de forma repetitiva e prolongada, durante o exercício de suas atividades laborais. Esse comportamento não apenas compromete a dignidade e a integridade dos profissionais, mas também coloca em risco sua saúde e bem-estar, sendo especialmente relevante no contexto hospitalar, onde a qualidade do atendimento é essencial para o bem- estar dos pacientes (Trindade et al., 2023).
O trabalho da enfermagem é fundamental para o funcionamento das instituições hospitalares, sendo responsável pelo cuidado direto e constante aos pacientes. No entanto, o cenário de trabalho dos profissionais de enfermagem é caracterizado por desafios intensos, como a alta carga de trabalho, o estresse constante e a pressão emocional, fatores que tornam o ambiente propício para conflitos interpessoais e, por vezes, para a ocorrência de assédio moral (Souza et al., 2021).
Para as enfermeiras, o assédio moral representa uma ameaça significativa à sua saúde mental e física, afetando tanto sua capacidade de desempenhar suas funções com eficácia quanto a qualidade do cuidado que proporcionam (Fabri et al., 2021).
Diante da importância do tema, este estudo justifica-se pela necessidade de compreender as causas e consequências do assédio moral contra profissionais enfermeiras na assistência hospitalar, uma vez que esses profissionais representam uma parte essencial da equipe de saúde. A revisão de literatura, baseada em evidências, analisará os principais fatores que contribuem para a ocorrência do assédio moral nesse ambiente, além de avaliar o impacto dessa conduta sobre a saúde das enfermeiras e a qualidade do atendimento hospitalar.
O objetivo desta pesquisa é analisar, por meio de uma revisão de literatura baseada em evidências, o assédio moral contra profissionais enfermeiras na assistência hospitalar, identificando suas causas, consequências e estratégias de enfrentamento. A partir dessa análise, busca-se identificar os principais fatores que contribuem para a ocorrência de assédio moral no ambiente hospitalar, avaliando como esse comportamento afeta a saúde física e mental das profissionais de enfermagem e a qualidade do cuidado prestado aos pacientes. Além disso, propõe-se a elaboração de estratégias que possam prevenir e enfrentar o assédio moral em instituições hospitalares, com base nas evidências encontradas na literatura. Com isso, espera-se contribuir para a criação de ambientes de trabalho mais saudáveis e seguros, promovendo o bem-estar das profissionais enfermeiras e a melhoria do cuidado hospitalar como um todo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Assédio moral
Com base na Cartilha de Prevenção ao Assédio Moral e Sexual e na Política de Prevenção e Combate ao Assédio Moral no Tribunal Superior do Trabalho e no Conselho Superior da Justiça do Trabalho (Ato TST.GP. Nº 197, de 02/05/2022), fundamentamos um construto para identificar os tipos mais comuns de assédio moral, observados tanto no nível interpessoal quanto institucional.
O assédio moral encontra suas origens no período da escravidão, em que trabalhadores eram sujeitos a humilhações, terror psicológico intenso e punições severas, muitas vezes levando à morte. Esse tempo foi marcado por perseguições, desigualdades e a separação de famílias. Mesmo com o fim da escravidão nos anos 1880, ainda ocorreram situações em que trabalhadores foram submetidos a condições de trabalho análogas à escravidão, incluindo casos de imigrantes que sofreram assédio moral e sexual (Simões e Rodrigues., 2020).
Embora seja comum – ainda que inaceitável – que o empregado se perceba como inferior ao empregador nas relações de trabalho, essa visão muitas vezes o leva a aceitar uma série de abusos, resultando em frequentes casos de assédio moral. Esse tipo de assédio é consequência do desequilíbrio de poder, no qual o trabalhador é submetido a maus-tratos, oriundos de uma lógica autoritária e prejudicial na relação direta entre empregador e empregado (Ribeiro, Santos e Dutra, 2021).
O assédio moral é designado por diversos termos ao redor do mundo, como acosso moral, bullying, harassment e mobbing. O assédio moral envolve a repetição de comportamentos por parte de um agente ativo – seja o empregador ou um representante – que, por meio de palavras, gestos ou outras ações, afeta negativamente a autoestima e o bem-estar emocional do trabalhador. Embora geralmente ocorra em uma relação vertical, partindo de superiores ou chefes, o assédio também pode acontecer entre colegas de trabalho, em dinâmicas horizontais ou diagonais (Oliveira, Silva e Baccin, 2022).
O assédio moral é caracterizado por causar desconforto e violação da integridade física e moral do empregado, e se manifesta por condutas abusivas, duradouras e repetitivas. Na maior parte das vezes, a hierarquia é fator preponderante no assédio, sendo mais comum que este se configure verticalmente, por alguém em posição de superioridade no comando contra algum empregado subordinado (Ribeiro, Santos e Dutra, 2021).
Os danos causados pelo assédio moral têm consequências significativas também no âmbito social, que, apesar de serem pouco debatidas, possuem grande relevância, pois toda a sociedade acaba sendo afetada, ainda que de forma indireta, pelos impactos dessa prática. Mesmo que o assédio moral atinja diretamente apenas um indivíduo, os prejuízos resultantes se refletem em toda a coletividade (Fabri et al., 2021).
O dano moral envolve a violação dos direitos de personalidade, atingindo a dignidade da pessoa humana e podendo ocorrer de forma material ou imaterial, afetando aspectos como a vida, intimidade, honra e integridade física da vítima (Teixeira, 2023).
O assédio moral no ambiente de trabalho representa uma das questões mais sérias da sociedade contemporânea, resultado de uma complexa interação de fatores, como a globalização econômica predatória. Esse fenômeno não apenas impacta a produção e o lucro, mas também influencia a atual estrutura organizacional, marcada por uma competição agressiva e pela opressão dos trabalhadores através do medo e da ameaça (MARTINEZ, 2022, p. 8).
Com base na Cartilha de Prevenção ao Assédio Moral e Sexual e na Política de Prevenção e Combate ao Assédio Moral no Tribunal Superior do Trabalho e no Conselho Superior da Justiça do Trabalho (Ato TST.GP. Nº 197, de 02/05/2022), fundamentamos um construto para identificar os tipos mais comuns de assédio moral, observados tanto no nível interpessoal quanto institucional.
2.2 Cenário de trabalho de enfermagem
O cenário de trabalho para profissionais de enfermagem está repleto de desafios significativos, sendo a violência no ambiente de trabalho um dos mais alarmantes e recorrentes. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), violência no trabalho refere-se a “incidentes em que a pessoa sofre abusos, ameaças ou ataques em circunstâncias relacionadas com seu trabalho” que comprometem sua segurança e bem-estar (OIT, 2020).
Esse conceito abrange situações em que o trabalhador enfrenta risco físico ou psicológico, sendo um fenômeno amplamente presente nas práticas de enfermagem, especialmente em contextos de saúde pública e emergência, onde o estresse e a sobrecarga emocional elevam a incidência de agressões.
A violência laboral contra profissionais de enfermagem manifesta-se de diversas formas: física, sexual, verbal e moral. A prevalência dessa violência é alta em todo o mundo, como apontam vários estudos (Contrera-Jofre et al., 2020).
Os atos de agressão são cometidos por diferentes agressores, incluindo pacientes, acompanhantes, outros membros da equipe de saúde e até superiores hierárquicos. Cada interação pode potencialmente levar a situações de conflito, expondo os profissionais a riscos de integridade física e mental (Dadashzadeh et al., 2019)
Esse fenômeno de violência, por ser complexo e multidimensional, recebe diferentes denominações, que variam conforme fatores culturais, sociais e institucionais. A forma como a violência é vivenciada depende das condições envolvidas, bem como dos valores e sentimentos tanto da vítima quanto do agressor. Assim, um incidente de violência pode ter diferentes interpretações e consequências, sendo moldado pelos contextos culturais e sociais da instituição de saúde e dos indivíduos envolvidos (Drew; Tippett; Devenish, 2021).
No Brasil, essa violência é particularmente preocupante, pois muitos profissionais atuam em contextos de alta vulnerabilidade, com falta de recursos materiais e humanos, e em ambientes onde a demanda por atendimento excede as capacidades do sistema. Isso intensifica o estresse e gera uma atmosfera propícia ao aparecimento de conflitos e, eventualmente, de violência (Souza et al., 2021).
A violência no trabalho de enfermagem não afeta apenas o bem-estar individual dos profissionais, mas também impacta negativamente a qualidade do atendimento oferecido aos pacientes (Sé et al., 2020).
Profissionais que sofrem abuso têm maior propensão a desenvolver transtornos emocionais, como estresse pós-traumático, depressão e ansiedade. Esses fatores prejudicam a capacidade dos enfermeiros de exercerem suas funções de maneira plena, o que pode comprometer a segurança dos pacientes e a eficiência do sistema de saúde como um todo (Para Trindade et al., 2022).
Além dos danos psicológicos, a violência afeta o ambiente organizacional e reduz a coesão da equipe de enfermagem, o que pode desencadear um aumento nas taxas de absenteísmo e até mesmo na rotatividade de pessoal. O medo de novos episódios de agressão pode diminuir a motivação e o compromisso dos enfermeiros com seu trabalho. A falta de resposta por parte das instituições e a percepção de impunidade aumentam ainda mais o sentimento de vulnerabilidade entre os profissionais (Fabri et al., 2022).
Medidas de combate e prevenção da violência no ambiente de trabalho de enfermagem são essenciais e envolvem a implementação de políticas institucionais claras, treinamento de funcionários para lidar com situações de risco e a criação de canais de denúncia. Para ser eficaz, o combate à violência deve envolver uma atuação conjunta entre a administração das instituições de saúde, políticas governamentais e suporte psicológico aos profissionais. A conscientização pública sobre a importância de respeitar e proteger os profissionais de enfermagem também é crucial para reduzir a violência (Sousa et al., 2022).
3 METODOLOGIA
A metodologia adotada para este estudo foi uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL), que buscou consolidar, por meio de um levantamento sistemático e abrangente, os principais achados sobre o tema ao longo dos últimos cinco anos.
A metodologia seguiu o modelo adaptado de Ganong, conforme proposto por Mendes, Silveira e Galvão (Figura 1), o qual se estrutura em seis etapas detalhadas. A primeira etapa foi a Construção da Pergunta Norteadora, onde utilizou-se a metodologia PICo, comumente empregada em estudos qualitativos e não-clínicos, a fim de estabelecer uma questão de pesquisa precisa. Na PICo, o “P” refere-se à População (no caso, profissionais de enfermagem), o “I” ao Interesse (o assédio moral) e “Co” ao Contexto (ambiente hospitalar). Essa etapa definiu o foco da pesquisa e os elementos fundamentais a serem analisados.
Figura 1: Os seis passos da Revisão Integrativa.
Fonte: Mendes (2010).
Na Seleção da Amostragem, a segunda etapa, foram estabelecidos critérios rigorosos de inclusão e exclusão. Apenas artigos originais, teses e dissertações em inglês e português, disponíveis na íntegra e publicados nos últimos cinco anos foram incluídos, garantindo a relevância e atualidade dos dados. Os estudos duplicados, editoriais, cartas, estudos de casos e materiais em outros idiomas foram excluídos, de forma a assegurar a qualidade e a objetividade das informações. A metodologia PRISMA (Figura 2), foi utilizada para organizar visualmente o processo de seleção e exclusão dos estudos, apresentado por meio de um fluxograma que detalha as etapas de identificação e triagem dos materiais.
Figura 2: Seleção dos estudos segundo o PRISMA
Fonte: Elaborado pelos Autores – 2024.
A terceira etapa, Categorização dos Estudos, consistiu na análise inicial dos títulos e resumos dos artigos selecionados. Para facilitar a análise, os artigos foram organizados em uma tabela que continha informações fundamentais, como número do artigo, título, ano de publicação, autoria, periódico, objetivos, principais resultados e nível de evidência. Essa categorização permitiu uma visão geral dos temas abordados, facilitando a organização e direcionamento da análise.
A quarta etapa foi a Avaliação dos Estudos Incluídos, realizada por meio de uma leitura exaustiva dos artigos selecionados na íntegra. A leitura profunda possibilitou identificar e comparar os achados de cada estudo de maneira criteriosa, considerando as variações no contexto, período e métodos das pesquisas analisadas. Esse processo ajudou a compreender as perspectivas e abordagens diferentes, ampliando a compreensão sobre o assédio moral no ambiente hospitalar.
Em seguida, a quinta etapa foi a Síntese dos Resultados da Revisão. Com base na análise temática de conteúdo, os dados foram organizados em categorias temáticas. Esse processo de categorização foi fundamental para evidenciar o conhecimento existente, além de agrupar os achados de maneira que destacasse as principais conclusões sobre o tema, como as causas e impactos do assédio moral em profissionais de enfermagem, com ênfase no contexto hospitalar. Essa organização temática permitiu que a discussão dos dados fosse realizada de forma discursiva e comparativa, facilitando a integração e análise crítica dos resultados.
Finalmente, a sexta etapa, Apresentação da Revisão Integrativa de Literatura, consistiu na redação e apresentação dos resultados, com ênfase em uma síntese discursiva e comparativa dos achados principais. A análise final dos artigos selecionados trouxe à tona o conhecimento produzido sobre o assédio moral e contribuiu para a compreensão abrangente dos fatores que influenciam a experiência de profissionais de enfermagem no ambiente hospitalar. Todas as referências utilizadas foram organizadas no software EndNote, um recurso essencial para o gerenciamento das fontes bibliográficas. Posteriormente, essas referências foram transferidas para o programa Excel para uma verificação final de duplicidades, assegurando a precisão e integridade dos dados coletados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
O Quadro 1 dos resultados dos estudos incluídos, que identifica os principais fatores contribuintes para o assédio moral no ambiente hospitalar, além das estratégias preventivas sugeridas na literatura.
Quadro 1: Síntese dos Resultados
Autor e Ano | Título | Metodologia | Resultados |
FABRI, N. V. et al. (2022) | Violência laboral e qualidade de vida profissional entre enfermeiros da atenção primária | Estudo quantitativo em unidades de atenção primária no Brasil, utilizando questionários para avaliar a percepção de violência no trabalho e seus impactos na saúde. | A violência laboral impacta negativamente a qualidade de vida dos enfermeiros, reduzindo o bem-estar e aumentando o risco de burnout, afetando indiretamente a qualidade do atendimento. |
SOUSA, L. S. DE. et al. (2021) | Predictors of moral harassment in nursing work in critical care units | Estudo transversal com amostragem em unidades de cuidados críticos; aplicação de escalas para identificar fatores que aumentam a probabilidade de assédio moral. | Principais preditores do assédio moral incluem sobrecarga de trabalho e falta de apoio gerencial. O assédio tem impactos significativos na saúde mental dos profissionais e na segurança do paciente. |
TRINDADE, L. DE L. et al. (2022) | Assédio moral entre trabalhadores brasileiros da atenção primária e hospitalar em saúde | Revisão integrativa de literatura com análise de estudos qualitativos e quantitativos sobre assédio moral na área da saúde no Brasil. | Identificou fatores como hierarquia rígida e ambiente de alta pressão que contribuem para o assédio moral, afetando o bem-estar e a saúde mental dos trabalhadores da saúde. |
TEIXEIRA, J. J. A. (2023) | Assédio moral e relação trabalhista: Análise do tratamento legislativo brasileiro | Análise documental e legislativa das leis brasileiras sobre assédio moral e suas aplicações no ambiente de trabalho. | A legislação brasileira reconhece o assédio moral, mas ainda apresenta lacunas para proteção efetiva dos trabalhadores da saúde, especialmente em ambientes hospitalares de alta demanda. |
DIAS, M. C. S. S. (2022) | O assédio no local de trabalho: evolução da proteção laboral | Estudo de revisão histórica e análise legislativa sobre a proteção contra assédio moral no trabalho, com foco no contexto português. | Embora haja progresso na proteção contra o assédio, o estudo aponta desafios na aplicação prática das leis, especialmente em setores como saúde e atendimento direto ao público. |
OLIVEIRA, J. S.; SILVA, L. M. M.; BACCIN, E. A. (2022) | Inibição do assédio moral em tempos pandêmicos: a (in)suficiente evolução legal, jurídica e administrativa do estado: ambiente familiar, pandemia e home office | Estudo de caso e análise qualitativa dos impactos da pandemia no aumento de casos de assédio moral, com foco no ambiente hospitalar. | A pandemia exacerbou o assédio moral, especialmente pela sobrecarga de trabalho e pela transição para novos formatos de trabalho, como o home office, evidenciando a necessidade de medidas de prevenção específicas para profissionais da saúde. |
RIBEIRO, G. A.; SANTOS, J. L.; DUTRA, J. A. (2021) | Uma análise teórica sobre assédio moral e abuso de poder nas relações de trabalho | Revisão teórica sobre assédio moral e abuso de poder, analisando como esses fatores afetam o ambiente de trabalho e a saúde dos profissionais. | O abuso de poder é um dos principais fatores do assédio moral, com efeitos negativos profundos na saúde mental dos profissionais, impactando também o desempenho e a qualidade dos serviços oferecidos. |
RIBEIRO, R. R. A.; ANDRADE, P. H. G. (2021) | Assédio moral e dano moral no direito do trabalho em face a violação do princípio da dignidade humana | Estudo de caso e análise jurídica sobre o assédio moral e suas consequências legais e psicológicas para as vítimas. | O estudo evidencia que o assédio moral gera danos à dignidade humana e resulta em consequências psicológicas graves, demandando ações mais rígidas por parte das organizações de saúde. |
SÉ, A. C. S. et al. (2020) | Violência no trabalho na perspectiva dos enfermeiros do atendimento pré- hospitalar móvel | Pesquisa qualitativa com entrevistas para entender a percepção de violência e assédio entre enfermeiros em atendimento pré- hospitalar. | Identificou que o assédio moral e a violência verbal são comuns, gerando estresse e desgaste emocional nos profissionais e afetando a qualidade do atendimento aos pacientes. |
CONTRERAS- JOFRE, P. et al. (2020) | Violencia en el trabajo hacia los profesionales de enfermería en los servicios de emergencias: revisión integrativa | Revisão integrativa de literatura focada na violência e no assédio moral sofridos por enfermeiros em serviços de emergência. | O estudo destaca a elevada exposição dos enfermeiros ao assédio moral em emergências, o que compromete a saúde física e mental dos profissionais e gera um ambiente menos seguro para os pacientes |
Fonte: Elaborado pelos Autores – 2024.
Na análise dos estudos selecionados, evidencia-se uma compreensão ampla sobre os fatores que influenciam a ocorrência do assédio moral entre profissionais de enfermagem no ambiente hospitalar, bem como as implicações desse comportamento e as estratégias para enfrentá-lo.
1.1 Causas do Assédio Moral
A revisão da literatura revela que múltiplos fatores contribuem para a perpetuação do assédio moral nas instituições de saúde, sendo a carga de trabalho excessiva, a rigidez hierárquica e a escassez de suporte institucional alguns dos elementos-chave identificados por diversos estudiosos. Fabri et al. (2022) e Sousa et al. (2021) apontam que a sobrecarga de trabalho e as pressões intensas no ambiente hospitalar são catalisadores importantes para a manifestação de comportamentos abusivos. Em particular, os profissionais de enfermagem, frequentemente submetidos a um ritmo de trabalho elevado e situações de estresse extremo, se veem vulneráveis ao assédio, especialmente quando o apoio institucional é insuficiente para ajudá-los a lidar com as exigências do ambiente de trabalho. Essa falta de respaldo institucional agrava o impacto psicológico e emocional sobre os trabalhadores, criando um ciclo vicioso de sofrimento e desgaste.
Outro aspecto crucial que emerge da revisão são as estruturas hierárquicas rígidas, que, segundo Trindade et al. (2022) e Teixeira (2023), amplificam as condições propícias ao assédio moral no setor de saúde. A presença de hierarquias inflexíveis não apenas restringe a autonomia dos enfermeiros, mas também favorece um clima de opressão, no qual o abuso de poder se torna uma prática recorrente. A imposição de controle excessivo sobre os profissionais reduz sua capacidade de tomada de decisão e aumenta a vulnerabilidade ao assédio, criando um ambiente onde as relações de poder se tornam desproporcionais e abusivas. Essa dinâmica reforça a sensação de impotência e alienação entre os trabalhadores, comprometendo sua saúde mental e sua qualidade de vida profissional.
A revisão aponta ainda para a insuficiência das políticas de proteção aos trabalhadores, um tema abordado por Dias (2022), que destaca as lacunas nas regulamentações contra o assédio dentro dos hospitais. A ausência de medidas protetivas eficazes contribui para a continuidade de práticas abusivas e negligencia os direitos dos trabalhadores, criando um ambiente onde o assédio moral se torna não apenas possível, mas muitas vezes invisível ou
tolerado. Ribeiro et al. (2021) complementa essa análise, argumentando que o abuso de poder tende a se perpetuar em instituições com políticas organizacionais fracas ou mal definidas. A falta de uma estrutura de governança clara, aliada à negligência na implementação de políticas de proteção, mina o bem-estar dos trabalhadores, impedindo que os mesmos encontrem recursos adequados para lidar com situações de assédio e abuso.
As implicações dessa ausência de políticas adequadas são profundas, afetando não apenas a saúde mental e emocional dos profissionais, mas também comprometendo a qualidade do atendimento prestado aos pacientes. A revisão sugere que, sem uma abordagem organizacional que priorize o bem-estar dos trabalhadores, o ambiente hospitalar pode se tornar um espaço propício para a perpetuação de comportamentos abusivos. A resistência institucional em adotar políticas de proteção efetivas e a falta de um sistema claro de denúncias contribuem para o ciclo de abuso, mantendo os trabalhadores em uma posição de vulnerabilidade (Ribeiro et al., 2022).
Por outro lado, a revisão destaca a importância de uma abordagem integrada, que envolva tanto a implementação de políticas claras de proteção aos trabalhadores quanto a promoção de um ambiente de trabalho saudável. O fortalecimento das regulamentações contra o assédio, juntamente com a criação de canais de denúncia eficazes, pode ajudar a interromper
o ciclo de abuso e proporcionar aos trabalhadores um espaço mais seguro e respeitoso. Além disso, é essencial que os hospitais adotem práticas que promovam a autonomia dos enfermeiros e que integrem o suporte emocional e psicológico nas suas políticas organizacionais (Trindade et al., 2022).
1.2 Consequências do Assédio Moral
As consequências do assédio moral para os profissionais de enfermagem são múltiplas e preocupantes, com impactos graves tanto na saúde física quanto na saúde mental, além de comprometimentos à qualidade do cuidado ao paciente. Fabri et al. (2022) destacam que o assédio moral reduz a qualidade de vida desses profissionais, sendo o burnout uma das consequências mais críticas. O esgotamento físico e emocional gerado pela exposição contínua ao assédio afeta a capacidade dos enfermeiros de lidar com as demandas do ambiente hospitalar, levando a um quadro de exaustão que compromete a eficiência e a motivação no trabalho.
A relação entre assédio moral e problemas de saúde mental é reforçada por Sousa et al. (2021), que apontam que o estresse acumulado entre os profissionais de enfermagem impacta
também a segurança dos pacientes. A pressão psicológica contínua, somada à falta de suporte adequado, torna os enfermeiros mais propensos a erros, afetando diretamente a qualidade do cuidado oferecido. Esse ambiente de pressão e vigilância constantes não apenas desmoraliza os enfermeiros, mas também cria condições para que falhas ocorram com maior frequência, aumentando os riscos para os pacientes.
O impacto do assédio moral vai além da saúde individual e afeta o ambiente de trabalho como um todo. Contreras-Jofre et al. (2020) mostram que a violência no ambiente de trabalho hospitalar contribui para um espaço inseguro, comprometendo tanto o bem-estar dos profissionais quanto a segurança dos pacientes. Esse clima de insegurança e hostilidade reduz a colaboração entre os membros da equipe e prejudica a comunicação, essencial para a prestação de um cuidado de qualidade. Assim, o ambiente de trabalho se torna não apenas tóxico para os profissionais, mas também perigoso para os pacientes, aumentando os riscos de incidentes e prejudicando a experiência geral de atendimento.
Além disso, a ausência de reconhecimento profissional e o impacto das agressões verbais recorrentes intensificam o desgaste emocional entre os enfermeiros. O estudo de Sé et al. (2020) destaca que a desvalorização dos profissionais, manifestada na forma de assédio, desencadeia uma insatisfação crônica que impacta diretamente o desempenho. Essa falta de valorização, juntamente com o assédio, gera uma sensação de alienação e desmotivação, reduzindo o engajamento dos enfermeiros e contribuindo para o aumento das taxas de rotatividade no setor.
As repercussões psicológicas do assédio moral são profundas e duradouras, incluindo sintomas de ansiedade, depressão e baixa autoestima. Esse quadro psicológico debilitado faz com que muitos enfermeiros desenvolvam problemas de saúde mental mais graves, o que, por sua vez, leva a um afastamento maior do trabalho. Esse ciclo de absenteísmo e licença médica compromete a continuidade dos cuidados e sobrecarrega outros profissionais da equipe, intensificando ainda mais o ambiente de estresse e reduzindo a qualidade do atendimento aos pacientes (Souza et al., 2021).
O assédio moral nas instituições de saúde representa uma ameaça não apenas ao bem- estar dos profissionais, mas também à segurança e qualidade do atendimento ao paciente. A literatura sugere que, para mitigar essas consequências, é fundamental que as instituições implementem políticas de proteção eficazes e promovam uma cultura organizacional que valorize e proteja os profissionais. Somente com a criação de um ambiente de trabalho saudável e seguro será possível reduzir o impacto negativo do assédio moral e melhorar tanto a saúde dos enfermeiros quanto a qualidade do cuidado prestado aos pacientes (Trindade et al., 2022).
1.3 Estratégias de Prevenção e Enfrentamento
Para mitigar o assédio moral no ambiente hospitalar, a literatura recomenda a implementação de políticas organizacionais claras e o oferecimento de suporte psicológico aos profissionais de saúde. Fabri et al. (2022) enfatizam a necessidade de programas institucionais voltados para a redução da carga de trabalho e para o fortalecimento do apoio aos enfermeiros, buscando a criação de um ambiente de trabalho mais saudável. Esses programas podem incluir a redistribuição de tarefas para evitar sobrecargas, além de estratégias de apoio emocional e psicológico para os profissionais que enfrentam situações de estresse intenso.
Nesse contexto, Oliveira et al. (2022) apontam para a importância de um gerenciamento eficaz do estresse em situações críticas, especialmente durante períodos de alta pressão, como os observados durante a pandemia. Durante crises sanitárias, o aumento da sobrecarga de trabalho e a intensificação do assédio moral tornam-se fatores adicionais que comprometem a saúde dos profissionais e a qualidade do atendimento. Assim, práticas de gerenciamento que ajudem a aliviar o estresse e forneçam suporte adequado são essenciais para proteger tanto a saúde mental dos profissionais quanto a segurança dos pacientes.
Outro ponto crucial na prevenção do assédio é o treinamento em liderança para minimizar abusos de poder e promover relações mais equilibradas entre superiores e subordinados. Ribeiro et al. (2021) sugerem que capacitar líderes com habilidades para lidar de forma construtiva com a equipe reduz os riscos de assédio.
Além disso, Dias (2022) defende a necessidade de uma formação contínua dos gestores, destacando a importância de práticas preventivas que garantam um ambiente de trabalho seguro. A formação de gestores em práticas de apoio e comunicação eficaz fortalece a cultura organizacional contra o assédio e contribui para um clima mais colaborativo.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da revisão integrativa de literatura, foram identificados os principais fatores que contribuem para a ocorrência desse comportamento, incluindo a carga de trabalho
excessiva, hierarquias rígidas, falta de apoio institucional e políticas inadequadas de proteção ao trabalhador. Esses fatores, somados às exigências emocionais e físicas do trabalho de enfermagem, criam um ambiente propício ao assédio, o que afeta diretamente a saúde física e mental das profissionais e compromete a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes.
O estudo também destaca as consequências prejudiciais do assédio moral, como o aumento dos níveis de estresse, exaustão emocional, insatisfação profissional e, em muitos casos, a síndrome de burnout, que impactam significativamente o desempenho das enfermeiras e sua relação com os pacientes. Tais condições prejudicam não apenas a saúde e o bem-estar das enfermeiras, mas também o ambiente organizacional e a segurança dos pacientes, indicando a necessidade de uma intervenção eficaz.
Com base nas evidências encontradas na literatura, propõem-se estratégias que visam a prevenção e enfrentamento do assédio moral no ambiente hospitalar. Dentre as mais relevantes, estão a implementação de políticas institucionais claras contra o assédio, programas de suporte psicológico, treinamento em liderança para gestores e a criação de um ambiente de trabalho mais colaborativo e acolhedor para os profissionais de enfermagem.
Diante dos achados, conclui-se que a prevenção e o enfrentamento do assédio moral são essenciais para a promoção de um ambiente hospitalar mais saudável, seguro e respeitoso. A adoção de medidas preventivas contribuirá para o bem-estar das enfermeiras, potencializando a qualidade do cuidado aos pacientes e promovendo uma cultura organizacional mais humanizada e eficiente.
REFERÊNCIAS
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1Discentes do curso superior em enfermagem do Centro Universitário FAMETRO, Manaus – Amazonas. –
Email: Alessandraa.alves95@gmail.com
2Discentes do curso superior em enfermagem do Centro Universitário FAMETRO, Manaus – Amazonas. – Email: velholana04@gmail.com
3Discentes do curso superior em enfermagem do Centro Universitário FAMETRO, Manaus – Amazonas. –
Email: ronaldpereira820@yahoo.com
4Discentes do curso superior em enfermagem do Centro Universitário FAMETRO, Manaus – Amazonas. –
Email: soarestayara8@gmail.com
5 Docente do Centro Universitário FAMETRO, Orientador Especialista em UTI adulto e neonatal, Mestre em Saúde Coletiva – email: willamscostademelo@gmail.com
6Docente do Centro Universitário FAMETRO, Especialista em Enfermagem do Trabalho –
Email: Adriano.oliveira@fametro.edu.br