PATHOLOGICAL ASPECTS OF CHAGAS DISEASE: AN INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249091307
Naira Carla de Oliveira Alves1
Joana Akyla Sousa Lemos2
Pérola Beatriz Guimarães Gomes3
Julia Sena Ferreira4
Zanett Chaves de Oliveira5
Nathalia Santos Calheira6
Ana Helena Neris Campos7
José Walter Ferreira Bonfim Júnior8
Sávio Jucá de Carvalho Gonçalves Filho9
Mariavitória Evangelista da Silva10
Emanuel Pontes Araújo Damasceno11
Jéssica Marques Costa Silva12
Waldinei da Silva Bongiovane13
Italo José do Nascimento Silva14
Irismar da Silva Martins do Carmo 15
RESUMO
Introdução: A doença de Chagas é uma doença causada pelo Trypanosoma Cruzi, transmitida por insetos triatomíneos infectados com o organismo. A Doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi, apresenta uma complexidade patológica, que abrange desde a fase aguda com sintomas variados até a fase crônica. Metodologia: O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, constituída por seus etapas indicadas por Mendes (2008). Para a definição da pergunta norteadora, utilizamos a estratégia PICo. Por fim, a questão norteadora a ser respondida é: Quais são os fatores de risco e as manifestações clínicas associadas à Doença de Chagas? Discussão e Resultados: Na fase aguda da Doença de Chagas, a inflamação sistemática é uma característica predominante. Já a fase crônica da doença é marcada por alterações patológicas mais duradouras e graves. Conclusão: A Doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, revela uma complexidade patológica significativa que se manifesta de forma distinta nas fases aguda e crônica da infecção. O tratamento medicamentoso, envolvendo antiparasitários como benznidazol e nifurtimox, é crucial para controlar a infecção. A abordagem não medicamentosa, é um ponto muito importante a ser abordado também.
Palavras-chave: Chagas disease; Patology; Chagas;
ABSTRACT
Introduction: Chagas disease is a disease caused by Trypanosoma cruzi, transmitted by triatomine insects infected with the organism. Chagas disease, caused by Trypanosoma cruzi, presents a complex pathology, which ranges from the acute phase with varied symptoms to the chronic phase. Methodology: This study is an integrative review of the literature, consisting of its stages indicated by Mendes (2008). To define the guiding question, we used the PICo strategy. Finally, the guiding question to be answered is: What are the risk factors and clinical manifestations associated with Chagas disease? Discussion and Results: In the acute phase of Chagas disease, systematic inflammation is a predominant characteristic. The chronic phase of the disease is marked by more lasting and severe pathological changes. Conclusion: Chagas disease, caused by the parasite Trypanosoma cruzi, reveals a significant pathological complexity that manifests itself differently in the acute and chronic phases of the infection. Drug treatment, involving antiparasitic drugs such as benznidazole and nifurtimox, is crucial to control the infection. The non-drug approach is also a very important point to be addressed.
Keywords: Chagas disease; Patology; Chagas;
INTRODUÇÃO
A Doença de Chagas é uma doença causada pelo agente etiológico, o Trypanosoma Cruzi, transmitida por insetos triatomíneos infectados com o microorganismo. O agente patogênico é introduzido no hospedeiro durante o repasto sanguíneo, promovendo uma reação inflamatória na área de inoculação. O prurido causado pela inflamação leva o hospedeiro a coçar a pele, espalhando as fezes contaminadas para a ferida da picada, permitindo a entrada do microrganismo (Orsini et al., 2023).
Devido à íntima associação com condições precárias de vida, a doença de Chagas foi classificada na literatura internacional como Doença Tropical Negligenciada. De acordo com os pesquisadores Martins e Spink (2020), doença tropical negligenciada é definida como: classificação referente a doenças prevalentes em populações de áreas pobres, que não detém condições econômicas e de infraestrutura para mobilizar o investimento nas enfermidades de que convalesce e não despertam o interesse de grandes indústrias farmacêuticas ou mesmo de seus governantes para a produção de medicamentos e vacinas.
Acredita-se que até 30% e 10% das pessoas infectadas irão desenvolver alterações cardíacas e digestivas, respectivamente (Martins-Melo et al., 2012; Pérez-Molina; Molina, 2018). Por muito tempo esquecida, a doença de Chagas está entre as 17 doenças tropicais mais negligenciadas de acordo com a OMS, o que remete a baixa campanha preventiva contra os vetores de contaminação, principalmente ao barbeiro, inseto responsável pela transmissão da maioria dos casos (Cavalcanti et al., 2019).
A infecção apresenta-se sob duas fases clínicas bem distintas. A fase aguda, mais frequente em crianças, apresenta como característica o sinal de Romanã e o Chagoma de inoculação, que aparecem de sete a dez dias após a infecção e permanecem por cerca de dois a quatro meses (Pereira et al., 1989). A fase crônica é classificada sob três formas clínicas: indeterminada, cardíaca e digestiva. Na forma indeterminada, as alterações patológicas são pouco significativas, o que torna o diagnóstico clínico difícil; nesta fase, os testes sorológicos geralmente são positivos (Macedo, 1997).
No processo de cronificação, com a redução do parasitismo e das respostas inflamatórias, ocorre a destruição de fibras e fibrose miocárdica, levando a um quadro de miocardiopatia, que consiste na inflamação do músculo cardíaco resultando em seu aumento e enfraquecimento, associada a arritmias e lesão apical. A lesão apical, também denominada lesão vorticilar (LV), aumenta o risco de complicações tromboembólicas e de morte súbita (Pereira et al., 2021).
A transmissão vetorial não é a única forma de infecção pelo protozoário, transfusões de sangue e de órgãos que não seguem a norma de biossegurança, bem como a transmissão vertical são capazes de perpetuar a propagação da doença. Além disso, o triatomíneo, também conhecido como barbeiro, pode estar presente em alimentos contaminados (Orsini et al., 2023).
Para Mattos et al. (2020) a ocorrência de insetos na inspeção de alimentos, indica problemas nas condições higiênico – sanitárias e outros possíveis problemas de segurança alimentar. Esta segurança diz respeito à transmissão oral da DC pela ingestão de alimentos contaminados. A fase aguda que perdura por até 2 meses, pode ser assintomática ou ainda manifestar-se por meio de febre, dores de cabeça, aumento das glândulas linfáticas e palidez. Já na fase crônica, os parasitas estão ocultos no coração e na musculatura digestiva (Ortiz et al., 2018).
A Doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi, apresenta uma complexidade patológica, que abrange desde a fase aguda com sintomas variados até a fase crônica com graves comprometimentos cardíacos e digestivos. Com a evolução das técnicas de diagnóstico e tratamento, é essencial aprofundar a compreensão dos mecanismos patológicos para otimizar estratégias de manejo e prevenção. Diante do exposto, o objetivo deste estudo é descrever os aspectos patológicos da doença de Chagas.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, constituída por seus etapas indicadas por Mendes (2008): 1) Definição do tema e questão de pesquisa; 2) Estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de estudos; 3) Determinação das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) Avaliação crítica dos estudos.
5) Interpretação dos resultados; 6) Apresentação da síntese do conhecimento (Souza et al.,2018). Esse método de revisão integrativa envolve a análise de estudos importantes que auxiliam na tomada de decisões e na melhoria da prática clínica, permitindo a síntese do conhecimento existente sobre um determinado tema. Além disso, ela identifica lacunas no conhecimento que precisam ser preenchidas por novas pesquisas. Este método de pesquisa permite consolidar diversos estudos publicados, possibilitando a obtenção de conclusões amplas sobre uma área específica de estudos.
Para a definição da pergunta norteadora, utilizamos a estratégia PICo, com o objetivo de abordar aspectos patológicos da Doença de Chagas, considerando a população afetada (Population/Patient/Problem), os fenômenos de interesse (Interest) e os contextos envolvidos (Context) (Araújo, 2020).
Neste estudo, a População refere-se a indivíduos acometidos pela Doença de Chagas, o Fenômeno de Interesse envolve os aspectos patológicos da doença, e o contexto está relacionado aos fatores de risco e manifestações clínicas. Conciliando os tópicos da estratégia PICo, a questão norteadora a ser respondida é: Quais são os fatores de risco e as manifestações clínicas associadas à Doença de Chagas?
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A doença de Chagas, causada pela infecção pelo parasita Trypanosoma cruzi, possui seis linhagens diferentes do parasita, classificadas em TcI a TcVI e há atualmente estudos sobre um sétimo genótipo. Se a doença não for tratada, a infecção por T cruzi é vitalícia (Hochberg, et al., 2023). Ademais, os dados coletados de diversos estudos demonstram a complexidade das consequências patológicas da doença, que se dividem principalmente entre a fase aguda e a fase crônica.
Na fase aguda da Doença de Chagas, a inflamação sistemática é uma característica predominante. Segundo o Ministério da Saúde, essa fase da doença pode gerar sintomas como febre prolongada, dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas e até um furúnculo no local da picada do vetor.
Já a fase crônica da doença é marcada por alterações patológicas mais duradouras e graves. A miocardiopatia chagásica, uma condição predominante nesta fase, é caracterizada por dilatação do ventrículo esquerdo e fibrose miocárdica, resultando em insuficiência cardíaca e arritmias. Estudos de Bern et al. (2021) identificam que a fibrose miocárdica associada à Doença de Chagas pode ser predita por biomarcadores específicos, oferecendo novas perspectivas para monitoramento e intervenção precoce.
Além das complicações cardíacas, alterações no trato gastrointestinal, como megaesôfago e megacólon, são observadas devido à degeneração das células ganglionares no sistema nervoso entérico, conforme descrito por Coura e Borges-Pereira (2023). Esses achados são consistentes com os estudos de Lima et al. (2021), que associam a disfunção do sistema nervoso autônomo à progressão das manifestações digestivas crônicas.
A análise dos aspectos patológicos da Doença de Chagas revela um quadro complexo de manifestações que se desenvolvem ao longo das fases aguda e crônica da infecção. A evidência acumulada confirma que a resposta inflamatória intensa durante a fase aguda é um fator crítico para o desenvolvimento de complicações, como miocardite e sintomas sistêmicos. A progressão para a fase crônica, marcada por miocardiopatia e disfunções digestivas, é atribuída à persistência do Trypanosoma cruzi e à resposta inflamatória prolongada (Hochberg et al., 2023).
Estudos recentes corroboram a importância da fibrose miocárdica como um marcador significativo para a gravidade da miocardiopatia chagásica (Toniazzo et al., 2022). A persistência da inflamação e a subsequente fibrose contribuem para a disfunção cardíaca progressiva observada na fase crônica da doença. Essa descoberta destaca a necessidade de monitoramento contínuo e intervenções precoces para mitigar os efeitos a longo prazo da infecção.
O tratamento medicamentoso é fundamental para a abordagem da fase aguda e, em alguns casos, da fase crônica da Doença de Chagas. Os medicamentos antiparasitários atualmente recomendados incluem:
Benznidazol: Este é o fármaco de primeira linha para o tratamento da fase aguda da Doença de Chagas. O benznidazol atua inibindo a síntese de ácido nucleico no T. cruzi, levando à morte do parasita. Estudos demonstram que o tratamento com benznidazol é eficaz na redução da carga parasitária e na prevenção de progressão para a fase crônica (Bern et al., 2021; Rassi et al., 2010).
Nifurtimox: Outro antiparasitário utilizado, o nifurtimox age de maneira semelhante ao benznidazol, gerando radicais livres que causam danos ao DNA do parasita. Este medicamento é frequentemente usado em situações onde o benznidazol não está disponível ou não é tolerado (Coura & Borges-Pereira, 2019).
No entanto, o tratamento antiparasitário na fase crônica da Doença de Chagas é menos eficaz e é geralmente reservado para pacientes com formas graves da doença ou complicações (Moreno et al., 2022). Além dos medicamentos antiparasitários, a gestão da Doença de Chagas inclui tratamentos não medicamentosos que são essenciais para o manejo das complicações crônicas e melhoria da qualidade de vida dos pacientes:
Tratamento Cardiológico: A miocardiopatia chagásica, uma das complicações mais graves da fase crônica, requer uma abordagem cardiológica detalhada. A terapêutica inclui o uso de medicamentos para controle da insuficiência cardíaca, como inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), betabloqueadores e diuréticos, além de monitoramento regular da função cardíaca (Rassi et al., 2018).
Tratamento Gastrointestinal: Para complicações digestivas como megaesôfago e megacólon, pode ser necessário tratamento cirúrgico ou medidas de suporte, como dietas especiais e técnicas de manejo sintomático. O acompanhamento com gastroenterologistas e especialistas em cirurgia é crucial para a gestão desses sintomas (Lima et al., 2021).
Cuidados de Suporte e Reabilitação: A reabilitação e os cuidados de suporte desempenham um papel importante no manejo da Doença de Chagas crônica. Isso inclui a educação dos pacientes sobre a doença, estratégias para lidar com sintomas e a implementação de terapias de reabilitação para melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade (Toniazzo et al., 2022).
Portanto, o tratamento da Doença de Chagas é multifacetado, combinando terapias medicamentosas para controle da infecção e abordagens não medicamentosas para manejo das complicações crônicas. Enquanto os antiparasitários como benznidazol e nifurtimox são essenciais na fase aguda e para alguns casos crônicos, a abordagem não medicamentosa, incluindo tratamento cardiológico, gastrointestinal e de suporte, é fundamental para a gestão abrangente da doença e melhoria da qualidade de vida dos pacientes. A integração dessas abordagens terapêuticas permite um manejo mais eficaz e uma abordagem personalizada para cada paciente.
CONCLUSÃO
A Doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, revela uma complexidade patológica significativa que se manifesta de forma distinta nas fases aguda e crônica da infecção. Na fase aguda, a inflamação generalizada e os sintomas iniciais, como febre e dor, refletem a resposta inflamatória do organismo à presença do parasita. Se não tratada adequadamente, a infecção pode evoluir para a fase crônica, caracterizada por complicações graves como a miocardiopatia chagásica e distúrbios digestivos severos.
Estudos demonstram que a miocardiopatia chagásica, um dos principais problemas na fase crônica, é associada a uma série de alterações cardíacas, incluindo a dilatação ventricular e fibrose miocárdica, que podem levar a insuficiência cardíaca e arritmias. Além disso, as complicações digestivas como megaesôfago e megacólon são resultado da degeneração das células nervosas do sistema digestivo, evidenciando a necessidade de uma abordagem especializada para o tratamento dessas manifestações.
O tratamento medicamentoso, envolvendo antiparasitários como benznidazol e nifurtimox, é crucial para controlar a infecção, especialmente na fase aguda. Esses medicamentos desempenham um papel fundamental na redução da carga parasitária e na prevenção da progressão para a fase crônica. Contudo, a eficácia desses tratamentos é limitada na fase crônica, o que destaca a importância de estratégias adicionais para o manejo das complicações a longo prazo.
A abordagem não medicamentosa, incluindo cuidados cardiológicos e gastrointestinais, além de suporte e reabilitação, é essencial para a gestão completa da Doença de Chagas. O tratamento das complicações cardíacas e digestivas requer uma abordagem multidisciplinar para otimizar a qualidade de vida dos pacientes e minimizar os impactos da doença.
Portanto, uma gestão eficaz da Doença de Chagas deve integrar terapias antiparasitárias com estratégias abrangentes para o tratamento das complicações crônicas. A combinação dessas abordagens permite um manejo mais eficaz da doença e oferece perspectivas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A contínua evolução das práticas clínicas e a pesquisa adicional são fundamentais para aprimorar o tratamento e a prevenção da Doença de Chagas, uma condição que continua a representar um desafio significativo para a saúde pública global.
Uma lacuna importante identificada é a necessidade de mais estudos longitudinais que possam esclarecer a progressão das alterações patológicas ao longo do tempo e o impacto das terapias atuais. Além disso, a variabilidade na apresentação clínica da Doença de Chagas sugere que novas abordagens personalizadas para diagnóstico e tratamento possam ser necessárias.
Em suma, os resultados desta revisão integrativa sublinham a complexidade da Doença de Chagas e a importância de um enfoque multifacetado para seu manejo. A integração de novas descobertas científicas e tecnologias terá um papel crucial no aprimoramento das estratégias de tratamento e na melhoria dos resultados para os pacientes afetados pela doença.
REFERÊNCIAS
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2 Orcid: 0009-0002-0037-5454
3 Orcid: 0009-0005-1615-5220
4 Orcid: 0009-0000-9493-4979
5 Estudante de Medicina
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7 Acadêmica de Medicina na Universidade Federal do Cariri, Orcid: 0009-0006-8978-7699
8 Discente de Medicina na Universidade Federal do Cariri, Orcid: 0009-0008-0867-9974
9 Médico pela UFCA, Orcid: 0009-0003-6365-6795
10 Discente de Medicina na Universidade Federal do Cariri, Orcid: 0009-0000-0095-4363
11 Discente de Medicina na Universidade Federal do Cariri, Orcid: 0009-0005-8901-5456
12 Discente de Medicina na Universidade Federal do Cariri, Orcid: 0009-0001-0648-6852
13 Enfermeiro especialista em docência do ensino superior e especialista em atendimento de emergências pré –hospitalar
14 Técnico de Enfermagem e Estudante de Medicina, Orcid: 0009-0008-4916-9540
15 Estudante de Medicina alvesnaira104@gmail.com