REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10206739
Maria Aparecida Lima Farias1
Orientadora: Prof.ª. Ma. Rosália Elen Santos Ramos2
RESUMO
O diagnóstico para câncer de mama envolve o exame clínico das mamas e a recomendação de exames de imagem, como mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética, mas a confirmação só é feita através de biópsia. A mamografia é um exame radiológico mais utilizado para verificar a presença de lesões suspeitas de neoplasia mamária, podendo ser de rastreamento, se direcionada a mulheres assintomáticas, ou diagnósticas, quando realizada em mulheres que já apresentam sinais e sintomas da doença. Diante disso, considerando a importância do diagnóstico do câncer de mama para melhorar a qualidade de vida da população feminina, realizamos uma caracterização epidemiológica das mamografias diagnósticas realizadas nas mulheres com sinais e sintomas de câncer de mama ocorridos no estado de Alagoas entre os anos de 2014 e 2023. Utilizamos os dados provenientes do Sistema de Informação do Câncer (SISCAN) e apresentamos as características sociodemográficas e as características relacionadas ao resultado do exame. Demostramos que as principais características epidemiológicas entre os que realizaram mamografia com finalidade diagnóstica no estado de Alagoas foi o sexo feminino, a faixa etária de 30 a 44 anos, que não possuíam risco elevado, não tinham realizado mamografia anterior, tinham características de pele e mama consideradas normal, com classificação de risco 2 e que o tamanho do nódulo foi ignorado. Além disso, ao longo dos anos a realização deste exame diminuiu consideravelmente. Com isso, ressaltamos a importância do exame para o diagnóstico precoce, bem como da alimentação dos sistemas de informação para realização de trabalhos como o nosso que busquem contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população
Palavras-chave: Neoplasia mamária; diagnóstico; prevenção; epidemiologia.
ABSTRACT
The diagnosis of breast cancer involves a clinical examination of the breasts and the recommendation of imaging tests, such as mammography, ultrasound or magnetic resonance imaging, but confirmation is only done through biopsy. Mammography is the radiological exam most used to check the presence of lesions suspected of breast neoplasia, and can be used for screening, if directed at asymptomatic women, or for diagnosis, when performed on women who already show signs and symptoms of the disease. Therefore, considering the importance of diagnosing breast cancer for improving the quality of life of the female population, we carried out an epidemiological characterization of diagnostic mammograms performed on women with previous signs and symptoms of breast cancer in the state of Alagoas between 2014 and 2023. We used data from the Cancer Information System (SISCAN) and presented sociodemographic characteristics and characteristics related to test results. We demonstrated that the main epidemiological characteristics among those who underwent mammography for diagnostic purposes in the state of Alagoas were female, aged between 30 and 44 years, who were not at high risk, had not had a previous mammogram, and had skin and breast characteristics considered normal, with risk classification 2 and that the size of the nodule was ignored. Furthermore, over the years the number of people taking this exam has decreased considerably. With this, we highlight the importance of testing for early diagnosis, as well as feeding information systems to carry out work like ours that seek to contribute to improving the population’s quality of life.
Keywords: Breast neoplasm; diagnosis; prevention; epidemiology.
1. INTRODUÇÃO
O câncer de mama é um dos mais importantes problemas de saúde pública que afetam mulheres no mundo. É a neoplasia mais frequentemente diagnosticada e a segunda que mais acomete mulheres em todo o mundo e também no Brasil (Bray et al., 2018; Brasil, 2023a). Os fatores que estão associados ao risco aumentado de desenvolvimento deste câncer são diversos, incluindo idade, raça, baixo poder aquisitivo, fatores genéticos, fatores hormonais como idade da menarca e idade da primeira gravidez, amamentação e fatores relacionados ao estilo de vida, como alimentação atividade física, uso de álcool e tabaco (Lukasiewicz Et al., 2021).
As estimativas para o câncer de mama do Brasil não são animadoras, no ano de 2020 o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estimou que ocorreram 66.280 casos novos, em 2022 ocorreram 73.619 e no ano de 2025 a expectativa é que ocorram 74.000 casos novos. Além disso, esse mesmo padrão segue para a mortalidade pela doença, principalmente em mulheres acima dos 50 anos (Brasil 2023a; 2023b; INCA, 2023).
O diagnóstico para câncer de mama envolve o exame clínico das mamas e a recomendação de exames de imagem, como mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética, mas a confirmação só é feita através de biópsia. Além disso, a melhor estratégia atualmente recomendada pela Organização da Saúde é a detecção precoce, que envolve a realização do exame clínico pelas próprias mulheres e mamografias bienais para aquelas entre 50 e 69 anos. Essa estratégia visa garantir a integridade assistencial em todas as etapas da linha de cuidado da doença, uma vez que atrasos no diagnóstico aumentam as possibilidades de falha no tratamento e, consequentemente, morte (INCA 2021; Brasil, 2023b).
A mamografia é um exame radiológico mais utilizado para verificar a presença de lesões suspeitas de neoplasia mamária, podendo ser de rastreamento, se direcionada a mulheres assintomáticas, ou diagnóstica, quando realizada em mulheres que já apresentam sinais e sintomas da doença (INCA, 2021). Portanto, apresentar informações sobre a situação epidemiológica do câncer de mama com dados referentes às mamografias em determinada área podem ajudar os serviços de saúde a elaborar e reforçar as estratégias de prevenção e controle para este grande problema de saúde pública.
Neste contexto e considerando a importância do diagnóstico do câncer de mama para melhorar a qualidade de vida da população feminina, realizamos uma caracterização epidemiológica das mamografias diagnósticas realizadas nas mulheres com sinais e sintomas de câncer de mama ocorridos no estado de Alagoas entre os anos de 2014 e 2023. Para isso, utilizamos as informações sociodemográficas e os dados relacionados aos resultados do exame provenientes do Sistema Nacional do Câncer (SICAN).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A enfermagem na prevenção do câncer de mama
Dentro dos protocolos de saúde, enfermeiras e enfermeiros são protagonistas na promoção da saúde da mulher, já que é ele quem acolhe, avalia, realiza o exame clínico e orienta essas mulheres sobre os cuidados relacionados ao câncer, além disso cabe ao profissional a solicitação da mamografia que auxiliar no diagnóstico precoce do câncer de mama. O diagnóstico pode ser emocionalmente desafiador, e nesse momento, os profissionais oferecem apoio emocional e psicológico às pacientes e suas famílias, auxiliando-as a enfrentar o medo, a ansiedade e o estresse associados ao diagnóstico e tratamento (COREN, 2023).
O acesso aos serviços de saúde, porém, faz toda a diferença. “Isso é fundamental para a pronta investigação diagnóstica das mulheres sintomáticas e tratamento de qualidade em tempo oportuno para aquelas que tiverem o diagnóstico de câncer confirmado”, completa. ( Rede Câncer , 2016).
A enfermagem, assim como toda equipe de saúde, possui um papel essencial no tratamento do câncer de mama. Os enfermeiros fornecem informações essenciais sobre a conscientização das mulheres, sobre a importância da detecção precoce da doença e a necessidade de mamografias regulares. Além disso, instruem sobre o autoexame das mamas e elucidam os fatores de risco associados à doença. Sua abordagem holística, que considera tanto os aspectos físicos quanto emocionais, é fundamental para aprimorar os resultados e a qualidade de vida das pessoas afetadas pela doença. Os enfermeiros também promovem a adoção de estilos de vida saudáveis, como alimentação equilibrada e exercícios regulares, como meios eficazes de prevenção (COREN, 2023).
2.2 Formas de apresentação do câncer de mama
De acordo com Oncoguia (2020) existem vários tipos de câncer de mama e maneiras diferentes de descrevê-los. O tipo de câncer de mama é determinado pelas células específicas da mama afetadas. A maioria dos cânceres de mama são carcinomas, que são tumores que começam nas células epiteliais que revestem órgãos e tecidos do corpo. Quando os carcinomas se formam na mama, geralmente são um tipo específico denominado adenocarcinoma, que começa nas células de um ducto mamário ou nas glândulas produtoras de leite (lóbulos). O tipo de câncer de mama também pode se referir se o câncer se disseminou ou não.
O câncer de mama “in situ” é aquele que tem seu início nos ductos de leite da mama e permanece restrito a essa área, sem se espalhar para o tecido circundante. Por outro lado, o termo “câncer de mama invasivo” ou “infiltrante” é usado para descrever qualquer tipo de câncer de mama que se disseminou no tecido mamário circundante (Oncoguia, 2020).
2.3 Fisiopatologias do câncer
Câncer de mama é uma doença complexa que envolve alterações na fisiologia normal das células mamárias, caracterizado por um crescimento rápido e desordenado de células. A fisiopatologia do câncer de mama envolve uma série de eventos que levam à formação e crescimento descontrolado de células malignas no tecido mamário. As células cancerígenas mamárias perdem a capacidade de regular o seu ciclo celular normal, se multiplicam e se dividem de forma descontrolada, resultando em um acúmulo progressivo de células cancerosas (Sanar, 2021)
2.4 Métodos preconizados para o rastreamento de câncer de mama
De acordo com as Diretrizes INCA (2019), para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil, a mamografia de rastreamento é recomendada para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos, sendo que fora dessa faixa etária e periodicidade os riscos aumentam e há maior incerteza sobre os benefícios. É importante ressaltar que a sensibilidade da mamografia é reduzida em mulheres, com pré-menopausa devido à maior densidade das mamas, resultando em um maior número de resultados falso-negativos e falso-positivos. O Ministério da Saúde e as principais diretrizes e programas de rastreamento ao redor do mundo não recomendam o rastreamento com mamografia em mulheres com menos de 50 anos, devido aos possíveis danos que superam os benefícios.
É muito importante que as mulheres sejam informadas sobre os riscos e benefícios do rastreamento mamográfico, incluindo resultados falso-positivos, falso-negativos e possibilidade de sobre diagnóstico e sobre tratamento. Para mulheres entre 50 e 69 anos, com periodicidade bienal, os possíveis benefícios do rastreamento superam os riscos.
Atualmente, o autoexame das mamas não é recomendado como técnica de rastreamento, devido à baixa efetividade e possíveis danos associados, mas é importante que as mulheres estejam atentas às alterações suspeitas e procurem atendimento médico rapidamente. Além do acesso à mamografia de rastreamento, é fundamental o controle de fatores de risco conhecidos e a estruturação da rede assistencial para garantir a investigação diagnóstica e o acesso ao tratamento de qualidade. Esses esforços dependem do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) para assegurar o acesso à saúde pública de qualidade para toda a população brasileira (INCA, 2019).
2.5 Aspectos epidemiológicos do câncer de mama
No Brasil, a política brasileira de rastreamento de câncer está baseada na pactuação entre Colegiados de Gestão Regionais. Conforme essa pactuação, as mulheres residentes em municípios sem mamógrafos, ou que não possuem equipamentos suficientes para examinar toda a população elegível, devem ser atendidas em outras cidades (Cunha et al.,2019).
O câncer de mama é o mais incidente na população feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma. Políticas públicas nessa área vêm sendo desenvolvidas no Brasil desde meados dos anos 80 e foram impulsionadas pelo Programa Viva Mulher, em 1998. Atualmente, o controle do câncer de mama é uma prioridade da agenda de saúde do país e integra o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2021-2030 (INCA 2022).
2.6 Fatores de risco para o câncer de mama
Os fatores de risco que estão mais vinculados ao desenvolvimento do câncer de mama são a idade avançada – segundo fator de risco mais forte – as características reprodutivas, a história familiar e pessoal, os hábitos de vida e as influências ambientais. No entanto, o fator de risco mais importante é o gênero, já que no sexo feminino a doença tem uma maior frequência chegando à incidência de 100 a 150 vezes superior quando comparado com o sexo masculino, este fato é explicado pela quantidade superior de tecido mamário e exposição ao estrogênio endógeno nas mulheres (Oliveira et al, 2020).
Em relação aos seus fatores de risco, consideram-se o sexo feminino e a faixa etária dos 50 anos os mais importantes, sendo raro antes dos 30 anos1. A presença de genes BRCA1 e BRCA2, maior densidade de tecido mamário, primeira gestação tardia, curto ou nulo período de amamentação, histórico familiar, menarca precoce, menopausa tardia, exposição à radiação, entre outros, também são fatores de risco para o câncer de mama (Dias, Flote, Mourão, 2022).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este é um trabalho do tipo ecológico de série temporal realizado no estado de Alagoas entre os anos de 2014 a 2023. Alagoas é um estado que compõe a região Nordeste do Brasil, possui 102 municípios, uma população de 3.127.683 habitantes, distribuídos em uma área de 27.839.661 km2 e uma densidade demográfica de 112,38 hab/km2 (IBGE, 2022).
Os dados foram coletados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) através do Sistema de Informação do Câncer (SISCAN) (https://datasus.saude.gov.br/acesso-a-informacao/sistema-de-informacao-docancer-siscan-colo-do-utero-e-mama/). Utilizamos como desfecho do estudo a mamografia diagnóstica realizada nas mulheres com sinal e sintoma de câncer de mama prévios à mamografia e como variáveis secundárias as características sociodemográficas disponíveis (sexo, faixa etária e raça) e as características relacionadas ao resultado do exame (risco elevado, mamografia anterior, características da pele da mama direita, características da mama direita, características da pele da mama esquerda, características da mama esquerda, classificação dos resultados das mamografias e tamanho do nódulo)
Foram calculadas as frequências relativas e absolutas e os resultados expressos em tabela.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de 2013 a 2022 foram registradas apenas 727 mamografias diagnósticas realizadas nas mulheres com sinal e sintoma de câncer de mama previo à mamografia. Este valor pode ser considerado muito baixo quando comparado aos 620 novos casos que ocorreram no estado somente no ano de 2022 (INCA, 2022), indicando uma falha no SICAN para as informações sobre mamografias. Além disso, as estimativas do Ministério da Saúde até 2025 projetam mais de 7.100 ocorrências (Brasil, 2023c). Esses valores também são muito divergentes com um estudo realizado no Pará em um período menor que o nosso (2017 a 2021) e que foram realizadas 4.074 mamografias de diagnóstico (Júnior et al., 2023).
Do total de mamografias diagnósticas realizadas, 85,3% eram do sexo feminino, 49% tinham entre 30 e 44 anos e a escolaridade foi ignorada em 99,7% dos casos. Em todas as categorias o ano de 2017 apresentou o maior número de registros (Tabela 1).
De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro o câncer de mama em homens é raro, representando menos de 1% do total de casos, corroborando com nossos resultados (Brasil, 2023a). Entretanto, a faixa etária de 30 a 44 anos com maior frequência na realização de mamografias diagnóstica revela um sinal preocupante para o câncer de mama no estado, pois diverge com as informações nacionais, onde as mulheres acima de 50 anos são as mais diagnosticadas com a patologia, indicando que também realizam mais o exame (Brasil, 2022). Apesar disso, como está incluído na estratégia de detecção precoce, esta faixa etária possui melhores perspectivas de acompanhamento do seu estado de saúde ao longo dos anos. Uma análise feita no Brasil demonstrou que a mamografia regular associada ao atendimento é capaz de reduzir em 40 a 45% o índice de mortalidade por câncer de mama (Ohl et al., 2016).
Apesar da escolaridade ter sido ignorada na grande maioria das mamografias diagnóstica, já está bem documentado que o câncer de mama é mais incidente em populações em vulnerabilidade social, que não possuem acesso a informações sobre a importância do autoexame e de procurar o serviço de saúde para realização da mamografia diagnóstica, tampouco para realização da mamografia preventiva.
Tabela 1. Características sociodemográficas relacionadas a mamografia diagnóstica realizada nas mulheres com sinal e sintoma de câncer de mama prévios à mamografia entre os anos de 2014 a 2023 no estado de Alagoas.
Variáveis | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | Total (%) |
Sexo | |||||||||||
Feminino | 27 | 22 | 32 | 169 | 127 | 118 | 41 | 29 | 42 | 13 | 620 (85,3) |
Masculino | – | 2 | 9 | 19 | 19 | 26 | 10 | 11 | 8 | 3 | 107 (14,7) |
Faixa etária | |||||||||||
15 a 29 anos | 1 | 3 | 5 | 8 | 5 | 7 | 2 | 4 | 7 | 1 | 43 (5,9) |
30 a 44 anos | 9 | 13 | 26 | 103 | 73 | 78 | 15 | 15 | 18 | 6 | 356 (49,0) |
45 a 69 anos | 11 | 6 | 6 | 66 | 47 | 42 | 28 | 16 | 12 | 7 | 241 (33,1) |
≥60 anos | 6 | 2 | 4 | 11 | 21 | 17 | 6 | 5 | 13 | 2 | 87 (12,0) |
Escolaridade | |||||||||||
EFI | 2 | – | – | – | – | – | – | – | – | – | 2 (0,3) |
Ignorado | 25 | 24 | 41 | 188 | 146 | 144 | 51 | 40 | 50 | 16 | 725 (99,7) |
Legenda: -: sem informações; EFI: ensino fundamental incompleto.
Sobre as características relacionadas ao resultado da mamografia diagnóstica, observamos que 53,2% dos casos não apresentavam risco elevado e 45,7% não tinham realizado mamografia anterior. A característica da pele da mama direita (96,8% normal) e esquerda (97,0% normal) apresentou valores semelhantes e o mesmo ocorreu para variável característica da mama direita (30,3% densa e 30,1 adiposa) e da mama esquerda (30,0% densa e 30,9% adiposa). A classificação da mamografia indicou que 55,4% apresentavam categoria 2 e apenas 0,3% apresentavam categoria 6. Por fim, 12,8% apresentaram algum nódulo e em 4,8% o nódulo estava com tamanho entre 21 e 50 mm (Tabela 2).
Esses resultados podem ser considerados positivos, levando em consideração a saúde da população feminina que apresenta algum sinal ou sintoma prévio de câncer de mama, pois demonstramos que do estudo não tinham risco elevado, apresentavam características de pele e mama consideradas normais, foram classificados como categoria 2 que representa um achado benigno como cistos simples, confluentes, debris, septados, linfonodos intramamário e alterações pós-cirurgia ou radioterapia (INCA, 2007).
Analisando os anos de estudo, observamos que o maior número de mamografias realizadas ocorreu em 2017, mas que ao longo dos anos a frequência diminuiu de forma considerável, especialmente a partir de 2020 (Tabela 1; tabela 2). Esses resultados sugerem que a pandemia da COVID-19 afetou a realização das mamografias diagnóstica no estado de Alagoas, levando em consideração que durante o contexto da pandemia o INCA recomendou que a equipe multidisciplinar da saúde desencorajar a população a buscar a atenção básica para fazer o rastreio do câncer, remarcaram as mamografias e adiassem para um momento em que houvesse uma flexibilização nas restrições desse período (INCA, 2020). No entanto, curiosamente, mesmo após a pandemia esses valores se mantêm baixos.
Tabela 2. Características relacionadas ao resultado da mamografia diagnóstica realizada nas mulheres com sinal e sintoma de câncer de mama prévios à mamografia entre os anos de 2013 a 2022 no estado de Alagoas.
Variáveis | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | Total (%) |
Risco elevado | |||||||||||
Sim | 7 | 6 | 14 | 27 | 19 | 28 | 7 | 7 | 18 | 4 | 137 (18,8) |
Não | 16 | 14 | 12 | 111 | 91 | 73 | 23 | 15 | 25 | 7 | 387 (53,2) |
Não Sabe | 4 | 2 | 5 | 31 | 17 | 17 | 11 | 7 | 7 | 5 | 106 (14,6) |
Ignorado | – | 2 | 10 | 19 | 19 | 26 | 10 | 11 | – | – | 97 (13,3) |
Mamografia anterior | |||||||||||
Sim | 17 | 7 | 8 | 85 | 64 | 66 | 26 | 17 | 25 | 11 | 326 (44,8) |
Não | 8 | 9 | 29 | 82 | 71 | 70 | 21 | 17 | 20 | 5 | 332 (45,7) |
Não Sabe | 2 | 8 | 4 | 21 | 11 | 8 | 4 | 6 | 5 | – | 69 (9,5) |
CPMD | |||||||||||
Normal | 24 | 24 | 40 | 184 | 141 | 141 | 48 | 38 | 49 | 15 | 704 (96,8) |
Alterada | – | – | – | 2 | 1 | 1 | 2 | 1 | – | 1 | 8 (1,1) |
Ignorado | 3 | – | 1 | 2 | 4 | 2 | 1 | 1 | 1 | – | 15 (2,1) |
CMD | |||||||||||
Densa | 6 | 7 | 3 | 35 | 59 | 50 | 31 | 10 | 13 | 6 | 220 (30,3) |
Adiposa | 7 | 5 | 11 | 104 | 34 | 37 | 6 | 6 | 7 | 2 | 219 (30,1) |
PD | 5 | 8 | 9 | 20 | 24 | 34 | 8 | 13 | 16 | 1 | 138 (19,0) |
PA | 6 | 4 | 17 | 27 | 25 | 21 | 5 | 10 | 13 | 7 | 135 (18,6) |
Ignorado | 3 | – | 1 | 2 | 4 | 2 | 1 | 1 | 1 | – | 15 (2,1) |
CPME | |||||||||||
Normal | 26 | 23 | 40 | 182 | 141 | 140 | 51 | 38 | 49 | 15 | 705 (97,0) |
Alterada | – | – | – | 3 | 3 | 1 | – | 1 | – | – | 8 (1,1) |
Ignorado | 1 | 1 | 1 | 3 | 2 | 3 | – | 1 | 1 | 1 | 14 (1,9) |
CME | |||||||||||
Densa | 6 | 7 | 3 | 33 | 59 | 49 | 31 | 10 | 14 | 6 | 218 (30,0) |
Adiposa | 8 | 5 | 12 | 103 | 38 | 37 | 8 | 5 | 6 | 3 | 225 (30,9) |
PD | 5 | 6 | 11 | 22 | 22 | 35 | 8 | 14 | 16 | – | 139 (19,1) |
PA | 7 | 5 | 14 | 27 | 25 | 20 | 4 | 10 | 13 | 6 | 131 (18,0) |
Ignorado | 1 | 1 | 1 | 3 | 2 | 3 | – | 1 | 1 | 1 | 14 (1,9) |
CRM | |||||||||||
Cat. 0 | 10 | – | 5 | 23 | 25 | 18 | 4 | 9 | 12 | 3 | 109 (15,0) |
Cat. 1 | 6 | 9 | 20 | 42 | 21 | 35 | 9 | 15 | 12 | 4 | 173 (23,8) |
Cat. 2 | 8 | 13 | 13 | 114 | 91 | 84 | 36 | 15 | 23 | 6 | 403 (55,4) |
Cat. 3 | 2 | – | – | 3 | 2 | 3 | – | – | – | – | 10 (1,4) |
Cat. 4 | 1 | 1 | 3 | 4 | 4 | 4 | 1 | 1 | – | 3 | 22 (3,0) |
Cat. 5 | – | 1 | – | 2 | 2 | – | 1 | – | 2 | – | 8 (1,1) |
Cat. 6 | – | – | – | – | 1 | – | – | – | 1 | – | 2 (0,3) |
Tamanho do nódulo | |||||||||||
<=10 mm | 1 | – | – | 3 | 4 | 5 | 1 | 1 | 6 | 1 | 22 (3,0) |
11-20 mm | 4 | 1 | – | 6 | 8 | 7 | 1 | 1 | 3 | – | 31 (4,3) |
21-50 mm | 2 | 1 | 2 | 7 | 7 | 5 | 2 | 4 | 3 | 2 | 35 (4,8) |
>50 mm | 1 | – | 1 | 1 | 1 | 1 | – | – | – | – | 5 (0,7) |
Ignorado | 19 | 22 | 38 | 171 | 126 | 126 | 47 | 34 | 38 | 13 | 634 (87,2) |
Legenda: -: sem informações; CPMD: características da pele da mama direita; CMD: características da mama direita; PD: predominantemente densa; PA: predominantemente adiposa; CPME: características da pele da mama esquerda; CME: características da mama esquerda; CRM: classificação dos resultados das mamografias; Cat.: Categoria.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Demostramos que as principais características epidemiológicas entre os que realizaram mamografia com finalidade diagnóstica no estado de Alagoas foi o sexo feminino, a faixa etária de 30 a 44 anos, que não possuíam risco elevado, não tinham realizado mamografia anterior, tinham características de pele e mama consideradas normal, com classificação de risco 2 e que o tamanho do nódulo foi ignorado. Além disso, ao longo dos anos a realização deste exame diminuiu consideravelmente.
Nossos dados revelam que existe uma falha no registro de mamografias com finalidade diagnóstica em Alagoas que não condizem com a realidade do estado. No entanto, ressaltamos a importância do exame para o diagnóstico precoce, bem como da alimentação dos sistemas de informação para realização de trabalhos como o nosso que busquem contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população
Por fim, este estudo não é apenas uma contribuição ao conhecimento científico, mas uma ferramenta prática para contribuir com decisões de políticas públicas, melhorando a qualidade dos serviços de saúde e, beneficiando diretamente a saúde das mulheres. Faz-se necessário, que as estratégias de combate ao câncer de mama sejam realizadas, garantindo a oportunidade dessas mulheres terem o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, proporcionando melhorias na saúde pública no estado de Alagoas.
LISTA DE SIGLAS
AEM Autoexame das mamas
CPMD Características da pele da mama direita
CPME Características da pele da mama esquerda
CME Características da mama esquerda;
CRM Classificação dos resultados das mamografias
CTA Categoria
CMD Características da mama direita
COVID Doença do coronavírus
DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
EFI Ensino Fundamental Incompleto.
INCA Instituto Nacional do Câncer
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
PD Predominantemente densa
PA Predominantemente adiposa
RH Recursos humanos
SISCAN Sistema Nacional de Câncer
REFERÊNCIAS
BRAY, Freddie et al. Global cancer statistics 2018: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin. [s.l], v. 68, p. 394-424, 12 set. 2018. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30207593/. Acesso em: 15 nov. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Câncer de mama. 2023a. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/cancer-de-mama. Acesso em 18 nov. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Câncer de mama. 2023b. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/mama. Acesso em 18 nov. 2023.
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