ASPECTO EPIDEMIOLÓGICO DE INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NO BRASIL, NOS ÚLTIMOS 5 ANOS

EPIDEMIOLOGICAL ASPECT OF HOSPITALIZATIONS AND DEATHS DUE TO HEART FAILURE IN BRAZIL, IN THE LAST 5 YEARS

ASPECTO EPIDEMIOLÓGICO DE LAS HOSPITALIZACIONES Y MUERTES POR INSUFICIENCIA CARDÍACA EN BRASIL, EN LOS ÚLTIMOS 5 AÑOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8079882


Gabriela de Gusmão Pedrosa Eugênio1; Giulia Góes Pachêco2; Luciano Feitosa D’Almeida Filho3; Arthur de Medeiros Carlos4; Everton Huan de Souza Lopes5; Igor Guedes Eugênio6; Lucas Rogério Lessa Leite Silva7;
Thamirys Cavalcanti Cordeiro dos Santos8; Sulany Ferreira Feitosa D’Almeida9; Nielson Mendes Marques10;
Danyel Lages Alves11; Júlia de Araújo Gomes12; Rodrigo Araújo de Melo13; José Cláudio da Silva14; Laércio Pol-Fachin15


Resumo

A insuficiência cardíaca (IC) é considerada, globalmente, uma questão de saúde pública, principalmente por sua alta prevalência. No Brasil, a IC é uma enfermidade comum, causando um grande número de hospitalizações e altas taxas de mortalidade. Apresenta impacto considerável na mortalidade e na qualidade de vida, apesar do tratamento instituído ter influência nesses dois fatores. Como o objetivo central deste estudo é identificar o aspecto epidemiológico das internações e dos óbitos por IC no Brasil, entre 2017 e 2021, tem-se expressividade na pesquisa científica médica, de maneira a constituir a primeira etapa da aplicação do método epidemiológico com vistas à compreensão do comportamento de um agravo à saúde numa população, visando descrever os caracteres epidemiológicos das doenças. O aspecto epidemiológico das internações e dos óbitos por IC possuem achados da alta prevalência nos atendimentos de urgência no Brasil, principalmente nos indivíduos com mais de 40 anos, com prevalência ainda maior na faixa etária idosa, sendo este um ponto de importante preocupação, visto que a população brasileira mantém uma tendência de envelhecimento. Além disso, o tratamento deve ser instituído tão logo seja confirmada a hipótese diagnóstica, para que a doença não seja descoberta tardiamente, ou seja, com complicações da IC. Portanto, estudos adicionais são necessários no futuro para investigar o prognóstico e os preditores das complicações clínicas e sistêmicas e assim obter resultados mais precisos acerca dessa patologia que acomete os cenários brasileiro e mundial.

Palavras-chave: Insuficiência cardíaca. Cardiologia. Epidemiologia Descritiva. Perfil de Saúde. Saúde Pública.

Abstract

Heart failure (HF) is globally considered a public health issue, mainly due to its high prevalence. In Brazil, HF is a common disease, causing a large number of hospitalizations and high mortality rates. It has a considerable impact on mortality and quality of life, although the treatment instituted has an influence on these two factors. As the main objective of this study is to identify the epidemiological aspect of hospitalizations and deaths from HF in Brazil, between 2017 and 2021, there is expressiveness in medical scientific research, in order to constitute the first step in the application of the epidemiological method with a view to understanding of the behavior of a health problem in a population, aiming to describe the epidemiological characteristics of the diseases. The epidemiological aspect of hospitalizations and deaths from HF have findings of high prevalence in emergency care in Brazil, especially in individuals over 40 years of age, with an even higher prevalence in the elderly age group, which is a point of important concern, since the Brazilian population maintains an aging trend. In addition, treatment should be instituted as soon as the diagnostic hypothesis is confirmed, so that the disease is not discovered late, that is, with HF complications. Therefore, additional studies are needed in the future to investigate the prognosis and predictors of clinical and systemic complications and thus obtain more accurate results about this pathology that affects Brazilian and global scenarios.

Keywords: Heart failure. Cardiology. Epidemiology, Descriptive. Health Profile. Public Health.

Resumen
La insuficiencia cardíaca (IC) es considerada a nivel mundial un problema de salud pública, principalmente por su alta prevalencia. En Brasil, la IC es una enfermedad común, provocando un gran número de hospitalizaciones y altas tasas de mortalidad. Tiene un impacto considerable en la mortalidad y la calidad de vida, aunque el tratamiento instaurado influye en estos dos factores. Siendo el principal objetivo de este estudio identificar el aspecto epidemiológico de las hospitalizaciones y muertes por IC en Brasil, entre 2017 y 2021, hay expresividad en la investigación científica médica, con el fin de constituir el primer paso en la aplicación del método epidemiológico con una vista a la comprensión del comportamiento de un problema de salud en una población. El aspecto epidemiológico de las hospitalizaciones y muertes por IC tiene hallazgos de alta prevalencia en la atención de emergencia en Brasil, especialmente en personas mayores de 40 años, con una prevalencia aún mayor en el grupo etario de ancianos, lo que es un punto de importante preocupación, ya que la La población brasileña mantiene una tendencia de envejecimiento. Además, el tratamiento debe instaurarse tan pronto como se confirme la hipótesis diagnóstica, para que la enfermedad no se descubra tarde, es decir, con complicaciones de la IC. Por lo tanto, se necesitan estudios adicionales en el futuro para investigar el pronóstico y los predictores de complicaciones clínicas y sistémicas y así obtener resultados más precisos sobre esta patología que afecta los escenarios brasileño y mundial.
Palabras clave: Insuficiencia cardíaca. Cardiología. Epidemiología Descriptiva. Perfil de Salud. Salud Pública.

1. Introdução

A insuficiência cardíaca, uma das principais formas de manifestação de doenças cardiovasculares, é considerada, em várias partes do mundo, uma questão de saúde pública, principalmente por sua alta prevalência. No Brasil, especialmente, a IC é uma enfermidade muito comum, causando um grande número de hospitalizações e altas taxas de mortalidade, principalmente na região Sudeste. Apresenta impacto considerável na mortalidade e qualidade de vida, apesar do tratamento instituído ter influência nesses dois fatores (Costa et al., 2020). Tal síndrome aumenta exponencialmente com a idade, sendo sua maior prevalência aos 70 anos, e é caracterizada por sintomas clássicos (como fadiga e dispneia) que podem ser acompanhados por sinais clínicos (ingurgitamento jugular, fervores pulmonares e edemas periféricos), causados por uma alteração cardíaca estrutural e/ou funcional, resultando na diminuição do débito cardíaco (DC) e/ou elevação das pressões intracardíacas em repouso ou no esforço (Fernandes et al., 2019).

É uma síndrome clínica de mau prognóstico caracterizada por disfunção cardíaca associada à intolerância aos esforços. A associação Brasileira de Cardiologia (SBC) classifica, em sua diretriz, a IC perante à fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), tendo portanto o diagnóstico sendo dividido em: IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr), apresentando FEVE ≤ 40% , ou preservada (ICFEp), ≥50%. Têm-se ainda, de acordo com a European Society of Cardiology (ESC), a classificação de IC com fração de ejeção levemente reduzida (ICFmEF), a qual é denominada de IC com fração de ejeção intermediária (ICFEi) pela SBC, e correponde à fração de ejeção entre 41-49%. Independente do estágio da insuficiência cardíaca, sendo o paciente estável ou não, a IC causa modificações estruturais e funcionais ao coração ocasionadas pelo aumento hemodinâmico da pós-carga, evoluindo à hipertrofia ventricular. A hipertrofia cardíaca progride para disfunção com perda de função e redução da fração de ejeção e/ou aumento da pressão intracardíaca no repouso ou em exercício. Essas alterações são manifestadas principalmente com fadiga e dispneia aos pequenos esforços, o que limita a tolerância ao exercício e prejudica a qualidade de vida dos pacientes (Dantas et al., 2022).

As comorbidades têm um papel importante na apresentação clínica e nos desfechos dos pacientes com IC.  As comorbidades na insuficiência cardíaca mais frequentes incluem doença arterial coronariana, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência mitral, estenose aórtica, dislipidemias, obesidade, caquexia, diabetes mellitus, distúrbios da tireóide, nefropatias,asma, DPOC, anemia ferropriva, dentre outras.  Todos eles demonstraram ter um grande impacto na apresentação clínica, na resposta ao tratamento e nos resultados (Comitê Coordenador da Diretriz de Insuficiência Cardíaca, 2018).

A IC pode ser subdividida de acordo com lado cardíaco afetado, fisiopatologia, débito cardíaco e mecanismo compensatório. A não funcionalidade do lado esquerdo, conseguinte a insuficiência ventricular esquerda (IVE) pode ser desencadeado pela alta demanda exigida dos ventrículos, muito  vista  no  infarto  agudo  miocárdio,  cardiopatia  hipertensiva,  patologias  como  o estreitamento da valva mitral. A sintomatologia normalmente reflete à consequência da congestão pulmonar como a ortopneia, e dispneia. Já a insuficiência  cardíaca  direita  é  decorrente  do  distúrbio  do  lado miocárdico direito, precedente por inaptidão ventricular direita. A etiologia mais provável é por cor pulmonale, caracterizado por dilatação do ventrículo direito adjacente a obesidade mórbida,  doença  pulmonar  obstrutiva  crônica  e  pneumopatias.  As  manifestações  são derivadas da congestão sistêmica, a qual exibe turgência jugular do tipo doentia, ascite, edemaciamento dos membros inferiores e hepatomegalia.  O  tipo  conhecido  por  insuficiência  ventricular  do  tipo  biventricular,  como o próprio  nome  diz  se  refere  a  anormalidades  do  lado  direito  e  esquerdo  das  câmaras cardíacas e evolui com a congestão do tipo pulmonar e sistêmica. O quadro clínico geralmente têm início com a insuficiência do ventrículo esquerdo a qual progride e afeta o ventrículo direito (Pippi et al., 2022).

Diante disso, o atual trabalho tem por objetivo central identificar o aspecto epidemiológico das internações e dos óbitos por insuficiência cardíaca no Brasil, no intervalo dos anos de 2017 até 2021 (últimos 5 anos completos). O primeiro dos objetivos específicos da pesquisa é estudar a distribuição total do número de casos de IC diagnosticados via internações, no período de 2017 a 2021, de acordo com cada região do país. O segundo objetivo específico é analisar a distribuição do número de internações por IC, no período de 2017 a 2021, segundo caráter de atendimento. O terceiro objetivo específico é pesquisar o número de internações por IC, no período de 2017 a 2021, segundo gênero. O quarto objetivo específico é investigar o número de internações por IC, no período de 2017 a 2021, segundo faixa etária. O quinto objetivo específico é analisar as bases de dados de domínio público como ferramenta organizacional na elaboração de políticas públicas para a população com IC que não tem conhecimento sobre as suas complicações e tratamento, o que possibilita a elaboração de ações preventivas e assistenciais focadas nessa população.

2. Metodologia

Este é um estudo epidemiológico descritivo. Por não necessitar de hipótese, o objetivo de um estudo descritivo é essencialmente avaliar como as variáveis se distribuem, em vez de estudar como elas estão associadas entre si. Portanto, a criação de hipóteses explicativas a serem testadas são analisadas não pelos estudos descritivos, mas por estudos analíticos. Os estudos epidemiológicos descritivos possuem um papel expressivo na pesquisa científica médica, de maneira a constituir a primeira etapa da aplicação do método epidemiológico com vistas à compreensão do comportamento de um agravo à saúde numa população. É nessa etapa que descrevemos os caracteres epidemiológicos das doenças relativas à pessoa, ao tempo e ao lugar, entre outros caracteres singulares específicos (Waldman, 2015).

Os dados foram obtidos por meio de consulta às bases de dados Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do SUS, disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no endereço eletrônico http://www.datasus.gov.br, referentes ao período de 2017 a 2021. Também foram obtidas informações através das bases de dados PUBMED, SCIELO e GOOGLE ACADÊMICO, em que foram utilizadas as palavras-chave “insuficiência cardíaca”, “cardiologia”, “epidemiologia”, e as Keywords “heart failure”, “cardiology”, “epidemiology”. A população do estudo foi constituída por número de internações e óbitos por insuficiência cardíaca, diagnosticados no Brasil e registrados no período de 2017 a 2021. Os indicadores utilizados para a projeção dos resultados foram o número de internações e o número de óbitos por IC, sendo o Código da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) o I50 – Insuficiência Cardíaca. Para evitar informações incompletas no sistema, como o do ano de 2022 (ano vigente), optou-se por utilizar apenas os anos anteriores a 2022 disponíveis no sistema. A partir dos dados obtidos no SIH do DATASUS, foram construídos novos quadros no Microsoft Excel, que posteriormente foram analisados. Devido às informações obtidas por meio de um banco de dados de domínio público, não foi necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa.

3. Resultados

O Quadro 1 é referente ao número total de internações por IC, no Brasil, entre 2017 e 2021, segundo regiões, e ao avaliá-la estatisticamente, percebe-se que a região Sudeste lidera o número de casos com 41,78%. Pode-se inferir que esse maior número de internações na região Sudeste ocorre não apenas por seu grande volume populacional em comparação às demais regiões do país, tendo uma estimativa de 89.632.912 residentes (IBGE, 2021) mas também por possuir maior concentração de idosos, que representam 16,6% da população idosa total do país (IBGE, 2022).

Constata-se, ainda no Quadro 1, que o maior número de internações por ano ocorreu em 2017, com 22,14% dos casos. Isso pode ser explicado pelo crescente número de políticas de saúde em manejo dos fatores de risco e melhoria de qualidade de vida dos portadores da patologia , bem como na quantidade de procedimentos realizados que são capazes de identificar e tratar obstruções coronarianas, como o cateterismo e a angioplastia. Além disso, têm-se a redução das taxas de tabagismo um importante fator contribuinte, uma vez que é um um hábito predisponente e agravante da IC (Silva, 2021).

Quadro 1. Distribuição do número de internações por IC, diagnosticados no Brasil, segundo regiões, no intervalo de 2017 a 2021. Brasil, 2022

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2023

Visualiza-se que, no Quadro 2, o caráter de urgência representa 96,72% das internações por IC no período analisado. Esse dado já era esperado, uma vez que a maior parte dos internamentos por insuficiência cardíaca acontece por causas isquêmicas, chagásicas e hipertensivas. Como indicado pelo Quadro 1, a população idosa é a mais afetada, e estudos mostram que majoritariamente, idosos internados por IC moram sozinhos e possuem dificuldade em aderir ao tratamento de suas comorbidades de maneira adequada, levando à descompensação de seu quadro clínico e consequente hospitalização. Logo, o caráter eletivo é comprovadamente menos prevalente do que o caráter de urgência (Souza et al., 2018).

Quadro 2. Distribuição do número de internações por IC, diagnosticados no Brasil, segundo caráter de atendimento, no intervalo de 2017 a 2021. Brasil, 2022

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2023

O Quadro 3 apresenta a relação do número de internações por IC entre mulheres e homens e nota-se que os homens são ligeiramente mais afetados pela IC do que as mulheres, 51,78% a 48,22%. Essa diferença é evidenciada em demais estudos e considerada irrelevante para os resultados observados (Silva, 2021).

Quadro 3. Distribuição do número de internações por IC, diagnosticados no Brasil, segundo sexo. Brasil, 2022.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2023

No Quadro 4, referente à distribuição da IC por faixa etária, é evidenciado que o maior número de internações ocorre em pacientes entre 70 e 79 anos, representados por 26,39% das internações totais. Quando considerada a população idosa, ou seja, a partir de 60 anos, os dados de IC atingem 73,12% de prevalência. Tal fato deve-se pela relação direta entre o envelhecimento e o desenvolvimento de doenças cardíacas, evidências mostram que as comorbidades do sistema cardiovascular possuem influência não apenas genéticas mas comportamentais, tendo seu fenótipo alterado de acordo com os hábitos de vida do indivíduo (Massa et al., 2019).

Quadro 4. Distribuição do número de internações por IC, diagnosticados no Brasil, segundo faixa etária. Brasil, 2022.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2023

Ao analisar o número de óbitos por IC, segundo regiões, no Quadro 5, visualiza-se que a região Sudeste continua sendo a mais prevalente, com 47,19% dos óbitos, fato já esperado devido à região com maior população do território brasileiro (IBGE, 2022). Em contrapartida, quando comparados aos dados de internações por IC presentes no Quadro 1, houve um acréscimo de 5,41% na prevalência da região Sudeste, enquanto que nas outras regiões houve decréscimo. Estudos mostram que a qualidade de vida é o principal contribuinte para altas taxas de comorbidades e mortalidade na região (Tavares & Andrade, 2018).

Quadro 5. Distribuição do número de óbitos por IC, diagnosticados no Brasil, segundo regiões, no intervalo de 2017 a 2021. Brasil, 2022

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2023

4. Discussão

Foi observado que o aspecto epidemiológico rastreado em relação aos dados colhidos do número de internações por IC diagnosticados no Brasil, por todos os caráteres de atendimento foi de 942.508 casos, sendo que, destes, 11,71% vieram a óbito. Estudos mostram que dentre as classificações de IC, a ICFEp representa cerca de 50% dos casos e que, apesar de sua numerosidade, não possui tratamentos com quantidade significativa de benefícios ou redução de mortalidade, quando comparados à aqueles disponibilizados para pacientes com ICFEr, que possui prevalência similar (Sá Filho, 2019).

Uma vez que é uma doença heterogênea e com inúmeros fenótipos, o diagnóstico da ICFEp é complexo e não possui um padrão-ouro determinado. Apesar disso, as diretrizes atuais tendem a concordar de que este deve ser formulado a partir de um conjunto de achados clínicos que incluem sinais e sintomas de IC, o valor da FEVE, a presença de sinais no ecocardiograma que sugiram alteração estrutural e/ou disfunção diastólica, bem como níveis elevados de BNP (> 35-50 pg/mL) e/ou NT-proBNP (>125 pg/mL), que são peptídeos natriuréticos e possuem seus valores diretamente relacionados à maior mortalidade e hospitalização. Usualmente, pacientes com ICFEp possuem outras comorbidades que do sistema cardiovascular e dos demais sistemas, criando portanto a ideação de que esta surge do conjunto de alterações disfuncionais sistêmicas e cardiovasculares, tornando-a uma síndrome de alta complexidade que necessita de maiores estudos (Garcia et al., 2017).

Em publicação recente, a SBC definiu que a avaliação de dados clínicos, em conjunto com eletrocardiograma, ecocardiograma, radiografia de tórax e dados laboratoriais deve ser utilizada para o diagnóstico de ICFEp, bem como para determinar a probabilidade do paciente em questão ser um portador da síndrome ou não. Essa avaliação deve ser feita em pacientes com dispneia ou fadiga inexplicada, e devem ser analisados os escores de H2FPEF e HFA-PEFF para diagnóstico. Pacientes com escore H2FPEF ou HFA-PEFF com valores entre 0-1 são considerados com baixa probabilidade, H2FPEF entre 2-5 ou HFA-PEFF entre 2-4 com probabilidade intermediária, e H2FPEF entre 6-9 ou HFA-PEFF entre 5-6 com alta probabilidade. Em casos de probabilidade intermediária, é necessário realizar e considerar os resultados do ecocardiograma de estresse diastólico ou teste hemodinâmico invasivo (Fernandes-Silva et al., 2020).

Apesar de existirem inovações no estudo do diagnóstico da ICFEp, sua prática ainda é restrita e pouco valorizada, o que se faz marcante na falta de informações a respeito do tratamento específico para essa síndrome. Com isso, o tratamento atualmente é realizado a partir do controle das demais comorbidades que o paciente porta, tendo sido considerado seguro o uso de diuréticos, moduladores do eixo renina-angiotensina e estatinas. Ademais, betabloqueadores e o Sildenafil são medicações que podem ser utilizadas em casos especiais, selecionados e com a devida cautela (Shah et al., 2016 – Kitzman et al., 2016)

5. Conclusão

O aspecto epidemiológico das internações e dos óbitos por IC possuem achados da alta prevalência nos atendimentos de urgência no Brasil, principalmente nos indivíduos maiores de 40 (quarenta) anos de idade, com prevalência ainda maior na faixa etária idosa, sendo este um ponto de importante preocupação, visto que a população brasileira mantém a tendência de envelhecimento. Além disso, o tratamento deve ser instituído tão logo seja confirmada a hipótese diagnóstica, de forma lúcida e efetiva, para que a doença não seja descoberta tardiamente e o paciente já esteja acometido pelas complicações da IC.

Urge, portanto, a necessidade de estudos adicionais com a finalidade de estabelecer um consenso acerca  do diagnóstico e do tratamento da ICFEp, de maneira a visar uma redução no número de agravamentos e complicações trazidas pela IC, à proporção que promova a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Portanto, estudos adicionais são necessários no futuro para investigar o prognóstico e os preditores das complicações clínicas e sistêmicas no Brasil e assim obter resultados mais precisos acerca dessa patologia.

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5evertonhuan@hotmail.com
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10doutornielson@hotmail.com
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13rodrigomelo.lr@hotmail.com
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14Pós-Doutorado em Neurologia e Neurociência pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
jose.claudio@cesmac.edu.br
https://orcid.org/0000-0003-3749-2822
http://lattes.cnpq.br/5049153102872410

15Doutorado em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
laercio.fachin@cesmac.edu.br
https://orcid.org/0000-0002-4621-3031
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