AS TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E A PSICOLOGIA COGNITIVA: UMA ANÁLISE INTEGRADA DOS PROCESSOS DE PENSAMENTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502251958


Denise Dourado Arisawa¹
Alexandre Benecke²
Guilherme Andrade Rosa³
Sérgio Nunes Caitano Minacapilli⁴
Alex Salviano da Silva⁵


RESUMO

Este artigo analisa a intersecção entre as tecnologias da inteligência, conforme apresentadas por Pierre Lévy, e os processos cognitivos estudados pela psicologia cognitiva. Explora-se como diferentes tecnologias intelectuais influenciam os processos mentais e como a cognição humana se adapta e evolui em diferentes contextos tecnológicos. A pesquisa fundamenta-se nas teorias de Pierre Lévy sobre tecnologias da inteligência e nas contribuições contemporâneas da psicologia cognitiva. Através de uma metodologia qualitativa e revisão bibliográfica sistemática, investigou-se como diferentes tecnologias intelectuais influenciam os processos mentais humanos e sua evolução. Os resultados indicam uma significativa interrelação entre as tecnologias intelectuais e o desenvolvimento cognitivo, demonstrando alterações nas estruturas neurais e nos padrões de processamento de informação. Conclui-se que as tecnologias não são apenas ferramentas externas, mas elementos constitutivos dos processos cognitivos contemporâneos.

Palavras-chave: Tecnologias da Inteligência. Psicologia Cognitiva. Processos Cognitivos. Pierre Lévy. Desenvolvimento Neural.

ABSTRACT

This article presents an integrated analysis between intelligence technologies, based on Pierre Lévy’s work, and cognitive processes studied by modern cognitive psychology. The main objective is to investigate how different intellectual technologies influence human mental processes and their evolution over time. The methodology is based on qualitative bibliographic research, with documentary analysis of seminal works in the field of cognitive psychology and intelligence technologies. The results indicate a deep interrelation between intellectual technologies and human cognitive development, demonstrating how different technological supports modify not only ways of thinking but also the underlying neural structures.

Keywords: Intelligence Technologies. Cognitive Psychology. Cognitive Processes. Pierre Lévy. Neural Development.

1 INTRODUÇÃO A compreensão dos processos cognitivos humanos tem evoluído significativamente nas últimas décadas, especialmente quando consideramos a influência das tecnologias intelectuais no pensamento. Pierre Lévy, em “As Tecnologias da Inteligência”, oferece uma perspectiva fundamental sobre como diferentes tecnologias moldam nossa forma de pensar e processar informações.

2 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA COGNITIVA

Segundo Lévy (2010) a psicologia cognitiva estabelece que a inteligência ou cognição resulta de redes complexas onde interagem diversos atores humanos, biológicos e técnicos. O autor enfatiza que não é o indivíduo isoladamente que é inteligente, mas sim o indivíduo com seu grupo social, sua língua e toda uma herança de métodos e tecnologias intelectuais. Esta perspectiva fundamenta-se na ideia de que o conhecimento é construído coletivamente através de múltiplas interações e interfaces, onde as tecnologias intelectuais, como a escrita e a informática, desempenham papel crucial na organização e transmissão do saber.

Os processos cognitivos básicos, conforme apresentados na obra, incluem atenção, percepção, memória, linguagem, raciocínio e resolução de problemas. Lévy destaca particularmente o papel da memória, distinguindo três tipos principais: memória de trabalho (curto prazo), memória de longo prazo e memória sensorial. Esta classificação é fundamental para compreender como o ser humano processa, armazena e recupera informações, sendo que cada tipo de memória possui características e funções específicas no processo cognitivo global (LÉVY, 2010).

De acordo com Lévy (2010) o sistema cognitivo humano não funciona de maneira isolada ou puramente individual. O pensamento é resultado de uma rede na qual neurônios, módulos cognitivos, instituições de ensino, línguas, sistemas de escrita, livros e computadores se interconectam, transformam e traduzem as representações. Esta visão ecológica da cognição sugere que o processo de pensamento é sempre mediado por tecnologias intelectuais e construções sociais, que moldam e são moldadas pela atividade cognitiva humana.

Na perspectiva da psicologia cognitiva apresentada por Lévy, a memória humana opera de forma associativa e não linear. O autor explica que, quando ouvimos uma palavra, esta ativa uma rede de outras palavras, conceitos, modelos, imagens, sons, odores e sensações. Este processo de ativação em rede é fundamental para a compreensão e retenção de informações, sendo que o contexto desempenha papel crucial na seleção dos elementos que emergirão à consciência (LÉVY, 2010).

Lévy (2010) destaca que as estratégias de codificação são fundamentais para a memória de longo prazo. A elaboração, que consiste em criar conexões entre novos itens e conhecimentos já adquiridos, mostra-se mais eficaz que a simples repetição. Quanto mais complexas e numerosas forem as associações, melhores serão as performances mnemônicas. Este princípio é especialmente relevante para compreender como o conhecimento é construído e mantido ao longo do tempo.

A obra aborda a relação entre cognição e tecnologia, demonstrando como diferentes suportes tecnológicos modificam os processos cognitivos. Lévy argumenta que cada nova tecnologia intelectual reconfigura a ecologia cognitiva, alterando não apenas como armazenamos e processamos informações, mas também como pensamos e construímos conhecimento. Esta perspectiva é fundamental para compreender o impacto das tecnologias digitais na cognição contemporânea (LÉVY, 2010).

Para Lévy (2010)  psicologia cognitiva, segundo a análise de Lévy, reconhece a importância dos esquemas mentais na organização do conhecimento. Estes esquemas, desenvolvidos através da experiência, funcionam como estruturas cognitivas que facilitam a compreensão e interpretação de novas informações. O autor destaca como estas estruturas são influenciadas tanto por fatores individuais quanto por construções sociais e tecnológicas.

O conceito de simulação mental é apresentado como um aspecto crucial da cognição. Lévy explica que nossa capacidade de simular mentalmente situações e consequências é fundamental para a tomada de decisões e resolução de problemas. Esta habilidade é potencializada pelas tecnologias digitais, que permitem novas formas de simulação e experimentação, expandindo nossas capacidades cognitivas naturais (LÉVY, 2010).

Ainda em Lévy (2010) o papel das interfaces na cognição humana. Lévy argumenta que toda tecnologia intelectual funciona como uma interface que medeia nossa relação com o conhecimento. Estas interfaces não são neutras, mas configuram ativamente nossos modos de pensar e processar informações, estabelecendo novos paradigmas cognitivos e formas de organização do pensamento.

Por fim, Lévy (2010) destaca a dimensão coletiva da cognição, argumentando que o pensamento individual está sempre inserido em uma ecologia cognitiva mais ampla. Esta ecologia inclui não apenas outros indivíduos, mas também tecnologias, instituições e práticas culturais. Esta perspectiva sugere que a psicologia cognitiva deve considerar não apenas processos mentais individuais, mas também sua interação com o ambiente sociocultural e tecnológico.

3 A ORALIDADE E OS PROCESSOS COGNITIVOS

 Em conformidade com Lévy (2010) a era da oralidade primária, antes do advento da escrita, os processos cognitivos eram fundamentalmente estruturados pela necessidade de preservação e transmissão do conhecimento através da palavra falada. Lévy destaca que a inteligência, nestas sociedades, estava intimamente identificada com a memória, especialmente a auditiva, como evidenciado na escrita suméria que representava a sabedoria através de uma cabeça com grandes orelhas. O processamento cognitivo era caracterizado por uma forte dependência da memória coletiva, onde o pensamento era invariavelmente situacional e concreto, ligado às experiências imediatas da vida cotidiana. Esta forma de cognição privilegiava o conhecimento prático e contextualizado, em detrimento de abstrações teóricas que só se tornariam possíveis com o advento da escrita. O autor enfatiza que nas sociedades orais, o pensamento estava intrinsecamente vinculado ao ritmo e à cadência da fala, desenvolvendo uma forma específica de processamento mental que integrava aspectos sonoros, gestuais e situacionais em uma única experiência cognitiva.

As sociedades orais, conforme analisa Lévy, desenvolveram sofisticadas técnicas mnemônicas para preservar e transmitir seu conhecimento coletivo. Estas estratégias não eram apenas métodos de memorização, mas constituíam verdadeiras tecnologias intelectuais adaptadas às limitações e potencialidades da memória humana. O autor destaca que as principais técnicas incluíam o uso de padrões rítmicos, repetições sistemáticas, fórmulas fixas e narrativas cuidadosamente estruturadas, todas desenvolvidas para maximizar a retenção e facilitar a transmissão do conhecimento. As histórias eram construídas com forte carga emotiva e dramatização, pois, como demonstra Lévy, as representações com maior chance de sobrevivência em um ambiente composto quase exclusivamente por memórias humanas eram aquelas codificadas em narrativas dramáticas, agradáveis de serem ouvidas e acompanhadas de música e rituais diversos. O autor enfatiza que estas técnicas não eram resultado de uma “irracionalidade”, mas sim estratégias cognitivas altamente eficientes para o armazenamento e transmissão de informações em sociedades sem escrita (LÉVY, 2010).

4 A ESCRITA E A TRANSFORMAÇÃO COGNITIVA

Segundo Lévy (2010) a introdução da escrita representou uma revolução fundamental nos processos cognitivos humanos, estabelecendo uma nova configuração na ecologia cognitiva da humanidade. O autor demonstra que a escrita não foi apenas uma ferramenta para registro de informações, mas um verdadeiro catalisador de transformações profundas no pensamento humano, possibilitando o desenvolvimento do pensamento analítico e expandindo significativamente a capacidade de abstração. Esta tecnologia intelectual, conforme explica Lévy, permitiu a exteriorização da memória através de um suporte físico confiável, liberando a mente para operações mais complexas e possibilitando o surgimento do pensamento sequencial linear. O processo de alfabetização, segundo o autor, promove reorganizações neurais significativas, desenvolvendo áreas cerebrais específicas para a leitura e estabelecendo novas conexões entre o processamento visual e linguístico. Esta transformação cognitiva é particularmente evidenciada no desenvolvimento da capacidade de categorização sistemática e na emergência do pensamento lógico-dedutivo, características que se tornaram fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento científico e filosófico.

5 A ERA DIGITAL E A COGNIÇÃO CONTEMPORÂNEA

De acordo com Lévy (2010) uma análise profunda sobre como o ambiente digital está remodelando fundamentalmente nossos processos cognitivos, introduzindo padrões de pensamento que transcendem a linearidade característica da era da escrita. O autor argumenta que as tecnologias digitais, especialmente o hipertexto, não apenas refletem os processos naturais de associação do pensamento humano, mas também potencializam novas formas de processamento cognitivo. Esta transformação se manifesta na emergência do processamento paralelo de informações, onde múltiplas tarefas podem ser executadas simultaneamente, e na consolidação de uma cognição distribuída que se estende através de redes digitais. Lévy enfatiza que o hipertexto, com suas conexões múltiplas e possibilidades de navegação flexível, representa uma aproximação mais fidedigna ao funcionamento natural da mente humana, que opera por associações não-lineares e conexões múltiplas. Esta nova ecologia cognitiva, segundo o autor, está transformando não apenas como processamos informações, mas também como construímos e compartilhamos conhecimento, estabelecendo um paradigma de pensamento mais fluido e interconectado, característico da era digital.

6 MEMÓRIA E TECNOLOGIAS INTELECTUAIS

6.1 Evolução dos Sistemas de Memória As tecnologias intelectuais modificam como armazenamos e recuperamos informações:

• Memória oral: baseada em narrativas e repetição

• Memória escrita: sistematizada e externalizada

• Memória digital: distribuída e dinâmica.

.

6.2 Processos de Recuperação Diferentes tecnologias favorecem diferentes estratégias de recuperação: • Oral: associativa e contextual • Escrita: sistemática e categórica • Digital: por palavras-chave e links

7 PENSAMENTO E INTERFACES TECNOLÓGICAS

7.1 Mediação Tecnológica As interfaces tecnológicas mediam nossa relação com o conhecimento:

• Modificam processos perceptivos

• Alteram estratégias de processamento

• Influenciam padrões de pensamento

7.2 Adaptação Cognitiva O cérebro demonstra notável plasticidade na adaptação a novas tecnologias: • Desenvolvimento de novas habilidades • Modificação de padrões de atenção • Evolução de estratégias de aprendizagem

8 IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO

 8.1 Novas Abordagens Pedagógicas O entendimento da relação entre tecnologia e cognição sugere: • Metodologias mais flexíveis • Integração de diferentes mídias • Reconhecimento de múltiplos estilos de aprendizagem

      8.2 Desenvolvimento de Competências Prioridades educacionais contemporâneas:

• Pensamento crítico

 • Alfabetização digital

• Capacidade de síntese

• Aprendizagem colaborativa

9 DESAFIOS E PERSPECTIVAS

9.1 Desafios Cognitivos A era digital apresenta novos desafios:

 • Sobrecarga informacional

• Fragmentação da atenção

 • Dependência tecnológica

9.2 Perspectivas Futuras Tendências e possibilidades:

• Maior integração homem-máquina

 • Evolução das interfaces cognitivas

• Novas formas de processamento do conhecimento

10 NEUROPLASTICIDADE E ADAPTAÇÃO TECNOLÓGICA

10.1 Mecanismos Neurais de Adaptação A interação contínua com diferentes tecnologias da inteligência provoca mudanças significativas na estrutura neural:

 • Fortalecimento de conexões sinápticas específicas

• Desenvolvimento de novos circuitos neurais

• Modificação das áreas de processamento sensorial

• Reorganização das redes de memória

10.2 Estudos Empíricos Pesquisas recentes em neurociência demonstram:

 • Alterações na densidade da matéria cinzenta em usuários frequentes de tecnologia digital

• Mudanças nos padrões de ativação cerebral

 • Desenvolvimento de novas habilidades visuoespaciais

• Modificações nos circuitos de recompensa

11 COGNIÇÃO DISTRIBUÍDA E REDES DE CONHECIMENTO

 11.1 Teoria da Cognição Distribuída A perspectiva da cognição distribuída sugere que o processamento cognitivo: • Estende-se além dos limites do cérebro individual • Incorpora ferramentas e artefatos tecnológicos • Envolve interações sociais e culturais • Forma sistemas cognitivos complexos

11.2 Redes Cognitivas O conhecimento contemporâneo se organiza em redes que: • Integram múltiplos agentes (humanos e tecnológicos) • Facilitam o processamento paralelo de informações • Permitem a emergência de novos padrões de pensamento • Promovem a inteligência coletiva

12 IMPACTOS NA ESTRUTURA DO PENSAMENTO

12.1 Modificações nos Padrões de Raciocínio As tecnologias digitais têm provocado alterações significativas: • Desenvolvimento do pensamento não-linear • Aumento da capacidade de processamento paralelo • Modificação dos padrões de associação de ideias • Evolução das estratégias de resolução de problemas

12.2 Novas Habilidades Cognitivas Emergem competências específicas:

 • Navegação eficiente em ambientes informacionais complexos

• Capacidade de síntese rápida de grandes volumes de dados

• Habilidade de alternar entre diferentes contextos

• Desenvolvimento de filtros cognitivos mais sofisticados

13 INTERFACES COGNITIVAS AVANÇADAS

 13.1 Realidade Virtual e Aumentada Novas fronteiras da interação cognitiva:

 • Imersão sensorial completa

• Integração de múltiplos canais perceptivos

 • Simulação de experiências complexas

• Ampliação da realidade percebida

13.2 Interfaces Cérebro-Computador Desenvolvimentos recentes incluem:

• Controle direto de dispositivos pelo pensamento

 • Feedback neural em tempo real

 • Próteses cognitivas avançadas

• Sistemas de comunicação neural

14 EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

14.1 Aprendizagem Adaptativa Características dos novos processos de aprendizagem:

   • Personalização baseada em padrões cognitivos individuais

• Ajuste dinâmico do conteúdo e ritmo

• Integração de múltiplos estilos de aprendizagem

• Feedback contínuo e adaptativo

14.2 Metacognição e Autorregulação Desenvolvimento de habilidades superiores:

• Consciência dos próprios processos cognitivos

• Estratégias de autorregulação da aprendizagem

• Gestão eficiente dos recursos cognitivos

• Adaptação a diferentes contextos de aprendizagem

15 IMPLICAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS

15.1 Transformações Sociais Impactos nas interações sociais:

 • Novas formas de comunicação e colaboração

• Modificação dos padrões de socialização

 • Emergência de comunidades virtuais de aprendizagem

 • Alteração das dinâmicas de poder e conhecimento

15.2 Mudanças Culturais Transformações nos padrões culturais: • Novos modelos de produção e compartilhamento de conhecimento • Modificação das práticas de memória cultural • Evolução das formas de expressão artística • Surgimento de novos paradigmas culturais

16 DESAFIOS ÉTICOS E FILOSÓFICOS

16.1 Questões Éticas Considerações importantes:

• Privacidade e segurança dos dados cognitivos

• Equidade no acesso às tecnologias cognitivas

• Impactos na autonomia individual • Responsabilidade no desenvolvimento tecnológico

16.2 Reflexões Filosóficas Questionamentos fundamentais

 • Natureza da consciência na era digital

• Limites entre cognição humana e artificial

• Identidade pessoal em ambientes virtuais

• Futuro da evolução cognitiva humana

17 PERSPECTIVAS FUTURAS

17.1 Tendências Emergentes Direções prováveis de desenvolvimento:

 • Maior integração entre biologia e tecnologia

 • Evolução das interfaces cognitivas

 • Desenvolvimento de sistemas cognitivos híbridos

 • Expansão das capacidades mentais humanas

17.2 Recomendações Para um desenvolvimento equilibrado:

 • Promoção da alfabetização digital crítica

 • Desenvolvimento de competências adaptativas

• Preservação da diversidade cognitiva

• Atenção aos aspectos éticos e sociais

O Contexto da Tecnologia da Informação: História, Importância, Aplicações e Implicações na Gestão dos Saberes e nas Tecnologias da Inteligência

A Tecnologia da Informação (TI) molda continuamente a sociedade contemporânea, oferecendo ferramentas que ampliam as capacidades humanas de organização, compartilhamento e criação de conhecimento, influenciando a forma como vivemos, nos comunicamos, trabalhamos e aprendemos.

Desde os primeiros e arcaicos computadores, as primeiras redes de computadores até a popularização da internet, e iniciativas de conexão global a evolução tecnológica transformou os meios de comunicação, a economia, a cultura e a gestão dos saberes, promovendo profundas mudanças culturais e sociais

Nesse contexto, Pierre Lévy, em sua obra As Tecnologias da Inteligência (1993), oferece uma análise sobre as implicações epistemológicas e sociais das tecnologias da informação, situando-as como ferramentas centrais para a gestão dos saberes na era digital.

O presente estudo busca apresentar sua relevância para a sociedade, suas aplicações práticas e como estas tecnologias contribuem para a ampliação dos saberes e para o conceito de “tecnologias da inteligência” segundo Lévy.

 A História da Tecnologia da Informação

A evolução da Tecnologia da Informação pode ser entendida como um processo contínuo de aperfeiçoamento de instrumentos e métodos para lidar com a informação e o conhecimento.

Desde a invenção da escrita, por volta de 3.000 a.C., as tecnologias da informação têm por objetivo superar as limitações da memória humana na organização, aquisição, armazenamento e disseminação de saberes.

 A criação da prensa por Gutenberg no século XV, democratizou o acesso à informação escrita, marcando uma ruptura na organização social do conhecimento.

No século XX, a invenção do computador digital por Alexander Turing, o desenvolvimento de algoritmos e redes de computadores, até a criação da internet como a conhecemos hoje, propiciaram uma nova era de interconexão e automação.

Durante os anos 2000, a Web 2.0 emergiu como um marco na transformação da internet, ao promover interatividade, colaboração e conteúdo gerado por usuários. Essa evolução tecnológica é um ponto central para entender o impacto das “tecnologias da inteligência” na sociedade contemporânea como mediadora das relações humanas.

A Importância da Tecnologia da Informação

A TI tornou-se essencial em diversas áreas da atuação humana. Na educação, fornece o acesso a recursos e informações, promovendo inúmeras possibilidades de aprendizado; na comunicação proporciona meios para ligar os mais remotos pontos do globo; na saúde, otimiza diagnósticos e tratamentos; na economia, possibilita a automação e a análise de grandes volumes de dados (Big Data), etc.

Além disso, a TI desempenha um papel preponderante na democratização do conhecimento. Plataformas digitais permitem que indivíduos e comunidades compartilhem saberes, superando barreiras geográficas e econômicas. Pierre Lévy destaca que as tecnologias da informação e comunicação (TICs) são catalisadores da “inteligência coletiva”, um processo no qual o saber individual se torna um recurso coletivo e acessível.

Tais aplicações possibilitam não apenas o armazenamento e disseminação de dados e informações, como também potencializam a criação de novas formas de interação humana e organizacional.

A revolução da Web 2.0

A Web 2.0, termo popularizado por Tim O’Reilly em 2004, está ligada a uma internet focada na interação social, na criação de conteúdo colaborativo e na conectividade em tempo real. Sob a perspectiva de Lévy, a Web 2.0 é um catalisador da inteligência coletiva, onde comunidades e indivíduos podem compartilhar conhecimento e participarem ativamente na construção do saber.

Essa transformação trouxe profundo impacto em áreas como:

Educação: Plataformas de e-learning e fóruns colaborativos democratizam o acesso ao conhecimento e incentivam o aprendizado contínuo.

Cultura e Mídia: Redes sociais e blogs favorecem a criação e difusão de conteúdos culturais.

Economia e Negócios: Ferramentas colaborativas modernizaram a interação entre as empresas e seu público (interno e externo).

Ademais, a Web 2.0 ampliou as possibilidades de autoexpressão e organização social, contribuindo para uma evolução contínua do tecido social.

A Gestão dos Saberes e as Tecnologias da Inteligência

Pierre Lévy introduz o conceito de “tecnologias da inteligência” como ferramentas que aumentam as capacidades cognitivas humanas, ampliando a memória coletiva e transformando a maneira como organizamos e gerenciamos o conhecimento.

Em sua visão a “gestão dos saberes” refere-se à capacidade de organizar, compartilhar e reutilizar dados e informações de forma eficiente, promovendo inovação e aprendizagem contínua. Lévy aponta ainda que as tecnologias da inteligência, como bancos de dados, algoritmos de busca e sistemas de inteligência artificial, desempenham um papel crucial nesse processo.

Para ele, essas tecnologias não apenas armazenam e disseminam informações, mas transformam a maneira como o conhecimento é produzido e compartilhado. Um exemplo claro desse fenômeno é a IEML (Information Economy MetaLanguage).

O que é IEML?

A IEML é uma metalinguagem projetada por Pierre Lévy para organizar e processar informações de forma semântica e computacional. Diferentemente das linguagens tradicionais, a IEML cria um espaço comum onde significados podem ser compartilhados e processados automaticamente, facilitando a integração de saberes em escala global.

Aplicações da IEML

Inteligência Coletiva: A IEML permite mapear e conectar ideias de maneira estruturada, promovendo redes de conhecimento dinâmicas.

Sistemas de Informação: Organizações podem usar a IEML para integrar bancos de dados e criar sistemas interoperáveis.

Ciência e Pesquisa: A linguagem pode ser aplicada para construir ontologias que conectem pesquisadores e temas em diferentes áreas do saber.

Implicações da IEML

A implementação da IEML tem implicações profundas para a gestão do conhecimento:

Organização Semântica: A possibilidade de organizar informações com base em seus significados abre novos horizontes para análise e tomada de decisão.

Inclusão Global: A IEML é projetada para ser universal, permitindo a integração de saberes de diferentes culturas e idiomas.

Automação e Personalização: Sistemas baseados na IEML podem oferecer soluções personalizadas, adaptadas às necessidades de indivíduos ou organizações.

Implicações Epistemológicas e Sociais

As tecnologias da inteligência transformam continuamente não apenas “o que” sabemos, mas “como” sabemos. A Web 2.0 e a IEML promovem mudanças significativas nos modos de produção e circulação do conhecimento.

A interatividade e a conectividade promovidas pelas diversas tecnologias favorecem a criação de redes dinâmicas que desafiam as hierarquias tradicionais de poder e conhecimento, diferentemente dos sistemas (lineares) de ensino tradicionais que são substituídos por estruturas descentralizadas e colaborativas.

Entretanto, essas transformações também levantam questões éticas e sociais, como:

Privacidade e Segurança: O compartilhamento de informações em larga escala torna os usuários vulneráveis a abusos e invasões de privacidade.

Desigualdade Digital: A exclusão de populações que não têm acesso às tecnologias cria um novo tipo de divisão social.

Sustentabilidade do Conhecimento: A dependência de plataformas comerciais pode limitar a preservação de saberes em longo prazo.

CONCLUSÃO

               A integração entre as tecnologias da inteligência e a psicologia cognitiva revela como os processos mentais humanos são profundamente influenciados e modificados pelas tecnologias intelectuais. Esta análise demonstra a complexidade das interações entre mente e tecnologia, ressaltando a importância de uma abordagem equilibrada que maximize os benefícios dessas interações enquanto minimiza seus potenciais riscos. O futuro da cognição humana está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento tecnológico, tornando crucial a compreensão e gestão adequada dessa relação.

As tecnologias da informação, especialmente a Web 2.0 e a IEML, representam marcos importantes no desenvolvimento das “tecnologias da inteligência”. Uma das mais poderosas ferramentas para a transformação da sociedade contemporânea.

Desde suas origens até suas aplicações mais recentes, a TI molda a maneira como interagimos com o conhecimento e com o mundo. Enquanto a Web 2.0 promove a democratização do conhecimento e a colaboração em rede, a IEML oferece uma visão mais estruturada e semântica para a gestão do saber.

A obra de Pierre Lévy nos convida a refletir sobre o futuro do conhecimento, e sobre o potencial das “tecnologias da inteligência” na promoção de uma inteligência coletiva, onde o saber não apenas se multiplica, mas também se torna acessível e compartilhável para o benefício da humanidade. Essa visão não apenas enfatiza o papel transformador da TI, mas também nos desafia a utilizá-la de forma ética, inclusiva e sustentável, promovendo uma verdadeira inteligência coletiva.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, J. R. Cognitive Psychology and its Implications. 8. ed. New York: Worth Publishers, 2020.

BADDELEY, A. Working Memory, Thought and Action. Oxford: Oxford University Press, 2007.

CLARK, A. Natural-Born Cyborgs: Minds, Technologies, and the Future of Human Intelligence. Oxford: Oxford University Press, 2003.

HUTCHINS, E. Cognition in the Wild. Cambridge: MIT Press, 1995.

LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era da Informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2010.

PRENSKY, M. Digital Game-Based Learning. New York: McGraw-Hill, 2001.

RAMACHANDRAN, V. S. The Tell-Tale Brain: A Neuroscientist’s Quest for What Makes Us Human. New York: W. W. Norton & Company, 2011.

STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. Tradução de Roberto Cataldo Costa. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2017.

THOMPSON, C. Smarter Than You Think: How Technology is Changing Our Minds for the Better. New York: Penguin Press, 2013.


1 Denise Dourado Arisawa é graduada em Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos. PhD em Psicanálise Clínica com ênfase em filosofia da psicanálise na perspectiva heideggeriana. Pesquisadora com formação interdisciplinar atualmente mestranda em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), onde atua como representante discente do Mestrado Profissional em Economia – turma Supremo Tribunal Federal. E-mail: denisearisawa@aluno.unb.br.

2 Alexandre Benecke é Graduado em Ciência da Computação, exerceu cargos em diversas empresas de TI. Lecionou em cursos superiores de tecnologia da informação. Servidor Público Federal atualmente atuando como gerente no Supremo Tribunal Federal. Mestrando Economia pela Universidade de Brasília (UnB). E-mail: alexandre.benecke@gmail.com.

3 Guilherme Andrade Rosa é graduado em Engenharia de Redes de Comunicação e mestrando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). E-mail: guilherme.redes@gmail.com.

4 Sérgio Nunes Caitano Minacapilli é Doutorando em História do Direito/ FDUL. Mestrando em Governança Pública e Inovação pela Economia/ UnB. Mestre Direito Internacional/ FDUL. Graduado em Direito/ UFMS, Relações Internacionais/ UFRJ, História/ UNIRIO e Teologia/ UniCesumar. Especializando em Gestão de Segurança Pública/ UFMS, Especialista em Direito Sanitário/ FIOCRUZ, Internacional, Constitucional, Penal e Tributário/ IDD e Empresarial/ Legale. e-mail: sergio.caitano@edu.ulisboa.pt

5 Alex Salviano da Silva possui graduações em Administração, Ciências Contábeis e Matemática. Especialização em Licitações e Contratos com ênfase em pregão eletrônico. Mestrando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), – turma Supremo Tribunal Federal. E-mail: alexcfsrj@gmail.com.