AS TALHAS DE FERNANDO CALDERARI

FERNANDO CALDERARI’S WOOD CARVING WORKS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10988215


Rafaella Shizuko Uada[1]


RESUMO

Pretende-se neste artigo explicar como se deu o processo da abstração percebida nas obras de Fernando Calderari (1939-2021). No início de sua carreira, ele era um pintor de paisagens e naturezas-mortas, porém, a partir da década de 1960, adotou uma abordagem mais abstrata. Calderari fez uma síntese entre a gravura e a pintura, explorando técnicas de improviso que culminaram em composições únicas em talhas de madeira. Essas talhas estabeleceram Calderari como um dos pioneiros do abstracionismo no estado do Paraná. A pesquisa apresenta análises formalistas, conhecimento do percurso biográfico e do contexto cultural curitibano. Para o desenvolvimento deste estudo, foram realizadas consultas em livros, artigos de jornais, revistas, sites e catálogos de exposições. Enfim, o foco principal foi a construção de um discurso que oriente o leitor a compreender o percurso biográfico, a trajetória artística e o processo de abstração nas obras de Calderari.

PalavrasChave: Fernando Calderari; abstração; gravura; talhas; Paraná.

ABSTRACT

In this article, it is aimed to explain how the perceived abstraction process occurred in Fernando Calderari’s art works (1939-2021). At the beginning of his career, he used to paint landscapes and still life. However, from the 1960s, he adopted a more abstract approach. Calderari made a synthesis between engraving and painting, exploring improvisation techniques that led to unique wood carving works. Such works made Calderari one of the pioneers of the abstractionism in Parana State, Brazil. The research study features formalist analyses, knowledge of his biographical trajectory and the cultural context in Curitiba – Parana State, Brazil. For the development of this study, search was carried out in books, newspaper articles, magazines, sites and exhibition catalogues. Therefore, the main focus was on the construction of a discourse that guides the reader to understand the biographical trail, the artistic trajectory and the abstraction process in Calderari’s art works.

Keywords: Fernando Calderari; abstraction; engraving; wood carving works; Paraná State.

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo abordará temas como abstração, modernidade e fusão de técnicas, observados nas talhas em madeira do renomado artista plástico brasileiro Fernando Rogério Senna Calderari (1939-2021). O principal objetivo deste trabalho é elucidar a transição da paisagem tradicional clássica para a abstração moderna, evidenciada em seus impressionantes entalhes em madeira. A improvisação e a espontaneidade desempenham um papel crucial no processo artístico, permitindo a liberdade criativa e a expressão individual do artista. No caso de Calderari, esses elementos foram essenciais para a exploração de novas possibilidades estéticas e expressivas. Assim, as talhas do artista não apenas refletem sua habilidade técnica com a madeira, mas também demonstram sua capacidade de explorar as características únicas da gravura e da pintura, criando obras que transcendem as formas tradicionais e abrem caminhos para novas expressões artísticas. 

O problema central desta pesquisa é investigar os fatores que influenciaram essa transformação em sua produção de arte. Para responder a essa questão, foi necessário obter conhecimento sobre o percurso biográfico do artista, analisar imagens e embasar-se teoricamente e historicamente no campo das artes, bem como no contexto artístico de Curitiba durante a década de 1960. Os autores que norteiam a pesquisa são historiadores e críticos de arte que se engajaram em estudar a arte produzida no Paraná, como: Adalice Araújo, Eduardo Rocha Virmond, Ennio Marques Ferreira, Maria José Justino e Artur Freitas. 

O interesse por esse tema surgiu a partir do contato visual com algumas talhas em madeira criadas pelo artista, que estavam expostas no Museu de Arte da Universidade Federal do Paraná (MusA) no início de 2016. A autenticidade do trabalho de Calderari despertou grande atenção, pois suas talhas combinam a textura da xilogravura com a pintura. A proximidade das fontes e o contato direto com as obras do artista facilitaram a pesquisa e valorizaram a produção de um artista paranaense, a fim de ampliar o repertório no que diz respeito à produção artística local e regional. Espera-se que essa pesquisa possa contribuir tanto para os estudantes de artes visuais quanto para a escrita da história da arte no Paraná. 

Para alcançar o objetivo proposto, o estudo realizou uma revisão bibliográfica, com consulta a livros, artigos de jornais, revistas, catálogos de exposições e sites relevantes. Além disso, foram realizadas pesquisas no centro de documentos do Museu da Gravura da Cidade de Curitiba (MGCC) e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR), a fim de obter informações adicionais e aprofundar o conhecimento sobre o assunto em questão.

2 AS TALHAS DE FERNANDO CALDERARI: O IMPROVISSO TRANSFORMADO EM ARTE

2.1 CONTEXTO

O processo de modernização no Paraná ocorreu em um ritmo mais lento em comparação com o estado de São Paulo, que estava mais atento aos acontecimentos artísticos internacionais. A modernidade estava intrinsicamente ligada ao desenvolvimento industrial, caracterizando-se por sua dinamicidade, fugacidade e instantaneidade. No entanto, as fábricas começaram a aparecer no estado apenas no final do século XIX, devido ao fato de o Paraná ter demorado bastante tempo para se desvincular da condição de província de São Paulo, o que resultou na ausência de uma economia sólida para o desenvolvimento artístico.[2] 

Na década de 1920-30, o Paraná começava a criar sua linguagem artística, o Paranismo, que tinha a intenção de estabelecer uma particularidade regional, que acabou inibindo o diálogo com a modernidade proposta pelo estado de São Paulo. Os paranistas,3 nesse período, buscavam uma abordagem mais realista, influenciados pelas obras de Alfredo Andersen (1860-1935). Somente a partir da década de 1940, uma parcela significativa dos artistas atuantes no Paraná passou a adotar uma postura mais crítica, diferenciando-os dos paranistas, que tendiam a ser mais conservadores e intimistas.[3] A criação da revista Joaquim, sob a direção de Dalton Trevisan,em 1946, foi um passo para o modernismo no estado. A revista propunha uma renovação na arte, rompendo com o academicismo local. Nesse período, os artistas Guido Viaro (1897-1971), um italiano radicado no Brasil, e Poty Lazzarotto (1924-1998) ganharam destaque no Paraná com o expressionismo.

No contexto da revista, Guido Viaro e Poty Lazzarotto logo surgiram como os dois maiores artistas do período, reforçando assim o predomínio de uma gravura de caráter narrativo, social e expressionista, nitidamente influenciada pelo modernismo oficioso de nomes como Di Cavalcanti e Portinari.[4]

As escritoras Borges e Fressato confirmam que Poty e Viaro estabeleceram uma conexão das produções paranaenses com as de São Paulo e até mesmo com outros países do mundo, notadamente do continente europeu.[5] Deve-se salientar que o artista moderno às vezes denuncia os problemas sociais, explorando os assuntos da sociedade e os temas de sua arte, situações próximas a ele. A Revista Joaquim engajava-se nesta proposta, como um veículo de informação para a população, contrapondo-se ao Paranismo.[6] 

Mais tarde, o Salão Paranaense de Belas Artes[7] permitiu o contato com a diversidade produzida por artistas de diferentes regiões, enquanto o Museu da Gravura, desde a sua criação, tem contribuído para o desenvolvimento de pesquisas sobre arte e gravura, pois além da área expositiva, o “Solar do Barão” propicia, com o ateliê de gravura, um ambiente de criação e troca de conhecimento, “[…] ensinando a técnica, desenvolvendo a poética e propiciando um ambiente agradável no qual se respira ARTE”.[8]

O contato dos artistas residentes no Paraná com novas experiências vindas de outras regiões do Brasil contribuiu para o desenvolvimento de um novo estilo artístico moderno, a arte abstrata. É relevante destacar que, na década de 1950, uma grande força que polarizou no Brasil foi o Movimento Concretista, caracterizado pelo rigor geométrico e universal. Como resultado, “[…] o Paraná se defrontava com as propostas estéticas do abstracionismo.”10

Os anos de 1950-60 tiveram um impacto expressivo no âmbito da comunidade artística paranaense. Curitiba tornou-se o núcleo de difusão das artes no Paraná. Nesse período, foram implantados vários centros de apoio às artes, como: Centro de Gravura,11 Escola de Música e Belas Artes do Paraná,12 (no âmbito do governo estadual) e Museu Alfredo Andersen.13 Os salões de artes plásticas e os espaços destinados à exposição em Curitiba contribuíram para uma amplitude nacional. Nesse momento, havia uma produção artística dinâmica ocorrendo na capital.[9] Posteriormente, nas décadas de 1970-80, surgiram outros espaços destinados à arte: Museu de Arte Contemporânea do Paraná,[10] Centro de Criatividade de Curitiba[11] e o Centro Juvenil de Artes Plásticas[12].

Pode-se encarar como estímulo para a produção contemporânea, a própria percepção estética do mercado da arte no estado, seus padrões limitados da arte acadêmica ao impressionismo. Nesse contexto, Calderari desenvolveu uma produção artística que se destaca pela sua estrutura formal e compositiva, caracterizando-se como inovadora. Ao se desvincular do academicismo, ele criou obras que exploram novas possibilidades estéticas, em direção à abstração. 

Demonstrando maestria e originalidade em sua abordagem artística, Calderari combinou técnicas, exibindo a ousadia de um artista contemporâneo e revelando sua intimidade tanto na pintura quanto na gravura. Ou seja, na medida em que ele se entregava à improvisação e à exploração de novas formas de arte, ele desenvolveu uma linguagem artística única e autônoma, as talhas.  

2.2 O ARTISTA 

Fernando Calderari nasceu na Lapa em 1939, e desde jovem demonstrou interesse pelas artes visuais. Na década de 1950, mudou-se para Curitiba a fim de concluir seus estudos secundários. Mais tarde, ingressou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, onde cursou o ensino superior em pintura. Durante esse período, o jovem artista recebeu incentivo e orientação de seu professor, Guido Viaro, para explorar o campo da gravura. A partir de 1960, Calderari passou a frequentar o Centro de Gravura, que era dirigido por Nilo Previdi (1913-1982). Essa experiência foi fundamental para seu desenvolvimento artístico. Em 1965, logo após sua formação, Calderari recebeu um prêmio no Salão Paranaense, que lhe concedeu uma bolsa de estudos para frequentar o Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Foi nesse ambiente que ele teve a oportunidade de aprimorar suas habilidades em gravura, adquirir conhecimentos especializados e explorar novas possibilidades criativas sob a orientação de artistas famosos como Roberto De Lamônica (1933-1995) e Edith Behring (1916-1996).[13] Essas experiências de estudo e aprofundamento na gravura marcaram um importante período na carreira de Calderari, proporcionando-lhe novas perspectivas e conhecimentos técnicos que enriqueceram seu trabalho artístico.

É importante ressaltar que Guido Viaro foi uma figura de destaque na arte paranaense, sendo reconhecido por sua contribuição na renovação da pintura moderna no estado. Além de sua própria produção artística, Viaro também se preocupava com a arte-educação, desempenhando um papel significativo nesse campo. Coincidentemente, Calderari foi discípulo de Viaro e compartilhava da preocupação com a comunidade artística da época, bem como com o compromisso do artista com a sociedade a qual pertence. Nesse contexto, a historiadora e crítica de arte Adalice Araújo publicou, em 1969, no Diário do Paraná, uma reflexão relacionada a esse tema.

Assim não nos deve causar espanto o fato de que será justamente um discípulo do mestre Viaro, Fernando Calderari, que encabeçara no Paraná o pioneirismo da pintura abstrata. Apesar das tendências diversas caracterizando suas obras (Viaro e Calderari) possuem em comum a alta consciência da missão do artista na sociedade, uma sinceridade sem limites, um incessante espírito de pesquisa e mérito de terem abertos os caminhos para gerações mais jovens: um o da figuração moderna e outro, o da abstração contemporânea […].[14] 

Três anos antes da publicação de Adalice, Calderari já havia expressado, em uma entrevista, sua perspectiva sobre o compromisso do artista com a sociedade, afirmando o seguinte:

Acredito que o artista, qualquer que seja a sua atividade criadora, tem um compromisso com a coletividade humana, e que esse compromisso se manifeste das mais diversas formas. A minha forma, mais do que literária, dentro da pintura, se manifesta plasticamente.[15]

Na década de 1970, Calderari, que já era professor na faculdade de Música e Belas Artes, recebeu um convite da Fundação Cultural de Curitiba para assumir a coordenação do ateliê de gravura no Centro de Criatividade. Sua nomeação como coordenador foi um reconhecimento de sua influência e expertise na área. Até porque, Fernando Calderari foi um artista que, no início da década de 1960, “[…] fez com que o Paraná aparecesse no cenário artístico nacional e no contexto moderno das artes plásticas”.[16] Sua atuação impulsionou significativamente a gravura e a abstração no estado, mostrando-se atualizado e envolvido com as tendências artísticas da época como professor, pesquisador e artista. 

A temática central das pinturas de Fernando Calderari sempre foi o mar. No início de carreira, ele adotou uma abordagem figurativa e paisagística em suas obras. No entanto, a partir de 1960, seu trabalho seguiu por um processo de abstração. Essa transformação foi impulsionada pelo envolvimento do artista com as potencialidades práticas da gravura. Nas gravuras, Calderari explorava a gestualidade como um elemento fundamental. Ao entalhar e/ou riscar a matriz, ele capturava o registro do gesto expressivo. Essa intimidade do artista com a gravura foi crucial para o desenvolvimento de suas talhas em madeira. De forma inovadora, Calderari combinou a textura singular e expressiva do suporte em madeira, que se assemelham às matrizes xilográficas, com a técnica da pintura (ver figura 4).

Quando questionado se suas obras seriam racionais ou intuitivas, Calderari respondeu: 

O racional, para mim, funciona no que se refere à técnica a empregar. Sei, por exemplo, que, usando de tal ou qual técnica, acabarei conseguindo este ou aquele efeito. Isso é o racional, no meu trabalho. Porém, não parto disso para criar as minhas telas, nem meus desenhos; uso-o para equacionar e resolver os meus problemas plásticos: composição e harmonia. Quanto às formas, quase que constantes na minha obra, estas sim é que são produto duma intuição, talvez originadas em reminiscências ainda não descobertas.22

Nos anos 1960, as experiências abstratas ganharam espaço nos salões de arte do Paraná, provocando uma verdadeira revolução nos conceitos e valores acadêmicos que, até então, impediam qualquer inovação técnica ou formal. Diferentemente dos estilos artísticos mais tradicionais, a arte abstrata permite que o artista se afaste da representação figurativa e explore livremente as formas, cores, texturas e linhas. Essa abordagem possibilita que o artista valorize a materialidade da arte, desafiando as convenções da representação figurativa. Referente à arte abstrata, o crítico de arte Eduardo Rocha Virmond, descreveu em 1986:

O abstracionismo ainda é no Paraná uma tendência importante, seja formal, seja informal, porque o abstrato ensinou o artista a qualificar e aperfeiçoar o material, a valorizar cada linha, cada cor do seu trabalho, a compô-lo de uma forma totalizante, mesmo que a sua escolha seja figurativa. [17]

Se as talhas de Calderari são uma síntese entre a pintura e a gravura – revelando uma linguagem gráfica em diferente formato – é importante destacar que as Mostras da Gravura,[18] promovidas pela Fundação Cultural de Curitiba e iniciadas em 1978 como eventos de caráter internacional, incentivaram esse tipo de questionamento artístico. O Acervo do Solar do Barão reúne os nomes mais representativos da gravura contemporânea, fazendo de Curitiba uma importante vitrine para pesquisas gráficas decorrentes desse evento periódico, que foi o pioneiro no Brasil nessa linguagem visual.[19] Na primeira Mostra da Gravura, o gestor cultural Ennio Marques Ferreira (1926-2021) organizou mesas-redondas com o intuito de debater os desdobramentos e as problemáticas da gravura na contemporaneidade, visando preservar a originalidade desse meio artístico no Brasil.[20]

Os artistas que passaram por Curitiba, seja como imigrantes de júris das Mostras da Gravura, seja como ministrantes de oficinas no Solar do Barão ou como participantes das Mostras, deixaram um lastro e formaram, de fato, os artistas locais, contribuindo igualmente para a formação de opinião sobre a abrangência da arte e das problemáticas contemporâneas. [21]

Figura 1 – I Mostra da Gravura. Fernando Calderari. [I Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba] Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba. 1978. Encadernado. Compilação de documentos. 
Disponível no Setor de Pesquisa do Solar do Barão.

Calderari permitiu-se experimentar e obter experiências matéricas de composição, textura e harmonia. Sua passagem pelo Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro foi enriquecedora, proporcionando-lhe o contato e a convivência com importantes gravadores.[22] Alex Gama menciona que: “[…] Fernando Calderari, artista do Paraná que, tendo participado daquele curso no Rio de Janeiro, trouxe esta escola para Curitiba, que somada à gravura de Viaro marca a Gravura

Contemporânea do Paraná”.[23] Deve-se destacar que a abstração renovou o panorama das artes na década de 1950, principalmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, onde novos modos de apreciar a arte, com ênfase na abstração, foram apresentados. Surgiu uma rivalidade entre os concretistas “paulistas” e “cariocas” que iam além do aspecto geográfico: em São Paulo, os artistas adotaram uma abordagem rigorosamente racionalista, explorando conceitos geométricos e matemáticos. Por outro lado, os cariocas utilizavam expressivamente a cor e levaram em consideração a participação do artista na produção social, além de experimentarem práticas mais subjetivas – que haviam sido minimizadas pelos paulistas. Pode-se dizer, portanto, que:

Enquanto São Paulo se voltava para a teoria da Pura Visibilidade e da Gestalt, ao fazer uma arte mais racionalista, o Rio de Janeiro, por sua vez, se dirigia para uma arte mais social, voltada para a expressão, com mais intensidade de cores, se desprendendo dos princípios de Max Bill […].30

Calderari manteve-se nesse circuito de discussões durante o período em que frequentou o curso no ateliê do MAM-RJ, convivendo com artistas31 como: Cícero Dias,[24] Iberê Camargo[25] e Farnese de Andrade.[26] No Rio de janeiro, a gravura emergiu do expressionismo abstrato norte-americano e do Tachismo europeu.[27] Os gravadores desenvolveram em suas obras uma abstração de caráter lírico, uma arte associada ao gesto espontâneo e livre. Edith Bering, que foi professora de Calderari, adotou o informalismo como abordagem artística, baseando-se na subjetividade.[28] Da mesma forma, De Lamonica, outro professor de Calderari, valorizava a expressão artística e o registro livre e instintivo. “Os informais buscavam, pela sensibilidade, o verdadeiro na arte. Identificavam-se com a matéria, liberando a forma do rigor das relações geométricas em proveito da espontaneidade, da poética do gesto”.[29]

Figura 2 – DE LAMONICA. Roberto. Composição. 1959. Gravura em metal sobre papel. 25 cm x 60 cm. Disponível em: <https://www.catalogodasartes.com.br/obra/zPet/>.
Figura 3 – BEHRING. Edith. Sem título. Água-tinta gravura sobre papel. II Tiragem. 34 cm x 29,9 cm. Acervo Banco Itaú. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra34823/se m-titulo>.  

Edith Behring e De Lamonica exerceram uma influência significativa no lirismo presente no trabalho artístico de Calderari. Supõe-se que ele tenha encontrado, na produção de seus professores, a possibilidade de explorar a independência formal e a potência que a linha orgânica poderia trazer para o seu próprio trabalho artístico (ver figura 2 e 3). No abstracionismo informal, as obras expõem a cor liberada, o gesto fluído, o volume, as texturas e as camadas sobrepostas de tintas. O lirismo presente na obra de Calderari é afirmado nas palavras de Adalice Araújo: “Fernando Calderari, que foi sem dúvida no Paraná o pioneiro da pintura abstrata, […] com perfeita unidade de estrutura, rompe por vezes a matéria e consegue dentro de uma visão quase monocrômica o uníssono harmônico da música de câmara”.[30]

2.3 A PRODUÇÃO ARTÍSTICA. “SEU TRABALHO FLUÍA COM NATURALIDADE DO MAIS TRADICIONAL PARA  UM EXPRESSIONISMO ABSTRATO ABSOLUTAMENTE CONTEMPORANEO”.[31]

Figura 4 – CALDERARI, Fernando. Sem título. Entalhe – talha sobre compensado pintado. 61,8 cm x 71,3 cm. Col. Prefeitura Municipal de Curitiba. Museu Municipal de Arte de Curitiba (MUMA).

Calderari, em busca de novas estruturas formais e poéticas, decidiu explorar o caminho da abstração. Quando questionado por Adalice Araújo sobre o início de suas pesquisas com as talhas, ele respondeu:

Quando eu fazia gravura no Rio, havia certas texturas parecidíssimas com manchas. Numa exposição, não me lembro se foi Marc Berkowitz ou Lourival Gomes Machado que me disse: “Você imita a madeira – por que não pinta na madeira direto?” A própria madeira trabalhada viria a me satisfazer muito mais […]. Essa descoberta foi importante para mim porque parte estrutural – sem aquele sentido de refinamento da tela.[32]

Nessa busca, ele explorou as diferentes possibilidades oferecidas por cada material, como a madeira entalhada, gerada em uma produção artística híbrida que combinava suas experiências nas técnicas de pintura e gravura. No entalhe (ver figura

4), o artista utilizou uma paleta de cores cálidas. “As cores são graves: vermelhos, terras, negros, resultando numa pintura séria e contida, certamente influenciada pelas cores próprias da gravura”.[33] Suas linhas são livres, firmes e expressivas. Na obra, é possível observar a presença de formas, incisões e planos que se contrapõem aos veios da madeira.

Figura 5 – CALDERARI. Fernando. Sem título. 1973. Entalhe em madeira. 46 cm x 73 cm.  Secretaria de Estado da Cultura. Disponível em: <http://www.memoria.pr.gov.br/biblioteca/fotos.php?cod_acervo=175572>. 

Ao analisarmos o entalhe (ver figura 5), podemos observar que o realismo não é buscado. Porém, há uma precisão expressiva notável – a estruturação com linhas parece-nos revelar um desenho. Predomina-se a horizontalidade, e é o lado esquerdo inferior da imagem que mais chama a atenção, devido às grandes variações tonais e à profusão de linhas, algumas diagonais e outras verticais. Tudo indica que se trata da representação de uma paisagem marinha, com uma clara definição da linha que separa o céu e o mar. Podemos distinguir os planos – a metade superior da pintura

representa o céu vasto e imponente, enquanto a parte inferior representa o mar; as linhas diagonais e orgânicas (no canto esquerdo) denotam a presença de barcos. Calderari escolheu tonalidades de ocres e terra, e é notável a presença de pinceladas com sutis nuances violetas, que capturam a atenção. O artista explorou a variação tonal, a textura e a matéria.[34]

Calderari retratou um cenário costeiro e, é evidente em sua obra artística, a persistência no mesmo tema compositivo. Mesmo ao seguir o caminho da abstração lírica na década de 1960, em algumas de suas madeiras entalhadas, não há contraposição entre arte abstrata e arte figurativa. Pelo contrário, há variantes, pois em “[…] suas imagens abstratas emergiam paisagens, as marinhas.”[35] Isso comprova as diversas possibilidades e os múltiplos caminhos da arte contemporânea, destacando a importância da liberdade de criação do artista e ressaltando a valorização da improvisação e da experimentação ao se fazer arte.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa constatou que Fernando Calderari foi um dos pioneiros a trabalhar com o abstracionismo no Paraná. O contexto artístico, cultural e social em que ele estava inserido foi fundamental no desenvolvimento de sua carreira, visto que ele assumiu e desempenhou papéis importantes na sociedade como professor, artista e coordenador de cursos de arte em Curitiba.

O contato com artistas residentes no Rio de Janeiro foi importante, pois permitiu a troca de conhecimentos e experiências com novas formas de fazer arte. Seguindo uma tendência pós-década de 1960, caracterizada pela liberdade criativa e pelas diversas possibilidades de utilização de materiais e recursos variados. Surgem as talhas, que certamente são influenciadas pela prática da xilogravura.44 Levando-se em consideração esses aspectos, houve um amadurecimento em seu trabalho artístico: das pinturas figurativas do início de sua carreira para as talhas informais, que denotam a autonomia completa em relação aos elementos pictóricos. Posteriormente, no início da década de 1970, das talhas começaram a emergir as marinhas. É possível observar que, após todo esse processo de aprendizagem e contato com novas potencialidades plásticas, ele retoma a pintura, explorando a cor, a linha e a forma, assim como a paisagem marinha, que sempre fez parte de seu universo poético (Figura 6). 

Figura 6 – CALDERARI. Fernando. Marinha III. 1982. Óleo sobre tela. Secretaria de Estado da Cultura. Disponível em: <http://www.memoria.pr.gov.br/biblioteca/fotos.php?cod_acervo=174111>. 

Na obra Marinha III (ver figura 6), podemos observar uma tênue linha horizontal que atravessa a pintura, dividindo a tela e revelando o céu e o mar. Vigora uma relação de contraste entre o céu conturbado e o mar sereno, que é iluminado pelo reflexo da luz na água. A luminosidade intensa do céu e a vastidão da cor azul são notáveis. A pintura enfatiza a materialidade e as diferentes texturas e planos, criados por manchas de cor. Podemos considerá-la uma forma de arte de impressão, pois ao visualizar a obra como um todo, é que o espectador identifica a paisagem. As pinceladas fundemse harmoniosamente para criar a imagem completa. O céu e a canoa proporcionam um equilíbrio formal na pintura. Na parte central superior, há uma sobreposição de planos e texturas, enquanto na parte inferior, a canoa é representada com pinceladas rápidas e precisas, demonstrando a objetividade do pintor. 

Ao analisar os aspectos formais, é evidente que o processo de construção e desconstrução, ao longo da trajetória artística de Calderari, o levou a retornar à prática da pintura, combinando-a com o lirismo adquirido em anos anteriores, especialmente através do contato com os professores que conheceu no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. As gravuras e talhas desenvolvidas nas décadas de 1960-70, juntamente com as pinturas criadas durante e após esse período, formam um conjunto de obras que fazem parte da história da arte do Paraná. No entanto, é importante ressaltar que existem poucos registros imagéticos das pinturas anteriores às talhas realizadas por Calderari nos acervos e nos setores de pesquisa e documentação dos museus de Curitiba. 

Como autora desta pesquisa, pude notar a significância da obra de Calderari na arte paranaense e o processo cíclico que é comum a artistas amadurecidos em sua poética. Sua trajetória apresenta distintas fases: inicialmente, ele se dedicou a uma pintura tradicional e figurativa. Pouco tempo depois, sob a influência de Guido Viaro, ele se envolveu com a gravura, explorando uma abordagem abstrata com caráter lírico, valorizando a textura e a materialidade. Em seguida, de forma livre e espontânea, uniu duas técnicas milenares (gravura e pintura), resultando no desenvolvimento das talhas. 

Calderari deixou-se guiar pela improvisação em sua prática artística. Sua trajetória foi marcada por um constante processo de experimentação, explorando diferentes técnicas e estilos ao longo dos anos. Essa abordagem improvisada permitiu-lhe se reinventar e se adaptar às novas influências e desafios que encontrou ao longo do caminho. Sua jornada reflete um percurso fluido e flexível, onde ele seguiu seu instinto criativo, navegando entre a pintura, a gravura e as talhas e, posteriormente retornando à pintura com uma nova perspectiva. Essa improvisação artística também se estendeu ao seu papel como professor, onde ele inspirou e orientou gerações de artistas, adaptando-se às necessidades e interesses de seus alunos. Calderari faleceu aos 82 anos, na cidade de Curitiba, deixando para trás uma produção artística intensa e altamente apreciada. Muitos tiveram o privilégio de tê-lo como professor na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). 

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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[2] JUSTINO, Maria José. Modernidade no Paraná: do Andersen impressionista aos anos 60. In: SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA. Tradição/Contradição. Curitiba, 1986. p. 69-70. 3O Movimento Paranista (1920-1930) teve como objetivo a busca por uma identidade regional que valorizasse e divulgasse as tradições paranaenses. O movimento contou com a participação de intelectuais, literatos e artistas que buscaram um símbolo identitário único, iniciado pelos discípulos de Alfredo Andersen e Romário Martins.

[3] BORGES, Eliana; FRESSATO, Soleni. A arte em seu estado: história da arte paranaense.  1. ed. Curitiba, PR: Medusa, 2008. p. 109.

[4] FREITAS, Artur. Solar da Gravura: Uma breve história da Gravura no Solar do Barão. In: MUSEU DA GRAVURA CIDADE DE CURITIBA (PR). Solar da Gravura: 25 anos dos ateliês do Museu da Gravura

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[5] BORGES, Eliana; FRESSATO, Soleni. Op. cit. 2008, p. 117.

[6] No Paraná, em 1920 e 1930, antes da criação da Revista Joaquim, existia um grupo de caricaturistas, cujo precursor era João Pedro, o “Mulato”; tinham propostas diferentes dos artistas do Movimento Paranista, pois faziam críticas à sociedade, produzindo caricaturas satirizando e contestando a vida cotidiana de Curitiba.

[7] O Salão Paranaense foi criado em 1944, cuja idealização veio de De Bona e Raul Gomes. É um evento anual de arte, onde são selecionadas algumas obras de artistas plásticos do país para serem expostas durante a mostra. O espaço também permite discutir e debater sobre arte. Para saber mais acerca do assunto consulte: JUSTINO, Maria José. PARANÁ Secretaria da Cultura. 50 anos do Salão Paranaense de Belas Artes. Curitiba, PR: FUNPAR, ITAIPU Binacional, Secretaria de Cultura, 1995.

[8] LAS, Andreia. Ateliês do Museu da Gravura Cidade de Curitiba. In: MUSEU DA GRAVURA CIDADE DE CURITIBA (PR). Solar da Gravura: 25 anos dos ateliês do Museu da Gravura Cidade de Curitiba. Curitiba, PR: Medusa, 2011. p.16.

[9] FERREIRA, Ennio Marques. Das estruturas aos artistas. In: SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA. Tradição/Contradição. Curitiba, 1986.  p. 122.

[10] O Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) foi criado em 1970, na gestão do pintor Fernando Velloso (1930), que estava à frente da Divisão de Planejamentos e produções Culturais da Educação e Cultura do Paraná. Os principais objetivos da entidade mantida pelo governo consistem em reunir e abrigar obras de artistas brasileiros, incentivado e divulgando a produção de arte contemporânea.

[11] O Centro de Criatividade de Curitiba (CCC) foi inaugurado em 1973. O espaço tornou-se importante por contribuir para o amadurecimento da arte e cultura. Abrigou as primeiras mostras de gravuras e hoje funciona com o objetivo de estimular a criação com vários ateliês e cursos de arte.

[12] Centro Juvenil de Artes Plásticas (CJAP) foi idealizado pelo artista e educador Guido Viaro. Ele deu início à arte-educação no estado do Paraná, por estimular a educação artística para crianças. No ano de 1953, ele monta uma exposição com trabalhos elaborados com crianças de diversas escolas públicas. Tal amostra de Arte infantil foi um grande sucesso, levando a influenciar as decisões referentes à Antiga Escola de Arte de Viaro, posteriormente, vindo a denominar-se Centro Juvenil de Artes Plásticas, que funcionava no sótão da Escola de Música e Belas Artes e no subsolo da Biblioteca Pública. Apenas em 1956, passa ater sua própria sede na Rua Matheus Leme, nº 56. O CJAP é um espaço cultural educativo, com ateliês, oficinas e espaços para crianças desenvolverem sua criatividade.

[13] LEITE, José Roberto. Fernando Calderari. In: Gravuras do Paraná. 1. ed. São Paulo: D’Lippi Comunicazione, 2004. p. 46 – 49.

[14] ARAÚJO. Adalice. Diário do Paraná. Curitiba, 12. out. 1969. p. 7.

[15] CONDINI, Paulo. Fernando Calderari, Êsse nosso conhecido. Correio do Povo. Curitiba, 06 de out. 1966.

[16] Fernando Calderari na Eucat Expo. O Estado do Paraná. Curitiba, 21 maio 1978. 22CONDINI, Paulo. Op. cit. 1966.

[17] VIRMOND, Eduardo Rocha.  O movimento abstrato. In: SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA. Tradição/Contradição. Curitiba, 1986. p. 117.

[18] A Mostra da Gravura foi criada em 1978 e durou até o ano 2000. O evento foi organizado pelo Museu da Gravura, cujo objetivo era “transformar Curitiba no principal núcleo de irradiação da gravura no Brasil”. A mostra tinha o intuito de acompanhar o desenvolvimento da gravura no espaço contemporâneo, propondo seminários e palestras com os artistas e críticos que participam desse circuito.

SANTOS, Maria Ivone dos. O livro e as publicações de artista: algumas considerações sobre os ateliês do Solar do Barão e o contexto de Curitiba. In: MUSEU DA GRAVURA CIDADE DE CURITIBA (PR). Solar da Gravura: 25 anos dos ateliês do Museu da Gravura Cidade de Curitiba. Curitiba, PR: Medusa, 2011. p.108

[19] Um museu nacional para valorizar a gravura. Folha de São Paulo. São Paulo, 23 nov. 1978.

[20] FERREIRA, Ennio Marques. [I Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba] Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba. 1978. Encadernado: Volume I. Compilação de documentos. Disponível no Setor de Pesquisa do Solar do Barão.

[21] SANTOS, Maria Ivone dos. O livro e as publicações de artista: algumas considerações sobre os ateliês do Solar do Barão e o contexto de Curitiba. In: MUSEU DA GRAVURA CIDADE DE CURITIBA (PR). Solar da Gravura: 25 anos dos ateliês do Museu da Gravura Cidade de Curitiba. Curitiba, PR: Medusa, 2011. p. 61.

[22] DI BERNARDI. Johanna Del. S. Di Bernardi. Fernando Calderari. Indústria e Comércio. Curitiba, 12 abr. 1988.

[23] MOSTRA ANUAL DE GRAVURA CIDADE DE CURITIBA. IX mostra da gravura cidade de Curitiba, 18 de outubro a 16 de dezembro de 1990. Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 1990. p. 7.

[24] Cícero Dias (1907-2003) iniciou sua carreira artística em 1920, período em que estão sendo introduzidas as tendências vanguardistas europeias em São Paulo. A temática de sua produção abrange surreal e imaginário, produziu obras que dialogam entre o figurativo e o abstrato. Na década de 50, foi um dos pioneiros da arte abstrata espontânea no Brasil.

[25] Iberê Camargo (1914-1994) foi pintor e gravador brasileiro, um dos representantes do expressionismo abstrato. Dedicou-se ao ensino de gravura em metal, tornando-se especialista na técnica. Já foi premiado como o melhor pintor nacional na VI Bienal de São Paulo em 1961.

[26] Farnese de Andrade (1926-1996) se especializou em gravura, trabalhando com formas regulares e cores fortes. Seu trabalho artístico de grande destaque são assembleges produzidas com materiais descartados, desde 1964.

[27] Tachismo é um tipo de pintura abstrata de caráter espontâneo, que se desenvolveu entre os anos de1940-50 na França. O Expressionismo abstrato foi um movimento artístico norte-americano, que ocorreu pós-Segunda Guerra Mundial, cujo principal representante foi Jackson Pollock, o qual rompeu com a arte tradicional de cavalete ao apresentar pinturas de expressão individual de sua subjetividade (action-painting). No Brasil, a artista Fayga Ostrower foi a pioneira na produção de gravura abstrata. Ela buscava o tratamento entre cor e forma.

[28] FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO. Iberê Camargo e o ambiente cultural brasileiro do pós-guerra.Catalogo de exposição. Porto Alegre, 1978. 

[29] TAVORA. Maria Luisa. A Gravura brasileira – Anos 50/60 Como um movimento: Gênese de um mito.  Revista Gávea.  Rio de Janeiro, nº 5, abr. 1988. p. 45.

[30] ARAÚJO, Adalice. Op. cit. 1969. p. 7.

[31] KIRDZIEJ, Sérgio. Fernando Calderari: as cores do céu, da terra e do mar, simplesmente Calderari.

Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2004. p. 10.

[32] ARAÚJO, Adalice. Fernando Calderari, um pioneiro. Curitiba, dez. 1971.

[33] Idem, p. 26.

[34] Idem, p. 26.

[35] Ele não consegue ficar um dia sem pintar. Gazeta do Povo. Curitiba, 18 jul.1973. 44KIRDZIEJ, Sérgio. Op. cit, 2004. p. 26.


10A aurora da vanguarda paranaense. Gazeta do Povo. Curitiba, 05 nov. 1995.

11O Centro de Gravura do Paraná foi criado em 1950 e dirigido pelo artista Nilo Previdi. As aulas aconteciam no subsolo da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, mas o curso era desvinculado desta instituição de ensino.

12A Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) é uma instituição de ensino superior pública, fundada em 1948 e é integrante da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Oferece cursos na área de Música e na área de Artes Visuais.

13O Museu Alfredo Andersen (MAA) tem origem na Sociedade de Amigos, criada por pessoas que conviveram com Alfredo Andersen. A Sociedade foi instituída em 1940, tinha por objetivo criar um espaço onde Andersen viveu como artista e educador. Tal espaço está localizado na Rua Mateus Leme, nº 336, uma unidade utilizada para preservação de sua obra e memória. Somente em 1979, a instituição passou a ser denominada Museu Alfredo Andersen.

30ELIAS, Tatiane de Oliveira. O Concretismo e o Neoconcretismo no Brasil. In: Hélio Oiticica: crítica de arte. 2003. 205p. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP. p. 50.

31ALMEIDA, Marlene de. As marinhas de Fernando Calderari. O Estado do Paraná. Curitiba, 03 maio 1998 Cícero Dias, Iberê Camargo e Farnese de Andrade são alguns dos principais artistas brasileiros que marcaram a cultura e a história do país, se envolveram no processo de abstração e no desenvolvimento de uma arte contemporânea.


[1] Mestranda em Artes pela Universidade Estadual do Paraná (PPGARTES/UNESPAR/2022); graduada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Estatual do Paraná (EMBAP/UNESPAR/2016).