REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10909897
Caroline Emanuele de Oliveira Borsalli
RESUMO
Este artigo faz parte do processo avaliativo do Mestrado Profissional em Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina (UEL), nele se propõe, apresentar a pesquisa que foi realizada nessa pós graduação, no presente trabalho se discorre sobre as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) e a compreensão leitora como auxiliadoras no processo de preparação e capacitação para a prova de língua estrangeira moderna, neste caso especificamente à prova de língua espanhola no vestibular das universidades federais e estaduais do Paraná. Este tema surgiu da dificuldade em se trabalhar com as questões de vestibular com os alunos do 3º ano do Ensino Médio, que se demonstravam resistentes a realizar essas atividades. Realizando um levantamento sobre as provas de vestibular das Instituições de Ensino Superior (IES) do Paraná nota-se que a principal habilidade exigida é a compreensão leitora (CL), tal constatação faz pensar que se em sala de aula os alunos já apresentam dificuldades em ler e realizar as atividades, como pensar que conseguirão ter um bom desempenho no momento do vestibular? Sendo assim, se propõe neste trabalho a produção de atividades que visem à compreensão leitora de textos autênticos e gêneros textuais semelhantes aos encontrados nas provas das IES do Paraná e a criação de um site para alojamento dessas atividades, nele os interessados em realizar as provas de vestibular das universidades poderão responder online exercícios semelhantes aos das provas que enfrentarão. Para descrever sobre as NTIC usamos o que apregoa (Andersen, 2013; Belloni, 2012; Von Staa, 2007; Campos, 2011; Giardino, 2007) e para dissertar sobre compreensão leitora tomamos como base o que discorre (Acquaroni Muñoz, 2004; Cassany, 2006; Leffa, 1999)
Palavras-chave: NTIC; compreensão leitora; vestibular.
INTRODUÇÃO
Neste artigo discorremos sobre as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) e a compreensão leitora como auxiliadoras no processo de preparação e capacitação para a prova de língua estrangeira moderna, especificamente à prova de língua espanhola, do vestibular das universidades federais e estaduais do Estado do Paraná.
Ao realizar leituras de literatura pertinente, seja de estudo de caso ou algum relato de experiência, sempre pensávamos que os autores, quase sempre professores, escolheram aprofundar mais seus conhecimentos e compartilhá-los conosco escrevendo esses trabalhos por alguma dificuldade que vivenciaram em seu contexto de atuação, e ao eleger discorrer sobre as NTIC e a compreensão leitora como forma de auxiliar os estudantes no estudo para o vestibular, no que compete à língua espanhola, não foi diferente do que pensávamos. Trabalhar com exercícios de compreensão leitora é um bom desafio, inclusive uma dificuldade que já enfrentamos quando ministrávamos aula no terceiro ano do Ensino Médio, período no qual grande parte dos alunos têm como objetivo o ingresso numa universidade públicas e esse empasse aumenta ainda mais.
Ao se trabalhar a compreensão leitora, doravante CL1, em sala de aula, observamos ao longo dos anos um grande desinteresse por parte dos alunos, primeiramente porque muitos não têm o domínio linguístico exigido e também porque na atualidade existe ao nosso redor infinidades de tecnologias de fácil acesso, porém nem sempre elas são usadas na escola, fazendo com que haja um longo caminho entre as informações obtidas na escola com as informações que os estudantes podem ter em casa. Por isso, o nosso objetivo é trabalhar com as NTIC unindo-as à compreensão leitora.
Fazendo um levantamento sobre as provas de vestibular das universidades estaduais e federais do Paraná, notamos que a principal habilidade exigida é a compreensão leitora (CL), tal constatação nos faz pensar que, se em sala de aula, com a ajuda dos professores, os alunos já apresentam dificuldades em ler e realizar as atividades, como esperar que consigam desempenhar esse papel sozinhos no momento do vestibular?
Por essa razão, propomos neste trabalho a produção de atividades que visem à CL de textos autênticos e gêneros textuais semelhantes aos encontrados nas provas das universidades estaduais e federais do Paraná e a criação de um site para alojamento dessas atividades, nele os interessados em realizar as provas de vestibular das universidades poderão responder online exercícios semelhantes aos das provas que enfrentarão, após o término da realização das atividades, os estudantes terão conhecimento da resposta correta e a justificativa da mesma e também poderão acessar os hiperlinks que haverá no texto, com explicações para as possíveis dúvidas.
Sendo assim, propomos unir a compreensão leitora em língua espanhola e as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação como forma de preparar os alunos para a prova do vestibular no que compete especificamente à língua espanhola. Além de almejar desenvolver a habilidade da compreensão leitora, com o apoio das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, apresentando aos vestibulandos atividades de compreensão leitora de textos autênticos com temas recorrentes nos vestibulares das universidades estaduais e federais do Estado do Paraná.
Esta pesquisa provem de um estudado qualitativo do tipo pesquisa-ação nela temos como objetivo promover ações para transformar uma dificuldade encontrada no ambiente escolar (TRIPP, 2005). Para isso fizemos um levantamento sobre os tipos de provas de vestibular das IES do Paraná no que cabe à prova de língua espanhola, observamos os gêneros textuais mais recorrentes nessas provas para posterior utilização na produção das atividades de CL, depois propusemos exercícios em língua espanhola, similares aos encontrados no levantamento feito, as atividades estão disponíveis por meio de um site, visando preparar os alunos para a prova do vestibular.
Para que os objetivos sejam alcançados, o presente artigo se divide da seguinte maneira, primeiramente abordarmos a questão do uso das NTIC na escola como uma ferramenta capaz de superar desigualdades sociais (Andersen, 2013; Belloni, 2012), posteriormente dissertamos sobre a formação continuada dos professores no que compete ao âmbito das NTIC (Von Staa, 2007), logo, discursaremos sobre as NTIC como ferramenta emancipadora e o novo papel do professor (Campos, 2011; Giardino, 2007), em seguida, realizamos um levantamento das provas de vestibular no que compete à língua espanhola das IES públicas do Paraná, onde apresentamos as quantidades de questões de cada uma dessas instituições e quantas delas trabalham com a CL. Depois, fizemos um resumo sobre as estratégias de leitura apresentadas por (Acquaroni Muñoz, 2004) e as concepções de leitura segundo (Cassany, 2006) e por último, explicamos como são desenvolvidas as atividades de compreensão leitora no site.
AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (NTIC)
Que a tecnologia vem ganhando cada vez mais espaço é inegável, basta observar nas ruas a quantidade de pessoas cada vez mais jovens, falando, navegando, teclando em celulares cada vez mais modernos, isso sem mencionar a quantia de aparelhos eletrônicos que temos em casa, dessa forma não é difícil concluir que também se faça necessário o uso da tecnologia nas escolas, em sala de aula. Para expor essa nova realidade que estamos vivenciando, Chamon; Dutra; Cunha; Braz (2012) nos presenteiam a seguinte citação:
Essas tecnologias fazem parte do mundo dos alunos, já que cada um deles domina o conteúdo informacional, jogos, internet, celulares. A sociedade instituiu esse domínio e se vive nessa realidade. Imersos num universo rico em equipamentos e ferramentas como google, iPod, msn, celular, dentre outros, estudantes reinventam a forma de se informar e gerar conhecimento. Hoje, crianças e jovens têm amigos, em todas as partes do mundo, que encontram a qualquer hora do dia ou da noite na tela do computador. (Chamon, E; Dutra, P; Cunha, R; Braz, S, 2012, P.7)
Como professores, sempre pensamos no uso das tecnologias como forma de interação com os alunos, já que a tecnologia faz parte da vida da maioria deles, como uma maneira de deixar a aula mais dinâmica, um modo de viabilizar o conhecimento. O que muitas vezes deixamos de perceber é o papel social que o uso da tecnologia em sala de aula pode proporcionar. “A inclusão digital tem sido apontada como um dos princípios para a superação das desigualdades sociais e, dessa forma, para o desenvolvimento de um país” (Andersen, 2013, p. 16)
Como dissemos anteriormente, a tecnologia faz parte da vida de muitos estudantes, entretanto não é algo que pertence a todos eles, já que segundo Zmoginski (2010)2 12% das cidades no Brasil ainda não possuem internet banda larga, outro dado importante nos aponta Bucco (2014)3 ao apresentar um estudo em que mostra que 56% da população brasileira ainda não tem internet em casa, neste caso o uso da tecnologia em sala de aula vai além do seu poder lúdico, o seu uso passa a ser um meio de igualar possíveis diferenças.
Quem nos traz mais detalhes sobre o uso das NTIC como forma de vencer desigualdades é Andersen (2013) no seu artigo intitulado “O uso de multimídia digital no ensino. Por quê? Para quê?” Neste artigo a mesma defende que o uso das NTIC nas escolas engloba, em primeiro lugar, uma compreensão mais ampla sobre desenvolvimento social. Ela expõe que:
Se reconhecemos o impacto das novas tecnologias da informação e da comunicação no desenvolvimento social e cultural, entendemos o papel fundamental da escola em contribuir para a superação das desigualdades. (Andersen, 2013, p.15)
Ao utilizar recursos tecnológicos nas aulas fazemos com que aqueles alunos que não tem acesso a esses aparelhos possam ter a oportunidade de conhecê-los, de olhar para que servem e como são usados, dando-lhes a chance de ver algo que venha a ser desconhecido por eles, é uma tentativa de superar essa diferença. Esta é uma razão muito importante para usarmos as tecnologias em sala de aula, afinal “elas já estão presentes e influentes em todas as esferas da vida social, cabendo à escola, especialmente à escola pública, atuar no sentido de compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas máquinas está gerando” (Belloni, 2012).
O que não podemos nos esquecer é que para que os estudantes possam ter acesso à essas modernidades deve haver apoio, seja por parte do município, do governo ou particular no caso de escolas privadas, é que tecnologia requer investimento, capacitação de professores, de nada adiante ter um laboratório cheio de computadores de última geração e professores despreparados, ou ao contrário, professores com boa vontade de aprender e ensinar, porém sem recursos para que isso ocorra.
Sobre a importância de capacitar professores para usar as NTIC, Betina Von Staa, (2007, p. 405) afirma que “a formação dos professores no mundo contemporâneo tem que se dar de forma continuada e permanente e, para tal, nada melhor do que termos todos – professores, alunos, escolas – conectados”. Sendo assim, não basta só dar um curso, quando a escola decide se adequar às tecnologias, a formação deve ser continuada, não pode cessar, senão assim como os aparelhos se modernizam, os conhecimentos de como utilizá-los se tornam obsoletos.
Não podemos pensar que porque na atualidade é muito comum estarmos sempre em contato com tecnologias, que todos os professores sabem usá-las, há uma discrepância entre fazer usos de redes sociais e saber usá-las como recurso em sala de aula, além do mais, muitos docentes não nasceram com acesso à tecnologia como ocorre na atualidade, como muitos de nossos alunos. E para isso existe até um nome, os que nasceram convivendo com toda essa demanda de tecnologias são chamados de “nativos digitais”, expressão cunhada pelo educador Marc Prensky4 para se referir aos que nasceram a partir de 1990 e assim como existe um nome para os que nasceram na Era da tecnologia, existe também um para os que não nasceram nesta época, que o mesmo intitula por “imigrantes digitais”.
Assim como nem todos no Brasil tem acesso à internet, nem todos os professores sabem como usá-la, principalmente como empregá-la para beneficiar as suas aulas, também precisamos de formação continuada não só na área específica de cada docente, mas também na de NTIC, pois a maioria dos professores são “imigrantes digitais” e como tal ainda necessitam de “alfabetização digital” (Giardino, 2007, p. 13).
É somente com a formação continuada que nós, docentes, conseguiremos perder o medo de usar a tecnologia em nossas aulas e tirar de bom o que nela há, é por meio de cursos de capacitação que nos sentiremos confiantes em trazer algo de novo para o ambiente escolar. Sobre esses benefícios de usar as NTIC no espaço educacional Kenski (2003) afirma que:
“professor que circula livremente no meio “digital” encontra ali um espaço educacional radicalmente diferente. Compreende que a sua ação docente neste novo ambiente não requer apenas uma mudança metodológica, mas uma mudança da percepção do que é ensinar e aprender” (Kenski, 2003 apud Von Staa, 2007)
É de suma importância que sejam ofertados cursos de formação continuada aos professores, para que reaprendamos a aprender ensinar nos dias atuais. Essa não é uma tarefa fácil, afinal mostrar a um professor que a forma como ele ensina, não deve ser anulada, mas reformulada é bastante complicado, primeiro porque o mesmo precisa estar estimulado a querer tal transformação e segundo porque há um longo trabalho já feito que precisa ser reconhecido e respeitado.
Acreditamos, verdadeiramente, que, no que diz respeito à formação de professores para o uso da tecnologia na educação, é necessário criar estratégias que motivem os docentes a utilizar a tecnologia para alguma finalidade prática, com segurança, cientes dos seus próprios objetivos, sem que seja muito abrangente ou muito técnica, e que respeite a experiência acumulada que todo o professor tem sobre o que é educar. Com esse tipo de trabalho, esperamos que os alunos logo sejam orientados a fazer bom uso dos recursos que têm à sua disposição e que os próprios professores descubram no seu ritmo, como desenvolver novas práticas pedagógicas com o uso desses recursos. (Von Staa, p.406)
Os professores precisam saber o porquê de usar as NTIC em seu trabalho, eles necessitam ser motivados a querer aceitar tal mudança, têm que se sentir seguros para usá-las, para que os mesmos possam compartilhar esse conhecimento com os seus alunos, que são o nosso principal cliente.
Já vimos sobre importância do uso das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação como forma de superar desigualdades, também ressaltamos que para que seu uso seja eficaz é necessária a formação continuada dos docentes para que todos possam utilizá-la, agora chega o momento de discorremos sobre os outros benefícios de se trabalhar com as NTIC – e o seu papel emancipador (Campos, 2011).
Segundo o dicionário HOUAISS (2001), um dos significados do verbo emancipar é fazer com que alguém se torne independente e é isso que o uso das NTIC como ferramenta educadora provoca, por meio dela fazemos com que os estudantes se tornem autônomos, personagem principal do seu processo de aprendizagem, não estamos dizendo que o papel do professor não é mais importante, que não tem mais utilidade, até mesmo porque sobre o novo papel do professor abordaremos mais adiante, mas sim que o aluno passa a ser mais responsável pela construção do seu conhecimento.
Se o estudante tem acesso à internet e quer saber mais sobre o conteúdo explicado em aula, basta ter interesse e fazer uma pesquisa para saber mais sobre o assunto, se ficou com alguma dúvida no momento de fazer a tarefa de casa, é só acessar a internet, que não se dá mais somente pelo computador, pode também ser conectada pelo celular ou Tablet, e realizar a sua investigação. Sendo assim, através das NTIC o aluno ganha autonomia, liberdade para ir além do que é ensinado na escola, basta querer.
Se o saber implica progresso, por sua vez educação significa possibilidade de emancipação do sujeito. As Novas Tecnologias (NT) surgem então, no âmbito educacional, como ferramenta que potencializa e acelera o processo de aprendizagem, o processo e a emancipação do aluno em indivíduo conhecedor, produtivo, responsável pelos seus atos. (Campos, p.238)
Essa citação corrobora com o que expusemos no parágrafo anterior; por meio do uso das NTIC, o estudante passa a não mais depender exclusivamente das informações transmitidas pelo professor, ele passa a ter um papel mais ativo na formação do seu saber, ele tem o poder de buscar, de querer saber mais e ir além da sala de aula, agilizando dessa forma o seu processo de aprendizagem.
Se o papel do aluno passa a ser mais ativo, mais presente na construção do seu conhecimento, o papel do professor também muda, se antes ele era o único “centro das informações” hoje ele já não é mais, sendo assim ele tem que aprender novas formas de ensinar e entender que ele passa a ser um mediador de conhecimento.
Para responder a todas essas mudanças, é desejável que o professor seja um sujeito criativo, com iniciativa, capaz de interpretar e solucionar problemas, de buscar, selecionar, interpretar, organizar, gerar informações e aprender continuamente. Para isso, o professor precisa dominar as linguagens contemporâneas, isto é, saber comunicar-se através dessas linguagens. A emblemática figura do professor sabe-tudo e entregador de informações não se sustenta mais. (Giardino, 2007, p. 14)
Se o aluno por meio do uso das NTIC passa a exercer um papel mais ativo na sua aprendizagem, isso não significa que o professor começa não ter um papel fundamental, o que ocorre é que ele exercerá a função de mediador do conhecimento, é ele que promoverá nos alunos o desejo de querer buscar além. (Andersen, 2013, p.24). Dissemos que na atualidade, com o uso das NTIC o papel do professor e dos alunos sofrem mudanças, mas se os dois estão em processo de transformação, a escola também está, afinal ela é o elo entre os dois.
Neste mundo de comunicação generalizada, torna-se fundamental compreender que o papel da escola se transforma, deixando de ser o centro das informações e constituindo-se em espaço ideal para a produção do conhecimento e cultura, com a mediação/intervenção dos professores, num estímulo às ações de caráter socializado e cooperativo (Giardino, 2007, p.14)
Assim, como o professor passa a não ser mais o possuidor de todas as informações, a escola também começa a exercer outro papel, a de ser um espaçomotivador para partilhar conhecimento, ela já não o detém, e junto com os docentes o complementa. Realmente as NTIC vieram para melhorar, para modificar e ajudar no processo da construção de conhecimento, elas “vão dinamizar o ensino, cativar os alunos, auxiliar os professores, trazer um novo mundo à sala de aula ou, até transformar o mundo em uma sala de aula” (Campos, 2011, p.242)
COMPREENSÃO LEITORA: CONCEPÇÕES E ESTRATÉGIAS
Como o objetivo da nossa pesquisa é ajudar aos alunos na capacitação para realização da prova do vestibular, na parte em que compete à língua espanhola por meio das NTIC e da compressão leitora, faz-se necessário discorrer sobre as concepções de leitura e suas estratégias para que possamos compreender que tipo de leitura é cobrada nos vestibulares das universidades estaduais e federais do Paraná, para isso embasar-nos nas concepções de leituras propostas por Cassany (2006) e nas estratégias de leitura apresentadas por Acquaroni Muñoz (2004).
Podemos nos perguntar, então, o que é ler? Muitas são as definições e concepções teóricas que subjazem o ato de ler, a leitura. Para este trabalho, em sua versão inicial, tomaremos as palavras de um especialista da área de Linguística Aplicada. Segundo Leffa (1999) ler é muito mais do que decodificar um texto, conhecer o significado de suas palavras, ler é saber usar estratégias, ao ser perguntado se está ou não compreendendo o texto, o leitor deve dizer sim ou não e mencionar os motivos da falta de entendimento, deve dizer quais foram os problemas encontrados e propor estratégias que possam ser usadas para melhorar a sua compreensão. De acordo com o mesmo, o leitor deve saber que existem distintos tipos de leitura e que ele deve conhecer quais estratégias são apropriadas ou inapropriadas para os diferentes tipos de texto.
[…] tem consciência de que há diferentes tipos de leitura. Há a leitura rápida do jornal diário ou da revista semanal, apenas para se ter uma idéia(sic) geral do que está acontecendo. Há a leitura lenta e penosa do texto de um autor famoso que precisa ser conhecido. Há a leitura atenta e cautelosa do manual de uma máquina sofisticada que precisa ser montada corretamente. Cada um desses tipos de leitura exige uma estratégia diferente. (Leffa, 1999, p.14)
Assim como existem diferentes tipos de texto e baseado neles devemos usar distintos tipos de estratégias de leitura, Leffa (1999) diz que há vários objetivos de leitura. Pensemos que quando compramos um eletroeletrônico novo e não sabemos como usá-lo, consultamos o seu manual, ou seja, lemos para aprender, quando desejamos ler algo para passar o tempo ou para descansar, fazemos uma leitura recreativa, quando lemos porque estamos vivendo alguma tribulação e queremos buscar força em um livro, estamos com um objetivo afetivo e há também o objetivo ritualístico, que pastores e padres utilizam com frequência, que é aquele que se usa quando se tem que ler para reger uma cerimônia religiosa. Todos temos uma razão para ler e de acordo com elas devem vir as estratégias. (Leffa, 1999).
Tratando de justificar o uso das estratégias na compreensão leitora em língua estrangeira, Acquaroni Muñoz (2004) nos explica que não há como prever todas as situações comunicativas que o estudante de uma língua estrangeira irá enfrentar e isso também se dá quando se refere à CL por essa razão o uso das estratégias é indispensável. A mesma explica que as estratégias de leitura são procedimentos que realizamos com “o propósito de compreender o que se lê, sejam técnicas conscientes controladas pelo leitor, ou operações mentais inconscientes que se põem em prática quando se inicia a leitura”5 (Acquaroni Muñoz, 2004, p.954) A pesquisadora classifica as estratégias de leitura em:
- Estratégia cognitiva de classificação e verificação: essa estratégia não deve ser a principal, pois o uso do dicionário pode atrapalhar a compreensão do texto.
- Estratégias cognitivas de inferência, que por sua vez se subdividem em: estratégias de inferência interlingual (conhecimento que o estudante já possui de sua língua materna), estratégias cognitivas de inferência extralingual (conhecimento do tema do texto, de acordo com o conhecimento de mundo de cada leitor) e estratégias de inferência intralingual (conhecimento que o aluno tem da língua estrangeira).
- Estratégias metacognitivas de atenção focalizada (que se ativam durante a pré-leitura, como forma de motivar o leitor no processo da compreensão do texto).
Agora que já explicamos sobre as estratégias de leitura, chega o momento de discorrermos sobre as concepções de leitura, para isso, como já dissemos anteriormente, apresentaremos as definições de Cassany (2006). Tal pesquisador divide as concepções de leitura em três partes: concepção linguística (leitura das linhas), concepção psicolinguística (leitura entrelinhas) e concepção sociocultural (leitura por detrás das linhas).
Sobre a concepção linguística, Cassany (2006, p.25) explica que “ler é recuperar o valor semântico de cada palavra e relacioná-las com o valor das palavras anteriores e posteriores” nela não se leva em consideração o conhecimento de mundo que possui o leitor “seu significado é único, estável, objetivo e independente dos leitores e das condições de leitura”6 Nesta concepção, o mesmo expõe que ler é uma questão linguística, que consiste em aprender as palavras da LE e as regras que as regem.
Já na concepção psicolinguística, Cassany (2006, p.32) diz que “ler não é somente conhecer as unidades e as regras combinatórias do idioma. Também requer desenvolver habilidades cognitivas implicadas no ato de compreender7”, ou seja, indica ter um “conhecimento prévio, construir inferências, formular hipóteses e saber confirmá-las ou reformulá-las” (Abreu, 2011, p. 47)
Sobre a concepção sociocultural, Cassany (2006, p.33) afirma que “tanto o significado das palavras como o conhecimento prévio que aporta o leitor tem origem social. Nessa concepção “é necessário a soma de todas as partes: texto/autor, leitor e o contexto de produção e de recepção do texto em um dado espaço sócio-historicamente situado” (Abreu, 2011, p. 52). Sendo assim, nela não se avalia somente o conhecimento da língua estrangeira, ou o domínio sobre o tema, é importante também saber em que contexto social e cultural o texto foi produzido.
[…] Também é uma prática cultural inserida em uma comunidade particular, que possui uma história, uma tradição, uns hábitos e umas práticas comunicativas especiais. Aprender a ler requer conhecer estas particularidades, próprias de cada comunidade. Não basta saber como decodificar as palavras ou como fazer inferências necessárias. Há de conhecer a estrutura de cada gênero textual em cada disciplina, como o utilizam o autor e os leitores, que funções desenvolvem, como se apresenta o autor na prova, quais conhecimentos devem dizer e quais devem pressupor, como citam as referências bibliográficas, etc. (Cassany, 2006, p.38)8
Estamos de acordo com Cassany (2006) quando o mesmo apresenta que na concepção sociocultural “ler não é só um processo psicobiológico realizado com unidades linguísticas e capacidades mentais9” e por isso, temos como objetivo nas produções de atividades de compreensão leitora que visam a capacitação para a realização das provas de vestibular, na parte em que se refere à língua espanhola, levar em consideração todos os seus ensinamentos e compartilhar por meio das atividades propostas, que a leitura é um processo maior do que a decodificação do texto, ou a percepção do leitor, mas sim, que ela nasce “da comunidade falante, e o significado nasce da cultura que compartem autor e leitor” (Abreu, 2011, 60).
PROVAS DE VESTIBULAR DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS E FEDERAIS DO PARANÁ EM LÍNGUA ESPANHOLA E PRODUÇÃO DAS ATIVIDADES NO SITE
Analisando as provas de algumas universidades estaduais e federais do Paraná, concluímos que grande parte exige a compreensão leitora, como já havíamos mencionado, porém há divergência na quantidade e nos tipos de questões. Enquanto algumas trabalham com questões em espanhol, outras as apresentam em português, observamos também que existem provas que não trabalham com apenas uma questão correta, mas sim com a somatória de todas as opções corretas na questão. É de suma importância ressaltar que tal pesquisa foi realizada levando em consideração o último processo de vestibular realizado até então, vestibular de verão, dezembro de 2014, para ingresso em 2015. Sendo assim, exibimos na seguinte tabela a quantidade de questões por prova, quantas questões eram de compreensão leitora, quais eram os tipos de questões, dissertativas, objetivas ou somatória, quantas opções haviam por questão e qual era o idioma das perguntas e das opções:
PROVAS DE VESTIBULAR DE ESPAÑOL DAS IES DO PARANÁ | |||||
Universidades Estaduais e Federais do PR10 | Quantidades de questões | Quantidades de questões compreensão leitora | Tipos de questões | Quantidade de opções em cada questão | Idioma das opções |
UFPR | 8 | 8 | Objetiva | 5 | Espanhol |
UEM | 5 | 2 | Somatória | 5 | Espanhol |
UEL | 10 | 6 | Objetiva | 5 | Espanhol |
UEPG | 7 | 6 | Somatória | 5 | Português |
UNESPAR | 10 | 5 | Objetiva | 5 | Espanhol |
UENP | 10 | 3 | Objetiva | 5 | Português |
UNICENTRO | 10 | 3 | Objetiva | 5 | Espanhol |
UNIOESTE | 7 | 5 | Objetiva | 5 | Espanhol |
IFPR | 5 | 3 | Objetiva | 5 | Espanhol |
Ao realizar tal pesquisa, percebemos que todas as universidades aqui citadas trabalham com pelo menos 30% da sua prova priorizando a compreensão leitora, levando isso em consideração decidimos unir a compreensão leitora e as NTIC como base para as produções de atividades que visem o preparo para a prova de vestibular, no que cabe à prova de espanhol.
Levando em consideração que temos como objetivo unir a CL e as NTIC, como se realizará o seu uso de fato? As atividades foram desenvolvidas em um site11, por meio dele o aluno poderá realizar online os exercícios de gêneros textuais correntes nos vestibulares das universidades pesquisadas, no término de cada atividade, o estudante saberá o seu desempenho, a sua porcentagem de acertos e a justificativa da resposta correta e também dentro do texto colocaremos hiperlinks com explicações para possíveis dúvidas. Ademais, o site conta com links de calendários de vestibular das universidades estaduais e federais do Paraná, bem como dicas de estratégia de leitura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo foi dividido em três partes, na primeira apresentamos sobre as NTIC, a segunda sobre a compreensão leitora e a terceira sobre as provas de vestibular das IES do Paraná e também sobre como foram desenvolvidas as atividades de compreensão leitora no site.
A temática dessa pesquisa surgiu da dificuldade que encontramos em trabalhar exercícios de CL nas aulas de língua espanhola, em especial com o terceiro ano do ensino médio, cujo foco são questões de vestibular de universidades públicas, principalmente do Paraná, já que os mesmos buscam o ingresso em uma delas. Seja por dificuldades linguísticas ou por desinteresse, os estudantes não apresentavam um rendimento significativo, dessa forma decidimos unir algo que lhes agrada muito, que são as tecnologias com os exercícios de compreensão leitora.
Sobre as NTIC, apresentamos, a princípio, a sua função social de igualar diferencias, trabalhando com elas em sala de aula, o professor faz com que os alunos que não têm acesso a esses recursos tecnológicos possam conhecê-los e aprender a usa-los, igualando-os com os que sabem maneja-los. Também apresentamos que para que o professor use as NTIC é necessário cursos que os preparem para isso, é preciso formação continuada, para que possam trabalhar com elas, sem medo, entendendo assim os benefícios que elas proporcionam.
Apresentamos que um dos benefícios de usar as NTIC na educação é a de emancipar o aluno, com o seu uso, os estudantes passam a ser mais responsáveis pelo seu processo de aprendizagem, tendo oportunidade de ir além dos conhecimentos compartilhados em sala. Se o papel do aluno muda, vimos também que a função do professor se transforma, ele já não será mais a única fonte de informação, mas um mediador e inspirador da mesma é ele que tem o poder de incitar o estudante à pesquisa.
No que diz respeito à compreensão leitora, apresentamos a visão de Leffa (1999) sobre o ato de ler, nesta seção vimos em cada leitura há um objetivo e que as estratégias de leitura devem ser usadas de acordo com eles. Sobre as estratégias de leitura compartilhamos os conhecimentos transmitidos por Acquaroni Muñoz (2004), a mesma divide as estratégias de leitura em três partes: estratégia cognitiva de classificação e verificação que diz respeito ao uso do dicionário para o conhecimento linguístico das palavras no texto; estratégias cognitivas de inferência que por sua vez se divide em três outras estratégias, a primeira trata do conhecimento da língua materna que o estudante já possui, a segunda o conhecimento de mundo que o mesmo apresenta sobre o tema do texto e a última sobre o conhecimento que ele tem sobre a língua estrangeira em si; e estratégias metacognitivas de atenção focalizada, essa estratégia se ativa na pré-leitura, é uma maneira de motivar o estudante a compreender o texto.
Já nas concepções de leitura compartilhamos os ensinamentos de Cassany (2006) que divide as concepções em três partes: a concepção linguística onde ler é uma questão linguística, que consiste em aprender as palavras da LE e as regras que as regem, depois concepção psicolinguística onde ler já não é só saber as unidades léxicas e as regras da língua, mas sim possuir conhecimento cognitivo para compreender um texto e por último há a concepção sociocultural que leva em consideração o contexto social e cultural em que o texto foi produzido, é uma relação que se efetiva entre o leitor e o autor.
Na parte em que compete às provas de vestibulares e a produção das atividades no site, apresentamos uma tabela que mostra que todas aquelas instituições citadas trabalham com a compreensão leitora em suas provas, e explicamos como forma realizadas as atividades de CL no site. Para finalizar, queremos propor com o nosso trabalho, ajudar a estudantes e professores que assim como nós sentem dificuldade em trabalhar a compreensão leitora de texto de vestibular em suas aulas.
1Llopis García (2008)
2Grupo Abril, 12% das cidades não tem internet no Brasil. Disponível em <http://info.abril.com.br/noticias/tecnologia-pessoal/12-das-cidades-nao-tem-banda-larga-no-br-13012010-49.shl.> Acesso em 25 de julho de 2015.
3Portal de Telecomunicações, Internet e TICs, 56% dos lares ainda não têm internet no Brasil. Disponível em <http://www.telesintese.com.br/56-dos-lares-ainda-nao-tem-internet-brasil/> Acesso em 25 de julho de 2015.
4Época, Marc Prensky: “O aluno virou o especialista” Disponível em <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI153918-15224,00-MARC+PRENSKY+O+ALUNO+VIROU+O+ESPECIALISTA.html>. Acesso 04 de agosto de 2015.
5Con el propósito de comprender lo que se lee, ya sean técnicas conscientes controladas por el lector, o bien, operaciones mentales que se ponen en marcha automáticamente cuando se inicia la lectura (ACQUARONI MUÑOZ, 2004, p.954)
6Leer es recuperar el valor semántico de cada palabra y relacionarlos con el de las palabras anteriores y posteriores. Así el significado es único, estable, objetivo e independiente de los lectores y de las condiciones de lectura.
7Tradução livre nossa: “[…] leer no solo exige conocer las unidades y las reglas combinatorias del idioma. También requiere desarrollar las habilidades cognitivas implicadas em e lacto de compreender […]” (Cassany, 2006, p.32)
8Tradução livre nossa: “[…] También es una práctica cultural insertada en una comunidad particular, que posee una historia, una tradición, unos hábitos y unas prácticas comunicativas especiales. Aprender a leer requiere conocer estas particularidades, propias de cada comunidad. No basta con saber descodificar las palabras o con poder hacer inferencias necesarias. Hay que conocer la estructura de cada género textual en cada disciplina, cómo lo utilizan el autor y los lectores, qué funciones desarrolla, cómo se presenta el autor en la prosa, qué conocimientos deben decirse y cuáles deben presuponerse, cómo se citan las referencias bibliográficas, etc” (CASSANY, 2006, p.38)
9Tradução livre nossa: “[…] leer no es sólo un proceso psicobiologico realizado con unidades linguísticas y capacidades mentales” (Cassany, 2006, p.38)
10Nesta tabela não se encontram duas instituições que são públicas no Paraná, a UNILA (Universidade Federal Latino-Americana) e a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), já que as suas formas de ingresso, não são pelo vestibular.
11Todas as atividades estão disponíveis na plataforma EDMODO < https://new.edmodo.com/groups/entrenando-para-la-selectividad-19043299> Senha de acceso a sala: q8pex8.
REFERÊNCIA
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