AS IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS EM HOMENS SUBMETIDOS AO PROCEDIMENTO DE PENECTOMIA EM DECORRÊNCIA DO CÂNCER DE PÊNIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7472633


Paulo Victor Vieira Pinho
Orientador: Me. Wallace Scantbelry


RESUMO

O câncer de pênis é um tipo raro, com alta incidência em homens da terceira idade, porém, podem atingir os mais jovens. A doença acomete indivíduo de baixo nível social, com maus hábitos higiênicos, podendo também está associada à infecção do (HPV). A procura atrasada por ajuda médica e o tratamento tardio na maioria dos casos de homens diagnosticados com câncer de pênis, terá que submeter ao procedimento cirúrgico de penectomia, essa que afeta a saúde psíquica, física e na socialização do homem. Objetivo Geral: identificar evidências na literatura que abordam as implicações psicossociais em homens diagnosticados com Câncer de Pênis e que são submetidos ao procedimento cirúrgico de Penectomia. Objetivos específicos: relatar a importância da prevenção e identificação precoce do câncer de pênis; apontar as consequências que afetam a saúde do homem, tanto física como psíquica, e sua masculinidade promovida pela penectomia; e abordar o processo de auxílio na busca de estratégias de enfrentamento que possam ser usadas em pacientes penectomizados para que estes obtenham uma melhor qualidade de vida. Método: trata-se de um estudo de revisão de literatura, realizado a partir da busca de artigos publicados em periódicos de grande circulação nacional referente aos últimos dez anos. Observou-se a partir da análise dos artigos que é considerado fundamental, a necessidade de acompanhamento psicológico especializado, o apoio da família, e o papel da religião como contribuintes de caráter positivo ao suporte emocional, social e no bem-estar destes homens. 

Palavras-chaves: Câncer de Pênis; Penectomia; Saúde mental; Masculinidade.

ABSTRACT

Penile cancer is a rare type, with a high incidence in elderly men, however, it can affect younger people. The disease affects individuals of low social status, with poor hygienic habits, and may also be associated with (HPV) infection. The delayed search for medical help and the late treatment in most cases of men diagnosed with penile cancer, will have to submit to the surgical procedure of penectomy, which affects the mental, physical and social health of the man. General Objective: to identify evidence in the literature that address the psychosocial implications in men diagnosed with Penile Cancer and who undergo the surgical procedure of Penectomy. Specific objectives: to report the importance of prevention and early identification of penile cancer; point out the consequences that affect men’s health, both physical and mental, and their masculinity promoted by penectomy; and to embroider the aid process in the search for coping strategies that can be used in penectomized patients so that they obtain a better quality of life. Method: this is a literature review study, carried out from the search for articles published in periodicals of great national circulation referring to the last ten years. It was observed from the analysis of the articles that it is considered fundamental, the need for specialized psychological follow-up, family support and the role of religion as positive contributors to the emotional, social support and well-being of these men.

Keywords: Penis Cancer; Penectomy; Mental health; Masculinity.

1 INTRODUÇÃO

A Psicologia é tida como o campo da ciência que em seus estudos e pesquisas estão associados com a mente e ao comportamento humano, além de suas relações com o ambiente físico e social. Vale destacar que esta área, pode trazer significantes colaborações para as diversas esferas do campo científico. Em virtude disso, observa-se que cada vez mais, ela vem atuando em distintos setores, entre eles, sua ligação com outras áreas da saúde, objetivando proporcionar implicações positivas ao indivíduo, contribuindo também, para a sua relação com mudo.

Entretanto, nessa busca de compreender e construir abordagens que geram nos sujeitos excelentes benefícios na adaptação e no enfrentamento desses que se deparam em situações crônicas de saúde, mostra-se como um grande desafio. Entre ele, abordar sobre a doença do câncer, dado que esta, a partir da comunicação do diagnóstico, em suma, remete ao paciente a ideia de sofrimento, dor, limitação e até mesmo, a associação da morte.

As pesquisas sobre o câncer, ultimamente têm obtido grande crescimento entre as diversas áreas do conhecimento, focando principalmente nos tipos de tumores com maiores índices e que mais prevalecem na população. São estudos que se caracterizam pela busca de compreender mais sobre a doença, além da promoção da saúde. Porém, o foco deste trabalho apresenta um diferencial, pois se submete a pesquisas voltadas para um tipo de tumor raro, visto que há baixa prevalência diante dos outros tipos, que é o Câncer de Pênis. Dentre os meios de tratamento eficazes para combater ou controlar o local da doença, sugere-se a cirurgia de penectomia.   

Com efeito, o centro desse estudo, buscou identificar evidências na literatura que abordam as implicações psicossociais em homens diagnosticados com Câncer de Pênis e que são submetidos ao procedimento cirúrgico de Penectomia. Diante disso, como objetivos subsequentes, estão: relatar a importância da prevenção e identificação precoce do câncer de pênis; apontar as consequências que afetam a saúde do homem, tanto física como psíquica, e sua masculinidade promovida pela penectomia; e a bordar o processo de auxílio na busca de estratégias de enfrentamento que possam ser usadas em pacientes penectomizados para que estes obtenham uma melhor qualidade de vida.  

O método desse trabalho se trata de um estudo de revisão de literatura, realizado a partir da busca de artigos publicados em periódicos de grande circulação nacional. Para isso, deu-se a preferência por publicações atuais, isto é, referentes aos últimos dez anos, todavia, publicações mais antigas foram citadas conforme relevância para o estudo. O ponto de partida das buscas se deu a partir da atuação da psicologia hospitalar com homens submetidos ao procedimento de penectomia em decorrência do câncer de pênis, através de descritos como “Câncer pênis”, “Penectomia”, “Saúde do Homem” e “Saúde Mental”. As pesquisas foram realizadas nos seguintes portais: Google Acadêmico, Scielo, Pepsic, BVS-PSI e na Biblioteca Virtual em Saúde. 

Para melhor compreensão e buscando responder aos objetivos apresentados, o trabalho está dividido em quatro tópicos, são eles: O Câncer de Pênis e a Penectomia; Prevenção ao Câncer de Pênis; Implicações da Penectomia na Masculinidade e na Saúde mental do Homem; Alguns Contribuintes para a Busca de Estratégias de Enfrentamento. Desse modo, mostra-se a relevância em desenvolver uma pesquisa voltada para um tumor tido como raro, com maior incidência na região norte e nordeste, na qual o seu tratamento traz consigo efeitos devastadores na saúde física e mental do homem. Assim, eu como nortista e finalista no curso de psicologia, me propus a desenvolver esse trabalho desafiador, pois, ao se tratar de uma incidência rara, causa um enigma sobre o processo do diagnóstico e terapêutico para os profissionais da área.

2 O CÂNCER DE PÊNIS E A PENECTOMIA

O câncer de pênis, conforme Korkes, et al. (2020), se trata de uma neoplasia rara que atinge o órgão genital masculino, representando 2% da população em relação aos diferentes tipos de câncer no Brasil. Wind, et al. (2019) relatam que a doença atinge cerca de 1/100.000 homens nos países desenvolvidos, e que a alta incidência é encontrada principalmente em homens que se encontram na terceira idade, porém, também há registros de jovens diagnosticados. David, et al. (2022) aponta que o Brasil é um país com os maiores índices, atingindo o segundo lugar no ranking. As regiões com maiores frequências de câncer de pênis são Norte e Nordeste, destacando o estado do Maranhão. (OLIVEIRA, et al. 2022)  

A evolução da doença, de acordo com Gomes, et al. (2019), pode se associar as condições socioeconômicas baixas, a homens que não se submetem a uma boa higiene íntima e por infecções acometidas pelo vírus do papiloma humano (HPV). A enfermidade geralmente se apresenta como uma lesão ou tumor, podendo surgir em qualquer parte da genitália masculina.  Além disso, há a presença de odor por consequência de sangramento e gânglios inguinais (WIND, et al. 2019).

O diagnóstico, de acordo com Do Carmo (2020), se dá por meio da anamnese e exame físico, obtendo sua confirmação através da biopsia. Oliveira, et al. (2022) destacam como meios de tratamento para o câncer de pênis a radioterapia; a quimioterapia; a penctomia, esta que se trata da amputação parcial ou total do pênis através de cirurgia. 

Com efeito, a penectomia é vista como uma intervenção na saúde do homem para que este se beneficie, tanto no seu corpo, como no prolongamento do tempo de sua vida. No entanto, esse procedimento cirúrgico pode provocar no paciente não apenas consequências físicas, mas também consequências psíquicas, interferindo também na sociabilidade. Em decorrência disso, geralmente esses homens, são acompanhados por psicólogos. Esse acompanhamento se dá, conforme Nespoli, et al. (2020), pelo fato de o paciente ter sua masculinidade afetada, uma vez que surge nesses, o sentimento de ter se tornado menos homem, além do mais, implicações na sua habilidade de se relacionar sexualmente. E a partir disso, aparecem os problemas emocionais e psicológicos que consequentemente, afetam sua convivência com família e interação no ambiente de trabalho, dentre outras relações interpessoais.

3 PREVENÇÃO AO CÂNCER DE PÊNIS

A saúde do homem é tida como um assunto bastante complexo, envolvendo as questões culturais que geram dificuldades nesses indivíduos na busca de atendimento voltado para as necessidades de saúde. Por esse motivo, Costa, et al. (2013) apontam que a prevenção do câncer está associada a um conjunto de medidas que buscam a redução e evitar que fatores de risco se manifestem. Diante disso, esses autores deixam evidente a necessidade em investir no desenvolvimento de ações que contemplem o controle do câncer de pênis, como na promoção da saúde, no diagnóstico precoce, no auxílio aos pacientes, em comunicação, na mobilização social, e na gestão do SUS.

Dos Santos Souza, et al. (2021) enfatizam que a prevenção ao câncer de pênis tem como natureza o meio de divulgação de informações, além de recomendações normativas de mudança de hábitos. Ademais, os autores destacam ações como boa higienização do órgão, em caso específicos, a cirurgia de fimose, o uso do preventivo durante os atos sexuais, bem como o diagnóstico precoce da patologia. 

Os autores Siqueira, et al. (2019) chamam a atenção para a conduta da prática do autoexame como um dos fatores essenciais para o diagnóstico precoce e o controle da erradicação desse tipo de neoplasia. Assim, mostra-se a necessidade de ações educativas voltada para os homens, pois promovem saúde, uma vez que possui o intuito de uma melhor compreensão sobre o câncer de pênis, além das medidas preventivas e a detecção precoce. 

Portanto, se mostra necessário a intensificação das campanhas de prevenção, repassando à população o conhecimento sobre os maus hábitos de higiene, tendo em vista que a doença está relacionada a hábitos sexuais e de higiene precários. Desse modo, Lindoso, et al. (2018), apontam a importância que as campanhas de prevenção possuem, tendo em vista que elas podem ajudar no diagnóstico do câncer de pênis nos estágios iniciais, reduzindo a existência e a gravidade da doença, proporcionando também maiores possibilidades de cura.

4 IMPLICAÇÕES DA PENECTOMIA NA MASCULINIDADE E NA SAÚDE MENTAL DO HOMEM

A masculinidade, conforme Rodriguez (2020), pode ser exemplificada como  um amontoado  que envolve tanto  ideias como  atos, assim, são determinados e definidos pela sociedade na qual se aplica ao ser humano que nasce com um pênis. Essas atribuições se pautam na economia, na política e na sociedade em geral. Assim, o universo masculino pode ser traduzido nas categorias de: jovem, heterossexual, cisgênero, forte, e viril. 

Silva (2018) relata que a masculinidade, na perspectiva de gênero, só pode ser raciocinada de acordo com os pontos histórico e contextual. Desse modo, podemos entender a pluralidade da masculinidade, haja vista que esta, é embasada por contextos sociais mutáveis, cercados de transformações históricas, culturais e políticas. Além disso, a autora também nos apresenta o conceito de masculinidade hegemônica, conceito esse compreendido como um modelo de execução que possibilita a chamada de homens sobre todo o tecido social. Com efeito, ela é normativa e engloba a maneira mais ponderada de ser um homem, requerendo que todos os outros homens se disponham em relação a ela. Desse modo, a masculinidade hegemônica irá se basear na configuração relacional das práticas de gênero que são aceitas socialmente, garantindo e determinando as posições polarizadas de dominantes e dominados, e expressa uma posição sempre em disputa.

Em decorrência disso, Marques, et al. (2012) chama atenção ao cuidado em relacionar a masculinidade aos modelos culturais de gênero que ajustam os pensamentos, os afetos, e as condutas dirigidas à identidade de ser homem. Isso, porque quanto mais os homens se aproximam dos padrões considerados culturalmente, a possibilidade de obterem sua masculinidade atestada, será maior. Assim, mesmo concebendo a masculinidade no plural, não se deve levar em desconsideração que entre esses diversos modelos, exista um que em sua totalidade não seja dominante, e que hegemonicamente, manifesta uma postura de autoridade cultural e liderança, no que diz respeito à ordem de gênero em um total. 

O homem que é submetido ao procedimento cirúrgico da penectomia, conforme Oliveira, et al. (2022),  passa a ter uma vida nova, onde terá que redefinir muitos preceitos associados ao seu eu em sociedade. Este fato pode está relacionado com a questão da representatividade deste órgão, na qual é tida para o homem, como um sinal de virilidade masculina. Para Freud (1905/1996), o pênis, onde o mesmo em suas obras conceitua como falo, é tido como uma maneira de proporcionar a orientação do indivíduo em seu processo de formação e identificação sexual. Ceccarelli (2013) observa que referente a sexualidade masculina, o fator de ter um pênis, se demonstra como uma garantia que permite a passagem “natural” da fase masculina à masculinidade. 

Os efeitos decorrentes do câncer de pênis através da cirurgia de penectomia, podem ser entendidos, de acordo com Nespoli, et al. (2020), como efeitos de castração da masculinidade, uma vez que o homem terá dificuldades em provar ou reafirmar sua virilidade sexual. Diante disso, ao considerar a amputação parcial ou total do pênis uma possibilidade de tratamento do câncer, se faz necessário entender também como esta será internalizada e interpretada pelo sujeito, levando em consideração que o adoecimento pode interferir na identificação do seu esquema corporal. 

Nesse mesmo sentido, Oliveira, et al. (2022) também evidenciam que para o homem há uma relação peculiar entre o órgão genital e a identificação masculina. Desse modo, após o procedimento cirúrgico, nota-se o quanto a perda do órgão genital afeta a autoimagem do homem, comprovados na descrição dos sentimentos identificados como de inferioridade, vergonha, constrangimento e redução da autoestima. 

Conceição, et al. (2022) enfatizam que o corpo antes do adoecimento proporcionava prazer, pois ligava a uma ideia de que esse homem tinha o estereótipo de masculino adequado. Além disso, também visto com dominador que exercia o seu poder no trabalho, nas relações sexuais, na independência financeira, como o encarregado de provedor da família, e no controle das funções do seu corpo. Diante disso, podemos observar os impactos que a penectomia traz aos indivíduos, principalmente no que se refere a sua percepção de homem, cruzados pelo significado que a cultura designa ao sentido da masculinidade. 

Em seus estudos, Nespoli, et al. (2020) relatam que o adoecimento fez com que os homens saíssem do „normal‟ e o colocou como „patológico‟, isso não apenas do corpo, mas também mentalmente, visto que estes, tiveram implicações na sua afetividade e dependência, além de depressão (em alguns casos) e fragilidade. Antes da penectomia, os homens em relação ao poder que atribuíam a si, e sobre os outros, se tornou um elemento moral que os predem por não se acharem mais livres para demonstrar sua masculinidade. Assim, configuram uma nova identidade, o que Conceição, et al. (2022) apresentam como  a de meio-homem.

Rosa (2021) em sua dissertação, ressalta que independentemente do tipo de tumor, o câncer apresenta ao individuo, significações ligadas ao sofrimento devido às fases da doença. Desse modo, comprometendo as funções normais, ocasionando alteração na autoestima, gerando medo em relação a morte, e rejeição social. Corroborando com a autora acima, Gaspar e Angremi-Camon (2013) expõem que depois que ocorre a comunicação de um diagnóstico de câncer, os sujeitos apresentam quadros de tristeza, medo, ansiedade, estado emocional de choque. Diante disso, percebe-se que após o diagnóstico, o paciente vivencia, além do processo de adoecimento, complicações emocionais que afetam também sua saúde mental.

De Paula, et al. (2012) expõem que tanto o câncer de pênis como a penectomia causam  grande  repercussão  psicológica  na  vida  do  homem  afetado  por  ela. Assim, são apresentados como efeitos negativos a questão da identidade sexual, a baixa qualidade de vida, a diminuição do seu bem estar, e as queixas de natureza emocional, como insônia, ideia de suicídio, medo e tristeza intensa.

Os indivíduos penectomizados, de acordo com Nespoli, et al. (2020), relataram que não se reconheceram após o ato cirúrgico, e que essas mudanças romperam as atribuições e identificação que esses homens se davam, levando também a um novo jeito de se perceber como sujeito. Dessa maneira, a falta de representação decorrente desse trauma fez com que esses indivíduos se afastassem da sociedade, além de não se posicionar mais como objeto de desejo para o outro, pois a mutilação interferiu na possibilidade de ser reconhecido como homem e mulher.

Dessa maneira, o pós-operatório do indivíduo penectomizado se apresenta como um dos momentos mais delicados difíceis no enfrentamento do câncer de pênis.  Araújo, et al. (2014) apontam que a descoberta visual do órgão retirado conduz o indivíduo a fazer uma reflexão sobre o prosseguimento de sua vida futura, assim, como vimos, muitos se sentem fragilizados onde expressam negação, vergonha e choro.  Portanto, a criação de uma nova maneira de estar no mundo, bem como a transformação social o conduz a elaboração de um novo homem. 

5 ALGUNS CONTRIBUINTES PARA A BUSCA DE ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

O pênis para homem, conforme os autores do tópico anterior, representa na sociedade a simbologia da masculinidade. Desse modo, sem essas atribuições, esses indivíduos acabam se afastando, isto é, rompem com as relações sociais, além de se colocarem em posição de julgamento social. Em contra partida, há também homens penectomizados que vão a procura por estratégias de enfrentamento, onde esses, declaram que também são normais diante da sociedade. (CONCEIÇÃO, et al. 2022).

Guimarães, et al. (2017) relata que o homem diante do enfrentamento com a ausência de um órgão, na qual, como vimos, apresenta uma grande importância para a sociedade e para a masculinidade referente à vida sexual, apresenta-se como uma tarefa difícil. Desse modo, o autor expõe que o impacto ocasionado gera reações a esses homens penectomizados de choro, vergonha e negação, ao se verem diante do espelho após o procedimento cirúrgico. 

Os autores Oliveira, et al. (2022) enfatizam o predomínio das estratégias como a busca de auxílio para a reelaboração do sentido da vida, isso por via de apoio psicológico tanto individual como por meio de grupos de apoio. Assim, os indivíduos conseguem reconhecer a necessidade do ato cirúrgico para manter livre da doença que o levaria a morte, além disso, que tipo de novos métodos eles são capazes de usar para obter qualidade de vida e manter seu relacionamento sexual e de trabalho. 

Diante disso, a assistência psicológica se apresenta como um fator importante e indispensável. Pio e Andrade (2020) relatam que o acompanhamento dos profissionais da psicologia facilitam no processo de enfrentamento de eventos estressantes advindos do processo do tratamento da doença. Desse modo, promovem condições de qualidade de vida ao paciente penectomizado.

Scannavino (2013, apud Herman e Miyazaki) fala acerca da importância da intervenção psicoeducacional no atendimento com o individuo com câncer, onde o psicólogo deve buscar favorecer a adaptação dos limites e mudanças decorrentes da doença e do tratamento; prestar auxilio diante da dor e do estresse que se associam tanto a doença como aos procedimentos necessários; dar auxílio na tomada de decisões; contribuir na promoção da melhoria referente a qualidade de vida; na cooperação em obter de novas habilidades e na revisão de valores que visam a retomada da vida profissional, familiar e social.

Essas formas de intervenções da psicologia, de acordo com Fonseca e Castro (2016) se dão devido ao impacto psicológico ocasionado pela doença. Desse modo, é buscado, além de tratar e identificar os fatores estressantes que podem interferir no processo de tratamento, o planejamento que vai de encontro com as necessidade psicossociais do paciente, família e equipe de saúde. 

O autor Santos (2019) convida os profissionais da psicologia a estarem preparados para saber lidar com questões que a sexualidade podem apresentar. Isso, porque o impacto que o Câncer de Pênis gera, não atinge apenas o paciente, mas também, o sistema familiar onde muitos dos(as) parceiros(as) são acometidos de angustia diante do sofrimento do paciente, na qual muitas vezes, esses homens, precisam se submeter a outros procedimentos. Assim, o psicólogo irá auxiliar o paciente a percorrer por esse processo, onde nesse trabalho, buscará salientar com o conjugue que o desejo e o carinho continuam os mesmos, demonstrando outras possibilidades que proporcionam prazer, entre elas por meio do toque, explorando várias áreas do corpo. Desse modo, estabelecendo uma comunicação aberta entre o casal, a vida sexual pode voltar a ser satisfatória.

Silva, et al. (2020) em seus estudos apontam também a importância do apoio familiar, tido como um fator fundamental para o processo de enfrentamento. Dessa maneira, os autores expõe que o apoio familiar contribui para que o paciente encontre força para seguir adiante, isto é, a pessoa passa a ter motivos para prosseguir com sua vida, tomando para si a responsabilidade que parte do momento em que ele percebe a importância da presença dos familiares.

A família nesse processo, conforme Andrade e Azevedo (2018), também é apresentada como uma rede de apoio emocional para o indivíduo. Isso, quando os familiares procuram estimular e se mantêm presentes nas fases do tratamento. Além disso, quando também produzem palavras que promovem incentivos e estímulos ao paciente.

Outra meio utilizado como escape para o enfrentamento nesses homens, é o apoio da religião, nesse sentido, Araújo, et al. (2014) relatam que ela desempenha um papel importantíssimo no enfrentamento tanto da ressignificação do cotidiano, como para a aceitação da doença e a adesão ao tratamento, por mais difícil que seja retratar a vida sem o pênis. Assim, é na projeção de seus pensamentos que esses indivíduos encontram a fé para prosseguir vivendo e enfrentando as dificuldades que surgiram. 

Reis, Farias e Quintana (2017) indicam que os pacientes com câncer enfrentam com frequência um vazio de sentido diante da sua vida, que pode ser por consequência dos movimentos externos, como o distanciamento e a falta de auxílio da equipe de atendimento, amigos e familiares, além das dimensões subjetivas e singulares associada com as vivencias da doença. Com efeito, os pacientes, conforme Ribeiro, Campos e Anjos (2019), buscam formar um sentido para vida, principalmente por meio da religiosidade, na qual encontram possibilidades de compreensão, suporte, conforto, entre outros significados para a doença.

Desse modo, a religiosidade, conforme Nunes, et al. (2019) promove esperança, esta que por sua vez proporcionará diversos benefícios, como: melhora no humor, tranquilidade e confiança. Assim, ela é apresentada como um maneira construtiva e confiante de pensar, na qual traz otimismo,  o que é essencial para que a vida cotidiana seja vivida de maneira agradável.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho de pesquisa iniciou-se com o objetivo de identificar e compreender as consequências impactantes ao processo psicossocial que o Câncer de Pênis ocasiona no homem diagnosticado com essa doença, e que também é submetido ao procedimento cirúrgico de penectomia. Para isso, sugeriu-se atender a três objetivos específicos, foram eles: relatar a importância da prevenção ou identificação precoce do câncer de pênis; apontar as consequências que afetam a saúde do homem, tanto física como psíquica, e sua masculinidade promovida pela penectomia; e a bordar o processo de auxílio na busca de estratégias de enfrentamento que possam ser usadas em pacientes penectomizados para que estes obtenham uma melhor qualidade de vida.  

De acordo com o estudo, verificou-se que o Câncer de Pênis apesar do seu baixo índice, é uma doença que causa uma mudança radical na vida do homem. Como visto, a patologia afeta não apenas a saúde física, como também a saúde mental trazendo reduções na qualidade de vida dos pacientes. Além disso, traz implicações na autoestima, na relação com o parceiro, e nas atividades sociais e laborais. Outro percebido foi que a procura tardia por ajuda especializada implica em uma diminuição da eficácia do tratamento. Por consequência, o método que se apresenta com maior êxito para a redução dos danos que o Câncer de Pênis apresenta, é evitar os fatores de riscos conhecidos como a má higiene e a infecção do HPV. Desse modo, enfatiza-se a importância do trabalho de divulgação de informações sobre esta doença, além de recomendações normativas de mudança de hábitos. 

Observou-se que é considerado fundamental, a necessidade de acompanhamento psicológico especializado na redução dos danos físicos e mentais. Com efeito, a atuação do psicólogo pode contribuir para minimizar o impacto da doença e ajudar esses homens a lidarem com os seus sintomas. A religião também pode contribuir positivamente para o bem-estar emocional do paciente, dando-lhe esperança na cura e mantendo a autoestima. Também foi visto que a família pode fornecer um importante suporte social e emocional, especialmente através da fidelidade e participação no processo.

Diante disso, acredito que o que o trabalho atingiu o objetivo a que se propôs. Ressalto também a relevância do feito desse estudo como contribuinte não somente para a ciência da psicologia e para os profissionais desta área, como também, a todos que se interessam pela temática em questão. O trabalho apresentou um estudo de revisão de literatura trazendo informações que podem colaborar para a aquisição de mais conhecimento sobre esse tumor raro e pouco discutido.  

Por fim, saliento o quanto é interessante pensar que este trabalho poderá suscitar novas inquietações para o desenvolvimento de futuras pesquisas de caráter mais exploratório que possam corroborar para as estratégias sobre a temática, fortalecendo o manejo e os cuidados futuros a esses pacientes diagnosticados com o Câncer de Pênis. Além disso, contribuir na construção de conhecimento de outros profissionais, em formações e atuações em todas as dimensões.

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