REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202504300012
Alex Fernandes Silva Araújo
Karlyson Nattan Pereira Silva
José Atalvanio da Silva
RESUMO
A nanotecnologia tem se destacado devido às suas aplicações científicas e industriais, o que demanda uma reconfiguração dos processos educativos que contemplem essa temática desde a educação básica. No ensino de Química, a inserção da nanotecnologia é uma oportunidade de promover aprendizagens contextualizadas, interdisciplinares e alinhadas aos avanços tecnológicos. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo investigar as contribuições da nanotecnologia para o ensino de Química na educação básica. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, na qual foram analisadas publicações disponíveis nas bases SciELO e BVS, compreendendo o período de 2020 a 2025. Foram selecionados sete estudos que exploravam a aplicação pedagógica da nanotecnologia em contextos escolares, com foco em propostas práticas, teóricas e metodológicas. Os resultados apontaram que a nanotecnologia contribui para o engajamento dos estudantes, para a articulação entre conteúdos teóricos e aplicações práticas e para a abordagem de temas transversais, como desenvolvimento sustentável, questões ambientais e avanços científicos. Conclui-se que sua inclusão no ensino de Química pode potencializar a formação crítica dos alunos, desde que acompanhada de formação docente e diretrizes didáticas adequadas.
Palavras-chave: Ensino de Química; nanotecnologia; interdisciplinaridade; educação científica; inovação pedagógica.
ABSTRACT
Nanotechnology has stood out due to its scientific and industrial applications, which demands a reconfiguration of educational processes that contemplate this theme since basic education. In Chemistry teaching, the inclusion of nanotechnology is an opportunity to promote contextualized, interdisciplinary learning aligned with technological advances. In view of this, the present study aimed to investigate the contributions of nanotechnology to Chemistry teaching in basic education. This is an integrative literature review, in which publications available in the SciELO and BVS databases were analyzed, covering the period from 2020 to 2025. Seven studies that explored the pedagogical application of nanotechnology in school contexts were selected, focusing on practical, theoretical and methodological proposals. The results indicated that nanotechnology contributes to student engagement, to the articulation between theoretical content and practical applications and to the approach of cross-cutting themes, such as sustainable development, environmental issues and scientific advances. It is concluded that its inclusion in the teaching of Chemistry can enhance the critical development of students, as long as it is accompanied by teacher training and appropriate didactic guidelines.
Keywords: Teaching of Chemistry; nanotechnology; interdisciplinarity; scientific education; pedagogical innovation.
INTRODUÇÃO
A Química, enquanto ciência estruturante na compreensão dos fenômenos naturais, se destaca na formação intelectual de estudantes da educação básica. No entanto, o ensino desse componente curricular ainda se depara com entraves que dificultam sua assimilação, entre os quais se destacam a fragmentação dos conteúdos, a ausência de contextualização e a pouca articulação com os avanços científicos contemporâneos, conforme apontado por Santos e Menezes (2020).
A superação dessas dificuldades exige a incorporação de temáticas que estabeleçam pontes entre o conhecimento científico e as transformações tecnológicas em curso, como é o caso da nanotecnologia, cujas aplicações já reconfiguram práticas em diferentes campos, inclusive no ambiente escolar (Pinto; Pedrosa, 2023).
A nanotecnologia, entendida como o conjunto de técnicas e conhecimentos voltados à manipulação da matéria em escala nanométrica, é um campo transdisciplinar cuja presença tem se tornado cada vez mais evidente no cotidiano social. De acordo com Pinto; Pedrosa (2023), esse ramo promove inovações em setores como saúde, energia, indústria de alimentos e materiais, o que justifica sua inserção nos processos formativos desde os anos escolares.
É importante salientar que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece a importância da inserção de temáticas emergentes e prevê, entre as competências específicas de Ciências da Natureza, a crítica dos impactos sociais, culturais e ambientais da ciência e da tecnologia (Brasil, 2018). Sendo assim, abordar conteúdos relacionados à nanotecnologia, possibilita ao professor de Química ampliar as possibilidades de análise e investigação, promovendo a articulação entre teoria e prática por meio de atividades experimentais, estudos dirigidos e debates.
Entretanto, a presença da nanotecnologia nas aulas de Química ainda é incipiente, seja pela limitação da formação inicial e continuada de professores, seja pela escassez de recursos didáticos acessíveis que tratem do tema de forma adequada à realidade da educação básica, o que reforça a necessidade de estudos que possam sistematizar as experiências já realizadas, de modo a contribuir para a consolidação de propostas metodológicas que valorizem a interdisciplinaridade e a aproximação com os interesses juvenis.
Visto isto, o presente estudo tem como objetivo investigar as contribuições da nanotecnologia no ensino de Química na educação básica. A escolha pelo tema justificase pela necessidade de aproximar o conteúdo escolar das transformações científicas e tecnológicas contemporâneas. A Química, muitas vezes apresentada de forma abstrata e dissociada da realidade dos alunos, pode ganhar novos sentidos quando articulada a temas atuais e relevantes, como a nanotecnologia. Trata-se, assim, de explorar um recurso didático que dialoga com o cotidiano e com os avanços da ciência, sem perder de vista o aspecto conceitual necessário à formação científica.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A nanotecnologia é conceituada por Hupffer e Lazzaretti (2019), como o conjunto de conhecimentos e técnicas voltados à manipulação da matéria em escalas nanométricas, ou seja, na ordem de 1 a 100 nanômetros. Nessa dimensão, os materiais passam a apresentar propriedades físicas, químicas e biológicas distintas daquelas observadas em sua forma macroscópica, permitindo o desenvolvimento de substâncias com elevada reatividade, resistência mecânica superior, capacidades catalíticas diferenciadas ou novas funcionalidades ópticas e magnéticas. Essa peculiaridade decorre, sobretudo, da predominância de efeitos quânticos e do aumento da razão entre área superficial e volume, o que confere a esses materiais características inéditas.
Embora o termo “nanotecnologia” tenha ganhado notoriedade apenas nas últimas décadas do século XX, os fundamentos que sustentam essa área remontam a experiências empíricas e observações técnicas já presentes em civilizações antigas. Um dos exemplos mais citados refere-se à Taça de Licurgo, artefato romano datado do século IV, cuja coloração varia conforme a luz incide sobre sua superfície, um fenômeno explicado hoje pela presença de nanopartículas de ouro e prata dispersas no vidro. Embora os artesãos da época não dispusessem de entendimento científico acerca das estruturas em escala nanométrica, tais práticas demonstram um domínio intuitivo de fenômenos relacionados à manipulação de materiais em níveis extremamente reduzidos (Hupffer; Lazzaretti, 2019).
Segundo Silva e Lopes (2020), a concepção moderna da nanotecnologia, no entanto, só começaria a ganhar contornos científicos mais precisos a partir da segunda metade do século XX. Em 1959, o físico Richard Feynman proferiu a conferência There’s Plenty of Room at the Bottom, durante reunião da American Physical Society. Nela, propôs a possibilidade de manipular átomos e moléculas individualmente para construir estruturas com precisão até então inatingível, vislumbrando a criação de dispositivos e circuitos inteiros em escalas microscópicas. Embora não tenha utilizado o termo “nanotecnologia”, suas ideias influenciaram decisivamente os rumos da pesquisa científica em macroestruturação da matéria.
Ainda segundo os autores supracitados, o termo propriamente dito foi cunhado pelo pesquisador japonês Norio Taniguchi, em 1974, ao descrever processos de produção que envolviam tolerâncias extremamente reduzidas, em torno de um nanômetro. Ainda assim, foi apenas com os avanços da década de 1980 que a nanotecnologia passou a ser tratada como um campo autônomo.
Convém salientar, segundo Clebsch e Watanabe (2017), que a invenção do microscópio de varredura por tunelamento (STM) em 1981, por Gerd Binnig e Heinrich Rohrer, do IBM Zurich Research Laboratory, permitiu visualizar estruturas atômicas, mas também manipulá-las com precisão inédita. A partir dessa descoberta, consolidou-se a possibilidade de engenharia da matéria em escala atômica, impulsionando o desenvolvimento de nanomateriais e dispositivos funcionais.
Durante os anos 1990, o campo passou a se organizar institucionalmente em diversas nações. Nos Estados Unidos, a criação da National Nanotechnology Initiative (NNI), em 2000, marcou um novo estágio, promovendo investimentos em larga escala e articulação entre universidades, centros de pesquisa e empresas (Ferreira, 2018). Segundo Ferreira (2018), iniciativas semelhantes surgiram em países da Europa, Ásia e América Latina, refletindo o crescente reconhecimento da nanotecnologia como vetor estratégico de desenvolvimento científico e tecnológico. No Brasil, destacam-se ações como o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), com núcleos voltados à pesquisa em nanociências, bem como a consolidação da Rede de Nanotecnologia Molecular e de Interfaces (Renami), criada em 2001.
À medida que os estudos evoluíram, ampliaram-se as fronteiras do campo, com aplicações em áreas como medicina, energia, eletrônica, cosmética, meio ambiente e agricultura. Um dos marcos importantes dessa expansão foi a síntese dos fulerenos em 1985, seguida da descoberta dos nanotubos de carbono por Iijima em 1991, estruturas que revolucionaram a engenharia de materiais por suas propriedades mecânicas e condutivas excepcionais (Ferreira, 2018). Esses avanços despertaram o interesse de pesquisadores e investidores, promovendo a emergência de uma economia voltada à exploração de propriedades únicas dos nanomateriais.
No campo epistemológico, a nanotecnologia apresenta um caráter híbrido, entrelaçando disciplinas como Física, Química, Biologia e Engenharia. Essa transversalidade lhe confere uma estrutura metodológica flexível, capaz de mobilizar diferentes saberes para a resolução de problemas complexos e para a concepção de soluções inovadoras. Como observam Silva e Lopes (2018), trata-se de um domínio que redefine os limites da materialidade, questionando modelos tradicionais de produção científica e desafiando os marcos regulatórios convencionais.
3 METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se como uma Revisão Integrativa da Literatura, abordagem metodológica que permite reunir, analisar e sintetizar, de forma sistemática, os conhecimentos produzidos sobre determinado tema, independentemente dos métodos empregados nas pesquisas incluídas. Para a realização da revisão, foram seguidas seis etapas distintas. A primeira consistiu na delimitação do tema e na formulação da questão norteadora: quais são as contribuições da nanotecnologia para o ensino de Química na educação básica?.
Na segunda etapa, efetuou-se a busca dos estudos nas bases de dados eletrônicas Scientific Electronic Library Online (SciELO), Periódico Capes e Google Acadêmico, empregando critérios de inclusão e exclusão previamente definidos. Foram considerados elegíveis os estudos publicados entre os anos de 2015 e 2025, disponíveis na íntegra e gratuitamente, nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram priorizados estudos empíricos, como pesquisas de campo e estudos de caso, sem, contudo, desconsiderar trabalhos teóricos que apresentassem relevância para a discussão proposta.
A terceira etapa consistiu na construção de um instrumento de coleta de dados para a sistematização das informações obtidas nos estudos selecionados, incluindo: autoria, ano de publicação, tipo de estudo e local de publicação. Na quarta etapa, procedeu-se à leitura analítica e interpretativa dos textos completos, organizando as informações extraídas conforme o instrumento elaborado.
Na quinta etapa, os dados sistematizados foram analisados de modo a identificar regularidades, lacunas e contribuições recorrentes relacionadas ao uso da nanotecnologia como recurso pedagógico no ensino de Química. Por fim, a sexta etapa compreendeu a apresentação dos resultados obtidos, com destaque para as conclusões extraídas da literatura analisada.
Para a busca, utilizaram-se as palavras-chave: Nanotecnologia, Ensino de Química, Educação Básica e Tecnologias Educacionais, associados pelos operadores booleanos AND e OR. A seleção dos artigos foi realizada por meio da leitura dos títulos, resumos e, posteriormente, do conteúdo completo, assegurando a pertinência dos textos ao escopo da pesquisa.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram selecionados 7 (sete) estudos publicados entre 2015 a 2025, o que evidencia a lacuna de estudos que abordem nanotecnologia e ensino de química na educação básica.
Os estudos selecionados foram sintetizados no quadro abaixo.
Quadro 1 – Síntese dos estudos selecionados.
Autoria e Data de Publicação | Título | Tipo de Estudo | Local de Publicação |
Câmara et al. (2020) | Utilização de um adsorvente nanométrico a base de grafeno aplicado ao ensino médio de química | Artigo | International Journal Education And Teaching (PDVL) |
Castro; Cavalcante e Pedrosa (2019) | Nanotecnologia e polímeros: revisão dos temas visando a abordagem em aulas de Química | Artigo | Revista Thema |
Costa (2023) | O ensino de química a partir de nanotecnologias: uma proposta didática para o ensino médio | Dissertação | Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vila Velha |
Lopes (2023) | Nanoquímica e nanotecnologia por meio de questões socio científicas: proposta para o ensino de química | Dissertação | Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba |
Martins (2024) | Uma proposta de experimento a ser aplicado no ensino de química utilizando a temática da nanociência e da nanotecnologia | Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) | Instituto Federal da Paraíba (IFPB) |
Pantoja eRodriguez (2019) | Nanociência, nanotecnologia e nanobiotecnologia: uma experiência de divulgação | Artigo | Atividades de Ensino e de Pesquisa em Química |
científica em Rio Branco – Acre | |||
Pinto e Pedrosa (2023) | Nanociência e nanotecnologia no ensino médio: abordagem no contexto do ensino remoto | Artigo | Revista Dynamis |
Fonte: Dados da pesquisa (2025).
Considerando as contribuições de cada estudo, salienta-se, inicialmente, que na pesquisa realizada por Câmara et al. (2020), foi empregado um material adsorvente em escala nanométrica à base de grafeno, o qual se mostrou eficiente na introdução de conteúdos sobre nanotecnologia no ambiente escolar. O experimento envolveu a utilização de óxido de grafeno para promover a descoloração da solução de azul de metileno, evidenciando uma metodologia experimental inovadora, de baixo custo, com potencial para favorecer a aprendizagem de conceitos químicos quando articulada ao processo de ensino. Os autores constataram que o uso desse nanomaterial representava uma estratégia válida para inserir temas de nanotecnologia no currículo da Química no ensino médio. Além disso, destacaram que a produção textual se revelou uma ferramenta avaliativa pertinente, embora tenham apontado a necessidade de maior presença e uso de textos científicos nas atividades pedagógicas em sala de aula.
Pinto e Pedrosa (2023) relatam a elaboração de materiais didáticos voltados ao ensino de nanociência e nanotecnologia no contexto do ensino remoto, destinados a turmas do ensino médio. As propostas pedagógicas permitiram a inserção de conteúdos inovadores, favorecendo a compreensão de conceitos complexos de maneira acessível. Os autores observaram que as atividades aplicadas contribuíram significativamente para a aprendizagem, ao mesmo tempo em que despertaram a curiosidade dos estudantes e ampliaram seu engajamento com os temas abordados.
Pantoja e Rodriguez (2019) implementaram um programa de extensão voltado para estudantes de escolas públicas de ensino médio, com o objetivo de promover o interesse pela nanociência, nanotecnologia e nanobiotecnologia. A iniciativa obteve êxito ao ampliar a compreensão e o envolvimento dos alunos com esses campos emergentes do conhecimento científico. Os resultados indicaram que a proposta despertou vocações acadêmicas, levando alguns estudantes a considerarem carreiras futuras como docentes ou pesquisadores nas áreas das ciências naturais. Além disso, o programa contribuiu para suprir uma deficiência identificada no currículo escolar, ao oferecer conteúdos atualizados sobre avanços científicos e tecnológicos que até então eram pouco explorados no ambiente educacional.
Castro; Cavalcante e Pedrosa (2021) propõem a abordagem do conteúdo de forças intermoleculares nas aulas de Química a partir do tema gerador dos nanocompósitos poliméricos, considerando que a produção desses materiais exige compatibilidade adequada entre a matriz polimérica e as nanopartículas envolvidas. Os autores defendem a inserção da nanotecnologia no ensino de Química por meio dessa temática, oferecendo fundamentos teóricos que visam despertar o interesse tanto de docentes quanto de estudantes da educação básica pelos estudos sobre nanotecnologia e polímeros. Ressaltam, ainda, que, embora se trate de um campo frequentemente associado à ciência de ponta, o uso de princípios da nanotecnologia remonta a práticas humanas que datam de cerca de 4000 a.C., evidenciando sua ancestralidade e relevância histórica.
Souza (2023) investigou a aplicação da nanotecnologia como recurso pedagógico no ensino de funções orgânicas, incluindo hidrocarbonetos, álcoois, éteres, ácidos carboxílicos, ésteres, aldeídos, cetonas, aminas e amidas. Para atingir os objetivos propostos, foi desenvolvida uma sequência didática voltada à análise das possíveis contribuições da nanotecnologia para o ensino de Química Orgânica. A pesquisa contou com a participação de estudantes da terceira série do ensino médio regular de uma escola pública localizada no município de Vila Velha, no estado do Espírito Santo.
A análise dos dados apresentados por Souza (2023) evidencia que a nanotecnologia possui um potencial interdisciplinar significativo entre as áreas de Química, Física e Biologia, embora esse aspecto ainda seja pouco explorado no contexto escolar. Para além da interdisciplinaridade, sua inserção nas aulas de Química permite uma abordagem mais contextualizada dos conteúdos, contribuindo para que o aprendizado sobre funções orgânicas ultrapasse os limites da mera identificação e classificação. A nanotecnologia viabiliza a discussão de temas complexos, como os avanços tecnológicos, os impactos socioeconômicos e as implicações ambientais, promovendo, assim, o desenvolvimento de uma postura mais crítica por parte dos estudantes.
Considerando sua relevância estratégica no cenário científico e industrial brasileiro, compreende-se que a inserção da nanotecnologia no ensino básico é não apenas pertinente, mas necessária. No entanto, segundo Souza (2023), para que sua aplicação pedagógica seja efetiva, torna-se fundamental o desenvolvimento de diretrizes didáticas específicas que orientem sua utilização em sala de aula.
Martins (2024) desenvolveu uma proposta experimental voltada ao ensino de Química, incorporando conceitos de nanociência e nanotecnologia por meio da utilização de nanopartículas de ferro (Npmag-Fe). O experimento foi adaptado para ser aplicado em turmas do 2º ano do curso técnico em Informática integrado ao ensino médio, sendo realizado no laboratório do curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) – Campus Sousa. A atividade experimental foi conduzida ao longo de quatro aulas de 45 minutos, nas quais foram trabalhados previamente os fundamentos teóricos necessários, como estequiometria e cinética química. Os resultados demonstraram que a realização de experimentos bem planejados e executados potencializa o valor pedagógico das aulas práticas, favorecendo o engajamento dos estudantes e promovendo a articulação dos conteúdos de Química com outras áreas do conhecimento.
Lopes (2023) realizou uma análise de uma sequência didática sobre nanotecnologia e nanoquímica no contexto da Educação Básica, utilizando como eixo estruturante a abordagem das Questões Sociocientíficas (QSC). A pesquisa, de natureza qualitativa e caráter exploratório, foi aprovada pelo Comitê de Ética e fundamentada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e no Referencial Curricular do Estado do Paraná. Participaram do estudo alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual localizada na região de Curitiba. A etapa empírica envolveu o desenvolvimento de uma sequência de aulas baseada na abordagem Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), centrada na discussão do tema problematizador “Micro e Nanoplásticos” para o ensino de Polímeros.
Os resultados obtidos por Lopes (2023) indicaram que a abordagem CTSA com foco nas Questões Sociocientíficas representa uma estratégia promissora para o tratamento de temas científicos e tecnológicos contemporâneos no ensino de Química no Ensino Médio, favorecendo o pensamento crítico e a contextualização do conteúdo. No entanto, o estudo também apontou limitações para a implementação dessa abordagem, tanto em função das diretrizes do Referencial Curricular do Paraná quanto em decorrência da estrutura organizacional e pedagógica da escola. Como desdobramento prático da pesquisa, foi desenvolvido um E-book como Produto Educacional, destinado a docentes da área de Ciências da Natureza interessados em aplicar a abordagem CTSA com ênfase nas Questões Sociocientíficas em suas práticas pedagógicas.
As contribuições identificadas nos estudos foram sintetizadas abaixo (Quadro 2);
Quadro 2 – Contribuições da nanotecnologia para o ensino de química.
Autor(es) eAno | Contribuições da Nanotecnologia para o Ensino de Química | Ideias de Aplicação Didática |
Câmara et al. (2020) | Introdução de conceitos de nanotecnologia com material à base de grafeno; favorece a aprendizagem e uso de textos como recurso avaliativo. | Experimento com óxido de grafeno e descoloração de azul de metileno; produção textual como avaliação. |
Pinto e Pedrosa(2023) | Inserção de conteúdos inovadores em ensino remoto; amplia compreensão e desperta interesse dos alunos. | Materiais didáticos digitais para ensino remoto; atividades interativas. |
Pantoja e Rodriguez(2019) | Ampliação da consciência e interesse em nanociência e nanotecnologia; desperta vocações acadêmicas. | Programa de extensão com foco em nanociência; palestras e oficinas para alunos da rede pública. |
Castro; Cavalcante e Pedrosa(2021) | Contextualização do conteúdo de forças intermoleculares; aproximação da nanotecnologia com conceitos de polímeros. | Uso de nanocompósitos poliméricos para abordar forças intermoleculares; discussão histórica da nanotecnologia. |
Souza (2023) | Aproximação entre química orgânica e temas tecnológicos e ambientais; contribui para interdisciplinaridade e formação crítica. | Sequência didática sobre funções orgânicas com aplicação de nanotecnologia; análise de impactos sociais e ambientais. |
Martins (2024) | Valorização das aulas práticas com nanopartículas de ferro; articulação entre conteúdos teóricos e experimentais. | Experimento com nanopartículas de ferro em aulas práticas de estequiometria e cinética química. |
Lopes (2023) | Desenvolvimento do pensamento crítico por meio da abordagem CTSA; ensino contextualizado de polímeros via micro e nanoplásticos. | Sequência didática sobre polímeros usando o tema ‘Micro e Nanoplásticos’; uso da abordagem CTSA com foco em QSC. |
Fonte: dados da pesquisa (2025).
A partir das contribuições identificadas, evidencia-se a diversidade de abordagens possíveis, desde a realização de experimentos com nanomateriais até o desenvolvimento de sequências didáticas ancoradas em questões sociocientíficas, sublinhando assim, o potencial desse campo para conectar o ensino à realidade científica e tecnológica contemporânea.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo permitiu compreender que a nanotecnologia é um recurso didático-científico relevante e ainda subutilizado no contexto da educação básica, especialmente no ensino de Química. Os estudos selecionados evidenciaram que sua inserção em sala de aula possibilita o fortalecimento da aprendizagem significativa, ao articular conteúdos curriculares a aplicações concretas e tecnológicas, favorecendo a contextualização e o interesse dos estudantes.
Observou-se, ainda, que a nanotecnologia pode atuar como elemento integrador entre distintas áreas do conhecimento, como a Física, a Biologia e as Ciências Ambientais, contribuindo para o desenvolvimento de uma abordagem interdisciplinar. Destacaram-se estratégias como a realização de experimentos com nanomateriais, o uso de temas geradores ligados à realidade dos alunos, a elaboração de materiais didáticos específicos e a aplicação de sequências didáticas com base em metodologias ativas, como a abordagem CTSA.
Conclui-se, portanto, que a nanotecnologia representa uma via promissora para a inovação no ensino de Química, sobretudo, por sua capacidade de fomentar a compreensão crítica, a articulação entre teoria e prática, e o engajamento discente. No entanto, os dados também indicam a necessidade de investimento na formação docente, bem como na elaboração de diretrizes pedagógicas que orientem a aplicação efetiva desse conteúdo nas escolas. A inclusão da nanotecnologia nos currículos pode contribuir para aproximar os estudantes dos avanços científicos contemporâneos e prepará-los para os desafios de um mundo cada vez mais tecnológico e interconectado.
REFERÊNCIAS
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