AS CONSEQUÊNCIAS DO USO CONTINUO DE GLICOCORTICOIDES NO TRATAMENTO DE ARTRITE REUMATOIDE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10198846


Dalvane Rodrigues Froes1
Keila Paz Dos Santos
Leina Werley Marques
Nathanael Pinheiro Da Silva
Erick da Frota Gomes Figueireido
Anne Cristina Gomes de Almeida


RESUMO

Introdução: Artrite (AR) é uma doença autoimune classificada como sistêmica e crônica atingindo as membranas sinoviais e destruindo as cartilagens das articulações. Os glicocorticoides possuem uma alta eficácia na diminuição da dor e da inflamação sendo um dos principais métodos de tratamento juntamente com DMCDs. Objetivos: Descrever o mecanismo de ação dos glicocorticoides no tratamento de Artrite Reumatoide, avaliar seus benefícios, além de identificar os riscos de sua utilização a longo prazo, Metodologia: Trata-se de uma revisão sistemática da literatura baseando-se no método PRISMA. foram utilizados os descritores em saúde em português, inglês e espanhol (DeCS): Artrite reumatoide , glicocorticoides, uso crônico, efeitos adversos ; Rheumatoid arthritis, glucocorticoids, chronic use, adverse effects and side effects e Artritis reumatoide, glucocorticoides, uso crónico, efectos adversos y efectos secundarios. Resultados: Foi possível identificar e incluir no estudo 15 artigos acerca os objetivos propostos, elucidando que mecanismo de ação dos glicocorticoides no tratamento de Artrite reumatoide se dar através da supressão intracelular dos fatores imunológicos responsáveis pela produção dos processos inflamatórios, além de sua ação associada a eficácia terapêutica na redução da progressão da doença juntamente com outro fármacos, no entanto, os riscos estão na utilização a longo prazo predispondo a infarto agudo do miocárdio, e distúrbios metabólicos como osteoporose e síndrome de Cushing. Conclusão: Portanto, quando utilizada a longos períodos de tempo os glicocorticoides no tratamento de artrite reumatoide trazem benefícios e consequências para o funcionamento do organismo, recomendando-se uma avaliação médica continua acerca dos riscos-benefícios durante sua aplicação na terapêutica para redução da progressão da doença.

Palavras-chaves: Artrite reumatoide, Glicocorticoide, uso contínuo.

ABSTRACT

Introduction: Arthritis (RA) is an autoimmune disease classified as systemic and chronic, affecting the synovial membranes and destroying the joint cartilage. Glucocorticoids are highly effective in reducing pain and inflammation, being one of the main treatment methods together with DMARDs. Objectives: To describe the mechanism of action of glucocorticoids in the treatment of Rheumatoid Arthritis, evaluate their benefits, in addition to identifying the risks of their long-term use, Methodology: This is a systematic review of the literature based on the PRISMA method. The health descriptors in Portuguese, English and Spanish (DeCS) were used: Rheumatoid arthritis, glucocorticoids, chronic use, adverse effects; Rheumatoid arthritis, glucocorticoids, chronic use, adverse effects and side effects and Rheumatoid arthritis, glucocorticoids, chronic use, adverse effects and side effects. Results: It was possible to identify and include in the study 15 articles about the proposed objectives, elucidating that the mechanism of action of glucocorticoids in the treatment of rheumatoid arthritis is through the intracellular suppression of immunological factors responsible for the production of inflammatory processes, in addition to their action associated with therapeutic efficacy in reducing the progression of the disease together with other drugs, however, the risks are in long-term use predisposing to acute myocardial infarction, and metabolic disorders such as osteoporosis and Cushing’s syndrome. Conclusion: Therefore, when used for long periods of time, glucocorticoids in the treatment of rheumatoid arthritis bring benefits and consequences for the functioning of the body, recommending a continuous medical assessment regarding the risks-benefits during their application in therapy to reduce the progression of rheumatoid arthritis. illness

Keywords: Rheumatoid arthritis, Glucocorticoid, continuous use.

INTRODUÇÃO

A Artrite (AR) é uma doença autoimune classificada como sistêmica e crônica atingindo as membranas sinoviais e destruindo as cartilagens das articulações. Sua incidência pode atingir até 1% da população mundial, sendo antigamente definida como uma doença de caráter limitado, contudo, atualmente está altamente atrelada a déficits na mobilidade física em aspecto progressivo e debilitante, possuindo uma prevalência diversificada em determinadas populações (Andrade; Dias, 2019).

As doenças autoimunes não são compreendidas em sua totalidade, porém, são caracterizadas pela presença de desordens moleculares e orgânicas que afetam a normalidade das funções do sistema imunológico, resultando em uma falha no reconhecimento das suas próprias moléculas gerando um processo inflamatório autoinflingido que possui consequências clínicas para o organismo humano (Costa; Junior; Pinheiro, 2019).

Assim como outras doenças autoimunes, a AR possui vários fatores preditivos, dentre eles questões como exposições ambientais, estilo de vida, estress, aspectos genéticos, e hormonais que podem estar associados a maiores chances do desenvolvimento dessa condição. Estudos voltados a encontrar antígenos específicos que causam a AR não foram efetivos para sua elucidação, no entanto, sabe-se que os mesmos possui relação direta no processo inflamatório do complexo sinovial (Lucas et al., 2016).

O tratamento para AR é realizado de maneira individualizada a depender do caso e grau de acometimento após avaliações médicas. Os principais fármacos utilizados para o tratamento da doença são os DMCDs (fármacos antirreumáticos modificadores da doença), Glicocorticoides (GCs), Anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES) e analgésicos (Souza; Turrini; Poveda, 2015).

Os glicocorticoides pertencem a um agrupamento de hormônios que são produzidos nas glândulas suprarrenais relacionados a diversos complexos do funcionamento do organismo humano, principalmente envolvidos nas funções metabólicas associadas a quebra de carboidratos e proteínas diretamente ligados a fatores imunológicos, sendo o principal representante funcional dessa classe é o cortisol (Torres; Insuela; Carvalho, 2012).

Quando utilizados para o tratamento da artrite reumatoide, os glicocorticoides possuem uma alta eficácia na diminuição da dor e da inflamação sendo um dos principais métodos de tratamento juntamente com DMCDs, no entanto, sua utilização traz consigo diversas reações adversas quando utilizados de forma contínua, podendo citar-se a retenção de liquido, infecções secundarias relacionadas a imunossupressão, osteoporose associada redução da densidade óssea, complicações cardiovasculares e distúrbios no metabolismo (Gurgel Et Al., 2022).

Visto o panorama dos efeitos colaterais como problemática associada ao uso contínuo e prolongado de glicocorticoides no tratamento de AR, a discussão acerca de medidas preventivas, educação em saúde e pesquisas acerca da temática tornaram-se cada vez mais relevante para a comunidade cientifica e os profissionais da saúde que atuam diretamente com estes casos. Portanto, este estudo revisar informações sobre o mecanismo de ação dos glicocorticoides no tratamento de Artrite Reumatoide, avaliar seus benefícios, além de identificar os riscos de sua utilização a longo prazo.

METODOLOGIA

Para este estudo foi realizada uma revisão sistemática da literatura, de acordo com o método PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). O levantamento bibliográfico foi realizado na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), no Medical Literatura System Online (MEDLINE), na Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e no SCIELO-Brasil (Scientific Eletronic Library Online).Para as buscas foram utilizados os descritores em saúde (DeCS): Artrite reumatoide , glicocorticoides, uso crônico, efeitos adversos e efeitos colaterais; Rheumatoid arthritis, glucocorticoids, chronic use, adverse effects and side effects e Artritis reumatoide, glucocorticoides, uso crónico, efectos adversos y efectos secundarios. Além da utilização de combinações de palavras: Uso crônico de glicocorticoides, glicocorticoides e artrite reumatoide e anti-inflamatórios esteroidais.

Os artigos incluídos no estudo estão disponíveis de forma online e gratuita, publicados no período de 2013 a 2023, e foram inicialmente selecionados e agrupados de acordo com o título e resumo. Como critério de inclusão dos artigos filtrou-se artigos completos nos idiomas português, inglês ou espanhol, publicados na íntegra, e que abordem a temática proposta. Os critérios para exclusão se deram a partir artigos duplicados, incompletos, resumos, resenhas, debates, relato de experiência, artigos de opinião, artigos publicados em anais de eventos, indisponíveis na íntegra e que não estejam disponíveis gratuitamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram selecionados 15 artigos disponíveis nas bibliotecas digitais seguindo os critérios de inclusão exclusão nas bases de dados PUBMED, LILACs, SCIELO, onde foram filtrados os dados conforme figura 1. Os estudos selecionados para essa pesquisa foram sintetizados seguindo s topicos autores, titulo, objetivos, metodologia e resultados apresentados na tabela 1.

Figura 1. Fluxograma de seleção de dados, Fonte: Elaborado pelos autores.

Tabela 1. Resumo dos principais aspectos relacionados ao mecanismo de ação, benefícios e riscos relacionados a utilização de glicocorticoides na Artrite Reumatoide. Fonte: Elaborado pelos autores.

AUTORTÍTULOTIPO DE ESTUDOOBJETIVOSRESULTADOS
(Arteaga; Chacon; Urquizo, 2021)Incidência de infecção em pacientes com artrite reumatoide e imunossupressores.Ensaio clínico, não controlado com seleção intencional. .Analisar a incidência de infecção durante o tratamento com imunossupressores comparados a corticosteroidesA utilização de prednisona 7,5 mg/dia  por mais de 6 meses apresentam um risco relativo (RR) de 2, 11 (IC: 95%) de desenvolver infecções, enquanto o uso apenas de metotrexato pelo mesmo período indica menor chance (RR: 0,96) desse acometimento em pacientes com artrite reumatoide.
(Ruyssen-Witrand; Constantin, 2018)Controvérsias na terapia com glicocorticoides para artrite reumatoide
\Revisão da literatura.Analisar o uso e GCs no tratamento de AR.Dose moderadas de GCs atuam atenuando a sintomatologia da AR (ou seja, 30-60 mg/d). Já em combinação de uma dose baixa de GC mais a utilização de antirreumáticos aumenta as taxas de remissão do mecanismo da doença. No entanto, seu uso deve-se sempre passar por critério balanceando risco e benefícios relacionados a infecções.
(Verschueren et al., 2015)O metotrexato em combinação com outros DMARDs não é superior ao metotrexato sozinho para indução de remissão com ponte de glicocorticóide de moderada a alta dose na artrite reumatóide inicial.
Estudo de coorte.Comparar a utilização de DMARDs combinados e a uso de glicocorticoides na artrite reumatoide.Concluiu-se que os a utilização de metotroxato (MTX) e prednisona em baixa dose (30 mg) apresenta uma redução de 76% da sintomatologia causada por AR, enquanto a utilização de MTX com outros DMARs em média e altas doses reduziram respectivamente apenas 68,1% dos pacientes, além de que a utilização apenas de MTX+Prednisona apresentou cerca de 8% menos de efeitos adversos que os outros grupos.
(Sadra et al., 2014)Estudo duplo-cego randomizado do efeito do pulso de dexametasona e metilprednisolona no controle do surto de artrite reumatoide: um estudo preliminar
Ensaio clínico randomizado.Avaliar e comparar a eficácia do uso de dexametasona e metilprednisolona no controle do surto de artrite reumatoideA diferença calculada através do índice de atividade da doença, demostrou que não houve diferença significativa nos dois grupos, evidenciando uma eficácia de remissão de 6, 1 a 3,1 após 30 dias de tratamento , apresentando a médias semelhantes de remissão dos sintomas (2.1 – 3.1),
(Jacobs; Bijlsma; Van Laar, 2014)Glicocorticóides na artrite reumatóide precoce: os benefícios dos efeitos poupadores das articulações são compensados ​​pelo efeito adverso da osteoporose? 
Ensaio clínicoAnalisar os efeitos clínicos nos ossos durante uso de glicocorticoides ao longo de dois anos.O uso diário por dois anos de glicocorticoides em pacientes com Artrite mostrou grande eficácia, apresentando uma diferença, mas alterações médias (DP) no grupo controle e placebo (12 – 29) no manejo da sintomatologia, não apresentando diferencial nos efeitos ligados ao surgimento de de osteoporose.
(Black et al., 2017)Fatores associados ao uso de glicocorticoides orais em pacientes com artrite reumatoide: um estudo de uso de medicamentos de um registro biológico nacional prospectivo
Estudo observacional, prospectivo.Descrever o uso de GC oral na AR, além de determinar mudança no uso ao longo do tempo.O uso de GC por via oral precocemente causa dependência no tratamento de AR por ter mais facilidade de administração a longo prazo, diminuindo assim a chance de sua cessação. A utilização de GC injetáveis, auxilia no processo de desmame medicamentoso.
(Fortunet et al., 2014)Tocilizumabe induz preservação de corticosteroides em pacientes com artrite reumatoide na prática clínica
Estudo observacional, retrospectivo

Avaliar o impacto da introdução de TCZ como coterapia em pacientes com AR em uso de glicocorticoides.
Foi possível identificar que pacientes com introdução de TCZ na terapia medicamentosa para Artrite Reumatoide não necessitaram alterar a dose de glicocorticoide por um maior período, assim diminuindo os efeitos adversos relacionados a superdosagem .e imunossupressão.
(Ajeganova; Svensson; Hafström, 2014)Tratamento com baixas doses de prednisolona para artrite reumatoide precoce e desfecho cardiovascular tardio e sobrevida: acompanhamento de 10 anos de um ensaio randomizado de 2 anosEstudo prospectivo.Avaliar os efeitos a longo prazo relacionados aos desfechos cardiovasculares em pacientes com AR que utilizaram prednisolona para seu tratamento.Cerca de 15% dos pacientes que fizeram uso de prednisolona por dois anos apresentaram distúrbios cardiovasculares, dentro desses 8% culminaram a morte. O estudo demonstra que o uso de prednisolona na AR a longo prazo traz mais risco ao sistema cardiovascular.
(Suda et al., 2018)Segurança e eficácia do tratamento com corticosteroides em dias alternados como terapia adjuvante para artrite reumatoide: um estudo comparativo
Ensaio clínicoInvestigar a segurança eficácia da utilização de glicocorticoides no tratamento de AR.Verificou-se que pacientes que faziam uso de GC em dias alternados apresentaram menores taxas de infecções, representando apenas 24% dos casos e menos dependências comparadas com o grupo de uso diário (50%), no entanto a taxa de eficácia foi medida através dos índices de progressão identificando uma remissão semelhante nos dois grupos após o mesmo período, respectivamente uma média de 4,1 a 4,3.
(ButtgereiT et al., 2013)Cronoterapia com prednisona em baixas doses para artrite reumatóide: um ensaio clínico randomizadoEnsaio clínico randomizadoAvaliar a eficácia da prednisona em baixa doses para o tratamento de AR.Prednisona MR em baixas doses apresentou uma taxa de eficácia sintomatologia 40% mais rápido do que a do grupo controle (29%), podendo concluir que sua utilização concomitante com outros tratamentos pode trazer considerável mais benefícios.
(Carvalho et al., 2017)Uso De Corticoterapia E Infliximabe Para Tratamento De Pioderma Gangrenoso Em Paciente Com Artrite ReumatoideRelato de casoDescrever o tratamento de Pioderma Gangrenoso com glicocorticoides em paciente com AR.Paciente apresentou melhora após a utilização e corticoides durante 3 dias. A associação se deu através da eficácia comprovada acerca da supressão dos fatores de inflamação associadas a AR.
(García-Magallón; Silva-Fernández; Andreu-Sánchez, 2013)Atualização sobre o uso de esteróides na artrite reumatóide
Revisão bibliográfica da literaturaAvaliar as evidências clínicas relacionados ao uso de esteroides no tratamento de AR.Foi possível identificar resultados relevantes associados a alta eficácia da utilização de glicocorticoides no tratamento de AR. Pode-se afirmar que em doses baixas o tratamento apresenta um efeito modificador do dano estrutural no AR de curta evolução.
(Hua; Buttgereit; Combe, 2020)Glicocorticoides na artrite reumatoide: situação atual e estudos futuros
Revisão da literatura .Descrever os mecanismos de ação dos GCs no tratamento de AR e suas implicações na prática clínica.Os Gc são os principais fármacos utilizados em doenças crônicas. Sua ação suprime intracelularmente os fatores de inflamação e resposta humoral, no entanto, os efeitos adversos decorrentes de uma inibição não especifica estão associados aos cuidados na sua administração.
(Torres; Insuela; Carvalho, 2013)Mecanismos celulares e moleculares da ação anti-inflamatória dos glicocorticoides.Revisão bibliográfica da literatura.Descrever o mecanismo de ação dos glicocorticoides.O mecanismo de ação dos GCs estão associados a inibição e supressão de genes inflamatórios que são ativados durante doenças inflamatórias crônicas, como é o caso da AR.
(Cain; Cidlowski, 2017)Regulação imunológica por glicocorticoides
Revisão da literaturaDescrever com os GC alteram a regulação imunológica no organismo em contraste a doenças crônicas.Certamente a utilização de GCs no tratamento de doenças autoimunes é eficaz, no entanto, ainda cabe-se elucidar aos mecanismos que diferenciam sua ação no sistema fisiológico e no imunológico, sendo ação no sistema imunológico descrita como a supressão dos fatores NF-κB e AP-1 que regulam a transcrição de genes pró-inflamatórios.

Os glicocorticoides estão inseridos no grupo de medicamentos mais utilizados em todo o mundo, sua ação no controle dos processos inflamatórios e autoimunes são descritas com eficácia comprovada em doenças do trato respiratório, dermatoses, AR e em alguns tratamentos oncológicos (García-Magallón; Silva-Fernández; Andreu-Sánchez, 2013).

A síntese de glicocorticoides em laboratório se deu entre os meados de 1930 1940 tendo como marco inicial a utilização do cortisol como uma eficaz terapêutica para a artrite reumatoide, na mesma época atribuindo-se ao líder do grupo responsável pela descoberta Edward Kendal o prêmio nobel mais famosos na área da medicina (Hua; Buttgereit; Combe, 2020).

Nesse cenário, mesmo com a importante benefícios encontrados para o tratamento de AR, identificou-se que a sua utilização a longo prazo trazia consigo diversos outros efeitos colaterais ligados a efeitos adversos sistêmicos em diversos sistemas no corpo humano ligados a alterações intracelulares na célula (Cain; Cidlowski, 2017; García-Magallón; Silva-Fernández; Andreu-Sánchez, 2013).

A composição dos GCs se dá a partir de nucleotídeos esteroides quadrivalentes com 17 átomos. Sua produção ocorre diretamente nas glândulas androgênicas localizadas na parte superior dos rins, sendo sua produção dependente de enzimas que estão diretamente ligadas alteração do composto colesterol em esteroides hormonais (Torres; Insuela; Carvalho, 2013).

As glândulas suprarrenais são responsáveis pela produção de aldesterona e cortisol, compostos esses que atuam respectivamente no controle hemodinâmico de água e sal na corrente sanguínea e no processo metabólico de açucara e proteína (Cain; Cidlowski, 2017).

Para compreensão do seu mecanismo, partimos da sua produção que ocorre no núcleo da mitocôndria onde há um processo de conversão de colesterol em cascata, sendo ela primariamente pregnenolona, onde a mesma é carreada até o reticulo endoplasmático onde é convertida em progesterona, um hormônio importante em diversos complexos fisiológicos, originando assim por fim os hormônios esteroides (Buttgereit et al., 2013).

Em abordagem ao mecanismo dos glicocorticoides sintéticos, sua classificação se dá através de seu período de ação e ligação com os receptores das células que varia de acordo com a composição do fármaco, o que chama-se de meia vida que pode ser de curta, média e longa duração, este último considerado o mais potente para o tratamento de doenças crônicas como a artrite reumatoide (Gurgel et al., 2022).

Os mecanismos que estão envolvidos as ações dos glicocorticoides se dão partir de sua ação nas células dos tecidos que apresentam atividade inflamatória através da sua inserção na membrana plasmática, ligando posteriormente a receptores cuja única função é receber esses hormônios, chamados de receptores de glicocorticoides, sendo esses chamados de NCOA1 e NCOA2, essa união de hormônio e receptor forma um complexo polihormonal chamado de cromatina SWI/SNF . Esse complexo por sua vez tem a capacidade de adentrar no núcleo da célula, com interações entre DNA e enzimas ativadoras que modulam a transcrição de genes específicos de forma negativa ou positiva, nesse cenário está incluído seu efeito de inibição de genes inflamatórios, além da indução da apoptose das células de inflamação, como eosinófilos e os leucócitos (Suda et al., 2018).

No contexto da artrite reumatoide, uma doença autoimune onde o próprio organismo produz anticorpos inflamatórios para o próprio tecido, os GCs atuam na supressão da transcrição desses fatore imunológicos, reduzindo sua produção e meia vida na corrente sanguínea principalmente ligadas a interleucinas Il-17, citocina que está diretamente ligadas no combate a infecções fúngicas e bacterianas, o que predispõem a um maior risco de infecções durante sua utilização (Gurgel et al., 2022),

Os glicocorticoides possuem uma importante ação terapêutica no tratamento de artrite reumatoide devido seus potenciais efeitos inibitórios do processo inflamatório, sendo incorporados sistematicamente nos protocolos terapêuticos. No entanto, ainda avalia-se os níveis de risco benefícios a sua utilização. Nesse cenário, vários esquemas de uso já foram utilizados para evidenciar o maiores benefícios associados a composição dos fármacos e limiar de efeitos benéficos (Fortunet et al., 2014).

Buttgereit et al. (2013) descreve em seu estudo acerca da utilização da Prednisona- MR, um glicocorticoide utilizado no tratamento da AR onde a forma de utilização se deu através da cromoterapia, um composto modificado de liberação lenta ativado especificamente quando os níveis de cortisol no organismo estão elevados. Nesse estudo foi possível identificar que a utilização de Prednisona-MR trouxe uma diminuição da progressão da doença em casos mais graves a partir de avaliações diárias acerca da rigidez muscular, dor, qualidade de vida e exames laboratoriais.

Além da sua utilização isolada trazer benefícios na diminuição da progressão da doença ainda no início do diagnóstico, a sua associação com outros fármacos como os DMCDs (fármacos antirreumáticos modificadores da doença) que também estão inclusos no protocolos de tratamento também oferecem efeitos positivos no tratamento, principalmente quando utilizados em baixas doses, como é o caso da utilização de Metotroxato (MTX) e outros DMCDs em conjunto que não trazem mesma eficácia quando o MTX é associada a apenas um glicocorticoide. Nesse contexto, essa combinação de baixa dose de GC proporciona também a redução de riscos associados ao uso prologado dessa classe de fármacos (Verschueren et al., 2015).

Em relação aos riscos envolvendo o uso prologado de glicocorticoides no tratamento de AR, o mesmo se dá devido a imunossupressão sistêmica, ou seja, o sistema imunológico não estará atuando efetivamente no combate a infecções exteriores como vírus e bactérias, além dos efeitos colaterais associados a osteoporose, distúrbios cardiovasculares e alterações metabólicas, sendo esses riscos associados diretamente a dose, tempo de tratamento e comorbidades especificas de cada paciente (Ruyssen-Witrand; Constantin, 2018).

Em relação ao uso crônico de de glicocorticoides, sua ação na alteração metabólica pode causar o surgimento da Síndrome de Cushing, que devido a inibição de ACTH ( hormônio adrenocorticotrófico) que está associado diretamente a quebra de lipídios. Com o a alteração de transcriça~po de diversos genes, há uma alteração no metabolismo de glicose e lipídios decorrente da inibição da função adrenal que acarreta ao acúmulo de gordura em diversos tecidos, principalmente na região da face, caracterizada como ‘‘rosto de lua’’, além de um ponderal ganho de peso

Um outro distrbio ligado a alteração no metabolismo possui relação com osteoporose, estima-se que cerca de 25% dos pacientes que fazem uso da corticoterapia a longo prazo apresentam um distúrbio na concentração de cálcio intraósseo, sendo essa complicação causada devido a supressão da osteoblastogênese, ou seja, esse processo está sendo inibido ocorrendo a morte dos osteoblastos, diminuído o crescimento ósseo e consequentemente haverá a diminuição de sua densidade, predispondo a uma maior fragilidade das estrutura óssea, sendo esse um agravante em casos de AR devido a progressão natural da doença.(Jacobs; Bijlsma; Van Laar, 2014).

Um estudo realizado na Bolívia em relação aos índices de infecção durante o tratamento de artrite reumatoide, demostrou que a utilização de glicocorticoide em doses acima ou igual 7,5 mg/ diária durante seis meses está associada a uma maior taxa de infecção, e após doze meses esses índices triplicam devido o organismo perder gradualmente sua capacidade natural de defesa, recomendando-se a utilização de DMCDs que mesmo em doses de média e alta posologia apresentaram um menor quantitativo de infecções (Arteaga; Chacon; Urquizo, 2021).

Os possíveis efeitos no aparelho cardiovascular se dão devido a inibição da absorção da prostaglandina mediada pelo cortisol, nesse cenário há um aumento da hipertensão arterial que predispõe a um maior risco de infarto. Nesse contexto, pacientes com AR tendem a ter maiores chances de distúrbios cardíacos devido a utilização diária e permanente propostos nos esquemas terapêuticos, sendo necessário o acompanhamento assíduo do cardiologista durante o tempo de uso prescrito para avaliar o limiar de risco e benefícios (Gurgel et al., 2022; Jacobs; Bijlsma; Van Laar, 2014).

CONCLUSÃO

Diante do exposto, pode-se concluir que o mecanismo de ação dos glicocorticoides no tratamento de Artrite reumatoide se dar através da supressão intracelular dos fatores imunológicos responsáveis pela produção dos processos inflamatórios.

Em relação aos benefícios, permeiam a capacidade dos glicocorticoides de atuarem em baixa doses melhor com maior eficácia que outros fármacos na terapêutica de redução da progressão da doença. No entanto os riscos estão associadas a longos períodos de utilização dose-dependente associados a incidências de infecção, complicações cardíacas e metabólicas como a osteoporose e Síndrome de Cushing.

REFERÊNCIAS

AJEGANOVA, Sofia; SVENSSON, Björn; HAFSTRÖM, Ingiäld. Low-dose prednisolone treatment of early rheumatoid arthritis and late cardiovascular outcome and survival: 10-year follow-up of a 2-year randomised trial. BMJ Open, [s. l.], v. 4, n. 4, p. 1–8, 2014.

ANDRADE, Thaisa Ferreira; DIAS, Sílvia Regina Costa. Etiologia da artrite reumatoide: revisão bibliográfica. Brazilian Journal of Health Review, [s. l.], v. 2, n. 4, p. 3698–3718, 2019.

ARTEAGA, Raul; CHACON, Patricia; URQUIZO, Guillermo. Incidencia de infecciones en pacientes con artritis reumatoide en tratamiento corticoideo e inmunosupresor. Rev Med La Paz, [s. l.], v. 27, n. 1, 2021. Disponível em: http://www.scielo.org.bo/pdf/rmcmlp/v27n1/v27n1_a05.pdf.

BLACK, Rachel J. et al. Factors associated with oral glucocorticoid use in patients with rheumatoid arthritis: A drug use study from a prospective national biologics registry. Arthritis Research and Therapy, [s. l.], v. 19, n. 1, p. 1–8, 2017.

BUTTGEREIT, Frank e

t al. Low-dose prednisone chronotherapy for rheumatoid arthritis: A randomised clinical trial (CAPRA-2). Annals of the Rheumatic Diseases, [s. l.], v. 72, n. 2, p. 204–210, 2013.

CAIN, Derek W.; CIDLOWSKI, John A. Immune regulation by glucocorticoids. Nature Reviews Immunology, [s. l.], v. 17, n. 4, p. 233–247, 2017.

CARVALHO, A.P.F. et al. Uso De Corticoterapia E Infliximabe Para Tratamento De Pioderma Gangrenoso Em Paciente Com Artrite Reumatoide. Revista Brasileira de Reumatologia, [s. l.], v. 57, n. S 1, p. S42, 2017.

COSTA, ANDERSON PENA DA; JUNIOR, ANTONIO CARLOS SILVA; PINHEIRO, ADENILSON LOBATO. Fatores Associados À Etiologia E Patogénese Das Doenças Autoimunes Factors Associated To the Etiology and Pathogenesis of Autoimmune Diseases. Arquivos Catarinenses de Medicina, [s. l.], v. 48, n. 2, p. 92–104, 2019.

FORTUNET, Clémentine et al. Tocilizumab induces corticosteroid sparing in rheumatoid arthritis patients in clinical practice. Rheumatology (United Kingdom), [s. l.], v. 54, n. 4, p. 672–677, 2014.

GALVÃO, Taís Freire et al. A declaração PRISMA 2020: Diretriz atualizada para relatar revisões sistemáticas. Epidemiologia e Servicos de Saude, [s. l.], v. 31, n. 2, p. 1–20, 2022.

GARCÍA-MAGALLÓN, Blanca; SILVA-FERNÁNDEZ, Lucía; ANDREU-SÁNCHEZ, José Luis. Actualización del uso de los glucocorticoides en la artritis reumatoide. Reumatologia Clinica, [s. l.], v. 9, n. 5, p. 297–302, 2013. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.reuma.2013.01.010.

GURGEL, Tairine Lobo et al. Repercussões dos Glicocorticoides no Tratamento da Artrite Reumatoide : Uma revisão. [s. l.], p. 103–120, 2022.

HUA, Charlotte; BUTTGEREIT, Frank; COMBE, Bernard. Glucocorticoids in rheumatoid arthritis: Current status and future studies. RMD Open, [s. l.], v. 6, n. 1, p. 1–9, 2020.

JACOBS, Johannes W.G.; BIJLSMA, Johannes W.J.; VAN LAAR, Jacob M. Glucocorticoids in early rheumatoid arthritis: Are the benefits of joint-sparing effects offset by the adverse effect of osteoporosis? The effects on bone in the Utrecht study and the camera-II study. NeuroImmunoModulation, [s. l.], v. 22, p. 66–71, 2014.

LUCAS, Diego et al. Uma Abordagem Sobre a Inter-Relação De Citocinas Na Artrite Reumatóide. Revista Científica FAEMA, [s. l.], v. 7, n. 1, p. 93–102, 2016.

RUYSSEN-WITRAND, Adeline; CONSTANTIN, Arnaud. Controversies in rheumatoid arthritis glucocorticoid therapy. Joint Bone Spine, [s. l.], v. 85, n. 4, p. 417–422, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.jbspin.2017.12.002.

SADRA, Vahideh et al. Randomized double-blind study of the effect of dexamethasone and methylprednisolone pulse in the control of rheumatoid arthritis flare-up: A preliminary study. International Journal of Rheumatic Diseases, [s. l.], v. 17, n. 4, p. 389–393, 2014.

SOUZA, Cristina Silva; TURRINI, Ruth Natalia Teresa; POVEDA, Vanessa Brito. Translation and Adaptation of the Instrument “Suitability Assessment of Materials” (Sam) Into Portuguese. Journal of Nursing UFPE on line, [s. l.], v. 9, n. 5, p. 7854–7861, 2015. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/10534/11436.

SUDA, Masei et al. Safety and efficacy of alternate-day corticosteroid treatment as adjunctive therapy for rheumatoid arthritis: a comparative study. Clinical Rheumatology, [s. l.], v. 37, n. 8, p. 2027–2034, 2018.

TORRES, Rafael Carvalho; INSUELA, Daniella Bianchi Reis; CARVALHO, Vinícius de Farias. Mecanismos celulares e moleculares da ação antiinflamatória dos glicocorticoides. Corpus et Scientia, [s. l.], v. 8, n. 2, p. 36–51, 2013. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/18370/2/vinicius3_carvalho_etal_IOC_2012.pdf.

VERSCHUEREN, P. et al. Methotrexate in combination with other DMARDs is not superior to methotrexate alone for remission induction with moderate-to-high-dose glucocorticoid bridging in early rheumatoid arthritis after 16 weeks of treatment: The CareRA trial. Annals of the Rheumatic Diseases, [s. l.], v. 74, n. 1, p. 27–34, 2015.